Manual de Matas Ciliares

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Manual de Procedimentos Técnicos para Recuperação de Matas Ciliares

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MANUAL DE PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA RECUPERAÇÃO DE MATAS CILIARES

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CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DAS BACIAS DOS RIOS PIRACICABA, CAPIVARI E JUNDIAÍ - CONSÓRCIO PCJ -

MANUAL PARA RECUPERAÇÃO DE MATAS CILIARES

Autor: ENGº GUILHERME AMSTALDEN VALARINI Apoio: FELIPE PEREIRA DA SILVA Capa e diagramação: VERMELHA PROPAGANDA

1ª Edição

Secretaria Executiva do Consórcio PCJ Av. São Jerônimo, 3100 – Morada do Sol – 13470-310 Americana/SP Fones/Fax: (19) 3406-4043 / 3407-5772 www.agua.org.br

Americana 2009

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Índice

Consórcio PCJ ......................................................................... 7 1 - Introdução ........................................................................... 13 2 - Objetivo ............................................................................... 17 3 - Legislação ........................................................................... 19 4 - Implantação de Projetos ...................................................... 23 5 - Manutenção ......................................................................... 33 6 - Bibliografia ........................................................................... 37

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Consórcio PCJ O Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí é uma associação de direito privado sem fins lucrativos, composta por municípios e empresas, que tem como objetivo a recuperação dos mananciais de sua área de abrangência. A base do trabalho da entidade está na conscientização de todos os setores da sociedade sobre a problemática dos recursos hídricos da região, no planejamento e no fomento às ações de recuperação dos mananciais.

Estrutura Fundado em 13 de outubro de 1989, o Consórcio PCJ atua com independência técnica e financeira. A entidade arrecada e aplica recursos em programas ambientais. O poder de decisão cabe ao Conselho de Consorciados. O Consórcio possui quatro órgãos funcionais: • Conselho de Consorciados (prefeitos e representantes de empresas consorciadas) • Conselho Fiscal (representantes das câmaras municipais de vereadores) • Plenária de Entidades (representantes de entidades da sociedade civil) • Secretaria Executiva (equipe técnica e administrativa). As Diretorias do Conselho de Consorciados e do Conselho Fiscal têm mandato de dois anos. O Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí valoriza o trabalho técnico com o objetivo de vencer as divergências pessoais e político-partidárias, próprias das articulações intermunicipais. A integração dos municípios e empresas e a busca de soluções globais têm marcado sua atuação. É considerada de fundamental importância a participação de técnicos e dirigentes dos serviços autônomos de água e esgoto, a fim de que as soluções encontradas sejam coerentes e possam ser efetivamente implantadas. Manual de Procedimentos Técnicos para Recuperação de Matas Ciliares

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O Consórcio PCJ constitui-se numa força política suprapartidária expressiva. Devido ao pioneirismo de suas ações em gestão de recursos hídricos, conta com grande respeitabilidade junto à opinião pública e é considerado um modelo de instituição, cuja experiência é divulgada em todo o país e no exterior. Junto às autoridades estaduais, federais e internacionais age com o objetivo de obter os recursos financeiros para as obras de saneamento necessárias para a recuperação e preservação dos rios. Com as prefeituras municipais e empresas consorciadas vem trabalhando para a redução da captação e consumo de água, através da eliminação das perdas e do reuso da água, da proteção aos mananciais através do reflorestamento ciliar, da educação ambiental, de projetos de resíduos sólidos, entre outras ações. Deixando de lado as diferenças partidárias, as administrações municipais estão dando exemplo de que é possível a união em defesa do bem comum. Os problemas de degradação ambiental nas bacias não terão solução da noite para o dia, mas podem ser resolvidos desde que todos colaborem. É preciso planejar o desenvolvimento para não prejudicar os recursos naturais. E toda a população deve exigir o direito a uma vida melhor.

Atividades em Andamento O Consórcio PCJ busca a implantação de um sistema de gestão descentralizado e participativo dos recursos hídricos. Em parceria com outras entidades públicas e privadas desenvolve projetos e ações práticas visando fomentar a recuperação e preservação dos rios da região. Essas ações estão divididas em programas, cujos resultados já renderam vários prêmios à entidade, inclusive internacionais. • Programa de Apoio aos Consorciados • Programa Especial Grupo das Empresas • Programa de Investimento do Consórcio PCJ • Programa de Racionalização, Combate às Perdas de Água e Saneamento • Programa de Educação Ambiental • Programa de Gestão de Bacias e Cooperação Institucional 8

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• • • • •

Programa de Proteção aos Mananciais Programa de Resíduos Sólidos Programa de Monitoramento das Águas Gerência de Comunicação Social Gerência de Parcerias

Programa de Proteção aos Mananciais O Programa foi criado dentro do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí em 1991 devido a realidade cada vez mais crítica com relação a escassez e diminuição da qualidade de água disponível para a população dos municípios que compõem as bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Através do P.P.M. o Consórcio PCJ desenvolve atividades de reflorestamento ciliar e apóia à produção de mudas florestais nativas para distribuição aos consorciados e proprietários rurais. O Programa de Proteção aos Mananciais de Abastecimento Público nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí é atualmente o responsável por atribuir ao Consórcio um Know-How, na área, respeitado e valorizado nacional e internacionalmente buscando os seguintes objetivos: • Proteger os mananciais de uso público atuais e futuros afim de garantir água de qualidade para toda a população atual e futuras gerações das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. • Reflorestar áreas de preservação permanente utilizando espécies arbóreas nativas da região; • Implantar corredores ecológicos através da interligação de fragmentos florestais possibilitando a manutenção da biodiversidade com seus processos evolutivos; •

Envolver crianças, jovens e a comunidade em geral nas ati-

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vidades do programa, levando-os a refletir sobre as ações individuais e coletivas em atividades práticas e cotidianas; • Estimular e apoiar proprietários rurais a recuperarem suas áreas de preservação permanente, através de apoio técnico e de fornecimento de mudas de espécies arbóreas nativas; • Acompanhar tecnicamente as áreas recuperadas afim de que as mudas plantadas adquiram "auto-sustentabilidade"; • Apoiar tecnicamente e com fornecimento de insumos e estruturas os viveiros municipais da região no intuito de disponibilizar mudas para o programa; • Estimular o poder público municipal a desenvolver ações de proteção dos mananciais, servindo como exemplo para a comunidade local; • Desenvolver materiais informativos para estimular a proteção dos mananciais bem como a discussão acerca do tema.

Histórico do Programa O programa estabelece a recuperação das matas ciliares como essencial para a manutenção da qualidade dos recursos hídricos. Desde o inicio, em 1991, o Programa de Proteção aos Mananciais incluía a preocupação com as futuras gerações. A preocupação com os recursos hídricos, muito em voga atualmente, não era abordada por muitos projetos no inicio da década de 90. A escassez quantitativa e qualitativa da água foi a principal justificativa do Programa de Proteção aos Mananciais. O Programa de Proteção aos Mananciais já desenvolveu projetos em parceria com várias prefeituras municipais das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, com os Comitês PCJ, Casas de Agricultura, Fundo Estadual dos Recursos Hídricos (FEHIDRO), Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais (DEPRN), Ministérios Público e do Meio Ambiente, entre outros parceiros. 10

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Hoje, o Programa já conta com mais de 2,6 milhões de árvores nativas implantadas em áreas de mananciais, o equivalente a uma área aproximada de 1.600 hectares.

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1. Introdução Mata ciliar é um termo amplamente empregado por todo o Brasil, tanto em textos técnicos e acadêmicos quanto em reportagens para o público em geral, referindo-se as vegetações florestais que acompanham cursos d´água, nascentes e reservatórios. A mata ciliar recebe este nome devido a sua principal função, pois assim como os cílios protegem nossos olhos, elas são fundamentais pela proteção que conferem a água, ao solo e aos animais, além de vários outros benefícios como: controle biológico de pragas, estabelecimento de “corredores biológicos” interligando fragmentos florestais, conservação da biodiversidade, retenção de carbono da atmosfera, melhoria do micro clima local, etc. Nos locais onde a vegetação primitiva foi eliminada é possível reverter a situação, através de diversos processos de recuperação de florestas. Embora a mata recomposta dificilmente atinja a mesma diversidade da mata original, a revegetação tem a capacidade de diminuir uma série de efeitos e impactos ambientais, auxiliando o restabelecimento de algumas características primitivas da área. Dentro deste contexto, a atividade de preservação e recuperação de áreas de preservação permanente, objetivando a preservação dos mananciais existentes, se faz cada vez mais necessária.

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Figura 1.Exemplo de Mata ciliar no entorno do curso d´água.

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1.1.

Importância da mata ciliar

A quantidade de água em contato com o solo é um dos fatores determinantes no processo de erosão; as margens dos rios são, portanto, extremamente vulneráveis a ela, o que pode causar danos gravíssimos, como assoreamento e perdas de solo para agricultura. As Matas Ciliares também atuam como um filtro natural para eventuais resíduos de produtos químicos, fertilizantes e agrotóxicos, e o próprio processo erosivo. Os cursos d’água que apresentam sua mata ciliar íntegra são menos impactados por estes agentes. Formam longos corredores de vegetação ao longo dos rios contribuindo para a manutenção da biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas.

Solo com manejo e cobertura florestal

Solo sem manejo e sem cobertura florestal Manual de Procedimentos Técnicos para Recuperação de Matas Ciliares

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2. Objetivo O objetivo deste manual de procedimentos técnicos é dar suporte na implantação de projetos de recuperação florestal descrevendo de forma fácil e objetiva as legislações vigentes e as operações executadas durante a implantação e a manutenção de projetos, a fim de padronizar e estabelecer níveis mínimos de qualidade aceitáveis.

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3. Legislação As matas ciliares ocorrem naturalmente dentro do que a lei denomina de áreas de preservação permanente de acordo com o Código Florestal (Lei nº 4.771/65), com a redação dada pela Lei nº 7.803/89, são consideradas de preservação permanente, as florestas e demais formas de vegetação natural quando apresentam as seguintes condições apresentadas na tabela abaixo:

Tabela 1. Dimensões das faixas de mata ciliar em relação à largura dos rios, lagos, etc.

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Figura 2.Esquema de disposição da mata ciliar no entorno dos cursos d´água

Resolução SMA – 8 (31-1-2008) Importante salientar que de acordo com o artigo 14 da resolução SMA – 8, de 31-1-2008, “Para iniciativas voluntárias de recuperação florestal, em áreas consideradas de preservação permanente (Lei Federal 4.771-65) e não enquadradas no Artigo 4º desta resolução, deverá ser aplicado o procedimento simplificado de aprovação pelo DEPRN, com prioridade de análise e isenção de taxa”. O parágrafo 2º do artigo 12 diz: “A recuperação florestal na pequena propriedade rural poderá ser assistida pelo poder público, dispensando-se a apresentação de projeto técnico, mas considerando, na execução das ações, os princípios gerais desta resolução”. O artigo 4º desta resolução diz que deverão ser elaborados projetos técnicos de recuperação florestal quando se enquadrar em algum dos seguintes casos: ICondição para emissão de licenças ambientais por órgãos integrantes do SEAQUA; 20

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IIExigidos com o objetivo de promover a reparação de danos ambientais que foram objeto de autuações administrativas; IIIPrevistos em Termo de Ajustamento de Conduta; IVImplantação de projetos com recursos públicos sujeitos à aprovação de órgãos integrantes do SEAQUA.

- Lei de Crimes Ambientais 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, conforme Artigo 39, determina que é proibido: “Destruir ou danificar florestas de área de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção”. - É prevista a pena de detenção, de 1(um) a 3(três) anos, ou multa, ou ambas as penas, cumulativamente. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

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4. Implantação de projetos 4.1 Sistema sucessional de implantação O método de implantação a ser adotado é o que leva em conta o sistema de sucessão florestal, onde são utilizadas mudas de espécies pioneiras e secundárias iniciais, agrupadas num único grupo denominado de “pioneiras” e mudas de espécies secundárias tardias e clímax, agrupadas em outro grupo denominado de “não-pioneiras”. As mudas serão plantadas simultaneamente, porém de forma intercalada e no espaçamento recomendado para possibilitar o sombreamento do grupo das “pioneiras” para as “não-pioneiras”, conforme o esquema que segue:

Figura 3. Esquema de plantio intercalando pioneiras e não-pioneiras. Manual de Procedimentos Técnicos para Recuperação de Matas Ciliares

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As espécies serão mescladas ao máximo para que se forme uma mata bastante heterogênea, sendo que a distribuição das mudas deve respeitar a proporção de no mínimo 40% para qualquer dos grupos (pioneiras e não-pioneiras). Quanto ao número de indivíduos por espécie, nenhuma espécie deverá ultrapassar o limite máximo de 60% do total do plantio, e 10% das espécies implantadas, no máximo, podem ter menos de 12 indivíduos por projeto, como já descrito anteriormente.

4.2 Escolha das espécies O reflorestamento das áreas ciliares deverá ser feito com espécies vegetais arbóreas, pertencentes à composição regional, incluindo espécies atrativas à fauna, espécies de valor ecológico ou paisagístico, etc. Em cumprimento da Resolução SMA – 8 de 31 de janeiro de 2008, nas seguintes proporções: no mínimo, 20% de espécies zoocóricas nativas da vegetação regional; no mínimo, 5% de espécies nativas da vegetação regional, enquadradas em alguma das categorias de ameaça (vulnerável, em perigo, criticamente em perigo ou presumivelmente extinta); mínimo de 40% para qualquer um dos grupos (pioneiras e secundárias iniciais) e não pioneiras (secundárias tardias e climácicas); (pioneira e não pioneira) não pode exceder 60% do total dos indivíduos do plantio; nenhuma espécie pioneira pode ultrapassar o limite máximo de 20% de indivíduos do total do plantio; 24

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nenhuma espécie não pioneira pode ultrapassar o limite máximo de 10% de indivíduos do total do plantio; 10% das espécies implantadas, no máximo, podem ter menos de doze (12) indivíduos por projeto; A seguir, temos um exemplo de algumas espécies de árvores nativas utilizadas em recuperação de matas ciliares, bem como seus grupos ecológicos e preferência quanto à umidade do solo de acordo com a legenda: Legenda:

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4.3 Preparo inicial do terreno As ações necessárias ao preparo inicial do terreno serão tomadas para facilitar a entrada da equipe de trabalho visando a maximização de suas atividades, além de proteção às mudas. Consistem em: 1. construção de cercas para isolamento da área e proteção contra a entrada de animais (gado, cavalos, entre outros). 2. corte da vegetação herbácea na área do plantio, quando necessário; e 3. recuo de cultivos, entulhos ou outros que estejam dentro da área de plantio.

Roçada Manual 26

Roçada Mecânica

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4.4 Combate às formigas As formigas cortadeiras, principalmente as saúvas e quenquéns podem provocar danos consideráveis nas mudas e até altas taxas de mortalidade, inviabilizando o projeto de restauração florestal. No combate á formiga, deverá ser percorrida toda a área para a destruição dos formigueiros, os quais, deverão ser localizados pelas manchas no terreno, por carregadores, montículos, resíduos, olheiros, etc. Para fins de combate às formigas, deverão ser identificadas primeiramente quanto ao gênero, visando à escolha do método mais adequado: Atta (saúva) e Acromyrex (quenquéns). Existem diferentes métodos de controle, cuja aplicação depende de condições climáticas, espécies de formigas presentes na área a ser reflorestada, em áreas vizinhas, nível de infestação, etc. Alguns dos métodos mais utilizados são: Termonebulização – o inseticida é misturado com óleo diesel, transformado em fumaça e injetado no formigueiro por um equipamento motorizado chamado termonebulizador. A fumaça que penetra no formigueiro mata as formigas por contato. Esse método é recomendado para aplicação com tempo seco ou chuvoso apenas para controle de saúvas. Utiliza-se o ingrediente ativo clorpirifós 720 g/l – diluir 70ml em 930ml de óleo diesel, aplicando 4ml do produto diluído por m2 de terra solta. Pó seco – esse tipo de formicida é aplicado por meio de polvilhadeiras, que ejetam o pó no formigueiro, matando as formigas por contato. Só se recomenda para formigueiros pequenos (saúvas e quenquéns). Utiliza-se o ingrediente ativo deltamethin, aplicando 10 gramas por metro quadrado de terra solta. Isca granulada – recomenda-se para aplicação apenas em épocas secas. A isca é o método mais utilizado atualmente no combate às formigas cortadeiras (saúvas e quenquéns) por serem Manual de Procedimentos Técnicos para Recuperação de Matas Ciliares

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pouco tóxicas e de fácil aplicação. As iscas podem ser acondicionadas em pequenos sacos plásticos (com 10 gramas cada) que devem ser colocados ao longo dos carreiros próximos dos olheiros ativos. A quantidade de iscas dependerá do tamanho do formigueiro e do produto utilizado. As formigas se encarregam de levar o produto para dentro do formigueiro e distribuí-lo, exterminando toda a população. Utiliza-se os ingredientes ativos fipronil ou sulfluramida aplicando 10 gramas por metro quadrado de terra solta. Deverão ser tomados os devidos cuidados na utilização desses métodos, sempre com o uso de luvas e materiais para proteção. Toda embalagem vazia do inseticida deverá ter destinação final adequada.

4.5 Espaçamento e alinhamento das covas O espaçamento padrão a ser utilizado será de 3m (entre linhas) x 2m (entre plantas), para o plantio de recomposição da vegetação na faixa considerada de preservação permanente, porém pode variar conforme o projeto técnico elaborado. Outros espaçamentos utilizados são o 2m x 2m ou 1,5m x 3m. O alinhamento das covas nas áreas de recomposição deverá ser perpendicular à declividade do terreno, intercalando as plantas no espaçamento definido.

4.6 Coveamento O coveamento será realizado de preferência manualmente, podendo ser ainda empregada uma gradagem para terrenos muito infestados com plantas herbáceas e que permitam o uso de máquinas. Quanto maior a dimensão da cova, melhor será a adaptação da mudas, pois o enraizamento será facilitado devido a 28

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maior área descompactada de solo. A dimensão padrão utilizada em projetos de recuperação florestal é de 40cm x 40cm x 40cm. Para solos antes utilizados como pastagens ou áreas mineradas onde os mesmos se encontram compactados e degradados pela ação do pisoteio do gado ou alteração antrópica, recomenda-se a abertura de covas com o tamanho mínimo citado acima. No caso de plantio com tubetes, as dimensões deverão ser de 30cm x 30cm x 30cm. No momento do plantio deve ser feita a inversão da terra do fundo da cova com a de superfície, sendo este procedimento dispensado no caso de gradagem prévia.

4.7 Adubação de Base O enriquecimento do solo será realizado de acordo com a necessidade, com fertilizantes químicos e/ou orgânicos visando o fornecimento de macro e micro-nutrientes. A operação de adubação deverá ser realizada junto do plantio. O adubo químico será também misturado à terra da cova, quando necessário, com aplicação de 150g/cova de NPK (04:14:8) ou 100g de NPK (10:30:10) por cova. Em casos especiais, a estrutura física do solo dentro da cova pode ser melhorada com o uso de matéria orgânica (esterco curtido), podendo-se utilizar 6 litros de esterco de curral ou 3 litros de galinha curtidos, por cova, seguindo o projeto técnico. O adubo químico e/ ou esterco, em caso de adubação orgânica, deverão ser misturados à camada superior do solo retirado da cova. Essa mistura deverá ser colocada no fundo da cova. O solo da camada inferior da cova deverá ser colocado completando o volume da mesma. Durante as atividades de adubação deve-se ter preocupação com os resíduos resultantes recolhendo-os e destinando-os em locais adequados, não deixando no campo.

4.8 Transporte e distribuição das mudas As mudas a serem levadas ao campo deverão estar em condições adequadas de desenvolvimento e sanidade (doenças), Manual de Procedimentos Técnicos para Recuperação de Matas Ciliares

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tendo sido previamente aclimatadas, com altura mínima de 30cm. No transporte e distribuição das mudas aos locais de plantio é necessário evitar traumatismos como os provocados pelo vento em velocidades elevadas (caminhões sem proteção com caçambas abertas) ou pela movimentação das mudas em “trancos” ou movimentos bruscos no decorrer do transporte, caso o transporte seja prolongado, recomenda-se a irrigação das mudas, para evitar a perda das mesmas. É totalmente desaconselhável o “remontamento” das mudas no decorrer do transporte. A distribuição deve ser realizada manualmente na área de plantio, para evitar a compactação do solo local com o trânsito de maquinários, deve seguir o ritmo do plantio para que não sobrem mudas efetivamente plantadas de um dia para o outro, e deve ainda, estar adaptada às condições meteorológicas da região, sendo o plantio somente realizado durante ou imediatamente após dias chuvosos, porém, se necessário e possível, é admitido o emprego de irrigação. O transporte das mudas deve ser realizado alguns dias antes do plantio, para que as mudas sofram o processo de rustificação, com exposição gradativa às condições de campo (redução de irrigação e sombreamento). Para o transporte as mudas devem estar bem protegidas de ventos, de preferência em dias nublados, procurando evitar maiores estresses às mudas.

4.9 Coroamento das Mudas O coroamento ou a limpeza do local onde as plantas se estabelecerão, deverá ser feito a fim de evitar a competição aérea e radicular com ervas daninhas. Coroar pelo menos 50 cm de raio do centro para a borda da cova, deixando totalmente limpa de potenciais competidores a área no entorno da muda. Pode-se cobrir o solo limpo com restos vegetais para garantir um aumento de umidade no local. No caso de um terreno irregular ou com alta declividade, podese optar somente pelo método do coroamento, não realizando o roçamento, para que a maior parte do solo permaneça coberta por vegetação diminuindo os riscos de erosão. 30

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4.10 Plantio Para facilitar a adaptação da muda no solo, o plantio deverá ser realizado durante ou imediatamente após dias chuvosos, caso esta condição não ocorre, a irrigação pode ser utilizada como alternativa. Para tanto, recomenda-se realizar o plantio durante o período chuvoso que se estende entre os meses de novembro à março. Na preparação para o plantio, deve-se tomar cuidado para que não se destrua o torrão na retirada da muda do saquinho e, se necessário, aparar as raízes maiores que estiverem crescendo para fora do torrão. Após a abertura da cova, misturar todo o solo retirado com o adubo orgânico. Colocar uma pequena porção de terra fertilizada de volta na cova e introduzir a muda deixando a parte superior do torrão nivelada à superfície do solo. Completar a cova com o solo restante e pressioná-lo até que a muda fique firme no solo, deixando o terreno ficar levemente abaixo do nível do solo para facilitar as regas. O excesso de terra retirado da cova deve ser espalhado num raio de 30 cm ao redor da planta para propiciar acúmulo e armazenamento de água das chuvas e deverá ser realizada uma rega abundante logo após o plantio para eliminar bolsões de ar existentes, facilitando o contato da raiz com o solo, que deverá ficar encharcado. Por um período de 15 dias, caso não ocorram chuvas, deverá ser feita uma irrigação de pelo menos 1 vez por semana, nas primeiras 4 semanas e 1 vez a cada 2 semanas nas outras próximas 4 semanas.

Figura 4. Etapas básicas do plantio efetivo. Manual de Procedimentos Técnicos para Recuperação de Matas Ciliares

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Observações Para facilitar a adaptação da muda, é importante retirar o excesso de folhagem à sua volta para evitar a perda de água pelas folhas através da transpiração. É importante que se faça o corte do excesso das raízes da planta momentos antes do seu plantio. Durante as atividades de plantio deve-se ter a preocupação com os resíduos resultantes, recolhendo-os e destinando-os em locais adequados, não deixando no campo.

4.11 Tutoramento As plantas deverão ser amarradas a “toretes” (Ex: bambu), com diâmetro entre 3 a 5 cm e altura entre 1m e 1,5m, para maior proteção e correta condução, principalmente em locais de muita ocorrência de ventos fortes. Servirá também de guia de localização das mudas nas atividades de coroamento. O tutor deve ser amarrado a muda com um barbante de forma que proporcione firmeza e ao mesmo tempo não "estrangule" o tronco quando a planta crescer.

Figura 5. Esquema de plantio com toretes de bambu nas mudas. 32

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5. Manutenção A atividade de manutenção da área de plantio deverá ser executada, em um prazo de no mínimo 18 meses após o plantio, que inclui o controle de formigas, roçada entre linhas, coroamento, adubação de cobertura, entre outros, conforme avaliação técnica.

5.1 Replantio O replantio visa um melhor preenchimento de falhas na área reflorestada para a substituição das mudas danificadas ou mortas. As mudas que forem retiradas, devem ser substituídas por outras da mesma espécie, seguindo os procedimentos definidos para o plantio, dispensando a adubação de base que não necessita ser repetida no momento do replantio. Caso o replantio coincida com a época seca, deve-se aguardar o início do período chuvoso e proceder às atividades descritas durante ou imediatamente após dias chuvosos, porém, se necessário e possível, é admitido o emprego de irrigação. Deve-se ressaltar a importância da adaptação de solo e clima da espécie. Caso seja detectada má formação e, conseqüentemente, má adaptação, deve-se procurar substituir a espécie por outra que proporcione melhor desenvolvimento.

5.2 Adubação de Cobertura Após 60 dias do plantio, será realizada adubação de cobertura para favorecer o rápido desenvolvimento das mudas, diminuindo a necessidade de controle de ervas daninhas. O adubo químico será distribuído em torno da planta resguardando um raio de 20cm da mesma, utilizando-se da formulação NPK (20:00:20), na razão de 150g/cova. Durante as atividades de adubação de cobertura, deve-se ter a preocupação com os resíduos resultantes, recolhendo-os e destinando-os em locais adequados, não deixando no campo. Obs.: Caso a adubação de cobertura coincida com a época seca, é admitido o emprego de irrigação. Manual de Procedimentos Técnicos para Recuperação de Matas Ciliares

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5.3 Coroamento Até que as mudas atinjam cerca de 1,5m de altura deverão ser realizadas capinas manuais de coroamento das mudas, evitando o abafamento por gramíneas invasoras. O coroamento deve ser realizado com raio mínimo de 50cm.

5.4 Roçada entre linhas Para impedir a competição de ervas daninhas plantadas, deve ser feita a roçada entre linhas utilizando-se equipamentes como roçadeira costal, tratorizada, foice ou alfanje em freqüência mínima até o fechamento do dossel. A operação deverá deixar a vegetação invasora com altura máxima de 10cm do solo, e deve ser realizada assim que a altura média da vegetação invasora entre as linhas seja de aproximadamente 50cm do solo. Durante a operação deverão ser preservadas as espécies arbóreas existentes no local oriundas do processo de regeneração natural. Em casos onde a área apresenta indícios de processos erosivos ou onde a declividade é acentuada, recomenda-se somente o coroamento das mudas e a roçada entre as linhas de plantio acompanhando as curvas de nível do terreno, evitando a exposição do solo.

Figura 6. Detalhe da roçada entre linhas visando a proteção do solo. 34

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DICA: O material resultante da roçada pode ser mantido na área, protegendo assim o solo e servindo também como fonte de nutrientes e de matéria orgânica. Porém, deve-se atentar que este procedimento aumenta os riscos de incêndio na área devido ao material seco.

Observações • Utilizar protetor auricular e óculos como equipamentos de proteção individual em função do equipamento utilizado. • Para áreas de preservação permanente como entorno de nascentes e matas ciliares não recomendamos o uso de herbicidas para o combate e controle de ervas daninhas e outros tipos de vegetação invasora, pois estes produtos podem ocasionar a contaminação dos mananciais devido a proximidade dos corpos d’água.

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6. Bibliografia KAGEYAMA, P.Y. Restauração da mata ciliar. Rio de Janeiro: SEMADS 2001. 104p. SIMPÓSIO “MATA CILIAR”. Ciência e Tecnologia. Belo Horizonte, 1999, 235p. BOTELHO, S.A. Implantação de Florestas de Proteção. Lavras, UFLA, 2001, 81p. MARTINS, V.S. Recuperação de Matas Ciliares. Viçosa, UFV, 2007, 255p. RODRIGUES, R.R. & LEITÃO FILHO, H. de F. Matas Ciliares, Conservação e Recuperação, São Paulo, EDUSP, 2000, 320p. CONSÓRCIO PCJ, Manual de Procedimentos Técnicos para Recu peração de Matas Ciliares. 2004, 23p. CASTRO, P.S., LOPES, J.D.S. Recuperação e Conservação de Nascentes. Viçosa, CPT, 2001, 84p.

GUILHERME AMSTALDEN VALARINI ENGº AMBIENTAL COORDENADOR DO PROGRAMA DE PROTEÇÃO AOS MANANCIAIS

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