ISSN 2176-2104
CORREIO
Entrevista Allan Vilches: o canto lírico no repertório musical da casa espírita. Pág. 4
FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA Pu b l i c a ç ã o d a E d i t o r a E s p í r i t a C o r re i o Fr a t e rn o • e - m a i l : c o r re i o f r a t e rn o @ c o r re i o f r a t e rn o . c o m . b r • A n o 4 3 • N º 4 3 6 • Nove m b r o - D e z e m b r o 2 0 1 0
ARTE A divina sinfonia no coração dos homens
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s manifestações artísticas conseguem realizar a mais perfeita comunhão com o Criador e nos transportar ao Infinito. Do processo de criação à percepção imperfeita ainda da arte na Terra, um caminho sem horizontes e sem limites invade a alma de admiração e entusiasmo. O espiritismo abre novas perspectivas para a arte, revelando a harmonia e a beleza que regem o Universo. Numa ligação indescritível com o divino, com vibrações sonoras de paz e amor, de sentimentos renovados, algo diferente paira no ar, como se Jesus se aproximasse ainda mais da Terra. A música se faz mais presente, a emoção é desafiadora. Tempos de reflexão, de sonhos, desejos e gratidão. Afinal, por quem os sinos dobram? Págs. 3 e 13
II Simpósio de Filosofia Espírita Cerca de 400 participantes espíritas e não-espíritas se reuniram em novembro em São Paulo no evento que valoriza a compreensão do aspecto filosófico do espiritismo, como forma de melhor entender sua proposta. Pág. 9
O Homem que virou Papai Noel Na Ásia Menor, diz a lenda que ele distribuía presentes aos pobres. Na Europa, sua imagem de bispo benevolente se fundiu às tradições do Natal. A França o chamava de Pére Noel. Na Holanda, o santo Nicolau. Em Nova Amsterdã, ele se tornou Santa Claus. Sua imagem exala espírito de benevolência. Mas o verdadeiro homenageado mesmo é só um. Pág. 11
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EDITORIAL
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CORREIO FRATERNO
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Tempos de alegria
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hegamos ao final do ano. E esperamos que esta edição leve a você, leitor, as nossas melhores vibrações de carinho e gratidão. Estamos felizes com o trabalho realizado em 2010, que a nosso ver, vem se consolidando a cada ano com a seriedade, profissionalismo e vontade de sobra de acertar e servir. A equipe do Correio Fraterno e seus colaboradores, num laço de amizade, juntam-se a você para que, num único pensamento, possamos envolver esse mundo em muito amor, paz, fraternidade e alegria. Como espíritas, tendo Jesus como maior exemplo de perfeição, sabe-
mos que caminho seguir, cada qual a seu passo, cientes de que a lei do progresso nos impulsiona rumo à perfectibilidade. Nada está perdido. Embora muitas vezes, com o olhar apenas voltado ao barro da terra, sintamo-nos frágeis e ansiosos em nossa infância espiritual, a harmonia da Criação não se abala, convidando-nos insistentemente a mudanças, desafios, reflexões. Foi tentando trilhar esse caminho que chegamos a esta edição. Outros desafios virão. Que sejamos, pois, gratos pelas oportunidades de trabalho. São tempos de alegria, de Natal, de votos de renovação. Que eles possam estar pre-
CORREIO DO CORREIO Motivação na Mocidade Gostaria de parabenizar e se possível entrar em contato com o jovem autor do texto “Participação jovem renova casas espíritas” (edição 435). Quem sabe ele nos auxilia a encontrarmos a motivação para os jovens de nossa casa, pois se encontram bem dispersos e pouco motivados. Fátima, por e-mail Suicídio Ótimas matérias, como sempre! A propósito
do tema suicídio, com duas abordagens excelentes de André Trigueiro e Lygia Barbiére, gostaria de acrescentar alguns aspectos que poderão merecer reflexões futuras. Temos que considerar algumas causas e motivações pouco abordadas. O suicídio egoísta, causado por questões pessoais; o suicídio altruísta, quando uma pessoa se imola em prol de uma causa e não por desprezo pela vida; o suicídio anômico, quando a sociedade se desfaz e enfraquece os valores que sustentam a coletividade tanto quando o
Uma ética para a imprensa escrita Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.
sentes em todos os nossos dias através das várias manifestações divinas que a vida nos mostra incansavelmente. Nesta edição, escolhemos a arte como tema, pois nada melhor que ela para nos colocar tão próximos do Criador. Feliz Natal e um Ano Novo repleto de boas surpresas! Nós estaremos aqui para compartilhar com você! Equipe Correio Fraterno
• Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.
indivíduo, e um tipo de suicídio causado por ambientes repressivos e opressores. Essas causas foram estudadas por Emile Durkheim, pai fundador da sociologia (e citado por André no artigo dele). O suicídio em nossos dias ganha outras variáveis causadoras. Paulo Santos, Divinópolis-MG
• Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos.
O Correio à frente Li com muita alegria no site do Correio Fraterno os nomes dos vencedores no concurso de poesia, promovido pela Arte Poética Castro Alves. Fiquei feliz por ter obtido o 3° lugar. Parabéns pela feliz iniciativa e pelo sucesso no empreendimento. Mariângela Fernandes de Freitas, Umarizal-RN
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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118
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• A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.
• Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
Envio de artigos Encaminhar para e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 4.500 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.
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MARIA APARECIDA SANTANA
Arte busca seu espaço no meio espírita Da REDAÇÃO
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ma ação desafiadora para cumprir sua função. A arte espírita tem harmonizado eventos, estudos e palestras espíritas, notando-se uma movimentação de artistas das mais diversas áreas. Recentemente, por exemplo, realizou-se a Semana Nacional de Arte Espírita, evento que mobilizou, de 16 a 24 de outubro, o maior número de artistas e associados da ABRARTE – Associação Brasileira de Artista Espírita. As atividades foram realizadas em 21 cidades de 11 estados – 110 eventos, em que ocorreram apresentações teatrais e musicais, leitura dramática, shows, concertos, encontros, mostras e festivais, além de cinco seminários e 26 palestras, mobilizando ao todo 80 grupos e 67 artistas. Outro exemplo é o projeto Arte de educar com arte, iniciativa que vem sendo desenvolvida desde 2004, em São Paulo, SP, e que promove encontros mensais com a proposta de ajudar educadores e jovens acima dezesseis anos a utilizarem a arte no processo educativo, estimulando o despertar dos potenciais artísticos de todos os participantes. O projeto também
promove o estudo da arte e da pedagogia integradas à prática, utilizando a música como recurso e oferecendo oportunidade de se trabalhar poesia, dança, teatro, artes plásticas e trabalhos manuais, por meio de oficinas de discussão e criatividade com os próprios educadores. O trabalho é coordenado por Flávia Uhlmann, que atua há mais de vinte anos nas áreas de educação infantil, música e teatro espírita na capital. No último dia 27 de novembro, o grupo apresentou a peça teatral O castelo de cristal, encerrando uma atividade que abordou a inclusão social como tema, trazendo a história de duas crianças com deficiência, revelando ser livre o espírito, independentemente da condição física que apresente nas reencarnações. Flávia destaca que os espíritos que estão chegando estão requerendo maior atenção. “É preciso que trabalhemos com eles de uma forma lúdica para se falar de espiritismo; só livros e apostilas não resolvem, porque lá fora, estão sempre expos-
Projeto Arte de educar com arte: Atividades lúdicas para melhor compreensão do espiritismo
tos a muita informação”– justifica. Com o foco no educador, Flávia lembra que a arte tem o papel fundamental de ser um excelente instrumento para passar as temáticas da vida de uma forma alegre e questionadora. “Como o objetivo é educar o espírito, os assuntos vão sempre mais além, discutindo-se e trabalhando-se os mais diversos temas nas oficinas de arte e educação”. Outra iniciativa também relacionada à arte na capital paulista aconteceu no dia 24 de novembro, comemorando os vinte anos de atividades ininterruptas. Trata-se da premiação dos contemplados do Concurso de Poesia com Temática Espírita, promovido pela Arte Poética Castro Alves, entidade fundada e presidida pelo jornalista Altamirando Carneiro. O concurso contou com a participação
de cinquenta poetas de várias regiões do Brasil (veja a poesia vencedora no nosso site ( www.correiofraterno.com.br). Segundo Altamirando, a poesia como manifestação artística é importante meio de esclarecimento e de cultura. “A poesia com temática espírita ensina e esclarece o Evangelho de Jesus”. Diz Allan Kardec, no livro Obras póstumas, que as artes não sairão de seu torpor senão por uma reação para as ideias espiritualistas. E conclui: “os princípios novos, não sendo ainda adotados de maneira definitiva pela grande maioria dos homens, os artistas não ousam explorar, senão hesitantes, a mina desconhecida que se abre sobre os seus passos”. Para saber mais: www.abrarte.com.br www.artedeeducarcomarte.com.br www.correiofraterno.com.br
ACONTECE
Altamirando: vinte anos de Arte Poética
ENTREVISTA
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Música
A sinfonia de Deus no coração dos homens Por ELIANA HADDAD e IZABEL VITUSSO IZABEL VITUSSO
Allan Vilches: “a arte que emociona não é fruto só de um dom”
“...do Alto descem acordes e um hino universal faz estremecerem céus e terras. À percepção desses acordes o espírito se dilata e desabrocha; ele se sente viver na comunhão divina e entra numa encantamento que chega ao êxtase.” – Léon Denis Quem ainda não conhece o trabalho artístico que ele realiza no movimento espírita em São Paulo e em outros estados não imagina que por trás dos ares de um garoto habite um tenor, encantado com a música erudita. Aos 29 anos, além do trabalho profissional de canto lírico em apresentações e cerimônias, Allan Vilches dedica grande parte de sua agenda ao trabalho de abrilhantar os eventos espíritas, onde sua participação inunda de boas vibrações os ambientes, fazendo com que o evangelho de Jesus toque com maestria todos os corações. Só agora em dezembro ele fará 48 apresentações. Para um tenor, isso representa falta de descanso, pausa para voz, o que tecnicamente não seria recomendável. Mas para ele não é assim. Com a agenda lotada, um sorriso constante que retrata alegria do trabalho e a consciência de seu papel como artista na divulgação da temática espírita, Allan Vilches sente-se liberto das recomendações de praxe. Ele mesmo se espanta, não sabe o que acontece para ser diferente, atribuindo sua saúde e energia à vibração de carinho que recebe por onde passa. Arte é troca, diz. Por isso faz questão de salientar que o artista que emociona verdadeiramente não é fruto somente de um dom, como algo que viesse como presente divino, mas também conquista, consequência de dedicação, estudo, disciplina e trabalho.
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Você tem uma empatia muito grande com o público, e em se tratando de mediunidade, a voz é um instrumento de magnetismo, de cura. Como você vê esse seu trabalho? Allan Viches: Tudo é muito natural. Não tem efeito artístico somente. Mas um objetivo, um direcionamento. Acredito até que todas as manifestações artísticas deveriam partir desta conscientização. Comecei a perceber que a música erudita não tinha mercado porque as pessoas não entendiam o que estava sendo interpretado. Dessa observação começou o meu trabalho profissional. Trata-se de um concerto didático. Vamos a escolas da rede pública de São Paulo, explicamos a canção, o autor, o período em que foi escrita, o que o compositor quis falar em alguns trechos de obras, desmistificando assim a música erudi-
ta. E eu acabei levando isso para a casa espírita. Há todo um processo de conscientização sobre o texto do evangelho, a contextualização com a música que se vai cantar. Quando você interpreta o que vai acontecer, a plateia se entrega, se envolve com o trabalho. O que você sente quando canta na casa espírita? Allan Viches: Sinto que há uma afinidade conjunta muito grande. Não preparo repertório, mas uma linha de raciocínio sobre o tema, a ser levado, segundo o Evangelho e vou entremeando com as canções dentro das possibilidades que eu tenho, selecionando as canções de acordo com a inspiração no momento. É possível, por exemplo, ao cantar determinada música, ‘visualizar’ na plateia quem está precisando daquela vibração, o que quase sempre se comprova com as conversas depois dos trabalhos. E já ouvi histórias diversas nesse processo, como: “Meu pai desencarnou há dois meses e gostava imensamente dessa música.” A gente nunca sabe de todo o processo que se desenvolve durante os trabalhos. O que sabemos é que a arte, a música principalmente, tem uma proposta. A pessoa se impregna com sua vibração, com o amparo da espiritualidade, e leva consigo esses benefícios. Como você vê a arte no espiritismo? Allan Viches: A arte no movimento espírita nem sempre tem sido trabalhada com rigor. Penso que não é porque vou fazer um evento beneficente que posso pegar um violão desafinado, não prezar pela qualidade do que se faz. Falamos muito sobre isso no programa na Rádio Boa Nova [Quem canta sua vida encanta] – com Paula Zamp e Moacyr Camargo. Temos procurado investir sempre mais em nossas obras e produções, buscando o aprimoramento, a qualidade mesmo. Existem talentos cuja expressão sonora do instrumento é diferente; há o sentimento de quem o está executando, ou cantando. Muitas pessoas dizem: ’recebi uma orientação da espiritualidade para que eu trabalhe com a música na casa espírita’. Eu digo: ótimo, mas tem que estudar. Vai fazer um curso de piano, um curso de violão... aprimore-se. O que a música pode fazer pelo espiritismo?
Allan Viches: Muito. Tanto na divulgação como no sentido de fomentar mensagens. Às vezes o palestrante transmite um conceito, uma mensagem importantíssima e consegue atingir 10% das pessoas. Neste trabalho, você coloca a mensagem agregada à vibração da música, que consegue atingir grande parte dos que ouvem. Como vão sentir ou compreender é de cada um. Qual a mágica da música que nos faz sair das vibrações mais densas e migrar para as mais elevadas, mais próximas ao Criador? Allan Viches: Isso não tem nada de mágico. É vibração simplesmente. Quando a gente toca, ou canta, há várias vibrações, ondas sonoras – a da nota tônica, que se ouve, e as das outras notas musicais, que são as ressonâncias, variações da primeira. Todas juntas vão compondo a harmonia musical. Cientificamente, também, sabe-se que você agrega ainda um valor psicológico a essas vibrações sonoras, justamente por possibilitar a percepção dessas ondas, atingindo assim as pessoas. Do ponto de vista do nosso organismo físico, por exemplo, se você estabelecer sintonia com essas vibrações, consegue até mesmo se curar de uma dor de cabeça, de uma gripe, de algum outro processo. E o espiritismo nos ensina muito bem sobre essa mecânica da influência dos fluidos. Léon Denis diz que a dificuldade da alma contemporânea em conceber uma fé esclarecida, uma concepção mais elevada da beleza universal, é o que justifica a pobreza da estética artística atual. Qual sua opinião sobre a música do futuro, então? Allan Viches: A música do futuro será aquela que refletirá o que de melhor a pessoa tenha, as características do espírito: amor, fé, fraternidade, harmonia e não fatores de materialidade: dinheiro, emprego, mulheres, carro. O dia em que direcionarmos a atenção maior ao espírito, começaremos o processo de criação de músicas mais evoluídas. A atividade de canto lírico é desgastante para o físico. Como você concilia cantar profissionalmente e também realizar o seu trabalho social na doutrina espírita?
Allan Viches: Desde que comecei a estudar, até terminar meus estudos na Escola Municipal, os professores sempre foram taxativos: o cantor de ópera canta duas ou três vezes na semana. Não deve se exceder, para reposição das energias físicas e vocais. Fico pensando o que tenho de especial, porque eu canto três vezes por semana profissionalmente, e canto tantas outras vezes em casas espíritas, asilos, orfanatos. Aprendi que é a vibração positiva que eu recebo que sustenta o meu trabalho. Depois que eu me foquei mais nos trabalhos nos centros, percebi melhorias inclusive físicas. Acabei me dedicando mais ao Grupo [Cantores da Luz]. Hoje o coral é conhecido em toda a região de Osasco e Barueri. É uma alegria. Uma música que toque mais você. Allan Viches: A música do momento. Aquela música que às vezes estou ouvindo num cd no carro e me comove. É um processo interessante e importante para trabalharmos em nós: perceber que sentimentos são aqueles que a melodia faz brotar em nós. Que mensagem você deixaria para o nosso leitor, nessa edição festiva de Natal? Allan Viches: Acho que devemos refletir sobre a nossa proposta nesse planeta. E o Natal sempre é um bom momento para isso. Pense em como você realmente pode ser um instrumento para agregar mais a família, as pessoas no trabalho, como você pode ser a vibração diferenciada, capaz de melhorar a sua vida e dos que o rodeiam. Fazendo isso, acho que vamos construir uma vida mais feliz. Natal é o tempo em que a música ganha mais espaço nos shoppings, nas ruas e isso fortalece a ideia de nos sintonizarmos com a proposta de ter mais música no nosso dia a dia. Digo sempre: “Quando você estiver triste, solte a sua voz, para perceber que de você parte uma energia que consegue amenizar todas as dificuldades; quando estiver alegre, cante”. A música é sempre grande cúmplice e companheira da vida. Saiba mais no site: www.allanvilches.com.br www.correiofraterno.com.br
ENTREVISTA
Você é tão novo e, em nossa cultura, a música erudita não é gosto prevalecente. Como começou isso tudo? Allan Viches: Nunca ninguém cantou em casa, nem pais, tios ou avós. E eu comecei com a ideia de querer um som, mas meu pai não tinha condições de comprar. Nem rádio a gente tinha. De tanto eu pedir, fomos um dia em uma loja, lá mesmo em Carapicuíba [SP], onde ele acabou comprando o som, em inúmeras prestações. Mas eu não tinha o cd. A sorte é que deram de brinde um, daqueles de saldão, um cd de ópera. Eu coloquei para tocar e me identifiquei na hora. Comecei então a imitar. Na época, eu frequentava a mocidade espírita. Além do estudo, era hábito eles sortearem alguém para fazer a parte artística da semana seguinte: dançar, cantar, declamar, o que quisesse. Houve uma semana em que o pessoal que ia fazer a parte artística faltou. Resolveram sortear e, quem caísse, faria qualquer coisa. E lá fui eu sorteado. Imagina um pré-adolescente, com quatorze anos de idade, soltando o vozeirão – “Granada, tierra soñada por mi..”. Aquilo foi um estrondo!! Depois, o próprio pessoal da mocidade me aconselhou a procurar um conservatório. Acabei me formando em canto lírico. Depois, fui para a USP para estudar Coral, para a Universidade de Música, até finalizar os estudos na Escola do Teatro Municipal.
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MOSAICO
A arte se realça e progride em todos os graus da escalada da vida, realizando formas cada vez mais nobres e perfeitas, e
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Natal da forma Por MATHEUS LAUREANO
que se aproximam da fonte divina da eterna beleza. A arte é de essência divina, é uma manifestação do pensamento de Deus, uma radiação do cérebro e do coração de Deus transmitida sob a forma artística. Em pintura, estudai a escola florentina na época da Renascença; verificareis que quando as obras têm um cunho místico, os traços se divinizam e as cenas tomam características de real beleza e de verdadeira grandeza. A arte bem compreendida é poderoso meio de evolução e de renovação. O pensamento de Deus é a fonte das altas e sãs inspirações. Se nossos artistas soubessem beber nessa fonte, nela encontrariam o segredo das obras imperecíveis e as maiores felicidades. Seleção Raymundo R. Espelho. Frases retiradas da obra Espiritismo na arte, elaborada com base em uma série de artigos escritos por Léon Denis em 1922, para a Revue Spirite. www.correiofraterno.com.br
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ser humano valoriza mais a forma que o significado. Geralmente damos mais ênfase àquilo que nos salta aos olhos, ouvidos e boca que ao coração e à consciência. Neste período de fim de ano temos uma prova cabal da hipervalorização da forma: é o período de maior venda no comércio, dos inúmeros presentes de tão belas embalagens e não raras vezes tão pouco conteúdo que realmente chegue aos corações e mentes humanas. Comemora-se o nascimento de Jesus. Mas quando há comemorações para as virtudes e a mensagem reflexiva que ele trouxe? Apesar de ter um “ar” solidário de compaixão ao próximo são tão efêmeros quanto os presentes comprados. E, em se tratando dos nossos feriados, de maneira geral, qual deles é o feriado das bem-aventuranças? Que dia paramos para o “amar aos vossos inimigos”? Que dia comemoramos “fazer ao próximo aquilo que queremos que nos façam”? A resposta, infelizmente, é: nenhum dia. Até
porque esses dias não existem. Mais utópico seria pensá-los vivenciados nas relações humanas. Quando o Natal não simbolizar somente compra, nem nascimento de um homem, mas nascimento de ideias de amor, os presentes serão outros: gestos de afeto e de respeito pela dignidade humana, reconhecimento da capacidade de amar, da possibilidade de desenvolver e fazer parte também da construção de um mundo melhor. Devemos comemorar sempre o bem, as virtudes e todo aquele movimento feito por pessoas que querem um mundo melhor para todos – dias cristãos deveriam ser dias de reflexão e ação no bem, dias de todos, sem rótulos, sem personificação, em coletividade, sem forma, com toda e qualquer intenção que construa o amor. *Graduado em Psicologia, mestrando em Psicologia Social, vice-diretor do Departamento de Infância e Juventude da Federação Espírita Paraibana.
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BAÚ DE MEMÓRIAS
O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ!
Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
Os terapeutas nos tempos de Jesus Depois de aproximadamente 40 anos do início da era cristã, Fílon, um eminente filósofo judeu, que defendeu os interesses judaicos junto à corte de Nero, escreveu sobre os hábitos de vida e o pensamento do que teriam sido as primeiras comunidades cristãs. Por RICARDO MADEIRA
E
les viviam no Egito, nas imediações de Alexandria, uma das cidades mais importantes dos primeiros tempos do movimento cristão, bem antes da constituição, em Roma, de uma religião dita cristã, com pretensões a ser universal. Nessa comunidade, homens e mulheres acorriam para se preparar para uma vida mais verdadeira, mais elevada, sendo tratados da mesma forma, embora houvesse um muro que os separasse. Todos ouviam as mesmas palestras, podiam estudar os mesmos textos e procuravam ter os mesmos hábitos de comportamento. Para os padrões judaicos de então, isso era algo impensável, mesmo porque praticamente até o século 20, as mulheres não eram admitidas, conjuntamente com os homens, ao estudo e discussão dos temas mais pungentes da vida, recebendo educação exclusivamente no lar e para o lar. Esses terapeutas, como se chamavam, também liam textos judeus, além de outros que Fílon não reconheceu, pois não os conhecia na verdade – tudo indica fossem textos cristãos. Buscavam ser comedidos no falar, no comer e no beber. Prezavam as virtudes do coração e da mente. Contudo, o que mais os distinguia era a preocupação com o ser, para o quê isolavam-se na comunidade para melhor aprimorarem-se nesse mister.
E o que seria cuidar do ser? Cuidar de si, do próprio corpo, dos outros? Seriam eles devotados a alguma forma de medicina alternativa da época? Sim e não. Se por medicina entendermos o cuidado com a saúde do corpo, buscando nele mesmo a origem das doenças, os terapeutas de Alexandria não eram médicos, enfermeiros. Entretanto, se por medicina entendermos a preocupação com a saúde do corpo, entendendo-a como efeito da saúde da alma, então eles exerciam sim uma forma de medicina, identificando a origem dos males físicos nos hábitos de comportamento e valores morais. Viam as doenças orgânicas como consequências dos desequilíbrios da alma. A ira, o ódio, a inveja, a cobiça, as fobias, a tristeza, a desorientação do desejo, o apego ao prazer, a inconformação e a ignorância, entre outras coisas, eram tidos como a origem das doenças em geral, procurando-se orientar o comportamento, tendo em vista a manutenção da saúde integral, de corpo e de alma. O que distinguia ainda mais os terapeutas era o exercício de vida que continuamente buscavam. Adestravam-se para ver em cada um, fosse quem fosse, uma manifestação do Ser, a presença divina, em tantas formas de existência. Esmeravam-se em procurar as necessidades relativas, não propriamente à
personalidade de cada um, mas ao que de fato necessitava o ser universal para se desenvolver plenamente. Outros dados curiosos podem ser encontrados pelo leitor na tradução que Jeans-Yves Leloup, fez da obra de Fílon (Editora Vozes), cujo título em português é Cuidar do ser. Os terapeutas no Evangelho Na introdução de O evangelho segundo o espiritismo (1863), no item Notícias Históricas, Kardec destaca que para bem compreender certas passagens dos evangelhos é necessário conhecer o valor de muitas palavras que são frequentemente empregadas nos textos, e que caracterizam o estado dos costumes e da sociedade judia daquela época. É assim que lá estão os comentários sobre os samaritanos, os nazarenos, os publicanos, os peageiros, os fariseus, os escribas, os saduceus, os essênios e os terapeutas. Esclarece Kardec: Terapeutas (do grego therapeutai, formado de therapeuein, servir, cuidar, isto é: servidores de Deus, ou curadores). Eram sectários judeus contemporâneos do Cristo, estabelecidos principalmente em Alexandria, no Egito. Tinham muita relação com os essênios, cujos princípios adotavam, aplicando-se, como esses últimos, à prática de todas as virtudes. Eram de extrema
Cristianismo primitivo: em Alexandria, a igualdade no conhecimento
frugalidade na alimentação. Também celibatários, votados à contemplação e vivendo vida solitária, constituíam uma verdadeira ordem religiosa. Fílon, filósofo judeu platônico, de Alexandria, foi o primeiro a falar dos terapeutas, considerando-os uma seita do judaísmo. Eusébio, S. Jerônimo e outros Pais da Igreja pensam que eles eram cristãos. Fossem tais, ou fossem judeus, o que é evidente é que, do mesmo modo que os essênios, eles representam o traço de união entre o Judaísmo e o Cristianismo. Ricardo Madeira tem formação em “Semiótica e Linguística Geral” e doutorado em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. www.correiofraterno.com.br
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FOTOS: MAURÍCIO BRANDÃO
Edições Gil Tel.: (11) 4587-1344 www.edicoesgil.com.br Calunga definitivo de Calunga psicografia de Rita Foelker 96 páginas 14x21 cm
Vivaluz Editora Tel.: (11) 4412-1209 www.vivaluz.com.br Cerca de 400 participantes espíritas e não-espíritas prestigiam o evento
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Jornada dos Anjos de Lucius psicografia de Sandra Carneiro 576 páginas 16x23 cm
Por ELIANA HADDAD
II Simpósio de Filosofia Espírita, realizado em São Paulo no Centro Espírita Nosso Lar – Casas André Luiz – nos dias 20 e 21 de novembro, evidenciou a demanda do público espírita e não-espírita pelo aprofundamento filosófico da doutrina espírita. Os palestrantes Claudia Gomes, Astrid Sayegh, Franklin Leopoldo Silva, Sergio Biagi Gregório e David Monducci discorreram sobre a história da filosofia, com sessão de perguntas aberta ao público. A tradição filosófica, os caminhos para a razão e a fé, a função da filosofia na educação do espírito e a filosofia da mente foram temas amplamente discutidos, numa viagem pelo tempo. O evento permitiu entrever a trajetória do espírito humano e seu processo de conhecimento como ser inteligente da criação até se chegar à Filosofia da Ciência Amanhã e o Evangelho, tema apresentado pela fundadora e presidente do IEEF –Instituto Espírita de Estudos Filosóficos, Astrid Sayegh, que discorreu sobre a obra de Emmanuel, trazendo sua filosofia desde os tempos em que reencarnara como o filósofo Basílio de Cesareia, no século 3. Baseada especialmente no livro O Consolador (psicografia de Chico Xavier), que traz os conceitos sobre a unidade da ciência divina, abrangendo as duas faces do Universo – o es-
pirtual e o material –, Astrid comentou Presença do coral as parábolas de Jesus, analisando a essênVozes de São Paulo cia dos ensinamentos do Evangelho. O evento ressaltou o tríplice aspecto do espiritismo – ciência, fiAstrid Sayegh losofia e religião – mosautografa seu Prof. Franklin trando ser o espiritismo livro Como Leopoldo, da USP, renovar atitudes, uma filosofia específica, prestigiou o evento ed. Correio com sua palestra inserida no sistema esFraterno sobre “Fé e razão!” piritualista, que não é simples autoajuda, mas tem sua autoridade enquanto ciência, fia espírita e a necessidade de seu estudo pela lógica, pelo método e pelos seus nas casas espíritas para uma compreenpróprios objetos de estudo. Trata-se, ensão mais profunda do espiritismo. Muifim, de uma ciência muito mais ampla, to além das manifestações mediúnicas, é que compreende duas partes, como bem preciso conhecer e estudar os princípios explicou Allan Kardec na Introdução de de filosofia e de moral que delas decorO livro dos espíritos – uma experimental, rem e sua aplicação, um conjunto muirelativa às manifestações em geral; e outo mais complexo que precisa ser comtra filosófica, relativa às manifestações preendido na sua totalidade. inteligentes. Na parte artística, o evento contou Foi justamente sobre a necessidade com a participação do Coral Vozes de de se distinguir e compreender os difeSão Paulo e dos cantores líricos Paula rentes métodos para se analisar objetos Zamp e Allan Vilches. Também houve de conhecimento distintos – as causas lançamentos de livros, dentre os quais primeiras e princípios (Deus, espírito e a mais recente obra de Astrid Sayegh, matéria) e o Espírito, enquanto ser inComo renovar Atitudes? (Editora Correio teligente do universo – que foi também Fraterno). realizado no evento um workshop. Subdivididos em oito salas, os expositores Eliana Haddad é expositora do IEEF - Instituto do IEEF e participantes do simpósio Espírita de Estudos Filosóficos, coordenadora de um dos workshops realizados no Simpósio. discutiram e avaliaram o papel da filoso-
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ACOTENCEU
Filosofia espírita desperta público para o espiritismo
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QUEM PERGUNTA QUER SABER!
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Deus sabe antes que alguém vai cometer suicídio? Por PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO Se os espíritas dizem que não cai uma folha sequer sem a vontade de Deus, quando alguém se suicida, também é atendendo à vontade do Criador? Pergunta de Gilberto de Arruda Sampaio – Rio de Janeiro, por E-mail
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ão é tão fácil responder a essa pergunta, como pode parecer ao leitor acostumado aos estudos espíritas. Tirar a própria vida é uma infração à Lei Natural, isto é claro. Está lá no Evangelho segundo o espiritismo: “Em regra, o homem não tem o direito de dispor da vida, por isso que esta lhe foi dada visando deveres a cumprir na Terra, razão bastante para que não a abrevie voluntariamente, sob pretexto algum”. Mas a dúvida do Gilberto tem algumas particularidades. Vamos a elas. “Não cai uma folha sequer sem a vontade de Deus” é uma frase forte. Mais do que forte, é de um absoluto determinismo. Se toda ocorrência estivesse determinada pela vontade de Deus, não haveria liberdade. Embora comumente usada como dito popular, em livros, palestras, sermões, a frase referida não é citada em nenhuma obra de Allan Kardec. Geralmente dizem que está na Bíblia, mas não citam onde. Porque essa frase também não está na Bíblia! O ensinamento verdadeiro está presente no evangelho de Mateus, capítulo 10, e afirma: “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos”. Os Espíritos esclarecem, em O livro dos espíritos, pergunta 853, que a única fatalidade, “no verdadeiro www.correiofraterno.com.br
sentido da palavra, só o instante da morte o é”. Ou seja, mesmo para os homens o ensinamento vale. Podemos dizer que Deus ‘sabe’ se vamos falhar ou não em nossas provas e expiações. Todavia, temos a plena liberdade de escolha e a responsabilidade é toda nossa. Allan Kardec também percebeu a importância dessa dúvida e questionou aos Espíritos: “Desde que Deus tudo sabe, também sabe se um homem deve ou não sucumbir numa prova. Nesse caso, qual a necessidade da prova, que nada pode revelar a Deus sobre aquele homem?”. E a resposta foi: “Podendo o homem escolher entre o bem e o mal, a prova tem por fim colocá-lo ante a tentação do mal, deixando-lhe todo o mérito da resistência”. Um suicida de outras vidas escolhe enfrentar as mesmas dificuldades em nova oportunidade para testar sua força em resistir à tentação de praticar outra vez a mesma falta. Resistindo, sai mais forte da prova e fica feliz por isso. A vida é um recurso pedagógico por meio da qual faremos nossas escolhas. Não pense em erros e castigos, mas em oportunidades e efeitos naturais de nossas escolhas. A morte não existe, e quem foge dos problemas pelo suicídio somente os amplia. Por isso, Jesus recomenda: vigiai e orai. Administrador de empresas, autor do livro Mesmer, a ciência negada e os textos escondidos. Ed. Lachâtre. E-mail: paulo@mesmer.com.br
COISAS DE LAURINHA
Nós escolhemos a família Por TATIANA BENITES Laurinha chegou em casa empolgada com a aula que teve na casa espírita. Seu pai, vendo sua excitação, resolveu perguntar: – Então, filha, o que você aprendeu hoje no centro? – Pai, hoje foi muito legal. Você sabia que na maior parte das vezes somos nós que escolhemos a nossa família? – Sabia. E o que você acha? – Eu acho legal, mas daí eu fiquei pensando: “Se a gente escolhe, por que tem filho que não gosta do pai e pai que não gosta do filho?” – Às vezes, a gente escolhe uma família por causa de alguma coisa que fizemos em outra vida e desejamos nesta, juntos, melhorar. – E por que tem tanta gente que ainda faz maldade? Elas escolheram ser ruins? – Não, Deus não permitiria que eles viessem para a Terra para serem ruins com os outros, mas quando nós para cá voltamos, com um novo corpo, nós esquecemos... Antes de ele terminar de falar, Laurinha empolgada interrompeu: – Eu sei, eu sei, eu sei!! Nós somos um espírito grande, depois diminuímos pro tamanho de um grão de feijão, pra ficar do mesmo tamanho do nosso corpo bebê, e quando a gente está diminuindo, a gente vai se esquecendo das coisas do passado. – Isso mesmo. Por isso tem pessoas que voltam a fazer algumas maldades e se esquece do que prometeu. – Mas, pai, se você se esquece do passado, vai esquecer o que prometeu também. – Sim, mas a boa vontade de mudar faz com que a gente consiga ser melhor. – Pai, você sabia que antes de a gente nascer, os pais autorizam o nascimento do filho num sonho, enquanto dormem? – É mais ou menos isso ... Mais uma vez ela interrompe, quando o pai tenta explicar. – É sim. A professora falou que eu vim aqui e falei com vocês no sonho e vocês me deixaram vir. – É isso mesmo. – Você se lembra desse sonho? Eu era grande? Que cor era meu cabelo? Com que roupa eu estava? Eu era bonita? Em que lugar a gente se encontrou? Você gostou de mim? Eu era um espírito transparente ou não? Lembra? – Não, Laurinha, nós não nos lembramos desse sonho. – Ah, pai, você deveria lembrar. – Não, ninguém lembra, mas nós nos escolhemos. Vem cá, me dar um abraço. Laurinha corre para os braços do pai e dá um abraço apertado. Ainda no abraço, ela fala: – Pai, você não se lembra de nada mesmo? – Já falei que não, filha. – Eu lembro!!! – diz ela com um sorriso maroto. Seu pai solta um pouco seu abraço e ela olha em seus olhos. – O que você lembra – diz sorrindo. – Eu disse que só iria ficar com você e a mamãe se no meu aniversário de nove anos eu ganhasse uma bicicleta e um quarto todo pintado de rosa!!!! – Você não tem jeito mesmo!
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ENSAIO
O Homem que virou Papai Noel Por GEORGE DE MARCO
J
ohn Ford (1894-1973), consagrado cineasta estadunidense do século 20, autor de 56 westerns, irritado com as críticas sobre a inexatidão histórica dos filmes que dirigiu, não hesitou em colocar sua resposta na boca de um dos personagens do filme O homem que matou o facínora (1962): “Quando a lenda antecede os fatos, imprima-se a lenda”. A raça humana, volta e meia, se apega a lendas, crendices e misticismos sem motivos lógicos para tanto. Os gatos, por exemplo, ganharam fama de animais amaldiçoados e seus proprietários eram tidos como bruxos. Acontece que os gatos afugentavam os ratos que transmitiam a peste e seus donos, portanto, morriam menos do mal que os demais que não possuíam felinos. Foi preferível amaldiçoá-los e condenar seus donos do que enxergar o óbvio. Mas isso foi na Idade Média. O que dizer, então, das lendas que ainda surgem em pleno século 21? Aqui no Brasil, em 1996, surgiu a lenda do ET de Varginha. Catorze anos depois, concluiu-se que um morador da cidade, provavelmente sujo por causa da chuva e visto agachado junto a um muro, teria sido confundido com uma criatura do espaço. Nem bem o ET mineiro saiu de cena, surgiu outro, desta vez em Corguinho, Mato Grosso do Sul. E as cenas típicas nestas situações estão de volta: O ET representa uma raça muito evoluída, é jovem ainda – só tem 4010 anos –, e fala com voz afetada de desenho infantil. Sua mensagem aos terráqueos? “Apenas busquem o conhecimento”. Tão profundo quanto uma piscina vazia. Mas há os que abraçam a ideia e o projeto de construir uma cidade do futuro, encabeçados por um cidadão que já vendeu lotes de terra para quem queria viver com ETs, no início do ano 2000. Difícil é entender os motivos que levam o ser humano a ser facilmente
enganado. Para o filósofo J. Herculano Pires, no livro O homem novo (Ed. Correio Fraterno), “tanto à descrença absoluta como à crendice beata faltam as luzes do verdadeiro esclarecimento espiritual, da verdadeira ligação do homem com o sentido da vida”. Aqui o foco de Herculano são as crendices ligadas à fé, já que as maiores lendas e superstições surgem através do uso dogmático das religiões. Vejamos o caso de Nicolau, bispo da cidade de Myra, na Ásia Menor do século 4. Não existem registros históricos sobre sua vida, mas a lenda conta que ele distribuía presentes aos pobres. Um século após sua morte, o bispo foi canonizado e virou São Nicolau. Em alguns países europeus a imagem benevolente do bispo se fundiu com as tradições do Natal e ele virou o presenteador oficial. A França o chamava de Pére Noel (Papai Natal, origem do nosso Papai Noel). Na Holanda, o santo Nicolau teve o nome abreviado para Sinterklaas. Essa versão chegou à colônia holandesa de Nova Amsterdã (hoje Nova York), no século 17, e ele se tornou Santa Claus. Em 1862, o desenhista americano Thomas Nast tirou as referências religiosas, engordou o bispo, remodelou o figurino e
fixou a moradia no Polo Norte para que Nicolau não tivesse nenhuma nacionalidade. Em 1931, uma poderosa marca de refrigerantes fez de Noel a principal estrela de sua campanha natalina e o sucesso foi tão estrondoso que o gorducho bonachão se tornou a figura mais associada ao Natal. Mais até que o verdadeiro homenageado da data. Ele mesmo: Mitra, deus persa que representa a luz, uma das divindades
mais respeitadas entre os romanos no século 2. O dia 25 de dezembro era o início do Festival do Sol Invicto. A partir do século 4, seguindo sugestão do historiador cristão Sextus Julius Africanus, o festival mudou de homenageado – Agora sim, Jesus. O Natal, Papai Noel e o dia 25 de dezembro convencionado como o nascimento e Jesus estão entre os eventos que “antecedem aos fatos” e não fazem mal algum. Não obstante, fiquemos atentos para não sermos subjugados pela crendice fanática. Foi este o motivo de Allan Kardec escrever, em O evangelho segundo o espiritismo: “Só é inabalável a fé que pode encarar a razão face a face, em todas as etapas da humanidade”. Para Herculano, o espiritismo insiste no esclarecimento permanente da razão para os problemas da fé, pois ambas afugentam “as trevas e o frio da ignorância e da superstição, para nos dar a luz da compreensão e o calor da vida”. George De Marco é jornalista, publicitário e radialista. Realiza atividades como expositor e educador de mocidade espírita. E-mail: george@correiofraterno.com.br
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AGENDA
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Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fique atualizado com o que acontece no meio espírita. Participe. www.correiofraterno.com.br
ABR
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Confraternização de Mocidades
A Confraternização das Mocidades e Juventudes Espíritas do Estado de São Paulo – COMJESP, será realizada em 2011 na cidade de Guarulhos, SP, sob a organização do Departamento de Mocidade da USE,SP – A data já está marcada: 21 a 24 de abril. Informações: (11) 6502-6082 / 9263-0461 / 2950-6554 mocidade@usesp.org.br www.usesp.org.br/comjesp
MAR
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Marcha da Cidadania pelo direito à vida
Caminhada pacífica será realizada nas ruas da região central de São Paulo com o objetivo de promover mais uma grande mobilização do povo brasileiro em favor da vida, desde a sua concepção e contra as propostas que buscam mudar a lei e descriminalizar o aborto no Brasil até o nono mês da gravidez. O evento é suprapartidário, suprarreligioso. Informações: Comitê Estadual do Movimento Nacional de Cidadania pela Vida – Brasil sem aborto. campanhanacionalpelavida@gmail.com
SET
CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
Remissão de pena, castigo
Está no fluído universal
Maior Sílaba de autoridade na “advogado” monarquia
Função do filósofo
Acredita
ENIGMA
Cede, dá
Está entre o corpo e o espírito
Alimento sagrado Número 1 em algarismos romanos
Pronome demonstrativo Nota musical
Conjunto de vozes
Consoantes de “DONA”
Opção, seleção
Gira em torno de um eixo
Regra a ser seguida
Personagem do Jornal Correio Fraterno
Senhor (abrev.)
Primeira letra do alfabeto
Sucesso nos cinemas em 2010 Refletir Pertence a nós
Estilo musical Sentimento sublime
Errar
Profeta bíblico Receio
Azul ... fluídico (entre o corpo físico e o perispírito)
Está no rosto dos adolescentes Pequena montanha
Poetisa, psicografada por Chico Xavier....... de Souza
Ponta aguçada
Nome masculino Local onde ficam as bebidas alcoolicas
Moradia
Sem rumo, à... 18ª Letra do alfabeto
Tecido Animal que vive no pasto e produz leite
Música que simboliza a pátria Som Primeiro nome do codificador espírita “O” em espanhol
O dia marcado
“Ou” em inglês
Nenhuma coisa
qualquer hora, em qualquer lugar SOLUÇÕES
Local de apresentação
Interjeição de dor
Onde moravam as médiuns Julie e Caroline Baudin e a médium Ruth Celine Japhet, que colaboraram no trabalho pioneiro de Kardec?
Letra circular
Viagem aérea Última vogal do alfabeto
Resposta do Enigma: Moravam muito próximas a Kardec. As irmãs Baudin moravam na rua Lamartine, 32 e Japhet na mesma rua de Kardec, rua dos Mártires, 46, em Paris, França. (Colaboração de Vital Cruvinel) Saiba mais www. correiofraterno.com.br
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Nas telas em 2011
Distribuído pela Paris Filmes e produzido pela Mundo Maior Filmes, chega nas telas di cinema dia 2 de setembro de 2011 o filme dos espíritos, que reúne trechos dos cinco curtas-metragens premiados no I Concurso de Mostra de Cinema, de 2009. Numa história única, baseada em O livro dos espíritos, ele aborda os problemas existenciais de um homem, enfocando reencarnação, obsessão, aborto e mediunidade, dentre outros. Os atores Ana Rosa, Nelson Xavier, Etty Frazer e Enio Gonçalves dão peso ao elenco. www.ofilmedosespiritos.com.br
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50 anos
Neste Natal pensamos em dizer mil coisas, mas escolhemos a mais importante: OBRIGADO! Em 2011, continue compartilhando sua felicidade com a gente! www.correiofraterno.com.br
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Só temos a agradecer o apoio e toda a colaboração recebida para que o jornal Correio Fraterno tivesse em 2010 a alegria de poder levar a mensagem espírita a milhares de leitores, no Brasil e no mundo. Vamos comemorar juntos, certos de que a luz se fará em todas as nossas iniciativas voltadas ao bem. Seja através da mídia impressa ou digital, nos sentimos felizes por todo o trabalho realizado. Que 2011 faça despontar em nossos corações a divina essência do perfume da caridade, dotando-nos do amor que irradia sem cogitar exigências. Paz, amor e luz a todos! Equipe Correio Fraterno
Equipe editorial: Hamilton Dertonio, Eliana Haddad, Izabel Vitusso, Cristian Fernandes, Tatiana Benites e George De Marco
Que 2011... Seja fortalecido com a essência cristã. Tiago Essado Seja, para todos nós, pleno de alegria, felicidade boas realizações. Altamirando Carneiro Seja um ano de paz interior e que a alegria do amor possa estender-se e inspirar a cada dia um novo despertar. Astrid Sayegh Seja então um período de realizações positivas. Milton Felipeli Seja permeado de dias festejados, como os que vivi na redação do Correio, cantinho de luz que reflete a boa informação e conquista de novos valores! Priscilla Wilmers Bruce Permita entendermos os atos cotidianos como oportunidades de construção de um mundo melhor. Ricardo Alves da Silva
Seja um recomeço renovado em ações e posturas, as mais positivas. Ricardo Madeira
Implantemos de vez o sonhado Reino dos Céus na Terra, tão presente nas falas de Jesus. Aristides Coelho
A paz de Cristo alcance o coração de todos que se esforçam sinceramente por exemplificar seus ensinamentos! Sandra Caldas
Possamos alegrar nosso espírito com medidas efetivas em favor da paz e do amor. André Trigueiro
Seja um ano de muito sucesso e evolução para todos nós. Raymundo Rodrigues Espelho Continuemos dedicados em alcançar a prosperidade e a justiça social. Vital Cruvinel Não seja somente mais um, mas o ano em que cada dia seja um novo recomeço, uma nova oportunidade de transformação. Tiago Lima e Castro
Possamos ler com atenção o livro de nossas vidas. Praticando a leitura diariamente, com certeza, a pala-
vra final será: Felicidade! Saulo Gomes Possamos trabalhar na conquista dos nossos sonhos. David Monducci A gente não se perca neste imenso mundo de ideias e que continuemos a nos encontrar nas linhas de nosso Correio. Nadia Luz Lima
EM HOMENAGEM AOS
100 ANOS DE CHICO XAVIER Livros a partir de
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Que em 2011… Olhemos sempre para frente com ideias novas, mas sem nos esquecermos do passado. André Paixão
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ESPECIAL
FELIZ 2011!
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FOI ASSIM…
Lembranças do
coma
Por HAMILTON C. RODRIGUES
O
companheiro do centro espírita mostrava-se muito agitado, ansioso e apreensivo diante da cirurgia que iria realizar dentro de poucos dias, contrastando com seu comportamento habitual de calma e tranquilidade. Conhecia-o há anos pelo trabalho assistencial da sopa fraterna, que realizava juntamente com a esposa. Poucos dias antes do diagnóstico de hérnia de hiato e esofagite, havia-me procurado para uma consulta médica. Teria mesmo que operar, um procedimento de rotina, dentro dos conceitos da medicina atual, uma cirurgia relativamente simples, laparoscópica, com alta prevista para no máximo 48 horas. Uma parada cardíaca e insuficiência respiratória aguda pós-cirurgia, porém, levaram-no do centro cirúrgico para a UTI. Ali ficou três dias, em coma, respirando por aparelhos. Três dias depois, sentado na cama, muito pálido, ainda com máscara de oxigênio, despertou, reconheceu-me e perguntou se já havia sido operado. Recuperado, com bons prognósticos, sem sequelas cerebrais ou cardíacas, queria um remédio para ajudá-lo a dormir, sem se dar conta de que já estivera dormindo há 72 horas. No dia seguinte, já no quarto, aparência melhorada, havia ainda muita ansiedade e confusão mental. Receitei-lhe um medicamento homeopático. Melhora rápida, três dias depois, já estava de volta ao centro espírita para assistir à palestra e receber um passe. Mas o interessante mesmo foi o que relatou. Ficara em coma, aparentemente inconsciente, mas sua mente, ou espírito, trabalhara intensamente. www.correiofraterno.com.br
Lembrou-se de fatos antigos de sua vida, de detalhes que realmente o impressionaram – da colcha cor-de-rosa que sua mãe estendia sobre a cama, dos gibis do Tio Patinhas que lia quando criança. Viu antigos parentes e um amigo que já havia desencarnado. Ao perguntar-lhe o que fazia naquele lugar, o amigo respondeu “só vim te ver”. Curioso também é que percebeu, provavelmente na terça-feira à noite, no horário do trabalho espiritual do centro; os colegas espíritas visitando-o na UTI, cada um trazendo-lhe uma flor branca. Contou até mesmo que sentia a emoção das pessoas. Das coisas ruins, ficara a sensação de algo girando ao seu redor, uma mão sobre seu rosto e a figura ameaçadora de uma espécie de Homem-Aranha, grudando-se no teto, quando uma amiga pediu-lhe que mentalizasse uma luz azul. Foi quando apareceu a figura de Jesus. “De seu peito saía uma facho de luz azul que me envolvia”, destacou. Apesar de ser um relato sucinto, esse é um recado para aqueles que só acreditam na matéria e também um alerta para parentes e amigos quantos ao cuidados com os doentes em coma, pois seus espíritos muitas vezes se encontram em estado de extrema sensibilidade e sintonia psíquica. Esses fatos acontecem todos os dias e são relatados em livros, bastando observá-los e estudá-los. Diante de tanta riqueza de informações, como é possível ser indiferente à vida espiritual? Agora você pode enviar o seu FOI ASSIM em vídeo para o nosso site. Veja em www.correiofraterno.com.br/foiassim. As melhores histórias serão premiadas com livros!
Hervé Cordovil encontra Noel Rosa em centro espírita Por ALTAMIRANDO CARNEIRO Em 12 de outubro passado, em programa especial para homenagear o centenário de Noel Rosa (1910-1937), o cantor Rolando Boldrin, apresentador do Sr. Brasil (TV Cultura), comentou sobre o samba Vila Isabel no espaço, musicado pelo maestro Hervé Cordovil (1914-1979). A canção fez muito sucesso na época de sua gravação, em 1964, na voz da cantora Vera Maria. Bondrin revelou que Hervé lhe contara que certo dia estava passando por um centro espírita e sentiu uma imensa vontade de entrar. Durante a reunião, um médium anunciou que o cantor e compositor Noel Rosa estava lhe dizendo que havia um amigo dele ali presente. Solicitaram que ele então se apresentasse. Hervé ficou quieto, achou que não era com ele. Numa segunda vez, passando pelo local, sentindo-se novamente atraído, entrou no centro e escutou a mesma história. O maestro não resistiu e, enfim, se apresentou, inseguro, como parceiro de Noel em algumas canções, quando este ainda estava encarnado. Foi assim que ao amigo foi dada, então, uma letra de música, psicografada, de autoria do Espírito Noel Rosa. Como afirmou Boldrin “a letra faz realmente muito sentido”, mesmo porque há uma inconfundível relação com seu famoso samba Feitiço da Vila. Entre os sucessos de Hervé Cordovil, destacam-se Meu pé de manacá, Vida do viajante, Sabiá lá na gaiola, as versões Biquíni de bolinha amarelinha e Rua Augusta. Mas genuína parceria (letra da espiritualidade e música da Terra) ficou também registrada na história de sua discografia – Vila Isabel no Espaço / música, Hervé Cordovil/ letra (psicografada) Noel Rosa”. Eis a letra: Minha “Vila” agora é outra Pois valente, nesta vila, Muito longe da “Isabel” É aquele que perdoa, Meu papel agora é doutra Que padece e não estrila, Qualidade do papel Não é rei nem quer coroa... Que representei na Terra, Se eu fizesse agora um hino... Andando de deu em deu, Ah! Se um hino eu compusesse... Alma voltada pro samba, Começaria com sino, Nada voltado pro céu!... Terminaria com prece, Prece serena, tranquila... Se eu fizesse agora, um samba E teria este pedaço: Ia ter mais harmonia Não teria gente bamba, “ Faça, Senhor, lá da Vila Não teria valentia, A Vila Isabel do Espaço!” Entre no nosso site, assista ao vídeo e saiba mais sobre a obra de Noel Rosa. (www.correiofraterno.com.br)
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Na incerteza do que fazer, o homem deve perguntar-se como desejaria que se fizesse com ele na mesma circunstância: Deus não poderia lhe dar um guia mais seguro do que a própria consciência. (O livro dos espíritos, 876) Por ANDRÉ TRIGUEIRO
N
ão basta seguir à risca a legislação ambiental para ser sustentável. Ser ecoeficiente nos meios de produção atenua impactos, mas não resolve a questão. A obtenção de selos e certificações confirma o compromisso de fazer o melhor possível, mas fazer o melhor possível nem sempre é o suficiente. É dura a constatação de que a sustentabilidade – entendida como conceito central de um modelo econômico, político, social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades – ainda é uma utopia. Estamos à procura de um novo modelo econômico que assegure ao mesmo tempo a produção de riqueza bem como a geração de emprego e renda. Uma alternativa ao sistema hegemônico no mundo, e descrito há quase 18 anos
no relatório final da Rio-92 como um modelo de desenvolvimento “ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto”. Mas enquanto as ciências econômicas não perceberem o óbvio –os limites estabelecidos pela capacidade de suporte do planeta e os riscos inerentes ao colapso dos ecossistemas, amplamente denunciados pelas comunidades científica e acadêmica –- continuaremos privilegiando o velho e surrado mantra do capitalismo que elege o melhor negócio como sendo aquele que promove a maximização dos lucros no menor intervalo de tempo possível. Evidentemente que isso não é sustentável. O “business as usual” preconiza horizontes sombrios no longo prazo em detrimento de uma pretensa altíssima taxa de retorno do capital investido no curtíssimo prazo. É preciso fazer uma escolha, como adverte o economista Eduardo Giannetti da Fonseca no livro
O valor do amanhã (Companhia das Letras, 2005). Trata-se de uma escolha ética, capaz de inspirar novos modelos de planejamento onde a justa pretensão do lucro se adeque aos novos tempos. Qual a civilização que queremos? A que reforça as expectativas de que para sermos felizes precisamos consumir, um dia, o que um americano médio possui (mesmo sabendo de antemão que não há planeta suficiente para isso)? Ou podemos almejar outro modelo civilizatório, onde todos tenham direito a uma vida digna e plena, com a satisfação de suas necessidades básicas – alimentação, saúde, moradia, educação, lazer, etc – e a chance de cada um poder desenvolver suas potencialidades? Nessa civilização, os meios de produção seriam capazes de satisfazer necessidades demarcadas por uma realidade inexorável: ou a economia se ajusta aos limites do planeta, ou não haverá planeta para suportar a economia.
Mudar a cultura gerencial, o jeito de fazer negócios e de se planejar os rumos de uma empresa não são uma opção, uma alternativa ou um capricho. Esta nova dimensão ética já é realidade onde exista a compreensão de que aquilo que não for bom para todos, não será bom para ninguém. Quando quis saber sobre as leis morais, Kardec perguntou aos Espíritos (1857) se Deus, dando ao homem a necessidade de viver, sempre lhe forneceu os meios para isso. A resposta: – Sim. Se não os encontra, é por falta de iniciativa. Deus não poderia dar ao homem a necessidade de viver sem lhe dar os meios, por isso faz a Terra produzir e fornecer o necessário a todos, porque só o necessário é útil. O supérfluo nunca é. André Trigueiro é jornalista, apresentador do Jornal das Dez e editor do programa Cidades & Soluções, na Globonews. www.mundosustentavel.com.br
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