Centro de Estudos e Acompanhamento Psicanalítico e Psicopedagógico
A CLÍNICA PSICANALÍTICA – MALANIE KLEIN Juscelino Santos
Salvador 2018
Melanie Klein (Viena, 30 de março de 1882 — Londres, 22 de setembro de 1960)
MELANIE KLEIN
A vida pessoal de Klein é repleta de perdas e decepções: seu pai se chamava Moriz Reises, nunca foi bem sucedido na vida, estampando essa melancolia em suas atitudes. Sua mãe, Libussa aparentemente era extremamente dominadora e invasiva, trabalhando em uma loja de plantas e animais exóticos para ajudar na renda familiar. Sua gravidez não havia sido desejada, Klein teve um relacionamento distante com seu pai; era bastante apegada à sua mãe e a irmã Sidonie, que morreu aos 8 anos de idade.
MELANIE KLEIN
Casou-se cedo aos 17 anos com o engenheiro químico Arthur Stevan Klein com quem ficou casada até 1926, com então 44 anos. Klein sofria com as constantes viagens do marido, bem como com seus problemas com depressão. Teve 03 filhos: Mellita, Hans e Erich. Mellita se mostrará sua adversária ferrenha no campo psicanalítico, e Hans morre em um acidente de alpinismo em 1934 (suspeitase que tenha sido um suicídio). Klein morre em 1960, ironicamente, não de câncer, cuja cirurgia fora bem sucedida, mas por complicações em função de uma queda enquanto se recuperava dessa cirurgia.
MELANIE AOS 17 ANOS
Melanie, Melita e Hans
A SUA MAIOR DESCOBERTA
Em 1935 Klein publica “Uma contribuição à psicogênese dos estados maníaco-depressivos” que apresentava o conceito de “posição depressiva”. Mesmo D. Winnicot, um dos seus mais magistrais contestadores, admirou essa descoberta, classificando-a como a mais importante depois da descoberta do inconsciente. Ainda que Klein, até mesmo por questões políticas, insistisse em se considerar “freudiana”, a partir deste trabalho, já se pode falar em pensamento Kleiniano, tamanha as introduções de novos conceitos que este artigo trouxe.
“Toda vez que você morde o fruto do conhecimento você é expulso de algum paraíso.” Melaine Klein
CASO DO PEQUENO HANS
Precedente de duas grandes escolas psicanálise: a Kleiniana e a Annafreudiana
de
ANNA FREUD
Estuda os alcances e limites da análise, juntamente com suas dificuldades
Situação da criança no tratamento analítico é diferente que a do adulto: ◦ não tem consciência de sua enfermidade nem desejos de curar-se; ◦ não se analisa por livre decisão e, ◦ por último e mais importante, não oferece associações verbais
Não dá o mesmo valor das associações verbais à atividade lúdica, apreciando-a como técnica auxiliar
ANNA FREUD
As opiniões e as decisões do analista quanto à criança devem ser respeitadas, já que cabe a ele ser não somente analista como também educador, de forma a corrigir uma fase de educação equivocada e de desenvolvimento anormal, dando chance ao seu paciente de ter um desenvolvimento normal. Assim, segundo Anna Freud, para a criança se tratar seus pais teriam que se submeter totalmente ao analista infantil.
ANNA FREUD X MELANIE KLEIN
Rompe com o precedente freudiano (e annafreudiano) ao considerar que a união paianalista é desnecessária para o trabalho psicanalítico.
Despreza a relação entre o analista e os pais da criança.
Klein priorizou a interpretação transferencial com a criança.
na
relação
MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO
Existem três maneiras de lidar com a selvageria humana, com o gozo e a angústia, ou seja, com a força sem fé nem lei que está dentro de cada um de nós. Existem a política, a educação e a psicanálise; Freud falou, aliás, do caráter impossível de sua tarefa. Cada uma dessas disciplinas tem sua lógica própria, seus meios e objetivos próprios, que excluem os das outras duas.
MELANIE KLEIN
Klein considerava que a análise infantil era um benefício para qualquer criança.
O tratamento evitaria ou dificultaria enfermidades na vida adulta.
HISTÓRIA DA PSICOTERAPIA COM CRIANÇAS 1.
2.
3.
A análise de crianças muito pequenas, a partir de quinze meses de idade; A ampliação cada vez maior dos casos que se tratavam com êxito, entre eles as enfermidades psicossomáticas, como úlcera, colite, asma; A profilaxia de enfermidades futuras, mediante a orientação psicanalítica;
4. Melanie Klein foi quem sistematizou a teoria e a técnica da ludoterapia; 5. Klein torna possível a aplicação do método psicanalítico ao tratamento de crianças e pacientes psicóticos.
ESBOÇO DA MENTE DA CRIANÇA PEQUENA
Nova psicologia do desenvolvimento Rompe a ilusão de crianças assexuais, bem como “paraíso da infância” Para Klein as crianças apresentam, desde a mais tenra idade, impulsos sexuais e ansiedade, assim como desapontamentos (Precondição para análise de crianças pequenas). Uma vez que as peculiaridades das mentes de crianças muito pequenas com frequência persistem nas crianças mais velhas, tem sentido ser a mesma técnica utilizada.
OS POSTULADOS KLEINIANOS
Relacionam-se aos estágios primitivos do desenvolvimento, originários do funcionamento da vida mental. (Nascimento)
O indivíduo é representado como uma unidade fechada, com ansiedades e defesas inatas.
A estruturação da subjetividade tem origem no mundo interno, com seus objetos internos e suas fantasias inconscientes.
A MARCA DO NASCIMENTO
A dor e o desconforto que ele (o bebê) sofre, assim como a perda do estado intra-uterino, são pelo bebê sentidos como uma agressão por forças hostis, isto é, como uma perseguição. Klein (1952:217)
CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO
Quando uma criança nasce, estrutura-se a fase oral, imprescindível para a sobrevivência do ser humano, não somente pela necessidade de alimento, mas também pelos estímulos, que lhe permitirão refazer um vinculo com a mãe, através do qual possa superar o trauma do nascimento.
A DENTIÇÃO
O aparecimento dos dentes, na fase oral-sadica, por serem instrumentos que possibilitam a realização das fantasias de destruição que dominam esta fase, determina o abandono do vinculo oral, aparecendo a necessidade de refazê-lo através de outra zona do corpo.
TENDÊNCIAS ORAIS, ANAIS E GENITAIS
Neste momento da vida, o descobrimento da vagina na menina e da necessidade de penetração no menino iniciam a etapa genital, de tal forma que a união penis-vagina substituiria a da boca com o seio. Esta etapa pode satisfazer-se somente com fantasias e atos masturbatorios, entre os quais incluímos toda atividade lúdica do lactente
SEPARAÇÃO
O fracasso repetido da intenção de manter a união com a mãe impulsiona a criança a elaboração dessa perda e a busca do pai, assim como a novos objetos do mundo externo.
Nesse sentido, a bipedestação e o caminhar surgem como uma necessidade imperiosa de separar-se da mãe para não destruí-la; depois esses mesmos progressos servem a sua necessidade de recuperá-la.
LINGUAGEM
O mesmo acontece com a linguagem que permite a reconstrução mágica do objeto e serve para elaborar a ansiedade depressiva, aumentada pelo aparecimento dos dentes. Pronunciar a primeira palavra significa para a criança a reparação do objeto amado e odiado, que reconstrói dentro e lança ao mundo exterior. Secundariamente, experimenta que a palavra coloca-o em contato com o mundo e que é um meio de comunicação.
TEORIA DAS RELAÇÕES OBJETAIS
Há mais divergência entre a concepção de Anna Freud e minha concepção da primeira infância do que entre os pontos de vista de Freud, tomados em seu conjunto, e os meus. (KLEIN, 1951)
TEORIA DAS RELAÇÕES OBJETAIS Difere da abordagem freudiana
Ênfase menor aos impulsos biológicos
Destaca a intimidade e o cuidado da mãe
Busca por contato e relacionamento
TENTAR REDUZIR A ANSIEDADE Pulsão de vida Bem Amor criatividade
Pulsão de morte Mal Ódio Destruição
RELAÇÃO OBJETAL
O material trazido por um paciente se refere às suas relações objetais, que por sua vez significam relações com objetos internos e externos.
Quanto ao objeto externo de Klein, corresponde à externalização de um elemento psíquico dinâmico interno, e não de fato a um objeto da realidade externa.
RELAÇÃO OBJETAL
Um dos conceitos básicos é a relação objetal que o bebê inicia com a mãe.
A princípio, essa relação (objetal) se dá com um objeto parcial, uma vez que os impulsos oraislibidinais e orais-destrutivos estão voltados, no início da vida, para o seio da mãe.
FANTASIAS
Predisposição a aliviar a ansiedade
Prontidão inata (agir e reagir)
Conteúdos primitivos herdados
A POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE Uma estrutura que organiza a vida mental nos 3 primeiros meses de vida. É constituída por: - Angústia persecutória: o ego sente que vai ser atacado; - Relação de objeto parcial: com um seio idealizado e outro persecutório, que são percebidos como objetos dissociados e excludentes; - Mecanismos de defesa do ego: a projeção, a introjeção, a dissociação, a identificação.
CLIVAGEM
Divisão da realidade entre bem e mau
PROJEÇÃO
Rejeitamos negativos.
nossas
características
e
desejos
POSIÇÃO DEPRESSIVA Momento chave para o desenvolvimento e a normalidade; Produz-se entre os 3 e os 6 meses de idade, após a posição esquizo-paranóide; É constituída por: Angústia depressiva: o ego sente culpa e teme pelo dano causado ao objeto amado. Relação com um objeto total: processo de integração (da mãe em seus aspectos bons e maus, e do ego); Mecanismo de defesa de reparação: atender e se preocupar com o estado do objeto (interno e externo); Cisão e projeção diminuem, os processos de introjeção se intensificam: a criança vê a mãe como um ser independente e tenta possuí-la e conservá-la dentro de si. Sentimentos predominantes: tolerância à dor psíquica e a culpa pelas fantasias agressivas; Maior consciência de si mesma
CASO LOBATO (O CLONE)
O CONFLITO EDIPIANO
A ansiedade e os sentimentos de culpa que a criança vivencia muito cedo na vida têm sua origem nas tendências agressivas com o conflito edipiano. A análise de crianças pequenas mostra que o conflito edípico se instala já na segunda metade do primeiro ano de vida e que a criança começa simultaneamente a construir o seu superego.
A ansiedade das crianças se refere muitas vezes não apenas aos pais reais da criança, mas especialmente aos severos pais introjetados.
O CONFLITO EDIPIANO
O ódio e as tendências agressivas constituem a causa mais profunda e os alicerces dos sentimentos de culpa.
“É apenas nos estágios posteriores do conflito edipiano que a defesa contra os impulsos libidinais faz sua aparição; nos primeiros estágios, é contra os impulsos destrutivos que os acompanham que a defesa é dirigida”. (Klein, 1929)
QUANDO O BRINCAR É DIZER
Por trás de cada forma de atividade lúdica encontra-se um processo de descarga de fantasias masturbatórias, contínua motivação para o brincar.
Mecanismo fundamental na atividade de brincar e em todas as suas sublimações subsequentes.
Inibição do brincar: origem no sentimento de culpa ou em uma repressão indevidamente forte dessas fantasias.
“Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa.” Platão
CRITICAS A TÉCNICA I.
Sua relação com a realidade é fraca
II.
Aparentemente, não há nada que as induziria a submeter-se aos rigores de uma análise, já que de modo geral não se sentem doentes.
III. Ainda não podem dar, ou dar em um grau suficiente, aquelas associações de fala que são o principal instrumento da análise de adultos
III. Ainda não podem dar, ou dar em um grau suficiente, aquelas associações de fala que são o principal instrumento da análise de adultos
A criança, desde muito cedo, tem a capacidade de simbolizar: “A criança expressa suas fantasias, seus desejos e suas experiências reais de um modo simbólico, através de brincadeiras e jogos” (Klein,1932,p.30).
A criança, ao se expressar através da brincadeira emprega o mesmo modo de expressão, a mesma linguagem, com que estamos familiarizados nos sonhos;
As crianças se expressam nos jogos como os adultos nos sonhos.
Todos os elementos que a criança apresenta ao brincar são as suas associações. “Enquanto brinca, a criança também conversa e diz toda sorte de coisas, que tem o mesmo valor de genuínas associações” (Klein, 1932, p.31).
II. Aparentemente, não há nada que as induziria a submeterse aos rigores de uma análise, já que de modo, geral não se sentem doentes.
É surpreendente a facilidade com que as crianças aceitam por vezes a interpretação e mostram mesmo um prazer nisso.
A comunicação entre o consciente e o inconsciente ainda é comparativamente fácil, de modo que o caminho de volta para ics é muito mais simples de ser encontrado.
O efeito rápido que as interpretações tem sobre as crianças é observável de muitas maneiras, tais como a expansão de seu brincar, o fortalecimento de sua transferência e o decréscimo de sua ansiedade.
À medida que a interpretação libera a energia que a criança despendia para manter a repressão, um novo interesse pelo brincar é gerado.
Por outro lado, às vezes nos deparamos com resistências que são muito difíceis de superar esbarramos na ansiedade pertencentes a camada mais profunda da mente da criança
Quando a análise já começou e uma certa quantidade de ansiedade já foi resolvida no paciente por meio de interpretações, a sensação de alivio que ele experimenta como consequência disso – com frequência já após algumas poucas sessões – o ajudará a prosseguir com o trabalho.
Se até então não teve nenhum incentivo para ser analisado, tem algum insight quanto ao uso e valor do trabalho analítico agora.
Ainda sobre o efeito rápido da interpretação: as vezes, as crianças não parecem trabalhar essas interpretações conscientemente por algum tempo.
Essa tarefa é alcançada mais tarde, e está vinculada e em compasso com o desenvolvimento de seu ego e com o crescimento de sua adaptação à realidade.
I. SUA RELAÇÃO COM A REALIDADE É FRACA
No curso da análise, a relação da criança com a realidade, de inicio tão fraca, vai gradualmente se fortalecendo como resultado do trabalho analítico. O paciente começará, por exemplo, a distinguir entre a sua mãe de faz-de-conta e a sua mãe real, ou entre o brinquedo que representa seu irmão e seu irão de verdade. Um avanço muito importante em sua adaptação à realidade. Diminuição de suas dificuldades à medida que elas se tornem capazes de tolerar as frustrações inerentes a realidade
Caso II, Arminda Aberastury
RELAÇÃO COM A REALIDADE
As formas arcaicas e simbólicas de representação que a criança emprega no seu brincar estão associadas com outro mecanismo primitivo: o “acting out”
Quando brinca a criança mais age do que fala: Ela coloca atos no lugar de palavras
A criança tem a habilidade de representar o seu inconsciente de um modo direto
TÉCNICA KLEIN “Se nos aproximarmos da criança com a técnica dos adultos, é quase certo que não penetraremos naqueles níveis mais profundos; e não obstante, é disso que depende o sucesso e o valor da análise, tanto para a criança quanto para o adulto. Mas, se tomarmos em consideração as diferenças existentes entre a psicologia da criança e a psicologia do adulto – o fato de seu inconsciente está em contato mais próximo com o consciente e seus impulsos mais primitivos encontram-se em operação lado a lado com processos mentais altamente complicados – e se captarmos corretamente o modo de expressão da criança, então todos esses inconvenientes e desvantagens desaparecem e descobrimos que podemos esperar realizar uma análise da criança tão profunda e extensa quanto a de um adulto. Até mais na realidade. Na análise de crianças, somos capazes de voltar a experiências e fixações que na análise de adultos só podem ser reconstruídas, ao passo que a criança as mostra para nós como representações imediatas”(Klein, 1932, p.32)
A LINGUAGEM
“Uma vez que a fantasia da criança tenha se tornado mais livre como consequência de sua menor ansiedade, teremos não apenas ganho acesso ao seu inconsciente como também mobilizado em grau progressivamente maior os meio ao seu dispor para dar expressão às suas fantasias.” (Klein, 1932, p.35)
Segundo Klein, uma análise só é considerada terminada quando a criança emprega a fala em toda sua capacidade.
“A linguagem constitui a ponte para a realidade”.
O JOGO-ELABORAÇÃO
A criança, ao brincar, vence realidades dolorosas e domina medos instintivos, projetando-os ao exterior, nos brinquedos.
A função do jogo é a de elaborar situações excessivas para o ego cumprindo uma função catártica e de assimilação por meio da repetição dos fatos cotidianos e das trocas de papéis, por exemplo, fazendo ativo o que foi sofrido passivamente.
O brinquedo faz possível uma prova do mundo real sendo, por isso, uma “ponte entre a fantasia e a realidade”.
O JOGO
Segundo Mannoni , a verbalização de uma situação dolorosa possibilita à criança dar um sentido ao que ela está vivendo.
Aberastury afirma que a criança é capaz de estruturar, por meio dos brinquedos, a representação de seus conflitos básicos, suas principais defesas e fantasias, deixando em evidência o seu funcionamento mental.
O JOGO - A PERCA DE QUEM SE AMA
Brincar de esconder, por exemplo, tem o significado de tranquilizar-se da possível destruição ou desaparecimento de quem se ama. É o primeiro jogo que observamos no bebê. Durante o tratamento analítico de crianças, é quase uma regra que, em alguma etapa, apareça este jogo.
CONSIDERAÇÕES AO INTERPRETAR UM JOGO
I - Sua representação no espaço;
2 - A situação traumática que envolve;
3 - Por que aparece aqui, agora e comigo. Este, como o sonho, e uma manifestação plena de sentido e esta na base de toda aprendizagem ou sublimação posterior. (ABERASTURY, 1992)
“As hipóteses que avançarei, e que se referem
às
primeiras
desenvolvimento,
foram
fases inferidas
do a
partir do material obtido em análises de adultos e crianças”.
Melanie Klein
ANTES DE VER A CRIANÇA
a)motivo da consulta;
b) historia da criança;
c) como transcorre um dia de sua vida atual, um domingo ou feriado e o dia do aniversario;
d) como é a relação dos pais entre si, com os filhos e com o meio familiar imediato.
ANÁLISE DAS CRIANÇAS
A interpretação da brincadeira corresponde nada menos do que à interpretação dos conteúdos das fantasias inconscientes que a brincadeira torna possível apreender a partir de seu simbolismo.
A técnica do jogo não exclui a utilização e a interpretação de sonhos, sonhos diurnos e desenhos.
ANÁLISE DAS CRIANÇAS
“Para compreender o brincar da criança em relação ao seu comportamento como um todo durante a sessão analítica, não devemos nos contentar em pinçar o significado dos símbolos isoladamente na brincadeira, mas devemos considerar todos os mecanismos e métodos de representação empregados pelo trabalho do sonho , sem nunca perder de vista a relação de cada fator com a situação como um todo.” (Klein, 1932, p.27)
A análise de crianças muito pequenas tem mostrado quantos significados diferentes pode ter um único brinquedo
Só podemos interpretar o seu significado quando consideramos suas conexões mais amplas e a situação analítica em que se inserem
ANÁLISE DAS CRIANÇAS
Múltiplos significados de um sintoma/brincadeira: defesa contra seus ataques agressivos e defesa contra punições.
A imagem caleidocóspica total – todas as coisas aparentemente sem sentido têm método e se tornarão significativas se as interpretarmos como interpretamos os sonhos.
A ANÁLISE DAS CRIANÇAS
O ego da criança mais velha encontra-se mais plenamente desenvolvido a técnica tem que sofrer alguma modificação
Na medida em que criança e jovens sofrem de ansiedade em um grau mais agudo do que os adultos, devemos procurar acesso à sua ansiedade e ao seu sentimento inconsciente de culpa e estabelecer a situação analítica tão rapidamente quanto possível
“Uma certa quantidade de ansiedade pode rapidamente ser resolvida em crianças de todas as idades se a transferência negativa for tratada e dissolvida desde o início.”
A ANÁLISE DAS CRIANÇAS
As fantasias das crianças, tais como se apresentam no seu brincar, vão se tornando cada vez mais livres em resposta a um contínuo interpretar;
A interpretação deve intervir em algum ponto de urgência do material inconsciente e assim abrir o caminho para mente inconsciente da criança;
Onde se encontra esse ponto será mostrado pela multiplicidade e repetição freqüente, muitas vezes, em formas variadas de representações do mesmo “pensamento em forma de brincar”.
A ANÁLISE DAS CRIANÇAS
Obtemos muitos esclarecimentos a partir dos vários usos que a criança faz de cada um dos brinquedos, ou da maneira como muda de um jogo para outro. Todo o mobiliário habitual da sala também fica a serviço de suas atividades. Em seus jogos de faz de conta, a criança dramatiza na sua própria pessoa algo que em outro estágio da sua análise, em geral um estágio mais inicial, ela mostra por meio de brinquedos. O valor dessas atividades de faz de conta, de um ponto de vista analítico, está no seu método direto de representação e, conseqüentemente, na maior riqueza de associações verbais que proporcionam.
MELANIE KLEIN
“A diferença entre esse método de análise (análise do brincar) e o método da análise de adultos é, contudo, exclusivamente uma diferença de técnica e não de princípio. A análise da situação transferencial e da resistência, a remoção da amnésia infantil arcaica e dos efeitos da repressão, bem como o desvelamento da cena primária – tudo isso a técnica do brincar faz. Pode-se ver que todos critérios do método psicanalítico se aplicam também a essa técnica. A análise através do brincar leva aos mesmos resultados que a técnica de adultos, com uma única diferença, a saber, que o procedimento técnico é adaptado à mente da criança.” (Klein, 1975/1997, p. 35)
Antigamente quando eu me excedia Ou fazia alguma coisa errada Naturalmente minha mãe dizia: "Ele é uma criança, não entende nada"... Por dentro eu ria Satisfeito e mudo Eu era um homem E entendia tudo... Hoje só com meus problemas Rezo muito, mas eu não me iludo Sempre me dizem quando fico sério: "Ele é um homem e entende tudo"... Por dentro com A alma tarantada Sou uma criança Não entendo nada... Erasmo Carlos
ADOLESCÊNCIA
"...E essas crianças em que você cospe, enquanto elas tentam mudar seus mundos, são imunes às suas consultas. Elas sabem muito bem pelo que atravessam..." David Bowie
MOMENTO CRUCIAL DA VIDA HUMANA Três etapas do desprendimento 1. 2.
3.
O nascimento Genitalidade, dentição, linguagem, posição de pé e a macha. Adolescência
DESPRENDIMENTO
Na adolescência, quando a maturidade genital o estimula para o relacionar-se com outro sexo, fazse também possível a consumação do incesto. Ao mesmo tempo, defini-se seu papel de procriador e, escapando ao incesto, o adolescente inicia a busca do objeto de amor no mundo externo, o que se concretizará com a descoberta do par. Se for conseguido o desprendimento interno dos pais.
A AMBIVALÊNCIA DOS PAIS
Sucede que também os pais vivem os conflitos dos filhos. Vemos então que o problema tem uma vertente dupla e pode resolver-se de uma fusão de necessidades e de solução. Porque também o pai tem que desprender-se do filho criança e evoluir para uma relação com o filho adulto, o que lhe impõe muitas renuncias de sua parte.
IDADE DIFÍCIL?
São as dificuldades do adulto para aceitar a maturação intelectual e sexual da criança o que leva a qualificar a adolescência de idade difícil, esquecendo de apontar que é difícil para ambos, filhos e pais.
O NASCIMENTO DA SEXUALIDADE ADOLESCENTE
A MASTURBAÇÃO E A IMAGEM DO CORPO
A masturbação cumpre um papel importantíssimo para o estabelecimento da primazia genital na adolescência. Assim como na criança pequena necessita explorar seus genitais para assumir sua identidade como homem e mulher, o adolescente redescobre e explora seus genitais, que adquiriram novas características.
O DESEJO DO INCESTO
Na adolescência, a masturbação assume, assim, um significado totalmente novo de defender o jovem do incesto, já que as fantasias incestuosas passam a ser possíveis na realidade: o adolescente, diferente mente da criança, possui o órgão genital maduro, com o qual poderia consumar o incesto.
OS DESENHOS E A IMAGEM DO CORPO
A imagem é fugitiva e o desenho a retém e imobiliza (contra a perda).
A menina desenha mulheres com formas marcadas e em geral carregadas de adornos. O rapaz, ao contrário, desenha personagens armados com de revólveres, espadas e metralhadoras.
O ADOLESCENTE E O CORPO
Todas as modificações corporais incontroláveis, como os imperativos do mundo externo, que exigem do adolescente novas pautas de convivência, são vividas ao princípio como uma invasão. Isto o leva, como defesa, a reter muitos dos ganhos infantis, ainda que também coexistam o prazer e o afã de realmente ocupar seu novo status. Também o conduz a um refúgio em seu mundo íntimo, pra poder religar-se com seu passado e então enfrentar o futuro.
O LUTO PELO CORPO INFANTIL E A RENUNCIA DO INCESTO
A flutuação entre infância e adolescência é dolorosa. Os adolescentes quereriam ser adultos de súbito ou não crescer nunca. Também para os pais, aceitar as progressões e regressões necessárias na adolescência é um processo conflitivo.
“Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia Eu não encho mais a casa de alegria Os anos se passaram enquanto eu dormia E quem eu queria bem me esquecia Será que eu falei o que ninguém ouvia? Será que eu escutei o que ninguém dizia? Eu não vou me adaptar, me adaptar Eu não tenho mais a cara que eu tinha No espelho essa cara já não é minha É que quando eu me toquei achei tão estranho A minha barba estava deste tamanho” Titãs
NEM ACELERAR NEM DETER
As condições familiares e culturais poderão mitigar, favorecer, demorar ou precipitar o desenvolvimento, mas não poderão impedir que o adolescente deva elaborar por si mesmo lutos tão importantes.
O ADOLESCENTE E A SOCIEDADE
Sua hostilidade aos pais e ao mundo em geral expressa-se em sua desconfiança, na idéia de não ser compreendido, em seu rechaço a realidade, situações que podem ser ratificadas ou não pela realidade mesma. Todo esse processo exige um lento desenvolvimento, onde são negados e afirmados seus princípios, onde luta entre sua necessidade de independência e sua nostalgia de dependência.
O ADOLESCENTE COMO CRISE DA SOCIEDADE
Quanto mais travas puser uma sociedade adulta ao surgimento dos movimentos juvenis, mais distorcidas serão as formas de rebeldia. Uma delas, o uso de drogas, tem sido estudada a fundo como uma dificuldade no desprendimento, devido uma má elaboração do conflito. Ante essa dificuldade para separar-se e esta solução patológico da separação, não podemos pensar só na problemática do adolescente, senão na de seu mundo adulto que travou um desprendimento normal.
“OPÕE-SE A SOBREVIVER, QUER VIVER”
REFERÊNCIAS
ABERASTURY, A. Psicanálise da criança: Teoria e Técnica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. Cap. 2: Nascimento de uma técnica, Cap. 6: O consultório, o material do jogo, a caixa individual; problemas técnicos do seu uso diário e Cap. 7: A primeira hora do jogo; seu significado KLEIN, M .Psicanálise da criança, São Paulo, Editora Mestre Jou, 2º edição em português, 1975.Cap1: Fundamentos psicológicos da análise de crianças e Cap.2: A técnica da análise de crianças pequenas Dolto, F. Seminário de psicanálise de crianças. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1985. ________. Seminário de psicanálise de crianças 2. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1990 Klein, M. (1997). A psicanálise de crianças. Tradução, Liana Pinto Chaves; revisão técnica, José A. Pedro Ferreira – Rio de Janeiro:Imago Ed. (Original published in 1975) FREUD, S. (1909). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (J. Salomão, trad.) (Vol. 10, pp. 11-154). Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1990. FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer (1920). In: ______.(1920-1922).Trad. Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: Imago, 1976. (Edições Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v.XVIII).