Revista Abranet 10

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associação brasileira de internet

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ano III . edição 10 . outubro . 2014

Internet: PARA ONDE VAMOS? A evolução da Internet passa pela criação de modelos de negócios que façam sentido para as pessoas, de modo a serem adotados no dia a dia. A revolução mais óbvia está nas mudanças impulsionadas pela Internet das Coisas

Construa uma base sólida Aprender inglês, conhecer os fundamentos da Internet e buscar certificações é essencial para os profissionais construírem carreira na área abranet.org.br outubro . 2014

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editorial Eduardo Neger Presidente da Abranet

Apertem os cintos, a Internet sumiu! Sempre que tratamos do “futuro da Internet”, corremos um altíssimo risco de errar grosseiramente os prognósticos. Acadêmicos e analistas especializados na área de tecnologia costumam apontar tendências, mas a velocidade e a aderência dos usuários a novos serviços costumam pregar peças nos futurólogos de plantão. Curiosamente, o gancho dos mais bem-sucedidos empreendedores do mercado digital é exatamente identificar tendências e implementar, antes de todos, seus novos produtos e serviços. Em um cenário no qual a ubiquidade da rede se torna cada vez mais plausível, a Internet passa a fazer parte de um contexto em que sua visibilidade começa a ficar em segundo plano. Todos estarão conectados, mesmo sem se dar conta disso ou se lembrar da existência da infraestrutura que apoia seu funcionamento. É mais ou menos o que ocorre, hoje, com a eletricidade. Quando chegamos em casa e acendemos a luz, dificilmente pensamos sobre usinas hidrelétricas, transformadores e linhas de transmissão. O mesmo valerá para a Internet: estará em toda parte, ao mesmo tempo, a todo momento. E “desde sempre”, pensarão com naturalidade as novas gerações. O trabalho do provedor de conexão à Internet fica ao mesmo tempo essencial e invisível. As pessoas só vão lembrar que a Internet existe quando ficarem sem conexão, da mesma forma que a maioria das pessoas só se lembra de todo o processo da eletricidade quando ocorre um blecaute. Enquanto a camada de infraestrutura da rede ganha

contornos de commodity, os conteúdos ganham cada vez maior relevância. As pessoas alimentam a rede com uma quantidade crescente de informações. Serviços e aplicações na Internet são incorporados às rotinas de famílias e empresas. Isso muda hábitos e comportamentos. Saem os engenheiros, entram os folcloristas para tentar decifrar os caminhos e as pessoas conectadas. Schmidt e Cohen, executivos norte-americanos do setor de Internet, publicaram no livro The New Digital Age previsões curiosas para o futuro próximo. Uma delas indica que os casais pensarão no impacto da Internet antes de batizar seus filhos. Isso mesmo. Se escolherem nomes bem diferentes do usual, registrarão tais nomes nas redes sociais antes do nascimento da criança, para que ela se destaque. Ou preferirão nomes comuns e genéricos, do tipo “José Silva”, que tornem difícil identificar a pessoa, permitindo que ela se esconda na multidão e mantenha algum grau de privacidade online. Soa estranho, mas dá uma dimensão de como a Internet é capaz de interferir em aspectos antes impensáveis. Invisíveis ou não, as empresas da cadeia de valor da Internet brasileira têm pela frente o desafio de conciliar as expectativas cada vez mais elevadas de seus clientes com limitações técnicas, regulatórias e tributárias já tão bem conhecidas de todos que atuam no setor. Nesta edição da Revista Abranet, nós nos arriscamos a discutir a evolução da rede e seus impactos para os provedores nos próximos anos. Discutimos também os aplicativos OTT e Pontos de Troca de Tráfego. Boa leitura! abranet.org.br outubro . 2014

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índice 05 | abranet responde

Conselho Editorial Eduardo Neger

Como fazer um projeto para ampliar serviços de fibra óptica Você também tem dúvidas sobre o seu modelo de negócio? Não sabe qual legislação seguir? Quer alguma orientação? Escreva-nos e tire as suas dúvidas

neger@abranet.org.br

José Janone Junior janone.jr@abranet.org.br

Eduardo Parajo

parajo@abranet.org.br

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Gerência Executiva Roseli Ruiz Vazquez

A evolução da Internet passa pela criação de modelos de negócios que façam sentido para as pessoas, de modo a serem adotados no dia a dia. A revolução mais óbvia está nas mudanças impulsionadas pela Internet das Coisas

gerente@abranet.org.br

Projeto, Produção e Edição

Editora Convergência Digital

12 | artigo

editora@convergenciadigital.com.br Tel: 011-3045-3481

A Internet das Coisas não tem – ainda – um padrão unificador que permita a interoperabilidade entre os sensores, computadores e atuadores. Por Eduardo Prado

Direção Editorial

Ana Paula Lobo

analobo@convergenciadigital.com.br

Luiz Queiroz

queiroz@convergenciadigital.com.br

14 | CARREIRA

Editora-chefe

Aprender inglês, conhecer os fundamentos da Internet e buscar certificações é essencial para os profissionais construírem carreira na área

Ana Paula Lobo

analobo@convergenciadigital.com.br Edição

16 | entrevista

Bia Alvim

bia.alvim@pebcomunicacao.com

Milton Kaoru Kashiwakura, diretor de Projetos Especiais e de Desenvolvimento do NIC.br, adverte os provedores para se tornarem, rapidamente, sistemas autônomos (AS, na sigla em inglês)

Reportagem / Redação

Roberta Prescott

prescottroberta@gmail.com

Luís Osvaldo Grossmann

18 | INFRAESTRUTURA

ruivo@convergenciadigital.com.br

As operadoras over-the-top (OTT) – empresas que oferecem serviços que rodam sobre a Internet – representam um desafio para os donos da rede. Mas, em vez de combatê-las, os ISPs têm a opção de unir-se a elas

Edição de Arte e Diagramação

Pedro Costa

pedro@convergenciadigital.com.br Impressão

20 | opinião

Grafinew

A participação nos lucros e resultados como instrumento de gestão do negócio. Por Raissa Bressanim Tokunaga

24 | ecossistema O encontro “Desafios e Oportunidades para os Profissionais de Internet”, realizado em Belo Horizonte, foi palco de uma série de debates de interesse dos provedores de Internet

Rua da Quitanda, 96 / Cj.31 - Centro - São Paulo / SP CEP: 01012-010 Fone: (11) 3078-3866

28 | conexão ISPs impulsionam demanda por fibra óptica. A alternativa white space. Quem está emplacando projetos no REPNBL. SDN também é útil para provedores de Internet

www.abranet.org.br

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abranet responde Sou da empresa Artennet Comunicações, serviço de comunicação multimídia (SCM) na cidade de Santo Antônio de Posse (SP). Gostaria de ampliar os serviços com cabo de fibra óptica. É preciso ter projeto?

Como fazer um projeto para ampliar serviços de fibra óptica Para ampliar os serviços com cabo de fibra óptica, é

obrigação acessória a existência e atualização de projeto técnico da rede, com respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) assinada pelo representante legal da empresa e pelo engenheiro responsável. De acordo com o sócio e diretor-geral da Matarazzo & Associados, Edmundo A. Matarazzo, um dos elementos fundamentais do projeto é a identificação das estações de telecomunicações que serão cadastradas para fins de pagamento das taxas de ativação e fiscalização definidas em lei especifica, a Lei do Fistel. Celso Motizuqui, gerente-geral da Furuwaka, aponta para a necessidade de submeter o projeto à aprovação da concessionária de energia para que seja avaliado o esforço dos postes. É o chamado projeto mecânico. Além deste, também se deve fazer o projeto óptico, que detalha por onde os cabos de fibra vão passar. “É importante fazer os projetos olhan-

do no longo prazo e planejando como a empresa quer crescer”, destaca Motizuqui. Antes de realizar projetos de rede, também se deve fazer um estudo de demanda e de viabilidade do investimento. “O trabalho é simples e normalmente conduzido por consultoria, mas é essencial para o empreendedor, porque avalia os riscos e indica pontos fracos e fortes”, destaca Matarazzo. Nesse momento, recomenda-se que o provedor avalie a real demanda pelos serviços, em função dos produtos que serão ofertados, como planos de serviços, e faça a análise da concorrência. Isto servirá como base para estimar valores e receitas e será o ponto de partida para saber se o investimento é viável, ou seja, se dará o resultado desejado. Para elaborar um plano de negócios, Motizuqui, da Furuwaka, destaca a importância de conhecer quem são os clientes para quem o provedor quer vender os serviços, além de entender as demandas da região onde atua.

abranet responde Tem uma dúvida? Quer que um especialista da Associação Brasileira de Internet responda? Escreva para o Abranet Responde. O e-mail é abranetresponde@abranet.org.br

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capa

Roberta Prescott

Mais do que por rupturas, a evolução da Internet passa pela criação de modelos de negócios que façam sentido para as pessoas, de modo a serem adotados no dia a dia. A revolução mais óbvia está nas mudanças impulsionadas pela Internet das Coisas

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As últimas duas décadas foram marcadas por uma profunda

transformação na sociedade: o advento da Internet rompeu com modelos tradicionais de interação, aproximou povos e difundiu conhecimento de uma forma nunca antes observada. Ao colocar o acesso a informações dos mais variados tipos nas mãos das pessoas, a Internet provocou uma revolução. É um caminho sem volta. Resta entender como a sua evolução vai impactar ainda mais pessoas, empresas e governos. Quem imaginou, em meados dos anos 1990, que a rede criada para conectar universidades iria ser o gatilho para a sociedade da informação? A explosão do consumo de vídeos online, acessados por smartphones, tablets e computadores; a conexão máquina-a-máquina, batizada de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês); e o acesso desde qualquer lugar usando os mais diversos aparatos são as previsões mais óbvias para o futuro próximo da Internet. “Uma coisa certa é a maior demanda por banda e por qualidade devido à grande quantidade de dispositivos trafegando um enorme volume de dados”, destaca Silvio Meira, professor associado da Fundação Getúlio Var-


Internet: PARA ONDE VAMOS?

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“Uma coisa certa é a maior demanda por banda e por qualidade devido à grande quantidade de dispositivos trafegando um enorme volume de dados” silvio Meira Professor associado da FGV e presidente do Conselho Administrativo do Porto Digital

gas (FGV) e presidente do Conselho Administrativo do Porto Digital. Pensar além disso pode significar previsões vazias. A Internet abre espaço para inúmeras possibilidades, mas as próximas transformações devem vir de algo que hoje ainda não existe. Ao serem questionados sobre o que podemos esperar para a próxima década da Internet, os especialistas ouvidos pela Revista Abranet enfatizaram que as mudanças virão a partir da criação de modelos de negócios baseados nas evoluções tecnológicas do que temos atualmente no mercado. A maior aposta está no poder da Internet das Coisas. “O conjunto das informações coletadas em diferentes fontes vai proporcionar a quem conseguir interpretá-lo um entendimento individual de cada pessoa. É a personalização de massa”, ressalta Eduardo Peixoto, executivo-chefe de negócios do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R). Tecnologicamente, diversos experimentos, como a geladeira conectada à Internet e que faz compras automaticamente ou o carro que trafega pelas ruas sem motorista, já são possíveis, mas o que vai dizer se eles entrarão, ou não, na vida das pessoas é o

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modelo de negócio. Ou seja, não basta a ideia ser boa ou a tecnologia estar disponível. “Existem coisas que foram testadas na Internet antes do ano 2000 e que não vingaram naquela época, mas que existem agora”, aponta Peixoto, destacando o hábito de consumo como um dos influenciadores para a adoção de uma inovação. São as pessoas que irão ditar que tipo de inovação tecnológica fará sentido e quais elas gostariam de incorporar a seu dia a dia. O mundo ficou mais próximo e com menos barreiras depois do surgimento (e da adoção em massa) da Internet. E isto traz muitas oportunidades de negócios, ao mesmo tempo em que transforma alguns setores inteiros, obrigando-os a se reinventarem — nada mais claro que o exemplo da indústria fonográfica para ilustrar o poder da Internet. Ao mesmo tempo, a rede mundial tem sido a base de revoluções não apenas na maneira como as pessoas interagem, mas também transformando modelos tradicionais de operação corporativa. O mais evidente é de que forma a venda como serviço, baseada na Internet, impulsionou a criação de empresas. O aumento no número de lançamentos das chamadas start-ups está diretamente ligado à fa-


“Com o aumento da IoT, é possível que surja uma Internet específica para isto, com banda menor e velocidade mais baixa. Isto é uma oportunidade de negócio” Eduardo Peixoto Executivo-chefe de Negócios do C.E.S.A.R.

cilidade de elas montarem sua infraestrutura para funcionar. Em vez de colocar hardware e software em casa, compram de terceiros e acessam por meio da web. Além disso, o desenvolvimento da educação a distância, da telemedicina e do comércio eletrônico mostra como o uso da Internet agrega novas áreas a negócios existentes.

Como eletricidade O conceito de que a Internet vai se tornar como a eletricidade, cada vez menos visível e mais embarcada na vida das pessoas, tanto para o bem quanto para o mal, está arraigado entre os especialistas. “A analogia que se faz é que a Internet tem de ser igual à eletricidade e se pagar pela quantidade que se consome”, explica Peixoto, do C.E.S.A.R. Outro ponto enfatizado refere-se à simplicidade. A informática precisa ser tão simples quanto a eletricidade; ter capacidade de computar, de se comunicar e de controlar coisas. É o que Silvio Meira, do Porto Digital, resume como computação, comunicação e controle. “Internet é mais uma infraestrutura, assim como estrada, água, esgoto, gás.” Ele defende que as cidades deveriam instalar a infraestrutura básica,

Divulgação

com a fibra óptica apagada, ou licitar alguém para instalar e outro alguém para operar. “Estamos falando de casas com demandas de muitas dezenas de gigabits por segundo e de empresas que precisam de centenas a milhares de gigabits por segundo no médio prazo.” O maior obstáculo para a próxima década da Internet, pelo menos no Brasil, está na infraestrutura. “Imaginar que vão ter cinco, oito, nove companhias fiando uma cidade com fibra óptica e que haverá retorno para todos e retorno para a cidade é uma loucura completa”, sublinha Meira. Os provedores de Internet são uma alternativa para ajudar a solucionar a falta de infraestrutura, possibilitando tornar realidade as previsões sobre como a rede mundial dos computadores vai evoluir. A velocidade da banda larga no País é muito inferior quando comparada à dos países mais desenvolvidos, e em lugares remotos a dificuldade ainda está em encontrar uma boa conexão. “A qualidade da infraestrutura de rede no Brasil é rudimentar, temos um dever de casa urgente. Quem constrói o imaginário é a classe média; e, na vasta maioria das regiões metropolitanas, não há disponíabranet.org.br outubro . 2014

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“Ou os ISPs ficam como utilities ou agregam valor à conexão” Sebastián Bellagamba Diretor do escritório regional para América Latina e Caribe da Internet Society

vel uma conexão de 10 Mbps confiável. Isto inviabiliza um conjunto de coisas básicas que poderíamos ter e não temos”, pontua Silvio Meira. A empreitada de levar a conexão à Internet banda larga aos mais diversos lugares impõe desafios aos provedores de Internet, tais como vencer o monopólio de postes em algumas regiões ou a dificuldade em negociar com companhias de energia elétrica e instalar a rede. Se de um lado cabe aos ISPs esta missão, de outro, apenas prover o acesso à Internet não passa de uma commodity. Preço e qualidade determinam se o cliente escolhe um ou outro provedor. “Ou os ISPs ficam como utilities [empresa prestadora de serviço público ou de conveniência] ou agregam valor à conexão”, sentencia Sebastián Bellagamba, diretor do escritório regional para América Latina e Caribe da Internet Society. O desenvolvimento da Internet passa por novos modelos de negócios que podem demandar infraestruturas específicas. “Com o aumento da IoT, é possível que surja uma Internet específica para isto, com banda menor e velocidade mais baixa. Seria uma banda estreita para atender a necessidades, por exemplo, de monitoramento. Isto é uma oportuni-

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dade de negócio”, explica Peixoto, do C.E.S.A.R. Outro caminho é seguir na oferta de soluções agregadas, como para a casa conectada. “Com a maturidade [do mercado], cada um dos atores tende a buscar um nicho para atuar”, diz Bellagamba. Para os provedores de Internet focados no mercado empresarial, a oferta de soluções de comércio eletrônico para as pequenas empresas aparece como uma oportunidade futura.

Em todo lugar Para que um aparato se enquadre no conceito de Internet das Coisas, detalha Silvio Meira, do Porto Digital, ele deve atender a alguns requisitos básicos: estar na rede, ser sem fio e múltiplo, mas identificável de forma única. Também deve obedecer ao princípio SFO (search, find, obtain), ou seja, pode ser buscado, encontrado e obtido. Além disto, tem de ser imperceptível a olho nu, porque está embarcado e embutido nas coisas, e, até por causa disto, deve ter interface invisível e carregar seu próprio plano de construção, uso e reciclagem. Por fim, deve guardar ou depositar em rede o seu rastro histórico. Colocar um aparato em rede criando um sistema


“A soberania dos dados é uma ficha que ainda não caiu” Demi Getschko Conselheiro do CGI.br, diretorpresidente do NIC.br e professor associado da PUC Campinas

significa garantir funcionalidade, disponibilidade e desempenho de forma segura. “No topo disto, é preciso ter usabilidade, resiliência e, ainda por cima, ser manutenível, como se não bastasse ter a escalabilidade. E também olhar do ponto de vista de mercado qual é o custo e o benefício, tempo de vida, time to market e roll out”, detalha Meira, para quem o problema de segurança da informação “nem começou a aparecer”. Mundialmente, acredita-se que a Internet das Coisas vai prosperar com base na ascensão da computação embutida e usável (wearable), configurando a próxima revolução na tecnologia digital. “O passo seguinte da IoT são mais aparatos conectados à rede. Esta será uma mudança importante”, afirma Sebastián Bellagamba, da Internet Society. “Agora, estamos sempre conectados. Depois, será o sempre móvel, ou seja, conectando todas as coisas que nos rodeiam.” Bellagamba aposta que este mercado ganhará maior fomento a partir dos carros conectados, algo que já está tomando forma, com algumas montadoras incorporando fibra óptica e sensores nos veículos. “Não se sabe qual modelo será o ganhador. Mais que transformar algumas indústrias, a IoT vai criar

Divulgação

modelos de negócios”, pontua, frisando que é necessário, antes de tudo, entender as mudanças de utilização por parte dos usuários. Além do carro conectado, a casa inteligente é promessa há anos. Sem traçar previsões futurísticas sobre o que vai acontecer com a Internet, Demi Getschko, conselheiro do Comitê Gestor da Internet (CGI. br), diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e professor associado da PUC Campinas, destaca a questão da privacidade como a mais delicada para a incorporação da IoT no dia a dia das pessoas. “A Internet é a rede onde teoricamente se pode saber de tudo; e a IoT deixa isto muito em evidência. Deixa as pessoas mais exploráveis”, adverte. Deve-se, portanto, discutir a fundo a privacidade dos dados. “A soberania dos dados é uma ficha que ainda não caiu”, enfatiza, ao falar que a legislação nacional é soberana em relação à internacional. Além desse debate, Getschko sugere uma análise sobre como os dados pessoais estão sendo usados, porque hoje se consegue tirar informações que antes não eram tão fáceis (para não dizer impossíveis) de se obter. abranet.org.br outubro . 2014

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artigo Eduardo Prado

Consultor de mercado em novos negócios, inovação e tendências em Mobilidade e Convergência E-mail: eprado.sc@gmail.com

Twitter: twitter.com/eprado_melo

Internet das Coisas: sem padrão, uma Torre de Babel! A Internet das Coisas vai conectar vários aspectos de nossas

vidas, desde as nossas residências e carros até os objetos que nós usamos e, também, os bens que nós consumimos. Mas uma coisa é fato: a Internet das Coisas não tem – ainda – um padrão unificador que permita a interoperabilidade entre os sensores, computadores e atuadores. Done! Em função do interesse de grandes players nesse padrão (para citar apenas alguns temos a Intel, a Qualcomm e o Google – sempre ele!), estamos caracterizando esse cenário como uma Torre de Babel! Para se ter uma ideia do cenário que nos espera em Internet das Coisas, veja esse texto:

Dispositivos inteligentes da Internet das Coisas incluem tudo, desde monitores estruturais de “saúde” para edifícios até bandejas inteligentes de ovos que sabem quantos ovos você tem em sua casa e quão velhos eles estão. Dispositivos de automação doméstica incluem o termostato Nest (leia-se Google) e duas famílias de “rivais” de sistemas de IoT para residência e saúde: ZigBee e Z-Wave. O copo inteligente Vessyl monitora exatamente o que você está bebendo, o garfo HAPIfork rastreia seus hábitos alimentares e a escova de dentes Beam mostra a sua história de escovação. Os dispositivos vestíveis (wearables) variam desde o rastreador atlético Fitbit até relógios inteligentes, roupas inteligentes e dispositivos incorporáveis biologicamente como marca-passos e monitores de glicose. Tecnologicamente, a conexão das “coisas” (ou objetos) na Internet pode ser realizada com a ajuda de vários protocolos e padrões, seja ela adotada a partir da Internet tradicional e de setores das telecomunicações (p. ex., Wi-Fi, Bluetooth, Ethernet, 3G e 4G-LTE, HTTP), seja de outras formas especificamente adaptadas para atender às limitações

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Atualmente grandes grupos – capitaneados por Intel (com Samsung), Qualcomm (com Cisco, Microsoft e LG) e Google (com a ARM, Freescale e também com a Samsung) – concorrem pelo padrão de comunicação de Internet das “Coisas”. As empresas vão competir até mesmo para algo que deveria ser livre para todos. das “coisas” conectadas. Os requisitos específicos de diferentes domínios de aplicações afetam a viabilidade de determinadas tecnologias. Mas o que existe de fato para auxiliar na conectividade das “coisas” na Internet? Existem vários mecanismos (ou protocolos), mas não há – ainda – um protocolo/padrão ÚNICO para tal função! Os provedores de tecnologia precisam concordar sobre os padrões que permitam a interoperabilidade entre os sensores, computadores e atuadores. Até existirem tais padrões, investir em aplicações de Internet das “Coisas” vai exigir um esforço extra para construir e manter os sistemas integrados. Também existirá um risco adicional em apostar em uma tecnologia errada, o que poderia atrasar mais a adoção da IoT. Atualmente grandes grupos – capitaneados por Intel (com Samsung), Qualcomm (com Cisco, Microsoft e LG) e Google (com a ARM, Freescale e também com a Samsung) – concorrem pelo padrão de comunicação de Internet das “Coisas”. As empresas vão competir até mesmo para algo que deveria ser livre para todos. A definição de um protocolo ÚNICO seria muito importante para impulsionar a Internet das “Coisas”. A complexidade dos esforços de padronização em IoT tem levantado comparações com o famoso caso da competição nos anos 80 entre os padrões de vídeo VHS e Betamax (leia-se Sony). Lembra-se dessa famosa “disputa”? E se há questões técnicas, não podemos esquecer os políticos e regulatórios. O Brasil passou um bom tempo para aprovar a Lei do Marco Civil e, depois de muitas idas e vindas, a referida Lei foi finalmente aprovada em 24 de abril deste ano pela presidente Dilma Roussef. O Marco Civil endereça alguns pontos – entre outros – sobre a privacidade do usuário no uso da Internet. Como

vemos aqui, o nosso Marco Civil já nasceu “parcialmente caduco” em função da nova realidade mundial da “Internet das Coisas”. Em termos de política pública, os líderes de governo terão que estabelecer entendimentos claros sobre os riscos de privacidade que acompanham a “Internet das Coisas”. A capacidade de colocar sensores em praticamente qualquer lugar, para observar o tráfego em uma rua residencial ou para monitorar o uso de energia elétrica de uma casa, sem dúvida, levanta sérias preocupações sobre como toda essa informação será utilizada. Percebendo os benefícios da “Internet das Coisas” no policiamento, por exemplo, pode-se exigir um nível sem precedentes de vigilância que a comunidade pode rejeitar. Entendemos que os governos têm um papel fundamental em IoT. No Brasil – até agora – o que temos de concreto em relação à IoT é uma lei capitaneada pelo MiniCom para desonerar a utilização de equipamentos de M2M. Mas precisamos de mais – de MUITO mais. Precisamos de uma maior coordenação das áreas de tecnologia do Governo em torno de IoT, precisamos de uma política de IoT, precisamos de investimentos em IoT, precisamos de universidades e centros de pesquisas envolvidos com o tema IoT, etc., ..., etc.! E para finalizar, temos um bom exemplo para o Brasil, que é um “BRIC que dá certo” – a Índia – que vai definir uma política de IoT até o final deste ano (leia o artigo “India: DoT to soon come out with policy on Internet of Things”, publicado no The Times of India de 20 de agosto de 2014 ). A iniciativa é parte do programa “Digital India” do Ministério das Telecomunicações (DoT) indiano. Realmente um bom exemplo para vários países, não?!

http://timesofindia.indiatimes.com/tech/tech-news/DoT-to-soon-come-out-with-policy-on-Internet-of-Things/articleshow/40516991.cms

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carreira

Roberta Prescott

Construa uma

base sólida Aprender inglês, conhecer os fundamentos da Internet e buscar certificações é essencial para os profissionais construírem carreira na área

Em primeiro lugar: aprenda inglês. Esta é a providên-

cia número um para aqueles que almejam entrar no mercado das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), seja montando um provedor de internet, seja trabalhando para alguma empresa do ramo. O aprendizado é fundamental porque o material de estudo para certificações, assim como todo conteúdo novo, está nesse idioma — e esperar pela tradução e/ou localização significa ficar desatualizado. Portanto, se você ainda não fala ou pelo menos lê inglês, apresse-se. Dito isto, vamos ao segundo ponto: por onde começar a estudar para construir uma base sólida para trabalhar com Internet. Não é obrigatório ou pré-requisito ter uma formação acadêmica para iniciar a carreira. Com cursos técnicos e certificações, é possível alcançar a expertise necessária para atuar na área. Antes de se matricular em cursos preparatórios para

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tentar tirar a certificação deste ou daquele fornecedor, ouça o conselho dos especialistas em treinamento, que alertam que vale mais a pena estudar os conceitos principais para obter um conhecimento básico que servirá de alicerce para a formação posterior. “São princípios que os profissionais têm de saber e que levarão para a vida toda, independentemente de qual marca usarão”, explica Paulo Espanha, desenvolvedor de negócios da CompTIA. “Procuramos evangelizar o mercado para a necessidade de se ter a base e entender os fundamentos antes de se certificar em qualquer fornecedor.” No caso específico dos provedores de Internet, Espanha destaca que eles podem ofertar serviços diversos e, mesmo que não diversifiquem tanto, é preciso entender os fundamentos de rede, de segurança, de servidores e de armazenamento. É o que Marco Filippetti, da


Exemplos de certificações CloudCampus, resume em dois tipos de especializações essenciais que todo profissional que vai trabalhar com Internet deve ter: conhecer as redes de telecomunicações e as aplicações. “A gente vê muito no mercado pessoas com pressa de fazer as coisas, mas sem a qualificação necessária. É preciso primeiro aprender o básico para depois se aprofundar, ou seja, entender o que está por trás da tecnologia antes”, pontua. Os especialistas recomendam àqueles que desejam trabalhar com Internet avaliar em qual área gostariam de atuar antes de começar os estudos. Existem diversas escolas especializadas em cursos, desde básicos até preparatórios, para as certificações dos fabricantes. Caso o profissional deseje obter certificação de algum fabricante, Filippetti recomenda que ele escolha uma empresa estabelecida e cujos cursos preparatórios sejam abrangentes, englobando aspectos dos mais simples aos mais avançados. Além do conhecimento em si, as certificações também servem como diferencial na busca por um emprego e, para os provedores de Internet, de qualificação de pessoal e, por que não, também de instrumento de marketing. Ademais dos cursos e certificações técnicas, Paulo Espanha, da CompTIA, chama atenção para a formação em gestão de projetos, essencial para quem vai gerenciar um provedor.

Modalidade e custos Com a disseminação de cursos online, a educação a distância ganhou relevância na hora de se optar por um curso. Esta modalidade também tende a ser mais barata que a convencional, presencialmente. A diferença no valor do curso varia bastante, podendo chegar a dez vezes na comparação entre o presencial e o a distância. “Via Internet, o aluno assiste a videoaulas e interage com o instrutor. Também há cursos em tempo real”, explica Filippetti, da CloudCampus. Além do valor investido no curso preparatório, cada certificação tem um preço. Na CompTIA, as certificações chamadas de entrada custam entre R$ 400 e R$ 800. Já nos fabricantes, o preço varia de acordo com o tipo e nível do certificado. Filippetti diz que uma certificação de entrada da Cisco custa, em média, US$ 300, com possibilidade de chegar a US$ 2 mil nos níveis mais avançados.

CompTIA Security+ Certifica o conhecimento e habilidades requeridas para identificar riscos e participar em atividades de mitigação; prover segurança para os níveis nas áreas de infraestrutura, aplicação, segurança operacional e de informações; aplicar controles de segurança para manter a confidencialidade, integridade e disponibilidade; identificar tecnologias e produtos apropriados, além de cuidar da operação dentro das políticas, leis e regulamentos aplicáveis.

CompTIA Network+ Verifica o conhecimento de recursos e funções da rede. O exame aborda as mais recentes capacitações necessárias para técnicos, como princípios básicos sobre como criar uma rede segura; atesta a capacidade de selecionar, conectar, configurar e solucionar problemas básicos de hardware de rede, incluindo a tecnologia sem fio.

CompTIA Server+ Certifica os conhecimentos e as habilidades necessárias para construir, manter, solucionar problemas e oferecer suporte de hardware de servidor e tecnologias de software; capacidade de identificar as questões ambientais; compreender e cumprir com recuperação de desastres e procedimentos de segurança física / software; estar familiarizado com a terminologia e conceitos da indústria; compreender o servidor, suas funções/especializações e a sua interação no ambiente de computação em geral.

CompTIA Storage+ Certifica o conhecimento e as habilidades necessárias para configurar redes básicas para incluir as tecnologias de arquivar, backup e restauração; capacidade de compreender os fundamentos da continuidade do negócio, carga de trabalho de aplicativos, integração de sistemas e armazenamento/administração do sistema. Fonte: CompTIA

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ENTREVISTA Milton Kaoru Kashiwakura Diretor de Projetos Especiais e de Desenvolvimento do NIC.br Roberta Prescott

Por mais autonomia Seja para mitigar problemas na hora de trocar de provedor de trânsito, seja para manter sigilo sobre a sua operação, os provedores de Internet – principalmente os pequenos – que ainda não são sistemas autônomos (AS, na sigla em inglês) precisam se apressar. Atualmente, existem cerca de 2.800 AS no Brasil, mas há espaço para um número bem maior, conforme Milton Kaoru Kashiwakura, diretor de Projetos Especiais e de Desenvolvimento do NIC.br, explica nesta entrevista exclusiva à Revista Abranet. O especialista também comenta como o Brasil se preparou para o aumento de tráfego durante a Copa do Mundo e as lições que podem ser aplicadas aos Jogos Olímpicos. Revista Abranet – Hoje o Brasil tem poucos

sistemas autônomos (AS, na sigla em inglês). Há espaço para mais? Milton Kaoru Kashiwakura – Todos os provedores de acesso à Internet deveriam ser sistemas autônomos. Hoje temos na ordem de 2.800 AS, pouco se comparado com os Estados Unidos ou Europa. Há espaço para mais sistemas autônomos, que poderiam ser pedidos por provedores de conteúdo, governos e grandes empresas de mídia. A quantidade de AS que poderiam participar de Pontos de Troca de Tráfego (PTTs) também poderia ser maior. Muitas vezes, os ISPs desconhecem se podem, ou não, ser AS. Nem todo provedor de Internet é AS. Por que os ISPs deveriam se preocupar com isto? Sistemas autônomos são instituições que querem ter bloco de endereçamento IP independente do provedor de trânsito. Isto significa que, quando a empresa quiser mudar de provedor de trânsito, o IP será independente dele e ela não precisará remunerá-lo pela rede. Quando não se é AS, o ISP precisa fazer a renumeração sempre que mudar de provedor de trânsito, que detém o endereço IP.

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Esta situação também torna mais fácil para os provedores de trânsito mapearem, por exemplo, qual é a taxa de crescimento dos ISPs, e isto, em termos de mercado, é informação estratégica, pois pode mostrar as regiões que estão crescendo, tendo sucesso. Por que muitos ISPs, principalmente os pequenos, ainda não são sistemas autônomos? Estamos tentando mapear isto. Minha hipótese é que em grande parte pode ser por desconhecimento, e é preciso desmitificar. Os ISPs que não fizerem o movimento para se tornarem AS terão problemas operacionais. O que um pequeno provedor precisa fazer para se tornar um sistema autônomo? Basta preencher um cadastro no Registro.br do NIC.br e solicitar o bloco de endereçamento IP e, somente no primeiro pedido, também o Autonomous System Number (ASN). Como está a troca de tráfego atualmente? Houve crescimento desde o começo do ano; de dezembro a julho, quase dobramos a troca de tráfego. Saímos de 300 Gbps para perto de 600 Gbps em julho.


Quais foram as lições aprendidas para usar nos Jogos Olímpicos, daqui a dois anos? Com os Jogos Olímpicos é diferente, porque se realiza em uma única cidade e são várias modalidades ocorrendo paralelamente e em vários períodos, enquanto na Copa do Mundo havia um espaçamento entre as partidas. Na Copa, tivemos, no máximo, três períodos de cerca de duas horas em um dia. Nos Jogos Olímpicos, não; a transmissão será de vários eventos durante vários dias e sem interrupções por um determinado número de horas, portanto, o tráfego vai ser mais distribuído. O ponto central vai ser a preparação do Rio de Janeiro, que precisa melhorar a cidade como um todo e isto inclui aprimorar sua infraestrutura de fibra, que precisará ter capacidade de escoar o tráfego. Mas eu diria que a infraestrutura preparada para a Copa vai ser útil para transmitir os Jogos Olímpicos.

Por quê? Em decorrência das ações preventivas voltadas para a Copa do Mundo, a preparação da infraestrutura para o aumento de tráfego durante o evento, além do efeito de provedores de vídeos como o Netflix e YouTube. Como você avalia os resultados da preparação da infraestrutura? Os resultados foram bons. Os grandes provedores de conteúdo prepararam suas infraestruturas. O conteúdo gerado foi bem escoado para os usuários. Quais foram as principais ações feitas? Houve um período de congelamento que começou 30 dias antes da primeira partida da Copa e foi até o fim do evento, em 13 de julho. Esse congelamento referiu-se a pedidos de novos participantes e de aumento de capacidade. O período entre maio e junho nós usamos para avaliar se as configurações da infraestrutura estavam adequadas e fazer ajustes. Depois desse pente-fino, não mexemos mais em infraestrutura, e não teve nenhuma ocorrência. A estrutura foi bem dimensionada, ou seja, não houve gargalo.

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Você mencionou que a cidade do Rio precisa melhorar. O que efetivamente tem de ser feito? Eu diria que é necessário melhorar a infraestrutura da cidade como um todo. Vários locais, como os hotéis, precisarão ter uma boa capacidade para suportar o aumento de tráfego de Internet, mas com pequenos ajustes em relação ao que foi feito para a Copa já resolve. Quanto são os pontos de troca de tráfego (PTTs) hoje? Hoje operamos 26 PTTs e não acho que vá passar muito deste número, porque PTT só é necessário quando há concentração de provedores. Pontos de troca de tráfegos pequenos acabam não sendo viáveis, porque PTTs servem para juntar interesses mútuos de provedores de acesso e de conteúdo. Com a quantidade de 26 PTTs, o Brasil já está bem atendido. Há vários candidatos, mas economicamente pode não ser viável, porque quando se monta a infraestrutura espera-se que haja muitos participantes. Se não houver, não é interessante, porque não gera tráfego. Mas novos PTTs serão implantados? Devemos colocar alguns PTTs pilotos para ver se é viável ou não, tanto economicamente quanto do ponto de vista de tráfego. Quando recebemos as candidaturas, analisamos se tem infraestrutura adequada e o número de participantes.

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INFRAESTRUTURA

Aliados e competidores

As operadoras over-the-top (OTT) – empresas que oferecem serviços que rodam sobre a Internet – representam um desafio para os donos da rede. Mas, em vez de combatê-las, os ISPs têm a opção de unir-se a elas Algumas operadoras móveis e provedores de In-

ternet enxergam as empresas que oferecem serviços que rodam sobre a rede de banda larga, conhecidos como over-the-top (OTT), como concorrentes que canibalizam parte de sua receita, mas ao mesmo tempo tais aplicativos e serviços incentivam a contratação de planos de Internet banda larga. Há quem aponte que ofertas como WhatsApp, WeChat, Line, Skype, Viber e Netflix podem complementar e não competir com as operadoras de telecomunicações ou com os provedores de Internet, os donos das redes. “Posso ser aliado das operadoras e dos provedores”, enfatiza o gerente-geral para o Brasil do Viber, Luiz Felipe Barros. Sem revelar quais são, o executivo conta que está conversando com algumas telcos para fechar parcerias para, por exemplo, prover acesso grátis ao Viber, nos

mesmos moldes que Twitter e Facebook têm com algumas operadoras. “Nada estimula mais o uso de Internet móvel que aplicativos como o Viber. E dados são a melhor receita que a operadora pode ter, porque a margem é alta.” Recentemente, o Twitter e a Oi anunciaram uma parceria para os clientes da operadora terem o direito de acessar gratuitamente o Vine, plataforma do Twitter de vídeos de até seis segundos. O mesmo ocorre com os provedores de Internet. Para Barros, o uso de programas de comunicação estimula o internauta a querer uma Internet melhor. O diretor de Operações (CTO) da Huawei para a América Latina, José Augusto de Oliveira Neto, concorda que os donos das redes estão aprendendo a colaborar com as OTTs. No entanto, o executivo chama a atenção para as consequências desse fenômeno. Ele defende que à medida que os

“É preciso levar a fibra óptica o mais perto possível do cliente para suprir a demanda que se cria” José Augusto de Oliveira Neto | CTO da Huawei para a América Latina

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“Nada estimula mais o uso de Internet móvel que aplicativos como o Viber. E dados são a melhor receita que a operadora pode ter, porque a margem é alta” Luiz Felipe Barros Gerente-geral para o Brasil do Viber internautas aumentam o consumo do conteúdo das OTT amplia-se a necessidade por mais banda. “É preciso levar a fibra óptica o mais perto possível do cliente para suprir a demanda que se cria”, ressalta.

Neutralidade No Brasil, o Viber, aplicativo para troca de mensagens e ligações via Internet, nunca sofreu tentativa de restrição de banda, seja por parte das operadoras móveis, seja por parte dos ISPs. A afirmação foi feita pelo gerente-geral para o Brasil do Viber em meio às discussões sobre a neutralidade de rede, principalmente, após a entrada em vigor do Marco Civil da Internet. Segundo o princípio da neutralidade de rede, não se pode privilegiar ou prejudicar um aplicativo em detrimento de outro, ou seja, tem de haver tratamento isonômico na oferta de quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo. Em entrevista exclusiva ao site da Abranet, Barros disse que a empresa monitora as redes e que no País nunca esbarrou em problemas, pelo menos por enquanto. “Temos tecnologia para identificar qualquer restrição ou limitação de banda. Monitoramos constantemente o desempenho.” O Viber tem hoje no País 17 milhões de usuários ativos (aqueles que utilizam o aplicativo pelo menos uma vez no mês) e 400 milhões mundialmente. O número é

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bastante inferior ao registrado pelo maior concorrente; o executivo estima que o WhatsApp tenha por volta de 50 milhões de usuários no Brasil. Para Barros, a liderança do WhatsApp no mercado brasileiro pode ser explicada pela pouca qualidade da banda larga, já que o concorrente tende a ser o número um nos mercados onde a Internet é ruim, enquanto o Viber é líder nos lugares onde ela é rápida. No Brasil, são quatro os principais aplicativos de trocas de mensagens e ligações VoIP (voz sobre IP): WhatsApp, Viber, WeChat e Line. Desde que começou a operar formalmente no País, com escritório próprio, em janeiro deste ano, o Viber viu sua base crescer. A meta é fechar 2014 com 20 milhões de usuários. Barros explica que a monetização se dá por meio da venda das figurinhas (stickers) e das ligações para telefones fixos e celulares (Viber Out). Em breve, serão lançados mundialmente jogos para os usuários, além de dois novos recursos. Um deles é o vídeo para celular em alta definição. A disseminação de TVs cada vez mais conectadas é outro impulsionador da demanda por banda larga fixa, tanto por incremento na velocidade, quando no que tange a melhor estabilidade e qualidade do tráfego de Internet. “O lançamento das TVs 4K e a oferta de conteúdos online vão provocar uma explosão da banda larga fixa”, afirma Oliveira Neto, (CTO) da Huawei para a América Latina. abranet.org.br outubro . 2014

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opinião Raissa Bressanim Tokunaga Advogada, sócia da Área Trabalhista do escritório Nomura Riva Advogados. Faz assessoria para o Sindicato das Empresas de Internet do Estado de São Paulo (SEINESP)

A participação nos lucros e resultados como instrumento de gestão do negócio Embora o cenário econômico não esteja tão próspero

quanto se esperava, atualmente, as empresas estão sendo cada vez mais pressionadas a distribuírem uma fatia do bolo dos seus lucros aos trabalhadores. Como uma bandeira de conquista de direitos, os sindicatos profissionais estão incluindo na pauta de reivindicações para negociação coletiva a obrigatoriedade de distribuição de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) pelas empresas. Em contrapartida, de seu lado, as organizações continuam numa busca desenfreada pela redução dos custos com folha de pagamento, mediante incentivo aos trabalhadores para que produzam mais, em menos tempo e com a mesma qualidade. O que talvez ainda não se tenha reparado – especialmente as pequenas e médias empresas – é que a PLR pode ser um importante instrumento nessa conjugação de interesses que, num primeiro momento, parece conflitante. Mas, afinal, o que é a PLR? De um modo informal,

trata-se de uma parcela variável paga aos empregados, que guarda uma relação direta com a performance da empresa e a dedicação de todos. Ou seja, estipulam-se metas por determinado período de apuração e os empregados concorrem para o atingimento. Nada muda na rotina empresarial, pois o trabalhador que recebe PLR não se torna sócio do empregador por esse motivo, nem a recebe como contraprestação dos serviços prestados. Além disso, o empregado continua não assumindo os riscos da atividade econômica da empresa, ou seja, não participando de eventuais prejuízos do negócio. A PLR é um direito previsto na Constituição Federal de 1988. A primeira característica importante dessa verba é que não está associada ao pacote de remuneração do empregado1. Esse fato, por si só, já implica grande progresso sob a ótica empresarial, pois o valor distribuído a título de PLR não gera reflexos em décimo terceiro salário, férias, aviso-prévio e FGTS. Além disso, também não constitui base de recolhi-

Afinal que é a PLR? De um modo informal, trata-se de uma parcela variável paga aos empregados, que guarda uma relação direta com a performance da empresa e a dedicação de todos. Ou seja, estipulamse metas por determinado período de apuração e os empregados concorrem para o atingimento 20

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O ápice do sucesso de um Plano de PLR é a harmonização do grupo de trabalhadores envolvidos, que, mantendo um objetivo comum com o empregador de colaboração na gestão empresarial, atinja metas e resultados e usufrua-os economicamente. No entanto, o empresário precisa ter cautela ao tomar a decisão de ter um Plano de PLR na sua empresa, pois existem algumas formalidades criadas por lei que devem ser rigorosamente observadas fato, liberar o empregador do excesso dos encargos sociais e estimular a concessão do benefício. Nesse cenário, o ápice do sucesso de um Plano de PLR é a harmonização do grupo de trabalhadores envolvidos, que, mantendo um objetivo comum com o empregador de colaboração na gestão empresarial, atinja metas e resultados e usufrua-os economicamente. No entanto, o empresário precisa ter cautela ao tomar a decisão de ter um Plano de PLR na sua empresa, pois existem algumas formalidades criadas por lei que devem ser rigorosamente observadas.

As regras para o Plano de PLR

mento de INSS, ou seja, a empresa não efetua recolhimento previdenciário sobre o montante distribuído a título de PLR. E, para completar, o imposto de renda também é diferenciado, sendo tributado em separado dos demais rendimentos de cada trabalhador e de acordo com uma tabela progressiva. Em 2014, os valores recebidos até R$ 6.270,00 estão isentos de recolhimento de imposto de renda. O que se observa, então, é que tanto a empresa quanto o trabalhador se beneficiam com a distribuição de PLR, consistente em acréscimo de ganhos versus não incidência de encargos trabalhistas e previdenciários. Busca-se, de

As regras para implementação de um Plano de PLR estão descritas na Lei nº 10.101/2000, que no ano de 2013 teve modificações introduzidas pela Lei nº 12.832. Primeiramente, temos que partir da premissa que o Plano de PLR deve ser extensivo a todos os empregados da empresa, sob pena de se configurar prática discriminatória. A ideia central desse instituto é a participação de todos os empregados para aumentar o resultado financeiro do negócio. Na prática, o conceito engloba duas possibilidades: distribuição de lucro (ganho positivo do ponto de vista contábil) e/ou de resultado (produto de metas preestabelecidas para cumprimento). Na primeira situação a empresa apura somente se houve lucro durante o período de apuração estipulado. Na segunda, os empregados são avaliados objetivamente se alcançaram o objetivo inicialmente acordado. Pode haver, ainda, a associação abranet.org.br outubro . 2014

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Embora o Plano de PLR deva ser elaborado para todos os empregados da empresa, é possível que cada área possua metas diferenciadas, de modo que o montante a ser distribuído a cada setor não seja o mesmo. Quanto à periodicidade de pagamento, é vedada a distribuição de PLR em mais de 02 vezes no mesmo ano civil e em periodicidade inferior a 01 trimestre civil desses dois elementos, sendo o lucro um gatilho para a distribuição de resultados (metas) de acordo com o atingimento de cada pessoa/setor. Há duas formas de implantação de Plano de PLR, por meio de procedimentos escolhidos de comum acordo pelas partes, podendo ser viabilizada por: (i) formação de comissão paritária de trabalhadores escolhida pelas partes ou (ii) convenção ou acordo coletivo de trabalho. Na primeira hipótese - comissão paritária escolhida pelas partes -, esta tem poder de decisão e o sindicato profissional participa como integrante desse grupo. Cada representante, incluindo aquele indicado pelo sindicato, possui direito a um voto e a maioria vence. Não há indicativo na lei tratando sobre qual é a forma de constituição dessa comissão, de modo que o número de membros fica a cargo da própria empresa, podendo especificá-lo por setor existente, ou ramo de atividade, ou mesmo aleatoriamente. O ideal é a formação da comissão por meio de representantes por setor da empresa, de forma a idealizar os anseios da totalidade dos empregados. Quanto ao procedimento para sua formação, entendemos necessária a realização de uma eleição dentro da empresa, com a possibilidade de participação de todos os trabalhadores interessados, desde gerentes até dirigentes sindicais. Após aprovado o Plano conforme os votos dos membros da comissão, o instrumento firmado pelas partes deve ser arquivado na entidade sindical dos trabalhadores. Na segunda hipótese, estamos

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de frente com as negociações coletivas de trabalho, sendo que nesse caso o sindicato atua como uma das partes (o representante dos empregados), e o fruto dessa negociação será uma convenção ou um acordo coletivo de trabalho. Num primeiro momento, as convenções coletivas que tratavam de PLR não eram vistas com bons olhos, pois numa negociação coletiva estão envolvidas todas as empresas de uma mesma categoria econômica, o que poderia causar graves distorções. Isso porque, de fato, tanto o pequeno empresário quanto a empresa multinacional ficavam submetidos aos mesmos parâmetros, o que poderia desestimular parcela de trabalhadores com possibilidades de negociações melhores com seus empregadores, tanto em relação aos ganhos quanto à fixação de metas. Outro aspecto importante a ser observado é o conteúdo do Plano de PLR, que deve conter regras claras e objetivas, inclusive com a periodicidade da distribuição, período de vigência e prazos para revisão do acordo, levando em consideração, dentre outros possíveis aspectos, (i) os índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa; (ii) os mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado; e/ou (iii) programa de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. Outra regra curiosa instituída em 2013 foi a impossibilidade de se estabelecerem metas referentes à saúde e segurança no trabalho, tais como redução de acidentes e limites de licenças médicas. A justificativa que encontramos para


essa restrição feita pela lei é o fato de que a manutenção de um ambiente de trabalho seguro e saudável é uma obrigação exclusiva do empregador. E embora o Plano de PLR deva ser elaborado para todos os empregados da empresa, é possível que cada área possua metas diferenciadas, de modo que o montante a ser distribuído a cada setor não seja o mesmo. Quanto à periodicidade de pagamento, é vedada a distribuição de PLR em mais de 02 vezes no mesmo ano civil e em periodicidade inferior a 01 trimestre civil. Vale dizer que é muito característico que os Planos de PLR condicionem o seu recebimento ao fato de o contrato de trabalho do empregado estar em vigor na data da distribuição dos lucros ou no final do período de apuração (ex. 31 de dezembro do ano-base). Contudo, o Tribunal Superior do Trabalho já definiu que o trabalhador tem direito ao pagamento da parcela de forma proporcional aos meses trabalhados, pois concorreu para os resultados positivos da empresa2. Sob o ponto de vista fiscal, nossa legislação não limita o valor pago a título de participação nos lucros, mas confere segurança jurídica ao empregador possibilitando a dedução de valores pagos como despesa operacional para efeito de apuração do lucro real. Além disso, vale mencionar que é possível a compensação de valores de PLR, pagos espontaneamente pelo empregador, com as obrigações decorrentes de instrumentos coletivos que instituam o mesmo título. Caso a negociação de PLR da empresa resulte em impasse, a lei diz que a questão deve ser resolvida por mediação ou arbitragem. No entanto, o que se denota é que os sindicatos, ao instaurarem dissídios coletivos perante a Justiça do Trabalho, comumente inserem uma cláusula de negociação de PLR.

Apenas para ilustrar, recentemente, no último dia 11 de julho, foi publicado acórdão pelo Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo no dissídio coletivo de greve da categoria de trabalhadores em processamento de dados e tecnologia da informação do Estado de São Paulo, processo nº 10002297320145020000, em que houve pronunciamento da matéria. A Justiça do Trabalho julgou de acordo com sua diretriz interna sobre o tema3 e decidiu que todas as empresas da categoria possuem o prazo de 60 dias para estruturação de um Plano com eleição de comissão, sob pena de multa diária de 10% do salário normativo em caso de descumprimento. E mais: as empresas que já possuem um Plano de PLR têm obrigação de mantê-lo. Numa simples análise, entendemos que o Tribunal extrapolou a lei, já que conferiu estabilidade de 180 dias aos membros das comissões de PLR eleitos pelos empregados, a contar da data da eleição.

Conclusão Ante o exposto, fato é que pouco a pouco as empresas terão que implementar um Plano de PLR, seja em função da pressão dos sindicatos e do Governo, seja em razão da necessidade de uma melhoria na sua produtividade. Observadas as disposições legais e cautelas necessárias apresentadas anteriormente, ousamos dizer que as empresas possuem um poderoso instrumento de motivação aos seus empregados. Além de servir como estímulo para retenção de talentos, um Plano de PLR bem elaborado repercute positivamente na produção e não possui encargos trabalhistas e previdenciários para empresa. Vale a pena refletir sobre o assunto!

1

A participação nos lucros e resultados é constitucionalmente destinada aos empregados, e não há que se falar em distribuição dessa verba para os representantes que não forem registrados, como os diretores estatutários.

2

Súmula 451 do TST: “PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. RESCISÃO CONTRATUAL ANTERIOR À DATA DA DISTRIBUIÇÃO DOS LUCROS. PAGAMENTO PROPORCIONAL AOS MESES TRABALHADOS. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. Fere o princípio da isonomia instituir vantagem mediante acordo coletivo ou norma regulamentar que condiciona a percepção da parcela participação nos lucros e resultados ao fato de estar o contrato de trabalho em vigor na data prevista para a distribuição dos lucros. Assim, inclusive na rescisão contratual antecipada, é devido o pagamento da parcela de forma proporcional aos meses trabalhados, pois o ex-empregado concorreu para os resultados positivos da empresa.”

3

PRECEDENTE NORMATIVO Nº 35 - PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU RESULTADOS: 1. Empregados e empregadores terão o prazo de 60 (sessenta) dias para a implementação da medida que trata da participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas, sendo que para tal fim deverá ser formada, em 15 (quinze) dias, uma comissão composta por 3 (três) empregados eleitos pelos trabalhadores e igual número de membros pela empresa (empregados ou não) para, no prazo acima estabelecido, concluir estudo sobre a Participação nos Lucros (ou resultados), fixando critérios objetivos para sua apuração, nos termos do artigo 7º, inciso XI, da Constituição Federal, sendo assegurada aos Sindicatos profissional e patronal a prestação da assistência necessária à condução dos estudos. 2. O desrespeito aos prazos acima pelo empregador importará em multa diária de 10% (dez por cento) do salário normativo até o efetivo cumprimento, revertida em favor da entidade sindical dos trabalhadores. 3. Aos membros da Comissão eleitos pelos empregados será assegurada estabilidade no emprego por 180 (cento e oitenta) dias, a contar da data da eleição.

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ecossistema

Pela primeira vez, a capital mineira sediou um evento da Abranet. Nos dias 26 e 27 de agosto, o encontro “Desafios e Oportunidades para os Profissionais de Internet” foi palco de debates sobre temas como migração para o IPv6; novos modelos de aquisição de infraestrutura, com destaque para o Sistema Nacional de Oferta no Atacado (SNOA); marco regulatório, particularmente o impacto do Marco Civil da Internet, e novas tendências tecnológicas.

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Em Belo Horizonte, provedores debatem

como aumentar a competitividade Autoridades e especialistas participaram do evento, entre eles, o

secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, Narcio Rodrigues, e o diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC. br), Demi Getschko. Presente também ao encontro, o gerente de Controle de Obrigações Gerais da Anatel, Jovino Francisco Filho, advertiu que cerca de 20% das 4,5 mil empresas que operam o Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) são objeto de processos na Anatel por terem deixado de pagar a Taxa de Fiscalização de Funcionamento (TFF). Antonio Moreiras, gerente de Projetos e Desenvolvimento do Centro de Estudos e Pesquisas em Tecnologias de Redes e Operações (CEPTRO. br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), disse que, dos cerca de 71% dos sistemas autônomos que já pediram os blocos IPv6 para o NIC.br, somente 20% efetivamente estão fazendo algum uso desse novo ambiente de rede. Para Moreiras, o Brasil continua atrasado na migração e precisa urgentemente correr com o processo. O especialista enfatizou que a manutenção do protocolo Network Address Translation (NAT) irá trazer problemas para os provedores que continuarem protelando a migração para o IPv6, porque poderá concentrar os atuais modelos de negócio que ocorrem na rede de Internet em alguns dos principais players do mercado. Mais que discutir o presente e o futuro da Internet, o seminário da Abranet proporcionou a troca de informações entre provedores, autoridades e especialistas. Veja a cobertura completa no site da Abranet - www.abranet.org.br

Assista aos vídeos das palestras http://www.abranet.org.br/Desafios-e-Oportunidades-para-Profissionais-de-Internet---Agosto-2014-11


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Assista aos vĂ­deos das palestras http://www.abranet.org.br/Desafios-e-Oportunidades-para-Profissionais-de-Internet---Agosto-2014-11


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conexão

ISPs impulsionam demanda por fibra óptica A necessidade de ofertar velocidades cada vez

maiores para conexão à Internet, melhorar o desempenho das redes e deixá-las mais estáveis tem levado provedores de Internet a adotarem a fibra óptica. “Muitos ISPs estão demonstrando interesse em migrar de rádio para fibra (FTTH)”, aponta Alessandro Mazzafiori, diretor da Redex Telecom. Somente na Furukawa, a demanda por redes de fibra óptica pelos ISPs cresceu de modo significativo. “Multiplicou de quatro a cinco vezes nos últimos dois anos. Parte deste boom foi motivada pelo Plano Nacional da Banda Larga (PNBL) e pelo aumento da necessidade por capacidade de banda”, diz o gerente-geral, Celso Motizuqui. Uma das explicações para o aumento da procura está na própria história dos provedores. Ao começar a atuar, muitas empresas, primeiro, implantam rádios para a oferta de Internet, devido ao baixo investimento inicial. No entanto, este tipo de tecnologia não oferece altas velocidades e é mais instável, o que faz com que os provedores evoluam para fibra óptica. “Os provedores de Internet também estão preocupados com a chegada das grandes operadoras nas cidades onde atuam”, destaca Mazzafiori. Além disto, a inclusão da fibra óptica no Finame, uma linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltada para a aquisição de máquinas e equipamentos nacionais, está impulsionando a adoção da tecnologia. Mazzafiori revela que pelo menos 100 ISPs atendidos pela Redex Telecom já iniciaram a conversão de rádio para fibra óptica — a maior parte deles está localizada em Minas Gerais. O diretor da Redex diz ter começado a perceber este movimento no início de 2013, e conta que ele se intensificou no segundo semes-

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“Os provedores de Internet também estão preocupados com a chegada das grandes operadoras nas cidades onde atuam” Alessandro Mazzafiori | D iretor da Redex Telecom tre daquele ano. Como consequência, a companhia viu seu faturamento com ISPs dobrar. O caso da Furukawa é parecido. A empresa de infraestrutura de redes de comunicação recebe, por dia, cerca de cinco solicitações de informações sobre fibra óptica por parte de provedores que estão planejando montar um projeto. Na opinião do gerente-geral, Celso Motizuqui, o custo do equipamento para montar a rede baixou muito e hoje é possível começar uma operação com investimento de R$ 50 mil para ligar os primeiros 50 assinantes. “Depois, o provedor vai incrementando. Há cinco anos, custava de três a quatro vezes mais do que hoje.” Motizuqui também explica que a tecnologia evoluiu para deixar a fibra um produto de fácil manuseio e, portanto, diminuir os gastos com a operação.


A alternativa white space Ainda não regulamentado pela

Anatel no Brasil, o uso dos chamados white spaces — ou espaços em branco, em português — pode ser uma alternativa para os provedores de Internet que queiram aumentar o alcance do sinal para oferta de banda larga via rádio, principalmente, em localidades remotas ou de difícil acesso. O termo white spaces refere-se a frequências atribuídas a um serviço de radiodifusão, mas que não são utilizadas localmente. Estes espaços em branco estão na faixa entre 470 MHz e 698 MHz e, portanto, conseguem atingir uma área maior de cobertura. Alguns países já liberaram o uso em algumas localidades. “Nos Estados Unidos e na Inglaterra, [a faixa] está regulamentada. Nestes países, a penetração de TV a cabo ou via satélite é alta”, explica Juliano J. Bazzo, da gerência de sistemas de comunicações sem fio do CPqD. No Brasil, como a TV aberta ainda prevalece, a regulamentação deve demorar, visto que esta faixa para serviços de banda larga pode interferir no sinal da TV analógica. Ainda assim, o CPqD começou em 2010 um projeto que levou ao desenvolvimento de um sistema de rádios cognitivos que usam essa frequência. Esse tipo de rádio melhora o aproveitamento do espectro eletromagnético, que hoje se encontra congestionado em função do uso cada vez mais in-

tenso das redes de comunicação sem fio nas faixas de 2,4 GHz e 5,8 GHz. Uma das funcionalidades do rádio cognitivo é detectar as frequências do espectro eletromagnético que não estão sendo utilizadas ou que têm pouca interferência e, por meio de algoritmos específicos, fazer a alocação dinâmica nesses espaços vazios. De acordo com o CPqD, um dos resul-

tados do projeto desenvolvido é uma plataforma de roteador mesh cognitivo, que deverá se transformar em produto quando o acesso dinâmico ao espectro for regulamentado no País. Bazzo lembra que, em 2010, a Anatel fez um workshop com empresas atuantes nos setores envolvidos para discutir o uso dos white spaces. “Acho que é uma questão de tempo a aprovação [do uso da faixa]”, aponta, ao falar da necessidade de se buscar alternativas para a oferta de banda larga. Como os espaços em branco ocupam uma frequência baixa, a propagação da Internet tem maior alcance. “Dependendo da potência do rádio, a cobertura pode ser três a quatro vezes maior.”

“Acho que é uma questão de tempo a aprovação [do uso da faixa]. Dependendo da potência do rádio, a cobertura pode ser três a quatro vezes maior.” Juliano J. Bazzo | Gerência de sistemas de comunicações sem fio do CPqD abranet.org.br outubro . 2014

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Quem está emplacando projetos no REPNBL Até agora, apenas uma empresa teve

projetos aprovados pelo Ministério das Comunicações no Regime Especial de Tributação do Plano Nacional de Banda Larga (REPNBL), mas há pedidos ainda em análise – todos para implantação de redes de transporte e acesso em fibras ópticas. O REPNBL garante isenção de PIS e Cofins, além de IPI, na implantação de novas redes de telecomunicações. Foram dois os projetos aprovados, no total de R$ 28 milhões, ambos da ViaReal, um provedor baseado em Conselheiro Lafaiete, mas que atende outras oito cidades da região, em Minas Gerais. Pelo critério da Anatel, que lista para ele 11,6 mil acessos, é um pequeno provedor.

Segundo o diretor de Indústria, Ciência e Tecnologia do Ministério das Comunicações, José Gontijo, há pedidos de outras duas empresas do mesmo porte, com projetos semelhantes na ordem de R$ 30 milhões a R$ 40 milhões. “Todos são de FTTH [Fiber-to-the-Home]”, revela. O REPNBL claramente não foi desenhado para atender às pequenas empresas, devido à interdição expressa a op-

tantes do Simples. O diretor do Minicom reconhece que a restrição a empresas que declaram sob o Simples Nacional foi uma barreira óbvia para a maioria dos pequenos provedores do país. Quando apresentou o REPNBL, ainda sob a forma da Medida Provisória 563, em 2012, o governo já optara pelas restrições, fazendo incluir no texto que “as pessoas jurídicas optantes pelo Simples Nacional não poderão aderir ao REPNBL-Redes”. Com as restrições às empresas de menor porte, não surpreende que os dois maiores grupos de telecom no país, América Móvil e Telefônica, liderem o número de pedidos.

O REPNBL claramente não foi desenhado para atender às pequenas empresas, devido à interdição expressa a optantes do Simples

SDN também é útil para provedores de Internet Você certamente já ouviu falar em redes defini-

das por software (SDN, na sigla para software-defined networking). As mudanças impulsionadas por um modelo baseado em aplicações sob demanda vão forçar uma transformação nas redes, pois requerem um novo gerenciamento. “Recursos computacionais e de armazenamento supriram a necessidade até há pouco tempo, mas não suportam a alta demanda por conectividade que temos agora”, afirma Fabio Medina, gerente-geral para América Latina da Ciena. É por isto que esta tecnologia também será útil para os

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provedores de Internet. “Há uma vantagem enorme para os ISPs, mesmo para aqueles que não dispõem de rede própria”, pontua Medina. A explicação é que eles ganham flexibilidade e conseguem gerenciar melhor a largura de banda para prover capacidade sob demanda aos clientes. Entre os principais motivos que deverão ajudar a popularizar a adoção de SDN estão a monetização e a otimização da rede. Mas para ampliar a implantação será preciso trabalhar mais os padrões abertos, a integração e a interoperabilidade dos sistemas. Nas palavras de Medina, será preciso convencer alguns fornecedores desta necessidade.


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