Revista Contexto Social nº 5

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Quando os negócios funcionam melhor, o mundo funciona melhor.

Como construímos um mundo de negócios melhor? O mundo de seus negócios, seus clientes, sua carreira, sua família, sua comunidade? Inspirando confiança nos mercados de capitais. Trabalhando com governos e empresas para promover crescimento sustentável. Encorajando o desenvolvimento das pessoas que são – e serão – os visionários, os realizadores, os vencedores. Estes são os pilares do mundo que queremos ajudar a construir. Começando com o seu. ey.com/betterworkingworld #BetterWorkingWorld facebook | EYBrasil twitter | EY_Brasil

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Carta ao leitor Os fatos e as ações em curso no país mostram que nos últimos dez anos o Estado brasileiro vem adotando iniciativas importantes pela superação das desigualdades raciais. A matéria de capa da nossa 5ª edição mostra a importância da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir) que será realizada em Brasília, entre os dias 5 e 7 de novembro, cujo tema central é “Democracia e desenvolvimento sem racismo: por um Brasil afirmativo”. No Rio de Janeiro, a histórica Casa Maternal Mello Mattos já está utilizando uma nova ferramenta de gestão pedagógica voltada para a Educação Básica: é o “Mistério dos Sonhos”, primeiro jogo educativo produzido pela Xmile Learning e voltado para estudantes do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental. O Mistério dos Sonhos reúne 120 jogos narrativos/interativos que estimulam o aprendizado das crianças. No Rio Grande do Sul, o projeto Tribos nas Trilhas da Cidadania – uma iniciativa da ONG empresarial “Parceiros Voluntários” – já envolveu mais de 100 mil jovens em ações sociais voluntárias. Criada em 2003 e considerada uma das maiores mobilizações de jovens do Brasil, a ação promove o voluntariado organizado calcado nos conceitos de Tribos – pertencimento; Trilhas – movimento; e Cidadania – responsabilidade social individual para oportunizar o exercício da cidadania em escolas e comunidades do estado. Em Sorocaba, o “2º Encontro de Cidades Amigáveis” debateu o uso do espaço viário com foco nos elementos mais vulneráveis de uma via: pedestres e ciclistas. Mais do que promover a reflexão e a discussão sobre o uso do espaço viário, o encontro é um espaço para conscientizar a população de que a rua não é apenas um espaço de circulação, é também, e principalmente, um espaço de vida. Em todo o Brasil, a partir de agora, qualquer pessoa pode acompanhar a evolução dos julgamentos de ações de improbidade administrativa e crimes contra a administração pública em tempo real. Disponível no portal do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Processômetro da Meta 18 do Judiciário, que antes era atualizado semanalmente, agora apresenta de forma automática os dados inseridos pelos tribunais brasileiros. Seja bem-vindo à Contexto Social e tenha uma boa leitura.


POLÍTICAS Serviços para a população de rua

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GESTÃO Inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho Paraná investe na educação especial Audiências coibem a evasão escolar Agricultura responsável e produtiva

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CIDADANIA Atendimento especial para gestantes usuárias de drogas Caminho Melhor Jovem em comunidades pacificadas

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PARCERIAS Ensino de qualidade para crianças de baixa renda

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TRANSPARÊNCIA Ações sobre corrupção em tempo real

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CIDADE AMIGÁVEL Valorizando o espaço para pedestres e ciclistas

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ESPORTE Projetos esportivos mudam autoconceito das crianças

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SUSTENTABILIDADE Biocombustível a partir de resíduos de óleo

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INTERCÂMBIO Unlimited: arte sem limites

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INOVAÇÃO Cadeira de rodas controlada com o pensamento

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AÇÃO SOCIAL Brincando de aprender com o “Mistério dos Sonhos”

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MOBILIZAÇÃO Tribos se juntam nas Trilhas da Cidadania

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CULTURA Livros e cultura

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ARTIGO Lei de Cotas completa 22 anos

Rota da Liberdade, turismo com inclusão social

Abril/2013

Jorge Gerdau: Ÿ Sem educação o Brasil jamais

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EMPREENDEDORISMO Empreendedorismo nas instituições de ensino

Ela comanda a política nacional contra a pobreza

A força das mulheres nos programas sociais da Sudeco

Ano 1 - Número 2 - Maio/2013 - Distribuição gratuita

TERCEIRO SETOR Abrindo portas para o mercado de trabalho Energia renovável na pauta industrial Investimento social privado cresce no Brasil Benefícios da equoterapia

Edições anteriores Ano 1 - Número 1 - Abril/2013

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será verdadeiramente livre Ÿ A realidade mundial exige a integração empresarial-acadêmica

ONG fiscaliza ações do governo Cultura de paz nas escolas

Maio/2013

Ano 1 - Número 3 - Junho/2013 - Distribuição nacional gratuita

Sumário

CAPA Inclusão racial e o desenvolvimento do país

Gol de Letra do craque Raí Guardiões do Mar mobiliza cooperativas de reciclagem

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Autistas interagem com tecnologia touch

CNA e Sebrae unidos no semiárido

Junho/2013

Julho/2013

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Capa

Inclusão racial e o

desenvolvimento do país

“As cotas são fundamentais para que alcancemos o objetivo de ser um país que assegure oportunidades para todos. O Brasil só será efetivamente uma democracia racial quando enfrentarmos com coragem e decisão o racismo, chaga histórica que ainda marca profundamente a sociedade brasileira”. O texto da mensagem sobre cotas raciais enviada pela presidenta Dilma Rousseff ao Congresso Nacional, no início do ano, traduz com exatidão o pensamento da ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros. Para a ministra, a abordagem da presidenta coroa um longo processo de institucionalização da temática racial no Brasil. “O Poder Executivo reconhece, sem rodeios, o papel do racismo na estruturação de níveis excepcionalmente altos de desigualdades entre negros e brancos”, ressalta a titular da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR). Resta saber, acrescenta Luiza Bairros, o quanto o país está dispos-

to a enfrentá-lo, como condição indispensável e essencial para a consolidação do processo democrático Os fatos e as ações em curso no país mostram que nos últimos dez anos o Estado brasileiro vem adotando iniciativas importantes para a superação das desigualdades raciais. Segundo Luiza Bairros, aos poucos, a sociedade brasileira vem incorporando uma ideia mais nítida e profunda do que somos, das barreiras que dificultam a participação social e política, dos limites das noções de democracia e de desenvolvimento com as quais temos nos contentado até aqui.

III Conapir Daí a importância da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), que será realizada em Brasília, entre os dias 5 e 7 de novembro. O evento reunirá cerca de 1,4 mil parti-

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Capa

Conferência Nacional vai debater democracia e desenvolvimento sem racismo cipantes, sendo 200 convidados (autoridades, personalidades e representantes de entidades nacionais e internacionais) e 1,2 mil delegados de todos os estados do Brasil para debater a ‘Democracia e desenvolvimento sem racismo: por um Brasil afirmativo’. “A conferência será uma excelente oportunidade de renovarmos o nosso repertório de luta”, ressalta a ministra. Os debates que nortearão a III Conapir começaram em 21 de março, no aniversário de dez anos da SEPPIR, quando foi realizado o primeiro de uma série de seis seminários temáticos realizados em capitais das cinco regiões do país e as 27 Conferências Estaduais. Segundo Luiza Bairros, as condições para discutir profundamente o tema da Conferência são extremamente favoráveis: “A ideia de ação afirmativa nos dá uma capacidade maior de pensar, de sonhar que podemos e devemos ocupar outros espaços da sociedade com outra qualidade”. O otimismo da ministra está diretamente ligado aos ganhos conquistados pela população negra ao longo dos últimos anos. “Não há dúvida de que as ações afirmativas nos levaram a outro patamar e, mesmo naqueles casos em que não fomos diretamente beneficiados pela ação afirmativa, acho que elas têm sido importantes para nós, do ponto

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de vista de quebrar com algo que o racismo fazia muito, que era limitar a nossa expectativa”.

Histórico Na I Conferência, realizada, em 2005, teve como tema central ‘Estado e sociedade promovendo a igualdade racial’ e resultou numa série de propostas que hoje estão organizadas em torno do plano nacional de promoção da igualdade racial. A segunda Conferência, em 2009, abordou os avanços, desafios e perspectivas da política de igualdade racial, e foi marcada pela expansão dos órgãos estaduais e municipais de igualdade racial e pelo intenso debate em torno da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. Agora, a estratégia mudou. “Está na hora de pararmos de tirar propostas apenas para o governo federal. Temos que provocar os governos locais, tirar propostas para o legislativo, para o judiciário e para todas as instâncias que têm poder de decisão sobre as questões que afetam a população negra”, afirma a ministra. “Não somos mais os mesmos que éramos em 2009”, ressalta Luiza Bairros, lembrando que o censo do IBGE definiu oficialmente que mais de 50% da população brasileira é negra, “dado que muda muito a maneira como a agenda racial é colocada na sociedade”. A diferença da conjuntura em que será realizada a terceira Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial é inquestionável: o movimento negro ampliou sua forma de expressão, conquistou novos espaços e entrou definitivamente no debate sobre políticas públicas.

Conquistas Como exemplo dos “inegáveis” avanços na promoção da

“A ideia de ação afirmativa nos dá uma capacidade maior de pensar, de sonhar que podemos e devemos ocupar outros espaços da sociedade com outra qualidade” Luiza Bairros, Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial


Capa

igualdade racial, a ministra destacou a Lei 10.639/2003, que modifica a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tornando obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira; a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra; e a regulamentação da regularização das terras quilombolas. Luiza Bairros também destaca a decisão unânime do Supremo Tribunal Federal pela constitucionalidade do princípio das ações afirmativas; a Lei de Cotas nas instituições federais de ensino superior e o Programa Universidade para Todos (Prouni), que desde sua criação em 2004 já beneficiou um milhão de estudantes, quase 50% negros. “Sem dúvida, as ações afirmativas na educação superior criaram um ambiente político que oportuniza avançar para a construção de um programa mais amplo, que também contemple o mercado de trabalho”, enfatiza Bairros. Segundo a ministra, quase 50 municípios de todas as regiões do país, além dos governos do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Paraná, já criaram reserva de vagas para negros nos concursos de acesso aos cargos públicos mais valorizados, em percentuais que variam de 10 a 30%. Mas o caminho a percorrer ainda é longo. Mesmo considerando que há uma tendência geral de redução das desigualdades, Luiza Bairros é realista: “apesar dos esforços de inclusão, as assimetrias raciais persistem na sociedade brasileira”. Prova disso é que 68,23% do total de pessoas em situação de pobreza, identificadas pelo Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, são negras.

Marco O primeiro projeto de lei sobre a adoção de cotas para mulheres e homens negros foi

apresentado em 1983 pelo deputado negro Abdias Nascimento e arquivado pela Câmara dos Deputados. Para Luiza Bairros, a proposta “pode ser tomada como um dos marcos mais ostensivos do debate sobre ações afirmativas que só retornaria à esfera pública cerca de 20 anos mais tarde”. Em agosto de 2012, a presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.711/2012, a chamada ‘Lei de Cotas’, que assegura 50% das vagas das universidades federais e estaduais e das instituições de ensino técnico federais para estudantes oriundos de escolas públicas. A política de cotas tem validade de dez anos. Pelo projeto, ao menos 50% das vagas devem ser reservadas para quem tenha feito o ensino médio integralmente em escola pública. Além disso, para tornar obrigatórios e uniformizar modelos de políticas de cotas já aplicados na maioria das universidades federais, o projeto também estabelece critérios complementares de renda familiar e étnico-raciais.

“Apesar dos esforços de inclusão, as assimetrias raciais persistem na sociedade brasileira”

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Políticas

Serviços para a

população de rua

O Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) está incrementando a participação dos municípios na expansão e reordenamento de três serviços da assistência social voltados para a população de rua: os Centros de Referência Especializados para a População em Situação de Rua (Centros Pop), a ampliação das equipes de Abordagem Social e aumento de vagas em Serviços de Acolhimento Institucional. A expansão do atendimento dos Centros Pop prevê a implantação de 249 unidades em 242 municípios. Juiz de Fora (MG), Belém (PA), Recife (PE), Niterói (RJ), Nova Iguaçu (RJ), Rio de Janeiro e Santos (SP) poderão aceitar duas novas unidades. Em todo o país, o MDS já financia a oferta desses serviços em 153 unidades. O Distrito Federal e 292 municípios são elegíveis para aderir ao Serviço Especializado de Abordagem Social para implantar 547 equipes multiprofissionais. Por meio delas, será realizada busca ativa e a identificação de casos de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de rua, entre outras. Com a expansão do Serviço de Acolhimento Institucional, poderão ser abertas 7,4 mil vagas em 240 municípios em diferentes tipos de equipamentos, como abrigos e repúblicas para pessoas com vínculos familiares rompidos ou fragilizados. Atualmente, o MDS financia 19.525 vagas em 117 municípios.

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Dignidade O investimento previsto é de R$ 137 milhões e a meta é estabelecer uma rede de proteção à pessoa em situação de rua por meio do Sistema Único de Assistência Social (Suas) em todos os municípios com mais de 100 mil habitantes e nos municípios com mais de 50 mil habitantes localizados em regiões metropolitanas. Segundo a presidenta do Conselho Nacional de Assistência Social, Luziele Tapajós, a unificação da rede amplia o número de municípios beneficiados e garante mais qualidade nos serviços. “É uma mudança de paradigma. É reconhecer as especificidades dessa população e proporcionar melhores condições para que a pessoa em situação de rua possa ter a oportunidade de uma vida mais digna”.


Terceiro Setor

Abrindo portas para o mercado de trabalho

O Programa Aprendiz Legal, parceria entre o CIEE e a Fundação Roberto Marinho, formou mais 1.373 jovens brasilienses com idade entre 14 e 24 anos. Durante os últimos dois anos, eles receberam treinamento prático nas empresas parceiras e frequentaram curso teórico com material didático desenvolvido pela Fundação. No Aprendiz Legal, os jovens são contratados com carteira assinada por um período de até dois anos com incentivos fiscais, participam de atividades práticas na empresa e, um dia por semana, recebem aulas teóricas, ministradas pelo CIEE, seguindo um conteúdo programático nas modalidades: comércio e varejo; ocupações administrativas; práticas bancárias; telesserviços; turismo; logística; auxiliar de produção; gestão pública; auxiliar

de alimentação; e conservação, limpeza e sustentabilidade. Atualmente, mais de 3 mil jovens estão inseridos em programas de aprendizagem intermediados pelo CIEE em empresas e organizações parceiras no Distrito Federal, como Caixa Econômica Federal; Banco do Brasil; Bancorbras; Geap – Fundação de Seguridade Social, e Associação de Poupança e Empréstimo – Poupex.

Reconhecimento O Aprendiz Legal auxilia as empresas, principalmente as de médio e grande porte, a cumprir a cota de contratação de aprendizes, exigida pela Lei 10.097, oferecendo um amplo

cadastro de jovens com o perfil adequado a vários conjuntos de pré-requisitos. Segundo a legislação, a contratação de aprendizes deve corresponder a uma cota de 5% a 15% do quadro de funcionários qualificados. No ano passado, o CIEE recebeu o Selo Parceiros da Aprendizagem, concedido pelo Ministério do Trabalho a empresas e entidades que atuam no desenvolvimento de ações que envolvem a formação, qualificação, preparação e inserção de jovens aprendizes no mercado de trabalho. Além de administrar programas de estágio e aprendizagem para jovens de todo o país, o CIEE desenvolve, gratuitamente, uma série de ações de assistência social voltadas a jovens em situação de vulnerabilidade social.

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Terceiro Setor

Energia renovável

na pauta industrial

Em 2012, a Bunge Brasil investiu mais de R$ 57 milhões em iniciativas ambientais. Grande parte desses recursos foi aplicada em projetos de energia renovável e na destinação sustentável de resíduos sólidos e domésticos. Atualmente, 93% da matriz energética da empresa vêm de fontes renováveis, um dado expressivo se comparado com a média nacional de 42%, conforme relatório síntese do Balanço Energético Nacional 2013. “O uso de energia renovável em nossas operações permitiu a redução de 8% das emissões de gases de efeito estufa por tonelada produzida, quando comparado a 2011, e evitou a emissão de 605 mil toneladas de CO2 na atmosfera”, destaca Martus Tavares, vice-presidente de Relações Institucionais, Comunicação e Sustentabilidade da Bunge Brasil. Para se ter uma ideia do que isso significa, um cálculo hipotético mostra que 605 mil toneladas de CO2 equivalem ao volume emitido pela movimentação média de 210 mil veículos, durante um ano, em perímetro urbano. Ainda sobre a redução de emissões, durante 2012, a companhia desenvolveu projetos que originaram 118 mil toneladas de créditos de carbono no país. Atualmente, 63% dos 951 GWh de energia elétrica consumidos pela Bunge em todo o país são gerados internamente, processo que permite também a disponibilização de bioeletricidade à rede pública de energia elétrica. Em 2012, a Bunge forneceu um volume suficiente para abastecer mais de 130 mil residências durante um ano.

Resíduos A empresa também otimizou a destinação sustentável de resíduos sólidos. Hoje, 72% dos resíduos industriais são encaminhados para reuso, reciclagem, compostagem ou são utilizados como matéria-prima por outras indústrias. Na questão de resíduos domésticos, o Programa Soya Recicla, realizado pela Bunge em parceria com a ONG Instituto Triângulo, aumentou em 50% seus pontos de coleta de óleo de cozinha usado ao longo de 2012, chegando a mais de 1.600 pontos espalhados pelas cidades da grande São Paulo.

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cresce no Brasil O número de organizações que investem em desenvolvimento comunitário está em franco crescimento no Brasil. O volume de empresas, fundações e institutos (empresariais, comunitários, familiares e independentes) cresceu de 45% em 2009 para 55% em 2011. Em 2012, os associados da Rede GIFE investiram R$ 2,35 bilhões em projetos de desenvolvimento local em áreas como educação, cultura, artes e geração de trabalho e renda, um aumento de 8% em relação a 2011. O GIFE é uma associação sem fins lucrativos que reúne organizações de origem empresarial, familiar, independente e comunitária, com investimentos em projetos com finalidade pública. Atualmente, a Rede reúne 135 investidores sociais privados. A análise dos números levantados pelo Censo GIFE 2011-2012, mapeamento bienal sobre a atuação do investimento social privado no desenvolvimento local, constatou que a aproximação entre negócio e investimento social não é mais um desafio. É uma realidade.

Investimento social privado é o repasse voluntário de recursos privados de forma planejada, monitorada e sistemática para projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público. Incluem-se neste universo as ações sociais protagonizadas por empresas, fundações e institutos de origem empresarial ou instituídos por famílias, comunidades ou indivíduos. “Estas organizações tendem a estruturar seu investimento para contribuir com o desenvolvimento das comunidades com as quais a empresa se relaciona.”, explica a coordenadora de conhecimento do GIFE, Pamela Ribeiro, ressaltando que a tendência de alinhamento ao negócio pode contribuir ainda mais para esse crescimento. Para o gerente geral do Instituto Votorantim, Rafael Gioielli, essa aproximação do investimento social com o tema do desenvolvimento local é de extrema importância. “O apoio e a promoção do desenvolvimento local se coloca hoje como um aspecto fundamental para as empresas, sobretudo para aquelas baseadas em recursos naturais conquistarem e manterem sua licença social de operação”.

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Terceiro Setor

Investimento social privado


Terceiro Setor

Benefícios da

equoterapia A explicação é simples: o movimento tridimensional da cavalgada – para frente e para trás, para um lado e para o outro, para cima e para baixo – transfere estímulos para a pessoa que está no dorso do cavalo. “Além disso, a cavalgada traz benefícios motores, psicológicos e comportamentais”, afirma Vinicius Saccochi, coordenador do Centro Básico de Equoterapia da Ande-Brasil.

Experiência própria

Há mais de 20 anos, a Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil) desenvolve um tratamento que ajuda pessoas com deficiência a superar suas dificuldades. Cavalgando, o movimento tridimensional do dorso do cavalo promove ganhos físicos, psíquicos e sociais que já beneficiou mais de três mil praticantes no Distrito Federal. Com o apoio da Secretaria de Educação do DF, Poupex, Barcorbras e outras entidades, a Ande-Brasil atende gratuitamente a cerca de 120 pessoas no Distrito Federal. Segundo o presidente da instituição, Jorge Dornelles Passamani, essas parcerias são fundamentais para a manutenção e ampliação do programa. “Por isso, a Ande-Brasil está sempre aberta para que novas colaborações mútuas aconteçam. A utilização do cavalo com finalidade terapêutica não é uma descoberta recente. No ano 500 a.C, o grego Hipócrates, considerado o pai da Medicina, já aconselhava a prática equestre para o

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tratamento de algumas doenças e deixou registrado em sua obra que o cavalgar melhorava o tônus muscular.

CENTROS NO DF

Antes do acidente de carro, a consultora de beleza Fernanda Damasceno e o supervisor de segurança Nilson Soares não imaginavam o quanto a equoterapia seria importante em suas vidas.

ENDEREÇOS

FONES

Centro de Equoterapia do Instituto Cavalo Solidário

*Núcleo Rural Alex Gusmão, 3/465 Incra/9 - Ceilândia * 1º RCG – EPAC – SMC – Setor Militar Urbano

(61) 4102-6473 4102-6531

Centro Básico de Equoterapia “General Carracho”

Granja do Torto - Brasília - DF - Brasil www.equoterapia.org.br

(61) 3468-7092 3468-8486

Centro de Equoterapia Apoiar

Colônia Agrícola Vicente Pires Chácara 133 nº 10B

(61) 3524-8405

Centro de Equoterapia da PMDF

BR 060 Km 0 A/E 01 RPMon Riacho Fundo

(61) 3910-1970

Centro de Equoterapia Lago Sul

Fazenda Piquet/Rodovia 0001 km 26 (entrada do condomínio Solar de Brasília)

(61) 3367-5345

Centro de Equoterapia IFB

Rodovia DF-128, km 21, Zona Rural de Planaltina

(61) 3901-8234

Centro de Equoterapia Espaço Equestre - ASBRATE

SHIP/Sul Área Especial, conj. 08/12 - Sociedade Hípica de Brasília

(61) 3346-8131

Centro Equestre Cavaleiros de São Jorge

Chácara Boa Fé, DF-495 Santa Maria

(61) 4141-6420

Centro de Equoterapia BCC

SMPW - Quadra 27 - Conj. 3 Lote Clube - Park Way

(61) 3524-8405


Qualidade de vida Um dos objetivos do tratamento é melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência. Como a terapia exige o uso do corpo inteiro, o praticante estimula a força muscular, o equilíbrio e a coordenação motora. Outro ponto importante é a relação de confiança entre cavalo e praticante: os laços de carinho, respeito e segurança produzem respostas mais rápidas ao tratamento.

Os laços de carinho, respeito e segurança fazem com que haja uma resposta rápida ao tratamento 13

Terceiro Setor

No dia 26 de maio de 2006, suas filhas gêmeas, Débora e Eduarda, com trinta dias de vida, teriam a primeira visita ao pediatra. No caminho, o veículo que transportava a família foi atingindo por outro carro. Fernanda e Eduarda foram arremessadas para fora do carro. Débora e Nilson ficaram presos nas ferragens do veículo. Após trinta dias de internação, o triste diagnóstico: Eduarda, que teve traumatismo craniano encefálico, ficaria com sequelas pelo resto da vida. Após seis anos buscando ajuda para que a filha tivesse maior desenvolvimento e melhor qualidade de vida, o casal conheceu a Ande-Brasil, onde sua filha iniciou atendimento. “Posso afirmar, com convicção, que existe o antes e o depois da equoterapia. Foi uma revolução total nas nossas vidas”, afirma Fernanda. Há quase dois anos em tratamento, a postura e o equilíbrio de Eduarda mudaram significativamente. Antes, explica Fernanda, até atividades simples, como sentar, era uma tarefa difícil. “Hoje, minha filha tem mais força e consegue interagir melhor com a família”, ressalta.

Antes de aderir à equoterapia, o praticante precisa passar por uma avaliação médica, fisioterápica e psicológica e receber parecer favorável para a atividade. A equipe multiprofissional de atendimento equoterápico conta com psicólogos, fisioterapeutas, pedagogos, educadores físicos, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogos e profissionais de equitação. A Ande-Brasil, entidade filantrópica, sem fins lucrativos, já capacitou quase seis mil profissionais das áreas de saúde, educação e equitação em cursos básicos e avançados de equoterapia e de equitação equoterápica. O tratamento é reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina e Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. O Brasil já conta com cerca de 300 centros de atendimento, sendo dez unidades somente no Distrito Federal.


Gestão

Inclusão de pessoas com deficiência

no mercado de trabalho

O programa de responsabilidade social desenvolvido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH-RJ) está abrindo as portas do mercado de trabalho às pessoas com deficiência. Criado em fevereiro deste ano, o programa reúne poder público, empresariado e sociedade civil para que a Lei de Cotas (8.213/91) seja efetivamente cumprida no estado. A Lei de Cotas exige que empresas com mais de cem funcionários destinem vagas de trabalho voltadas a pessoas com deficiência, nos seguintes percentuais: de 100 a 200 funcionários (2% das vagas), de 201 a 500 (3%), de 501 a 1.000 (4%) e mais de 1.000 funcionários (5% das vagas). Estima-se que das 1.800 empresas com mais de 1.000 funcionários, menos de 10% estejam cumprindo a lei.

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“Muitas das empresas que deveriam cumprir a lei não a cumprem por falta mesmo de informação, e não porque simplesmente não querem ou porque estão agindo de má-fé. As grandes empresas costumam ter profissionais que cuidam apenas dessa ação afirmativa, mas a grande realidade é que o conjunto do mercado não funciona assim”, diz José Pinto Monteiro, diretor de responsabilidade social da Associação. O programa promove encontros mensais para debater temas como capacitação, medicina no trabalho, empregabilidade e legislação que possibilitem a criação dessa ponte de inclusão. Também são apresentados casos e experiências sobre direitos e deveres destinados a empresas de diversos setores. “Algumas empresas têm dificuldade em achar a PcD ou até mesmo para inserir a PcD

no seu quadro de funcionários”, ressalta Patrícia Pacheco, também diretora de responsabilidade social da ABRH-RJ. O Grupo Executivo da Associação já conta com mais de cem empresas associadas. Até o momento, já foram realizados quatro encontros para promover e disseminar práticas e conceitos socialmente responsáveis que contribuam para o cumprimento da legislação e apoio da comunidade de RH. Empresas interessadas em participar dos próximos encontros do projeto podem mandar e-mail para relacionamento2@abrhrj.org.br e baixar o material apresentado nos quatro encontros anteriores no site da www.abrhrj.org.br.

A Lei de Cotas exige que empresas com mais de cem funcionários destinem vagas de trabalho voltadas a pessoas com deficiência


Gestão

Paraná investe na

educação especial O programa Todos Iguais pela Educação, instituído por lei pelo governo do Paraná, é uma iniciativa que deve seguir de exemplo para o resto do país. A lei torna obrigatório que as escolas básicas de educação especial tenham os mesmos direitos e recursos destinados às escolas da rede estadual de ensino. “Trouxemos as Apaes e as entidades que ofertam educação especial para dentro da rede estadual de ensino”, ressalta o governador Beto Richa. A primeira ação sob a nova legislação foi a distribuição de 40 micro-ônibus adaptados para prefeituras de todas as regiões do Paraná. Cada veículo tem capacidade para transportar 44 alunos sentados e é equipado com plataformas elevadas, bancos mais largos e contam com cadeiras de rodas. Com os veículos adaptados, as Apaes farão o transporte de 1.760 alunos com necessidades especiais.

Segundo o vice-governador e secretário estadual da Educação, Flávio Arns, o Paraná está dando um exemplo de cidadania para o Brasil. Ele ressaltou que a legislação criada pelo estado para integrar as escolas de educação especial à rede estadual de ensino está sendo copiada por outros governos. “Estamos oferecendo condições para que os estudantes com deficiência recebam do Estado tudo aquilo que recebem os alunos que fre-

quentam as escolas regulares, sem discriminação”.

A força da união Para o coordenador regional das Apaes, Verter Fontes da Silva, o fortalecimento da parceria com o governo estadual certamente trará novas conquistas às crianças com necessidades especiais: “Juntos somos mais fortes”, enfatizou. Para o prefeito de Guarapuava, Cesar Silvestri Filho, a nova legislação mostra que o governo estadual está sintonizado com os sentimentos da população e de especialistas da educação. O prefeito de Pinhão, Dirceu José de Oliveira, ressaltou que as Apaes funcionam como uma grande família e precisam ter esse elo com o município e o estado. O governador garantiu que os investimentos nas Apaes serão sempre atrelados a outras medidas fundamentais para a educação especial no Paraná: “Investir nas Apaes é investir na dignidade e na cidadania”.

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Gestão

Audiências coibem a

evasão escolar A cidade de Serra, no Espírito Santo, realizou a segunda rodada de audiências com pais de alunos faltosos para que eles justifiquem as ausências dos filhos nas escolas do município. As audiências foram realizadas pela juíza da 2ª Vara da Infância e Juventude, Janete Pantaleão, com o objetivo de chamar a atenção dos pais e possibilitar o retorno dos alunos às unidades de ensino. A ação faz parte do Programa de Combate à Reprovação Escolar, Pró-Escola, que é uma parceria entre a prefeitura e o poder judiciário. Com mais de 420 mil habitantes, Serra é o segundo município mais populoso do estado, perdendo apenas para Vila Velha. De acordo com o projeto, todas as escolas devem informar à Secretaria de Educação e ao poder judiciário o número de estudantes que deixaram de frequentar as au-

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las e os que ficaram reprovados pelo número de faltas. De posse dessas informações, a Justiça, em audiência, intima os pais a enviarem os seus filhos de volta à escola, visando reduzir a evasão escolar.

Legislação O programa é baseado no art. 205 da Constituição de 1988, que determina que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família. O caso das faltas escolares também pode ser enquadrado no artigo 246 do Código Penal Brasileiro, que cita como crime o abandono intelectual: “Deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária de filho em idade escolar. Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa”. A ação também está baseada na Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDB nº 9.394/96), que confere aos pais a responsabilidade em prover a educação dos filhos e à escola o dever de comunicar às autoridades a relação de alunos faltosos. Na segunda rodada de audiências, cerca de 500 famílias foram notificadas e compareceram ao Fórum para explicar os motivos das faltas, selando o compromisso de enviarem os filhos à escola.

A educação é um direito de todos e dever do Estado e da família


Gestão

Agricultura

responsável e produtiva Criado em 2010 pela Dow AgroSciences, o Programa de Aplicação Responsável (PAR) já capacitou mais de 2 mil pessoas em várias cidades brasileiras de Goiás, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo. Os treinamentos do PAR abordam uma série de ações relacionadas à sustentabilidade do agronegócio, como uso correto de Equipamento de Proteção Individual (EPI), descarte de embalagens, condições climáticas adequadas e qualidade na aplicação de defensivos agrícolas. Todos participam de palestras de conscientização e capacitação e desenvolvem atividades práticas relacionadas à inspeção periódica de pulverizados (IPP) e redução do risco de deriva. Este ano, o programa foi ampliado para mais 46 cidades. “A ampliação do PAR demonstra o sucesso do programa. São projetos como este que fazem a diferença na construção de uma agricultura sustentável e produtiva”, afirma Ana Cristina Pinheiro, especialista em Product Stewardship da Dow AgroSciences. Seu objetivo é orientar e disseminar as boas práticas agrícolas entre produtores rurais, engenheiros agrônomos, técnicos e operadores de pulverizador. Em 2011, o programa desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), recebeu o Prêmio Mérito Fitossanitário de “Boas Práticas Agrícolas” concedido pela Andef. Simulador de deriva A deriva de defensivos agrícolas pode afetar culturas sensíveis que estejam próximas da área de aplicação. A eliminação do problema é uma das questões mais trabalhadas no PAR, que desenvolveu um equipamento que simula condições reais de vento e tamanhos de gota das aplicações. Com isso, os participantes podem visualizar o efeito real do uso de cada tipo de tecnologia de acordo com a velocidade do vento no momento da aplicação. Conhecido como “simulador de deriva”, o equipamento é usado em todas as aulas práticas. Segundo o professor da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, Ulisses Rocha Antuniassi, o equipamento é extremamente didático e eficiente.

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Cidadania

Atendimento especial para gestantes usuárias de drogas O Núcleo de Atendimento Terapêutico (NAT), do Hospital Materno-Infantil de Brasília (HMIB), está trabalhando na criação do primeiro protocolo médico e psicossocial brasileiro de atendimento a gestantes usuárias de álcool e outras drogas para atender à crescente demanda registrada no país. De acordo com a chefe psiquiatra do NAT, Marjorie Moreira de Carvalho, o Brasil ainda não possui um protocolo específico para o atendimento das gestantes usuárias de drogas e também faltam referências bibliográficas. “Por isso estamos criando um protocolo médico e psicossocial com a equipe multidisciplinar para discutirmos e criarmos o melhor fluxo de atendimento para assistir a essas mulheres e suas especificidades”, ressalta. No HMIB, os casos de gestação de risco por entorpecentes são acompanhados por uma equipe formada por

O tratamento também se estende aos recém-nascidos que geralmente apresentam diversas complicações 18

psiquiatra, psicólogo e assistente social. Além de atuar no momento de crise, a equipe procura sensibilizar a gestante a aderir ao tratamento e à desintoxicação. A rede de saúde também oferece suporte das Varas de Infância, os Centros de Atenção Psicossocial, Álcool e Drogas e as Comunidades Terapêuticas.

Bebês O tratamento também se estende aos recém-nascidos que geralmente apresentam diversas complicações como prematuridade, baixo peso, complicações respiratórias, má formação e abstinência. Em geral, os sinais de Síndrome de Abstinência Neonatal incluem irritabilidade, disfunção gastrintestinal, sucção exagerada e choro agudo nos bebês. “A abstinência em recémnascidos depende das drogas, do tempo de uso, da quantidade e do metabolismo materno. Esse estado pode se resolver sem medicação, a não ser quando se associa ao uso de múltiplas drogas e ao curto tempo entre o uso materno da droga e o nascimento”, explica o neonatologista Paulo Margotto. A equipe planeja fazer treinamentos nas unidades dos hospitais, principalmente com os profissionais que trabalham nas emergências, com o objetivo de oferecer na rede pública um tratamento integral e preventivo e não só para intervenções em crise.


em comunidades pacificadas

O programa Caminho Melhor Jovem vai oferecer atendimento individual para jovens de comunidades pacificadas do Rio de Janeiro, com orientação para a construção de um plano de vida e auxílio para que os objetivos sejam alcançados. O programa foi lançado na comunidade de Manguinhos, na zona norte da cidade, que em janeiro recebeu uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). “Nesse atendimento individualizado nós vamos construir um programa específico de desenvolvimento para cada jovem. Ele vai conversar com o tutor, vai colocar as suas aspirações, será construído um plano de trabalho que ele precisa seguir para que o sonho dele possa virar realidade e nós estamos aqui para auxiliar nesse caminho”, disse o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira. O projeto recebeu financiamento de US$ 60 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e US$ 24 milhões de contrapartida do governo do estado. A equipe inicial conta com quatro conselheiros, três tutores, um diretor e seis articuladores por unidade.

Inversão Segundo a coordenadora do Caminho Melhor Jovem, Morgana Eneile, o programa inverte a tradicional lógica do oferecimento de pacotes prontos, sem ouvir as comunidades atendidas. “O desafio do programa é que, em geral, na política pública, a gente tenta, por meio de um estudo ou de uma identificação, fazer uma coisa genérica: jovens de 15 a 29 anos precisam de escola, pronto, está aqui a escola”, afirma a coordenadora. Morgana Eneile explica que muitas vezes o estado não se preocupa se essa é a escola que o jovem quer, se aquele é o curso de qualificação que ele gostaria. “Então, é uma inversão. Vamos escutar, vamos conhecer a sua demanda e adaptar o serviço do estado à demanda dele. Isso é a lógica de terminar o pacote pronto, e por isso que o programa é realmente um desafio diário”, enfatizou. O público-alvo do programa são jovens como João Ricardo Germano, 18 anos, morador de Jacarezinho, que está terminando o ensino médio e pretende fazer vestibular para uma faculdade de dança ou de história. Para João, a juventude da comunidade precisa de mais incentivos para ter um futuro melhor.

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Cidadania

Caminho Melhor Jovem


Parcerias

Ensino de qualidade para

crianças de baixa renda

Centro educacional em Curitiba é mantido por doações pessoais e empresariais

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Paulo II, instalado em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, está mudando a vida de crianças de baixa renda com um modelo educacional que reúne ensino de qualidade, atividades no contraturno, boa alimentação e muito carinho. Mantida por meio de doações – pessoais e empresariais – e de parcerias com entidades, o Centro é uma prova de como iniciativa privada e poder público podem se unir para melhorar os índices de educação e a qualidade de vida em uma localidade. Criado em 2007, o Centro João Paulo II é fruto da articulação do professor Belmiro Valverde Jobim Castor, que se uniu a um grupo de empresários e profissionais liberais para viabilizar o projeto. “Formamos uma instituição sem fins lucrativos com o objetivo de melhorar a qualidade escolar e temos obtido excelentes resultados”. Muitas crianças vêm de famílias desestruturadas e é preciso dar uma atenção especial a elas, explica o professor. Atualmente, a estrutura atende a 265 alunos carentes de 3 a 13 anos, sendo que 65 deles, com idades de 3 a 6 anos, recebem ensino integral na educação infantil, com atividades das 7h50 às 16h50. As outras 200 crianças são alunos de cinco escolas da rede pública de Piraquara, que no Centro participam de um programa de contraturno de 4 horas diárias, em que contam com reforço escolar e atividades como oficinas culturais e esportivas. A escola também oferece orientação nutricional para as crianças, brinquedoteca, biblioteca, quadras esportivas e espaços pedagógicos especialmente projetados. Detalhe: todas as crianças fazem pelo menos uma refeição no local.

Avanços Os avanços obtidos pelo o Centro mostram que é possível encontrar soluções para a falta de investimentos na educação de qualidade para crianças de baixa renda. “Nosso interesse é chamar a atenção para a melhora da escola pública. Acreditamos que a receita certa para isso é associar o público e o privado”, ressalta o professor. Segundo Belmiro Valverde, graças às condições oferecidas pelo Centro, o processo de aprendizagem é muito acelerado. “As crianças que cursam a educação infantil no Centro entram na 1ª série do ensino fundamental praticamente alfabetizadas”, afirma, acrescentando que, na rede pública de Piraquara, isso geralmente acontece apenas a partir do segundo ano. Mais importante do que isso, a educação de qualidade dá novas oportunidades e perspectivas às crianças. “Elas têm uma boa chance de escapar de um ciclo destrutivo de drogas e violência”, diz.

Parcerias e doações Para manter a escola, são gastos em torno de R$ 70 mil mensais, dinheiro que sai de doações de empresas ou pessoas físicas que contribuem com o Centro. A colaboração de empre-

Parcerias

O Centro de Educação João

É possível encontrar soluções para a falta de investimentos na educação sas e entidades também ajuda no funcionamento do local. É o caso da parceria com o Sesi no Paraná. “O Sesi é nosso parceiro desde o primeiro momento”, ressalta o professor Belmiro. Além de ter cedido em comodato todo o mobiliário quando da construção da escola, atualmente o Sesi disponibiliza os profissionais que ministram as oficinas de música, teatro, dança, educação física e psicomotricidade. Além disso, presta suporte pedagógico ao Centro e também auxilia no transporte de alunos quando há atividades externas. Para o presidente do Sistema Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), Edson Campagnolo, contribuir com projetos focados na educação de qualidade é investir na transformação de vidas.

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Empreendedorismo

Empreendedorismo

nas instituições de ensino Até 2016, o Sebrae e a Junior Achievement levarão a disciplina do empreendedorismo a mais de 5 milhões de alunos dos ensinos Fundamental, Médio e Superior de todo o país. Juntas, as duas instituições desenvolverão novos projetos de educação empreendedora voltados para crianças, jovens e adultos. Os voluntários levarão para as salas de aula temas atuais que mostram o mundo dos negócios e fortalecem a importância de valores como ética, liderança, responsabilidade, cidadania e profissionalização. A meta é contribuir

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para o desenvolvimento dos jovens e torná-los mais preparados para o mercado de trabalho. Ao final de cada ano, será realizada uma edição do Prêmio Miniempresa, competição nacional que envolve jovens de todo o país e seleciona o melhor empreendimento estudantil do Brasil. Durante o evento, os alunos poderão expor e comercializar seus produtos em uma grande feira realizada na sede do Sebrae, em Brasília.

Nova geração “Quanto mais cedo a pessoa tiver acesso a noções e conceitos de empreendedorismo, mais chances ela tem de ter sucesso no ambiente de trabalho, seja um negócio próprio ou uma carreira em uma empresa pública ou privada”, explica o presidente do Sebrae, Luiz Barretto. Segundo o presidente do Conselho Consultivo da Junior Achievement Brasil, Jorge Gerdau Johannpeter, a parceria com o Sebrae vai fomentar a educação empreendedora e a igualdade de oportunidades para crianças e jovens. “Queremos formar uma nova geração de empreendedores, com foco em uma atitude

comprometida com o desenvolvimento sustentado da sociedade”. Para o presidente do Sebrae, o mercado de trabalho precisa de profissionais empreendedores, autônomos, com competências múltiplas, que saibam trabalhar em equipe, tenham capacidade de aprender com situações novas e complexas, que enfrentam novos desafios e promovem transformações. “Por isso é importante que a educação empreendedora seja parte integrante da formação dos futuros profissionais brasileiros, pois assim, desde cedo, o empreendedorismo é desenvolvido e lapidado”, conclui.


Transparência

Ações sobre corrupção

em tempo real

A partir de agora, qualquer pessoa pode acompanhar a evolução dos julgamentos de ações de improbidade administrativa e crimes contra a administração pública em tempo real. Disponível no portal do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Processômetro da Meta 18 do Judiciário, que antes era atualizado semanalmente, agora apresenta de forma automática os dados inseridos pelos tribunais brasileiros sobre o cumprimento do objetivo. Aprovada em novembro do ano passado pelos presidentes dos 90 tribunais brasileiros, a Meta 18 prevê que sejam julgados, até o final deste ano, todas as ações de improbidade administrativa e crimes contra a administração pública que entraram na Justiça até 31 de dezembro de 2011. A ferramenta permite que o CNJ e os próprios cidadãos fiscalizem o cumprimento da meta, que ajuda no combate à corrupção no país. Para o conselheiro Gilberto Martins, coordenador do grupo especial que fiscaliza o cumprimento da Meta 18 do Poder Judiciário, a ferramenta vai contribuir para o controle social do alcance do obje-

tivo. “Ao disponibilizar os dados em tempo real para a sociedade, o CNJ dá importante passo em termos de transparência e acesso à informação”, destacou. Segundo o conselheiro, o processômetro possibilita que cada cidadão conheça a produtividade dos tribunais estaduais, sobretudo em relação aos processos relacionados ao combate à corrupção.

Balanço As Cortes que estão mais avançadas no alcance do objetivo são os tribunais de Justiça do Paraná (TJPR), Amapá (TJAP), Sergipe (TJSE) e Rondônia (TJRO), além dos três tribunais de Justiça Militares (TJM), de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Todos já cumpriram mais de 80% da Meta. Os Tribunais de Justiça da Bahia e do Piauí são, por sua vez, as duas Cortes que mais enfrentam dificuldades para garantir o julgamento desses processos. Enquanto o TJPI cumpriu 6% da Meta 18, o TJBA julgou apenas 5,2% das ações.

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Cidade amigável

Valorizando o e para pedestres e ciclistas

O “2º Encontro de Cidades Amigáveis” debateu o uso do espaço viário com foco nos elementos mais vulneráveis de uma via: pedestres e ciclistas. Realizado pela Prefeitura de Sorocaba com o apoio da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP), do Sesc e patrocínio do Banco Itaú, o encontro reuniu representantes de órgãos públicos, especialistas em urbanismo, organizações não governamentais do segmento e representantes de serviços de bicicletas compartilhadas (bikeshare). Mais do que promover a reflexão e a discussão sobre o uso do espaço viário, o encontro é um espaço para conscientizar a população de que a rua não é apenas um espaço de circulação, é também, e principalmente, um espaço de vida. O Cidades Amigáveis não é um evento contra o automóvel, veículo de grande utilidade para as pessoas e grande dinamizador da economia. É um fórum de discussão sobre o seu uso adequado e justo, de maneira a favorecer o compartilhamento do espaço viário com segurança para todos e a qualidade de vida das pessoas na cidade.

A ideia é que os projetos urbanos das cidades priorizem a facilidade dos deslocamentos, a utilização democrática dos espaços públicos e estimule a mudança cultural necessária para modificar os hábitos de deslocamento na aglomeração urbana.

Cultura cicloviária A segunda edição do evento trouxe exposições sobre o papel da iniciativa privada no fortalecimento de políticas cicloviárias, experiência de projetos cicloviários em cidades brasileiras, elementos constitutivos de projetos de ciclovia e ciclofaixa. A utilização da bicicleta como veículo de transporte, prática comum nos países europeus, está ganhando corpo nas principais cidades brasileiras. O Rio de Janeiro, por exemplo, ficou em 12º lugar no estudo realizado pela consultoria de planejamento urbano Copenhagenize Design Co, que edita o Copenhagenize Index – Top 20 Most Bicycle-Friendly Cities (20 Cidades Mais Amigáveis às Bicicletas). A primeira pesquisa foi feita em 2011 e mostrou como as

A utilização da bicicleta como veículo de transporte está ganhando corpo nas principais cidades brasileiras 24


Ranking As três primeiras posições no ranking deste ano ficaram com Amsterdã (Holanda), Copenhague (Dinamarca) e Utrecht (Holanda). Em Berlim, 8° lugar no ranking, a participação da bicicleta no total de meios de transporte

utilizados chega a 13% (atingindo até 25% em alguns bairros), e a cidade possui uma infraestrutura para o ciclismo que encoraja o seu uso pelos cidadãos. Munique, que divide o 11° lugar com Montreal e Nagoya, tem grande potencial para se tornar uma das primeiras do ranking. Entretanto, a cidade caiu algumas posições (de 6° para o 11º lugar), por conta da estagnação de incentivos ao uso da bicicleta em relação às novas cidades que alcançaram posições maiores no ranking deste ano. O Rio de Janeiro, que ganhou pontos a mais por suas iniciativas inovadoras para o incentivo ao ciclismo, alcançou o 12° lugar em 2013. A rede de ciclovias e ciclofaixas espalhadas pela cidade, e que já conectam pontos importantes, tende a aumentar, tendo em vista os eventos esportivos mundiais que serão sediados pela mesma. Contudo, o trânsito de carros ainda representa uma grande desvantagem para a cidade, que, segundo a análise do estudo, precisa investir pesado no uso da bicicleta para evitar os problemas de tráfego intenso, como os verificados na cidade de São Paulo.

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Cidade amigável

espaço

principias cidades do mundo estão posicionadas na corrida para reestabelecer a bicicleta como transporte na paisagem urbana. Embora o ranking só divulgue as 20 primeiras cidades mais amigáveis às bicicletas, foram pesquisadas, ao todo, 150 cidades em 2013, e 80 em 2011. Entre os critérios avaliados estão a percepção da cultura ciclística, infraestrutura para o ciclismo, segurança dos ciclistas e a existência de programas de compartilhamento de bicicletas. De acordo com a Copenhagenize, assim como no final dos anos 1800, a bicicleta está transformando a sociedade e o cenário urbano para melhor. Agora, mais do que nunca, a urbanização necessita de soluções de transporte modernas que sejam viáveis financeira e economicamente, e a bicicleta está disponível, como há 125 anos.


Esporte

Projetos esportivos

mudam autoconceito das crianças

Projetos sociais têm como foco principal a inclusão social e o desenvolvimento da cidadania de seus participantes. Os que são voltados ao esporte não podem ser diferentes. Uma pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP verificou que, dependendo da metodologia e das prioridades de projetos sociais esportivos, os participantes podem sofrer resultados positivos ou negativos. O estudo desenvolvido pelo professor Elder Regis Deorato Marques, em sua dissertação de mestrado, comparou crianças que participaram por um ano do Projeto Esporte Talento (PET), desenvolvido no Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPEUSP) com crianças de escolas públicas que não participam de projetos sociais esportivos e crianças que participam de outros projetos sociais. O trabalhou analisou o autoconceito dos participantes, isto é, a forma como a pessoa se vê sob diversos aspectos, e constatou a importância da metodologia aplicada e da correta definição das prioridades dos projetos esportivos dedicados às crianças. “O esporte pode contribuir para a melhoria do autoconceito da pessoa, não apenas em relação à dimensão motora, mas também nas dimensões intelectual e social”, ressalta Elder Marques.

Inclusão ou exclusão Segundo o professor, um projeto social esportivo não deve ter como único foco a dimensão motora, pois o objetivo não é a formação de atletas. “A prioridade destas instituições deve ser a forma-

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ção social de seus participantes”. Ele explica que a preocupação em formar atletas pode levar à exclusão daqueles que não chegassem a esse objetivo. A percepção de competência é um dos fatores determinantes que levam à motivação para a prática esportiva, bem como à sua desistência. Na pesquisa, Marques mostra como a percepção de competência deve ser considerada no desenvolvimento de um programa esportivo, para evitar a desmobilização em relação ao esporte. Para Elder Marques, os projetos sociais esportivos têm sua importância, mas não podem ser a única alternativa de práticas esportivas para a população. “O direito ao esporte é constitucional, e devese analisar se ele está sendo realmente garantido por meio destas ações”.


a partir de resíduos de óleo

A Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) desenvolveu um projeto de produção de biocombustível utilizando resíduos de óleos e gorduras para beneficiar comunidades isoladas. O projeto-piloto será executado no município de Rodrigues Alves, onde está implantada a Usina de Extração de Óleos Vegetais. Para acelerar o processo, a Funtac adquiriu uma máquina de craqueamento (quebra de moléculas) e já está treinando uma equipe na utilização do equipamento. Na fase de treinamento, a equipe utilizará o residual do óleo produzido pelo Via Verde Shopping, em Rio Branco, até que a técnica seja transferida para o município. “A máquina tem capacidade para gerar até 100 litros de biocombustível por dia, e essa tecnologia será exposta para a comunidade que vai ser beneficiada por meio de treinamentos”, explicou Luiz Borges, do Instituto Militar de Engenharia, no Rio de Janeiro.

Autossustentável O diretor-presidente da Funtac, Luiz Augusto de Azevedo, garante que tanto a população quanto o meio ambiente ganharão com a consolidação do projeto. “As comunidades vão ganhar por terem uma energia totalmente renovável, uma vez que o principal produto utilizado será o residual do óleo do murumuru, destinado ao mercado dos cosméticos. Com isso, o meio ambiente também ganha, porque esse mesmo óleo terá outra destinação”, salienta. Segundo o químico Alcides Santos, além da questão social, o projeto conjunto da Universidade Federal do Acre (Ufac), Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro (IME - RJ) e Sociedade Agrícola Nova Cintra de Rodrigues Alves, prima pela responsabilidade ambiental. “Desde o início, nosso objetivo foi fazer o máximo para que o projeto seja autossustentável”. A expectativa é que o equipamento esteja instalado na Usina de Rodrigues Alves até o primeiro semestre de 2014. Desde 2008, a Usina tem contribuído com a geração de renda para as famílias do Vale Juruá.

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Sustentabilidade

Biocombustível


Intercâmbio

Unlimited:

arte sem limites

A organização do “Unlimited:

arte sem limites”, que acontece no próximo mês de outubro, em São Paulo, ganhou o reforço de consultores do Shape Arts, conceituada organização britânica que tem como objetivo promover o acesso à cultura para artistas e público com deficiência. Eles participaram do seminário promovido pelo British Council, MAM, Sesc, Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e SP Escola de Teatro. Além do seminário, os consultores da Shape Arts visitaram diversos espaços culturais de São Paulo para observar as condições de acessibilidade física, mobilidade, treinamento de pessoal e fruição artística para artistas e identificar possíveis melhorias para torná-los mais acessíveis para artistas e públicos com deficiência. Todos os treinadores e auditores

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da Shape Arts são profissionais com deficiências e com experiências significativas na área de acessibilidade. O Unlimited está inserido no Transform, programa de artes que ocorre no período entre os jogos olímpicos de 2012 e 2016. Criado em 2009 para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Londres 2012 pelo British Council e UK Arts Council, o Unlimited vem se tornando conhecido em todo o mundo. Realizado como parte das Olimpíadas Culturais de 2012 em Londres, promoveu 29 performances e exibições de artistas com deficiência e atraiu mais de 20 mil espectadores pagantes.

Intercâmbio Luiz Coradazzi, diretor de artes do British Council, re-

conhece que o Brasil tem atingido grande êxito e excelência com atletas paraolímpicos, “no entanto, a arte de qualidade feita por artistas com deficiência ainda não tem o espaço e o reconhecimento que merece”. O Unlimited atua em três frentes: discussões sobre políticas de acessibilidade, oficinas para formação e troca de experiências e o fomento de arte de alta qualidade feita por artistas com deficiência. O Transform é um programa de artes com duração de quatro anos, que conecta produtores, artistas, autoridades e as principais organizações de artes do Brasil e do Reino Unido, buscando fortalecer os laços entre estes profissionais e instituições de ambos os países para resultados de longo prazo.


controlada com o pensamento

Concentração é a palavra-chave para utilização da cadeira de rodas controlada com o pensamento. A tecnologia é capaz de captar e ler as ondas cerebrais e acionar os comandos para movimentar a cadeira. Os criadores da solução apresentaram o equipamento no Espaço de Robótica e Inovação do Congresso Internacional Software Livre e Governo Eletrônico (Consegi), realizado em Brasília. “Com o conhecimento do uso de redes neurais, conseguimos detectar áreas do cérebro que estão atuando. A onda cerebral captada é lida pelo sensor e comparada com um padrão previamente estabelecido. A partir daí, basta treinar, relembrar o pensamento e se concentrar para movimentar a cadeira de rodas”, explica o professor de ciência da computação do Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa), Eugênio Pessoa, supervisor da criação. Os comandos cerebrais são enviados por uma rede de transmissão sem fio de volta para a cadeira, que então se move. De acordo com Pessoa, a cadeira de rodas com a nova tecnologia facilitará a locomoção de paraplégicos com pouca mobilidade nos braços e também de tetraplégicos. Para usar a cadeira, é necessário um treinamento dos comandos cerebrais, que dura em média 20 minutos.

Aperfeiçoamento O equipamento foi projetado para custar até R$ 3 mil. No mercado, o preço de cadeiras de rodas mecanizadas variam de R$ 7 mil a R$ 15 mil. Segundo um dos criadores da cadeira de rodas, Felipe Cintra, a tecnologia precisa ser aprimorada para ser comercializada. “Ainda precisamos de um sensoriamento de ambientação que verifique os obstáculos como escadas, desnível de piso, batente alto. Também temos que melhorar aspectos como conforto, acabamento e segurança”, diz. A ideia da cadeira de rodas automatizada partiu de um

projeto de conclusão de curso e da vontade de dois alunos em aplicar a tecnologia no cotidiano dos cidadãos. “Pensamos no lado social da ciência da computação. A pessoa, com a cadeira, não dependerá de alguém para empurrar. É um tipo de controle [pela força do pensamento] que não existe em escala comercial em nenhum lugar do mundo”, diz Cintra. Neste ano, o tema da Consegi foi a Portabilidade, Colaboração e Integração. Anualmente, o evento reúne governo, academia e sociedade para trocar experiências e apresentar tecnologias que facilitem o acesso a serviços públicos e a melhorar o cotidiano das pessoas.

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Inovação

Cadeira de rodas


Ação social

Brincando de a

“Mistério dos A histórica Casa Maternal Mello Mattos, localizada no Rio de Janeiro, já está utilizando uma nova ferramenta de gestão pedagógica voltada para a Educação Básica: é o “Mistério dos Sonhos”, primeiro jogo educativo produzido pela Xmile Learning e voltado para estudantes do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental. Além da licença pública para utilização do jogo, a instituição conta com suporte gratuito para o total

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aproveitamento da plataforma multimídia. Fundada em 1924, a Mello Mattos atende a 284 crianças com idades entre 2 e 14 anos. Mantida pela Associação Tutelar de Menores, a Casa faz parte da rede de obras sociais e educacionais da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, e é administrada pela Congregação das Freiras Carmelitas Descalças Servas dos Pobres.

Além das aulas convencionais da 1ª à 5ª série, os meninos e meninas das Comunidades da Rocinha e do Vidigal têm aulas de pintura, artesanato, informática e atividades físicas, recebem noções de respeito, regras de convivência e de bons tratos e contam com atendimento odontológico, pediátrico, psicológico e nutricional. A creche é mantida por repasses da Secretaria Municipal de Educação e o abrigo pela Se-


Ação social

aprender com o

s Sonhos” cretaria Estadual de Ação Social. Mas a escola, a exemplo de outras centenas espalhadas pelo Brasil, depende do apoio de pessoas físicas e jurídicas. Daí a importância social do compromisso da Xmile de doar uma licença pública para cada licença privada contratada.

Mistério dos Sonhos O Mistério dos Sonhos reúne 120 jogos narrativos/intera-

tivos que estimulam as crianças a se aventurarem no Sonho das Nuvens Guerreiras, Árvores Encantadas, Coisas Perdidas, Águas Profundas e Sombras Sussurrantes; combater o vilão e encontrar soluções com sabedoria. O vilão da história, o Senhor Sombrio, atacou todos os sonhos e seus habitantes pedem ajuda aos Guardiões (as crianças), que são desafiados a ler, escrever, contar, ordenar, classificar, reconhecer, distinguir, agrupar e decompor usando a colaboração, a parceria e a criatividade na busca de soluções. Juntos, os estudantes são estimulados a refletir, descobrir, entender, compartilhar conhecimento e redesenhar a sociedade. Na outra ponta, as informações geradas pelas crianças permitem aos professores identificar as dificuldades individuais e atuar de forma personalizada, oferecendo ferramentas para ajudá-los nessa busca. É um verdadeiro trabalho de equipe: crianças aprendem de forma lúdica, desafiadora e cativante; gestores e professores têm a oportunidade de acompanhar e auxiliar cada estudante segundo suas necessidades; e familiares participam mais da educação de seus filhos, estabelecendo uma nova forma de comunicação com a escola.

Reconhecimento No início do ano, o Mistério dos Sonhos foi um dos finalistas do Festival ComKids Prix

Jeunesse Iberoamericano, festival de produções audiovisuais e digitais para crianças e adolescentes. O reconhecimento abriu as portas para o desenvolvimento de novos jogos educativos e ferramentas pedagógicas para gestores e educadores. Em agosto, a empresa foi selecionada para compor o programa de aceleração de negócios da Artemísia, instituição que potencializa e capacita talentos e empreendedores para a geração de negócios de alto impacto social. A Xmile foi escolhida entre mais de 450 inscritos para integrar a turma, composta por apenas 10 empresas. Segundo Nelo Brizola, coordenador da Artemísia, mesmo sendo um dos mais promissores setores para a geração de impacto social, ainda são raros os casos de soluções educacionais que levam em consideração os aspectos lúdicos e interativos demandados pelos alunos e o aprimoramento do processo de ensino e aprendizagem. “Foi exatamente isso que nos chamou a atenção. Nos deparamos com um projeto de qualidade, concebido dentro das dinâmicas da sala de aula e com uma visão multiplicadora do impacto social pela melhoria da educação”, ressalta o coordenador. O Mistério dos Sonhos já está disponível para testes em todas as suas versões, inclusive para tablets iOS e Android.

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Mobilização

Tribos se juntam nas

Trilhas da Cidadania Iniciativa da ONG empresarial “Parceiros Voluntários”, o Projeto Tribos nas Trilhas da Cidadania já envolveu mais de 100 mil jovens gaúchos. Criado em 2003 e considerado uma das maiores mobilizações de jovens do Brasil, a ação promove o voluntariado organizado calcado nos conceitos de Tribos – pertencimento; Trilhas – movimento; e Cidadania – responsabilidade social individual para oportunizar o exercício da cidadania em escolas e comunidades do Rio Grande do Sul. Mais do que oficinas e palestras, as tribos escolhem suas

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trilhas, montam estratégias de ação e atuam na linha de frente da batalha em prol da cidadania. Funciona assim: cada escola, ou um grupo delas, forma uma Tribo e escolhe uma Trilha: Meio Ambiente, Cultura ou Educação para a Paz. A partir daí, essa Tribo identifica as necessidades de sua comunidade e propõe ações que contribuam para sua melhoria. Ao longo do processo, as Tribos organizam ações que contribuem para o desenvolvimento da sua comunidade, contando muitas vezes com a participação de familiares e vizinhos. A ideia

é tornar o jovem protagonista de uma transformação social que contribui para a melhoria da qualidade de vida de todos.

União Os estudantes aprendem a planejar suas ações e a trabalhar em equipe. Todas as tribos elegem um líder, um vice-líder e um adulto de referência, que precisa ter afinidade com o grupo, atitude colaborativa, disponibilidade e preocupação social. Sua função é orientar a tribo e atuar como facilitador para que os próprios jovens encontrem os meios de planejar e executar suas ações voluntárias. Na fase final, as Tribos se reúnem em um grande Fórum Tribal Regional para avaliar e compartilhar experiências e consolidar conceitos que envolvem o trabalho voluntário organizado. Os resultados das ações são registrados em um diário tribal e também em blogs hospedados no site do projeto. Regularmente, as unidades da ONG espalhadas pelo estado promovem cursos de capacitação de professores e jovens envolvidos no projeto destacando conceitos ligados ao voluntariado, empreendedorismo social, desenvolvimento de lideranças, planejamento e mobilização.


cultura O município paraense de Bragança, localizado a 220 quilômetros de Belém, foi agraciado com dois bens que ficarão para a eternidade: leitura e cultura. A cidade ganhou 50 bibliotecas rurais do programa Arca das Letras, executado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para promover o acesso ao livro e à informação nas comunidades rurais de todo o país. Além do acervo e do espaço físico, 120 agentes de leitura foram capacitados para cuidar das bibliotecas, da circulação dos livros e promover atividades de incentivo à leitura no campo. A entrega das bibliotecas do programa integra as comemorações dos 400 anos de Bragan-

ça, e foi solicitada pelo próprio município. Segundo o delegado federal do MDA no estado, Paulo Rocha Cunha, o Arca das Letras não leva só livros para a comunidade, leva cidadania e a possibilidade de abertura de novos horizontes. “Quando você fala em meio rural, fica muito circunscrito na questão da produção de alimento, mas esse é um programa que ultrapassa isso, que cuida da pessoa, da comunidade, e não apenas do trabalho.

Obras variadas Cada unidade do programa possui acervo de até 200

obras variadas, que vão desde literatura clássica até livros técnicos e didáticos, que ajudam as crianças na escola. Em dez anos de existência, o Arca das Letras já levou conhecimento, diversão e cultura para mais de 1,5 milhão de famílias que vivem no campo. Somente no estado do Pará, já existem mais 409 bibliotecas, distribuídas em aproximadamente cem municípios. “A gente pretende universalizar o Arca das Letras no estado. Somos sempre pautados sobre o programa pelos municípios. É muito bom saber que tem essa demanda por leitura na área rural”, ressalta o delegado.

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Cultura

Livros e


Artigo

Lei de Cotas

completa 22 anos

Mas o número de profissionais com deficiência atuando no mercado ainda é baixo É fato que o cenário de empregabilidade para pessoas com deficiência mudou muito de alguns anos para cá no Brasil, principalmente em virtude da Lei de Cotas (8.213/91), que em julho completou 22 anos em vigor no país. No entanto, ainda é alto o número de cidadãos com este perfil de desempregados. De acordo com o Censo 2010, apenas 1,6% das pessoas com deficiência no Brasil estão inseridas no mercado de trabalho formal. O Ministério do Trabalho aponta o número de 306 mil pessoas formalmente empregadas no Brasil, mas esse índice é ainda pequeno frente ao número de pessoas com deficiências que vivem hoje no país, que já passa de 45 milhões de brasileiros. De acordo com dados levantados em 2011 pela RAIS – Relação Anual de Informações Sociais, no caso das pessoas com deficiência física, esse montante é da ordem de 77,7 mil, ou 44,60% do total, seguido das pessoas com deficiência auditiva (27,9 mil ou 37,88% do total) e 9,8 mil para aqueles com deficiência visual, ou 44,70% do total, intelectual (mental) (5,0 mil ou 26,46% do total) e múltipla (1,4 mil ou 33,61%). Além do preconceito cultural instaurado no Brasil, outra realidade que dificulta a inclusão se deve à dificuldade de algumas empresas no que se refere à expertise de capacitação e treinamento destes profissionais, já que é muito importante orientar devidamente estes colaboradores

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para o exercício pleno das atividades cotidianas. O Brasil tem muitos talentos ainda não aproveitados entre os cidadãos com deficiência. Mas é preciso ainda criar a cultura da inclusão efetiva, que aproveite todo o potencial do trabalhador e não se limite apenas ao cumprimento da Lei de Cotas. Se houver preocupação em capacitar e extrair o melhor deste profissional, ele certamente renderá bons resultados para a empresa, assim como acontece com qualquer pessoa.

É necessário o investimento em estratégias de inclusão e políticas públicas bem consolidadas para ampliar o número de inclusões no mercado e, aos poucos, mudar a mentalidade da sociedade. “Temos milhões de jovens e adultos cegos, surdos, com deficiências físicas e intelectuais, ansiosos e dispostos a ingressar em um mercado que hoje vive um problema de crescimento, gerado pelo gargalo da mão de obra. É hora de superarmos o déficit de anos e intensificarmos táticas que possam conjugar capacitação e inserção laboral.

Autor: Marcelo Vitoriano, gerente nacional de inclusão da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), entidade filantrópica que há 31 anos atua na reabilitação, capacitação e inclusão profissional de pessoas com deficiência.


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