Aula 2 Winnicott

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Centro de Estudos e Acompanhamento Psicanalítico e Psicopedagógico

SEMINÁRIOS KLEIN E WINNICOTT Juscelino Santos

Salvador 2017


CASO DO PEQUENO HANS 

Precedente de duas grandes escolas psicanálise: a Kleiniana e a Annafreudiana

de


DIVERGÊNCIAS NA APLICABILIDADE DA TÉCNICA PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS 

A partir da década de 20, um discurso acusatório e antagônico do que seria ou não a "verdadeira psicanálise".

Modelo pedagógico visto como algo denegridor para a análise.

Os kleinianos foram reconhecidos como os "verdadeiros psicanalistas" e os annafreudianos como os "não analíticos".


ANNA FREUD 

Estuda os alcances e limites da análise, juntamente com suas dificuldades

Situação da criança no tratamento analítico é diferente que a do adulto: ◦ não tem consciência de sua enfermidade nem desejos de curar-se; ◦ não se analisa por livre decisão e, ◦ por último e mais importante, não oferece associações verbais

Não dá o mesmo valor das associações verbais à atividade lúdica, apreciando-a como técnica auxiliar


ANNA FREUD 

Necessidade de um período prévio, não analítico, na relação entre o analista e a criança. O analista tomaria uma posição pedagógica, de domínio e de sugestão, para depois empreender o verdadeiro trabalho analítico. Mesmo durante o trabalho analítico, o analista de crianças deveria acrescentar à sua atitude analítica uma segunda, a pedagógica. Em relação aos pais, Anna Freud relatou a necessidade de orientá-los e estabelecer uma relação transferencial positiva.


ANNA FREUD X MELANIE KLEIN 

Rompe com o precedente freudiano (e annafreudiano) ao considerar que a união pai-analista é desnecessária para o trabalho psicanalítico.

Despreza a relação entre o analista e os pais da criança.

Klein priorizou a interpretação transferencial com a criança.

na

relação


KLEIN E AS INDICAÇÕES 

Klein considerava que a análise infantil era um benefício para qualquer criança

O tratamento evitaria ou dificultaria enfermidades na vida adulta.


O PROGRESSO 1.

2.

3.

A análise de crianças muito pequenas, a partir de quinze meses de idade; A ampliação cada vez maior dos casos que se tratavam com êxito, entre eles as enfermidades psicossomáticas, como úlcera, colite, asma A profilaxia de enfermidades futuras, mediante a orientação psicanalítica


A LUDOTERAPIA 

Melanie Klein foi quem sistematizou a teoria e a técnica da ludoterapia.

Klein torna possível a aplicação do método psicanalítico ao tratamento de crianças e pacientes psicóticos.


ESBOÇO DA MENTE DA CRIANÇA PEQUENA  

 

Nova psicologia do desenvolvimento Rompe a ilusão de crianças assexuais, bem como “paraíso da infância” Para Klein as crianças apresentam, desde a mais tenra idade, impulsos sexuais e ansiedade, assim como desapontamentos. Precondição para análise de crianças pequenas Uma vez que as peculiaridades das mentes de crianças muito pequenas com frequência persistem nas crianças mais velhas, tem sentido ser a mesma técnica utilizada.


OS POSTULADOS KLEINIANOS 

Relacionam-se aos estágios primitivos do desenvolvimento, originários do funcionamento da vida mental.

O indivíduo é representado como uma unidade fechada, com ansiedades e defesas inatas.

A estruturação da subjetividade tem origem no mundo interno, com seus objetos internos e suas fantasias inconscientes.


RELAÇÃO OBJETAL 

O material trazido por um paciente se refere às suas relações objetais, que por sua vez significam relações com objetos internos e externos.

Quanto ao objeto externo de Klein, corresponde à externalização de um elemento psíquico dinâmico interno, e não de fato a um objeto da realidade externa. A princípio, essa relação (objetal) se dá com um objeto parcial, uma vez que os impulsos oraislibidinais e orais-destrutivos estão voltados, no início da vida, para o seio da mãe.


A POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE Uma estrutura que organiza a vida mental nos 3 primeiros meses de vida. É constituída por: angústia persecutória: o ego sente que vai ser atacado; relação de objeto parcial: com um seio idealizado e outro persecutório, que são percebidos como objetos dissociados e excludentes; mecanismos de defesa do ego: a projeção, a introjeção, a dissociação, a identificação


A POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE Existe um ego incipiente desde o nascimento que realiza mecanismos de defesa de natureza psicótica. este ego sente a angústia persecutória devido a: um fator interno: a pulsão de morte; fatores externos: a experiência do nascimento e outras de frustração. O bebê experimenta fantasias inconscientes oral-sádicas( devorar o seio e o corpo maternos) e anal-sádicas( de atacá-los com excrementos); Isto gera no bebê temores de ser devorado e envenenado; A pulsão de morte é projetada no primeiro objeto externo( o seio da mãe) e as pulsões libidinais são projetadas no objeto parcial(seio bom), que fica dissociado do seio mau, persecutório; Os mecanismos de projeção e introjeção de objetos e situações externas e pulsões e fantasias internas ficam misturados


POSIÇÃO DEPRESSIVA Momento chave para o desenvolvimento e a normalidade; Produz-se entre os 3 e os 6 meses de idade, após a posição esquizo-paranóide;É constituída por: Angústia depressiva: o ego sente culpa e teme pelo dano causado ao objeto amado. Relação com um objeto total: processo de integração(da mãe em seus aspectos bons e maus, e do ego); Mecanismo de defesa de reparação: atender e se preocupar com o estado do objeto( interno e externo); Cisão e projeção diminuem, os processos de introjeção se intensificam: a criança vê a mãe como um ser independente e tenta possuí-la e conservá-la dentro de si Sentimentos predominantes: tolerância à dor psíquica e a culpa pelas fantasias agressivas; Maior consciência de si mesma


O CONFLITO EDIPIANO 

A ansiedade e os sentimentos de culpa que a criança vivencia muito cedo na vida têm sua origem nas tendências agressivas com o conflito edipiano

A análise de crianças pequenas mostra que o conflito edípico se instala já na segunda metade do primeiro ano de vida e que a criança começa simultaneamente a construir o seu superego.

A ansiedade das crianças se refere muitas vezes não apenas aos pais reais da criança, mas especialmente aos severos pais introjetados.


O CONFLITO EDIPIANO 

O ódio e as tendências agressivas constituem a causa mais profunda e os alicerces dos sentimentos de culpa.

“É apenas nos estágios posteriores do conflito edipiano que a defesa contra os impulsos libidinais faz sua aparição; nos primeiros estágios, é contra os impulsos destrutivos que os acompanham que a defesa é dirigida”. (Klein, 1929)


O BRICAR 

Por trás de cada forma de atividade lúdica encontra-se um processo de descarga de fantasias masturbatórias contínua motivação para o brincar.

Mecanismo fundamental na atividade de brincar e em todas as suas sublimações subsequentes

Inibição do brincar: origem no sentimento de culpa ou em uma repressão indevidamente forte dessas fantasias.


O BRICAR 

“Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa.” Platão


CRITICAS A TÉCNICA I.

Sua relação com a realidade é fraca

II. Aparentemente, não há nada que as induziria a submeter-se aos rigores de uma análise, já que de modo, geral não se sentem doentes. III. Ainda não podem dar, ou dar em um grau suficiente, aquelas associações de fala que são o principal instrumento da análise de adultos


FUNDAMENTOS DA TÉCNICA 

A criança, desde muito cedo, tem a capacidade de simbolizar: “A criança expressa suas fantasias, seus desejos e suas experiências reais de um modo simbólico, através de brincadeiras e jogos” (Klein,1932,p.30).


FUNDAMENTOS DA TÉCNICA 

A criança, ao se expressar através da brincadeira emprega o mesmo modo de expressão, a mesma linguagem, com que estamos familiarizados nos sonhos;

As crianças se expressam nos jogos como os adultos nos sonhos.

Todos os elementos que a criança apresenta ao brincar são as suas associações.


TÉCNICA KLEINIANA 

Além de trazer elementos nas brincadeiras, as crianças falam enquanto estão brincando: “Enquanto brinca, a criança também conversa e diz toda sorte de coisas, que tem o mesmo valor de genuínas associações” (Klein, 1932, p.31).


A ANÁLISE Aparentemente, não há nada que as induziria a submeter-se aos rigores de uma análise, já que de modo, geral não se sentem doentes. 

É surpreendente a facilidade com que as crianças aceitam por vezes a interpretação e mostram mesmo um prazer nisso.

A comunicação entre o consciente e o inconsciente ainda é comparativamente fácil, de modo que o caminho de volta para ics é muito mais simples de ser encontrado.


A ANÁLISE 

O efeito rápido que as interpretações tem sobre as crianças é observável de muitas maneiras, tais como a expansão de seu brincar, o fortalecimento de sua transferência e o decréscimo de sua ansiedade

À medida que a interpretação libera a energia que a criança despendia para manter a repressão , um novo interesse pelo brincar é gerado

Por outro lado, às vezes nos deparamos com resistências que são muito difíceis de superar esbarramos na ansiedade pertencentes a camada mais profunda da mente da criança


A ANÁLISE 

Quando a análise já começou e uma certa quantidade de ansiedade já foi resolvida no paciente por meio de interpretações, a sensação de alivio que ele experimenta como consequência disso – com frequência já após algumas poucas sessões – o ajudará a prosseguir com o trabalho.

*Se até então não teve nenhum incentivo para ser analisado, tem algum insight quanto ao uso e valor do trabalho analítico agora.


A ANÁLISE 

Ainda sobre o efeito rápido da interpretação: as vezes, as crianças não parecem trabalhar essas interpretações conscientemente por algum tempo.

Essa tarefa é alcançada mais tarde, e está vinculada e em compasso com o desenvolvimento de seu ego e com o crescimento de sua adaptação à realidade.


RELAÇÃO COM A REALIDADE 

 

No curso da analise, a relação da criança com a realidade, de inicio tão fraca, vai gradualmente se fortalecendo como resultado do trabalho analítico. O paciente começará, por exemplo, a distinguir entre a sua mãe de faz-de-conta e a sua mãe real, ou entre o brinquedo que representa seu irmão e seu irão de verdade. Um avanço muito importante em sua adaptação à realidade. Diminuição de suas dificuldades à medida que elas se tornem capazes de tolerar as frustrações inerentes a realidade


RELAÇÃO COM A REALIDADE 

As formas arcaicas e simbólicas de representação que a criança emprega no seu brincar estão associadas com outro mecanismo primitivo: o “acting out”

Quando brinca a criança mais age do que fala: Ela coloca atos no lugar de palavras

A criança tem a habilidade de representar o seu inconsciente de um modo direto


MELAINIE KLEIN “Se nos aproximarmos da criança com a técnica dos adultos, é quase certo que não penetraremos naqueles níveis mais profundos; e não obstante, é disso que depende o sucesso e o valor da análise, tanto para a criança quanto para o adulto. Mas, se tomarmos em consideração as diferenças existentes entre a psicologia da criança e a psicologia do adulto – o fato de seu inconsciente está em contato mais próximo com o consciente e seus impulsos mais primitivos encontram-se em operação lado a lado com processos mentais altamente complicados – e se captarmos corretamente o modo de expressão da criança, então todos esses inconvenientes e desvantagens desaparecem e descobrimos que podemos esperar realizar uma análise da criança tão profunda e extensa quanto a de um adulto. Até mais na realidade. Na análise de crianças, somos capazes de voltar a experiências e fixações que na análise de adultos só podem ser reconstruídas, ao passo que a criança as mostra para nós como representações imediatas”(Klein, 1932, p.32)


A LINGUAGEM 

“Uma vez que a fantasia da criança tenha se tornado mais livre como consequência de sua menor ansiedade, teremos não apenas ganho acesso ao seu inconsciente como também mobilizado em grau progressivamente maior os meio ao seu dispor para dar expressão às suas fantasias.” (Klein, 1932, p.35)

Segundo Klein, uma análise só é considerada terminada quando a criança emprega a fala em toda sua capacidade.

“A linguagem constitui a ponte para a realidade”.


O JOGO 

A criança, ao brincar, vence realidades dolorosas e domina medos instintivos, projetando-os ao exterior, nos brinquedos.

A função do jogo é a de elaborar situações excessivas para o ego cumprindo uma função catártica e de assimilação por meio da repetição dos fatos cotidianos e das trocas de papéis, por exemplo, fazendo ativo o que foi sofrido passivamente.

O brinquedo faz possível uma prova do mundo real sendo, por isso, uma “ponte entre a fantasia e a realidade”.


O JOGO 

Segundo Mannoni , a verbalização de uma situação dolorosa possibilita à criança dar um sentido ao que ela está vivendo

Aberastury afirma que a criança é capaz de estruturar, por meio dos brinquedos, a representação de seus conflitos básicos, suas principais defesas e fantasias, deixando em evidência o seu funcionamento mental


O JOGO 

Brincar de esconder, por exemplo, tem o significado de tranquilizar-se da possível destruição ou desaparecimento de quem se ama. É o primeiro jogo que observamos no bebê. Durante o tratamento analítico de crianças, é quase uma regra que, em alguma etapa, apareça este jogo.


ANÁLISE DAS CRIANÇAS 

A interpretação da brincadeira corresponde nada menos do que à interpretação dos conteúdos das fantasias inconscientes que a brincadeira torna possível apreender a partir de seu simbolismo.

A técnica do jogo não exclui a utilização e a interpretação de sonhos, sonhos diurnos e desenhos


ANÁLISE DAS CRIANÇAS 

“Para compreender o brincar da criança em relação ao seu comportamento como um todo durante a sessão analítica, não devemos nos contentar em pinçar o significado dos símbolos isoladamente na brincadeira, mas devemos considerar todos os mecanismos e métodos de representação empregados pelo trabalho do sonho , sem nunca perder de vista a relação de cada fator com a situação como um todo.” (Klein, 1932, p.27)

A análise de crianças muito pequenas tem mostrado quantos significados diferentes pode ter um único brinquedo

Só podemos interpretar o seu significado quando consideramos suas conexões mais amplas e a situação analítica em que se inserem


ANÁLISE DAS CRIANÇAS 

Múltiplos significados de um sintoma/brincadeira: defesa contra seus ataques agressivos e defesa contra punições.

A imagem caleidocóspica total – todas as coisas aparentemente sem sentido têm método e se tornarão significativas se as interpretarmos como interpretamos os sonhos.


A ANÁLISE DAS CRIANÇAS 

O ego da criança mais velha encontra-se mais plenamente desenvolvido a técnica tem que sofrer alguma modificação

Na medida em que criança e jovens sofrem de ansiedade em um grau mais agudo do que os adultos, devemos procurar acesso à sua ansiedade e ao seu sentimento inconsciente de culpa e estabelecer a situação analítica tão rapidamente quanto possível

“Uma certa quantidade de ansiedade pode rapidamente ser resolvida em crianças de todas as idades se a transferência negativa for tratada e dissolvida desde o início.”


A ANÁLISE DAS CRIANÇAS 

As fantasias das crianças, tais como se apresentam no seu brincar, vão se tornando cada vez mais livres em resposta a um contínuo interpretar;

A interpretação deve intervir em algum ponto de urgência do material inconsciente e assim abrir o caminho para mente inconsciente da criança.

Onde se encontra esse ponto será mostrado pela multiplicidade e repetição freqüente, muitas vezes, em formas variadas de representações do mesmo “pensamento em forma de brincar”


A ANÁLISE DAS CRIANÇAS 

Obtemos muito esclarecimento a partir dos vários usos que a criança faz de cada um dos brinquedos, ou da maneira como muda de um jogo para outro. Todo o mobiliário habitual da sala também fica a serviço de suas atividades. Em seus jogos de faz de conta, a criança dramatiza na sua própria pessoa algo que em outro estágio da sua análise, em geral um estágio mais inicial, ela mostra por meio de brinquedos. O valor dessas atividades de faz de conta, de um ponto de vista analítico, está no seu método direto de representação e, conseqüentemente, na maior riqueza de associações verbais que proporcionam.


MELANIE KLEIN 

“A diferença entre esse método de análise (análise do brincar) e o método da análise de adultos é, contudo, exclusivamente uma diferença de técnica e não de princípio. A análise da situação transferencial e da resistência, a remoção da amnésia infantil arcaica e dos efeitos da repressão, bem como o desvelamento da cena primária – tudo isso a técnica do brincar faz. Pode-se ver que todos critérios do método psicanalítico se aplicam também a essa técnica. A análise através do brincar leva aos mesmos resultados que a técnica de adultos, com uma única diferença, a saber, que o procedimento técnico é adaptado à mente da criança.” (Klein, 1975/1997, p. 35)



MÉDICO PEDIATRA 

Winnicott, tinha convicção de que a maioria dos problemas de seus pacientes eram relativos ao início da vida e a um mal-estar da relação mãe-bebê.

O incômodo em sua formação como psicanalista era que tudo era explicado a partir do Édipo, e ele tinha no consultório bebês que adoeciam em estágios muito iniciais do amadurecimento.


ROMPIMENTO COM VISÃO DE FREUD 

Passa a estudar os fundamentos da constituição da personalidade

O aparelho psíquico existe independente do mundo externo : o bebê só existe na relação com a mãe. Não há sujeito e objeto. Primeiro há o contato e depois há ego e objeto.

O contato com a mãe não é edípico, pulsional e fantasioso. É uma relação de cuidados efetivos, cuidados fisiológicos e emocionais.


ROMPIMENTO COM VISÃO DE FREUD 

Revolução paradigmática de Winnicott: até Freud, o problema central é o Édipo

Originalidade teórica tem decorrências clínicas: abrange uma classe de distúrbios que não eram contemplados antes.


ROMPIMENTO COM VISÃO DE FREUD 

Para Freud, a atitude psicológica em relação a castração define a estrutura da personalidade.

Winnicott recoloca a questão não em termos da sexualidade, mas no amadurecimento.

A teoria da sexualidade faz parte da teoria do amadurecimento, mas é apenas isso, parte de uma teoria maior, etapa de um desenvolvimento.


TEORIA DO AMADURECIMENTO 

“Espinha dorsal” de seu trabalho teórico e clínico.

Descrição e conceituação das diferentes tarefas, conquistas e dificuldades que são inerentes ao crescimento em cada um dos estágios da vida, desde o momento em que um estado de ser tem início, ainda na vida intra-uterina, estendendo-se pela infância, adolescência, juventude, idade adulta e velhice até a morte.

A ênfase da teoria recai sobre os estágios iniciais, pois é nesse período que estão sendo constituídos os alicerces da personalidade e da saúde psíquica.


TEORIA DO AMADURECIMENTO 1.

2.

3.

4.

Todo indivíduo humano é dotado de uma tendência inata ao amadurecimento. Para que a tendência venha a realizar-se, o bebê depende fundamentalmente da presença de um ambiente facilitador que forneça cuidados suficientemente bons. O amadurecimento começa em algum momento após a concepção e,quando há saúde, não cessa até a morte. Não há nenhum aspecto da existência humana,cujo sentido seja independente do momento do processo no qual teve origem.


LINHA DO AMADURECIMENTO 1.

2.

3.

Estágios iniciais Dependência absoluta < 3 meses Dependência relativa >3meses a 1 ano e meio Rumo a independência > 1 ano e meio a 2 anos e meio Independência relativa > 2 anos e meio


DEPENDÊNCIA ABSOLUTA 

Adaptação ativa da mãe A mãe suficientemente boa, aquela que não está presa à concepção maniqueísta ou positivista de boa ou má, desenvolve preocupação materna primária, oferecendo ao bebê um ambiente facilitador.

Temporalização /Alojamento da psique no corpo Holding, contenção, que permite a integração do bebê, dá a noção de externo e interno, de eu e não-eu Handling que diz respeito aos cuidados básicos para que o bebê sobreviva.


DEPENDÊNCIA ABSOLUTA 

Apresentação de objeto e Ilusão de onipotência A mãe suficientemente boa oferecerá o seio de tal forma que permitirá ao seu bebê a ilusão onipotente de que o seio que ela coloca ao bebê para ser encontrado é percebido pelo bebê como criação dele. Temos aí a raiz do viver criativo, da espontaneidade e da criatividade.

Início das relações objetais


DEPENDÊNCIA RELATIVA 

 

 

Desadaptação gradativa: apresentando o princípio de realidade ao bebê. Desilusão: o mundo que ele criou na verdade já existia Uso do objeto: expulsão do objeto subjetivo /criação do sentido de externo Transicionalidade ( objeto faz as vezes da mãe em sua ausência): a mãe deixa de ser objeto subjetivo. O objeto transicional permite suportar o progressivo afastamento, separação da mãe, e introduz o simbólico no imaginário do bebê. Início da separação: o bebê e a mãe tem outras necessidades EU SOU


RUMO A INDEPENDÊNCIA Fase do concernimento  Adaptação relativa  A mãe que ataca é a mesma que cuida: integração da impulsividade instintual, da ambivalência  Capacidade de sentir culpa e de responsabilizar-se pelos resultados da instintualidade  Sobrevivência da mãe: quando o ambiente favorece, o indivíduo se apropria da destrutividade que pertence à sua própria natureza e, com isso, conquista a capacidade, natural e saudável, de deprimir a cada vez que a destrutividade se manifestar.


INDEPENDÊNCIA RELATIVA Édipo, latência, adolescência, idade adulta, velhice, morte 

Base da personalidade sedimentada

Lidar com as ansiedades que resultam das relações com outras pessoas, percebidas como externas e cuja existência não depende dela.

Nesta etapa, o ambiente já não tem a mesma importância que tinha nas etapas anteriores, mas é vital que se mantenha estável de maneira a propiciar boas condições para que a criança possa defrontar-se e elaborar sua problemática pessoal interna e não sucumbir em uma neurose.


WINNICOTT E OS DISTÚRBIOS PSÍQUICOS 

Pode ser dividida em duas áreas: desenvolvimento e patologia por um lado, e técnicas terapêuticas por outro. “Precisamos chegar a uma teoria do amadurecimento normal para podermos ser capazes de compreender as doenças e as várias imaturidades, uma vez que não nos damos por satisfeitos a menos que possamos prevení-las e curá-las” (Winnicott 1983c/1965vc, p.65).


DOENÇA = IMATURIDADE 

Segundo Winnicott, todas as patologias devem ser vistas como paradas no processo de amadurecimento devido a falhas ambientais

A natureza do distúrbio está relacionada com a etapa, na linha do amadurecimento, em que a dificuldade surgiu.


Estágio

Patologia

1-Dependência absoluta

Psicose

2-Dependência relativa

Borderline

3-Rumo a indepndência

Depressão reativa ou tendência anti-social

4-Independência relativa Neurose


DIAGNÓSTICO COMO GUIA DA AÇÃO TERAPÊUTICA 

O que determina o trabalho a ser feito – e a maneira como deve ser conduzido um determinado tratamento – é a necessidade do paciente.


4-INDEPENDÊNCIA RELATIVA: NEUROSE .A

estrutura da personalidade está intacta .As dificuldades são inerentes à instintualidade no quadro das relações interpessoais. .Análise standard – tornar consciente o inconsciente, interpretar.


3-RUMO A INDEPENDÊNCIA: DEPRESSÃO REATIVA OU TENDÊNCIA ANTI-SOCIAL   

Posição depressiva Diz respeito a concernimento. responsabilidade e culpa. Integrar a instintualidade, apropiar-se da ambivalência (amor/ódio) Paciente vai ter que experimentar destruir e o terapeuta tem que sobreviver


2-DEPENDÊNCIA RELATIVA: BORDERLINE 

O bebê, por precisar sistematicamente reagir ao trauma, perde a espontaneidade, tem que reagir, interrompe o continuar sendo. Uma cisão defensiva se opera nele: o verdadeiro si-mesmo, espontâneo e criativo, fica recuado e protegido da ameaça de aniquilamento, enquanto um falso si-mesmo se edifica. Esperança de que em algum momento possa encontrar um ambiente que permita descongelar as experiências traumáticas Problemáticas principais: a não–integração e dificuldades com a realidade externa.


1- DEPENDÊNCIA ABSOLUTA: PSICOSE 

Essas pessoas precisam que lhes seja fornecida a oportunidade de viverem experiências primitivas, com o ambiente desta vez atendendo, com sucesso ao invés de fracasso, às necessidades específicas do momento.

A análise deve convidar o paciente à regressão; à dependência absoluta para que o desenvolvimento emocional possa ser retomado do ponto em que foi interrompido por interferências do ambiente.

Nesses pacientes o trabalho recai sobre o manejo, sendo às vezes a análise dos conflitos inconscientes deixada de lado para que o manejo ocupe a totalidade do espaço


O MANEJO 

Baseado na experiência com esses pacientes, Winnicott privilegiou o manejo do enquadre e a adaptação do setting que é de fundamental importância no trabalho com pacientes que não se beneficiam da técnica tradicional “Quando posso fazer análise, faço.Quando não posso, faço algo orientado psicanaliticamente”. (1977) “... em geral, a psicanálise [cujo método por excelência é a interpretação do conflito reprimido inconsciente] é para aqueles que a querem, necessitam e podem tolerá-la”. (1962) É possível “...ser um psicanalista fazendo outra coisa, mais apropriada para a situação”. (1962)


O MANEJO 

Esta postura foi adotada, então, construindo uma clínica que passava a incluir o manejo como uma possibilidade de intervenção em oposição a uma clínica que se baseava unicamente nas interpretações clássicas, na tentativa de solução de conflitos psíquicos através da suspensão do recalque de certos conteúdos.

A regressão só pode acontecer se houver por parte do analista a atitude de fornecer ao paciente um ambiente favorável. A conduta do analista faz parte do enquadramento, devendo portanto ser adaptada ao estado para o qual se encaminha o paciente.

Em Winnicott, os moldes da regressão fogem dos moldes clássicos do setting analítico na medida em que existe a disponibilidade do terapeuta em se adaptar às necessidades do paciente.

O analista sustenta o paciente

Holding


O MANEJO 

A interpretação e o holding não são opostos, uma interpretação pode ter a função de holding A interpretação vai ganhando, assim, seu sentido ampliado. Ela não é mais somente a comunicação ao paciente de um conteúdo latente, de um desejo inconsciente relacionado a um conflito. A interpretação vai incluir também todo ato ou comunicação do analista que contribui para a retomada do desenvolvimento emocional do paciente Winnicott comenta em sua obra como foi importante para ele aprender a reter as interpretações para si e assim não atrapalhar o desenvolvimento natural do paciente; já que uma interpretação prematura é como uma antecipação da mãe que interrompe o gesto espontâneo do bebê, favorecendo a submissão e, portanto, o desenvolvimento de um falso self O que Winnicott propõe é uma atenção constante ao uso clínico que se faz de uma interpretação, clássica ou mesmo no seu sentido mais amplo.


O MANEJO 

É importante ressaltar que Winnicott também destaca a questão do manejo ao falar de pacientes que estão integrados ou (e principalmente), naqueles em que a falha encontra-se ligada à fase do concernimento.

Nos casos em que o indivíduo possui uma personalidade integrada, apesar da ênfase recair sobre a interpretação do analista, ainda assim haverá todo um contexto cuidadosamente estabelecido, que compreende todos os detalhes relativos ao manejo. Estes se referem à atitude do analista, ao modo como o ambiente físico é estabelecido e às regras que delimitam o trabalho.

É importante cuidar para saber os momentos em que se deve mudar a ênfase do trabalho. A conduta do paciente certamente apresenta alternâncias, demandando que o analista seja capaz de sustentar uma adaptação ativa em relação às suas necessidades.


O MANEJO 

Enquadre flexível não significa um enquadre frouxo. As regras devem ser claras e consistentes para transmitir ao paciente a sensação de continuidade e de estabilidade...

... mas devem ser flexíveis em relação ao enquadre clássico proposto por Freud: o divã pode dar lugar à cadeira, o corpo do paciente e do analista podem ser incluídos na sessão, materiais lúdicos podem ser utilizados com pacientes adultos, a interpretação dos conteúdos inconscientes deve ceder lugar às construções ou, ainda, às simples descrições do que está se passando


CLÍNICA WINNICOTTIANA 1. 2.

3.

Psicoterapia é um tratamento Saúde x adoecimento: saúde relacionada a riqueza da personalidade, possibilidade de se relacionar com o mundo, maturidade de acordo com a idade. A interrupção desse amadurecimento leva a uma imaturidade no crescimento emocional do indivíduo Diagnóstico é fundamental: descobrir onde a falha ocorreu e quais as conquistas até então.


CLÍNICA WINNICOTTIANA 5.

Objetivo da análise: possibilitar que o amadurecimento volte a acontecer. Não eliminação de sofrimento, mas sim, conquista de um si-mesmo que pode considerar a vida como algo que vale a pena viver porque lhe diz respeito.

6.

Modelo da relação suficientemente bom.

7.

Regressão à dependência: o que garante é a confiabilidade e a continuidade

mãe-bebê:

analista


CONCLUSÃO 

Na análise winnicottiana estamos falando de uma relação pessoal, não é intrapsíquica, é intrapessoal

Metodologia clinica centrada não tanto na interpretação, mas num determinado tipo de relação, encontro e comunicação entre o paciente e o analista.

Exigência de uma implicação com o sofrimento do analisando e de uma especial sensibilidade afetiva por parte do psicanalista que, se não puder brincar, simplesmente “não se adequa ao trabalho” (Winnicott, 1975, p.80).


DIVERGÊNCIAS KLEIN E WINNICOTT


RELAÇÃO COM O ANALISTA - KLEIN 

“É freqüente que em algum momento da análise a criança busque um contato íntimo com o terapeuta e seja conveniente atuar do mesmo modo quando nos agride, interpretando sua conduta, colocando limites”. “(se querem que a analista jogue) formular a interpretação que lhe dê novamente a consciência da enfermidade, de que somos seus terapeutas e não estamos jogando com eles, mas analisando-o. Só assim poderemos compreendê-lo e ajudá-lo” “Mas eu faço por ele o mínimo possível, retirando assim dessa assistência o caráter de um ato de amor que o inconsciente da criança deseja, ou pelo menos reduzo-o ao mínimo indispensável; demonstro desse modo, como em todas as demais ocasiões, a atitude de reserva amistosa que parece tão necessária no estabelecimento e manutenção da situação analítica na análise de crianças com na análise de adultos.”


RELAÇÃO COM O ANALISTA – WINNICOTT 

Um analista que faca da análise a mera aplicação de uma técnica simplesmente impossibilita o contato e a intimidade nessa área da experiência compartilhada: “ A criatividade do paciente pode ser facilmente frustrada por um terapeuta que saiba demais”

“A psicoterapia trata de duas pessoas que brincam juntas.”

“Em quase todas (sessões), eu simplesmente ficava deitada chorando, amparada por ele (Winnicott)”

“...a brincadeira foi de um tipo autocurativo. Em ambos os casos, o resultado foi comparável ao de uma sessão psicoterapêutica em que a história tivesse sido pontuada por interpretações por parte do terapeuta. Um psicoterapeuta talvez se abstivesse de brincar ativamente (...) mas essa disciplina auto-imposta poderia ter eliminado um pouco do aspecto criativo da experiência lúdica de Diana.


INTERPRETAÇÃO - KLEIN 

“Assim que o paciente me dá um tanto de insight com relação aos seus complexos , as interpretações podem e devem ser iniciadas.”

“Devemos fazer verdadeiros exercícios de estilo, que consistem em revisar uma e outra vez o material e formular por escrito a interpretação, reformulando-as tantas vezes quantas sejam necessárias, ate encontrarem a que consideramos justa.”

“O analista não deve se intimidar e se furtar de dar interpretações profundas mesmo no início da análise (...) Uma interpretação que não desce as profundidades que estão sendo ativadas pelo material (...)e não se esforça por reduzir a ansiedade onde ela é mais violenta e mais evidente, não terá qualquer efeito sobre a criança ou só servirá para provocar nela resistências mais fortes sem ter conseguido resolvê-las novamente.”


INTERPRETAÇÃO - WINNICOTT 

“Interpretação fora do amadurecimento do material é doutrinação e produz submissão”

“Em conseqüência, a resistência surge da interpretação dada fora da área da superposição do brincar comum de paciente e analista. Interpretar quando o paciente não tem capacidade para brincar, simplesmente não e útil, ou causa confusão. Quando existe um brincar mútuo, então a interpretação, segundo os princípios psicanalíticos aceitos, pode levar adiante o trabalho terapêutico. Esse brincar tem de ser espontâneo, e não submisso ou aquiescente, se é que se quer fazer psicoterapia”

As interpretações poderão ser transicionais, isto é, permitem que os pacientes as descubram por si mesmos, pois estas interpretações estão postas já ali pelo analista. Os pacientes descobrem, onipotentemente como criações suas, usam-nas adquirindo assim o simbólico e uma experiência para o verdadeiro self.

“Quão pouco é necessário ser feito? Esperar, perceber e oferecer o necessário – o gesto é do paciente”


REFERÊNCIAS 

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