Uma história de muitos desafios e conquistas, que começou com um grupo de pessoas motivadas a fazer o bem Pág. 13
ISSN 2176-2104
CORREIO
50 anos do Lar da Criança Emmanuel
FRATERNO O ESPIRITISMO EM LINGUAGEM MODERNA
Pu b l i c a ç ã o d a Ed i t o r a E s p í ri t a C o r re i o Fr a t e rn o • e - m a i l : c o r re i o f r a t e rn o @ c o r re i o f r a t e rn o . c o m . b r • A n o 4 2 • N º 4 3 1 • Ja n e i ro - Fe ve re i ro 2 0 1 0
IQUE ESTEVES
CHICO XAVIER com toda a emoção do cinema
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elson Xavier, 69 anos, vai representar, no cinema, o papel de Francisco Cândido Xavier (1910–2002). O filme Chico Xavier, uma vida de amor, com a direção de Daniel Filho e baseado no livro do biógrafo Marcel Souto Maior, será lançado no dia 2 de abril, dia do centenário de nascimento do médium mineiro, e promete sucesso de bilheteria. O ator cansou de escutar das pessoas que, um dia, interpretaria Chico Xavier. No ano passado, a especulação se tornou realidade, novos tempos que lhe tocaram especialmente o coração, em momentos emocionantes de trabalho, ao ter contato com uma história de tantos exemplos de amor. Veja entrevista, nas páginas 4 e 5.
Artistas falam sobre a importância do espiritismo A temática espírita ganha agora a indústria cinematográfica. A Mundo Maior Filmes já se prepara para as filmagens do longa O Filme dos Espíritos, que conta com a participação de artistas consagrados da TV. Veja o que eles pensam sobre a veiculação da mensagem espírita no cinema. Páginas 8 e 9.
Senso de urgência Os ecologistas denunciam o risco de colapso na capacidade de suporte do planeta em atender às atuais demandas da matéria-prima e energia da Humanidade. Os espíritas informam que o processo de evolução do planeta Terra está em pleno curso e vai provocar mudanças importantes na vibração do orbe, o que significa que só permanecerão por aqui aqueles que vibrarem em frequência compatível. Página 15.
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EDITORIAL
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Pessoas e
personalidades
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ois mil e dez nem bem começa e já saltam as boas notícias sobre eventos, congressos, e lançamentos diversos no meio espírita. E sem dúvida, no centro de grande parte dos eventos estará a estrela do ano, o médium Chico Xavier, pela comemoração dos 100 anos de seu nascimento. E pensar que estar em destaque é o que menos o médium apreciava. Mas como passar despercebido pela história sendo figura tão querida e incomum! À revelia, sua história, a partir de abril, excede sua relação com os livros e ganha as telas do cinema.Veja em Entrevista a emocionante experiência do
ator Nelson Xavier, que interpreta o médium no longa Chico Xavier, uma vida de amor. Leia também os depoimentos de artistas consagrados sobre sua relação com o espiritismo (Especial). E já que o assunto é personalidades, existe uma não menos famosa, fazendo sucesso no palco chamado Planeta Terra. O Fraterninho (encarte) precisa retornar para Horus, para cumprir à risca a história narrada no livro que deu início à série, mas tem dúvidas se atende aos pedidos para que ele não vá. Por último, se você participou da campanha “Atualize seu cadastro” e torceu para ganhar um dos kits de livros
sorteados, torça mais um pouco e veja se o seu nome não é um dos sorteados. Valdemar Batista Ferreira – Porto Alegre – RS Ariadne Bernis Abdo – Itumbiara – GO Ney Dias Alvim – São José dos Campos – SP Grupo da Fraternidade Casa do Caminho – São Paulo – SP Norival Alves de Sousa – Paineiras -MG Antério Eich – Santa Maria – RS Wagner Beltrame – Bauru – SP Centro Espírita União – São Paulo – SP André Stenico – Capivari – SP Osmar Campos de Oliveira – Campo Grande – MS
CORREIO DO CORREIO Produtivas realizações Recebam meus parabéns pela qualidade do jornal, fruto de muito trabalho e empenho. Aproveito para desejar um 2010 pleno de boas e produtivas realizações em todos os campos de ação dessa jornada. Doris M. Gandres - Rio de Janeiro (RJ) Bullying Excelente e oportuna matéria sobre o bullying (edição 430), tema que venho tratando há quatro anos em minhas aulas. Infe-
lizmente, um mal que se espalha. O Correio se mantém no topo da lista, entre as melhores e mais regulares publicações espíritas, por mérito próprio. Vocês fazem acontecer! Paulo Santos - Divinópolis (MG) André Trigueiro Estou adorando a leitura do Correio. A última edição (429) ficou excelente como sempre. Fiquei encantada com a reportagem de Trigueiro, enfocando a Doutrina aliada à Ecologia. Ivalda Oliveira - Uberlândia (MG)
Correção Achei excelente a matéria do ENLIHPE (edição 429). Vocês conseguiram falar um pouco de cada um dos participantes, inserir suas impressões e contribuições, com um texto muito gostoso de se ler. Uma pequena correção, minha tese foi defendida na USP e não na UFMG, como escreveu. Fiquei muito contente com o entusiasmo dos jovens Pedro, Leo e Vital. Jáder Sampaio - Belo Horizonte (MG)
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Uma ética para a imprensa escrita Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
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é tema de teses no Brasil Da REDAÇÃO
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omparando-se aos temas de cultura geral, ainda são poucos os trabalhos acadêmicos sobre o espiritismo no Brasil. Nota-se, porém, nos últimos anos, um crescimento considerável no número de teses e dissertações com temática espírita apresentadas nas principais universidades do país, vinculadas aos programas de Ciências da Religião, História, Educação, Filosofia e Antropologia, envolvendo ações sociais (16%), obras psicografadas (16%) e princípios doutrinários (16%). A produção está concentrada na região sudeste e sul (80%), com São Paulo participando com 48%, Minas Gerais com 18% e Rio de Janeiro com 14% do total dos trabalhos apresentados, conforme cita o pesquisador Marco Antonio Figueiredo Milani Filho, em sua tese divulgada no 4º. Encontro da Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas (2008). Ele fez um estudo sobre o levantamento do perfil das teses e dissertações com temática espírita, apresentadas em instituições brasileiras de ensino superior no período de 1989 a
2006, considerando 50 trabalhos científicos (39 dissertações e 11 teses) que faziam parte da base eletrônica de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com assunto relacionado diretamente às chaves de busca: espiritismo, Kardec, kardecismo, psicografia, mediunidade e Chico Xavier. No ano passado, em outubro, o pesquisador espírita Jefferson Betarello defendeu sua tese de mestrado em Ciências da Religião, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Analisando especificamente o impacto das federativas e sua importância para consolidar o espiritismo no Brasil, a apresentação da dissertação Unir para difundir - O impacto das federativas no crescimento do espiritismo, foi assistida por vários espíritas e aprovada com nota máxima e com louvor por uma banca examinadora composta pelo orientador José J. Queiroz (com doutorado na Itália, examinador de várias bancas sobre espiritismo); Maria Ângela Vilhena (primeira livre-docente em Teologia no
Brasil, grande pesquisadora das religiões e autora do livro Espiritismos); Antonio Elias Silveira Leite (doutorado em sociologia na Bélgica, ex-diretor e atual coordenador pedagógico do Instituto de Teologia de SP – ITESP) e, ainda, os suplentes Enio da Costa Brito (doutorado em Teologia na Itália, expoente acadêmico nas pesquisas sobre religiosidade popular) e Magali de Oliveira Fernandes (doutorada em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, autora do livro Chico Xavier um herói brasileiro no universo da edição popular). “Aprendi muito sobre a história do espiritismo no Brasil, sobre sua concentração na região sudeste, especialmente no Estado de São Paulo”, revelou Betarello. Apesar de constatar que as entidades federativas cumpriram um papel importante para essa consolidação no Brasil, especificamente em São Paulo, o pesquisador comentou sobre a característica predominante de ações reativas, que levam as instituições a resolverem problemas mais urgentes não gerenciando o crescimento do contingente espírita ou valorizando a quantidade
de adeptos. “Sempre privilegiaram o atendimento aos frequentadores, caracterizando os centros espíritas como prestadores de serviço, contribuindo assim para uma alta frequência e uma baixa adesão”, afirma. Para ele, as instituições são necessárias para aglutinar pessoas em torno de interesses comuns e evitar modismos no campo doutrinário, sendo o seu papel o de delimitar e dar identidade ao Espiritismo. Segundo Betarello, é necessário que as instituições olhem para o presente projetando o futuro, promovendo reflexões e debates sobre temas específicos que engajem realmente aqueles que buscam a casa espírita. As conclusões da tese foram obtidas a partir da análise dos dados dos censos do IBGE, dos cadastros federativos e de uma pesquisa na cidade de Franca-SP, onde há um grande contingente de espíritas, podendo-se constatar os principais momentos na história do espiritismo no Brasil, ao longo do século XX e o início do século XXI, como por exemplo a unificação do Movimento espírita, na década de 40, o grande crescimento das chamadas religiões mediúnicas, na década de 50 e a consolidação do modelo de centro espírita vigente na década de 70. Para saber mais: Tese Unir para Difundir (Jefferson Betarello). http://www.easy-hare.com/1908266655/DM_FINAL_semfotos.pdf. Tese Produção Acadêmica Espírita Marco Milani) www.correiofraterno.com.br. www.correiofraterno.com.br
DESTAQUE
Espiritismo
Jefferson Betarello: tese sobre espiritismo aprovada em Universidade Católica
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Um novo Nelson A emoção de conhecer o amor de Chico Por ELIANA HADDAD FOTOS IQUE ESTEVES
ENTREVISTA
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No próximo 2 de abril comemora-se o centenário de Chico Xavier (19102002), data para a qual também está programada a estreia nacional do filme Chico Xavier, uma vida de amor, da Globo Filmes, sob a direção de Daniel Filho, tendo no papel do médium, na infância, juventude e maturidade, os atores Matheus Costa, Ângelo Antonio e Nelson Xavier. Histórias paralelas interessantes permearam a filmagem, realizada em Pedro Leopoldo, Uberaba, MG e Paulínia, SP, no ano passado. A imprensa noticiou fartamente a emoção especial sentida pelo elenco, que tem também Ana Rosa, Paulo Goulart, Tony Ramos, Letícia Sabatella, Christiane Torloni, Giovanna Antonelli, dentre outros, interpretando personagens marcantes na história de vida do médium mineiro. De uma forma ou de outra, toda a equipe de filmagem acabou se envolvendo com a temática espírita e também com www.correiofraterno.com.br
as passagens específicas da vida de Chico para as telas do cinema. O projeto do filme iniciou-se há seis anos, quando Daniel Filho leu a biografia do médium escrita por Marcel Souto Maior (As vidas de Chico Xavier, Ed. Planeta) e passou a adaptá-la para o cinema. Na época, o biógrafo enviou também um exemplar ao ator Nelson Xavier, dizendo que gostaria muito que ele fizesse o papel do Chico. “Parece que meu destino estava envolvido com essa história”, conta o ator, que acabou mesmo sendo chamado por Daniel Filho para o papel principal e com certeza irá emocionar o público revivendo nas telas a trajetória de Chico, incluindo sua participação no lendário Programa Pinga-Fogo, da então TV Tupi. Apesar de não ser adepto a religião alguma, Nelson Xavier começou a se preparar para as filmagens, estudando e pesquisando para poder compre-
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ENTREVISTA
ender melhor o universo de seu personagem. No passado, incomodava-se quando era chamado de Chico, mas hoje se sente honrado. Sua semelhança física na interpretação do médium já emocionou, por exemplo, a própria população de Uberaba, por ocasião das gravações. Muitos já lhe avisaram que Chico estava mesmo por perto. Nelson Agostini Xavier, 69 anos, tem mesmo muito para contar sobre essa sua experiência, nem sempre tão fácil de ser traduzida por ele, porque falar de Chico leva-o incontrolavelmente às lágrimas, numa emoção que contagia. Nessa entrevista exclusiva para o jornal Correio Fraterno, aparentemente contido, ele acabou se sensibilizando novamente por várias vezes. Pensou na resposta correta, silenciou, ponderou as falas, refletiu, riu e chorou, numa explosão interior típica que não se abafa nos processos de transformação verdadeira, demonstrando que sua vasta vivência profissional de ator competente, premiado e de indiscutível sucesso no teatro, televisão e cinema, que o destacaram no mundo das celebridades como grande intérprete, ainda não tinha sido suficiente para alertá-lo para a maior das experiências: descobrir o poder do amor. Vale a pena conferir porque Nelson Xavier mudou.
Como foi atuar como Chico Xavier? Você não é espírita... Nelson Xavier: Não sou espírita. Não sabia nada sobre Chico, nunca havia me interessado por ele. Começando a fazer o trabalho de preparação, fui a Pedro Leopoldo e Uberaba, MG. Conhecendo as pessoas, os lugares e as coisas dele, fui sendo tomado por emoções muito fortes. Era um sentimento que ultrapassava a minha experiência como artista. Comecei a chorar tanto, tanto, que achei que havia alguma coisa a mais. O que houve é que Chico transformou a minha vida, minhas opiniões, minhas crenças, está me fazendo perceber outros valores. Como começou essa transformação? Nelson Xavier: Há seis anos, o Marcel Souto me enviou o livro de sua autoria com um bilhetinho: gostaria que você fizesse o Chico. Como não sabia de nada, li a história e fiquei impressionadíssimo com a infância dele. Fiquei tocadíssimo...(pausa) emocionou-me muito e eu quis realmente fazer o papel. Engraçado que não sou um ator porque procurei ser ator, a vida me tornou ator. Nunca sonhei com personagens como é comum entre os meus colegas. Isso nunca existiu para mim. O primeiro que eu fiz questão de fazer foi esse. Realmente desejei interpretá-lo. Começaram as especulações na imprensa sobre o filme, até que telefonei para o Daniel (Daniel Filho, diretor), dizendo: eu quero muito fazer o Chico Xavier. Talvez você me julgue muito velho, mas se precisar eu faço até uma plástica para rejuvenescer. Dois anos depois ele me telefonou e fez o convite. Na hora, de novo, me emocionei muito. O que você descobriu fazendo
esse trabalho, que faz você afirmar hoje Chico mudou sua vida? Nelson Xavier: Sempre fui socialista. Quando moço, quis mudar o Brasil, treinei para a luta armada, engajei-me nos movimentos nacionais. Nunca fui preso, mas fiquei foragido por algum tempo. Sou de uma geração que acha o Brasil uma terra explorada por bandidos... Ao encontrar o universo de Chico, passei a admitir que o caminho da violência não é o único como eu acreditava... A base de tudo é a solidariedade, o amor. A imprensa já divulgou vários fatos interessantes, envolvendo a participação espiritual do Chico no filme. Você chegou a sentir a presença dele? Nelson Xavier: (Silencia, emociona-se, chora) Sim. Durante o trabalho principalmente...não o via, mas sentia uma força poderosa me envolvendo. Só podia ser ele. Você, com raízes socialistas, muito mais ateu, agora com essa nova visão... O que você vai fazer com essa mudança toda agora, vai se tornar mesmo um espírita? Nelson Xavier: (Risos) Não se trata de uma conversão... É uma mudança interior, diferente. Já estou até me chamando de “Novo Nelson”. Minha mãe era espírita e, desde criança, sempre me chamou e eu nunca a atendi. Minha mulher, com quem sou casado há 20 anos, também é espiritualizada, mestre de yoga, sempre me chamou e também nunca atendi ao chamado. Só atendi agora, com o Chico. Ele conseguiu. Agora, vamos ver o que acontece...ainda estou vivendo intensamente tudo isso..
A semelhança fisionômica entre você e o Chico também emociona nas imagens que já foram veiculadas na internet. O que sente um ator com isso tudo? Nelson Xavier: Isso que está passando na internet, da cena da psicografia, é uma imagem que foi feita três meses antes de se iniciar o filme, como um teste de maquilagem... Eu nem tinha ido ainda a Uberaba (houve cenas filmadas na casa de Chico Xavier). Depois, a identificação foi ficando cada vez maior. No primeiro dia de filmagem eu pedi a ele (Chico) que me ajudasse... Só de lembrar dele me emociono... A cena era simples. Era só descer de um carro e entrar numa casa. Eu não conseguia controlar a emoção. Foi quando uma atriz do elenco (Renata Embriani) me disse que viu o Chico do meu lado... Acho que recebi dele essa graça, essa bênção da ajuda... Todos os lugares que ele frequentou são carregados de uma energia diferente. Diante do que estamos vivendo aqui na Terra, egoísmo, cobiça, violência, como você vê essa mensagem de amor do Chico, é possível de se tornar realidade? Nelson Xavier: Sim, claro. Desde Cristo que isso é verdade. Minha explicação é marxista e acho que não mudou. As contradições que a gente vive, onde existem poucos privilegiados e tantos excluídos, só existem por causa da cobiça humana, do desamor, da ausência de sentido da vida... Chico ensina e muda completamente isso, quebra esse paradigma. Faz justamente o contrário, exercendo a mensagem que Cristo deixou e que é a mais revolucionária de todas, que é amai-vos uns aos outros. www.correiofraterno.com.br
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A construção do pensamento crítico Por ASTRID SAYEGH
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iante dos tempos atuais, caracterizados por problemas existenciais e ausência de valores, cumpre exaltar o papel da filosofia como norteadora de consciências, em função de um rumo legítimo, e não tão somente circunstancial. Por legítimo entendese aqui o percurso que visa a realização do homem como um fim em si mesmo, e não como um fim exterior a si. Nesse sentido cabe à reflexão filosófica, particularmente espírita, o despertar para uma existência autêntica, pautada nos valores essenciais, fundados na natureza original do ser- espírito. Tal apelo já nos fizera Jesus, ao exaltar a importância da busca de Deus, não em termos de religiosismo, mas como destino transcendente da existência, dada a natureza e atributos originais do nosso ser. Perece-nos desse modo que, sem a filosofia, sem um fundamento racional, as concepções religiosas podem estagnar-se em suas concepções cristalizadas, e mesmo os discursos espíritas, por mais louváveis que sejam, podem correr o risco de se tornarem dogmáticos. Não me refiro aqui a dogmas de fé, como realidades impostas, mas a formas de abordagem do conteúdo doutrinário que, por vezes, não inspiram a abertura para a consciência crítica, para a formação da consciência autônoma, o que caracteriza a verdadeira consciência espírita. Por dogmas podem ser entendidas aqui as ideias solidificadas, tomadas como acabadas, os ditos chavões, e que não são abordadas de forma liberta, em sua riqueza conceitual; poder-se-ia estender tal denominação às afirmações repetitivas, sem aprofundamento, que induzem ao hábito, à acomodação ao já definido, ao abstrato. Kardec mesmo nos incita a adequação da Doutrina diante de inovações, mas não podemos deixar de inovar também as próprias formas de dizer a doutrina espírita, de modo a acompanharmos, não só o progresso da ciência, mas as exigências culturais dos www.correiofraterno.com.br
novos tempos. Não podem mais as fecundas questões espíritas restringir- se aos mesmos temas de sempre, sendo necessário conduzir um estudo sério e metódico de seus fundamentos e raízes filosóficas, de modo a abordar e divulgar os princípios espíritas de forma sempre renovada e liberta, isto é, sem educar sub-repticiamente através de condicionamentos. É preciso uma linguagem acessível sim, mas também desafiadora, que venha a estimular a racionalidade do Evangelho, de modo a adesão à virtude ser uma forma de valer-se da própria liberdade. Educação Espírita é educar para a liberdade, e liberdade de pensamento sem autonomia racional é um discurso vazio e abstrato. Educar para valores, e não para formas; educar para o futuro e não apenas para resgatar o passado; educar para ser agente transformador e não apenas aceitar o errado a pretexto de humildade; educar para construir a história e não apenas acomodar-se aos discursos de forma absorta. Educar para a liberdade é educar para que o sujeito venha a fazer escolhas adequadas, como pregam os filósofos atuais, fazer da existência uma forma ascensional de ser, e é esse o discurso transcendente que prega o cristianismo. Transcender não é misticismo religioso, mas um comportamento consciente que vise acrescentar algo novo à personalidade espiritual. O atributo do Espírito, segundo a Filosofia Espírita, é o pensamento, e, portanto desenvolver, educar a atividade pensante de forma disciplinada e metódica é manifestar atributos, é realizar-se como um modo da substância divina. O mundo autêntico é o mundo do pensamento, mas não o pensamento voltado para a exterioridade fenomênica, nem tampouco para crenças, mas o pensamento que visa o superior, o metafísico, de forma raciocinada, e, portanto liberta. Organizemos assim escolas para
a liberdade de pensamento, para que não formemos consciências cativas de si mesmas; eduquemos para a autonomia, de modo a não se acomodar diante das ideologias políticas e religiosas, que têm causado verdadeira lesão ao progresso. Nesse sentido a filosofia não é coisa do passado, pelo contrário, ela é a ciência sempre a serviço de uma crítica do presente, de modo a construir um futuro consciente; a filosofia é ainda sempre jovem, posto que suas verdades não são efêmeras, não se esgotam, não se referem às coisas que deixam de ser, a modismos, ao contrário, dita valores para a edifica-
ção da essência, motiva a interioridade, num sentimento sempre novo. Negar a filosofia é negar nossa própria natureza, é negar instrumento de progresso, é negar alimento espiritual. Se, segundo o conceito espírita, Deus é a Inteligência Suprema, podemos admitir, parafraseando o filósofo Hegel, ser a filosofia o próprio exercício do Absoluto. E o exercício do absoluto é evolução. Doutora em Filosofia, fundadora e expositora do IEEF-Instituto Espírita de Estudos Filosóficos. Para saber mais: www.ieef.org.br
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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ!
A Fênix e o Fogo-Selvagem: desencarna Dona Aparecida de Uberaba Por NADIA MARCONDES LUZ LIMA
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o dia 22 de novembro, aos 95 anos de idade, desencarnou Aparecida Conceição Ferreira, fundadora do Lar da Caridade Hospital do Pênfigo de Uberaba. O município mineiro guardou luto por três dias, seguindo decreto assinado pelo prefeito municipal. Milhares de pessoas estiveram no velório, que se estendeu por 24 horas, nas dependências do hospital, seguindo o corpo sob os cuidados da Guarda Municipal e Corpo de Bombeiros, rumo ao Cemitério São João Batista, onde centenas aguardavam para a prece final de despedida. Dona Aparecida sempre se referia a São Paulo – em razão da enorme gratidão pelo socorro que os doentes e a instituição receberam, desde a década de 1970, quando com ajuda do repórter Saulo Gomes, por meio da extinta TV Tupi canal 4, iniciara campanhas em prol do fogo-selvagem. A história de dona Aparecida, e de sua relação com a doença fogo-selvagem, teve início em meados do ano de 1957 quando, trabalhando como atendente de enfermagem na ala de isolamento da Santa Casa de Misericórdia de Uberaba, atual Hospital das Clínicas, presenciou a diretoria da instituição recém-eleita, promover alta médica coletiva aos portadores da doença, encaminhando-os para as ruas de Uberaba, por motivo de contenção de gastos. Espírito determinado e estóico, Aparecida tomou para si o destino daqueles doze primeiros doentes, das centenas que haveriam de passar pelas suas mãos. Procurou as emissoras de rádio de Uberaba, andou pelas ruas do centro, denunciando em passeata o inadmissível fato que presenciara. Sentia a urgente necessidade que se impunha. Naquele ano, era elaborado o primeiro código de ética para o profissional médico no Brasil. O movimento que fez,
liderando a busca por socorro aos portadores do pênfigo foliáceo endêmico marcou a história desta doença no Brasil e ajudou a divulgar os meios terapêuticos. Graças a ela surgiu o Hospital do Pênfigo de Uberaba, instituição de referência ao tratamento desta doença, cuja etiologia permanece desconhecida pelos meios científicos. Ação e reação, causa e efeito, o fogo-selvagem, sendo uma dermatose bolhosa, que causa a sensação de se estar em meio a labaredas, estoura bolhas pelo corpo, que se rompem e deixam muitas vezes os pacientes em carne viva, complicando os quadros infecciosos, restando o socorro terapêutico dos corticosteróides, usados na maioria dos casos, em tratamentos prolongados, passíveis de diversos efeitos colaterais. O espírito André Luiz narra na obra Ação e Reação, psicografia de Chico Xavier, o interessante caso de Adelino, que em encarnação passada houvera ateado fogo ao corpo de seu progenitor, visando o lucro da herança, mas que posteriomente, em nova encarnação, acionava em sua consciência a “zona de remorso”, passando a desenvolver doença auto-imune em virtude do “trauma perispirítico do remorso [...] Renasceu, por isso, com a epiderme atormentada por vibrações calcinantes que, desde cedo, se lhe expressaram na nova forma física por eczema de mau caráter”. É importante salientar que não se trata de regra geral. Amiga e confidente de Chico Xavier, dona Aparecida do Fogo-Selvagem, pôde desempenhar sua missão no Triângulo Mineiro. Curiosamente, como coincidências não existem diante da concepção da ação e reação como sendo uma lei natural, Uberaba foi exata-
PENSAMENTOS DE RICHARD SIMONETTI FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO Qualquer estudante de sociologia sabe que a família é a célula principal da sociedade. Sua influência é decisiva na formação do indivíduo. Desajustes de comportamento costumam envolver lares desajustados. Desequilíbrios emocionais,vícios, violências, cada vez mais frequentes no relacionamento social guardam, quase sempre, uma história de agressividade, desrespeito e falta de amor no lar. JESUS A multiplicação dos pães e dos peixes, assim como outros prodígios, faziam parte dos recursos que Jesus mobilizava para divulgar sua mensagem. Impressionava os sentidos a fim de conquistar almas para o Reino. Ao longo dos séculos muitos indivíduos têm encontrado o segredo do cofre. Também operam prodígios. Isso não é novidade. Jesus dizia:Tudo o que faço, fareis também.
mente o local onde surgiu o primeiro núcleo da ordem dominicana no Brasil. Ordem religiosa fundada na Europa por Domingos de Gusmão – cujo símbolo maior é o cão com a tocha acesa na boca, na sequência do episódio histórico da perseguição e queima em fogueira de centenas de cátaros da região francesa do Languedoc, próximo à Toulouse. Reescreve pois, dona Aparecida, sua nova história, cheia de exemplos edificantes na mesma Uberaba de Chico Xavier, de Maria Modesto Cravo, que nos remete à história de Catarina de Médicis e tantos outros espíritos que a história, quando bem sentida, nos permite o convívio com admiração e gratidão. Certamente dona Aparecida, como a senhora mesma nos disse: – “O fogo selvagem é doença que vem para domar a alma!”. Alma domada, que siga renascida em luz a nossa Fênix do Triângulo Mineiro. Autora da tese de doutorado em História UNESP/ Franca/CAPES, intitulada Fogo-selvagem, alma domada: a história da doença e do Hospital do Pênfigo de Uberaba, a ser publicada em 2010, com direitos reservados e doados ao Hospital do FogoSelvagem de Uberaba-MG. Leia a tese na íntegra no site www.correiofraterno.com.br.
JESUS E KARDEC Jesus ensina. Kardec conscientiza. Jesus aponta o caminho. Kardec evidencia que é preciso trilhá-lo. Jesus convida ao Bem. Kardec explica que não há alternativa para sermos felizes. LEIS DIVINAS Na sua imensa sabedoria o Criador harmoniza os acontecimentos em favor de nosso aprendizado, nos caminhos da evolução. Reprogramações existenciais são realizadas vezes sem conta,na medida em que, fazendo mau uso do livrearbítrio,comprometemo-nos em desvio do caminho, até que nos disponhamos a cumprir a programação maior, adequando-nos às Leis Divinas. Então desfrutaremos de liberdade irrestrita para fazer exatamente o que Deus espera que façamos. O QUE RICHARD SIMONETTI PENSA SOBRE
MORTE? Saiba na página 16 www.correiofraterno.com.br
MOSAICO
Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
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Espiritismo agita a produção cinematográfica
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partir de abril, começa a ser filmado em São Paulo, o longa O filme dos espíritos, sob a coordenação do produtor e diretor André Marouço, que irá reunir numa história única os oito curtas-metragens premiados na I Mostra de Cinema Mundo Maior, realizada em 28 de outubro último. A iniciativa revelou jovens talentos, que mostraram nas telas a essência da obra básica de Allan Kardec, O livro dos espíritos. A temática espírita vem sendo há tempos abordada pela mídia escrita, intensificou-se no teatro e na TV, em filmes internacionais, e agora, no Brasil, a indústria cinematográfica começa a ter olhos para o tema, apostando no grande interesse que assuntos como reencarnação, imortalidade, vida após a morte despertam no público. O trabalho da difusão do espiritismo na arte, com excelência e qualidade, ganha apoio e simpatia também de artistas
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Por IZABEL VITUSSO e ELIANA HADDAD FOTOS: IZABEL VITUSSO
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Nelson Xavier, Ana Rosa e Othon Bastos
consagrados, que participaram inclusive da I Mostra de Cinema Mundo Maior: Nicete Bruno, Ana Rosa, Etty Fraser, Othon Bastos, Enio Gonçalves, Nelson Xavier. A iniciativa gerou também grande entusiasmo em roteiristas, diretores e atores, em grande parte iniciantes no campo cinematográfico. A classificação contou com uma comissão julgadora formada por profissionais de cinema e TV além de representantes espíritas. Etty Fraser “Gostei muito da Mostra. Cada trabalho é um trabalho diferente e esse foi muito gostoso de fazer. Gosto muito do Enio [Gonçalves], com quem compartilhei a história. Recebi o prêmio das mãos do Othon [Bastos] que, há 50 anos, quando ele veio da Bahia, contracenou na peça Os pequenos burgueses substituindo um ator, no Teatro Oficina. Lembranças e alegria muito grande no reencontro com os amigos. Sou ca-
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tólica, mas tenho muita simpatia pelo espiritismo. E também pelo Chico [Xavier]. Quando fez o Pinga Fogo, na TV Tupi, eu trabalhava lá. As mensagens dos curtas da Mostra foram muito interessantes. Acho que as religiões quando pregam coisas boas, a gente tem sempre que ajudar.” Nicete Bruno
“É muito bom ver as pessoas reunidas com interesse na promoção do ser humano. Muita gente está começando a se questionar, diante de tanta informação, de desencontros, de desamor e de desinteresse pela relação humana. O espiritismo promove justamente esse sentido maior, fraterno, que é o que vai mover esse mundo. O espiritismo não está tão consagrado na mídia quanto deveria estar. O interesse das pessoas é grande, mas poucos assumem essa postura. Eu
nasci em casa espírita. Mas comecei a me interessar mesmo pelo espiritismo quando, ainda jovem, fui morar em Curitiba.” Ana Rosa “É muito bom ver o espiritismo no cinema. Como espírita e atriz, acabo unindo as duas coisas. Comecei a frequentar mais assiduamente em 1972, quando fiz uma novela com o Strazzer (Carlos Augusto Strazzer), que era presidente de uma casa espírita, ligada ao Lar Batuíra, em São Paulo. Eu já havia tido contato com o espiritismo em 1970, quando perdi meu primeiro filho. Na época, ganhei um livro do Augusto César Vanucci, O evangelho segundo o espiritismo. Participei em 1968 da primeira novela espírita, A viagem, na então TV Tupi. Foi um sucesso muito grande. Anos depois, a Globo a regravou. Fez sucesso novamente. O espiritismo traz uma esperança no futuro, ao esclarecer que você não está aqui por acaso. Veja os filmes de Hollywood, ainda que retratem só os fenômenos, fazem o mesmo sucesso.” Othon Bastos “Acho que o melhor veículo que o espiritismo pode ter é o cinema. Acredito que será uma grande surpresa até mesmo para os espíritas a divulgação que o espiritismo vai ter, porque as pessoas estão se ligando cada vez mais em espiritualidade, o que vai muito além do interesse de se ter um lugar para ir ou para se pedir alguma coisa. É uma visão diferente, que depende do trabalho individual de cada um. Acho da maior importância o sucesso da temática espírita na mídia. Tanto que os americanos e o canadenses viram o roteiro do filme Nosso Lar e ficaram empolgados. O que a Mundo Maior fez é extraordinário e espero que continue fazendo. Acho importante esse pessoal jovem estar participando de projetos de cinema e tomarem contato com a fé.” Briza Menezes “Esses prêmios nos mostram que dá para fazer cinema com temas mais espiritualistas, mais humanistas. Foi o meu primeiro roteiro, justamente para eu poder atuar como atriz, o meu grande desejo. Para fazer o roteiro, me inspirei em uma amiga, que perdeu a mãe. Foi
muito bom contar com pessoas da área de cinema e que tinham contato com o espiritismo. Esse projeto não é só um incentivo aos jovens profissionais, mas uma crença na nova geração, no futuro, dizendo que há uma esperança de sensibilização, e acho que esse é o caminho para se ter um mundo melhor.” (Briza foi premiada como melhor atriz e melhor roteiro, com o curta Além da janela). Janduy Cassemiro “Fiquei muito feliz com a premiação de Mamãe, café e água. Para fazer o curta tivemos dificuldades técnicas e contamos com o apoio da direção da Mundo Maior, inclusive com a ida da equipe técnica para fazer as filmagens. Tratase realmente de um projeto audacioso. Nossa cidade, que é muito pequena, agora vai ser estimulada com isso tudo, levando o pessoal a se dedicar mais ao cinema também.” Nelson Xavier
LIVROS & CIA. Editora Paidéia Tel.: (11) 5549-3053 www.editorapaideia.com.br Introdução ao espiritismo de Allan Kardec organização de Herculano Pires 544 páginas 14x21 cm
Editora EME Tel.: (19) 3491-7000 www.editoraeme.com.br A nova geração – reflexões sobre a regeneração da humanidade de Marco Antônio Vieira 168 páginas 14x21 cm
Editora Lorenz Tel.: (21) 2221-2269 editora_lorenz@uol.com.br A pluralidade das existências da alma de André Pezzani 472 páginas 14x21 cm
“É a primeira vez que participo de um evento de natureza kardecista, depois de ter filmado Chico Xavier. Estou honrado com esse convite e muito animado. Não sei se houve coincidência, mas contemporaneamente à realização do filme, tive notícias de que filmes com a mesma temática estavam sendo realizados, inclusive Nosso Lar, que já até terminou de rodar. Parece que todo mundo agora descobriu fazer filme sobre esse tema, o que é uma coisa ótima, porque a linguagem do cinema é muito própria, a melhor possível para falar desses dois mundos.”
Editora Correio Fraterno Tel.: (11) 4109-2939 www.correiofraterno.com.br A feira dos casamentos de J. W. Rochester psicografia de Wera Krijanowskaia tradução de Herminio Miranda 456 páginas 14x21 cm
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Etty Fraser foi premiada como melhor atriz coadjuvante no curta Por um pouco mais de liberdade
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PARA ENTENDER MELHOR
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Existe
carma? Por ZELMA CINCOTTO
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espeitar, ter fidelidade é o que existe de valor no trabalho do divulgador do pensamento de quem quer que seja. Quando mesclam-se vocabulários inadequados, imprecisos, inserindo-se conceitos e expressões que em nada têm a ver com o que o autor pretendeu, acaba-se provocando distorções do seu verdadeiro sentido. Um bom exemplo é o uso indevido pelos espíritas da palavra “karma” ou “carma”, utilizada na filosofia oriental, para expressar a “consequência da lei de causa e efeito”, e, na maioria das vezes, empregada no sentido negativo. Herdeira da filosofia ocidental, não há como usar expressões ou pensamentos orientais na Filosofia Espírita, ainda que o significado seja equivalente. A Doutrina Espírita é um sistema filosófico pertencente à Filosofia Espiritualista, constituindo-se num sistema particular, o que levou Allan Kardec a criar a terminologia própria: “para as coisas novas necessitamos de palavras novas”, distinguindo assim os termos espiritual, espiritualista e espiritualismo. O Espiritismo sintetiza este pensamento evolutivo e entendê-lo com profundidade requer o estudo de suas raízes. O Espiritismo, como filosofia, não surge como um fato ocasional ou isolado, mas como resultado do processo histórico do pensamento ocidental - o delta natural em que desemboca toda a tradição filosófica. A filosofia ocidental nada tem em comum com a filosofia oriental. Ela nasceu de uma mudança mental e de atitude do homem, www.correiofraterno.com.br
numa descoberta natural do pensamento ou razão, graças às duas qualidades próprias da inteligência grega: o espírito de observação e o poder de raciocínio. Do lado oriental, explica Dalai Lama que o karma é “ação, força ativa”, significando que o resultado dos acontecimentos futuros podem (grifei) ser influenciados por nossas ações. Sempre. Diz ele: “não podemos sacudir os ombros sempre que nos defrontamos com o sofrimento inevitável. Dizer que todo infortúnio é mero resultado do karma equivale a dizer que somos totalmente impotentes diante da vida”. Assim, o karma para os orientalistas também não é determinista. É preciso lembrar ainda que não existe a palavra karma na Codificação, pois seus termos e conceitos estão dentro do pensamento filosófico ocidental e Kardec é filho deste pensamento com a mesma atitude filosófica dos precursores do Espiritismo. Seu pensamento está pautado na lógica, fundamentado na razão e na experiência, com método científico, cujos princípios doutrinários são verdades universais. A reencarnação, por exemplo, como um dos fundamentos do Espiritismo, foi aceita por Allan Kardec somente (grifei) quando, pela lógica, pôde justificá-la como consequência necessária da lei do progresso. Bibliografia: Uma ética para o novo milênio - Dalai Lama (p. 151). A Gênese – Allan Kardec – cap. XI, Item 33 – Reencarnações. Introdução à Filosofia Espírita – J. Herculano Pires.
COISAS DE LAURINHA
A pose do bom velhinho Por TATIANA BENITES As crianças saíam da aula apressadas. Queriam se divertir. A aula tinha sido muito produtiva. Todos gostaram bastante, afinal não era todo dia que tinham oportunidade de falar sobre alguém tão querido, como Chico Xavier. A professora havia falado sobre a história de vida do médium mineiro. As crianças viram fotos, assistiram a partes de uma entrevista e folhearam livros que ele psicografou. Quando Laurinha chegou em casa, foi logo contando para sua mãe com empolgação. – Mãe, hoje a aula foi sobre o Chico Xavier. – Que legal, filha! Você gostou? – Gostei sim, mas fiquei com dó dele. – Por que ficou com dó? – Porque a professora falou que quando ele era pequeno ele foi muito judiado, que sua madrasta era ruim. – Sim, mas ele superou tudo isso. – É verdade. E ele via espíritos, desde pequeno, até na igreja. Vamos também ver espíritos na igreja, mãe? – Laurinha!!! – Brincadeirinha, mãe, não queria ver não – disse abaixando a cabeça. De repente, emendou: – Mãe... – Fala, filha! – Chico Xavier parece que sempre foi velho né? Mesmo nas fotos que a professora mostrava que ele era mais novo ele tinha cara de velhinho. – Ai, Laurinha, você fala cada coisa! – Mas era um velhinho diferente, uma pessoa especial, né? Parecia tipo bem calmo e bonzinho. – Sim, Chico era uma pessoa iluminada. – Mas tinha alguma coisa que era mais diferente, não sei o que é, hummm... e Laurinha ficou pensativa. – Já sei! – O quê? – A diferença era a pose! – Que pose? Chico era uma pessoa muito simples, não tinha pose. – Tinha sim. Em todas as fotos ele sempre fazia a mesma pose. Colocava o cotovelo na mesa, abaixava a cabeça, segurava a testa com a mão, fechava o olho e... escrevia com a outra mão! Por isso que ele era diferente, ficou famoso com essa pose... – deu uma pausa, se remexeu na cadeira e falou: – Olha mãe, veja se eu não estou fazendo igualzinho!
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Por GEORGE DE MARCO
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nós fizemos de novo. Comemoramos a chegada de um novo ano, como quem domina o tempo, aprisiona-o num calendário e escravizao num relógio. Fizemos a contagem regressiva como quem tem o poder de zerar o cronômetro e reiniciar um novo ciclo de 365 dias. Quão inocentes somos, pois o tempo não se aprisiona, não se escraviza. Nós é que somos seus escravos, correndo contra ele, lutando e até driblando o que dele nos resta. O calendário finge dominar o tempo, colocando-o em divisões mensais, semanais, diárias. Nele, temos a sensação de comandar o tempo, controlar o futuro. Mas, se o calendário é um grande aliado para não esquecermos o dentista da próxima quinta-feira, ele de nada serve para o futuro. Os seus 365 dias foram estabelecidos por uma comissão de matemáticos reunidos pelo Papa Gregório XIII, em 1582. Neste período, o calendário utilizado desde o Império Romano já contava com um atraso de dez dias em relação ao ano solar. O tempo real que a Terra leva para dar uma volta em torno do Sol, dura 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45,97 segundos. Na tentativa de acertar as contas, criou-se o ano bissexto, que manteve um descompasso de 44 minutos e 56,12 segundos com relação à natureza. A comissão de matemáticos convencionou, então, que, a cada século múltiplo de 100, não haveria ano bissexto. Simples assim: de século em século, cai o ano bissexto – mas que é restituído de 400 em 400 anos. E os dez dias em atraso? Decretou-se que eles sumiram. Gregório XIII fez o que fazemos todos os dias 31 de dezembro. Acreditamos controlar o tempo e decidir o avanço (ou não) dele. Então, somos surpreendidos quando nos deparamos com catástrofes ceifando centenas de vidas, como se isso não fizesse parte do
roteiro estabelecido às festas de fim de ano. As contas chegam pelos correios, os problemas estão lá, da mesma forma que os deixamos – mas eles não deveriam ter ficado no ano velho? Naquele ano cuja morte decretamos, saudando o novo ciclo com queima de fogos, bebidas, comidas, abraços e votos emocionados? A natureza está em fúria, destruiu lares que comemoravam, matou um monte de gente? Mas por quê? Se a reunião dos líderes mundiais não resolveu a urgente questão ambiental, todos iniciaram o novo tempo imbuídos das mais profundas e sinceras convicções ecologicamente corretas para salvar o planeta! Agora sim! Aquela musiquinha da tv informa que todos os nossos sonhos serão verdade e que o futuro já começou! Ah, o futuro... Há quanto tempo ele
“já começou”? Aproveitando o embalo musical, me lembro de uma canção do Lulu Santos, Tempos Modernos: Eu vejo a vida melhor no futuro/ Eu vejo isso por cima de um muro de hipocrisia/ que insiste em nos rodear (...). A música dá nome ao primeiro disco de Lulu Santos, que é de 1982. Passados 28 anos, portanto, a que futuro ele se referia? Já alertava Emmanuel, no livro Taça de Luz, psicografado por Chico Xavier, que “não adianta indagar do futuro, ocasionalmente, para satisfazer a curiosidade irrequieta ou inútil. Vale construí-lo em bases que a lógica nos traça generosamente à visão. Não desconhecemos que o nosso amanhã será a invariável resposta do mundo ao nosso hoje, e aos nossos pés a natureza sábia e simples nos convida a pensar”. Espí-
ritos imortais que somos, nosso destino é progredir, sempre. Alguns, mais rapidamente, outros nem tanto. Mas todos progridem, isso é certo. Portanto, nosso futuro está garantido e nisso consiste a confiança irrestrita num Deus justo e bom. Ao nos afligirmos com relação ao futuro, ao tentarmos controlá-lo, escravizá-lo na contagem regressiva do reveillon, ou nas páginas do calendário, em verdade estamos negligenciando o presente, o dia de hoje, o “agora”. Estamos, justamente, desperdiçando nosso tempo. E, como nos canta Lulu Santos na música já citada, “não há tempo que volte, amor/ Vamos viver tudo o que há para viver/ Vamos nos permitir”. Permita-se, portanto, vivenciar o dia de hoje como dádiva divina, presente de um Pai amoroso, ainda que encoberto por lágrimas. Se o futuro nos permanece oculto é exatamente para não negligenciarmos o presente, deixando de agir com nosso livre-arbítrio, essencial para nosso progresso. Pois “o tempo voa, amor. Escorre pelas mãos, mesmo sem se sentir”. Observemos como utilizamos nosso tempo, valendo-nos dele para instalar o que há de melhor em nós, pois os dias que passam, vazios e inúteis, não mais voltarão, ainda que insistamos em zerar o calendário, ano após ano... Sabemos que há um recomeço, para que a lei de progresso e de aperfeiçoamento se cumpra. Mas que não está, exatamente, nas noites de reveillon. George De Marco é jornalista, publicitário e radialista. Realiza atividades como expositor e educador de mocidade Espírita. O QUE RICHARD SIMONETTI PENSA SOBRE
FAMÍLIA? Saiba na página 16 www.correiofraterno.com.br
ENSAIO
E não há tempo que volte, amor…
AGENDA
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Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fique atualizado com o que acontece no meio espírita. Participe. www.correiofraterno.com.br
3º. Congresso Espírita Brasileiro Promovido pela Federação Espírita Brasileira, o ABR 3º Congresso Espírita Brasileiro comemorará o Centenário de Francisco Cândido Xavier, em Brasília, de 16 a 18 de abril, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Informações e inscrições no site: www.100anoschicoxavier.com.br
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Confraternização de Mocidades no Rio A 31ª Confraternização de FEV Mocidades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro (Comeerj) e o 16º Encontro Estadual da Família Espírita (Enefe) abordarão de 13 a 16 de fevereiro o tema “Conheces a verdade, agora liberta-te!” A promoção do evento é do Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro. Informações:www.ceerj.org.br
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CRUZADA DO CORREIO Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
Personagem do livro “A Feira dos Casamentos“ Autor espiritual Demonstrar amor
Mentor de Uma das reencarnações Chico Xavier O que o de Kardec narrador faz
1.000 em algarismos romanos
O jornal Correio Fraterno foi premiado na categoria Melhor Entrevista, no I Prêmio Observatório Espírita. A entrevista com Thiago Essado, presidente da Associação Jurídica Espírita de São Paulo, sob o título A moral no poder público é de autoria de Eliana Haddad e foi publicada na edição 425. A entrevista pode ser lida no site www.correiofraterno.com.br
Cursos de Filosofia Espírita em 2010 Estão abertas as inscrições para os Cursos de Filosofia - 2010 do IEEF Instituto de Espírita de Estudos Filosóficos. O espiritismo e os filósofos. Às quinta-feiras (9h, 16h e 19h30) e aos sábados, às 18h. Inscrições pelo site www.ieef.com.br ou pelo telefone 2215-2684. Informações: instituto@ieef-1.com.br
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“O” em espanhol
Maior continente da Terra
Por em ordem
Talento Guia espiritual tibetano
Latido
Sílaba de “raiva”
Astro luminoso
Santa Catarina
Criador do céu e da Terra
“Ele” em inglês Centro de energia (Induísmo)
Sufixo de “etanol” Satélite natural
Consoantes de “soda” 1ª letra do alfabeto
Qual foi o livro que despertou Eurípedes Barsanulfo para a Doutrina Espírita?
qualquer hora, em qualquer lugar SOLUÇÕES
O espírito encarnado Chico – – – – – –, médium brasileiro
1ª e última vogal
Antigo povo indígena
Núcleo “Gelo” em inglês Oposto de “bons”
Alagoas
Balançar o Pasta lubrificante bebê
“Aqui” em inglês
Antecede a reação Um dos quatro elementos da natureza
Sílaba de “envio”
Oxigênio
O urso do desenho animado Mogli
Tio ––– (EUA) Revista InterConsoantes nacional de de “cano” Espiritismo
Obra divina “Correr” em inglês Livro da Ed. Correio Fraterno
Fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança
Personagem de “Nosso Lar”
Amazonas 2ª nota musical Autores
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Correio é destaque na Imprensa Espírita
ENIGMA
Um dos maiores estados dos EUA
Espírito Santo Área de cultivo de terra
Resposta do Enigma: Depois da Morte, de Léon Denis. Eurípedes Barsanulfo era muito católico e quis saber como o seu tio Mariano da Cunha Jr. havia se convertido ao Espiritismo. Dizendo que pouco entendia para responder a ele, moço culto e inteligente, entregou-lhe o livro que “por coincidência” trazia nas mãos: Depois da Morte, de Léon Denis. *Saiba mais, acessando www.correiofraterno. com.br
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50 anos do Lar da Criança Emmanuel
Mensalmente são servidas mais de 25.700 refeições balanceadas Abaixo, lançamento da pedra fundamental do primeiro prédio inaugurado em 18 de outubro de 1964, que tinha mais de 3.000m2 de construção
Da REDAÇÃO
E
ntidade de assistência social e educacional, sem fins lucrativos, fundada em 30 de abril de 1960, em São Bernardo do Campo, SP, o Lar da Criança Emmanuel comemora no próximo dia 30 de março o seu cinquentenário, uma história de muitos desafios e conquistas, que começou com um grupo de pessoas motivadas a fazer o bem. Decidiram, na época, bater à porta do casal Felipe e Leonor de Freitas Audi e ela doou parte de suas terras para se erguer um Lar para crianças órfãs. Em 1980, a instituição passou a trabalhar em regime de creche, visando a um maior contato e participação da família na formação das crianças. Muitos deles, entretanto, sem família, continuaram na casa, recebendo a mesma atenção. Alguns saíram para casar, formaramse, constituíram família e voltaram ao Lar como profissionais dedicados. Foi o caso de Geni Francisco, hoje diretora da Creche. “Com 5 anos, em 1972, quando vim para cá com meus três irmãos, Acho que tinha já quase cem crianças no Lar. Foi muito forte para mim a perda da minha mãe e, como a irmã mais velha, tinha ímpeto de proteger os meus irmãos. Acabei saindo aos 23, casada, fiz faculdade de pedagogia. Tudo veio ao seu tempo”. Para atender atualmente a cerca de 300 crianças, com idade de 0 a 5 anos,
e oferecer apoio familiar, o Lar conta com 45 profissionais, instalações próprias, com treze salas de aula, brinquedoteca, ateliê de artes, biblioteca, três pátios, sala de vídeo, parque, quadra esportiva, horta, refeitório e área de lazer totalmente arborizada, o que ajuda a proporcionar um ambiente lúdico e muito acolhedor. “O trabalho, quando é feito com desejo de se realizar uma coisa boa, com ânimo, não é trabalho nenhum. Trabalhávamos de sábado, domingo, feriado, no começo fazendo muito calo nas mãos, mas era só satisfação“, lembra Raymundo Rodrigues Espelho, 73 anos, um dos fundadores do Lar. Para ele, a determinação e a dedicação de pessoas ligadas a esse grande sonho ajudaram a construir e a manter a obra. “Quando o Lar foi fundado, fizemos uma coleta e conseguimos, se bem me lembro, 90 cruzeiros. Não era nada. Começamos então a recolher sucata em casas, papel, garrafa, ferro; plástico não existia. Acabamos conseguindo através de contatos dos diretores da casa – Sr. Correa e Sr. Alberto d’Ângelli – doações de sucata das indústrias Volkswagen e Willys”, conta.
Os diversos projetos do Lar da Criança Emmanuel, desenvolvidos por funcionários e muitos voluntários, ajudam a consolidar, nas crianças, nos jovens e também na comunidade, potenciais renovadores para transformar as condições sociais em que vivem, ampliando os horizontes, o conceito de ética, os vínculos afetivos, valorizando a cidadania e a inclusão produtiva, inclusive com o despertar da consciência ecológica. São histórias de superação que ainda continuam a incentivar a equipe. “Parece que foi ontem. Lembro-me que, carregando baldes de concreto para encher lajes, tive câimbras nos dois braços ao mesmo tempo. Larguei tudo e enfiei-os em um latão cheio de água. Eu tinha então 21 anos. Parece que foi tudo um sonho. Passaram-se 50 anos. Felizmente é uma realidade”, revive José Perez Perez, que fez parte da diretoria, tendo sido contador da casa por mais de 20 anos. Para o atual presidente do Lar, Adão Ribeiro da Cruz, é com muita alegria que estão sendo comemorados os 50 anos de
fundação. “Lembro-me de quando chegamos no Lar com a esposa, Rosa Maria, em maio de 1980, e começamos a participar dos eventos sociais. Nesta época, a instituição estava passando seu atendimento de orfanato para creche. Passados quase 30 anos, participamos de várias conquistas, mas sabemos que o desafio continua” . Embora a instituição receba recursos de parceiros públicos e da iniciativa privada, ela conta com uma equipe de voluntários, que se dedica a gerá-los através de diversas iniciativas para a manutenção de suas atividades. Para saber mais: Fone (11) 4109-8938 www.laremmanuel.org.br
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DROGAS? Saiba na página 16 www.correiofraterno.com.br
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Afeto, apoio psicossocial, lazer, orientação pedagógica, cuidados com a saúde e meio ambiente sempre fizeram parte da história do Lar Emmanuel
FOI ASSIM…
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Uma mensagem dela me consolou Por WALDEMAR LEGAT - Seu Waldemar, ela já se foi. Estava com as pernas geladas. Fiquei fora de mim, por dois meses, perdido, sem saber o que fazer. O tempo foi passando, até que ela nos enviou notícias, dizendo onde estava e que passava bem. Por intermédio de minha filha, que é médium, disse: Wal,
M
inha mulher teve uma morte muito surpreendente, que me deixou desesperado. Foi tudo muito de repente. Levantou-se às 7 horas e foi para o banheiro. Nunca poderia imaginar que aquilo pudesse acontecer. Ela estava demorando muito, chamei-a duas vezes. Como não respondeu, abri a porta. Ela estava caída no chão, chamei-a por várias vezes, como não respondesse, fui correndo chamar a vizinha. Quando ela tocou nas suas pernas, disse:
Espere as coisas acontecerem. O tempo é o melhor remédio para curar os males da vida e esta cura virá em breve, quando você menos esperar. Fique quieto, cumpra sua missão, tome conta de meus filhos. Cuide também de Carlos, olhe por todos, Cristina precisa do auxílio de todos e espero que a ajudem. Wal, estou por perto e ao mesmo tempo tão longe. Durma, descanse para que todos nós fiquemos em paz. Darcy Essa história aconteceu com Waldemar Legat. Conte sua história também. Escreva para redacao@ correiofraterno.com.br
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Atentado ao túmulo de Allan Kardec Por ALTAMIRANDO CARNEIRO Aconteceu no dia 2 de julho de 1989, um domingo, na calada noite, quando terroristas pularam o muro do Cemitério Père-Lachaise, em Paris, que também abriga os restos físicos de sua esposa e colaboradora, Amèlie Boudet, desencarnada em 21 de janeiro de 1883. O dólmen de granito de Allan Kardec, edificado um ano após a desencarnação do Codificador, ocorrida em 31 de março de 1869, pela ruptura de um aneurisma, foi desenhado por M. Ernest Sébille e construído por M. Pègard. É um monumento druídico formado por quatro enormes pedras (três verticais e uma horizontal que serve de teto), de aproximadamente dezoito toneladas. Embaixo, no centro, sobre um pedestal de um metro de altura, também de granito, o busto em bronze, esculpido por Capellaro. A explosão foi ouvida às duas horas e quinze minutos da madrugada, tendo sido tão violenta que o pesado busto em bronze de Kardec desabou com o pedestal de granito e um dos monólitos verticais, pesando toneladas, deslizou cerca de vinte centímetros. Além de rachar, a base granítica do monólito afundou e atingiu parte dos restos do caixão onde estavam os ossos, que juntamente com os de Amèlie, encontram-se numa caixa resguardada no célebre túmulo druídico, que as autoridades parisienses reconstruíram em curtíssimo tempo, devido às pressões constantes de Roger Perez, então presidente da União Espírita francesa e Louis Serre, então vice-presidente da Confederação Espírita Européia. O corpo de Allan Kardec foi, inicialmente, enterrado no Cemitério de Montmartre e depois transladado para o Père-Lachaise, quadra 44, próximo dos túmulos de Gabriel Delanne e de Sarah Bernhardt, considerada por muitos a mais notável atriz dramática de todos os tempos, que também foi médium e interpretou uma peça espírita de Victorien Sardou. O Cemitério Père-Lachaise abriga, também, os restos físicos de Chopin, Rossini, Cherubini, Bizet, Bellini, Oscar Wilde, Musset, Victor Hugo, Adelina Patti, Moliére, Proust, Auguste Comte, La Fontaine, Delacroix e outros vultos. O Père-Lachaise foi inaugurado em 1804, ano em que nasceu Allan Kardec. Pesquisa: Kardec, Irmãs Fox e Outros, de Jorge Rizzini, EME Editora.
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Por ANDRÉ TRIGUEIRO
“A
evolução não dá saltos” é uma frase recorrente entre espíritas e ecologistas para explicar o peculiar timing, invariavelmente vagaroso, no qual se desdobra o processo evolutivo. O fato, porém, é que espíritas e ecologistas têm motivos de sobra para recomendar a aceleração do passo na direção da mudança. Os ecologistas denunciam o risco de colapso na capacidade de suporte do planeta em atender às atuais demandas da matéria-prima e energia da Humanidade. Inúmeros relatórios científicos produzidos por organismos multilaterais da ONU, organizações não governamentais como a Worldwatch Institute ou o World Wildlife Fund (WWF), cartas abertas assinadas por personalidades laureadas com o Prêmio Nobel, entre outras fontes de prestígio e credibilidade, consideram esse risco iminente se não corrigirmos o rumo desde já. Os espíritas informam que o processo de evolução do planeta Terra – que deixará de ser um mundo de provas e expiações para se afirmar como um mundo de regeneração – está em pleno curso e vai provocar mudanças importantes na vibração do orbe, o que significa que só permanecerão por aqui aqueles que vibrarem em frequência compatível. Há sempre os que esperam uma intervenção direta da Divindade em favor dos humanos, resolvendo como num passe de mágica todos os nossos problemas. Evocam-se certas atribuições de Deus – “infinitamente bom, justo e misericordioso” – para nos redimir como espécie neste momento de crise. Cabe aqui uma reflexão importante sobre a expectativa que devemos ter de Deus para socorrer a nós, que fomos feitos “à imagem e semelhança do Pai”, neste momento difícil. Se é verdade que a Providência Divina nunca nos abandona, também é verdade que nossas escolhas são soberanas e deter-
minantes do destino que teremos. A função do livre-arbítrio é conferir a cada ser humano o mérito – ou demérito – de suas escolhas, sendo cada um de nós responsável direto pelo seu próprio processo evolutivo. Sempre amparados e protegidos por Deus, acompanhados de perto por nossos guias e mentores espirituais, cada um de nós assume perante a Lei a responsabilidade pelas escolhas que fazemos. A título de exemplo, se o Espiritismo, bem como todas as religiões, condena o suicídio por entender o autoextermínio como uma afronta às Leis de Deus, a prática do suicídio depende exclusivamente da vontade de quem o pratica (ou, em alguns casos, também da influência espiritual exercida por desencarnados que acompanham o suicida). Ele, o suicida, é o responsável direto pelo retorno precoce à pátria espiritual, arcando com as consequências, invariavelmente nefastas, dessa escolha. Se entendemos que as escolhas coletivas da Humanidade têm determinado a exaustão dos recursos naturais não renováveis do planeta, e que isso se volta contra nós a ponto de ameaçar diretamente a nossa sobrevivência, a já mencionada expressão “ecocídio” faz sentido e se aplica à realidade presente. Se o suicida escolhe matar o corpo, e isso acaba acontecendo pela vontade de seu livre-arbítrio, o mesmo poderia acontecer coletivamente se nossas escolhas não forem repensadas,
se não empregarmos tempo e energia suficientes na solução desses problemas, causados por nós mesmos. Hoje, apesar de amplos e detalhados diagnósticos sobre a situação cada vez mais precária dos ecossistemas, não se percebe um senso de urgência que oriente a tomada de decisão no rumo certo. E Deus nessa história? Bem, o Deus que protege e ampara é o mesmo que delega funções e atribuições. Em uma linguagem típica dos mercados, Deus “terceiriza” e confiou o planeta à tutela dos homens. Será que estamos devidamente mobilizados para enfrentar esses problemas? No livro Desmistificando o
dogma da reencarnação (IPECE), o físico, mestre e doutor em engenharia pela USP Wladimyr Sanches, lembra que “o desafio de enfrentar problemas cruciais para a manutenção da vida biótica na Terra é um meio de se acabar com o marasmo em que a sociedade atual vem se acomodando. É preciso ver e temer o perigo, de perto, para que as soluções brotem, com esforço coletivo, já que o perigo é inerente a todos e não apenas a alguns países.” A boa notícia é que dispomos de suficiente conhecimento e tecnologia para mudarmos o curso da História na direção que interessa. Mas será que é isso que realmente desejamos? Texto extraído do livro Espiritismo e Ecologia (FEB Editora). André Trigueiro é jornalista. www.mundosustentavel.com.br
O QUE RICHARD SIMONETTI PENSA SOBRE
SEXO? Saiba na página 16
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MUNDO SUSTENTÁVEL
Senso de urgência
LEITURA
16
CORREIO FRATERNO
JANEIRO - FEVEREIRO 2010
Série especial reunirá autores clássicos do espiritismo Por ELIANA HADDAD
É
de conhecimento do movimento espírita a facilidade e o poder de síntese que tem o escritor e palestrante Richard Simonetti para analisar os mais variados assuntos, relacionando-os sempre à temática espírita de uma forma simples, dinâmica e com linguagem sempre atual. Natural de Bauru, interior de São Paulo, de família espírita, Simonetti participa ativamente há mais de 50 anos do movimento espírita. Tem 47 livros publicados, onde já falou sobre tudo - família, relacionamentos, sexualidade, destino, drogas, morte, obsessão e mediunidade, dentre outros – divulgando o Espiritismo na sua forma mais natural, explicando os desafios da vida. Agora, parte desse rico conteúdo poderá ser conhecido e apreciado resumidamente, em rápidas pinceladas, em uma única obra, que reúne em edição convidativa uma pesquisa dos temas por ele abordados em seus livros. Com o lançamento de O Pensamento de Richard Simonetti, organizado pelo também escritor e pesquisador Raymundo Rodrigues Espelho, a Editora Correio Fraterno inaugura uma nova série de publicações que reunirá em projeto gráfico moderno e bem ilustrado os pensamentos dos grandes estudiosos e autores do mercado editorial espírita. “Sempre tive o hábito de anotar pensamentos e pequenas frases, espíritas ou
não”, revela Rodrigues Espelho, idealizador do projeto. Ele conta que ao iniciar o curso primário numa escola rural, na época da Segunda Guerra, o material escolar, como tudo, era escasso e, quando ainda se alfabetizava, já fazia cópias da cartilha e as distribuía para crianças que não tinham o maEspelho: pela divulgação da terial. Ao começar a ler as obras Raymundo cultura espírita. espíritas que o pai comprava, copiava trechos também. “Copiava, apenas Richard Simonetti pupor copiar”, lembra. Frequentou o então blicou seu primeiro livro “Catecismo Espírita”, seguindo a Mocidaem 1969. Até aí Raymundo de Espírita, Centro e depois outras instituiEspelho já havia assistido suas palesções, como a União Municipal Espírita e tras, tendo-o sempre como um dos melhoo movimento espírita, como um todo. Na res oradores espíritas. “Sua postura perante década de 1980, um contato com o autor o público, a delicadeza no trato para com o Sérgio Lourenço, de Presidente Prudente, próximo, o vasto conhecimento doutrináSP, aguçou ainda mais esse seu interesse. “ rio e da cultura de forma geral sempre me Ele escrevia Minutos Preciosos, uma seleção chamaram a atenção”, lembra. Surgiram de pensamentos de cinco livros do Espírito seus primeiros artigos na imprensa espírita. Marco Prisco. Foi convidado a fazer o pre“ Vi a mesma criatura que via na tribuna. fácio da obra e nunca mais deixou esse tipo Seus livros confirmam tudo isso, merecem de trabalho, com o objetivo de sempre: lee precisam ser divulgados, e esperamos esvar a cultura, principalmente espírita para tar contribuindo para tal”, diz Raymundo quem interessar. “Sempre lembro daqueles Espelho. menos abastados, que podem adquirir o reO Pensamento de Richard Simonetti tem sumo de vários livros, que serão apreciados 110 páginas e de forma leve, com visual homeopaticamente. Além disso, as ideias e mais despojado, através das ilustrações esa Doutrina Espírita vão sendo divulgadas, pecialmente criadas para os temas, abrange proporcionando-se ao público uma maior 228 itens, organizados em ordem alfabétifacilidade para tomar contato com a literaca e com explicações específicas, que são tura espírita”. comentadas, definidas ou relacionadas a
AGORA VOCÊ VAI SABER O QUE PENSA RICHARD SIMONETTI Organizado pelo escritor Raymundo R. Espelho “O Pensamento de Richard Simonetti” inaugura uma nova série de publicações da Editora Correio Fraterno, que reunirá os pensamentos dos grandes estudiosos e autores do Espiritismo. Agora, num único livro, uma pesquisa dos principais temas abordados por Richard Simonetti, com comentários e ilustrações, e organizados em ordem alfabética.
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Casamentos Muitos casamentos terminam quando os cônjuges descobrem que a “alma gêmea” transformou-se em “algema”. Um dos “verbetes” ilustrados do livro
histórias sérias ou citações bem-humoradas que só a inteligência e a sabedoria de um autor como Simonetti consegue combinar de forma elegante e repleta de amor. Para saber mais acesse: www.correiofraterno.com.br
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