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Conectividade avança nas

áreas rurais

As empresas de internet tiveram papel decisivo para levar conectividade às áreas mais remotas do Brasil. A desigualdade digital diminuiu, mas ainda há lacunas a serem preenchidas, revela a pesquisa TIC Domicílios 2021.

AS áREAS RuRAIS brasileiras estão mais conectadas. E as prestadoras de serviços de telecomunicações continuam exercendo um papel fundamental para levar internet a regiões remotas. Na comparação do cenário antes da pandemia, em 2019, com o de 2021, houve avanço no número dos domicílios com acesso à internet, segundo a pesquisa TIC Domicílios 2021, lançada no fim de junho pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

O aumento foi significativo: 20 pontos percentuais entre 2019 e 2021. Entre os indivíduos de dez ou mais anos conectados à internet na zona rural, a penetração passou de 53% em 2019 para 71% em 2021. A porcentagem também cresceu na área urbana, mas menos: de 75% em 2019 para 86% em 2020, com ligeira redução para 83% em 2021.

“Nesta edição, vimos grande crescimento na conectividade rural, talvez devido à pandemia, quando as pessoas precisaram ficar trabalhando remotamente”, salientou José Gontijo, coordenador do CGI.br, durante a apresentação online da pesquisa. “A partir dessas informações, várias políticas públicas ao longo dos anos foram implementadas. As políticas públicas têm de ser baseadas em dados e evidências”, completou.

O levantamento apontou que, em 2021, 81% da população de dez anos ou mais usou a internet nos últimos três meses anteriores à pesquisa – o que corresponde a 148 milhões de indivíduos. Também foi registrado um crescimento significativo na proporção de usuários da rede nas regiões Norte (83%), Sul (83%) e Nordeste (78%) em relação a 2019.

Importante ressaltar que a pesquisa, conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), sofreu alteração para se adequar às restrições impostas para conter o avanço da Covid-19. “Houve uma adaptação do ques-

“A partir das informações [da pesquisa], várias políticas públicas ao longo dos anos foram implementadas. As políticas públicas têm de ser baseadas em dados e evidências.”

José gontiJo Coordenador do CGI.br

DOMICÍLIOS COM ACESSO À INTERNET

Total de domicílios

Percentual (%) Sim Não Não sabe

Não respondeu

TOTAL

82 18 0 0

Veja a íntegra da pesquisa: https://cetic. br/pt/pesquisa/ domicilios/ indicadores/

ÁREA

REGIÃO Urbana Rural Sudeste Nordeste Sul

83 17 0 0 71 29 0 0 84 16 0 0 77 22 0 0 83 17 0 0 Norte 79 20 0 0 Centro-Oeste 83 17 0 0

RENDA FAMILIAR

tionário para realização por telefone. Tivemos uma amostra menor, o que aumenta a margem de erro”, explicou Fabio Storino, analista de informações do Cetic.br/NIC.br e coordenador da TIC Domicílios.

Realizada anualmente desde 2005, a TIC Domicílios busca medir a posse, o uso, o acesso e os hábitos da população brasileira em relação às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Devido às medidas de distanciamento social provocadas pela pandemia, em 2020, a pesquisa teve a sua metodologia adaptada, sendo realizada preferencialmente pelo telefone. Em 2021, voltou a ser adotado o modelo integralmente presencial. Os dados foram coletados entre outubro de 2021 e março de 2022, com a inclusão de 23.950 domicílios e 21.011 indivíduos de 10 anos ou mais.

De acordo com Alexandre Barbosa, gerente do Cetic. br/NIC.br, parte do crescimento da internet nas áreas rurais veio das prestadoras de serviços de telecomunicações. “Mas não podemos afirmar que tudo vem delas, porque há várias tecnologias, como satélite”, disse.

Na área rural, as conexões dos domicílios por fibra ótica ou cabo somam 39% (contra 64% na zona urbana), enquanto as redes móveis são responsáveis por 20% das conexões rurais (17% na urbana); satélite por 10%; e rádio, 9%. Segundo Barbosa, o que se enquadra como zonas

Até 1 SM 69 31 0 0 Mais de 1 SM até 2 SM 81 19 0 0 Mais de 2 SM até 3 SM 91 9 0 0 Mais de 3 SM até 5 SM 95 5 0 0 Mais de 5 SM até 10 SM 98 2 0 0 Mais de 10 SM 99 1 0 0 Não tem renda 58 42 0 0 Não sabe 83 17 0 0 Não respondeu 82 18 0 0

CLASSE SOCIAL

urbana ou rural segue a definição do IBGE. Como já demonstrado em outros levantamentos do NIC, a 17ª edição da pesquisa TIC Domicílios confirmou a relevância do acesso à internet no contexto proporcionado pela emergência da Covid-19, em especial com o avanço das atividades de trabalho e estudos remotos. Barbosa ressaltou que, em comparação ao período que antecedeu a crise sanitária, houve uma ampliação da presença da internet nos domicílios e de seu uso por indivíduos, sobretudo, nas áreas rurais. Entre 2008 e 2021, a pesquisa deixou claro o avanço de domicílios com acesso à internet. “É possível ver a evolução da penetração da internet nos domicílios, saindo de 18% em 2008 para 82% em 2021”, disse Storino, que

A 100 0 0 0 B 98 2 0 0 C 89 11 0 0 DE 61 39 0 0 Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 2021.

destacou a grande variação na área rural em relação ao período pré-pandemia, passando, como já mencionado, de 51% para 71% entre 2019 e 2021.

“Mas ser domicílio com conexão à internet não revela a qualidade, e quando cruzamos os dados é possível observar diferenças importantes”, sinalizou o coordenador da pesquisa. “Enquanto a fibra ótica e o cabo são as principais tecnologias em quase dois terços das casas urbanas, nas rurais, as maiores conexões são por rede móvel, satélite e rádio”, apontou.

redução da desigualdade

Com o avanço do acesso à internet nas classes sociais e na área rural, as desigualdades identificadas em edições passadas da TIC Domicílios foram reduzidas, mas ainda há lacunas a serem preenchidas. Em comparação aos dados coletados em 2019, a presença de conexão de internet nos domicílios aumentou em todos os estratos analisados, notadamente, nas classes DE (61%, aumento de 11 pontos percentuais).

Enquanto 100% da classe A tem acesso à internet no domicílio, na classe C a proporção é de 89% e na DE, de 61%. Do ponto de vista da conectividade, a disparidade entre os domicílios das classes A e DE vem diminuindo nos últimos anos, sendo que a diferença entre esses estratos passou de 83 pontos percentuais em 2015 para 39 pontos em 2021.

O indicador apresentou estabilidade, com 39% dos domicílios brasileiros com computador, mas, ao analisar algumas variáveis, ainda há desigualdades entre as áreas urbana e rural, com a urbana tendo mais que o dobro de proporção e por classe, com 99% da classe A com computador, contra apenas 10% das classes DE.

“Desde 2015, é possível observar que na classe A há uma estabilidade na proporção de computador nos domicílios, enquanto vemos uma redução nas classes C e DE, em que houve uma diminuição significativa na proporção de casas que possuem computadores”, ressaltou Fabio Storino. O analista destacou ainda o crescimento do uso da internet pela população com 60 anos ou mais.

A pesquisa também mostrou que, no Nordeste, a proporção maior é de usuários exclusivos de Wi-Fi. Já no Norte do País, a maior proporção é de acesso à internet por plano celular. “Isso tem impacto na diversidade das atividades que são realizadas online”, explicou Storino.

Outro destaque foi o uso da internet por tipo de dispositivo. “Enquanto o computador foi o principal meio até 2014, há mais de uma década, desde o surgimento dos smartphones, o celular começou a se popularizar, e hoje 99% acessam a internet por celular e parte dos novos usuários são exclusivos com o acesso via celular”, disse. Com relação ao acesso via televisão, que vinha crescendo desde 2014, em 2021, ficou em segundo lugar, saindo de uma população de 49,5 milhões, em 2019, para 74,5 milhões em 2021.

serviços públicos

A proporção de usuários de internet com 16 anos ou mais que utilizaram serviços de governo eletrônico passou de 68%, em 2019, para 70%, em 2021. Cerca de 93 milhões de brasileiros afirmaram usar algum tipo de serviço de governo eletrônico no período, um acréscimo de 12 milhões de indivíduos nesses dois anos. Os aumentos mais significativos ocorreram na região Sul (de 69%, em 2019, para 80%, em 2021), entre pessoas com renda familiar de três a cinco salários-mínimos (de 79% para 88%).

Entre os tipos de serviço público analisados pela pesquisa, os relacionados à saúde foram os mais buscados ou realizados em 2021, sobretudo entre usuários da classe B (44%), com Ensino Superior (44%) e os na faixa etária de

“Enquanto a fibra ótica e o cabo são as principais tecnologias em quase dois terços das casas urbanas, nas rurais, as maiores conexões são por rede móvel, satélite e rádio.”

fAbio storino Coordenador da TIC Domicílios

“Reflexo da pandemia, predominou o acesso a serviços eletrônicos relacionados à saúde pública, como agendamento de consultas, busca de informações sobre a vacinação, entre outras formas de interação com os sistemas de saúde.”

AlexAndre bArbosA Gerente do Cetic.br/NIC.br

45 a 59 anos (34%) – em 2019, foram 25%, 28% e 20%, respectivamente. “Reflexo da pandemia, predominou o acesso a serviços eletrônicos relacionados à saúde pública, como agendamento de consultas, busca de informações sobre a vacinação, entre outras formas de interação com os sistemas de saúde”, comentou Alexandre Barbosa. gerente do Cetic.br/NIC.br.

atividades culturais

Entre as atividades realizadas pela internet, ouvir podcasts foi a que mais cresceu em relação ao período pré-pandemia. De acordo com a 17ª edição da TIC Domicílios, 28% dos usuários de internet disseram ter ouvido um podcast em 2021 (em 2019, eram 13%). Em 2021, 41 milhões de pessoas realizaram essa atividade, cerca de 24 milhões a mais que em 2019.

Assim como verificado em 2019, as atividades de assistir a vídeos, programas, filmes ou séries pela internet (61%) e ouvir músicas (61%) estiveram entre as atividades culturais online mais citadas pelo conjunto da população brasileira. Quanto ao pagamento por serviços que dão acesso a conteúdos culturais, os maiores aumentos, em relação a 2019, ocorreram para ver filmes (acréscimo de 7 milhões de indivíduos) e séries (acréscimo de 9 milhões), incremento que ocorreu com maior intensidade entre indivíduos da classe C.

“A pesquisa revela mudanças importantes em termos de conectividade, especialmente em áreas rurais, e também o crescimento da televisão enquanto dispositivo de acesso à internet. A TIC Domicílios cumpre um papel fundamental de auxiliar o poder público e a sociedade na proposição de políticas que visem a melhorar o acesso à internet, expondo desafios e indicando oportunidades para avanços”, completa José Gontijo, coordenador do CGI.br. •

DOMICÍLIOS COM COMPUTADOR¹

Total de domicílios

TOTAL

ÁREA

REGIÃO Percentual (%)

Urbana Rural Sudeste Nordeste Sul Sim Não

39 61 42 58 20 80 46 54 27 73 46 54

RENDA FAMILIAR

CLASSE SOCIAL Norte Centro-Oeste

29 71 41 59

Até 1 SM 19 81 Mais de 1 SM até 2 SM 32 68 Mais de 2 SM até 3 SM 51 49 Mais de 3 SM até 5 SM 65 35 Mais de 5 SM até 10 SM 82 18 Mais de 10 SM 88 12 Não tem renda 16 84 Não sabe 32 68 Não respondeu 42 58

A

99 1

B C DE

83 17 41 59 10 90

Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 2021.

¹ Considera-se um domicílio com acesso a computador todo aquele que menciona ao menos um entre os seguintes tipos: computador de mesa, notebook e tablet

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