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IMPA elege novo comitê executivo e mantém Ricardo Falcão na vice-presidência
Congresso da entidade no México debateu temas como navios autônomos e transição energética na indústria
O presidente da Praticagem do Brasil, prático Ricardo Falcão, foi reeleito, em junho, para mais um mandato de quatro anos à frente de uma das vice-presidências da Associação Internacional de Práticos Marítimos (IMPA). Ele foi o mais votado, sendo escolhido por unanimidade na eleição que ocorreu durante o 25o congresso da entidade, em Cancún, no México.
Simon Pelletier (Canadá) também foi reeleito presidente da IMPA. Já Alvaro Moreno (Panamá) foi escolhido vice-presidente sênior em substituição a Jean-Philippe Casanova (França). Ambos não tiveram concorrentes. Completam as vice-presidências Adam Roberts (Austrália), André Gaillard (França), Sang-Min Goag (Coreia) e Paul Schoneveld (Reino Unido). Os vice-presidentes foram eleitos em meio a oito candidatos.
Criada em 1971, a IMPA reúne associações de praticagem do mundo inteiro, sendo o Conselho Nacional de Praticagem um de seus filiados desde 1981. O objetivo da associação é trocar experiências, buscar soluções para problemas comuns e representar os práticos na comunidade marítima mundial, especialmente na Organização Marítima Internacional (IMO), agência da ONU que regulamenta os procedimentos de segurança da navegação.
Como vice-presidente da IMPA há oito anos, Ricardo Falcão acompanha as discussões no Comitê de Segurança Marítima da IMO, fórum no qual são debatidas matérias relevantes para os países e seus possíveis desdobramentos em regulações internacionais, o futuro dos navios autônomos entre eles. O assunto, aliás, foi discutido no congresso da IMPA. O secretáriogeral da International Chamber of Shipping, Guy Platten, apresentou a perspectiva da indústria em relação a oportunidades e desafios. A IMO fixou em 2024 o prazo para o estabelecimento de instrumentos regulatórios desse tipo de operação, ainda em caráter não mandatório. A consolidação de um arcabouço obrigatório está prevista para vigorar em 2028.
Paul Kirchner, da Associação de Práticos Americanos (APA), argumentou que, aparentemente, cresce a ideia de que o controle remoto de um navio pode ser tão seguro e ambientalmente sustentável quanto o controle humano a bordo, mas questionou em sua apresentação: "O propósito de elaborar um sistema regulatório da IMO visa facilitar a introdução comercial das operações ou garantir que elas serão seguras?"
A pesquisadora Eva Szewczyk, da Northumbria University, do Reino Unido, abordou as limitações da tecnologia e o risco de ataques cibernéticos. Ela trouxe dados de uma pesquisa de 2021 com 122 práticos e oficiais de náutica, em que 86,4% deles demonstraram preocupação com a pilotagem remota.
Recentemente, Ricardo Falcão publicou um artigo sobre o tema na revista Portos e Navios, em que ressaltou também o aspecto econômico, além da segurança, no caso de embarcações completamente autônomas: "Navios controlados por inteligência artificial exigem um nível de sofisticação de hardware e software cujo custo de manutenção ainda é infinitamente maior do que o de manter uma tripulação a bordo. Não são economicamente viáveis e não se justificam dentro das margens de erro em que o setor opera. Reduzir os acidentes causados por falha humana é uma solução para um falso problema, já que a indústria trabalha com invejáveis 99,998% de eficiência."
Os novos combustíveis e a transição energética na indústria do shipping, assim como a manobrabilidade de embarcações adaptadas ou construídas para poluir menos, foram outros assuntos tratados no congresso da IMPA.
Henry Caubriere, presidente da Federação Francesa de Práticos Marítimos (FFPM), falou sobre o processo de descarbonização na praticagem de seu país. Em 2020, foi instalada uma comissão de transição energética. O primeiro passo foi calcular a emissão de carbono na atividade: 10.768 toneladas, o equivalente à de 81 caminhões/ano (70% provenientes de lanchas, helicóptero e carros). A ação imediata foi reduzir a velocidade das lanchas a fim de diminuir o consumo e a emissão de gases do efeito estufa. Até 2030, estuda-se a adoção de meios alternativos de propulsão, entre eles o elétrico. Uma lancha do tipo já está sendo testada. "Os armadores estão trabalhando arduamente na matéria. Não podemos permanecer no píer vendo-os atuar", afirmou Caubriere.
A segurança no embarque e desembarque de práticos também não poderia deixar de receber atenção do congresso, dado que 13% dos dispositivos de acesso aos navios estavam irregulares na última pesquisa da IMPA. O vice-presidente eleito da associação, André Gaillard, secretário-geral da Federação Francesa, revelou as estatísticas de acidentes e incidentes no país nos últimos 20 anos. Apesar do índice baixo de acidentes com licença médica, a FFPM ficou de produzir um vídeo de treinamento para novos práticos após uma queda em 2021, seguindo recomendação do Escritório Francês de Investigação de Acidentes no Mar.
A queda e morte de um colega em Lisboa, em 2018, foi o foco da apresentação do presidente da Associação dos Pilotos de Barras e Portos (Apibarra) e vice-presidente sênior da Associação de Práticos Europeus (EMPA), prático Miguel Castro. Ele fez uma memória do caso, apontou as lições aprendidas e os avanços após o acidente.
O congresso da IMPA no México debateu ainda outras questões, como prós e contras da navegação eletrônica e treinamento para lidar com grandes porta-contêineres, além das relações com stakeholders e entidades regulatórias daPLATAFORMAatividade.NA
Conselho Nacional de Praticagem estuda padronização de colete salva-vidas e capacete
Além de projetos visando à segurança do prático, Diretoria Técnica retoma
ATPR atualizado e planeja retorno do curso para operadores em Brasília
A Diretoria Técnica do Conselho Nacional de Praticagem estuda o desenvolvimento de um colete salva-vidas padronizado, com recursos tanto para sobrevivência na água quanto para mitigação de traumas em caso de queda do prático na lancha ou no mar. Segundo o diretor da área, prático Marcio Fausto, se o projeto avançar, a ideia é partir para o desenvolvimento de um capacete apropriado para a atividade.
No seu entendimento, nenhum colete disponível no mercado é 100% adequado ao serviço, já que as hipóteses de acidente na transferência do prático para o navio são peculiares. A intenção é elaborar um protótipo em parceria com o Senai Cimatec, da Bahia, referência em inovação.
– A maioria dos coletes não dispõe de soluções contra impacto, e há os que são desprovidos de recursos para sobrevivência na água e resgate. Temos práticos que preferem os coletes rígidos, para evitar o trauma, mas poucos desse tipo têm alça para recolhimento. Outros se incomodam com o uso de coletes maiores em regiões mais quentes e optam pelos autoinfláveis. Nossa ideia é desenvolver algo customizável, com o máximo de possibilidades para minimizar possíveis choques na queda e para aguardar o salvamento, talvez um híbrido com parte rígida para impactos e outra inflável para manter a cabeça suspensa – diz Fausto.
Segundo o diretor, também está nos planos customizar um capacete próprio para a praticagem, que não existe à venda. Enquanto isso não ocorre, a área técnica pretende recomendar algum disponível em outro segmento. Apesar de não ser item obrigatório, o capacete protege de lesões cranianas que podem deixar a vítima desacordada, dificultando mais o resgate.
– Tem que partir do Conselho Nacional de Praticagem incentivar o uso do capacete, porque no dia a dia você acaba relaxando. Em paralelo, vamos continuar defendendo a importância de investir no treinamento das tripulações das lanchas e dos operadores das estações de apoio (atalaia), pois não se trata apenas de retirar o homem do mar, mas de prestar os primeiros socorros e encaminhálo ao hospital se for o caso. Em São Francisco do Sul, fazemos exercícios integrados, simulando até o chamado da ambulância –relata Fausto, lembrando ainda o papel do prático para evitar o acidente. – Por conta do nosso modelo de praticagem, temos interesse em realizar sempre a manobra, muitas vezes explorando o limite do risco pessoal. Mas devemos embarcar em condição na qual possamos ser resgatados.
Responsável pela coordenação do Curso de Atualização para Práticos (ATPR), por delegação da Marinha, o Conselho Nacional de Praticagem retomou o programa após sua paralisação na pandemia, iniciando o quarto ciclo que vai até 2026. A reciclagem é obrigatória a cada cinco anos, sendo o Brasil referência mundial no tema.
– Foi uma grande vitória esse retorno. Não tivemos uma turma cancelada. Estamos homologando o Instituto Praticagem do Brasil e o seu simulador de manobras, em Brasília, para sediar o curso (realizado nas dependências da Marinha e da Fundação Homem do
Mar). Nossa vontade é receber uma turma experimental na capital este ano. O ATPR evolui ao longo do tempo. A cada ciclo, temos novidades. Quando começamos, navios autônomos eram um assunto incipiente, e hoje já temos bastante material a respeito. Também aperfeiçoamos o estudo da legislação com alguns módulos. E queremos modernizar a parte a distância, com uma plataforma de ensino mais amigável. Considero o curso bem completo, indo muito além do que preconiza a Resolução A.960 da Organização Marítima Internacional (IMO). Foi feito com carinho por várias mãos, sob o olhar atento do nosso gerente técnico, Raimundo Nascimento.
A capacitação em modelos tripulados reduzidos de navios (optativa do ATPR) também está novamente disponível, com a possibilidade de treinamento no Panamá, graças a um entendimento com o Centro de Modelos de Buques em Escala (CMBE).
– Existem situações em que não conseguimos treinar no simulador computacional. Não à toa, a Resolução A.960 sugere o treinamento em modelos em escala, de forma a complementar o do computador.
Está prevista ainda para Brasília, com duas turmas por ano, a volta do curso para operadores de atalaia, antes realizado na Fundação Homem do Mar. Em algumas zonas de praticagem maiores, esse tipo de capacitação é oferecido pelas próprias empresas de praticagem. Recentemente, operadores e supervisores da atalaia da Praticagem da Barra do Rio Grande (RS) participaram de uma atualização em modo online e presencial. Eles tiveram aulas sobre cartas náuticas, cartas eletrônicas (ECDIS), radares, portable pilot units (PPUs, equipamentos portáteis de navegação eletrônica) e inglês técnico.
– Não existe operação boa sem treinamento recorrente com as ferramentas adequadas – ressalta o diretor operacional da Praticagem do Rio Grande, prático Bernardo Ramos.
No Rio de Janeiro, o prático Marcelo Fricks retomou o adestramento que ministrava aos operadores antes da pandemia. Doze deles foram reunidos e tiveram aulas teóricas sobre navegação em carta náutica e carta eletrônica. Depois, acompanharam duas manobras no simulador da praticagem: uma entrada de navio-tanque pesado no Porto Sudeste e uma entrada de porta-contêineres carregado no Canal Varrido, no Porto do Rio de Janeiro. Fricks abordou os pontos em que os operadores podem auxiliar os práticos durante as fainas de praticagem, como na observação dos limites de corrente na Baía de Sepetiba e nos cruzamentos de navios na boca da barra da Baía de Guanabara, que devem ser evitados. Com a unificação das atalaias de Mangaratiba e do Rio de Janeiro, a intenção é realizar a capacitação até três vezes por ano.
– Tive a ideia de usar o simulador para fazer o adestramento. Eles estavam dentro do navio, vendo como a atalaia age do outro lado do balcão. Foi bastante gratificante. Todos ficaram empolgados, aprenderam muito e viram como são importantes para o nosso trabalho.