Revista contexto social nr 3 web

Page 1

Ano 1 - Número 3 - Junho/2013 - Distribuição nacional gratuita

Gol de Letra do craque Raí Guardiões do Mar mobiliza cooperativas de reciclagem

Autistas interagem com tecnologia touch

CNA e Sebrae unidos no semiárido


> Baixe o aplicativo do Sebrae na App Store ou na Play Store.

COM MUITO TALENTO, CRIATIVIDADE E CORAGEM, AS MULHERES CONSOLIDAM CADA VEZ MAIS SEU ESPAÇO ENTRE OS EMPREENDEDORES DO BRASIL. SE VOCÊ É UMA DELAS, INSCREVA-SE NO PRÊMIO SEBRAE MULHER DE NEGÓCIOS, CONTE SUA HISTÓRIA DE SUCESSO E INSPIRE AINDA MAIS MULHERES A SEREM DONAS DA PRÓPRIA EMPRESA. INSCRIÇÕES ABERTAS ATÉ 31 DE JULHO.

Acesse mulherdenegocios.sebrae.com.br


Expediente

Diretor: Paulo Pedersolli Editor Chefe: Maurício Cardoso - 1314/DF mauricio@revistacontextosocial.com.br Chefe de Reportagem: Jair Cardoso jair@revistacontextosocial.com.br Serviços Editorais: Luana Gonçalves de Araújo Projeto Gráfico e Diagramação: Cláudia Capella Webdesign: Luiz Augusto Garcia Redes Sociais: Adriano Freire Publicidade: Juliana Orem Revisão: Denise Goulart Agências de Notícias: Brasil, Senado, Câmara, Sebrae, USP, RTS,

Contexto Social Editora Ltda. Endereço: SHIN CA 9 Lt. 2 Bl. B Sala 15 Lago Norte/DF - 71503-509 Telefones: (61) 8455-6760 / 8479-0846 / 9115-0273 Matérias e sugestões de pauta: redacao@contextosocial.com.br revistacontextosocial@gmail.com Site: www.revistacontextosocial.com.br Tiragem: 25.000 exemplares Periodicidade: mensal

Carta ao leitor Utopia ontem, infelicidade hoje Não temos como nos calar. As recentes manifestações sociais de massa realizadas no país são impar e, com certeza, marcarão o antes e o depois, o antigo e o novo e, principalmente, o nascer da pura democracia. Os acontecimentos desencadeados em todo o Brasil confirmam a visão internacional de que a sobrevivência do planeta e de seus habitantes passa, obrigatoriamente, pela responsabilidade social. Na nossa visão, a responsabilidade social não é uma moda, e sim um processo concreto e contínuo. Tão contínuo que as caras pintadas tinham rugas em sua tinta. Vimos dos olhares dos avós, dos pais, dos filhos e dos netos o brilho da esperança de um futuro melhor. Quem sabe não é uma utopia, diria Thomas Morus? Acreditamos nas mudanças desencadeadas por ações individuais e coletivas que fazem a diferença. Por isso, destacamos nesta edição as mais variadas iniciativas de promoção social, entre elas as dos ex-jogadores Raí e Leonardo e sua Fundação Gol de Letra. Reconhecida como instituição modelo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Gol de Letra atende a mais de 1.200 crianças e jovens de 7 a 24 anos das comunidades de Vila Albertina, em São Paulo, e do bairro do Caju, no Rio de Janeiro, com ações sociais diretamente relacionadas com a Política Nacional de Assistência Social, a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), o Programa Nacional de Assistência Social (PNAS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). De Porto Alegre, o Instituto Zoom faz história com seu projeto “No Toque da Educação”, destinado a crianças, adolescentes e adultos autistas, com iniciativas que trabalham comportamento, atenção e interação social. Do Rio de Janeiro, mais exatamente dos municípios que fazem parte da região do Complexo Petroquímico (Comperj), a união de forças está transformando o lixo em renda, cidadania e preservação ambiental. Para isso acontecer, a ONG Guardiões do Mar e mais 15 cooperativas se uniram para recolher e comercializar o lixo reciclável. Com certeza, a ”utopia” de nossos avós e pais não será a mesma de nossos filhos e netos. A revista Contexto Social enfatiza que a infelicidade social tem sua função de ação e efeito bem precisos: é um reforço para a motivação. Equipe Contexto Social


8 9 10

Jorge Gerdau: Ÿ Sem educação o Brasil jamais

será verdadeiramente livre

Ÿ A realidade mundial exige a integração empresarial-acadêmica

ONG fiscaliza ações do governo Cultura de paz nas escolas

TERCEIRO SETOR Projeto Ortópolis Barroso Novas profissionais Bem-vindo Cidadania com livros

12 13 14 15

Ano 1 - Número 1 - Abril/2013

POLÍTICAS Plantios experimentais Educação contra a criminalidade Sem violência

5

Ano 1 - Número 2 - Maio/2013 - Distribuição gratuita

Sumário

CAPA Um verdadeiro gol de placa

-

Ela comanda a política nacional contra a pobreza

A força das mulheres nos programas sociais da Sudeco Rota da Liberdade, turismo com inclusão social

Cartas Junho/2013

GESTÃO Capacitação de produtores rurais Reciclagem em equipe Dinheiro velho faz boas parcerias

16 17 18

CIDADANIA Projeto educacional para autistas Oportunidade para detentos Novas comunidades quilombolas

19 20 21

EMPREENDEDORISMO A arte de grafitar

22

ESPORTE Mergulho adaptado

24

VOLUNTARIADO ONGs na periferia

25

SUSTENTABILIDADE Fundo Kayapó

26

COLUNA Socialmente falando...

28

DIREITOS HUMANOS Cidade sustentável no semiárido

29

INTERCÂMBIO A experiência de São Francisco

30

INOVAÇÃO Gás natural

31

TRANSPARÊNCIA Mapa do trabalho infantil

32

MOBILIZAÇÃO Convivência com o semiárido

33

ARTIGO Edifícios verdes

34

Recebemos e agradecemos o envio da revista Contexto Social nº 2 - maio/ 2013. Josemara Brito de Jesus Bibliotecária Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Recebemos e agradecemos o título CONTEXTO SOCIAL, número 02/2013. Temos interesse em continuar recebendo os próximos números. Gladston José Cordeiro Seção de Intercâmbio Bibliotecária Maria Josefina Klock Universidade Federal do Paraná Biblioteca Central - Seção de Intercâmbio

Agradecemos o envio da revista Contexto Social, e parabenizamos pela excelente publicação e pelo rico conteúdo desenvolvido. Aproveitamos para encaminhar exemplares do Jornal da UFU, maio-junho de 2013 – número 143. . Diretoria de Comunicação Social – DIRCOUniversidade Federal de Uberlândia – Bloco 1S – Campus Santa Mônica – Avenida João Naves de Ávila, 2121 – Uberlândia - MG


Capa

Um verdadeiro

gol de placa

A

didas, Mapfre, Itaú, AmBev e Leonardo; Lacoste, Grupo Libra e Raí, Hempel, Safra e Johnson & Johnson. A escalação da equipe de mantenedores da Fundação Gol de Letra, comandada pelo tetracampeão mundial Raí Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente Raí, não deixa nada a desejar à vitoriosa seleção brasileira de 1994. Reconhecida como instituição modelo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a fundação desenvolve programas de educação para mais de 1.200 crianças carentes, adolescentes e jovens de 7 a 24 anos das comunidades da Vila Albertina, em São Paulo, e do bairro do Caju, no Rio de Janeiro.

A Fundação desenvolve programas de educação para mais de 1.200 crianças carentes

O projeto foi idealizado em 1997, na França, quando Raí e Leonardo - companheiros na Seleção Brasileira, no São Paulo e no Paris SaintGermain - criaram um fundo de investimento com capital inicial de 1,2 milhão de euros em recursos próprios. Um ano depois, em dezembro de 1998, nascia a Fundação Gol de Letra. A tabelinha com Leonardo contagiou uma torcida de voluntários. Juntos, eles driblaram os marcadores e fizeram um verdadeiro gol de placa. Se considerarmos cada criança atendida pela Fundação como um gol, o time de craques comandado pelo artilheiro Raí já triplicou a marca de mil gols do Rei Pelé.

Voluntariado Em 1988, após quatro temporadas no futebol francês, Raí retornou ao Brasil, onde pendurou as chuteiras e iniciou uma nova trajetória tão ou mais desafiadora do que brilhar no futebol mundial: levar educação e cidadania a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.

5


Capa

No início, Raí e Leonardo praticamente jogavam nas onze: agarravam, passavam, lançavam, tabelavam e finalizavam. O voluntariado era formado basicamente por familiares, amigos e membros da própria comunidade. Hoje, a Gol de Letra conta com centenas de voluntários que suam a camisa em defesa das crianças carentes. Quem deseja ser voluntário ou contribuir com doações pode se tornar um parceiro e ajudar na construção de um futuro melhor para essas crianças e jovens. “Temos parceiros na França, Itália e Suíça. Todo ano algumas crianças daqui vão para fora fazer intercâmbio”, enfatiza Raí. Não é de hoje que ídolos do esporte brasileiro disponibilizam seu nome, seu tempo e seu prestígio em favor das causas sociais. Mas as portas não se abrem automaticamente, como nos shoppings. Atrair investidores é uma tarefa árdua. Raí também conhece isso de perto. Depois de 15 anos enfrentando marcadores ferrenhos e zagueiros truculentos, o craque deixou os gramados para enfrentar um novo desafio: a retranca do empresariado contra o ataque por verbas. Com um orçamento anual de R$ 5 milhões, a Gol de Letra é mantida por empresas investidoras que acreditam na educação como ferramenta de cidadania. “Isso não é carisma.. É um reconhecimento do nosso trabalho diário”, ressalta o ex-jogador.

Virando o jogo A proposta educacional da Fundação Gol de Letra é calcada na proteção integral à criança e ao adolescente (lei nº 8.069), estabelecida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), focando no direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) ampara a importância do trabalho socioeducativo ao prescrever, como diretriz e meta, a Educação Integral. As ações sociais estão diretamente relacionadas com a Política Nacional de Assistência Social, na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), o Programa Nacional de Assistência Social (PNAS) e com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que pressupõem a centralidade na família e a importância do caráter socioassistencial no desenvolvimento de contextos de proteção social, familiar, escolar e comunitário. “Um dos grandes diferenciais da Gol de Letra é que os educadores ficam em contato direto com pais, escolas e comunidade”, explica o diretor da unidade Vila Albertina, Sóstenes Brasileiro de Oliveira, que é irmão do jogador. Os programas de educação integral procuram despertar um novo olhar para o mundo e o prazer

6

de aprender, por meio de atividades como dança, teatro, artes, informática e esportes. Para os jovens, a Gol de Letra possui o eixo de empregabilidade, que são cursos com duração média de três meses com a possibilidade de contratação pelas empresas parceiras. O Virando o Jogo atende 240 crianças (de 7 a 14 anos) em atividades de artes plásticas, brinquedoteca/jogoteca, capoeira, dança, educação física, informática, leitura e escrita, mediação de leitura, música e teatro. O Jogo Aberto atende 450 crianças, adolescentes e jovens (de 12 a 18 anos) através do Núcleo de Esporte e Desenvolvimento, com seis modalidades esportivas. O Programa de Jovens mantém 194 adolescentes e jovens (de 14 a 21 anos) em atividades de artes visuais, grafite, núcleo de projetos, fóruns e intervenções, além do Programa de Educação para o Trabalho, Polo de Informações e projetos em parceria com empresas. O Programa Comunidades assiste às famílias e promove ações socioeducativas nas duas comunidades.

Armando o meio campo Montar essa equipe vitoriosa exigiu muito mais do que capital próprio e vontade de apoiar a transformação social. Raí e Leonardo consultaram especialistas do Instituto Ayrton Senna, Casa do Teatro e Fundação Abrinq para absorver novos conhecimentos e criar a metodologia e a linha pedagógica da instituição.


Capa

O apoio financeiro do BNDES e da Fundação Kellogs alavancaram a reforma e a preparação da sede da Fundação na Vila Albertina, instalada em espaço cedido pelo Governo de São Paulo. O imóvel, que estava abandonado devido ao alto índice de criminalidade na região, ganhou salas de aula, quadras poliesportivas, refeitório e mudou a realidade da região. Raí lembra que na época faltava estrutura de lazer e educação e havia muitos jovens e crianças na rua. Hoje, as crianças disputam vagas na Fundação Gol de Letra. E se engana quem pensa que a Gol de Letra é uma espécie de academia de futebol. Segundo Raí, a Fundação tem um propósito educativo e cultural que usa os esportes, e não apenas o futebol, como instrumento de desenvolvimento comunitário. A Fundação mantém programação o ano todo, mas para participar de qualquer atividade é necessário estar matriculado na rede pública de ensino.

Atletas pela cidadania Além de presidir a Fundação Gol de Letra, Raí é um dos fundadores da Atletas pela Cidadania, associação criada para agregar o poder de mobilização e de comunicação dos atletas na luta por causas de interesse geral do esporte. A associação funciona como um grupo de pressão destinado a desenvolver ações propositivas para a criação de uma política de esporte efetivamente nova e moderna. A iniciativa de reunir atletas e ex-atletas de todas as modalidades e de gerações diferentes focados em um mesmo objetivo é uma novidade em todo o mundo. A meta é atuar, dentro e fora das escolas, como interlocutor credenciado em tudo que diga respeito ao esporte no Brasil. “É uma ação de cidadania, uma preocupação que vai além das quatro linhas, além da piscina, além das pistas”, enfatiza. Além de reunir nomes de peso como Lars Grael, Paula, Ana Moser e Deco, entre outros, a associação conta com o reforço de equipes de advogados e especialistas para propor e formatar projetos de modernização do esporte.

A Fundação tem um propósito educativo e cultural que usa os esportes, e não apenas o futebol, como instrumento de desenvolvimento comunitário 7


Políticas

Plantios

experimentais As aulas práticas de plantio, conservação e manejo do solo renderam mais que aprendizado aos alunos do Centro Estadual de Educação Profissional Newton Freire Maia, em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. Neste semestre, o colégio produziu 4 toneladas de legumes e grãos, uma das suas maiores produções. Os plantios experimentais fazem parte do currículo escolar e são feitos no terreno de 24 mil metros quadrados que pertence

Os alimentos produzidos pelos estudantes complementam a merenda escolar 8

ao próprio ao colégio. “O aluno faz o projeto teórico em sala, acompanhado pelo professor. Em seguida, vai a campo aplicar o que aprendeu”, explica o diretor da Unidade Didática Produtiva (UDP), Edson Blun. A Secretaria Estadual de Educação mantém mais 17 escolas agrícolas em outras regiões do Paraná e os alimentos produzidos pelos estudantes complementam a merenda escolar fornecida aos alunos.

Estrutura A horticultura tem 6 mil metros quadrados destinados a atividades. Se a produção não atende à expectativa, os alunos estudam o solo para diagnosticar o problema. A escola conta também com minhocário para produção de adubos orgânicos, que ajuda a aumentar a produtividade do solo. As aulas envolvem técnicas de criação de animais. Os grãos cultivados, como o milho, servem

para alimentar as aves e os rebanhos de carneiro e gado leiteiro do colégio. Todas as aulas práticas são acompanhadas por zootecnistas, veterinários e agrônomos dos projetos agrícolas. Na disciplina de avicultura, os estudantes cuidam para que as instalações estejam adequadas e acompanham o processo de produção. “É uma forma de aprendermos melhor como funciona a atividade. É diferente de ter apenas o conteúdo nos livros”, comenta o aluno Fernando Tiago Grebogi, 15 anos, do 1º ano do ensino médio. No Paraná, mais de 6 mil alunos estudam em 18 centros de educação agrícola que oferecem cursos técnicos gratuitos, integrados ao ensino médio, em agropecuária, agroindústria, agroecologia, meio ambiente, guia de turismo, química, hospedagem, segurança do trabalho, alimentos, informática, celulose e papel, energias alternativas e paisagismo.


Políticas

Educação

contra a criminalidade

Uma tese de doutorado realizada no programa de pósgraduação em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, comprovou a potencialidade da escola como um fator para influenciar o comportamento dos alunos e reduzir a violência. A análise foi realizada por meio da construção de dois ensaios. No primeiro, foram coletadas evidências de que a atuação pública na área da educação poderia contribuir para reduzir o crime no médio e longo prazo. Nesta etapa, foi mensurado o impacto do gasto público em educação na redução da taxa de homicídios, utilizando dados dos estados brasileiros, entre os anos de 2001 e 2009. No segundo ensaio, que foi financiado pelo programa “Observatório da Educação”, fruto da junção entre o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foram analisados alguns fatores do ambiente escolar e do seu entorno que poderiam contribuir para a manifestação do comportamento violento dos alunos a partir de dados disponibilizados nas Provas Brasil de 2007 e 2009.

para desenvolver conhecimento, pois, no segundo ensaio, foi observado que escolas com traços de violência, como depredação do patrimônio, tráfico de drogas, atuação de gangues, entre outros, podem influenciar a manifestação do comportamento agressivo nos alunos. “O objetivo geral do trabalho foi analisar a relação entre a educação e a violência, observando se a educação e a escola podem contribuir para reduzir a violência e o crime”, comenta a pesquisadora economista Kalinca Léia Becker. A pesquisa mostrou que o contato com um meio onde prevalecem ações violentas influencia diretamente o comportamento do aluno dentro da escola. Sendo assim, as políticas públicas para

combater o crime na vizinhança da escola podem contribuir significativamente para reduzir a agressividade dos alunos.

A cada investimento de 1% na educação, 0,1% do índice de criminalidade é reduzido

Comportamento A pesquisa comprovou a influência da educação no comportamento dos alunos. Constatou-se no primeiro ensaio que quando ocorre o investimento de 1% na educação, 0,1% do índice de criminalidade é reduzido. Porém, para isso, é necessário que a escola funcione como um espaço

9


Políticas

Sem

violência

10


as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR) apresentou suas principais ações e programas voltados para o enfrentamento à violência no seminário nacional ‘Fortalecimento e Capacitação da Rede de Procuradorias da Mulher nos Estados e Municípios’, realizado em Brasília. O destaque da apresentação foi o programa ‘Mulher, Viver sem Violência’, lançado em março pela presidenta Dilma Rousseff. Segundo a secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Aparecida Gonçalves, o novo programa reunirá no mesmo espaço delegacias especializadas de atendimento à mulher (DEAMs), juizados e varas, defensorias, promotorias, além de equipe psicossocial e de orientação ao emprego e renda. “Reunindo todos esses serviços na Casa da Mulher Bra-

Será feito investimento na humanização do atendimento na saúde pública, com a adequação dos espaços especializados para melhorar as coletas de provas de crimes sexuais

Políticas

A Secretaria de Políticas para

sileira, estaremos evitando que a mulher vítima da violência se perca no caminho do acesso aos serviços públicos. Atualmente, em muitos casos, ela chega a uma delegacia para fazer a denúncia, mas não aos demais serviços, pela dificuldade no acesso”. Acrescentou que será feito investimento na humanização do atendimento na saúde pública, com a adequação dos espaços especializados para melhorar as coletas de provas de crimes sexuais.

Pacto Nacional Aparecida Gonçalves ressaltou a importância do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres como instrumento federativo para a implementação da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Segundo a secretária, o pacto, criado em 2007, com a cooperação de todos os 26 estados e do Distrito Federal, mais a adesão de 413 municípios, “descentraliza a gestão das políticas de enfrentamento à violência contra as brasileiras”. A formalização do Pacto Nacional resultou num aumento de 161% no número de serviços especializados de atendimento à mulher, tais como delegacias, centros especializados, casas abrigo, juizados e varas da violência, promotorias e núcleos, defensorias públicas e serviços de atendimento à mulher e a adolescentes vítimas de violência sexual. A Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) será transformada em disque-denúncia, onde a identidade da vítima poderá ser preservada. Desde a criação do serviço, em 2005, foram feitos mais de três milhões de atendimentos. “Parece ser um número alto, mas ainda é alto o índice de mulheres vítimas de

Muitas mulheres não denunciam a violência por medo, ou por se sentirem culpadas violência que não têm acesso à informação sobre seus direitos. E muitas não denunciam a violência por medo ou por se sentirem culpadas”, avaliou.

Desafios “Apesar desses avanços, não atingimos 10% dos municípios com serviços especializados. E os existentes podem acabar, já que não foram implementados através de Projetos de Lei”, lamentou. Para ela, um dos grandes desafios do Legislativo é justamente o de formular leis para a criação efetiva desses serviços em todo o território nacional. Outra questão, ponderou, é garantir, no orçamento dos estados e municípios, recursos para serem aplicados no enfrentamento à violência contra as mulheres. A senadora Vanessa Grazziotin e a deputada Elcione Barbalho lamentaram a reduzida participação feminina no Legislativo nacional, lembrando que a Câmara Federal possui apenas 8,7% de representatividade feminina e o Senado, 12%. Nas Assembleias Legislativas a participação feminina não chega sequer a 30%. Para reverter, ou pelo menos amenizar essa situação, as duas parlamentares apontaram a necessidade de uma reforma na lei, estabelecendo cotas de participação feminina efetiva no Legislativo para reduzir a desigualdade existente.

11


Terceiro Setor

Projeto

Ortópolis Barroso

O projeto Ortópolis Barroso, desenvolvido pela Holcim Brasil, foi o vencedor da 12ª edição do Prêmio Ser Humano, da Associação Brasileira de Recursos Humanos de Minas Gerais, na categoria Responsabilidade Social Corporativa. Desde a sua primeira edição, a associação já reconheceu e premiou mais de 70 cases de sucesso em Gestão de Pessoas e Responsabilidade Social Corporativa. Lançado em 2003, o programa reuniu representantes da comunidade de Barroso, no interior de Minas Gerais, para identificar as principais áreas de oportunidades da cidade e definir objetivos e metas para melhorar as condições socioeconômicas e a qualidade de vida da população. Nesses 10 anos de atuação, o programa desenvolveu vários projetos que envolveram diretamente 4.400 comerciantes, empresários, secretários municipais, líderes comunitários e representantes de associações de bairro, como a Rumo Certo, Vaca Gorda, Papa Luxo, Juventude Empreendedora, Empreender em Família e os Parceiros de Valor. Calcado na mobilização social, os projetos estimularam

Estratégia é trabalhar “com” e não “para” a sociedade 12

as potencialidades dos cidadãos, promovendo o crescimento econômico, ambiental e social, sempre tendo como foco o trabalhar com a comunidade e não o trabalhar para a comunidade.

Estratégia A Responsabilidade Social sempre esteve integrada à estratégia de desenvolvimento sustentável da empresa como um compromisso de parceria para a construção e manutenção de relacionamentos mútuos de respeito e confiança. “Somos a favor de que cada indivíduo, seja nosso fun-

cionário, terceiro ou moradores das cidades das quais fazemos parte, aprenda a traçar objetivos para a sua vida e a utilizar toda e qualquer ferramenta que possa ser benéfica na sua trajetória”, explica Michaela Rueda, presidente do Instituto Holcim, criado em 2002 para atuar na promoção de projetos de desenvolvimento local. A Holcim Brasil faz parte do grupo suíço Holcim Ltd., líder mundial no setor de cimento com operações em cerca de 70 países. O grupo também mantém a Holcim Foundation, entidade que atua globalmente na promoção da construção sustentável.


Terceiro Setor

Novas profissionais A

Associação de Mulheres pela Paz está capacitando profissionais que atuam diretamente na Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher. Em oficinas realizadas em todo o país, a associação aborda temas importantes, como o combate ao tráfico de pessoas e a violência sexual. O projeto também subsidia as autoridades governamentais na implantação e implementação de políticas públicas e atua em várias frentes para aumentar a sensibilidade da mídia e da opinião pública sobre a gravidade dessas questões. “Somos uma associação não governamental e estamos realizando este projeto em todo o Brasil, principalmente nos estados que fazem fronteira e estão na lista de rota de tráfico humano”, explica Vera Vieira, diretora executiva da Associação de Mulheres pela Paz. A última oficina foi realizada em Rio Branco, capital do Acre, estado que possui fronteiras diretas com o Peru e a Bolívia. O encontro reuniu 60 profissionais e mostrou que o Acre está investindo no combate à violência contra a mulher. “É reconfortante encontrar um estado que tem uma Secretaria da Mulher funcionando de fato e de direito”, ressaltou a diretora.

Intercâmbio Durante a oficina, os participantes puderam trocar experiência de trabalho e ouvir um pouco da trajetória de vida da ex-freira uruguaia e candidata ao Nobel da Paz em 2005, Beatriz Benzano Seré. Em 1972, quando resolveu deixar a Ordem Dominicana para atuar junto ao Movimento Tupamaros, Beatriz Seré foi presa, torturada e confinada por quatro anos. Depois do exílio na França, voltou para ao seu país, onde fundou a ONG Grupo da Madrugada da Nova Paris, que organiza a construção de cooperativas e projetos de trabalho que encorajam as mulheres na criação de pequenos negócios. “Não podemos ser apenas vítimas, ou assistir que outras mulheres se tornem vítimas. É necessário que cada um faça a sua parte, do jeito que puder”. Para o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão, o mundo precisa se mobilizar para combater o processo histórico do tráfico humano e da mão de obra escrava. “Até pouco tempo, o tráfico era uma prática comum. Muitas pessoas eram escravizadas e isso era aceito pela sociedade. Apesar de hoje isso ser crime, ainda é considerado natural para quem o coordena”, lamentou.

13


Terceiro Setor

Bem-vindo

A participação do Terceiro Setor na área social ganhou um aliado de peso. A Nissan do Brasil acaba de lançar uma entidade que coordenará todas as ações de responsabilidade social da empresa: o Instituto Nissan. Focado na educação como principal ferramenta para o desenvolvimento da sociedade, a nova instituição tem como pilares a sustentabilidade, a mobilidade e a comunidade. Inicialmente, as ações serão realizadas no Rio de Janeiro, Resende, São Paulo, Jundiaí e São José dos Pinhais. O Instituto Nissan nasce com a missão de valorizar e transformar vidas por meio da promoção gratuita da educação, capacitação profissional, saúde, meio ambiente e assistência social. “O Instituto Nissan é um dos projetos mais importantes para a empresa, pois reforça o nosso comprometimento com a sociedade e com a educação”, ressalta François Dossa, presidente da Nissan do Brasil.

Primeiros projetos Os primeiros projetos assistidos pela entidade são a Casa do

14

Zezinho, na capital paulista, a Associação Miratus de Badminton e a Vila Olímpica Salgueiro, as duas últimas na cidade do Rio de Janeiro. A Casa do Zezinho beneficia 1.500 crianças, jovens e adultos na periferia de São Paulo. Referência em educação, a metodologia da entidade servirá como base também para os demais projetos a serem apoiados pelo Instituto Nissan. A Miratus, instalada na comunidade da Chacrinha, em Jacarepaguá, busca a inclusão social de crianças e jovens por meio da democratização da prática do badminton, esporte que será incluído nas Olimpíadas Rio 2016. A Vila Olímpica Salgueiro tem como objetivo contribuir para a evolução sociocultural das comunidades do bairro da Tijuca e comunidades das redondezas, como os morros do Salgueiro, Andaraí, Macacos, Turano, Caçapava, Borel e Casa Branca. Ao todo, mais de 800 crianças e adolescentes dispõem, gratuitamente, de diversas atividades esportivas e culturais que promovem a formação de cidadãos, incluindo aulas de inglês.

O Instituto Nissan nasce com a missão de valorizar e transformar vidas por meio da promoção da educação


com livros Criada em 1989, a Fundação Educar Dpaschoal investe na promoção da educação cidadã como estratégia de transformação social através de três grandes programas: a Academia Educar, que promove a formação de núcleos de lideranças juvenis em escolas públicas; o Prêmio Trote da Cidadania, que estimula e reconhece iniciativas de trotes solidários como forma de propagar empreendedorismo e cidadania universitária; e o Leia Comigo!, que já distribuiu mais de 35 milhões de livros para escolas públicas, organizações sociais e bibliotecas. O primeiro projeto desenvolvido foi a Academia Educar, que já atendeu a mais de dois mil jovens. Anualmente, cerca de 100 alunos de escolas municipais e estaduais participam, no contra-

turno escolar, de atividades que estimulam competências e habilidades para que o jovem descubra seu potencial e canalize sua energia em atividades que contribuam para sua escola e comunidade. O Prêmio Trote da Cidadania foi lançado em 1999 para incentivar e reconhecer boas práticas de recepção aos calouros nas universidades. “Queremos estimular universitários incomodados e empreendedores para que aproveitem o momento de trote para engajar calouros em ações saudáveis que transformem o entorno, a comunidade e, mais que isso, transformem a cultura de violência em cultura de participação cidadã. A violência, inclusive nos trotes, não é coerente com a sociedade que sonhamos”, explica Marina Carvalho, supervisora da Fundação Educar.

O projeto Leia Comigo! é o mais recente e um dos mais atuantes. Ele utiliza recursos próprios e de outras empresas, através da Lei Rouanet, para produzir e distribuir livros infantis gratuitamente. Até 2012, mais 35 milhões já haviam sido distribuídos. A partir deste projeto, a Fundação Educar passou a desenvolver projetos que despertam o interesse pela leitura. Uma das iniciativas é a contação de histórias, ação que fortalece as relações entre a criança, o mediador de leitura (pai, educador, voluntário) e o livro. Mais do que uma ferramenta de interação entre adultos e crianças, a contação é uma forma lúdica de criar o gosto pela leitura e ampliar o universo cultural dos pequenos leitores. “Essas habilidades serão essenciais para a formação de senso crítico e a capacidade de ler o mundo”, ressalta Marina Carvalho.

15

Terceiro Setor

Cidadania

Ler o mundo


Gestão

Capacitação de

produtores rurais A proposta é construir um contexto em que os participantes desenvolvam noções básicas para a gestão de uma propriedade rural e tomem consciência da importância dessa ferramenta para o crescimento dos negócios.

Piloto “O Sebrae Nacional escolheu Alagoas para ser piloto desse trabalho porque nosso estado é referência em capacitações. Além disso, temos o mais alto índice de analfabetismo da região Nordeste”, explica Michele Bulhões, analista de Capacitação Empresarial do Sebrae no estado. O último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE), em 2010, comprovou que a região Nordeste tem a maior quantidade de analfabetos do Brasil. Dados da pesquisa revelam que de cada dois nordestinos com 60 anos ou mais, um não saber ler nem escrever. Segundo Michele Bulhões, a expectativa é que os envolvidos na elaboração dessa oficina possam contribuir de forma satisfatória para esse público, já que a capacitação é um diferencial no crescimento pessoal e na rentabilidade dos negócios. Após a implantação da oficina, o próximo passo é avaliar o conteúdo e a metodologia utilizados na turma-piloto para que os resultados positivos sejam multiplicados em outros estados.

Capacitar produtores rurais para gerirem bem seus

negócios, de acordo com suas habilidades e competências. Esse é o objetivo do projeto No Campo, desenvolvido pelo Sebrae Nacional e que será lançado no segundo semestre deste ano. A unidade-piloto será instalada no Sebrae de Alagoas, que vai planejar uma oficina sobre gestão básica voltada aos trabalhadores rurais. Essa é a primeira oficina pensada exclusivamente para produtores não alfabetizados. O diferencial da capacitação é que ela é um jogo, ou seja, uma forma lúdica que leva o público a vivenciar e conhecer conteúdos de gestão empresarial de uma forma clara e ilustrativa, sem uso dos recursos de leitura ou escrita.

16

O diferencial da capacitação é que usa uma forma lúdica que leva o público a vivenciar e conhecer conteúdos de uma forma clara e ilustrativa


Gestão

Reciclagem em equipe

Municípios que fazem parte da região do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) ajudaram a economizar 2,5 milhões de Quilowatts (kW) de energia e deixaram de cortar 28.129 árvores. Como conseguiram isso? Reciclando. A ideia de que é possível transformar lixo em renda e ainda ajudar a preservar o meio ambiente foi o que motivou a ONG Guardiões do Mar e catadores de 15 cooperativas de reciclagem a se unirem para recolher e comercializar em conjunto os materiais recicláveis de municípios como Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Magé. Por meio dos projetos Rede Leste e CataSonhos, a ONG recolheu mais de cinco mil toneladas de resíduos sólidos. Materiais como vidro, papelão, papel, plástico, metal e Tetra Pak foram coletados em empresas e pousadas da Região dos Lagos e levados para cooperativas, onde passaram pelo processo de separação, prensa e comercialização. A união dos materiais foi o que possibilitou maior geração de renda com a venda dos recicláveis em escala. O projeto reúne 460 catadores e a expectativa é aumentar ainda mais a renda dessas famílias. Para isso, a estratégia é expandir o número de empresas parceiras, além de inserir o poder público na rede de coleta e incentivar a população a reciclar o lixo.

Estímulo Helena Rosa, presidente da Cooperativa de Catadores de Material Reciclado de Itaboraí, destaca que a entrada da cooperativa no projeto mudou a vida dos catadores. “Com o projeto, passamos a recolher materiais de empresas, incluindo o Comperj, e hoje temos uma infraestrutura que não seria possível sem o apoio dos patrocinadores. O aumento da renda mensal foi surpreendente e estimulou muito os trabalhadores”. A iniciativa da ONG começou em 2011, com o projeto CataSonhos. Patrocinado pela Petrobras, a proposta era fortalecer a coleta e a comercialização do material reciclável e de óleo vegetal usado. Mais de 170 catadores de seis cooperativas passaram por capacitação e receberam o auxílio de caminhões de coleta, profissionais técnicos, uniformes, equipamentos de proteção individual e maquinários. Para complementar o trabalho, o projeto Rede Leste foi colocado em prática em 2012 com o desafio de unir cooperativas de diversos municípios e mostrar a importância do trabalho em conjunto.

ONG Guardiões do Mar reciclou mais de cinco mil toneladas de resíduos sólidos 17


Gestão

Dinheiro velho

faz boas parcerias Anualmente, o Banco Central recolhe e destrói mais de mil toneladas de cédulas rasgadas, rabiscadas, grampeadas, amassadas ou sem as fitas de segurança. Até pouco tempo, os resíduos dessas notas trituradas eram depositados em lixões espalhados pelo país. Eram! O Banco Central vem firmando parcerias para reduzir o impacto ambiental desse descarte e transformar esse lixo de cédulas em matéria-prima para atividades produtivas. No Pará, um projeto desenvolvido em parceria com a Universidade Federal Rural do Amazonas (UFRA) e o governo do estado está transformando as notas velhas em adubo. A receita é simples: as notas trituradas são misturadas a materiais orgânicos, como restos de frutas e legumes, além de nitrogênio e hidrogênio, que 45 dias depois se transformam em adubo. Do total da mistura, 10% são notas velhas. O resultado é um adubo orgânico de boa qualidade, inferior ao da galinha, mas superior ao esterco bovino. Os legumes e hortaliças utilizados na produção do adubo são recolhidos nas Centrais de Abastecimento do estado do Pará.

Papel reciclado Em São Paulo, o Instituto Reciclar está utilizando as cédulas picadas na fabricação de uma série de papéis reciclados produzidos por jovens que participam da oficina de papel, uma das etapas do processo educacional e profissionalizante desenvolvido pelo Reciclar. Nela, os jovens aprendem todo o processo de produção artesanal do papel e noções administrativas e corporativas, numa vivência de trabalho em equipe que funciona

18

como seu primeiro emprego, já que todos recebem salário e têm carteira assinada. No Distrito Federal, o Instituto de Artes da Universidade de Brasília reaproveita o papel-moeda inutilizado pelo Banco Central para transformá-lo em objetos como agendas, blocos, envelopes, convites de festas e cortinas. Os objetos criados são comercializados nas lojinhas de editoras no campus da UnB, em eventos realizados pelo Instituto de Artes (IdA) e na loja da Editora da UnB no aeroporto. Uma parte dos papéis reciclados é transformada em convites de festas, vendidos nas gráficas e em algumas papelarias. O dinheiro é reinvestido em recursos para um projeto de extensão chamado Reciclando Papel e Vidas.

O Banco Central vem firmando parcerias para reduzir o impacto ambiental e transformar o lixo de cédulas em matéria-prima para atividades produtivas


Cidadania

Projeto educacional para

autistas

C om apenas dois anos de atividade, o Instituto

Zoom já está fazendo história com seu projeto “No Toque da Educação”. Destinado a crianças, adolescentes e adultos autistas, o projeto foi premiado pelo Instituto Claro por seu desenvolvimento, empenho e dedicação. A premiação, que veio em forma de tablets, potencializou a atuação do instituto com a utilização desta nova ferramenta. O projeto cresceu a ponto de ter que se mudar para uma nova sede, com mais espaço para a realização das atividades. Hoje, as coordenadoras do projeto apontam uma evolução permanente no comportamento e atenção dos autistas que, aos poucos, aumentam o nível de interatividade a partir de ações mediadas pelos tablets. “Nosso propósito é que a criança estabeleça uma interação social sem que sejamos impositivos. Isso deve partir dela”, conta Ângela Camargo, coordenadora do projeto. Ela explica que a tecnologia touch é o grande atrativo dos aparelhos, além dos jogos coloridos e com muito movimento, que conseguem prender a atenção dos autistas por até 40 minutos – um tempo relevante se comparado a outras atividades direcionadas a este grupo. Além dos jogos, também são estimuladas a leitura e a pesquisa sobre temas de interesse deles.

Evolução

ção ou atividade que envolvesse outra pessoa. “Hoje, algumas delas conseguem ficar até meia hora em um exercício compartilhado”, comemora a coordenadora. O contato visual, valor sempre perseguido pelas coordenadoras, foi aprimorado com as atividades usando as novas ferramentas. O feito mais marcante até o momento foi o avanço de um menino de seis anos que não fazia nenhum tipo de interação e não se desligava da mãe. “Ele tinha uma dificuldade muito grande de aceitar mudanças, ninguém conseguia fazer com que ele parasse de chorar e o único dia diferente foi quando oferecemos o tablet”, relata Ângela. Hoje, a criança faz atividades regularmente e aceita brincadeiras propostas pelos educadores. Sediado em Porto Alegre, o Instituto Zoom também oferece cursos de capacitação de diretores, professores e agentes educacionais com o objetivo de construir a sociedade pelo mérito social.

O projeto aponta uma evolução permanente no comportamento e atenção dos autistas

Antes da chegada dos tablets, muitas das crianças do instituto negavam qualquer intera-

19


Cidadania

Oportunidades para

ocupa um tempo que seria ocioso, possibilita uma qualificação profissional e ajuda no sustento da família. É uma forma desses cidadãos resgatarem a dignidade e o convívio social”, afirma o presidente da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), Ubiraci Rodrigues. A possibilidade de proporcionar trabalho para os detentos é possível graças a uma parceria da construtora responsável pela obra com a Secretaria de Estado

Rafael Silva/COHAB

A construção de um grande empreendimento do programa habitacional de Curitiba está dando oportunidade de trabalho para presos que cumprem pena em regime semiaberto. São 25 detentos, que, ao invés de passarem o dia na Colônia Penal Agrícola de Piraquara, exercem diferentes funções no canteiro onde estão sendo erguidos dois edifícios. “Este projeto auxilia no processo de ressocialização dos presos. Além de reduzir a pena,

detentos

A construção de um grande empreendimento do programa habitacional do município está dando oportunidade de trabalho para presos que cumprem pena em regime semiaberto.

20

da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju). Na colônia penal, os detentos passam por uma triagem psicológica e os considerados com menor grau de risco ganham liberação para trabalhar nas obras. A cada três dias trabalhados, o preso reduz um dia da pena. Além disso, recebe 75% de um salário mínimo. Aos participantes não é exigida experiência na função. “Alguns já vêm com experiências anteriores de trabalhos na construção civil, mas a maioria não. Então eles participam de treinamentos no próprio canteiro, para em seguida começarem a trabalhar. O rendimento deles é ótimo, pois valorizam bastante a oportunidade”, explica Marilis Kuligoski, coordenadora de recursos humanos da construtora responsável pela obra. A empresa garante o transporte e a alimentação dos apenados. No canteiro de obras eles se misturam aos outros operários sem nenhum tipo de distinção. Para evitar tentativas de fuga, são feitas no mínimo três chamadas diárias. “Nesta obra são 250 operários, dos quais 10% são os apenados. Todos são tratados da mesma forma, fator que eleva a autoestima dos detentos”, conta Marilis. Entre os 25 apenados que trabalham na obra também há mulheres. Pamela, 28 anos, foi presa por tráfico de drogas. Há dois meses trabalhando com limpeza na obra, ela garante que a ocupação está melhorando seus pensamentos. “Aqui a gente aprende a dar valor ao trabalho. Não quero mais saber de crime”.


Cidadania Intercâmbio

Novas comunidades

quilombolas Mais 54 comunidades

quilombolas poderão ter mais acesso às políticas públicas sociais e de habitação do Governo Federal graças à certificação emitida pela Fundação Cultural Palmares. As novas comunidades que receberam o documento estão concentradas nos estados do Pará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Maranhão, Bahia e Amapá. Concedida desde 2004, a certificação de comunidade quilombola (FCP) é o reconhecimento oficial das origens das comunidades e requisito para garantir a ampliação dos seus direitos. Até hoje, a FCP já emitiu 1.845 certidões, o Brasil já conta com 2.185 comunidades reconhecidas. Para Hilton Cobra, presidente da Fundação Palmares, a certificação é um grande passo para a cidadania. “O foco não está apenas em garantir autonomia social, ocupação e geração de renda, mas também em proteger o patrimônio material e imaterial e o apoio às manifestações culturais dessa gente negra brasileira”.

Políticas públicas De acordo com Alexandro Reis, diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Bra-

sileiro da FCP, após a certificação, “a comunidade passa a ter mais visibilidade em relação ao acesso às políticas públicas”. Com a certificação, as famílias quilombolas podem receber a titulação do território, participar do Minha Casa, Minha Vida e do Programa Brasil Quilombola e são habilitadas para o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). E foi essa a motivação para que a Associação da Comunidade Quilombolas de Tocoiós, no município de Francisco Badaró, em Minas Gerais, iniciasse o processo de certificação na FCP. A moradora do quilombo e diretora da Escola Municipal de Tocoiós, Maria Raimunda Alves Pinheiro, explica que após a constatação de que o local é área remanescente de quilombo, a escola passou a receber um benefício estadual na merenda escolar. “Foi o começo da corrida para a certificação, não só de Tocoiós, mas também de Mocó”, afirma. As duas áreas rurais são vizinhas. Em Mocó, com menos de 100 habitantes, todos são negros, em Tocoiós, com mais de mil habitantes, há miscigenação entre brancos, negros e indígenas. Ambas as comunidades estão na lista de certificadas.

21


Empreendedorismo

A arte de

grafitar

22


transformar o grafite em expressão artística. Ao legalizar sua prática como uma técnica de valorização do patrimônio público e privado, desde que autorizada pelo órgão competente ou pelo proprietário, ela transformou a vida dos artistas do grafite. Sancionada em maio de 2011 pela presidenta Dilma Rousseff, a lei, idealizada pelo deputado Geraldo Magela (PT-DF), separou a grafitagem da simples pichação (atividade tipificada como crime). “O grafite é elemento-chave para o movimento hiphop, que conscientiza muitos jovens por meio de suas ações. Já a pichação é uma agressão ao patrimônio, uma agressão ambiental”, ressalta o deputado e autor da lei. As novas regras modificaram a Lei de Crimes Ambientais e as práticas de pichação e grafitagem deixaram de ser consideradas como crimes equivalentes. O grafite passou a ser reconhecido como arte e a pichação como crime, com pena de detenção de três meses a um ano, além de multa. A lei também proibiu a comercialização de tintas em embalagens aerossol a menores de 18 anos e obrigou a identificação do comprador na nota fiscal de venda.

no “Prêmio Empreendedor Social Ashoka/McKinsey”. Ligada ao Projeto Quixote, fundado em 1996 por clínicos da Unifesp para lidar com meninos e meninas em situação de risco social (moram na rua ou enfrentam problemas familiares), a agência utiliza as técnicas do spray e dos pincéis para cativar os adolescentes. Eles aprendem técnicas de desenho e pintura nas oficinas e são encaminhados para trabalhar como auxiliares e aprendizes nos serviços da agência, sob a orientação de grafiteiros profissionais. Tanto os grafiteiros quanto os jovens são remunerados pelo trabalho prestado. A agência realiza serviços de grafite em fachadas, paredes internas, telas, camisetas e móveis, além de performances ao vivo para pessoas e empresas. Ela também promove cursos e workshops, e serve para inserir no mercado de trabalho os jovens que buscam no grafite seu futuro profissional.

Perspectivas A ideia é dar novas perspectivas para os garotos que dificilmente conseguiriam uma vaga

no mercado de trabalho sem essa chance. Na agência, o spray e as tintas são utilizados para discussão sobre os problemas sociais e cidadania, os garotos recebem aulas de informática e participam das outras atividades do Quixote. Todos ganham bolsa-auxílio, desde que voltem a frequentar os bancos escolares. Seu objetivo não é criar grafiteiros profissionais, mas possibilitar vivências que são cobradas no mercado de trabalho, como o compromisso com horários, a volta aos estudos e a elaboração de projetos e planos de vida. Os jovens professores grafiteiros desempenham papel de educadores e se tornam referências para os garotos, já que também são da periferia e enfrentaram dificuldades semelhantes às dos meninos que participam do Quixote. Hoje, a Agência Quixote Spray Arte é uma das principais referências em serviços de grafite na cidade de São Paulo. Seus grafiteiros já prestaram serviços para grandes clientes, como TNG, UOL, Banco Real, Casa Cor, Cyrella, Hotel Hyatt, Casas Bahia, Restaurante Fasano e o Metrô de São Paulo.

Negócio social Em São Paulo, a Agência Quixote Spray Arte transformou a atividade em um negócio social que gera renda e cidadania através da venda de produtos e prestação de serviços relacionados ao grafite. Seu objetivo é unir expressão artística e proposta pedagógica, além de trabalhar para divulgar essa arte urbana, cada vez mais conceituada junto ao público em geral. A iniciativa já foi premiada por seu plano de negócios e como ideia inovadora

23

Empreendedorismo

A Lei 12.408 não se limitou a


Esporte

Mergulhoadaptado Em Brasília, os portadores de deficiência estão tendo a oportunidade de superar barreiras de uma forma surpreendente: praticando o mergulho adaptado. O projeto Integração é resultado de parceria firmada entre os projetos Caminhar e Raia Manta. As aulas acontecem no Lago Paranoá, em piscinas de clubes ou nas academias da cidade. Os alunos recebem aulas teóricas e práticas sobre o uso correto dos equipamentos e os sinais básicos utilizados na prática do esporte. O curso é ministrado pela equipe da Raia Manta, sob o comando do mergulhador e instrutor profissional Luciano Terra, e comprova que os portadores de necessidades podem abrir novos horizontes, voar mais alto e mergulhar mais fundo. Segundo Karen Sakayo, idealizadora e coordenadora do Caminhar, o mergulho adaptado é apenas a primeira etapa do projeto Integração, criado para estimular atividades terapêuticas e esportivas para o desenvolvimento integral de pessoas com deficiência. “Estamos abertos para parcerias em outras atividades, como o paraquedismo, por exemplo”, explica a cadeirante Karen Sakayo. O mergulho é parte de um amplo projeto destinado a mostrar ao portador de deficiência que ele não deve se prender às limitações. “O segredo é observar e trabalhar os pontos fortes de cada um”, ressalta Luciano Terra.

24

Esporte adaptado A prática do esporte adaptado não é uma novidade em Brasília. Em 1990, o professor Ulisses de Araújo criou a Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (CETEFE) para promover a inserção social da pessoa com deficiência. Posteriormente reconhecida como instituição de Utilidade Pública e Assistência Social Federal/Distrital, a associação atende gratuitamente a pessoas com deficiência física, auditiva, intelectual e visual, em programas esportivos, culturais e de capacitação profissional, sendo a entidade do país com maior número de modalidades paraolímpicas, culturais e profissionais para todos os grupos de deficiência. Contando com essa estrutura, o Caminhar não só incentiva a prática do esporte como faz um planejamento com seus alunos para que possam conhecer e praticar as diferentes modalidades do esporte adaptado.

Novos horizontes para os portadores de necessidades especiais


Voluntariado

ONGs

na periferia A chamada periferia das grandes cidades vive uma realidade diferente das décadas anteriores. Além dos poderes público e religioso, normalmente envolvidos em ações de cunho social, as comunidades passaram a contar com a atuação das populares organizações não governamentais (ONGs). De acordo com o primeiro diagnóstico do Terceiro Setor mineiro, Belo Horizonte tem cerca de duas mil entidades desse tipo. Realizada pelo Centro de Apoio ao Terceiro Setor do Ministério Público de Minas Gerais (CAOTS), a pesquisa constatou que 33% dessas organizações são voltadas para a assistência social e 18% para as áreas de educação e pesquisa. As demais estão distribuídas entre cultura, religião, saúde, esporte e lazer, defesa de direitos e atuação política, organização de benefícios mútuos, meio ambiente e animais, entre outras áreas de atuação. O trabalho realizado por esse batalhão de voluntários potencializa a qualidade de vida da população e promove a cidadania, minimizando ou extinguindo dificuldades de muitas dessas pessoas. Um caso muito frequente é o das mães que precisam trabalhar e deixar os filhos em um lugar seguro. Outro exemplo é a facilitação do acesso ao lazer, à

capacitação e formação profissionalizante e à arte.

Exemplos Nas comunidades do Taquaril e da Vila Fazendinha, por exemplo, é desenvolvido um trabalho social pelo Projeto Providência, criado em 1988. O projeto, que hoje oferece desde o maternal até o ensino profissionalizante, surgiu por iniciativa de Padre Mário, quando era vigário da Paróquia de Nossa Senhora das Vitórias, no Bairro Jardim Vitória, onde idealizou o trabalho com jovens e crianças. Outro exemplo é o Projeto Querubins, que nasceu a partir de uma iniciativa de Magda Coutinho, consultora em hotelaria. O desejo de realizar atividades que estimulassem a socialização de crianças e adolescentes da comunidade foi o ponto de partida. A primeira atividade do projeto foi um mutirão ecológico, com a participação das crianças, para revitalizar a Praça JK. O mutirão despertou a atenção da prefeitura, que buscou parcerias com empresas para tornar a praça uma referência de lazer para os moradores do local. Em 1999, foi criada a Associação Querubins, entidade responsável pelo projeto.

25


Sustentabilidade

O

Iniciativa é uma experiência inédita no trabalho da questão indígena

26

Fundo Kayapó está lançando seu primeiro edital para seleção de projetos de preservação de terras e de melhoria de qualidade de vida formulados e administrados pelos próprios índios. Os caiapós serão responsáveis pela elaboração dos projetos que serão submetidos à Comissão Técnica composta por membros da academia, de ONGs e da Funai. Serão R$ 660 mil para iniciativas de monitoramento de terras, treinamento, desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis e gestão ambiental que beneficiará uma área superior a 10 milhões de hectares que abriga 3% do bioma Amazônia e cerca de 7 mil indígenas nos estados do Pará e Mato Grosso.

Fundo

Kay

Administrado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), o Fundo Kayapó conta atualmente com cerca de R$ 15 milhões do Fundo Amazônia e da Conservação Internacional (CI-Brasil), ONG


Sustentabilidade

apó que trabalha com os caiapós há mais de 20 anos. Os rendimentos financeiros do capital principal do fundo serão aplicados em ações que visam à conservação da floresta amazônica nas terras

indígenas. Dessa forma, compõem uma fonte regular de financiamento não reembolsável, garantindo a continuidade do trabalho de base das organizações indígenas locais em prol da proteção do território indígena. “É o primeiro fundo assemelhado aos de private equity direcionado a uma comunidade indígena, com plano de investimentos apropriado para a proteção do território e da cultura”, ressalta o superintendente da Área de Meio Ambiente do BNDES, Sergio Weguelin.

Pioneiro Experiência inédita no mundo no trato da questão in-

dígena, o Fundo Kayapó pode dar origem a um novo modelo operacional e financeiro de apoio a projetos socioambientais no país. O modelo provê às organizações caiapós estabilidade na disponibilidade de recursos, permitindo a realização de planejamento de médio e longo prazo das ações de monitoramento territorial, conservação ambiental e geração de renda a partir do retorno dos projetos. O Fundo Kayapó conta com recursos garantidos de pelo menos R$ 23,3 milhões disponibilizados pelo Fundo da Amazônia e pela CI-Brasil, mas esse valor pode aumentar, já que o Fundo é aberto a novas doações.

27


Coluna

Socialmente falando... Educação empreendedora Mais de 7 mil jovens brasileiros de 15 estados já foram beneficiados pelo Changing Lives, iniciativa organizada pela Junior Achievement Europa e patrocinada mundialmente pela Microsoft. O Changing Lives busca conscientizar sobre a importância da educação empreendedora nos jovens de todo o mundo, incentivando ex-achievers, por sua vez, a inspirar e a motivar jovens de suas comunidades. Os núcleos de ex-achievers foram convidados a inscrever projetos com foco na disseminação da educação empreendedora nas escolas do país. Ao todo, já realizaram 112 ações empreendedoras e 19 cafés.

Parceria Social AME e Pró-Vítima Unidas pela relevante causa da proteção a mulheres vítimas de violência no Brasil, a Associação de Mulheres Empreendedoras (AME) e o projeto Pró-Vítima, iniciativa da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal, firmaram parceria para a capacitação profissional e o empoderamento das mulheres de baixa renda no Distrito Federal. “A parceria entre dois projetos com atuação social tão forte na região do Distrito Federal e que lu-

tam pelas mesmas causas resultará em novas iniciativas para a população local, como a realização de cursos profissionalizantes”, ressalta Karina Boner, vice-presidente da AME. As duas instituições já oferecem apoio jurídico e psicológico a vítimas de crimes violentos. Agora, essa nova parceria vai gerar oportunidades para essas mulheres conquistarem o próprio sustento, participarem na renda familiar e retomarem as próprias vidas com total dignidade.

Cinema de qualidade O Cine Tela Brasil leva cinema brasileiro de qualidade até localidades carentes situadas às margens do Sistema AnhangueraBandeirantes, que não têm acesso às salas de cinemas convencionais. O projeto consiste em uma grande tenda de 13m x 15m, onde são instaladas 225 cadeiras, equipamento profissional de projeção 35 mm (cinemascope), som estéreo surround e ar condicionado de última geração. Toda a estrutura é itinerante e transportada por um caminhão que também se transforma em cabine de projeção durante as sessões. Em 2012, o Cine Tela Brasil atingiu a marca de 1 milhão de espectadores.

Tradição em Brasília, o restaurante Nosso Mar completou 28 anos. Hoje, além do público fidelíssimo, o restaurante está no auge do sucesso. A excelência na culinária faz do Nosso Mar um lugar agradável para degustação das sensações marítimas em sua essência. A casa mantém um clima praiano em plena Asa Norte. Os clientes saboreiam caranguejos cozidos em água, sal, cebolas, tomates e pimentões. Cada pessoa recebe uma tábua e um martelinho para auxiliar na quebra das patinhas, ao som do “Toc Toc". 28

CLN 115 Bloco B Lojas 3,77 - Brasília/DF - (61) 33496556 - www.nossomarrestaurante.com.br - nossomarestaurante@gmail.com


no semiárido

Desde 2005, treze instituições parceiras da Fundação Avina trabalham na viabilização de uma proposta audaciosa: construir uma cidade sustentável em uma das regiões mais pobres do país, o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Calcado no trabalho realizado pelo Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), o projeto Arassussa – Araçuaí Sustentável aposta nas potencialidades do lugar, nas alianças interinstitucionais e em uma plataforma de convergência de tecnologias sociais para promover a transformação do município. Araçuaí tem cerca de 40 mil habitantes e mais da metade da população conta com renda familiar de meio a um salário mínimo. Além disso, apenas 25% das casas possuem sistema de esgoto, sendo que a maioria ainda utiliza fossa rudimentar. Outra característica da localidade é a estruturação produtiva e familiar, já que 30% dos lares são constituídos apenas por mãe e filhos.

Crianças recolheram o lixo espalhado nas margens do rio Gravatá.

Prioridades

Produção de sabão caseiro, reaproveitando sobras de óleo de cozinha. Fotos: Projeto Arassussa

Em razão dessas peculiaridades, o projeto Arassussa priorizou suas ações em quatro objetivos principais: o empoderamento comunitário, o compromisso ambiental, a satisfação econômica e os valores éticos, humanos e culturais. Para atingir esses objetivos, foram definidos sete focos: água, energia, alimento, habitação, trabalho, educação e cultura. Ao todo, já são 86 tecnologias sociais disponibilizadas para o Arassussa em todas essas áreas. O projeto atende a quatro comunidades de Araçuaí, desde áreas rurais isoladas até regiões de concentração urbana consolidada. Entre as atividades realizadas estão a implementação do viveiro de mudas de bambu, o plantio de mandalas, o reflorestamento de matas ciliares e a construção de caixas d’água para irrigação e captação de água de chuva, além da realização de oficinas para os habitantes de Araçuaí interessados nas tecnologias. Para este ano, uma das metas do projeto é instalar mais 105 kits de sustentabilidade, totalizando 500 moradias desde o início do projeto. A um custo médio de R$ 4,5 mil, cada kit garante, pelo menos, a implantação de um sistema de captação de água de chuva, um banheiro de compostagem e uma horta ecológica.

Doação de alimentos amplia a prática da alimentação saudável.

29

Direitos Humanos

Cidade sustentável


Intercâmbio

A experiência de

São Francisco

As cidades de Itanhaém, Guarujá, Ubatuba e São Paulo receberam oficinas sobre alternativas no tratamento de resíduos sólidos ministradas pelo coordenador do Programa Resíduo Zero, da prefeitura de São Francisco (EUA), Kevin Drew. O modelo norte-americano de tratamento desses resíduos é considerado uma das experiências exemplares no mundo. Gestores públicos e membros da sociedade civil conheceram o trabalho desenvolvido na cidade norte-americana e que atinge um índice de 80% na recuperação de resíduos. O resultado é possível com o uso da biodigestão para tratamento dos resíduos orgânicos combinado com a reciclagem dos materiais secos (papel, metal, vidro e plástico). Assim, apenas 20% do total dos resíduos urbanos gerados são destinados para aterros sanitários, gerando uma substancial redução de gastos do orçamento público, implementação de circuitos curtos de coleta, tratamento e destinação final de resíduos sólidos domiciliares. No Brasil, esse tipo de resíduo representa quase 60% do lixo domiciliar produzido diariamente. A

30

ideia é que os municípios aprofundem o conhecimento sobre o uso da biodigestão, uma tecnologia ambiental bem mais barata do que aterros sanitários e incineradores. Isso significa que a alternativa poderá resolver parte significativa do problema com resíduos sólidos não só do litoral paulista e da cidade de São Paulo, mas de todos os municípios do país. O projeto Litoral Sustentável abrange os treze municípios da Baixada Santista e do litoral norte. Sua principal missão é fomentar o desenvolvimento regional sustentável com ações de planejamento integrado das políticas públicas por meio de programas municipais. Para tanto, foi realizado um minucioso diagnóstico na região, que incluiu o mapeamento de demandas sociais, da infraestrutura urbana e da legislação sobre a ocupação do território. Tudo isso para aprofundar a discussão sobre as fragilidades e potencialidades de cada uma das 13 cidades (Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, Cubatão, Santos, Guarujá, Bertioga, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba).


Inovação Mobilização

Gás

natural

A Companhia de Gás de São Paulo (Comgás) deu início ao processo de captação de projetos para o seu Programa Anual de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico e de Conservação e Racionalização do Uso do Gás em São Paulo, ciclo 2013/14. Anualmente, a empresa seleciona projetos que incentivem o uso do gás natural com segurança, promovam economia aos consumidores e respeitem o meio ambiente, para serem executados em parceria com organizações ou entidades focadas em pesquisa e desenvolvimento, incluindo universidades, centros de pesquisa e empresas da área de tecnologia aplicada ao setor do gás natural. Criado em 2004, o programa tem investimento anual de 0,25% da margem de lucro da empresa. Nos primeiros anos do programa (entre 2004 de 2005) foi aplicado um montante de R$ 1,8 milhão, os projetos do

ciclo 2009/2010 receberam investimentos de R$ 3,8 milhões. Segundo a companhia, cerca de R$ 17,4 milhões já foram aplicados ou estão reservados para um total de 59 projetos de inovação tecnológica. Para o ciclo 2013/2014 estão reservados aproximadamente R$ 4,5 milhões para cerca de 10 projetos de pesquisa. Os projetos inscritos que não forem selecionados permanecem em um banco de dados e podem ser escolhidos em um ciclo seguinte.

O combustível ainda é desconhecido por boa parte da sociedade brasileira

Eficiência O gás natural é um combustível limpo e moderno, que pode ser usado com eficiência e economia, agregando valor aos processos produtivos. Tudo isso faz com que seja um importante aliado no desenvolvimento sustentável do país, com segurança e respeito ao meio ambiente. Apesar dos avanços na participação do gás natural na matriz energética brasileira, o combustível ainda é desconhecido por boa parte da sociedade. Isso pode ser verificado na falta de profissionais capacitados para trabalhar na área e na reduzida participação do gás nos debates envolvendo políticas energéticas. Esses projetos não só garantem o uso racional do gás natural e o aumento da sua participação na matriz energética brasileira, como também favorecem o desenvolvimento científico e tecnológico do país.

31


Transparência

Mapa do trabalho infantil O Brasil já pode contar com um

minucioso diagnóstico sobre o trabalho infantil. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponibilizou em seu portal um mapa de indicadores sobre a situação das crianças e adolescentes de 10 a 17 anos de idade, com características demográficas focadas em trabalho e educação. O trabalho teve como base os resultados da amostra do Censo Demográfico de 2010. A publicação mostra a distribuição no território nacional de meninos e meninas ocupados e também daqueles não alfabetizados e fora da população estudantil. De acordo com o IBGE, o mapa é uma ferramenta para subsidiar a elaboração dos Planos Plurianuais (PPA) em âmbito municipal, especialmente no que se refere à formulação de políticas públicas e definição

32

de metas que fortaleçam o combate ao trabalho de crianças e adolescentes. O conjunto de dados também servirá como referência para a 3ª Conferência Mundial de Erradicação do Trabalho Infantil, prevista para outubro, em Brasília, e responde a uma demanda do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), do Ministério Público do Trabalho (MPT), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Situação brasileira O último estudo realizado pelo Censo sobre trabalho infantil, em 2010, aponta que 3,4 milhões de crianças e adolescentes de 10 a 17 anos estavam trabalhando de forma irregular no Brasil.

Segundo a Constituição Federal, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), até os 13 anos de idade, o trabalho é totalmente proibido no país. Dos 14 aos 16 anos, a legislação brasileira permite que adolescentes possam trabalhar desde que sejam inseridos em programas de aprendizagem. Dos 16 aos 17 anos, o trabalho é permitido desde que não seja em atividade insalubre, perigosa, penosa ou em horário noturno, a partir das 22 horas. Fora dessas condições, o trabalho infantil é considerado crime, sendo que algumas formas mais nocivas desse trabalho recebem um tratamento mais rigoroso da lei, como é o caso do trabalho infantil escravo por meio de trabalhos forçados, jornada exaustiva ou condições degradantes de trabalho.


Mobilização

Convivência com o

semiárido

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e o Sebrae trabalharão juntos na elaboração de um projeto de convivência com o semiárido que sirva de referência para todos os estados do Nordeste. A ideia é estimular o fortalecimento dos pequenos negócios rurais e disseminar tecnologias e boas práticas de gestão nas regiões afetadas pela estiagem que assola o sertão nordestino. A proposta preliminar foi apresentada durante o XI Encontro Nordestino do Setor de Leite e Derivados (Enel) e discutida por técnicos do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Bahia. O projeto deve somar esforços ao programa Sertão Empreendedor, desenvolvido pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), e contemplar os segmentos de apicultura, bovinocultura leiteira, mandiocultura e ovinocaprinocultura. Segundo o gerente da Unidade de Agronegócios do Sebrae Nacional, Enio Queijada, o intuito é apresentar um posicionamento regional, comum a todos os estados, visando à construção de projetos estaduais que possam direcionar as iniciativas. “Queremos unir as soluções já existentes para ampliar o público atendido e repassar novas tecnologias”, ressalta.

Ações unificadas A iniciativa deve unificar ações que já vêm sendo realizadas isoladamente nos estados, como é o caso de um projeto desenvolvido no Rio Grande do Norte que oferece diagnóstico da situação de cada produtor atendido, plano de desenvolvimento individual da propriedade, noções de gestão, tecnologias sociais para convivência com a seca e apoio ao crédito. “Com essa estruturação, esperamos que o Nordeste passe a encontrar soluções tecnológicas para convivência com o semiárido, aproveitando as potencialidades características de cada estado”, completa o diretor-técnico do Sebrae no Rio Grande do Norte, João Hélio Cavalcanti Júnior. O projeto potiguar é um dos mais estruturados da região e, por isso, está servindo de base para o futuro projeto regional. A expectativa é que a proposta final esteja formatada até a primeira quinzena de julho para ser oficialmente apresentada aos parceiros.

33


Artigo

Edifícios

verdes

Imaginar que, há apenas alguns anos, pensar em edifícios verdes como algo além de prédios pintados nesta cor era algo estranho e considerado como ideia privativa de ecologistas fanáticos e hippies saudosistas dos anos de 1960, deixa a todos nós muito animados com o futuro promissor que aguarda nossas grandes metrópoles do futuro. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e com a modernização de tantas outras, construir edifícios verdes nos dias de hoje é uma condição fundamental para a nossa própria sobrevivência como espécie. Muito mais do que uma moda passageira, a construção de edifícios verdes deve ser encarada como uma opção pela inteligência e pelo correto planejamento de uma nova e completamente diferente história de vida para todos nós. Os edifícios verdes podem representar a solução para os problemas de poluição e de más condições de vida que as grandes cidades experimentam nos dias atuais. Problemas de falta de água e de dificuldades na obtenção desse precioso líquido tornarão a água um elemento de alto custo e de grande dificuldade de obtenção. Dentro desse cenário de aspecto sombrio para o futuro de nossas cidades, os edifícios verdes poderão significar a luz no fim do túnel para essa questão de abastecimento. Com uma filosofia totalmente diferente das construções comuns, os edifícios verdes representam uma “nova ordem” que procura valorizar as características socioambientais desses empreendimentos. Mesmo que essa filosofia ainda não esteja totalmente na mente e nos espíritos dos empresários do setor da construção civil brasileira, os frequentes lançamentos e o sucesso de vendas alcançado por esses empreendimentos logo serão os responsáveis 34

por difundir (mesmo que obrigatoriamente) esse conceito por todas as outras construtoras. Muito em breve, a simples “moda ecológica” e a “onda verde” serão substituídas pela decisão planejada, objetiva e consciente de que é a opção mais inteligente que pode ser tomada por qualquer empresa que não queira ficar para trás em matéria de mercado. Os empresários contrários acabarão sendo engolidos pelas empresas que forem mais ágeis e mais propensas a gerir e realizar as mudanças necessárias para que os edifícios verdes façam parte de seu portifólio de lançamentos. Como toda atividade econômica, também na construção civil, quem ficar parado e não se modernizar ficará para trás e desaparecerá. Reciclagem de resíduos dos canteiros de obra e do lixo produzido pelos edifícios após a construção, elementos arquitetônicos, de engenharia ou de maquinário que promovam uma melhor utilização dos recursos naturais pelos edifícios e sistemas que permitam a captação, reciclagem e reutilização da água proveniente da concessionária ou mesmo das chuvas – além do uso de materiais certificados e que não promovam emissões de gases tóxicos ou de efeito estufa –, tudo isso transformará um dos setores mais poluidores que temos em nossa economia num setor que constrói com inteligência e com profunda preocupação ambiental. Assim, com inteligência, modernidade e com um pensamento voltado para o bem-estar futuro de nossas cidades, os edifícios verdes representarão a solução prática para um dilema que assola os grandes centros urbanos mundiais faz tempo.

Autor: atitudessustentaveis.com.br




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.