Vice-Presidente de Relações Públicas da Huawei América Latina e Caribe
Zhuli
Vice-Presidente de Relações Públicas da Huawei Brasil
Cintia Lima
Diretora de Relações Públicas da Huawei Brasil
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Direção Editorial Ana Paula Lobo
Edição Bia Alvim
Reportagem / Redação Carmen Lúcia Nery
Fábio Barros
Luís Osvaldo Grossmann
Roberta Prescott
Solange Calvo
Suzana Liskauskas
Edição de Arte e Diagramação
Pedro Costa
ÍNDICE
04
06
11
CARTA AO LEITOR
Transformação digital no Brasil avança com o 5G Por Gao Kexin, CEO da Huawei Brasil
5G ESCREVE O FUTURO DIGITAL NO BRASIL
Ritmo inédito de implementação e opção pela versão mais moderna da tecnologia promovem uma revolução no País
5G COLOCA O BRASIL EM POSIÇÃO ÚNICA NO CENÁRIO MUNDIAL
Entrevista exclusiva com Carlos Baigorri, presidente da Anatel - Agência Nacional de Telecomunicações
15
JOGADA DE MESTRE: A OPÇÃO PELO 5G PURO
A exigência do padrão 5G SA para algumas frequências colocou o Brasil na dianteira, mas ainda falta avançar em redes e, principalmente, em aplicações.
19 MAIS UM PASSO À FRENTE
Com os Releases 18 a 20, a telefonia móvel avança para o 5.5G, que promete abrir espaço para novos modelos de negócios, essenciais para a monetização futura da rede.
22 GOVERNO DIGITAL SÓ EXISTE COM CONECTIVIDADE
Entrevista exclusiva com Rogério Mascarenhas, secretário de Governo Digital - Governo Federal
25 REDES PRIVATIVAS DESLANCHAM NO PAÍS
Está na hora de sentar, planejar e fazer conta para o investimento acontecer
28 DE OLHOS BEM ABERTOS PARA A SEGURANÇA
Com o crescimento exponencial das redes 5G, os desafios estão nos mecanismos de proteção dos dados usados nas aplicações desenvolvidas por milhares de empresas.
30
CONECTIVIDADE NAS RODOVIAS PRECISA DE PLANO B
Com a frustração da cobertura prevista no leilão do 5G, mercado espera faixa de 700 MHz para conectar 35 mil km de estradas
32 UMA LUZ NO APAGÃO DE TALENTOS
Missão do programa Huawei ICT Academy no Brasil é fechar 2024 com 20 mil pessoas capacitadas em tecnologias emergentes para sustentabilidade do mercado Globalmente, até 2027, serão mais de 1 milhão.
35 IPV6 CHEGOU ÀS REDES E AOS USUÁRIOS. E AGORA?
Migração para o novo padrão no mercado brasileiro avançou bem nos últimos anos entre provedores de internet e fabricantes de equipamentos. Agora, falta que os provedores de conteúdo façam sua parte.
38
FUTURECOM: UMA VITRINE DE INOVAÇÕES
Huawei adota o lema ‘Conectividade com Inteligência’ para apresentar o estado da arte da tecnologia no evento, que acontece de 08 a 10 de outubro em São Paulo, com 5.5G, WiFi 7, 50 GPON, FTTO, soluções empresariais de network e muito mais.
CARTA AO LEITOR GAO KEXIN CEO da Huawei Brasil
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NO BRASIL AVANÇA COM O 5G
É COM MUITA SATISFAÇÃO que apresentamos a você, leitor, a nova edição da Revista da Huawei, uma publicação que busca refletir sobre os impactos das tecnologias digitais no desenvolvimento econômico e social do Brasil. Neste número, em especial, fazemos um debate sobre o impacto da rápida expansão da infraestrutura 5G no País e como ela está ajudando a acelerar a inteligência industrial, ou seja, o processo de adoção das novas ferramentas como a computação na nuvem, a inteligência artificial (IA) e a internet da coisas (IoT).
A situação do Brasil é notável e merece uma atenção especial. O entusiasmo de empresários e governantes com as novas ferramentas tecnológicas está se traduzindo em uma verdadeira transformação dos setores produtivos de uma forma raramente vista. Temos acompanhado debates consistentes em setores estratégicos como portuário, sistemas de transporte, estradas, extração de petróleo e gás, geração de energia, mineração, saúde, educação, administração pública, bancos, cidades inteligentes, agricultura e muitos outros. A automação passou a ser vista como um fator essencial para o aumento da competitividade e da inovação, com as redes públicas e privadas de conectividade ultrarrápida 5G e, em breve, 5.5G, como a base para uma nova indústria brasileira.
De fato, a conjuntura apresenta muitos pontos positivos e também alguns desafios, que devem ser endereçados com seriedade. Desde o leilão não arrecadatório da frequência 5G realizado em 2021, as metas de cobertura estabelecidas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) foram amplamente ultrapassadas. Segundo dados da Conecte 5G (conecte5g.com.br), iniciativa setorial das operadoras e da Conexis, o Brasil hoje tem 651 municípios, de um total de 5.568, conectados ao 5G, beneficiando 63,8% da população brasileira. São quase 25 mil antenas instaladas, onde vivem dois em cada três brasileiros.
Ao optar pelo 5G stand-alone, o Brasil ingressou no seleto grupo de nações que exploram todo o potencial da nova onda tecnológica, com baixa latência e alta velocidade. O leilão foi um ponto de virada para o setor de telecomunicações, que agora está à frente de muitos países, o que deixa o Brasil em destaque no cenário internacional.
Com isso, o País parece um canteiro de obras digitais, com oportunidades surgindo de norte a sul. O setor de petróleo e gás já vislumbra a automação completa de plataformas de petróleo, garantindo mais segurança e sustentabilidade na exploração; a mineração e os portos já sentem os efeitos da automação dos veículos de carga e de transporte; nos bancos, a resiliência impulsiona a inteligência com operações ininterruptas, alta disponibilidade dos serviços e alta segurança dos dados; e os governos fazem da conectividade o pilar para derrubar distâncias e assegurar mais serviços ao cidadão brasileiro.
Agora, o desafio que se impõe é assegurar a expansão do 5G em todo o território
Agora, o desafio que se impõe é assegurar a expansão do 5G em todo o território nacional. Quanto mais conectividade, mais desenvolvimento econômico e social.
nacional. Quanto mais conectividade, mais desenvolvimento econômico e social. O dever de casa do Brasil é unir esforços por mais redes disponíveis. Um ponto a ser resolvido é a conectividade nas estradas e nos municípios onde o agronegócio e a agricultura familiar são a base econômica. É preciso garantir que esses agentes também tenham acesso às ferramentas que impulsionam a competitividade, a produtividade e a geração de renda.
Outro fator desafiador é arregimentar uma força-tarefa focada na formação de talentos para o setor de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). Na Huawei, investimos muito para capacitar especialistas para o mercado nacional. Nossos programas se multiplicam e, hoje, alcançam alunos e professores em mais de 200 instituições de ensino, a maioria universidades e institutos federais públicos. Mas é importante que políticas governamentais sejam implementadas para que a necessidade de mão de obra qualificada seja suprida mais rapidamente.
Escolhemos a Futurecom 2024 para lançar essa nova edição da Revista da Huawei como forma de ampliar o debate sobre esses temas tão importantes em um fórum que reúne os principais líderes do ecossistema das TICs no País. Em nosso estande, com o tema ‘Conectividade com Inteligência’, mostramos o estado da arte da tecnologia –5.5G, WiFi 7, 50 GPON, FTTO, computação na nuvem e muito mais. Em nossa revista, fomentamos o debate sobre como essas ferramentas podem mudar para melhor a vida de todos os brasileiros.
Conectividade, inclusão, inteligência e sustentabilidade são os focos da Huawei. Nas páginas a seguir, convidamos especialistas dos setores público e privado para discutir esses temas em profundidade. Seja bem-vindo ao nosso ecossistema e boa leitura!
5G ESCREVE O FUTURO DIGITAL NO BRASIL
Ritmo inédito de implementação e opção pela versão mais moderna da tecnologia promovem uma revolução no País.
Alguns ganhos já podem ser vistos de imediato. Por exemplo, as redes 5G permitem levar o acesso fixo à internet sem fio, oferecendo desempenho similar ao das redes terrestres de fibra ótica. Isso permite atender a regiões onde a fibra ainda não chegou de forma mais rápida, flexível e com menores custos de implantação.
JUSCELINO FILHO
Ministro das Comunicações
O BRASIL passa por uma transformação sem precedentes na história recente das telecomunicações. Pela primeira vez, o País está em pé de igualdade com a tecnologia móvel mais moderna do mundo e promove a implantação de novas redes em um ritmo inédito. Apenas dois anos após o início da implementação do 5G por aqui, a nova geração de conectividade avança sobre mais de 800 municípios, com sinal ativo em 651 cidades, onde vive cerca de 64% da população.
“A expansão da infraestrutura acontece de maneira muito importante. Desde o 2G, o Brasil instalou cerca de 99 mil estações radiobase (ERBs). E nesses dois anos de 5G, foram instaladas 23 mil novas antenas. É um número muito alto”, ressalta o vice-presidente de Relações Públicas da Huawei na América Latina e Caribe, Atilio Rulli.
Nas capitais, o número de estações licenciadas é muito superior ao que foi fixado pelo edital do 5G, com algo próximo a 4,5 ERBs para cada 30 mil habitantes –mais de três vezes acima da meta prevista pela Anatel
ao exigir investimentos em troca das frequências.
O modelo desenhado a partir do leilão de radiofrequências do 5G e a gestão do espectro representam parte significativa desse ritmo. O Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência na Faixa de 3.625 a 3.700 MHz (Gaispi), vinculado à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), já concluiu a limpeza da faixa de 3,5 GHz em mais de 5 mil municípios, abrindo caminho para novas redes e serviços.
Nesse processo, foram instalados mais de 3 milhões de kits de recepção de TVRO em banda Ku na residência de famílias de menor renda inscritas em programas sociais federais e que utilizavam antenas parabólicas tradicionais para assistir televisão, garantindo que a chegada do 5G em cada cidade não provocaria interferências.
“Os resultados superaram as expectativas. Mesmo com as enormes dificuldades causadas pela pandemia da Covid-19, conseguimos efetuar o leilão
A curva da instalação e adaptação do 5G no País é mais rápida do que a de todas as outras gerações. E vale lembrar que o mercado não cobra mais pelo 5G, não precisa sequer mudar de plano. É certo que exige a troca de dispositivos, mas já são vários os modelos de aparelhos de baixo custo, importante para garantir acesso a grande parte da população que tem desafios de renda.
ATILIO RULLI
Vice-presidente de Relações Públicas da Huawei na América Latina e Caribe
O 5G cria as condições necessárias para o surgimento de negócios, serviços e aplicações que ainda não existem e potencializa as tecnologias já existentes. O mercado corporativo é o grande catalisador de novos serviços 5G. Destaco nossa parceria com a Huawei na instalação do 5G no Centro de Distribuição da empresa, em Sorocaba, no interior de São Paulo. Com a rede 5G, foi possível conectar veículos autônomos autoguiados, empilhadeiras autônomas e câmeras com inteligência artificial, resultando em um aumento na eficiência operacional e uma redução do ciclo de produção.
ALEX SALGADO Vice-presidente de Negócios da Vivo
de radiofrequências para 5G ainda em 2021. Já em 6 de julho de 2022, Brasília foi a primeira capital do País a dispor do serviço móvel de 5ª geração, o chamado 5G stand-alone”, festeja o ministro das Comunicações, Juscelino Filho.
O ex-ministro e ex-presidente da Anatel, Juarez Quadros, destaca esse mesmo ponto, ao percorrer a trajetória do Brasil na incorporação das novas tecnologias móveis e mostrar como o País veio gradativamente encurtando a distância das tecnologias mais modernas.
“Nesses dois anos, demos passos significativos buscando a modernização da infraestrutura de telecomunicações no País. O 1G demorou 10 anos; começou em 1980, adotamos em 1990. O 2G levou sete
anos. O 3G surgiu em 2000, ou seja, levou também sete anos. O 4G foi em 2010, adotamos em 2014. E o 5G surgiu em 2020, e em 2021 já começamos os trabalhos no Brasil com as especificações”, reforça Quadros. O resultado até aqui mostra o apetite das empresas em oferecer a nova onda tecnológica. Em dois anos, as operadoras cumpriram praticamente três quartos das metas previstas para 2025. Já são 31 milhões de acessos em 5G ativos com base em dados de setembro de 2024, ou 12% dos chips usados diariamente pelos brasileiros.
“A curva da instalação e adaptação do 5G no País é mais rápida do que a de todas as outras gerações. E vale lembrar que o mercado não cobra mais pelo 5G, não precisa sequer mudar de plano. É certo que exige
O 5G não só revolucionou a forma como as pessoas se conectam, mas também abriu novas oportunidades para o desenvolvimento de soluções tecnológicas em diversos setores, como agronegócio e indústria. Sabemos que ainda há um longo caminho pela frente para tornar o 5G ainda mais acessível. Por isso, estamos em conversas constantes com fornecedores para buscar soluções que reduzam o custo dos dispositivos 5G. Olhando para o futuro, acreditamos que o 5G continuará sendo um motor de inovação e competitividade no Brasil.
PAULO CESAR TEIXEIRA CEO da Unidade de Consumo e PME da Claro
Sabemos que o 5G chegou não apenas para revolucionar a experiência dos clientes, mas também para transformar empresas, indústrias e a economia do País. A rede de quinta geração fortaleceu ainda mais a nossa missão de liderar a transformação digital em diversos segmentos, pois sabemos que o 5G já começou a impactar o mundo B2B, nos negócios e nas aplicações da IoT. Temos a certeza de que a demanda por conectividade 5G seguirá em sua rota de crescimento a longo prazo, em todos os setores, e pretendemos continuar sendo pioneiros nesta jornada tecnológica.
MARCO DI COSTANZO CTO da TIM Brasil
a troca de dispositivos, mas já são vários os modelos de aparelhos de baixo custo, importante para garantir acesso a grande parte da população que tem desafios de renda”, lembra Atilio Rulli, da Huawei.
Esse esforço se traduz em outro patamar de desempenho. Dados da consultoria Ookla, que tem um acordo de cooperação técnica com a Anatel para avaliar a performance das redes, indicam que a velocidade média de download do 5G no Brasil está em torno de 450 Mbps, mostrando-se consistente mesmo com a implantação do 5G em diversos novos municípios.
Esses dados fizeram o Brasil subir da 80ª para a 45ª posição no ranking de velocidade de download considerando todas as tecnologias de banda larga móvel desde o 3G. E, naturalmente, o aumento da
penetração do 5G entre os consumidores, nos anos de 2023 e 2024, contribuiu para uma melhora constante na velocidade de download.
STAND-ALONE
Como mencionado pelo ministro Juscelino Filho, esse desempenho também tem relação com a opção do Brasil de adotar a versão mais moderna do 5G, o chamado 5G stand-alone, com base nos parâmetros do release 16 do 3GPP (3rd Generation Partner Project), o ente internacional que atua na padronização tecnológica da telefonia móvel em todo o mundo.
“O Brasil tem o mérito de ter sido o primeiro a adotar a tecnologia stand-alone, o que é uma vantagem competitiva e promoveu simetria entre todas as
O uso da fibra ótica em diversas soluções, assim como o 5G, tem revolucionado o mercado digital, não só no atendimento ao varejo mas também no segmento B2B. A Oi Fibra trouxe com exclusividade para o Brasil, em parceria com a Huawei, a fibra invisível FTTR, que alcança mais cômodos da residência, com a mesma velocidade. E, no mercado corporativo e empresarial, por meio da Oi Soluções, temos atuado em várias frentes com um portfólio robusto, que inclui segurança, cloud, IA, IoT, serviços gerenciados, aplicações digitais, além de dados, internet e voz via fibra ótica.
MATHEUS BANDEIRA Presidente da Oi
O 5G está revolucionando a conectividade e a digitalização do Brasil e a Algar Telecom está na vanguarda dessa transformação, proporcionando uma experiência digital mais rápida e inovadora para seus clientes por meio dessa tecnologia.
LUIZ ALEXANDRE GARCIA Presidente da Algar Telecom
operadoras, uma vez que todas tiveram que começar do zero, as grandes que já estavam e as novas pequenas, todas no mesmo estágio sem o core de rede do 4G, algo que o edital trouxe de maneira estratégica para maior igualdade de condições”, destaca Juarez Quadros.
“A primeira especificação completa das redes 5G só foi terminada em junho de 2020. E hoje a tecnologia já alcança 72% dos moradores urbanos e 11% dos que habitam em áreas rurais”, diz Juscelino Filho.
Com isso, reforça o ministro das Comunicações, o País abre caminho para inovações. “Tal como ocorreu com as redes 4G, novos aplicativos e novos modelos de negócio devem aparecer, tais como progressos em telemedicina, uso de 5G em automação industrial e agricultura de precisão.”
Segundo ele, “alguns ganhos já podem ser vistos de imediato. Por exemplo, as redes 5G permitem levar o acesso fixo à internet sem fio, oferecendo desempenho similar ao das redes terrestres de fibra ótica. Isso permite atender a regiões onde a fibra ainda não chegou de forma mais rápida, flexível e com menores custos de implantação”.
O impacto do 5G, afinal, vai muito além de maior velocidade de navegação. A tecnologia abre portas para inovações em diversos setores produtivos, como o uso de drones no monitoramento agrícola e a implementação de fábricas inteligentes, nas quais a automação e o controle em tempo real são possíveis graças à alta capacidade e baixa latência da rede. No agronegócio, o 5G tem o potencial de elevar a eficiência produtiva a novos patamares, essencial para um setor que é motor da economia brasileira.
Na saúde, a expectativa é que o 5G viabilize teleconsultas e cirurgias assistidas a distância, proporcionando maior alcance e acessibilidade aos serviços de saúde, especialmente em áreas carentes. Já na indústria, a conectividade avançada permite a criação de sistemas inteligentes e interconectados que melhoram a produtividade e reduzem custos.
E como destacado pelo secretário de Governo Digital do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), Rogério Mascarenhas (leia entrevista na página 22), esse cenário traz impactos significativos para a própria cidadania. “A conectividade impulsiona a oferta e a melhoria contínua dos serviços digitais do governo e desempenha um papel crucial na inovação dentro do setor público. Ela permite que o governo adote novas tecnologias, como inteligência artificial e big data, para melhorar a tomada de decisões e a eficiência operacional. Com uma rede robusta, podemos implementar soluções que antes eram impensáveis”, afirma.
No conjunto, a adoção do 5G no Brasil é mesmo transformadora. E a escolha pela versão portadora de futuro sinaliza que essa dinâmica vai continuar. “A opção do Brasil pelo 5G stand-alone nos deixa como um dos países de vanguarda na adoção da tecnologia. É um grande facilitador para os novos passos”, acrescenta Atilio Rulli, da Huawei. “Já começamos a falar de 5.5G, e se você está no stand-alone tem um ganho, por ser uma tecnologia mais avançada. As principais operadoras do Brasil já testaram o 5.5G e fizeram testes muito positivos, com velocidades 10 vezes maiores que o próprio 5G.”
Presidente da AnatelAgência Nacional de Telecomunicações
5G COLOCA O BRASIL
EM POSIÇÃO ÚNICA NO CENÁRIO MUNDIAL
A IMPLEMENTAÇÃO do 5G no Brasil completou dois anos com resultados extremamente positivos, segundo o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Baigorri. Nesse período, o País ganhou muito mais antenas de 5G do que o exigido pelo regulador, sinalizando o compromisso das operadoras com o investimento na tecnologia. O avanço coloca o Brasil entre os líderes na adoção do 5G stand-alone, pronto para suportar novas aplicações que dependem de baixa latência e alta capacidade de conexão. “Entre países de dimensões continentais, só aqui e na China tem 5G pleno. E isso é uma oportunidade para o Brasil enquanto player no ambiente digital”, afirma Baigorri.
Além de destacar como grande acerto a escolha pelo 5G SA, o presidente da Anatel aponta a entrada de novos players regionais como um dos sucessos do leilão. Nesta entrevista, Baigorri também reflete sobre desafios, como o acesso limitado a smartphones 5G e a necessidade de mais integração entre setores industriais e operadoras para explorar todo o potencial da nova tecnologia. E aponta para os próximos passos, especialmente na ampliação da oferta de espectro.
Como avalia os dois primeiros anos do 5G no Brasil?
Minha avaliação é extremamente positiva desses dois anos. Primeiro, positiva sobre a perspectiva do setor, de como ele reagiu. O edital tem uma série de obrigações de cobertura, de
CARLOS BAIGORRI
instalação de infraestrutura, e o que a gente está vendo é que as empresas estão instalando muito mais do que o previsto, muito mais ERBs do que o edital exige. Segundo, não ficaram limitadas ao edital. Estão fazendo muito mais. Isso mostra uma disposição das operadoras em fazer o investimento, o que é muito bom. Outra coisa que a gente vê como positivo foi o grande debate sobre a opção pelo 5G stand-alone ou não stand-alone. Teve muita crítica, à época. Mas o que percebo é que foi um acerto fazer o 5G stand-alone, porque a gente já está com o 5G no estado da arte, com todas as capacidades de gerar novas aplicações.
Esse investimento mais intenso sinaliza que as empresas esperavam uma resposta mais rápida na curva de adoção?
O mercado brasileiro é muito competitivo. As empresas vivem brigando para se diferenciar uma da outra, concorrem para ver quem tem o melhor 5G. Em qualquer aeroporto, tem um pôster gigante: vem para tal operadora, o melhor 5G do Brasil, o melhor 4G do Brasil. Tem uma competição muito aguerrida entre elas.
Além disso, o 5G está sendo utilizado na faixa de 3,5 GHz. Já tem previsão do 5G em faixas mais baixas, mas hoje o 5G é nessa faixa. Como isso implica em uma área de cobertura bem menor, para dar cobertura em uma cidade tem que fazer muitas torres, adensar a rede. E esse adensamento também resultou em um grande investimento na construção de redes.
Olhando para trás, e você já mencionou o 5G SA como uma escolha acertada, o que se mostrou bemsucedido no plano do leilão?
Acho que um acerto do 5G foi viabilizar a entrada dos players regionais, Brisanet, Unifique, Yes e Ligga. A Brisanet já está fazendo o lançamento comercial do 5G. A Unifique também está operacional. A Ligga anunciou que vai fazer um modelo de parceria. E a Yes já começou a compartilhar o core com a Algar. Portanto, podemos ver que as coisas estão se movimentando. O que a gente poderia ter melhorado no edital foi a questão do bloco de 700 MHz. Do jeito que a gente desenhou não deu certo, tanto que já estamos no processo de relicitar a faixa. Isso já está indo para o Conselho, está bem encaminhado. A ideia é colocar essa faixa de 700 MHz disponível para o mercado,
justamente para complementar com a faixa de 3,5 GHz. Tinha um desenho pensando uma coisa, a realidade se mostrou diferente. Na banda larga fixa é um modelo que me parece ter mais chance de sucesso do que na telefonia celular. Na telefonia celular são muito poucos agentes para comprar rede neutra. E, na móvel, o grande diferencial é a rede. Então, ter uma rede meio padrão para compartilhar entre poucos players, não parece ser um negócio que pare muito de pé. Tanto que ninguém aderiu. Foi uma coisa em que a gente apostou, não deu certo e vamos corrigir. Faz parte da vida. O negócio é corrigir rápido.
À parte a questão dos 700 MHz, o que tem se mostrado como desafio para a nova geração móvel?
O device, o smartphone, ainda é um problema. A gente tem no Brasil um mercado onde há três principais fabricantes, que são os três que produzem no Brasil, e que por produzirem aqui geram emprego aqui, pagam imposto aqui e têm uma condição de preço melhor, mais competitiva para o consumidor. Então, hoje a gente tem esses três players, Samsung, Apple e Motorola, que têm ótimos produtos. Mas o acesso ao smartphone ainda é uma das principais barreiras para a adesão ao 5G.
Outra coisa que acho que é uma barreira para a adesão ao 5G, e é uma oportunidade para o Brasil enquanto player no ambiente digital, é que, se a gente olhar mundo afora, os únicos países de dimensões continentais com uma rede 5G stand-alone bem implantada são Brasil e China, que têm uma política de desenvolvimento de aplicações, de desenvolvimento de um ecossistema todo no 5G; e certamente vão surgir aplicações que utilizem todas as capacidades do 5G stand-alone, que é baixa latência, milhões de acessos e alto throughput
No Brasil, a gente também tem esse ambiente, só que aqui o mercado é muito mais receptivo para investimentos externos, para startups tentarem fazer essas aplicações. Então, o que acontece? Muitas pessoas ainda não migraram para o 5G ou não veem razão de migrar para o 5G porque não se tem nenhuma aplicação que precisa do 5G. Não existe nenhuma aplicação que só rode no 5G, que seja massiva, uma killer application que justifique. E não tem em lugar nenhum, porque em geral, mundo afora, o 5G que tem lá é o 5G não stand-alone.
O Brasil tem a infraestrutura para que essa
“Muitas pessoas ainda não migraram para o 5G porque não se tem nenhuma aplicação 5G. Desenvolvimento não é o negócio da Anatel, mas a gente criou a infraestrutura, a base para isso acontecer. Agora, a gente tem de torcer para que alguma startup no Brasil pense nessa aplicação.”
aplicação surja aqui. Tem um mercado aberto, continental, uma população grande e que gosta de inovação, que gosta de ser early adopter. A gente tem a condição de que surja no Brasil essa aplicação. Mas desenvolvimento de aplicação não é o negócio da Anatel. A gente criou a infraestrutura, a base para isso acontecer. Agora, a gente tem de torcer para que alguma startup no Brasil pense nessa aplicação.
Dizia-se que essa geração tecnológica seria mais percebida pelas empresas do que pelos consumidores. Isso aconteceu?
Um elemento de desafio para a adoção do 5G é que ele traz muito mais benefícios para a indústria do que para as pessoas. E o que a gente percebe é que existe um gap de desconhecimento das verticais, das áreas de negócio, do agro, da indústria, da logística, da saúde, que não têm conhecimento profundo sobre a tecnologia do 5G e como ela pode transformar os seus negócios. Do
lado das operadoras, elas entendem tudo de tecnologia, mas não entendem de soja, de óleo e gás etc.
Diante disso, a Anatel, como fez ano passado e junto com a ABDI [Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial], vai promover de novo um prêmio para justamente mostrar as oportunidades. Com casos de sucesso de 5G na logística, no óleo e gás, na energia, faz uma premiação e mostra para todo mundo, para que amplie a consciência do que dá pra fazer com o 5G. Fizemos ano passado e vamos fazer de novo, para dar liga a esses atores que não necessariamente se conhecem.
Mas vi nas operadoras uma certa mudança de mindset. Estive recentemente com uma operadora que começou a contratar agrônomo para fazer produto para o agro. Engenheiro, advogado, economista, sempre teve. Agora estão trazendo agrônomos. Pode ser o mesmo com óleo e gás, com mineração. Porque falta esse meio de campo. Ainda é tímido. E nosso papel é tentar incentivar.
Até aqui, quem tem mostrado algum apetite para redes privativas é o setor elétrico...
O setor elétrico tem grande potencial. Recentemente fui em um evento da UTC [Utilities, Technology andTelecommuncations Council]. Em geral, a primeira coisa que se pensa é em smart meters Mas aí vão fazer uma rede própria, pegar 410 MHz, 450 MHz em uso secundário, para não gastar dinheiro comprando espectro. Claro que se a distribuidora de energia pedir espectro, a gente autoriza. Se o cara do gás pedir, também vai receber. Se o cara da água pedir, a mesma coisa. E vai chegar uma hora que ninguém vai funcionar, porque vai interferir um no outro.
Será que faz sentido uma empresa fazer Capex, comprar rede, contratar engenheiro de espectro, e não contratar as operadoras? Já escutei do setor elétrico que isso tem relação com exigências de qualidade e latência do Operador Nacional do Sistema Elétrico, que a rede pública não conseguiria entregar. Minha resposta é que na rede pública do 4G pode não dar, mas o 5G tem slicing. Ou seja, uma rede privada a partir da rede pública.
Então, me parece que é mais um sinal de que está faltando aquele link entre indústria e operadoras. Porque as soluções estão aí. Não precisa gastar dinheiro para comprar ERB, contratar engenheiro e pegar uma faixa que daqui a pouco estará congestionada. Sem falar nos riscos. Vai optar por
Sigfox, LTE, LoRA [tipos de protocolos de rede]? Depois não dá certo e tem que fazer tudo de novo? Telecom tem rede pronta. Faz 5G slicing, com o requisito que quiser.
Se a oferta comercial está acelerada, as metas acessórias como a conexão de escolas ou a rede privativa de governo não parecem avançar no mesmo ritmo. Por quê?
Depende. A política do Norte Conectado estava muito bem desenhada, já vinha sendo construída de outros governos. Começou no governo Dilma e foi mantida no governo Temer, no governo Bolsonaro e no governo Lula. Tinha maturidade, um desenho robusto. E por estar bem definida, está sendo bem executada. A par de algumas dificuldades com licenciamento ambiental, e agora a questão da seca, por ter uma visão clara de como e aonde chegar, está rodando bem.
No caso da rede privativa, nunca ficou claro o que era. E quando chegou na hora de executar, demorou muito para uma definição. Tivemos que esperar a política pública. Quando recebemos a nota técnica do Ministério dizendo o que era a rede privativa, rapidamente a coisa começou a andar.
Na questão das escolas é a mesma coisa. Quando a gente fez o edital, era para conectar as escolas, levar os equipamentos, treinar os professores. Mas depois o governo decidiu pela Estratégia Nacional das Escolas Conectadas, redefinindo o projeto só para conectar as escolas que não tivessem fibra. E depois começou uma discussão sobre satélite, que resultou na escolha da Telebras. Foi preciso esperar essa definição. Portanto, o que impacta no andamento é ter uma ordem clara.
O setor de telecomunicações se aproxima do importante marco de 2025 e o fim das concessões de telefonia. Qual é o impacto esperado dessa transição?
A maior relevância do fim das concessões não é tanto para o mercado, mas para o Estado. Porque o STFC [Serviço Telefônico Fixo Comutado] já está completamente em desuso, a base de usuários derrete mês após mês. Então,
para o mercado, vai dar um alívio em termos de custo regulatório. Não acho que vai gerar uma transformação no desenvolvimento da fibra e tudo mais, isso já aconteceu.
O maior beneficiário dos acordos de adaptação é o Estado brasileiro, que deixa de ter a obrigação de prestar um serviço que ninguém mais quer. E que tem um custo de manutenção da ordem de bilhões por ano. Imaginar que o Estado vai assumir um compromisso de enterrar bilhões de reais por ano para manter um serviço que ninguém quer, quando o Brasil tem desafios em saúde, meio ambiente, educação, segurança, seria um desperdício sem tamanho. Acabar com as concessões e, em troca, ainda exigir alguma coisa, é o melhor caminho para o Estado.
A Anatel deu prioridade a novos leilões de espectro em 2025, em especial a faixa de 700 MHz. O que a agência está mirando no futuro próximo?
Nos últimos anos, desde 2012, quando a Anatel mudou o seu modelo mental para promover competição por meio do PGMC [Plano Geral de Metas de Competição], conseguimos uma revolução no mercado de banda larga fixa. Mas na banda larga móvel, até pelo que aconteceu com a Nextel e com a Oi, o mercado consolidou bastante.
E agora o que a gente precisa é dar um enfoque para mitigar abuso de poder de mercado, para reduzir barreiras de entrada, para poder garantir a mesma dinâmica do mercado de banda larga fixa. Ainda que não exatamente a mesma, mas pelo menos aplicar uma fórmula que deu certo. E a principal barreira de entrada, o principal insumo essencial para a prestação da banda larga no celular, é o espectro. Por isso vamos focar muito na questão do espectro nesse próximo ciclo, no compartilhamento do espectro, no uso do espectro secundário.
Com as bandas A e B também, porque precisamos fazer o refarming. Essas bandas são de uma época em que os canais eram de 2,5 MHz. Então precisa reorganizar o espectro porque hoje, na dinâmica do mercado atual, ele é o insumo mais essencial. É por isso que vamos caminhar para o PGMC e para o espectro, para essas coisas saírem nesse horizonte.
JOGADA DE MESTRE: A OPÇÃO PELO
5G PURO
A
exigência do padrão 5G SA para algumas frequências colocou o Brasil na dianteira, mas ainda falta avançar em redes e, principalmente, em aplicações.
O DIA 6 DE JULHO DE 2022 marcou o início da operação da rede 5G no Brasil, com Brasília sendo a primeira capital a contar com o 5G stand-alone (5G SA). Implantar redes no padrão do Release 16 do 3GPP foi um dos requisitos do leilão de frequências e colocou o País na dianteira. “Tirando a China, que implantou o stand-alone desde o começo, na Europa ou nos Estados Unidos, estão começando a ter 5G SA agora. O Brasil avançou pela exigência da Anatel”, resume Eduardo Tude, fundador e CEO da consultoria Teleco.
“A obrigação que a Anatel impôs de ter o stand-alone colocou o Brasil à frente de outros países, pois já nasce com core 5G e o 5.5G precisa deste core para ter suas funcionalidades aplicadas”, ressalta Vinicius Caram, superintendente de Outorga e Recursos à
A obrigação que a Anatel impôs de ter o stand-alone colocou o Brasil à frente de outros países, pois já nasce com core 5G e o 5.5G precisa deste core para ter suas funcionalidades aplicadas.
VINICIUS CARAM
Superintendente de Outorga e Recursos à Prestação na Anatel
Prestação na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Carlos Roseiro, diretor de ICT Marketing da Huawei Brasil, acrescenta que o Brasil é um dos casos com mais redes 5G SA em relação a outros países porque, como lançaram antes, adotaram o Release 15. “No Brasil, as prestadoras de serviços de telecomunicações lançaram os Releases 15 e 16 ao mesmo tempo. O balanço foi positivo. As obrigações, que são para 2025, estão praticamente todas cumpridas e temos uma taxa de penetração de 5G de mais de 10% da população total do Brasil e já estamos falando de mais de 20% dos usuários das capitais com 5G”, diz o executivo.
Agora, que o momento mais intenso de construção de redes passou, coloca-se certa pressão sobre como as operadoras vão trabalhar a inovação e os serviços.
ARI LOPES
Líder das Práticas de Provedores de Serviços para as Américas na Omdia
construção de redes passou, coloca-se certa pressão sobre como elas vão trabalhar a inovação e os serviços e como vão usar o 5G stand-alone”, aponta.
Na América Latina, o Brasil desponta em redes 5G SA, até pela obrigatoriedade da Anatel. Contudo, na avaliação de Ari Lopes, líder das Práticas de Provedores de Serviços para os mercados das Américas na Omdia, as redes puras ainda operam de forma limitada. “Até agora, não teve grandes inovações. Se olhar as redes 5G no Brasil, elas são boas, mas não têm serviços inovadores”, pondera.
Lopes faz um adendo: analisando os relatórios das operadoras, diz que há indicações de aumento de investimentos por conta do 5G. “Agora, que o momento mais intenso de
Com latência menor e a possibilidade de criação de sub-redes por meio da técnica de slicing, a arquitetura 5G stand-alone está pronta para entregar o hype inicial ao habilitar novos serviços que podem ser monetizados para crescimento de receita. Diferentemente da rede 5G non stand-alone (NSA), que reutiliza core 4G, o 5G SA não depende do 4G e por isso é considerado o 5G puro, entregando maiores taxas de transferência de dados (throughput), latências mais baixas e maior densidade de acessos por km².
No entanto, do ponto de vista do consumidor final, hoje, não faz muita diferença ser 5G SA ou NSA por causa das aplicações.
São dois anos e a vantagem da tecnologia é fantástica: maior densidade de cobertura, uma altíssima concentração de usuários na área de cobertura, fora a velocidade.
JUAREZ QUADROS
Ex-ministro das Comunicações e ex-presidente da Anatel
“Primeiro, porque você tem de ter o smartphone com standalone e, segundo, porque não há obrigação de todas as estações radiobase terem 5G stand-alone. Hoje, você não tem aplicações para o consumidor que exige 5G SA”, explica Tude, acrescentando que o 5G SA e o 5.5G vêm com foco maior em dar suporte ao crescimento do segmento
Tirando a China, que implantou o stand-alone desde o começo, na Europa ou nos Estados Unidos, estão começando a ter 5G SA agora. O Brasil avançou pela exigência da Anatel.
EDUARDO TUDE
Fundador e CEO da consultoria Teleco
corporativo e às aplicações de negócios (B2B).
“Para a operadora, o grande foco é o varejo, o consumidor; e o B2B é uma tentativa de contar com aplicações que aumentem a receita. Mas, hoje, o grande ganho é conseguir oferecer velocidade maior, porque aumenta o consumo e pode oferecer preço mais baixo, já que tem custo por bit menor sem precisar colocar
mais antenas”, detalha Tude. Uma barreira, no entanto, está no fato de o crescimento da base depender muito da disponibilidade de aparelhos aptos para 5G SA.
Na mesma linha, Roseiro, da Huawei, opina que o 5G NSA e o SA não apresentam tantas diferenças para o usuário final. Há capacidades de redes distintas, mas sem efeitos práticos para o consumidor na ponta. “A grande diferença entre 4G e 5G é uma melhoria dos serviços atuais, porque você ainda não tem novos serviços gerados pelo 5G ou uma killer application”, afirma o executivo.
“Daqui a pouco, teremos ‘carros’ de alta potência que serão os novos serviços. A rede é um enabler de serviços que vão vir que dificilmente rodam em 4G”, detalha Roseiro. No mercado chinês, despontam serviços como 3D sem óculos e new calling, que prometem tornar as chamadas telefônicas mais interativas e
REDES PRIVATIVAS EM 5G SA
A ARQUITETURA 5G SA tem sido apontada como ideal para a construção de redes privativas, principalmente para aplicações que demandam alta velocidade e baixíssima latência, algo que o 4G não alcançou. Contudo, Eduardo Tude, CEO da consultoria Teleco, pondera que as redes privativas avançam lenta e gradualmente, uma vez que são implantadas para os processos de transformação digital das empresas e exigem investimentos.
“Nós acompanhamos as redes privativas de 41 empresas anunciadas no Brasil e destas a maioria é 4G. Muitas começam com 4G, porque não precisam de latência, mas precisam de uma rede com mais capacidade”, explicou. “A rede 5G com baixa latência é mais necessária em aplicações em plantas industriais”, acrescenta o consultor.
São justamente conexões confiáveis que o Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas (InovaHC) busca para o projeto OpenCare 5G, que está em fase de expansão e seleção de quem vai operar as redes. Ao realizar diagnósticos por imagem remotamente – no caso, por ultrassom – o OpenCare 5G usa muita banda e precisa de personalização na oferta de serviços de telecomunicações, algo que o 4G não é capaz de atender.
imersivas, como, por exemplo, usando avatar ou contando com tradução simultânea em tempo real.
EXIGÊNCIA PARA A DIANTEIRA
Ao desenhar o edital do 5G, que fixou as regras da licitação realizada no final de 2021, a Agência Nacional de Telecomunicações estipulou o uso de redes 5G SA na faixa de 3,5 GHZ. O edital estabeleceu também compromissos para que todas as cidades do País tenham sinal 5G em plenitude até o fim de 2029.
Quando a Anatel estabeleceu no edital que as prestadoras de serviços de telecomunicações deveriam ativar redes 5G stand-alone, o objetivo era justamente que as redes começassem com o núcleo do 5G.
SIDNEY AZEREDO NINCE
Assessor da Anatel
Passados dois anos do início da implantação das redes 5G, o Brasil somava, em julho de 2024, pouco mais de 810 municípios, incluindo todas as capitais, com estações (torres/antenas) licenciadas e sinal ativo em pelo menos 589 deles, com cobertura média de 45%. Além disso, 28 milhões de usuários têm celulares que permitem se conectar à internet com a nova tecnologia, segundo dados do governo.
Para o ex-ministro das Comunicações e expresidente da Anatel, Juarez Quadros, quando se ativou a primeira antena em Brasília, o Brasil deu um grande passo para modernizar a infraestrutura de telecom. “São dois anos e a vantagem da tecnologia é fantástica: maior densidade de cobertura, uma altíssima concentração de usuários na área de cobertura, fora a velocidade.
A decisão brasileira de fazer o SA, que não utiliza a infraestrutura de 4G, foi o começo de nova tecnologia sem usar o legado”, ressalta Quadros.
A decisão de usar o 5G puro exige mais investimentos, mas traz vantagens. Uma delas, conforme Quadros, foi estabelecer igual oportunidade para as empresas começarem todas no mesmo patamar, em igualdade de posição, já que teriam de construir a rede sem o legado.
Sidney Azeredo Nince, assessor da Anatel, explica que, “quando a agência estabeleceu
no edital que as prestadoras de serviços de telecomunicações deveriam ativar redes 5G stand-alone, o objetivo era justamente que as redes começassem com o núcleo do 5G”.
E acrescenta: “Daí, partimos do início de implantação do 5G com a sua capacidade máxima, porque, se tenho rede NSA, que ainda utiliza core 4G, aquelas funcionalidades previstas para o 5G não são ofertadas.”
O 5G começou pelo consumidor final e avança como acesso sem fio fixo (FWA, na sigla em inglês), redes privativas, que ainda são um mercado novo, mas cujos casos de uso o 4G tem atendido; edge computing e networking slicing “No mundo, ainda há muita dúvida de como vai ser a rentabilização em 5G. O entendimento da Anatel foi de aproveitar o mercado e colocar o Brasil na vanguarda, com o 5G fomentando novos negócios. A ideia é desenvolver o mercado nacional para novos negócios, mas isso ainda não aconteceu”, avalia Lopes, da Omdia.
Passados dois anos desde o começo das redes 5G, observa-se que a intenção da Anatel de colocar o País na dianteira com a exigência por redes puras deu certo e, de fato, o Brasil avançou. No entanto, os especialistas apontam para a necessidade de se fomentar o mercado, criando modelos de negócios que tragam rentabilidade à nova infraestrutura. E um ponto é certo. O 5G SA é a porta de entrada para o avanço rumo ao 5.5G e ao 6G – uma trajetória de crescimento que é inerente ao mercado das telecomunicações.
MAIS UM PASSO
À FRENTE
Com os Releases 18 a 20, a telefonia móvel avança para o 5.5G, que promete abrir espaço para novos modelos de negócios, essenciais para a monetização futura da rede.
O 5G STAND-ALONE (Release 16) foi um avanço para as telecomunicações, permitindo às operadoras móveis monetizar a rede com grandes pacotes de dados, mas ainda está aquém em termos de novos serviços e aplicações exclusivamente 5G. A expectativa do mercado, agora, é que os novos releases do 3GPP expandam as capacidades da infraestrutura, possibilitando novos modelos de negócios e novos tipos de serviços. Com o 5.5G, esperase uma melhora expressiva no downlink, no uplink e na eficiência operacional da rede. O ambiente de Internet das Coisas (IoT) também ganhará com dispositivos de baixíssimo custo, começando com os equipamentos RedCap e evoluindo para o Passive IoT, que operam sem bateria, atendendo a aplicações de tag.
ANO GERAÇÃO
1980 //////// 1G
1992 //////// 2G
2002 //////// 3G
cuja primeira geração (1G) data de 1980 e possibilitava a transmissão de voz analógica, de olho nos negócios. O 2G veio na década seguinte, em 1992, aportando voz digital e SMS e mirando o consumidor. Em 2002, o 3G acrescentou a internet na palma da mão e atendeu às necessidades de negócios. Ficou para o 4G melhorar o acesso à web, em 2012, com áudio, vídeo, aplicativos e IoT, tendo foco maior no consumidor.
2012 //////// 4G
2020 //////// 5G
2030* /////// 6G
2040* /////// 7G *projeção
O 5.5G está contemplado nos Releases 18, 19 e 20, disponíveis a partir de 2024, e no Release 21 – o 6G – a partir de 2030. Trata-se de mais um passo à frente no cenário das telecomunicações,
Lançada oito anos depois, em 2020, a tecnologia 5G flertou com casos de uso de realidades aumentada e virtual, incrementando a oferta para o segmento de negócios.
Mas segundo Henry Douglas Rodrigues, gerente-executivo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), ficará para 2030, com o 6G, o avanço da tecnologia com sensoriamento e imersão com foco maior no consumidor, quando será possível, por exemplo, trabalhar com hologramas, comunicação imersiva, massiva e
hiperconfiável de baixa latência.
“Vemos que a maturidade vem a cada duas gerações. O 3G se propôs a transmitir dados, mas era lento e o 4G resolveu isso. O 5G prometeu 1 milissegundo mas, na prática, não cumpriu e temos a expectativa de o 6G se tornar o 5G maduro”, comenta. Para o especialista, ”o 6G não vai ser implantado enquanto o 5G não der retorno. E como a cada dez anos emerge uma nova tecnologia, pode-se esperar o 7G para 2040.”
A primeira versão do 5G, lançada com o Release 16, teve a preocupação de aumentar a velocidade. O professor Luciano Leonel Mendes, coordenador do xGMobile no Centro de Competências EMBRAPII-Inatel, detalha que “os Releases seguintes, 17 e 18, também fazem parte do 5G, mas olham para a evolução da tecnologia como porta de entrada para, por exemplo, Internet das Coisas, economia de energia, eficiência espectral, redução da latência e robustez da comunicação, como formas de melhorar a resposta da rede, essencial para aplicações em diversos setores.”
Eduardo Tude, fundador e CEO da consultoria Teleco, explica que, à época da especificação do 5G, as operadoras pediram o non stand-alone, que usa o rádio 5G com o core de 4G, para acelerar o processo de migração de tecnologias. Depois, veio o 5G stand-alone com o core 5G especificado e os releases que o aperfeiçoaram. “Conforme uma tecnologia é adotada, se identificam os problemas, as lacunas e se propõem as evoluções.”
“Primeiro, tem a questão da velocidade, que dá um salto do atual 1 Gbps para 5 Gbps, podendo chegar a 10 Gbps, se tiver espectro. Mas, para fazer isso, não é só tecnologia, precisa de espectro também”, aponta Carlos Roseiro, diretor de ICT Marketing da Huawei Brasil. Uma alternativa – que tem sido o desejo das operadoras móveis – é usar a faixa dos 6 GHz que hoje tem parte destinada para uso não licenciado, como o WiFi. “Desejavelmente, precisa, sim, da
O 6G não vai ser implantado enquanto o 5G não der retorno. E como a cada dez anos emerge uma nova tecnologia, pode-se esperar o 7G para 2040.
HENRY DOUGLAS RODRIGUES
Gerente-executivo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Inatel
faixa dos 6 GHz, porque, se usar millimeter wave, o alcance é mais curto. Por isso, essa faixa é importante para o 5.5G”, defende Roseiro.
Vinicius Caram, superintendente de Outorga e Recursos à Prestação na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), reforça que a faixa de 6 GHz poderá ser catalisadora para nova portadora dedicada ao 5.5G, com soluções dedicadas ao B2B. “Mas também se discutirá a faixa para uso pelo 6G. Dependerá do mercado, da demanda e de testes que já se iniciaram, o uso da faixa para IMT [International Mobile Telecommunications] e a convivência com radiação restrita (WiFi 7)”, explica.
Toda nova geração exige mais espectro e o papel da agência, lembra Caram, é garantir que haja espectro para permitir que a tecnologia entre no mercado, tenha competição e fomente a inovação. “Temos de permitir que o mercado aposte no Brasil, sabendo que tem espectro; e a gente sempre permite o acesso ao espectro de forma neutra tecnologicamente”, frisa Caram.
ESPECTRO, DISPOSITIVOS E SERVIÇOS
Como novas tecnologias precisam de mais espectro, porque precisam de canais maiores, a agência avalia quais serão as possibilidades para alocar o 6G. “Se o modelo de 5G vier a ter saturação das redes em 3,5 GHz, para garantir novos modelos de negócios, teremos de permitir novos espectros”, afirma o superintendente da Anatel. “Estamos estudando a faixa de 6 GHz para redes móveis, porque achamos que o espectro
sub-6 permite o trade-off de mobilidade sem ter de colocar muitas estações radiobase”, acrescenta. Já Luciano Leonel Mendes diz que talvez seja necessário fazer refarming para acomodar a nova tecnologia e fazer melhor uso dela.
Outro desafio inerente ao avanço da tecnologia é a disponibilidade de aparelhos prontos para o 5.5G. Como o Release 18 já foi fechado, os fornecedores de rede e de aparelhos têm mais segurança para fabricar os equipamentos preparados para 5.5G. “Começam a surgir no mercado chipsets que podem agregar três bandas de frequências e com capacidade maior para suportar o 5.5G”, enfatiza Carlos Roseiro.
Ainda que seja cedo para vislumbrar carros autônomos espalhados por rodovias brasileiras, já há um crescimento exponencial nos carros conectados, ou seja, aqueles que vêm com sim card incorporado. O avanço na arquitetura de rede é o que pavimenta o caminho para novos serviços e outros modelos de negócios. “A tendência é que as redes sejam mais populadas por coisas, inclusive veículos e, à medida que os carros lançados forem conectados, vão interagir com a cidade, com os semáforos e com os centros de controle”, detalha Roseiro. “Então, é preciso redes robustas, largamente distribuídas, com grande capacidade de resposta ao tráfego que vem não apenas de pessoas, mas de inúmeras coisas conectadas”, completa. Assim, trata-se de primeiro construir a rede para, depois, os serviços aparecerem. “O Release 18 traz funcionalidades novas que
agregam para o B2B; esperamos que as empresas consigam monetizar oferecendo serviços para a indústria, para a cadeia logística”, diz Vinicius Caram.
No entanto, na opinião de Ari Lopes, líder das Práticas de Provedores de Serviços para os Mercados das Américas na Omdia, o 5.5G ainda deve demorar um pouco para avançar na América Latina, porque as prestadoras de serviços de telecomunicações ainda estão investindo na rede na fase de implementar o stand-alone. “Vejo o 5.5G em um caminho mais para frente, dentro de dois a três anos. Na América Latina, primeiro vai se densificar o 5G e se investir no core de rede. Ainda tem de crescer a rede 5G, desenvolver casos de uso. Para entrar na nova onda em 5.5G tem de digerir os investimentos”, pondera.
“Quando uma tecnologia é lançada, as pessoas não vão usá-la para aquilo que pensaram quando foi criada. Vemos a capacidade de inovação das pessoas sobre a infraestrutura”, diz Luciano Mendes. “Vamos começar a ver aplicações distintas para o 5G que não têm o celular como alvo, algumas até para viabilizar o acesso com FWA (Fixed Wireless Access), que é uma nova forma de as operadoras monetizarem o core”, acrescenta.
A expectativa é que, cada vez mais, dispositivos se conectem por meio da rede 5G, de relógios a carros e planta fabril.
Quando uma tecnologia é lançada, as pessoas não vão usá-la para aquilo que pensaram quando foi criada. Vemos a capacidade de inovação das pessoas sobre a infraestrutura.
LUCIANO MENDES
Coordenador do xGMobile no Centro de Competências EMBRAPII-Inatel
A constante é a evolução da rede, permitindo que aplicações antes inimagináveis sejam desenvolvidas. O 5G SA e sua evolução 5.5G abrem caminho para o 6G, cuja expectativa é quebrar a barreira de interação com os dispositivos – hoje, não há interação com a rede se não por meio de um device. “Internet everywhere só é possível com as novas funcionalidades e não vou mais precisar do meu smartphone para estar conectado. As características biológicas podem ser o fator de autenticação para vincular o mundo virtual ao real através de uma rede com uma série de funcionalidades que vão além do 5G”, aponta Mendes.
ROGÉRIO MASCARENHAS
Secretário de Governo DigitalGoverno Federal
GOVERNO DIGITAL SÓ EXISTE COM CONECTIVIDADE
A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL no governo brasileiro tem avançado rapidamente, trazendo benefícios tanto para os cidadãos quanto para a administração pública. Com a meta de digitalizar 90% dos serviços públicos passíveis de automação, o governo federal está promovendo uma revolução na forma como a população acessa e utiliza os serviços essenciais. Esse processo é impulsionado por uma sólida infraestrutura de conectividade, que hoje atinge mais de 187 milhões de brasileiros, a partir da massificação do 4G e que abre mais possibilidades com o 5G.
À frente dessa transformação está Rogério Mascarenhas, secretário de Governo Digital, que tem trabalhado para ampliar a oferta de serviços digitais, melhorar a experiência do usuário e garantir a segurança e soberania dos dados públicos. “Sem conectividade, tudo o que pensamos de serviços digitais cai por terra”, afirma ele.
Nesta entrevista, Mascarenhas detalha os avanços, desafios e a visão de futuro para um governo cada vez mais digital, ressaltando a importância de integrar conectividade, gestão eficiente e inovação tecnológica para beneficiar não só o cidadão, mas também o próprio funcionamento da máquina pública.
Qual é a relevância da conectividade na oferta de serviços públicos no Brasil?
A conectividade é fundamental; é a base quando discutimos governo digital. Se não
“O Brasil atingiu um nível de maturidade em governo digital que nos coloca entre os cinco países mais avançados nessa área. De acordo com a ONU, somos o 14º país no ranking de oferta de serviços digitais.”
avançarmos nessa questão, todo o arcabouço que pensamos em termos de serviços digitais cai por terra. Hoje, o Brasil tem a quinta maior população conectada no mundo, com 187 milhões de pessoas usando a internet em uma população total de 212 milhões. Dessas, 99% estão conectadas por dispositivos móveis, o que mostra a importância dessa infraestrutura. Além disso, como atesta a pesquisa TIC Domicílios, do Cetic.br, 73% dos brasileiros já fizeram uso de serviços digitais pelo celular.
Como essa conectividade influencia a forma como o governo oferece serviços digitais?
O Brasil atingiu um nível de maturidade em governo digital que nos coloca entre os cinco países mais avançados nessa área. De acordo com a ONU, somos o 14º país no ranking de oferta de serviços digitais. Esse avanço só foi possível devido à conectividade existente, que nos permitiu desenvolver planos de transformação digital ao longo dos anos. Hoje, 90% dos serviços públicos que podem ser digitalizados já estão disponíveis nessa forma, e cada órgão público tem a responsabilidade de implementar sua visão de transformação digital.
O governo centralizou todo o desenvolvimento de serviços digitais ou cada órgão é responsável por sua implementação?
O processo é descentralizado. Cada órgão desenvolve suas iniciativas, e a Secretaria de Governo Digital faz o acompanhamento e o monitoramento. Além disso, temos a iniciativa Startup Gov, que potencializa projetos de grande relevância para a política pública, com equipes multidisciplinares dedicadas a desenvolver serviços digitais. No segundo semestre, vamos lançar um novo edital para selecionar mais projetos e acelerar essa agenda.
Ainda há áreas no Brasil com lacunas significativas de conectividade. Como o serviço digital vai chegar lá?
Sabemos que há desafios de conectividade em certas regiões, especialmente no Norte do País, apesar de avanços recentes. Mapeamos essas dificuldades regionais e, além da conectividade, identificamos um problema de letramento digital, ou seja, a falta de habilidades para usar os serviços online. Para enfrentar isso, criamos o programa Balcão Gov.br, que visa melhorar o letramento digital da população. Já tivemos mais de 25 mil atendimentos em fase piloto e 94% das pessoas conseguiram concluir seus atendimentos digitais com sucesso.
O governo tem uma meta para essa maior digitalização, ou na prática esse é um processo infinito?
Não diria que é um processo infinito, mas certamente é uma jornada de longo prazo. A meta é ampliar e melhorar a oferta de serviços digitais até o final do governo atual. Embora já tenhamos digitalizado 90% dos serviços passíveis de digitalização, sempre surgem novos serviços e a necessidade de melhorar a experiência do usuário. Por isso, além de ampliar a oferta, estamos focados em melhorar a usabilidade e a qualidade dos serviços digitais.
O que é exatamente o Balcão Gov.br? Como ele contribui para a inclusão digital?
O Balcão Gov.br vai além de apenas fornecer um ponto de acesso à internet. Estamos utilizando uma metodologia que ajuda a capacitar os cidadãos a interagirem com os serviços digitais, superando barreiras tecnológicas. Então é muito mais do que um WiFi. É vencer uma barreira. Esse é um projeto piloto que já está em operação em quatro localidades, incluindo Niterói (RJ), Lajes (SC), Teresina (PI) e todas as unidades do UAI em Minas Gerais. O objetivo é melhorar o letramento digital, ensinando as pessoas a usar os serviços públicos online de forma eficaz.
A ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, em visita à Telebras, mencionou contratos com o Ministério do Trabalho e com os Correios. Onde os órgãos federais entram no projeto?
Estamos desenvolvendo parcerias com estados e municípios e, no âmbito federal, com os Correios,
Telebras, Banco do Brasil e Caixa Econômica. Queremos utilizar essas estruturas para melhorar o letramento digital onde não temos parcerias locais. A partir dos pilotos, estamos aprimorando a metodologia para capacitar os atendentes a inserirem mais cidadãos no mundo digital. E os serviços ofertados não são só federais. Como a própria ministra coloca, o cidadão não é federal, não é estadual. Ele mora lá no município.
Com essa expansão da digitalização e o aumento de dados gerados, como o governo vai garantir a proteção e a privacidade desses dados?
Esse é um tema fundamental. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) aborda a questão da Infraestrutura Nacional de Dados, que é a base para a segurança e privacidade de dados. Em 2023, publicamos a Portaria 5.950, que estabelece diretrizes para o uso da ‘nuvem soberana’, administrada pelo Serpro e pela Dataprev, além da Telebras. A ideia é que os dados críticos sejam armazenados nessas infraestruturas para garantir a soberania operacional e a proteção dos dados.
O setor privado não teria soluções tecnológicas capazes de atender esses requisitos?
Quando falamos de operação, é também esse arcabouço de segurança, que é para que a gente, de fato, consiga garantir essa proteção de dados. Serpro e Dataprev já fazem vultuosos investimentos. E as empresas privadas são parceiras disso. O primeiro acordo assinado pela Dataprev foi com a Huawei. Oracle e AWS estão caminhando para esse mesmo processo, de criar stacks, ou territórios de nuvem, dentro das empresas estatais. Com isso, a gente espera garantir tanto soberania de dados quanto a soberania operacional. E destaco aqui a Huawei como o primeiro parceiro dentro desse processo, o primeiro parceiro a entender esse movimento do governo brasileiro.
Esses ‘territórios’ na nuvem estatal sinalizam um entendimento entre governo e grandes provedores? O mercado está entendendo. Em um primeiro momento, a grande dificuldade foi de entrega e de mudança do modelo de negócio, porque embora ainda não seja um modelo estabelecido no mundo inteiro, também não é um movimento isolado do
“O objetivo [do Balcão Gov.br] é melhorar o letramento digital, ensinando as pessoas a usar os serviços públicos online de forma eficaz.”
governo brasileiro. O conceito de nuvem soberana vem sendo estruturado. Mas as empresas tinham dificuldade em estabelecer um modelo de negócio em que isso se efetivasse. Além da própria dificuldade de componentes, de defasagem de entrega.
Esses dois elementos acabaram atrasando um pouquinho essa implementação. Mas os grandes provedores já entenderam isso. Temos investimentos previstos da ordem de R$ 1 bilhão sendo feitos pelas duas estatais. E também pelo fato de que isso não exclui a existência, no segundo momento, de um processo de nuvem pública que a gente pretende licitar, que complementa. Então, o órgão vai ter a opção, pela classificação do seu dado, de usar a nuvem do governo e também usar a nuvem que a gente está chamando de 3.0, complementar a esse processo.
Para fora, a ideia foi colocar serviços na palma da mão das pessoas. E para dentro, como vai o digital no próprio governo?
Essa foi uma mudança importante que a gente vem construindo ao longo dos anos, mas que se fortaleceu muito aí nesses últimos dois anos. A gente tem focado muito na questão dos órgãos, a conexão ou o aumento dessa interoperabilidade entre os órgãos tem se intensificado. E dentro desse conceito do ‘Conecta’ [um programa que unifica a base de dados], eu tenho um conceito maior, que é o que a gente chama de uma infraestrutura nacional de dados, que tem como alicerce essa integração de bases para efetivação de política pública, qualquer que seja.
Os órgãos estão cada vez mais sensíveis. Temos, inclusive, dispositivos normativos que estamos para publicar fomentando os órgãos para a disponibilização dessas bases. E há uma boa recepção, na medida em que eles entendem o princípio do onceonly, de evitar que o cidadão precise comprovar num outro órgão um direito ou entregar uma declaração que o Estado já tem. E na medida em que isso acaba reduzindo seus custos operacionais.
REDES PRIVATIVAS DESLANCHAM NO PAÍS
Está na hora de sentar, planejar e fazer conta para o investimento
acontecer
.
A IMPLEMENTAÇÃO de redes privativas no Brasil tem ganhado tração com a recente liberação de espectro pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Utilizando tecnologias como LTE e 5G, esses sistemas estão sendo instalados em setores estratégicos, como energia, transporte e manufatura. A criação dessas redes permite às empresas operar com maior controle, segurança e eficiência, gerando um impulso na transformação digital de diversas indústrias.
Segundo dados da consultoria Omdia, o mercado de redes privativas está em rápida expansão. O valor global estimado para o setor deve saltar de US$ 34 bilhões em 2023 para US$ 93 bilhões em 2028, com um número crescente de implementações. As previsões apontam que o total de redes privativas ao redor do mundo deve passar de 12.702 em 2023 para mais de 42.000 em 2028. Os setores com maior número de implementações incluem transporte, manufatura e energia, áreas que dependem fortemente de conectividade robusta e segura para otimizar suas operações.
dos mais interessados em adotar redes privativas para enfrentar seus desafios operacionais. A Anatel editou o Ato 915, liberando as faixas de 410 MHz e 450 MHz para o Serviço Limitado Privado (SLP), abrindo caminho para que as utilities instalem suas próprias redes. Isso despertou um crescente interesse do setor. Empresas como CPFL, Neoenergia e Eletrobras estão entre os principais players, já desenvolvendo iniciativas próprias para melhorar a conectividade em suas operações.
Vinícius Caram, superintendente de Outorgas e Recursos à Prestação da Anatel, destaca que já foram concedidas 66 autorizações para redes celulares privativas 5G no Brasil, das quais 29 estão relacionadas ao setor de energia e utilities. Caram também observa que o custo de operação com redes próprias tende a ser mais viável, com payback em torno de três anos. Além disso, as empresas estão buscando tecnologias específicas como LTE para projetos menores e 5G para iniciativas que demandam alta velocidade e baixa latência.
No Brasil, o setor elétrico tem se mostrado um
“Após a liberação da faixa de 410/450 MHz, há um cenário de muita atividade. Há projetos da Neoenergia, em Brasília; a EDP tem uma prova de conceito em 250 MHz; a CPFL vai implantar redes LTE em São Paulo e no Rio Grande do Sul; a Copel tem prova de conceito em Curitiba; a Santo Antônio Energia vai ter a maior rede privativa 5G; a Celesc tem um projeto de P&D em 5G; a Equatorial vai lançar rede no Nordeste;
Até agosto deste ano, a Omdia acompanhou 57 anúncios públicos. Mas os números podem ser maiores porque fornecedores e provedores de serviços de comunicação não compartilham muita informação, porque muitos clientes veem o 5G privado como um diferencial competitivo.
PABLO TOMASI
Analista global de Redes Privativas da Omdia
a Enel tem uma rede em 700 MHz, mas vai expandir para 450 MHz; a Eletrobras vai ter LTE privativo; a Eneva também tem projeto e a Energisa está em planejamento”, enumera Caram.
O interesse do setor elétrico por redes privativas é justificado pela necessidade de maior autonomia e segurança. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vê as redes privativas como essenciais para a automação, aquisição de dados, controle em tempo real e cibersegurança, itens que são prioritários para o setor.
O cenário internacional também é promissor. A Omdia revela que o Brasil se destaca como líder em redes privativas na América Latina. Em 2024, 52% dos anúncios globais de novas redes são 5G, refletindo uma tendência crescente de adoção dessa tecnologia. Essa expansão, porém, exige investimentos robustos e planejamento estratégico, especialmente quando se trata de atender a áreas remotas onde a cobertura de operadoras é limitada.
“Até agosto deste ano, a Omdia acompanhou
57 anúncios públicos. Mas os números podem ser maiores porque fornecedores e provedores de serviços de comunicação não compartilham muita informação, porque muitos clientes veem o 5G privado como um diferencial competitivo. Eles também não compartilham números para redes menores, como PoCs [provas de conceito]. Além disso, um cliente pode ter um contrato para múltiplas redes”, diz Pablo Tomasi, analista global de Redes Privativas da Omdia.
Para Carlos Lauria, diretor de Relações Governamentais e Assuntos Regulatórios da Huawei Brasil, o espectro mais indicado para redes privativas é nas frequências de 700 MHz, de 3,7GHz/3,8GHz, reservada pela Anatel para que empresas possam criar suas próprias redes em parceria, ou não, com as operadoras de telecomunicações. A própria Huawei é usuária de redes privativas em suas instalações em 3,5GHz em parceria com a Vivo.
“Ao desenvolver um projeto, a empresa usuária
ANEEL: REDES PRIVATIVAS
NOS TORNAM PROTAGONISTAS
Agência Nacional de Energia Elétrica sustenta que as redes privadas são críticas por abranger a segurança, a confiabilidade e a eficiência operacional das empresas do setor.
DIGITALIZAÇÃO, padrões, interoperabilidade e cibersegurança são temas prioritários do Plano Estratégico Quinquenal de Inovação (PEQuI) 2024–2028, com destaque às redes privativas, com pesquisa incentivada no contexto do Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) da Aneel. Já foram identificados pela agência quatro projetos de pesquisa que trabalham com redes 5G. As redes privadas são críticas para o setor elétrico por razões que abrangem a segurança, a confiabilidade e a eficiência operacional das empresas.
As redes próprias são indispensáveis porque permitem autonomia e controle total da infraestrutura; operação de sistemas críticos de automação, aquisição de dados e controle; conectividade em áreas remotas; segurança da informação e proteção contra ciberataques; resiliência e continuidade operacional; flexibilidade e personalização; redução de custos de longo prazo; e integração de smart grids e IoT.
Segundo a Aneel, a evolução para redes inteligentes (smartgrids) e a integração de tecnologias IoT (Internet das Coisas) no setor elétrico dependem de comunicação robusta e confiável. Redes privadas permitem o gerenciamento de milhões de dispositivos conectados, facilitando o monitoramento em tempo real, a automação avançada e a otimização do consumo de energia. A capacidade de controlar essa
A faixa de 400 MHz oferece grande cobertura e vai permitir às empresas reduzir custos e comunicar-se com vários dispositivos. No Brasil, a maior parte das organizações está reformulando seu planejamento para implementar redes 4G.
DYMITR WAJSMAN
avalia se vai fazer sozinha ou em parceria com uma operadora. Isso depende de fatores, tais como se a empresa que vai usufruir do serviço tem capacidade para gerir uma rede e mantê-la atualizada”, aponta. As facilidades do 5G nas redes privativas ajudam muito e são especialmente indicadas se a empresa precisa de alta velocidade ou baixa latência.
Dymitr Wajsman, presidente da UTC América Latina, associação profissional de especialistas em telecomunicações para utilities, observa que o setor elétrico sempre teve rede privativa no Sistema Limitado Privado (SLP). Até 2024, as empresas
frequência, maior a necessidade de equipamentos”, ressalta Wajsman.
SETOR ELÉTRICO SE MOVIMENTA PARA CONSTRUIR AS REDES
O SETOR ELÉTRICO arregaçou as mangas e é um dos que mais investem em redes privativas. Ricardo Leite, superintendente de Smart Grid da Neoenergia, diz que a empresa sempre vai optar pela rede pública, mas nem sempre essa infraestrutura estará disponível em suas áreas de interesse. A Neoenergia foi a primeira a obter licença em 400 MHz no Distrito Federal e está implantando um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento com dois sites LTE cobrindo a região de Taguatinga, tem outros dois em implantação e planos de expansão.
A Eletrobras lançou uma RFP (Request for
Proposal) para a contratação de uma rede privativa 5G que, incialmente, cobrirá uma usina como um piloto para futuras expansões destinadas a apoiar suas operações. Segundo o diretor do Centro de Excelência da companhia, Lucas Pinz, algumas características do projeto ainda estão sendo decididas, tais como a definição de onde será implementado o piloto; se a rede será implementada pela própria Eletrobras ou via contratação de uma operadora e em qual frequência.
A CPFL está em processo para a elaboração de uma RFI (Request for information) para a contratação de rede privativa LTE de baixo custo em 400 MHz. A distribuidora de energia já utiliza rede privativa em 250 MHz no Rio Grande do Sul, concessão que cobre dois terços do estado. A ideia é evoluir para rede LTE em 450 MHz no estado e no interior de São Paulo.
infraestrutura dentro de uma rede privada é essencial para o sucesso da digitalização do setor elétrico. A agência destaca ainda a potencial fonte de receitas. As redes privativas permitiriam às utilities posicionarem-se como atores importantes na universalização do acesso às redes de telecomunicações e na racionalização do compartilhamento de infraestruturas de redes urbanas de comunicação. E com isso promover reduções de custos e gerar receitas suplementares que poderiam ter impacto positivo na modicidade tarifária.
DE OLHOS BEM ABERTOS PARA A SEGURANÇA
Com o crescimento exponencial das redes 5G, os desafios estão nos mecanismos de proteção dos dados usados nas aplicações desenvolvidas por milhares de empresas.
É INEGÁVEL que o 5G apresenta saltos em segurança e privacidade em relação ao cenário das redes 4G. Entre os especialistas em telecomunicações, há um consenso de que a nova tecnologia resolve problemas nessas áreas. E as operadoras de telecomunicações também estão cumprindo seu papel, investindo recursos para manter o padrão de conectividade seguro. Mas esse alinhamento no ecossistema do 5G não é suficiente para afastar os desafios de cibersegurança.
Entre os requisitos incorporados pela tecnologia 5G, estão criptografia e segurança em roaming. Na criptografia, por exemplo, o salto tecnológico do 5G em relação ao 4G aprimorou os recursos, passando de 128 bits para 256 bits. Marcelo Motta, diretor de Cibersegurança e Privacidade da Huawei, observa que, no passado, quando um usuário ligava seu celular, a troca de informações com a rede de telecomunicações era realizada por meio de um texto simples. “Ou seja, dados do usuário, nesse primeiro momento, eram compartilhados por texto simples. Nas redes 5G, essa comunicação já é criptografada”, diz.
Para Ítalo Tacca, especialista no Centro de Segurança Cibernética do Instituto Nacional
de Telecomunicações (Inatel), a questão da criptografia foi um dos principais ganhos no aspecto de segurança da tecnologia 5G. Tacca ressalta a importância de a autenticação do usuário passar por um processo criptográfico.
“Os dados do usuário podem até ser interceptados, mas o autor do ataque não vai conseguir decriptar e identificar essa pessoa. A tecnologia 5G resolveu o problema que poderia comprometer a privacidade do usuário”, afirma.
AUTENTICAÇÕES SECUNDÁRIAS
Outro ganho foi a função de segurança em roaming, que não existia no 4G. Motta lembra que essa função era externa às funções de rede, e agora figura como função específica de rede no 5G. Ele explica que a operadora tem de entender que está falando com um usuário que é cliente de outra operadora em um processo de segurança, para identificar de fato quem está entrando na rede.
Outra vantagem trazida pelo 5G está nos mecanismos de autenticações de usuário. Motta cita como exemplo as aplicações em ambiente industrial. “Em uma rede 4G, os usuários fazem o
Hoje a maior parte dos riscos está nas aplicações, não na infraestrutura crítica de telecomunicações. São milhares de empresas criando essas aplicações, então é importante adotar a cultura de cibersegurança e privacidade para amadurecer os modelos dentro dessas outras camadas, que não pertencem às operadoras.
MARCELO MOTTA Diretor de Cibersegurança e Privacidade da Huawei
processo de autenticação uma única vez, há somente a autenticação primária. Com o 5G, é possível habilitar autenticações secundárias em função do ambiente ou aplicações a que se tem acesso”, diz.
A partir de autenticações secundárias, é possível refinar permissões de acesso aos sistemas, aprimorando as questões de segurança e privacidade. Motta acrescenta que em uma aplicação de IoT pode-se estruturar níveis de permissão individualizada. Na prática, isso significa que o sistema vai aceitar autenticações para determinadas ações, dependendo do nível de consentimento para cada usuário.
[As aplicações de IoT] são passíveis de sofrerem infecção, ou seja, podem ser invadidas, e isso é um ponto fora do controle das operadoras. Então é preciso todo um ambiente seguro para o seu desenvolvimento.
ÍTALO TACCA
Especialista em Segurança Cibernética do Inatel
operadoras, fornecedores e indústria de forma geral.
Apesar de o 5G aprimorar a cibersegurança da rede de telecomunicações, isso não é suficiente. Na análise do diretor de Cibersegurança e Privacidade da Huawei, o 5G traz uma quantidade exponencial de conexões, incluindo as aplicações de IoT. É exatamente nas aplicações que está o ponto nevrálgico da segurança, pontua Motta.
“Hoje a maior parte dos riscos está nas aplicações, não na infraestrutura crítica de telecomunicações. São milhares de empresas criando essas aplicações, então é importante adotar a cultura de cibersegurança e privacidade para amadurecer os modelos dentro dessas outras camadas, que não pertencem às operadoras.”
Globalmente, a tecnologia 5G segue a implantação de acordo com as especificações de órgãos que ditam os padrões e que são adotadas pelas operadoras sem grandes incidentes. Motta observa que as operadoras têm trabalhado para manter a qualidade nos requisitos de conectividade e garantir a confiabilidade da rede para suportar milhares de aplicações, utilizando inclusive referências globais como o GSMA Mobile Cybersecurity Knowledge Base (GSMA MCKB), uma grande biblioteca de ameaças cibernéticas e formas de mitigação construída por meio da cooperação entre
“As vulnerabilidades estão mais relacionadas ao ambiente digital e ao mundo de aplicações digitalizadas. Mesmo tendo conectividade e a rede sendo segura, existem outros problemas de cibersegurança”, diz o diretor da Huawei.
Em uma situação de vazamento de dados, a conectividade pode estar funcionando a contento.
No Brasil, segundo dados de junho de 2024 da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), há cerca de 29 milhões de dispositivos conectados à rede 5G Isso representa 11% do total de conexões móveis habilitadas pela Anatel em todo o território nacional, aproximadamente 260 milhões.
“Mesmo com a conectividade íntegra, existem outros riscos, como vazamentos de dados e ataques de ransomware. Hoje o tempo médio para uma organização se recuperar de um ataque de ransomware é de cinco dias”, ressalta Motta.
Tacca teme a ausência de um ecossistema seguro no desenvolvimento de aplicações que vão rodar na rede 5G. Para ele, um dos maiores desafios abrange as aplicações de IoT.
“Elas são passíveis de sofrerem infecção, ou seja, podem ser invadidas, e isso é um ponto fora do controle das operadoras. Então é preciso todo um ecossistema seguro para o desenvolvimento dessas aplicações, com políticas bem estabelecidas de atualizações, por exemplo”, diz Tacca. No momento em que o dispositivo fosse comprometido por um ataque cibernético, o ideal seria prever recursos de segurança na rede capazes de identificar o comportamento anômalo. “Como essa proteção será feita é um desafio, pois ainda não há definições no padrão da tecnologia 5G”, alerta.
CONECTIVIDADE NAS RODOVIAS PRECISA DE PLANO B
Com a frustração da cobertura prevista no leilão do 5G, mercado espera faixa de 700 MHz para conectar 35 mil km de estradas.
A CONECTIVIDADE MÓVEL ao longo das estradas federais é um tema de grande relevância para motoristas, passageiros e para o próprio desenvolvimento econômico do Brasil. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) revelam um cenário de avanços, mas também de persistentes lacunas na cobertura de telefonia celular nas principais rodovias que cortam o território nacional.
Embora tenha havido melhorias significativas nos últimos anos, especialmente em regiões mais populosas e economicamente ativas, muitos trechos de rodovias federais ainda carecem de sinal de celular adequado. Esta situação
não apenas afeta a comunicação pessoal dos viajantes, mas também impacta a segurança e a eficiência logística do transporte rodoviário. De longe, o retrato até pode parecer animador. Com 122 mil quilômetros de estradas, pouco mais de 88 mil quilômetros têm algum tipo de cobertura (3G, 4G ou 5G), com predominância de redes 4G. Mas esse retrato é fortemente influenciado pelas rodovias concedidas, que representam 13,6 mil quilômetros e dos quais quase 90% (12 mil quilômetros) têm 4G e 4,2 mil, sinal de 5G (31%).
Fora dos trechos com a iniciativa privada, dos 80 mil quilômetros de estradas federais
DE QUILÔMETRO EM QUILÔMETRO
não concedidas, 51,4 mil têm cobertura 4G (63%) e somente 10 mil quilômetros (12%) contam com sinal de 5G. Mas como reconhece a Anatel, é algo mais relacionado à chegada de conectividade em localidades próximas a rodovias. [Existem trechos que podem ter simultaneamente cobertura de 3G, 4G e 5G.]
“Temos visto aumento na conectividade pelo próprio crescimento do setor, que se dá não apenas pela cobertura das rodovias em si, mas também por causa dos compromissos de localidade, que atingem municípios em suas margens”, afirma o superintendente de Planejamento e Regulamentação da agência, Nilo Pasquali.
A grande expectativa para ampliar a cobertura celular nas rodovias veio com o leilão do 5G, que associou esse compromisso aos nacos de 700 MHz oferecidos. Assim, estaria garantida a implantação de redes móveis de pelo menos 4G em 35 mil quilômetros de estradas.
Essa expectativa foi frustrada quando a empresa que adquiriu a faixa no leilão realizado em 2021 renunciou ao espectro – e o fez uma semana antes de vencer a obrigação para os primeiros 3,5 mil quilômetros cobertos.
Questionada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) sobre o impacto disso na conectividade, a Anatel admitiu que “em decorrência da renúncia apresentada pelo vencedor do leilão do 700 MHz, se encontram atualmente suspensas as obrigações de cobertura em estradas e rodovias federais”.
Com isso, o governo federal
Fonte: Painel de Infraestrutura da Anatel
acabou retirando a cobertura dos 35 mil quilômetros de rodovias do Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC). E procurou compensar parte da frustração incluindo rodovias federais e estaduais nos projetos que podem receber recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust).
O setor de telecomunicações, no entanto, aponta que o caminho mais eficiente para retomar esses projetos é a nova oferta da faixa de 700 MHz ao mercado, e consequentemente associá-la a compromissos de cobertura nas estradas do País, conforme já foi publicamente anunciado pela Anatel.
“É importante lembrar que o impacto dessa medida é maior do que estradas. Essa cobertura beneficia muitas pequenas cidades, vilarejos que estão ao lado das rodovias”, diz o vicepresidente de Relações Públicas da Huawei, Atilio Rulli.
A Huawei conhece o tema de perto, pois é fornecedora de equipamentos LTE, 5G e WiFi 6 que já viabilizaram a instalação de mais de 2 mil quilômetros de rodovias conectadas em conjunto com as operadoras móveis ou com as concessionárias de estradas.
“A conectividade nas estradas é um projeto importante para interligar o Brasil. É algo que vemos como objeto social, uma vez que, além da necessidade que hoje os veículos e seus ocupantes têm, também no entorno das rodovias existem muitas vezes localidades carentes de conectividade de qualidade”, afirma o gerente de Produtos Wireless da Huawei
Brasil, Bruno Alvarenga.
Ele destaca a importância de equipamentos capazes de atender áreas muito mais amplas do que nas cidades. “São antenas de tecnologia 4G, prontas para evolução para o 5G, com maior cobertura. Já que as extensões são grandes, o ideal é cobri-las com menos equipamentos”, diz Alvarenga. Como destaca a ANTT ao avaliar a questão da cobertura celular
em rodovias, “a conectividade deixará de ser necessária somente para a comunicação dos usuários e se tornará imperativa para que as concessionárias tragam maior eficiência operacional, monitoramento e controle de tráfego; detecção automática de incidentes; sistemas de informação ao usuário; assistência em tempo real; ampliação das tecnologias de free flow; e veículos autônomos”.
A conectividade nas estradas é um projeto importante para interligar o Brasil. É algo que vemos como objeto social, uma vez que, além da necessidade que hoje os veículos e seus ocupantes têm, também no entorno das rodovias existem muitas vezes localidades carentes de conectividade de qualidade.
BRUNO ALVARENGA
Gerente de Produtos Wireless da Huawei
UMA FATIA PARA OS REGIONAIS
QUEM TAMBÉM tem interesse em projetos de conectividade nas estradas brasileiras são os provedores regionais de internet, que apostam na liberação da faixa de 6 GHz com WiFi 6E para a implantação de seus projetos. De acordo com o diretor financeiro da Associação Brasileira dos Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), Aristóteles Dantas, isso trará oportunidades de novos negócios para todo o ecossistema.
“A liberação da faixa de 6 GHz outdoor poderá nos dar espectros maiores para fazer uma cobertura WiFi com qualidade”, diz, lembrando que a entidade tem um projeto para a criação de um sistema de integração que permite a migração de usuários de uma rede WiFi para outra. Com a faixa liberada, os provedores regionais poderão formar pools para cobrir partes das estradas em suas regiões. Para dar mais força à demanda, a Abrint vem trabalhando em conjunto com outros países cujos provedores também tenham interesse.
Missão do programa Huawei ICT Academy no Brasil é fechar 2024 com 20 mil pessoas capacitadas em tecnologias emergentes para sustentabilidade do mercado. Globalmente, até 2027, serão mais de 1 milhão.
UMA LUZ NO APAGÃO DE TALENTOS
O MERCADO de tecnologia no Brasil enfrenta um cenário paradoxal: enquanto as inovações avançam em ritmo acelerado, a oferta de profissionais qualificados para acompanhar essa evolução é insuficiente. Tecnologias emergentes como 5G, inteligência artificial (IA) e o promissor 6G exigem conhecimento técnico profundo, que ainda é escasso no País. Essa realidade representa mais que um desafio para as empresas. É um alerta para a construção de iniciativas de capacitação que garantam a sustentabilidade do negócio, do mercado e da sociedade em um mundo cada vez mais digital e com mudanças frequentes.
De acordo com levantamento feito pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), o mercado de tecnologia no Brasil vai gerar 797 mil vagas de emprego até 2025. Mas a escassez de talentos é fato. Segundo o mesmo levantamento, o País forma apenas 53 mil profissionais por ano, muito longe de suprir a demanda.
Empresas de tecnologia reconhecem a urgência e sabem da necessidade de adotar medidas para suprir a carência alarmante. A Huawei é uma delas. Entende que o avanço das organizações, bem como do mercado e da sociedade, somente será sustentável por meio de programas de capacitação para formar
profissionais em temas estratégicos como IA, 5G, cloud computing e cibersegurança.
Fruto desse propósito, a Huawei ICT Academy foi criada em 2015 e é uma iniciativa global, que atende não somente às suas próprias necessidades, mas também contribui para a formação de uma força de trabalho mais qualificada para todo o mercado, ampliando as oportunidades de emprego e, por meio
HUAWEI ICT ACADEMY
QUEM PARTICIPA?
> Instituições públicas: universidades municipais, estaduais, federais e institutos federais (+600 unidades no País)
> Instituições particulares: escolas de ensino técnico, faculdades e universidades
BENEFÍCIOS AOS ALUNOS
> Exposição à indústria e a tecnologias avançadas
> Acesso a tecnologias emergentes e a recursos de aprendizado online da Huawei
> Ferramentas de laboratório de simulação
> Treinamento em TICs com padrão da indústria
> Aumento de oportunidades de emprego e ampliação de planos de carreira
> Seminários, viagens e competições da área de TICs
> Aumento significativo de competitividade na carreira
Como podemos liderar o 5G se não tivermos pessoas qualificadas para isso? Estamos cuidando das nossas dores e das do mercado.
VICTOR MONTENEGRO
Head de Educação & Valor Social
conteúdos como big data, computação em nuvem, inteligência artificial e 5G.
Montenegro destaca que a Huawei entende que seu compromisso com a capacitação também abriga um papel social, quebrando barreiras por meio da ampliação do propósito apoiado em três pilares: qualificar pessoas que estão fora do mercado de trabalho – o Brasil tem 9,6 milhões de jovens que nem estudam e nem trabalham, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE, o que representa quase 20% de pessoas entre 15 e 29 anos.
dela, fomentando a inclusão social. Em 2017, chega ao Brasil e lança luz no temido apagão de talentos.
FOCO NA DIVERSIDADE
Victor Montenegro, head de Educação & Valor Social na Huawei Brasil, explica que a Huawei ICT Academy é um programa global que abrange todo o processo de desenvolvimento de talentos, desde a criação de cursos de certificação reconhecidos pelo mercado de trabalho, passando pela capacitação de instrutores, configuração do ambiente de laboratório e certificação de pessoas, até o emprego. Tudo isso por meio de colaboração com instituições de ensino públicas e privadas e feiras de emprego promovidas pela Huawei e parceiros. Um diferencial importante é possibilitar a professores, alunos e técnicos administrativos das instituições parceiras treinamentos patrocinados pela empresa em todo o território brasileiro, especialmente em regiões menos favorecidas, próprias de um país continental. Depois de completada toda a jornada, os alunos recebem certificados de conclusão que abrem portas no mercado. A cooperação escola-empresa é o coração do programa, que segue alinhado às necessidades de instituições de ensino superior com o objetivo de estimular e impulsionar as carreiras no setor de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs).
Os cursos profissionais da ICT Academy incluem
O segundo pilar é qualificar pessoas empregadas, por meio de formação atual e emergente. O terceiro é capacitar pessoas com algum tipo de vulnerabilidade, considerando que o Brasil tem mais de 45 milhões de pessoas com alguma deficiência, ou seja, 23,9% da população, panorama divulgado pelo IBGE. “Estamos trabalhando fortemente com este grupo, atualizando nossos materiais e estratégias dos cursos para atender a pessoas com necessidades especiais, inicialmente com limitações visuais e auditivas”, relata o executivo.
“Nos últimos anos, mais de 50 mil pessoas foram treinadas no País. Neste ano, entre as unidades da Huawei, o Brasil permanece como top 1 em treinamento em tecnologia. Globalmente, a meta é capacitar até 2027 mais de 1 milhão de pessoas”, anuncia. E provoca: “Como podemos liderar o 5G se não tivermos pessoas qualificadas para isso? Estamos cuidando das nossas dores e das do mercado.”
CAPACITAÇÃO ALÉM-FRONTEIRAS
Um dos parceiros do programa é o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel). Por meio dele, os alunos têm ampliado o conhecimento em tecnologias de ponta e obtido capacitações mais demandadas pelo mercado.
O professor Guilherme Augusto Barucke Marcondes, vice-diretor do Inatel, destaca recursos digitais, como e-mail marketing e site, para despertar o interesse dos jovens pela tecnologia e consequentemente para os cursos de Engenharia focados em tecnologia, carrochefe da instituição. Mas são nas visitas a escolas do Ensino Médio que a magia acontece.
“Nas apresentações presenciais, para promover a área de automação, por exemplo, levamos robôs para a sala de aula e mostramos como se constrói um modelo
simples. E então fazemos uma competição entre eles e assim ficam estimulados, curiosos. A mesma estratégia é aplicada para áreas como segurança cibernética, programação e engenharia biomédica”, diz.
O interesse das mulheres por tecnologia é realidade, mas precisa avançar, na avaliação de Marcondes. No quadro geral, elas ocupam 25% dos cursos e, segundo o professor, muitas são brilhantes e carregam faz tempo em seus currículos as oportunidades proporcionadas pelo programa, como Ana Paula Vilas Boas, que estava entre os cinco estudantes que participaram de um intercâmbio na China em 2016.
“O Seeds for the Future, da Huawei, foi uma experiência que vou levar para a vida. Depois do intercâmbio, iniciei o estágio na Huawei. Participei da primeira turma da Fábrica de Talentos do Inatel, com treinamentos e preparação para o meu trabalho”, lembra Ana Paula. Bruno de Almeida Dias, engenheiro formado pelo Inatel, é outro exemplo da importância da capacitação no início da carreira. “A Fábrica de Talentos foi a melhor oportunidade que eu poderia ter no início da minha carreira; fiz parte do projeto logo na primeira turma, em 2017. Após pouco mais de um ano de estágio, fui contratado para fazer parte desse time trabalhando em parceria com a Huawei, onde permaneci por quase cinco anos”, diz.
A expansão do programa é constante. O Inatel conduziu, durante o mês de junho de 2024, um programa de capacitação em Luanda, Angola, focado em redes móveis e infraestrutura de TI. O treinamento, por meio da parceria com a Huawei, teve como objetivo a preparação de engenheiros locais para a implantação, operação e manutenção de redes 4G e 5G.
PARTIU CHINA!
Sousa revela ainda estar impactado pela oportunidade. “Foi um sopro de vida em minha trajetória.”
Ele participou da competição na trilha Cloud e explorou a plataforma Huawei Talent para estudos e formação. O IFPB classificou três equipes para a China, que conquistaram posições importantes em trilhas de Inovação (primeiro lugar), Redes (segundo lugar) e Nuvem (terceiro lugar). A equipe de Sousa teve como tutor o professor Michel Coura Dias e participação dos colegas Vinicius Simão e Abraão Borges.
O estudante talentoso do sertão da Paraíba já concluiu na Huawei Talent os cursos de Computação, Serviços em Nuvem, Big Data e inteligência artificial. Todo esse empenho rendeu frutos. Sousa, após a competição, foi selecionado entre os top 50 estudantes do Brasil para participar do programa Seeds for the Future
Nascido em São Paulo, porém criado em uma pequena cidade do interior do sertão paraibano, com menos de 5 mil habitantes, Pedro Henrique Barbosa de Sousa, de 22 anos, aluno do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), não imaginava que um dia iria sair de Pedra Branca rumo à China, importante polo tecnológico do mundo.
Este é mais um sonho que se tornou realidade por meio do Huawei ICT Competition, que aconteceu em maio de 2024. Cursando o quarto semestre em Sistemas para Internet no IFPB – Campus João Pessoa,
“Saí da competição muito motivado em participar de outras. Minha certeza é nunca desistir antes de tentar. E quero mais. Ocupar cada vez mais espaços e inspirar quem acha que não tem condições de lutar pelo seu lugar, seja onde e como for”, ensina.
Para a Huawei, a escassez de profissionais qualificados não é apenas uma questão econômica, mas também social. Investir na capacitação de jovens e adultos, especialmente em regiões menos favorecidas, pode transformar vidas ao proporcionar acesso a empregos de alta demanda e remuneração competitiva. Programas educacionais e de formação técnica têm o potencial de reduzir a desigualdade social, ao incluir mais pessoas no mercado de trabalho de tecnologia.
Pedro Henrique Barbosa de Sousa, aluno da Paraíba, recebeu medalha pela conquista do Third Prize Mundial, na categoria Cloud por equipe
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CHEGOU ÀS REDES E AOS USUÁRIOS. E AGORA? IPv6
Migração para o novo padrão no mercado brasileiro avançou bem nos últimos anos entre provedores de internet e fabricantes de equipamentos. Agora, falta que os provedores de conteúdo façam sua parte.
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A ESCASSEZ de endereços IP foi notada no início dos anos 2000, quando se percebeu que o padrão vigente até ali, o IPv4, não suportaria a expansão da internet. Isso resultou no surgimento do IPv6 e em um movimento de migração. No Brasil, essa onda ganhou força em 2014. Passados dez anos, é possível notar um grande crescimento na disponibilidade e uso do IPv6, hoje presente nas redes da maioria dos provedores de internet e nos equipamentos dos usuários responsáveis pela interface com estas redes (celulares, roteadores etc.). O mesmo avanço não ocorreu do lado dos provedores de conteúdo, o que levou à implementação de uma solução de contorno (o chamado CGNAT-44), que permite o compartilhamento dos endereços IPv4 disponíveis entre os diversos usuários.
Um estudo realizado pela Huawei, Anatel e Inatel no ano passado aponta que a taxa de adesão no Brasil está em cerca de 50%, o que coloca o País em 3º lugar em adoção de IPv6 na América Latina e em 22º lugar no mundo. Não é ruim, mas poderia ser melhor.
O diretor de Relações Governamentais e Assuntos Regulatórios da Huawei Brasil, Carlos Lauria, lembra que as taxas não são maiores porque o Brasil ainda tem muitos sites não compatíveis com o novo padrão. “Isso deixa parte da rede não tão segura como deveria ser. Quando falamos em ampliar o uso do IPv6, temos que ter os equipamentos e as aplicações”, afirma.
O executivo reforça a necessidade do uso do novo protocolo de ponta a ponta. “Não há mais endereços IPv4 para serem fornecidos e o uso de números compartilhados traz uma questão forte de segurança”, afirma. Além disso, o crescimento de aplicações de IoT e 5G amplia o número de elementos de rede em uma mesma área de cobertura, aumentando a necessidade de endereços IP.
Quando falamos de IA, nação digital etc., são todas soluções e aplicações que precisam ser seguras e rápidas. Por isso o IPv6 é prioritário para nós e temos colocado muitos recursos nisso.
CARLOS LAURIA Diretor de
Relações Governamentais e Assuntos Regulatórios da Huawei Brasil
Lauria diz que a Huawei vem estimulando seus clientes a contarem com segurança do IPv6 de ponta a ponta. “Quando falamos de IA, nação digital etc., são todas soluções e aplicações que precisam ser seguras e rápidas. Por isso o IPv6 é prioritário para nós e temos colocado muitos recursos nisso.”
Preocupação semelhante é demonstrada pela Anatel, que desde 2016 exige que os equipamentos de rede comercializados no Brasil sejam certificados para o novo padrão. O gerente de Certificações da agência, Davison Gonzaga da Silva, lembra que, graças a esse esforço, hoje o Brasil tem seu core com 100% de suporte ao IPv6.
“A questão é que hoje a maioria dos sites ainda trabalha com o IPv4. Não temos muito conteúdo com o novo padrão”, diz. O fato é que estes casos fogem do controle da Anatel, dependendo mais da decisão dos provedores. Silva diz que sua expectativa é iniciar em 2025 um trabalho que garanta que pelo
“Sentimos falta de bancos, governo e portais de e-commerce adotarem o protocolo.”
ANTONIO MOREIRAS
Gerente de Desenvolvimento de Projetos do NIC.br
Os provedores menores precisam de treinamento técnico de seu pessoal e é normal que haja dificuldade de implementação da rede.
EVANDRO VARONIL Conselheiro da Abrint
menos o conteúdo gerado pelas operadoras atenda o protocolo.
DE OLHO NOS PEQUENOS PROVEDORES
Outro foco de atenção devem ser os pequenos e médios provedores, que serão objeto de atenção de iniciativas a serem desenvolvidas pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).
O diretor de Projetos da entidade, Milton Kashiwakura, lembra que a
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A questão é que hoje a maioria dos sites ainda trabalha com o IPv4. Não temos muito conteúdo com o novo padrão.
DAVISON GONZAGA DA SILVA Gerente de Certificações da Anatel
As grandes operadoras fizeram sua lição de casa. Agora há a preocupação com o que está acontecendo com as médias e pequenas.
MILTON KASHIWAKURA Diretor de Projetos do NIC.br
instituição foi uma das primeiras a realizar treinamentos sobre o novo protocolo para as equipes técnicas de provedores e operadoras, mas reconhece que ainda há muito trabalho a fazer. “As grandes operadoras fizeram sua lição de casa. Entenderam, aprenderam e fizeram nesse espaço de tempo a movimentação de sua rede em IPv6. Agora há a preocupação com o que está acontecendo com as médias e pequenas”, diz.
O gerente de Desenvolvimento de projetos do NIC.br, Antonio Moreiras, acredita que o mercado ainda enfrente três tipos de dificuldades na migração. A primeira é a compreensão da necessidade. “Sentimos falta de bancos, governo e portais de e-commerce adotarem o protocolo. O mesmo ocorre com equipamentos de Operational Technology (OT): muitos não trazem chips IPv6 porque não é obrigatório”, diz.
A segunda dificuldade diz respeito à capacitação técnica. Moreiras lembra que o NIC.br já produziu – e continua produzindo – muito material e treinamentos
focados no tema. Por fim, há a questão dos equipamentos de OT e diversos outros que se conectam à internet, muitos ainda sem suporte ao IPv6.
Para Kashiwakura, a lentidão não é um problema em curto prazo, uma vez que a internet vem crescendo a um ritmo mais lento no pós-pandemia, mas pode ser um obstáculo mais à frente.
Por seu lado, o NIC.br vem procurando estimular este processo. Em 2023, a instituição criou uma premiação que reconhece os provedores com maior grau de implementação de IPv6, o Desafio BCOP [BestCurrentOperational Practice]. A iniciativa vai ser repetida este ano, agora com a inclusão de práticas como DNS7 e anti-spoofing. O conselheiro da Abrint [Associação Brasileira de Provedores de Internet] Evandro Varonil reconhece que o IPv6 é o único caminho para o desenvolvimento da internet, mas que alguns atrasos obrigaram ao uso de paliativos como o CGNAT-44. “O IPv4 tem sobrevida e é parte importante da internet”, diz, lembrando que os provedores regionais sempre defenderam a ideia do IPv6. Seguindo o modelo sugerido pelo NIC.br, Varonil lembra que novos provedores já iniciam suas operações utilizando o novo protocolo, mas o universo a ser atingido pela migração é grande. “Hoje há provedores com 100% da base IPv6 já funcionando, mas há outros menores que têm dificuldade de adoção. Os provedores menores precisam de treinamento técnico de seu pessoal e é normal que haja dificuldade de implementação da rede”, diz.
Em pesquisa realizada sobre o uso do IPv6 no Brasil, a Huawei, a Anatel e o Inatel mostram o que a migração pode trazer de valor para o ecossistema da internet brasileira. De acordo com o estudo, o novo padrão pode aumentar a segurança e promover o progresso da economia digital com vantagens para diferentes setores:
AGRICULTURA – a tecnologia IPv6/IPv6 Enhanced pode auxiliar os agricultores a se conectarem rapidamente ao sistema em nuvem e fornece suporte técnico pragmático para todo o gerenciamento de processos das principais culturas, pecuária e aves, além da piscicultura.
EDUCAÇÃO – o SRv6 com o IPv6 Enhanced possibilita o provisionamento rápido de serviços sem a necessidade de atualização em toda a rede. Os dispositivos em nuvem podem provisionar serviços rapidamente para escolas em nível regional.
ENERGIA – ganha suporte a acesso massivo, interligação entre domínios e alcance de ponta a ponta, auxiliando o setor na implementação de redes de energia completas.
GOVERNO – o IPv6 e o IPv6 Enhanced auxiliam o governo digital a concretizar a “internet + serviços governamentais” que estão interligados vertical e horizontalmente, promovendo colaboração entre departamentos. A tecnologia de fatiamento de rede e os recursos de segurança integrados garantem a confiabilidade e a segurança dos dados.
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS – o IPv6 e o IPv6 Enhanced auxiliam o setor financeiro a realizar a digitalização, o provisionamento rápido de serviços e os serviços baseados em vídeo, além de acelerar a conexão onipresente da IoT financeira. O IPv6 e a IA permitirão que os clientes ampliem serviços por meio da expansão de redes IP inteligentes.
MANUFATURA – pode convergir e inovar em cenários de redes industriais. A internet industrial visa realizar a conexão abrangente de todos os elementos, cadeia industrial e cadeia de valor por meio da interconexão total de pessoas, máquinas e objetos.
OPERADORAS – podem se beneficiar da construção da infraestrutura de rede e da atualização da internet baseada em IPv6 e da promoção das inovações tecnológicas do IPv6 Enhanced, como o SRv6, o fatiamento de rede, o IFIT e o APN 6.
SERVIÇOS PÚBLICOS E CIDADES INTELIGENTES – o IPv6 e o IPv6 Enhanced melhoram a governança social nas cidades. No nível individual, os protocolos são mais seguros e as opções padrão de criptografia proporcionam uma proteção aprimorada para as atividades online do dia a dia.
TRANSPORTES – tem suporte na construção de sistemas de coleta digital, de transmissão em rede e de aplicativos inteligentes, promovendo a transformação digital e a modernização da infraestrutura.
FUTURECOM: UMA VITRINE DE INOVAÇÕES
Huawei adota o lema ‘Conectividade
com Inteligência’ para apresentar o estado da arte da tecnologia no evento, que acontece
de 08 a 10 de outubro em São Paulo, com 5.5G, WiFi 7, 50 GPON, FTTO, soluções empresariais de network e muito mais.
‘CONECTIVIDADE COM INTELIGÊNCIA’. Este é o tema escolhido pela Huawei para apresentar as suas inovações voltadas às redes móveis e fixas, orientadas aos mercados de consumidor final, residencial e corporativo, que vêm permeadas por tecnologias emergentes como cloud computing e IA.
Carlos Roseiro, diretor de ICT Marketing da Huawei Brasil, diz que estão em demonstração soluções “em que a inteligência artificial potencializa a gestão e a performance de vários elementos de rede, assim como de diversos modelos de negócio”. Segundo ele, a tendência é que a conectividade evolua sempre, com mais capacidade e throughput, e cada vez mais traga inteligência para as atividades das operadoras. Ele reforça que “a IA não é um produto, mas uma característica presente em tudo o que estamos
apresentando e pode gerar eficiência em todas as operações”.
CONSUMER - No mercado B2C, o destaque vai para os serviços com vídeos 3D sem a necessidade de uso de óculos, o que é uma novidade emergente nos mercados asiáticos, havendo cada vez mais dispositivos com essa tecnologia e suportados por redes 5G de alta performance. Roseiro destaca as tendências que vêm moldando os modelos de negócio das operadoras móveis, nas quais a monetização é pela experiência. A monetização com grandes pacotes de dados vai continuar, mas em muitos países já se busca uma alternativa, por meio de QoS ou network slicing, para ofertar SLAs diferenciados.
“Para fazer isso, introduzimos no core da rede a camada de inteligência (intelligenceplane) para identificar em tempo real se o cliente está atingindo o nível de serviço
A IA não é um produto, mas uma característica presente em tudo o que estamos apresentando e pode gerar eficiência em todas as operações.
CARLOS ROSEIRO
Diretor de ICT Marketing da Huawei Brasil
que foi acordado e, caso não esteja, a solução ativa uma priorização de tráfego”, explica Roseiro.
RESIDENCIAL - No segmento residencial atendido com redes fixas, a tendência é oferecer cada vez mais pacotes a partir de 1 Gbps. Hoje, no Brasil, cerca de 4% dos pacotes de dados em redes fixas já são em 1 Gbps, um crescimento de 75% face ao ano anterior. Para atender à demanda crescente, a Huawei demonstra a solução F30 (Fiber-to-the-Room, ou FTTR). “Trata-se da única solução que permite entregar 1 Gbps em todos os cômodos”, ressalta o diretor. Além disso, a Huawei apresenta novidades que estão por vir. O destaque vai para a nova geração de OLTs [Terminais de Linhas Ópticas] com capacidade para placas 50 GPON, mas compatíveis com 10 GPON e GPON. Para a cobertura WiFi da casa, é mostrada também
a nova versão do FTTR, o F50, que permite entregar velocidades de 10Gigas em todos os cômodos.
“Hoje, com velocidades de 1 Gbps, algumas operadoras estão fazendo deployment com o 10 GPON. A Huawei é o primeiro vendor a lançar o 50 GPON, para suportar velocidades cada vez maiores. Se as operadoras adotarem essa solução, conseguirão entregar 1 Gbps para um número muito maior de clientes por conjunto de residências”, diz Roseiro.
CORPORATIVO - Estão apresentadas no Futurecom soluções da Huawei Enterprise Brasil, unidade de negócios que oferece tecnologias para o mercado corporativo e setor público, como storage e servidores. Um dos destaques são as ONTs [Terminais de Redes Ópticas] e roteadores com WiFi 7, com foco em empresas que vendem seus produtos e serviços para o consumidor final.
A tecnologia WiFi 7 é uma evolução significativa em relação ao WiFi 6, com até quatro vezes mais capacidade de banda. Proporciona uma experiência de internet extremamente rápida e estável, ideal para atender às crescentes demandas dos usuários finais.
A Huawei também dá destaque à sua linha de produtos ONT com tecnologia trouble free. Esta tecnologia oferece WiFi sem interrupção, proporcionando melhores experiências e otimização automática, sem necessidade de intervenção manual.
“Nas soluções de redes privativas 5G para o segmento B2B, iremos mostrar que existem
cenários que justificam redes privativas totalmente isoladas das redes públicas. Mostraremos ainda que, em alguns cenários, é mais adequado oferecer redes privativas sobre as redes públicas das operadoras 5G, utilizando soluções como network slicing para atingir os SLAs que esses cenários requerem.
Na área de rede fixa corporativa, é exibido o conceito de campus network, com equipamentos de conectividade específicos, IP ou óptico, com níveis de serviço acordados. Para pequenas e médias
empresas, a Huawei apresenta seu portfólio de eKit, com soluções de conectividade fixa, de nuvem e segurança. Em destaque, está o FTTO, solução de conectividade WiFi com fibra energizada para escritórios que queiram a máxima velocidade contratada em todos os espaços. Para empresas de grande porte, a Huawei apresenta cases e soluções de networking específicas para sete verticais diferentes, que vão de governo até finanças, petróleo, gás, mineração, transportes, eletricidade, provedores de internet (ISPs) e comércio varejista.
TECNOLOGIAS AVANÇADAS
O FUTURECOM 2024 é palco para a apresentação de soluções tecnológicas totalmente inovadoras, fruto da estratégia da Huawei de forte investimento em pesquisa e desenvolvimento, algumas delas ainda a serem lançadas no mercado brasileiro.
Entre as novas soluções wireless, o destaque está em três grupos de antenas inovadoras. O destaque é para a família de produtos Massive MIMO, tendo a MetaAAU como estrela do portfólio, com seu novo diferencial de ser dual band.
Também está na exposição a nova antena para o uso de frequências mais altas, as chamadas ondas milimétricas, agora com a tecnologia ELAA. O terceiro grupo de antenas é o da família Rural Star, orientada para frequências FDD e voltada para áreas rurais sem cobertura. São soluções diferentes para cenários diversos em termos de densidade demográfica (por tamanho de cidades) ou de necessidade de cobertura (estradas ou áreas agrícolas).
Está ainda no evento todo o leque de soluções da Huawei, que vão desde as de infraestrutura para datacenter, passando pelos equipamentos e tecnologias mais recentes de storage, bem como as que são oferecidas pela Huawei Cloud.
No estande, há uma demonstração do seu software de call center com inteligência artificial (AICC). Os visitantes poderão se colocar no papel de um atendente e verificar in loco que tipos de sugestões a AICC oferece em função do tom de voz do cliente que faz o chamado.