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carreira

Como contratar e reter profissionais

de alto quilate?

Empresas de internet enfrentam o desafio da falta de especialistas para a jornada de transformação digital no Brasil.

CONTRATAR E RETER profissionais de tecnologia da informação, telecomunicações e internet é uma tarefa árdua, por se tratar de uma mão de obra qualificada e muito requisitada. A expectativa de demanda por esses profissionais praticamente duplicou em dois anos. Segundo um levantamento da Associação de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), em 2019, uma primeira projeção apontava para a necessidade de 420 mil profissionais em um período de cinco anos, mas este número passou para 800 mil no levantamento feito em 2021.

“No Brasil, falta mão de obra qualificada, em todas as profissões. Nas empresas de internet ainda mais, pois, para a maioria das vagas, requerem-se conhecimentos das ciências exatas, pré-requisitos para as linguagens de programação”, diz José Janone Junior, presidente do Sindicato das Empresas de Internet do Estado de São Paulo (Seinesp).

No que tange às empresas de internet, Janone explica que os dados da demanda por profissionais não estão atualizados. “Ao conversarmos com os gestores dos provedores de internet, o sentimento é de que existem vagas para ampliar em um terço os postos de trabalho. Em 2023, teremos dados suficientes para apresentarmos números mais precisos”, adianta. Entre as principais dificuldades que as empresas de internet enfrentam, segundo Janone, está a falta de profissionais qualificados, problemas de entrosamento entre trabalhadores de diferentes gerações na mesma empresa e a dificuldade de alinhamento da visão e missão das empresas com os objetivos individuais dos trabalhadores.

VaGas a preencher

Na contramão da falta de vagas de trabalho, o setor de tecnologia da informação enfrenta sérios problemas para recrutar funcionários, vendo crescer a demanda. Mas por que a cada ano, em vez de diminuir, a lacuna aumenta? Para o professor Ildeberto Aparecido Rodello, recém-nomeado diretor do Centro de Tecnologia da Informação (CeTI-RP) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP), a quantidade de profissionais formados por ano fica aquém da demanda exigida pelo processo de transformação digital que vivemos, e essa defasagem pode piorar. Em matéria no jornal da USP, Rodello ressalta que “a pandemia da Covid-19 tornou esses profissionais ainda “Quem investe em seus profissionais não tem garantia nenhuma de que eles permanecerão em sua empresa quando tiverem uma oferta tentadora de um grande concorrente.” José JAnone Junior Presidente do Seinesp

mais essenciais para empresas e instituições de ensino.” Formar profissionais no mesmo ritmo de crescimento do mercado, há anos, tem sido um grande desafio. Além disso, conforme aponta Roberto Vilela, consultor empresarial e mentor de negócios, muitas vagas e carreiras para as quais os estudantes foram preparados ao longo da formação sequer existem mais.

“Em contrapartida, diversas outras atribuições foram surgindo, impulsionadas pela tecnologia e novos formatos de trabalho e de vida. Assim, as formações ainda incipientes e o não acompanhamento da evolução da própria carreira ou setor por muitos profissionais criaram um hiato entre como se formam os colaboradores e o que a empresa realmente precisa”, explica.

Somado a isso, com a popularização do teletrabalho durante a pandemia, os profissionais brasileiros passaram a buscar empregos em empresas localizadas fora do Brasil – e, assim, receber salários em moedas mais fortes, como dólar ou euro. Nesse ambiente hipercompetitivo, existem algumas atitudes e práticas que as empresas podem adotar para se tornarem mais atraentes.

Gregory Goris, diretor de tecnologia da Printi, enumera como primeiro ponto a adequação salarial. “Os salários dos profissionais de tecnologia já vinham em uma crescente nos últimos anos e foram impulsionados ainda mais após a pandemia de Covid-19, que forçou muitos negócios a acelerarem seus projetos de transformação digital. Por mais difícil que seja equiparar os salários no Brasil aos oferecidos pelas empresas estrangeiras, os negócios nacionais precisam ao menos oferecer remuneração equivalente ao mercado para evitar perder seus atuais e futuros talentos”, defende.

A retenção de funcionários também passa por ques-

“A pandemia da Covid-19 tornou esses profissionais ainda mais essenciais para empresas e instituições de ensino.” ildeberto rodello Professor da FEA-RP tões comportamentais, como inteligência emocional e soft skills. “É o comportamental alinhado à cultura da empresa; se a pessoa não estiver alinhada com a cultura, você a perde”, atesta Dorian Lacerda Guimarães, CEO da Inspand e diretor da Abranet. Para Janone, as empresas de internet devem investir nas áreas de recursos humanos para compreender melhor a atual geração de jovens profissionais, além de instituir política de participação de lucros e resultados, ter programas de inclusão social, abrir vagas 100% em teletrabalho e também semipresenciais, estabelecer ambientes de trabalho confortáveis e criativos e oferecer cursos e treinamentos para assimilação de novas tecnologias. “Com a popularização e a universalização da conectividade de internet, muitas aplicações que eram registradas e utilizadas por softwares offline passaram para os computadores em nuvem e tornaram-se online”, acrescenta o presidente do Seinesp. Segundo Dorian Lacerda Guimarães, há de se levar em conta ainda um movimento das pessoas, pós-Covid, colocando outros valores para a sua vida, sobre o que fazer com o tempo. Portanto, é necessário prestar atenção ao que os profissionais estão buscando hoje. “A Covid acelerou a transformação digital e começaram novas formas de trabalho, como o trabalho remoto, que, até então, era visto com desconfiança”, diz.

“As formações ainda incipientes e o não acompanhamento da evolução da própria carreira ou do setor criaram um hiato entre como se formam os colaboradores e o que a empresa realmente precisa.”

roberto VilelA Consultor empresarial e mentor de negócios

treinamento

Um dos caminhos para a retenção e o aprimoramento da qualidade técnica dos profissionais são os treinamentos, seja dentro das empresas, seja em parceria com alguma instituição. No entanto, Janone diz que, em geral, as empresas de internet não têm políticas formais nesse sentido e que os melhores profissionais buscam qualificação por conta própria e, por isso, são tão desejados e independentes.

“Atualmente os bons profissionais que trabalham nas empresas de internet são tão procurados por diferentes concorrentes quanto os bons jogadores de futebol por outros clubes. No caso dos clubes de futebol que revelam craques, estes e seus empresários são recompensados por uma transferência com uma vultosa multa financeira e todos ficam felizes. No mundo empresarial, quem investe em seus profissionais, tornando-os de excelência, não tem garantia nenhuma de que eles permanecerão em sua empresa quando tiverem uma oferta tentadora de um grande concorrente”, sinaliza.

Uma alternativa para minimizar esse dilema seria o investimento em educação tecnológica nas escolas, desde o ensino fundamental e básico, para, no médio prazo, a equação fechar. Dorian Lacerda Guimarães diz que as empresas que veem treinamento como ganho têm vantagens com um desempenho melhor das pessoas que estão trabalhando. Falando especificamente dos profissionais de internet, Guimarães aponta que há muito conteúdo oferecido de graça

“O que retém as pessoas é dar direção e propósito para por entidades como o Núcleo de Informaonde você está indo. Tem de ção e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). escutar quais são os sonhos das “O pessoal dos provedores de internet pessoas que estão com você.” tem formação mais técnica e segmentada. Os conteúdos gratuitos são muito ricos, doriAn lACerdA guiMArães e vemos mudanças de comportamento CEO da Inspand e diretor da Abranet usando os conteúdos abertos. Por exemplo, técnico em campo que pesquisa vídeo na rede para resolver problema”, diz o executivo. “Há um mercado que está muito valorizado como o de programação, desenvolvimento de aplicativo, software e sistemas. Temos visto programas de incentivo por parte das empresas para as pessoas buscarem certificação”, completa. A Inspand, de Guimarães, atua justamente nesta área. O executivo conta que há uma grande procura por treinamentos na parte de comportamento: como fazer comunicação não violenta, como trabalhar a inteligência emocional. Além disso, a área de escola corporativa atende à demanda das empresas nos quesitos que envolvam liderança, aplicação em grupo e comportamento. “As maiores companhias têm uma área que cuida desta parte. Já as empresas de internet, normalmente, são menores, têm menos colaboradores e a solução de treinamento é diferente”, diz. Para as empresas de internet, firmar convênios com empresas de treinamento e formação de mão de obra e inscrever os líderes e colaboradores em turmas abertas é uma alternativa interessante. Guimarães reforça o coro de Janone ao afirmar que treinamento não retém colaborador. “O que retém as pessoas é dar direção e propósito para onde você está indo”, ressalta, explicando que as pessoas precisam enxergar onde estarão no futuro da empresa. E, para chegar lá, sim, o treinamento faz a diferença. “Tem de escutar quais são os sonhos das pessoas que estão com você”, aponta. •

“Os negócios nacionais precisam ao menos oferecer remuneração equivalente ao mercado para evitar perder seus atuais e futuros talentos.”

gregory goris Diretor de tecnologia da Printi

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