Winnicott (1)

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Centro de Estudos e Acompanhamento Psicanalítico e Psicopedagógico

TEORIA E CLÍNICA DE WINNICOTT

Juscelino Santos

Salvador 2018


TEORIA E CLÍNICA DE WINNICOTT


VIDA E OBRA • Donald Woods Winnicott • Plymouth, Inglaterra, 7 de abril de 1896 — 28 de janeiro, 1971) • Pediatra e psicanalista inglês • Winnicott era filho de Elizabeth Martha (Woods) Winnicott e do Sr. John Frederick Winnicott, um comerciante que se tornou cavaleiro em 1924 após servir duas vezes como prefeito de Plymouth.


“Não poderia imaginar que toda minha vida dependeria dos médicos... resolvi converter-me eu mesmo em médico”. (Winnicott, aos 16 anos.) “estou convencido que pelo menos uma vez na vida é necessário que o médico tenha estado no hospital como paciente”. (Winnicott, 24 anos, após ficar internado por 3 meses)


WINNICOTT E A PSICANÁLISE Com 23 anos o jovem Winnicott percebeu sua incapacidade para lembrar seus sonhos. Um amigo emprestou o livro “interpretação dos sonhos”. Foi em 1923, que Winnicott iniciou sua análise pessoal com James Strachey (1887 – 1967), o tradutor das obras de Sigmund Freud para o inglês.


Winnicott tornou-se psicanalista habilitado da Sociedade Britânica de Psicanálise por volta de 1935. Fez supervisão com Melanie Klein de 1935 a 1940. Na mesma época, Melanie Klein lhe pediu que recebesse seu filho Erich em análise.


Em 1954, Winnicott intercedeu junto a Melanie Klein para que ela concordasse em receber sua mulher em análise. Para melhor sustentar sua demanda, lembrou a Melanie Klein que tivera de renunciar a fazer um tratamento analítico com ela para se dedicar com total liberdade à análise de eu filho Erich.


SOCIEDADE BRITÂNICA DE PSICANÁLISE Foi presidente nos períodos de 1956 a 1959 e de 1965 a 1968. Na ocasião de seu primeiro mandato, escreveu a um colega: “Sinto-me engraçado ao ocupar a cadeira de Presidente, pois não conheço meu Freud como um Presidente deveria conhecê-lo, embora me sinta impregnado de Freud até a medula óssea”


A teoria de Winnicott baseia-se no fato de que a psique não é uma estrutura pré-existente e sim algo que vai se constituindo a partir da elaboração imaginativa do corpo e de suas funções – o que constitui o binômio psique-soma. Essa elaboração se faz a partir da possibilidade materna de exercer funções primordiais como o holding (permite a integração no tempo e no espaço), handling (permite o alojamento da psique no corpo) e a apresentação de objetos (permite o contato com a realidade).


REFERÊNCIAS ÀS OBRAS DE D. W. WINNICOTT PUBLICADAS EM PORTUGUÊS: • • • • • • • • • • • • • • • •

1958: Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2000. 1964: A criança e seu mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982. 1965: A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 1965: O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988. 1971: O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975. 1971: Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil. Rio de Janeiro: Imago, 1984. 1977: The Piggle: o relato do tratamento psicanalítico de uma menina. Rio de Janeiro: Imago, 1979. 1984: Privação e delinqüência. São Paulo: Martins Fontes, 1987. 1986: Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 1993. 1986: Holding e interpretação. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 1987: Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes, 1988. 1987: O gesto espontâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1990. 1988: Natureza humana. Rio de Janeiro: Imago, 1990. 1989: Explorações psicanalíticas. C. Winnicott, R. Shepperd e M. Davis (orgs). 2ª reimpressão. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005. 1993: Conversando sobre crianças [com os pais]. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 1996: Pensando sobre crianças. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.


CRIANÇA GEOPOLÍTICA ASSISTINDO AO NASCIMENTO DO NOVO HOMEM

Autor: Salvador Dalí Ano: 1943 Técnica: Óleo sobre tela Tamanho: 45,5 cm X 50 cm Movimento: Surrealismo



BEBÊS COM SINTOMAS O incômodo em sua formação como psicanalista era que tudo era explicado a partir do Édipo, e ele tinha no consultório bebês que adoeciam em estágios muito iniciais do amadurecimento.


REVOLUÇÃO PARADIGMÁTICA DE WINNICOTT • Até Freud, o problema central é o Édipo • Originalidade teórica tem decorrências clínicas: abrange uma classe de distúrbios que não eram contemplados antes.


PERSONALIDADE: FREUD E WINNICOTT  Para Freud, a atitude psicológica em relação a castração define a estrutura da personalidade.  Winnicott recoloca a questão não em termos da sexualidade, mas no amadurecimento.


O COMPLEXO DE ÉDIPO Acredito que alguma coisa se perde quanto o termo “Complexo de Édipo” é aplicado as etapas anteriores, em que só estão envolvidos duas pessoas, e a terceira pessoa ou objeto parcial está internalizado. Não posso ver nenhum valor na utilização do “Complexo de Édipo” quando um ou mais de um dos três que forma o triangulo é um objeto parcial. No Complexo de Édipo cada um dos componentes do triângulo é uma pessoa total, não apenas para o observador, mas especialmente para própria criança. (Wnnicott, 1988, p. 67)


CORPO E ALMA

Fiz um esforço incessante para não ridicularizar, não lamentar, não desprezar as ações humanas, mas para compreendê-las Baruch Spinoza


A NATUREZA HUMANA Se deixar o ser humano a si mesmo ele vira um bestial, pior que os animais? As pulsões destrutivas é uma ameaça ao ambiente ameaçador. O que é espontâneo é o gesto de expansão quando ele se sente ameaçado ele cria as defesas.


O CONFLITO É ENRIQUECEDOR A razão não é concordância de todos, mas a concórdia dos interesses individuais. O que vence com uma proposta desonesta está pagando um preço muito alto pra isso, afetivamente.

• A maldade bebe a maior parte do veneno que produz. (Sêneca)


O WINICCOTT O ser humano é uma amostra no tempo da natureza humana, a pessoa total é física se vista de um certo ângulo ou psicológica se vista de outro. (winnicott).


TEORIA E CLÍNICA DE WINNICOTT Winnicott, como pediatra, tinha convicção de que a maioria dos problemas de seus pacientes eram relativos ao início da vida e a um mal-estar da relação mãe-bebê. “Se agente tentasse ensinar os pais a serem pais levaríamos 50 anos” (Françoise Dolto) “Agente poderia ensinar os pais a serem suficientemente bons, para suportar o crescimento dos filhos” (Winnicott)


TEORIA E CLÍNICA DE WINNICOTT  Passa a estudar os fundamentos da constituição da personalidade  Rompe com a visão de Freud de que o aparelho psíquico existe independente do mundo externo : o bebê só existe na relação com a mãe. Não há sujeito e objeto. Primeiro há o contato e depois há ego e objeto.


PSIQUE, SOMA E A MENTE • Mesmo que na linguagem comum falemos assim, um estudo mais preciso cientifico pode mostrar que esse modo de falar não é correto. Dado que: a mente não existe. • A mente para Winnicott é uma especialização da parte Psique Soma.


AS EMOÇÕES • O contato com a mãe não é edípico, pulsional e fantasioso. É uma relação de cuidados efetivos, cuidados fisiológicos e emocionais.


SISTEMA LÍMBICO • Ansiedade (ânsia) • Medo • Raiva

(Fala, choro, grito)

• Angustia • Se não é atendida a criança tenta calar a seus “gritos”. “O pior humanos que existe é o silencioso, pois nós calamos aquilo de mais humano que uma criança pode ter, que é a angustia” (Ivan Capelatto)


NASCIMENTO DA VIDA PSÍQUICA


PSIQUE E MENTE • A psique é o nome dado aquela parte da unidade psicossomática, que se ocupa em dar sentido e estabelecer relações do indivíduo com sigo mesmo e com o mundo. • A mente é o modo especifico da psique funcionar Na saúde agente tem varias formas de funcionar. Na doença a mente se torna forma única para todas as funções.


SER A PARTIR DE SI MESMO • A continuidade do ser significa saúde. Se tomamos como analogia a bolha, podemos dizer que quando a pressão externa está adaptada á pressão interna, a bolha pode seguir existindo. se por outro lado a pressão no exterior da bolha for maior ou menor do que aquela em seu interior, a bolha passara a reagir a intrusão. Ela se modifica como reação a mudança do ambiente, e não a partir de um impulso próprio.


TEORIA DO AMADURECIMENTO • A teoria da sexualidade faz parte da teoria do amadurecimento, mas é apenas isso, parte de uma teoria maior, etapa de um desenvolvimento. • “Espinha dorsal” de seu trabalho teórico e clínico.


TEORIA DO AMADURECIMENTO  Descrição e conceituação das diferentes tarefas, conquistas e dificuldades que são inerentes ao crescimento em cada um dos estágios da vida, desde o momento em que um estado de ser tem início, ainda na vida intra-uterina, estendendo-se pela infância, adolescência, juventude, idade adulta e velhice até a morte.  A ênfase da teoria recai sobre os estágios iniciais, pois é nesse período que estão sendo constituídos os alicerces da personalidade e da saúde psíquica.


O HUMANO NA TEORIA DO AMADURECIMENTO 1. Todo indivíduo humano é dotado de uma tendência inata ao amadurecimento. 2. Para que a tendência venha a realizar-se, o bebê depende fundamentalmente da presença de um ambiente facilitador que forneça cuidados suficientemente bons. 3. O amadurecimento começa em algum momento após a concepção e,quando há saúde, não cessa até a morte. 4. Não há nenhum aspecto da existência humana,cujo sentido seja independente do momento do processo no qual teve origem.


LINHA DO AMADURECIMENTO 1. Estágios iniciais Dependência absoluta (até 3 m) Dependência relativa (3m a 1,1 ½ ano) 2. Rumo a independência (1 ½ - 2 ½ anos) 3. Independência relativa


DEPENDÊNCIA ABSOLUTA • Nesse estado, a criança não tem meios de reconhecer os cuidados maternos, que são sobretudo uma questão de profilaxia. Ela não pode adquirir o domínio do que é bem-feito e do que é malfeito; está tão-somente em condições de tirar proveito ou de sofrer perturbações com isso


DEPENDÊNCIA ABSOLUTA  Adaptação ativa da mãe A mãe suficientemente boa, aquela que não está presa à concepção maniqueísta ou positivista de boa ou má, desenvolve preocupação materna primária, oferecendo ao bebê um ambiente facilitador.  Temporalização /Alojamento da psique no corpo (Holding , Handling )


Holding, contenção, que permite a integração do bebê, dá a noção de externo e interno, de eu e não-eu.


Handling que diz respeito aos cuidados bĂĄsicos para que o bebĂŞ sobreviva.


Apresentação de objeto e Ilusão de onipotência A mãe suficientemente boa oferecerá o seio de tal forma que permitirá ao seu bebê a ilusão onipotente de que o seio que ela coloca ao bebê para ser encontrado é percebido pelo bebê como criação dele. Temos aí a raiz do viver criativo, da espontaneidade e da criatividade. Se isso, então?


DEPENDÊNCIA RELATIVA  Desadaptação gradativa: realidade ao bebê.

apresentando o princípio de

 Desilusão: o mundo que ele criou na verdade já existia  Uso do objeto: expulsão do objeto subjetivo /criação do sentido de externo


 Transicionalidade ( objeto faz as vezes da mãe em sua ausência): a mãe deixa de ser objeto subjetivo. O objeto transicional permite suportar o progressivo afastamento, separação da mãe, e introduz o simbólico no imaginário do bebê.  Início da separação: necessidades  EU SOU

o bebê e a mãe tem outras


OBJETOS TRADICIONAIS- o cobertor perdido


RUMO A INDEPENDÊNCIA Fase do concernimento  Adaptação relativa  A mãe que ataca é a mesma que cuida: integração da impulsividade instintual, da ambivalência  Capacidade de sentir culpa e de responsabilizar-se pelos resultados da instintualidade  Sobrevivência da mãe: quando o ambiente favorece, o indivíduo se apropria da destrutividade que pertence à sua própria natureza e, com isso, conquista a capacidade, natural e saudável, de deprimir a cada vez que a destrutividade se manifestar.


INDEPENDÊNCIA RELATIVA Édipo, latência, adolescência, idade adulta, velhice, morte  Base da personalidade sedimentada  Lidar com as ansiedades que resultam das relações com outras pessoas, percebidas como externas e cuja existência não depende dela.  Nesta etapa, o ambiente já não tem a mesma importância que tinha nas etapas anteriores, mas é vital que se mantenha estável de maneira a propiciar boas condições para que a criança possa defrontar-se e elaborar sua problemática pessoal interna e não sucumbir em uma neurose.


TEORIA DOS DISTÚRBIOS PSÍQUICOS  Winnicott não faz uma diferença explícita entre a clínica de crianças, adolescentes e adultos.  A clínica winnicottiana está baseada numa teoria dos distúrbios psíquicos que tem como fundamento a teoria do amadurecimento:

 Pode ser dividida em duas áreas: desenvolvimento e patologia por um lado, e técnicas terapêuticas por outro.


“Precisamos chegar a uma teoria do amadurecimento normal para podermos ser capazes de compreender as doenças e as várias imaturidades, uma vez que não nos damos por satisfeitos a menos que possamos prevení-las e curá-las” (Winnicott 1983c/1965vc, p.65).


CONCEITOS DE SELF

 Não se pode pensar o self sem compreender o processo do surgir humano no tempo. O self jamais termina sua constituição, está sempre aberto para o porvir em direção à morte, sua derradeira realização. O homem anseia pelo seu futuro, que paradoxalmente é início de si mesmo, isso, evidentemente, quando o si mesmo pôde ter um início.


FENÔMENO DE TEMPORALIZAÇÃO  Enquanto nas teorias psicanalíticas anteriores a análise privilegiava o conteúdo de um psiquismo existente, na perspectiva winnicottiana o acontecer humano no tempo será o ponto de vista fundamental.

• “Viver é isso: Ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências.” (Sartre)


DOENÇA É IGUAL A IMATURIDADE  Segundo Winnicott, todas as patologias devem ser vistas como paradas no processo de amadurecimento devido a falhas ambientais  A natureza do distúrbio está relacionada com a etapa, na linha do amadurecimento, em que a dificuldade surgiu.


DIAGNÓSTICO É SEMPRE MATURACIONAL 1. Estágios iniciais Dependência absoluta Patologia: Psicose Dependência relativa Patologia: Borderline 2. Rumo a independência Patologia: Depressão reativa ou tendência anti-social 3. Independência relativa Patologia: Neurose


CLÍNICA WINNICOTTIANA Diagnóstico como guia da ação terapêutica  O que determina o trabalho a ser feito – e a maneira como deve ser conduzido um determinado tratamento – é a necessidade do paciente


3. INDEPENDÊNCIA RELATIVA PATOLOGIA: NEUROSE  A estrutura da personalidade está intacta  As dificuldades são inerentes à instintualidade no quadro das relações interpessoais.  Análise standard – tornar consciente o inconsciente, interpretar.


2. RUMO A INDEPENDÊNCIA PATOLOGIA: DEPRESSÃO REATIVA OU TENDÊNCIA ANTI-SOCIAL  Posição depressiva  Diz respeito a concernimento. responsabilidade e culpa.  Integrar a instintualidade, apropiar-se da ambivalência (amor/ódio)  Paciente vai ter que experimentar destruir e o terapeuta tem que sobreviver


1. ESTÁGIOS INICIAIS PATOLOGIA: PSICOSE/BORDERLINE  O bebê, por precisar sistematicamente reagir ao trauma, perde a espontaneidade, tem que reagir, interrompe o continuar sendo.  Uma cisão defensiva se opera nele: o verdadeiro si-mesmo, espontâneo e criativo, fica recuado e protegido da ameaça de aniquilamento, enquanto um falso si-mesmo se edifica.  Esperança de que em algum momento possa encontrar um ambiente que permita descongelar as experiências traumáticas  Problemáticas principais: a não–integração e dificuldades com a realidade externa.


ESTÁGIOS INICIAIS PATOLOGIA: PSICOSE/BORDERLINE :  Essas pessoas precisam que lhes seja fornecida a oportunidade de viverem experiências primitivas, com o ambiente desta vez atendendo, com sucesso ao invés de fracasso, às necessidades específicas do momento.  A análise deve convidar o paciente à regressão; à dependência absoluta para que o desenvolvimento emocional possa ser retomado do ponto em que foi interrompido por interferências do ambiente.  Nesses pacientes o trabalho recai sobre o manejo, sendo às vezes a análise dos conflitos inconscientes deixada de lado para que o manejo ocupe a totalidade do espaço


A SESSÃO A sessão necessita de um começo, um meio e um fim, este é o ciclo da existência humana. Ele determina a condução das sessões e de todo o processo analítico. É por esta razão que a sessão analítica winnicottiana não tem uma duração convencional. Ela transcorrerá ao longo do tempo necessário, para que seja possível dar-se conta das questões com as quais se está trabalhando naquele período da análise. o nascimento, o acontecer de si pela apropriação do mundo e o gesto que cria o repúdio pelo objeto e também a possibilidade de morrer.


TRÊS PERÍODOS NA SESSÃO

• Hesitação • Período de encontro propriamente dito com o uso da situação analítica • Período de finalização


MANEJO EM WINNICOTT Baseado na experiência com esses pacientes, Winnicott privilegiou o manejo do enquadre e a adaptação do setting que é de fundamental importância no trabalho com pacientes que não se beneficiam da técnica tradicional.


“Quando posso fazer análise, faço.Quando não posso, faço algo orientado psicanaliticamente”. (1977) “... em geral, a psicanálise [cujo método por excelência é a interpretação do conflito reprimido inconsciente] é para aqueles que a querem, necessitam e podem tolerála”. (1962) É possível “...ser um psicanalista fazendo outra coisa, mais apropriada para a situação”. (1962)


O BRINCAR COMO AÇÃO UNIVERSAL QUE CARACTERIZA O MODO DE SER HUMANO

Posso agora re-enunciar o que estou tentando trasmitir. Desejo afastar a atenção da sequência psicanálise, psicoterapia, material de brincadeira, brincar e propor tudo isso novamente, ao inverso. Em outros termos, é a brincadeira que é universal e que é a própria saúde; a brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia. (Winnicott, 1968, p. 63)


O BRINCAR COMO AÇÃO QUE LEVA AO ENCONTRO DE SI MESMO É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral; e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self). (Winnicott, 1987, p. 80)


O BRINCAR COMO FUNDAMENTO DA PRÁTICA CLINICA Permanece válido o princípio geral de que a psicoterapia é afetada na superposição de duas áreas lúdicas, a do paciente e a do terapeuta. Se o terapeuta não pode brincar, então ele não se adequa ao trabalho. Se é o paciente que não pode, então algo precisa ser feito para ajuda-lo a tornar-se capaz de brincar. O brincar é essencial porque nele o paciente manifesta sua criatividade. (Winnicott, 1971, p. 80)


MANEJO EM WINNICOTT Esta postura foi adotada, então, construindo uma clínica que passava a incluir o manejo como uma possibilidade de intervenção em oposição a uma clínica que se baseava unicamente nas interpretações clássicas, na tentativa de solução de conflitos psíquicos através da suspensão do recalque de certos conteúdos.


A REGRESSÃO EM WINNICOTT  A regressão só pode acontecer se houver por parte do analista a atitude de fornecer ao paciente um ambiente favorável. A conduta do analista faz parte do enquadramento, devendo portanto ser adaptada ao estado para o qual se encaminha o paciente. 

Em Winnicott, os moldes da regressão fogem dos moldes clássicos do setting analítico na medida em que existe a disponibilidade do terapeuta em se adaptar às necessidades do paciente.

 O analista sustenta o paciente: Holding


A INTERPRETAÇÃO EM WINNICOTT  A interpretação e o holding não são opostos, uma interpretação pode ter a função de holding  A interpretação vai ganhando, assim, seu sentido ampliado. Ela não é mais somente a comunicação ao paciente de um conteúdo latente, de um desejo inconsciente relacionado a um conflito.  A interpretação vai incluir também todo ato ou comunicação do analista que contribui para a retomada do desenvolvimento emocional do paciente


A INTERPRETAÇÃO EM WINNICOTT Winnicott comenta em sua obra como foi importante para ele aprender a reter as interpretações para si e assim não atrapalhar o desenvolvimento natural do paciente; já que uma interpretação prematura é como uma antecipação da mãe que interrompe o gesto espontâneo do bebê, favorecendo a submissão e, portanto, o desenvolvimento de um falso self. O que Winnicott propõe é uma atenção constante ao uso clínico que se faz de uma interpretação, clássica ou mesmo no seu sentido mais amplo.


CARACTERÍSTICAS DO MANEJO EM WINNICOTT  É importante ressaltar que Winnicott também destaca a questão do manejo ao falar de pacientes que estão integrados ou (e principalmente), naqueles em que a falha encontra-se ligada à fase do concernimento.  Nos casos em que o indivíduo possui uma personalidade integrada, apesar da ênfase recair sobre a interpretação do analista, ainda assim haverá todo um contexto cuidadosamente estabelecido, que compreende todos os detalhes relativos ao manejo. Estes se referem à atitude do analista, ao modo como o ambiente físico é estabelecido e às regras que delimitam o trabalho.


 É importante cuidar para saber os momentos em que se deve mudar a ênfase do trabalho. A conduta do paciente certamente apresenta alternâncias, demandando que o analista seja capaz de sustentar uma adaptação ativa em relação às suas necessidades.


CARACTERÍSTICAS DO MANEJO EM WINNICOTT  Enquadre flexível não significa um enquadre frouxo. As regras devem ser claras e consistentes para transmitir ao paciente a sensação de continuidade e de estabilidade...  ... mas devem ser flexíveis em relação ao enquadre clássico proposto por Freud: o divã pode dar lugar à cadeira, o corpo do paciente e do analista podem ser incluídos na sessão, materiais lúdicos podem ser utilizados com pacientes adultos, a interpretação dos conteúdos inconscientes deve ceder lugar às construções ou, ainda, às simples descrições do que está se passando


CLÍNICA WINNICOTTIANA 1. Psicoterapia é um tratamento 2. Saúde x adoecimento: saúde relacionada a riqueza da personalidade, possibilidade de se relacionar com o mundo, maturidade de acordo com a idade. A interrupção desse amadurecimento leva a uma imaturidade no crescimento emocional do indivíduo 3. Diagnóstico é fundamental: descobrir onde a falha ocorreu e quais as conquistas até então. 4. Objetivo da análise: possibilitar que o amadurecimento volte a acontecer. Não eliminação de sofrimento, mas sim, conquista de um si-mesmo que pode considerar a vida como algo que vale a pena viver porque lhe diz respeito.


CLÍNICA WINNICOTTIANA 5. Modelo da relação suficientemente bom.

mãe-bebê:

analista

6. Regressão à dependência: o que garante é a confiabilidade e a continuidade


CONCLUSÃO  Na análise winnicottiana estamos falando de uma relação pessoal, não é intrapsíquica, é intrapessoal

 Metodologia clinica centrada não tanto na interpretação, mas num determinado tipo de relação, encontro e comunicação entre o paciente e o analista.

 Exigência de uma implicação com o sofrimento do analisando e de uma especial sensibilidade afetiva por parte do psicanalista que, se não puder brincar, simplesmente “não se adequa ao trabalho” (Winnicott, 1975, p.80).


Excertos da obra de Winnicott


É através da percepção criativa, mais do que qualquer outra coisa, que o individuo sente que a vida é digna de ser vivida. Em contraste, existe um relacionamento de submissão com a realidade externa, onde o mundo em todos seus pormenores é reconhecido apenas como algo a que ajustar-se ou a exigir adaptação. A submissão traz consigo um sentido de inutilidade e esta associada a ideia de que nada importa e de que não vale a pena viver a vida. Muitos indivíduos experimentam suficientemente o viver criativo para reconhecer, de maneira totalizante, a forma não criativa pela qual estão vivendo, como se estivessem presos a criatividade de outrem, ou de uma maquina (Winnicott, 1971g, p. 95).


A vida de um individuo não se caracteriza mais por medos, sentimentos conflitantes, duvidas, frustrações do que por seus aspectos positivos. O essencial é que o homem ou a mulher se sintam vivendo sua própria vida, responsabilizando-se por suas ações ou inações, sentindose capazes de atribuírem a si o mérito de um sucesso ou a responsabilidade de um fracasso. Pode-se dizer, em suma, que o individuo saiu da dependência para entrar na independência ou autonomia (Winnicott, 1971f, p. 30).


Digamos que na saúde, que é quase sinônimo de maturidade, o adulto é capaz de se identificar com a sociedade sem sacrifício demasiado da espontaneidade pessoal; ou, dito de outro modo, o adulto é capaz de satisfazer suas necessidades pessoais sem ser anti-social, e, na verdade, sem falhar em assumir alguma responsabilidade pela manutenção ou pela modificacão da sociedade em que se encontra (Winnicott, 1965r, p. 80).


REFERÊNCIAS • Dolto, F. Seminário de psicanálise de crianças. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1985. • ________. Seminário de psicanálise de crianças 2. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1990 • Klein, M. (1997). A psicanálise de crianças. Tradução, Liana Pinto Chaves; revisão técnica, José A. Pedro Ferreira – Rio de Janeiro:Imago Ed. (Original published in 1975) • FREUD, S. (1909). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (J. Salomão, trad.) (Vol. 10, pp. 11-154). Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1990. • FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer (1920). In: ______.(19201922).Trad. Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: Imago, 1976. (Edições Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v.XVIII).


REFERÊNCIAS • Dias, E. O. 2003: A teoria do amadurecimento de D. W. Winnicott. Rio de Janeiro, Imago. • Dias, E. O. A teoria winnicottiana do amadurecimento como guia da prática clínica. Nat. hum. [online]. 2008, vol.10, n.1, pp. 29-46. • Winnicott, D. W.(1983a). O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas. (Bibliografia Hjulmand: 1965b). • ____________(1983b). Os objetivos do tratamento psicanalítico. In O Ambiente e os Processos de Maturação. Porto Alegre: Artes Médicas. (Bibliografia Hjulmand: 1965d [1962]). • _____(1983c). Provisão para a criança na saúde e na crise. In O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas. (Bibliografia Hjulmand: 1965vc [1962]). • _____(1994a). Explorações Psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas. (Bibliografia Hjulmand: 1989a).


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