FRATERNO
ISSN 2176-2104
CORREIO
Uma análise espírita da história Leia a entrevista com a pesquisadora e doutora em história, Nadia Luz. Págs. 4 e 5
SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o
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MEDO, INDIFERENÇA, PRECONCEITO
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erta vez, diante da pergunta: “quem é o criminoso”, Emmanuel sabiamente respondeu: “qualquer um de nós que foi descoberto”. O assunto abordado nesta edição não pretende dar voz a qualquer uma das partes diariamente envolvidas em infelizes ocorrências – vítimas, familiares ou criminosos, mas rastrear os nossos sentimentos, muitas vezes contraditórios, considerando o esforço para a nossa prática sobre tudo o que aprendemos no Evangelho. O editor Cristian Fernandes, levado às grades por acusação infundada, conviveu por quatro meses com detentos em São Paulo. Ele traz uma visão diferenciada, num depoimento real sobre o outro lado da história, mostrando-nos que criminosos não podem ser considerados seres à parte da sociedade. “São pessoas que agem de maneira ruim em determinadas situações. Fora disso, são boas com suas famílias e sentem falta da sua convivência! Quando você olha, tendo a certeza de que todos somos criaturas que batalham pelo crescimento espiritual, consegue criar uma relação isenta de preconceito”. Leia mais nas páginas 8 e 9.
Centro espírita sustentável Iluminação, ventilação natural, coleta de água da chuva, adaptação em válvulas de descargas. Dicas de como ajudar a sua casa espírita ser mais ecologicamente correta você encontra em artigo de André Trigueiro. Leia na pág. 15.
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Encontro reúne 450 jovens no Alto Paraíso - GO Nem a chuva que teimava em não dar trégua foi capaz de atrapalhar a programação da 22ª Confraternização das Mocidades Espíritas do Movimento da Fraternidade, um dos principais encontros da OSCAL – Organização Social Cristã-Espírita André Luiz, na cidade da Fraternidade, na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Leia na pág. 3.
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CORREIO FRATERNO
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EDITORIAL
Refletir
para não perder a história
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empre que entramos em contato com as dificuldades da Humanidade, bate em nosso coração uma sensação estranha, divididos que ficamos entre as lições aprendidas no espiritismo e o dia a dia que nos sacode com tsunamis, assaltos, guerras, doenças, fome. Sabemos que nada acontece por acaso, mas a realidade dói. E assusta. A Terra passa por momentos de ajustes rumo à regeneração, exigindo-nos maturidade na prática da fé raciocinada, algo nada fácil numa época de crise de valores. Esta edição é um convite à reflexão sobre a atuação dos espíritos em sua multi-
vivência – como encarnados e desencarnados. Quem somos? O que sentimos? Por que agimos assim? São questões sobre as quais o espiritismo se debruça e explica. Seja na reportagem sobre a criminalidade ou na entrevista com Nadia Luz, que aborda a psicografia na pesquisa acadêmica; seja nas dicas de André Trigueiro para um centro espírita sustentável, ou nas reflexões de Rita Foelker, sobre a sabedoria da justiça divina, e no ensaio de George De Marco sobre o tanto que reclamamos,
Uma ética para a imprensa escrita Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.
o Correio traz, enfim, assuntos especiais para exercitarmos o que temos de mais importante em nossa essência inteligente: pensar. E tem mais, muito mais. Equipe Correio Fraterno
• Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.
CORREIO DO CORREIO No estilo modernidade Parabenizo a equipe do Correio Fraterno, pois além de utilizar um estilo de jornalismo ético, claro, sintético, moderno e profundo, vem selecionando assuntos ligados ao desenvolvimento da sociedade de nossos dias, sem preconceitos ou tabus, cautelosos ante polêmicas improdutivas, com alteridade, dentro de uma visão espírita, também revista e aprofundada em seus significados.
Nós, que por oito anos dirigimos o jornal Terra Azul, editado pela Instituição Beneficente Nosso Lar (desativado por diversos motivos a partir do ano 2010), estamos tendo a satisfação de ver o mesmo empenho que nos movia de projetar a perspectiva espírita sobre os problemas e as situações sociais que nos envolvem a todos nessa fase de acelerada transição para a etapa da regeneração, em que a Terra se encontra.
Longevidade para o Correio Fraterno sob as bênçãos do Pai divino! Nancy Puhlmann Di Girolamo, São Paulo, SP Dona Nancy (dedicada trabalhadora do movimento espírita em São Paulo) nos enche de alegria com seu reconhecimento e nos encoraja em nossas escolhas, para que a divulgação do espiritismo acompanhe a modernidade. E também para que não nos esqueçamos da importância dos que nos antecedem e tão bem nos ensinam. Equipe Correio Fraterno
Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br
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• Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
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ACONTECE
COMEMOFRA O exercício fraterno em encontro de mocidades Por ALEXANDRA SILVA e ANDRÉ PAIXÃO
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22ª COMEMOFRA– Confraternização das Mocidades Espíritas do Movimento da Fraternidade, que acontece anualmente no carnaval, na Cidade da Fraternidade, em Alto Paraíso, GO, reuniu este ano mais de 450 pessoas, entre jovens, crianças e adultos. Já tradicional como um dos principais encontros nacionais da OSCAL – Organização Social Cristã-Espírita André Luiz, o evento é realizado desde 1989, num clima de extrema descontração, alegria e uma energia muito especial. A Cidade da Fraternidade é uma fazenda na Chapada dos Veadeiros, criada na década de 60, inicialmente para abrigar crianças carentes das várias regiões do Brasil. Teve sua proposta alterada e hoje mantém suas atividades voltadas para a comunidade em geral, em especial educacionais, através do Educandário Humberto de Campos e do projeto Rosa da Esperança. O encontro desse ano teve como tema “O homem de bem”, fundamentado no Evangelho e no livro Agenda cristã, de André Luiz. Contou com participantes de diversos estados do país e de sete regiões fraternas, além dos moradores da região, que se divertiram, estudaram e se integraram, fazendo novas amizades e vivenciando a fraternidade, num ambiente rural, no cora-
ção do Brasil, onde não há sinal de celular e outras tecnologias. Televisão e internet ali são esquecidas. Inicialmente dividida em três ciclos – infância, adolescência e juventude –, cada qual com suas respectivas comissões pedagógicas responsáveis pelos estudos, integrações e música, a COMEMOFRA teve esse ano um ciclo a mais, o dos adultos, como forma de se estudar a viabilidade do encontro abranger, também na parte de estudos e integração, toda a família. Envolvendo diversos colaboradores, com equipes de trabalho de apoio para alimentação, serviços gerais, limpeza e secretaria, a Confraternização é totalmente coordenada e planejada pelos jovens das Mocidades do Movimento da Fraternidade. As equipes são estruturadas e divididas pelas próprias regiões integrantes, responsáveis por realizar os trabalhos propostos. Para as crianças houve muita brincadeira, sempre com o foco em estudos e lições relacionadas à moral cristã. Os adolescentes ficaram no acampamento, exercitando o trabalho em equipe e participando dos estudos e integrações. Para a juventude, diversas técnicas mostraram o que faz, como age e como se tornar um homem de bem. Para Tainá Cavalcanti, de São Bernardo do Campo, estreante no evento, a CO-
Adultos, jovens e crianças: integração para toda a família
MEMOFRA trouxe a sensação de se estar num ambiente completamente diferente do dia a dia! “Você esquece os problemas. É só alegria”. “As COMEMOFRAs representam a prática daquilo que o Movimento da Fraternidade prega: a fraternização, nesse caso, entre os jovens espíritas de vários locais distantes. Essa congregação ativa é o mais poderoso instrumento de transformação social do mundo, porque todos estão unidos em nome de Jesus”, comenta Rogério Pietro, dirigente de mocidade espírita na região do ABC. A chuva que atingiu a região nos dias do encontro não impediu que as atividades fossem realizadas com muita animação. Afinal, os objetivos estavam bem definidos desde o início da organização do evento: a
melhor COMEMOFRA é você quem faz e fraternidade é o amor que se expande nos corações humanos, promovendo a interligação das criaturas numa mesma pulsação de sentimento. (Colaboraram na edição deste texto e imagem: Alana Angélica Ferreira e Antonio Lovato). Saiba mais: www.correiofraterno.com.br e http://www.mofrasoul.blogspot.com
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ENTREVISTA
Simetrias históricas A psicografia como fonte de pesquisa acadêmica Por ELIANA HADDAD JULIA NEZU
Natural de Franca, SP, Nadia Rodrigues Alves Marcondes Luz Lima sempre foi apaixonada por História, disciplina com a qual trabalha há uma década, após decidir deixar o cargo de oficial maior de um cartório na mesma comarca paulista. Bolsista da CAPES desde sua graduação na UNESP- Universidade Estadual Paulista, a pesquisadora atua há quatro anos como docente na UNIFRAN- Universidade de Franca, SP. Suas atividades como espírita também têm sido marcantes, seja como voluntária, por uma década, na diretoria do Hospital Allan Kardec de Franca, ou como uma das coordenadoras da Coleção Espiritismo na Universidade (Editora UNIFRAN/CCDPE Eduardo Carvalho Monteiro). Para ela, porém, seu mais importante trabalho foi a participação na tradução da obra Loucura sob novo prisma, de Bezerra de Menezes, na Argentina, o que lhe permitiu explicar como a tese influenciou o surgimento de mais de uma centena de hospitais psiquiátricos no Brasil que oferecem a terapêutica de desobsessão. Nadia é mesmo confiante, uma entusiasta sobre a necessidade da divulgação e introdução das ideias espíritas na Universidade. E foi na escolha de seus temas de pesquisas acadêmicas que mostrou ainda mais sua ousadia: mestrado em história, publicado com o título Ruptura na história da psiquiatria no Brasil: espiritismo e saúde mental; e doutorado defendido em dezembro passado sobre o tema Fogo selvagem, alma domada, a doença e o Hospital do Pênfigo de Uberaba: história e psicografia (UNESP, Franca). Entrevistada pelo jornal Correio Fraterno, ela explica como conseguiu enfrentar metodologicamente o mundo acadêmico, introduzindo a interpretação espírita nos fatos históricos.
Nadia Luz: A psicografia como fonte documental da História
A escolha do tema de seu doutorado foi influenciada por seu conhecimento sobre a espiritualidade e as reencarnações? Nadia: Quando ingressei no programa de pós-graduação, meu projeto de pesquisa propunha pesquisar mulheres médiuns que houvessem sido empreendedoras, fundando escolas e hospitais. Essa parte ainda permanece aberta à pesquisa. A proposta era expor que a possibilidade do intercâmbio mediúnico havia proporcionado a essas fundadoras a confiança e a certeza para prosseguir com seus ideais. Após seleção dos nomes, iniciei pesquisa em 2008, com a quase centenária Aparecida Conceição Ferreira, a dona Aparecida do Fogo Selvagem, fundadora do Hospital do Pênfigo de Uberaba. De imediato, tivemos a certeza de www.correiofraterno.com.br
que a tese haveria de privilegiar o trabalho daquela extraordinária mulher, desdobrando-se sobre a história desta terrível doença, cuja etiologia permanece ainda desconhecida pela ciência, mas que em obra psicográfica de Chico Xavier encontramos subsídios para uma oportuna discussão. Como foi possível fazer em tese acadêmica uma análise espírita da história? Nadia: Fiz uso da psicografia como fonte documental de pesquisa. O espiritismo no Brasil, além de religião, deve ser compreendido também como um segmento cultural. Não há muito que ser discutido. Se é segmento cultural, implica que determinada parcela da população acolhe seus princípios transformando-os em modos de vida, em
visões de mundo. Cabe à universidade fazer esta leitura das mudanças socioculturais. Se é uma filosofia, uma ciência e uma religião que se dispõe a crer e agir em conjunto, espíritos encarnados e desencarnados; se tem milhares de seguidores ou adeptos e que, há mais de um século, vem fundando hospitais considerados pelo Estado brasileiro como de utilidade pública municipal, estadual e federal, como no caso de Uberaba, há que se dar voz a este segmento. Como você conseguiu enfrentar, metodologicamente, o mundo acadêmico com as interpretações espíritas? Nadia: A interpretação espírita das doenças, bem como do que se compreende por saúde já não mais surpreende. Em nossa tese, fizemos uma análise científica e espírita sobre a
história da doença pênfigo foliáceo endêmico ou fogo selvagem. O alto índice de cura, registrado nos documentos da instituição de saúde de Uberaba, atestou que houve um fator diferencial. Além dos documentos, tivemos acesso a depoimentos orais, à observação participativa junto aos doentes, funcionários e fundadora do hospital, além da frequência às reuniões de desobsessão. Na tese, você cita obras do escritor Herminio Miranda como fontes de pesquisa, trazendo a público o conceito de simetrias históricas. Do que se trata? Nadia: A região do Triângulo Mineiro, tradicionalmente no ambiente espiritual exposto há décadas por diversos grupos mediúnicos, traz notícias de grupos de espíri-
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ENTREVISTA tos que por ali reencarnaram e que tiveram, assim como em outras regiões brasileiras, participação em vidas pregressas em inquisições, guerras e extermínios de aldeias, ataques corsários a navios, enfim, espíritos que no passado optaram pelo ato de atear fogo a corpos humanos. Herminio Miranda, na obra Os cátaros e a heresia católica, expõe com riqueza o extermínio dos cátaros na região francesa de Toulouse, no Languedoc, pelo grupo liderado por Domingos de Gusmão, fundador da ordem dos pregadores, dando início às inquisições europeias. Com a morte do fundador, a ordem passou a ser denominada ordem dominicana e foi a maior responsável na história pelo ato de se atear fogo a corpos humanos. Acontece que entre ação e reação, Uberaba acaba por ser o primeiro núcleo a receber membros desta ordem no Brasil, os quais procediam coincidentemente de Toulouse. Na Revista Espírita de novembro de 1861, Allan Kardec, após o episódio do Auto de Fé de Barcelona, faz publicar uma comunicação de São Domingos. Estas tantas ‘coincidências’ nos fizeram partir em busca de métodos de análise. Foi então que fiz contato com Herminio Miranda, solicitando sua orientação sobre o que ele já vinha chamando em algumas de suas obras por simetrias históricas. Como vocês desenvolveram esse método de análise histórica? Nadia: Das conversas via e-mails com o ‘velho escriba’, como Herminio se autodenomina, nasceu uma grande simpatia. Surgiram desdobramentos na pesquisa e pude compreender, por exemplo, que junto a Allan Kardec, na França, estiveram encarnados os mesmos espíritos que outrora integravam o grupo cátaro. O conhecimento intuitivo na pesquisa histórica, auxiliado pela abertura que o espiritismo nos possibilita, permite uma nova filosofia da história. Ela está repleta de personagens num ir e vir cíclico e espiral, passíveis de colher as reações de suas próprias ações escolhidas pelo seu livre-arbítrio. Acontecimentos de Uberaba não são apenas coincidentes com a história: são simétricos. A lei de ação e reação pode ser passível de análise à medida que juntamos os fatos históricos. Que análise poderíamos fazer sobre a mudança de Chico Xavier de Pedro Leopoldo para Uberaba?
Nadia: É muito interessante. Em 1959, Chico deu início a um trabalho de socorro a vítimas de queimaduras, recebendo do espírito Scheilla o amparo necessário. Dois anos antes, em 1957, dona Aparecida começava a socorrer os doentes do fogo selvagem. Juntos, oram. E, à vista de todos, a água muda de cor nas banheiras e tinas em que se encontram os doentes. A espiritualidade participa do processo de cura. Nas reuniões semanais de desobsessão, a que chamamos de terapêutica desobsessiva, comunicam-se espíritos partícipes de inquisições, vítimas queimadas supostamente como heréticos ou por corsários nos navios carregados de ouro e prata que par-
As idas e vindas do espírito entre uma reencarnação e outra ocorrem no tempo na história tiam do novo mundo, das Américas rumo à Europa. Cada caso traz sua história e, conforme os espíritos vão sendo esclarecidos, visivelmente ocorrem melhoras que se desdobram em alta médica aos pacientes. Podemos considerar que o conhecimento histórico e a evolução espiritual da humanidade caminham juntos? Nadia: Ainda no corpo da tese, tivemos oportunidade de expor que o espiritismo é farto em afirmar que há uma filosofia da história não linear como nos mostra a filosofia da história do judaísmo ou do catolicismo conservador por exemplo. As idas e vindas do espírito entre uma reencarnação e outra ocorrem no tempo, portanto,
na história. A filosofia da história implica buscar um sentido para a história. O sentido espírita aponta para ciclos espirais evolutivos e involutivos, no sentido externo e interno, sendo o involutivo não no sentido de retroagir, mas do conhece-te a ti mesmo, do esforço para a reforma íntima. Por exemplo, quando Emmanuel em Há dois mil anos... narra suas vidas passadas, expõe seus erros, suas atitudes que geraram dolorosas consequências a outrem, para em seguida, na obra Cinquenta anos depois, já adiantar-se em expor que suas ações pretéritas causaram reações, as quais sem pejo, ele prossegue narrando. Este exercício da escrita narrativa produz um depoimento íntimo capaz de expor sua própria introspecção, identificada como involução. Isso também é sugerido ao leitor, encorajando e reeducando a cada um. Você considera importante registrar ou transcrever algumas comunicações mediúnicas para que possam um dia vir a servir como pesquisa? Nadia: Em 2008, a Universidade Federal de Santa Catarina sediou o I Congresso Brasileiro de Saúde Mental, promovido pela Associação Brasileira de Saúde Mental, onde me inscrevi para apresentar a tese da loucura sob o prisma da obsessão, de Adolpho Bezerra de Menezes. Ninguém até então pensara em apresentar Bezerra como um médico pesquisador, cuja obra A loucura sob novo prisma, fora escrita com metodologia de pesquisa e defendida como tese frente a seus pares, médicos brasileiros e europeus. Herminio Miranda, nos quatro volumes de Histórias que os espíritos contaram [Correio Fraterno], transcreve comunicações mediúnicas de cunho histórico, ricas em informações geográficas, antropológicas, assim como as obras psicografadas por Marilusa Moreira Vasconcellos, ditadas pelo espírito Tomás Antonio Gonzaga [Radhu]. Quem lê a série histórica de Emmanuel, muitas vezes nem percebe os detalhes que faz questão de registrar. São informações dadas pelos próprios partícipes do fato histórico. Isto tudo trará num futuro bem próximo uma reviravolta na historiografia brasileira, em se considerando o espiritismo como segmento cultural, especialmente porque surgirá a necessidade de se rever o conceito de testemunho do fato histórico.
LIVROS & CIA. IDE Editora Tel.: (19) 3541-0077 www.idelivraria.com.br Anuário Espírita 2011 de diversos autores 304 páginas 13,5x18,5 cm
Mythos Books Tel.: (11) 3021-6607 www.mythoseditora.com.br Pedagogia das diferenças – como educar a nova geração de Eugenia Maria 176 páginas 14x21 cm
Editora Allan Kardec Tel.: (19) 3242-5990 www.allankardec.org.br 13 histórias de medo de Ademar Lopes Júnior 236 páginas 14x21 cm
Editora Correio Fraterno Tel.: (11) 4109-2939 www.correiofraterno.com.br O exilado de Herminio C. Miranda 304 páginas 14x21 cm
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MARÇO - ABRIL 2011 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
BAÚ DE MEMÓRIAS
ACERVO WASHINGTON FERNANDES
Charles Richet,
a visita de Chico Xavier e muitas memórias Por IZABEL VITUSSO RAQUEL MOTTA
IZABEL VITUSSO
Charles Richet não se declarava espírita, mas um estudioso dos fenômenos metapsíquicos
Raymundo de Carvalho Palhano – contemporâneo de Bezerra de Menezes na faculdade, um dos pioneiros na história do espiritismo no Amazonas
H
á pouco tempo conheci dona Silvia Palhano Braga. Se você assisti à TV vai saber já quem ela é: sogra do médico e escritor Dráuzio Varella, mãe da atriz Regina Braga (a Cecília da novela Ti Ti Ti) e avó do artista Gabriel Braga Nunes (o Léo a novela Insensato Coração), na TV Globo. Agradabilíssima e discreta, em seus quase noventa anos, tem consciência de que algumas passagens de nossas vidas são histórias que não devem pertencer só a nós. E me fez sentir o prazer de descobrir que as melhores memórias são aquelas que chegam sem avisar, nas entrelinhas de um bom dedo de prosa. Quando meu pai nasceu, meu avô já era espírita Nasci em Manaus, em 1922, mas de lá saí com menos de um ano de idade, deixando para trás familiares, como meus avós. Quando meu pai nasceu, eles já eram espíritas. Foi um dos pioneiros do espiritismo no Brasil. Eu vim a saber sobre esse fato muito tempo depois. Talvez porque não se falassem abertamente do espiritismo. Ou porque não faziam questão mesmo. Valiam o que eram, como viviam, fazendo a caridade sem levantar bandeira nenhuma.
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Silvia Palhano Braga: “Vovô passou a trocar cartas com Charles Richet”
Antigamente Parintins [AM] era uma selva e vovô [Raymundo de Carvalho Palhano] era pessoa de posses, culta, e exercia certa influência, em pleno auge do Ciclo da borracha. Além de ser boníssimo, era o único farmacêutico numa cidade em que não havia médicos. O curioso é que ele estudou com [o médium] Bezerra de Menezes na faculdade de medicina no Rio de Janeiro. Mas não chegaram a ser colegas próximos. Esse fato era contado por uma tia que mantinha guardada uma mensagem ditada por Bezerra, em que ele fazia referência sobre isso. Ele nasceu em 1868 e desencarnou com 80 anos. Era admirador da natureza e estudioso, essa era a base dos medicamentos com que trabalhava na farmácia. Certa vez chegou a trocar correspondência com Charles Richet. O pesquisador francês esteve no Brasil e, quando visitou Manaus, saiu um artigo de sua autoria publicado no jornal, com o qual meu avô se impressionou, mas negativamente, porque ao mesmo tempo em que Richet era conhecido como estudioso que aceitava as ideias espiritualistas, alguma coisa contraditória ou incompleta ele disse. Meu avô não teve dúvidas, escreveu para o pesquisador e a
partir daí passaram a se corresponder. A visita e Chico Xavier à nossa casa Mudei-me inúmeras vezes pelo Brasil até chegar na cidade de Lavras, MG, onde fui estudar em colégio presbiteriano. Eu já era jovem e adorava cantar no coral. Mas por força das influências, eu não gostava de nada que fizesse referêcia ao espiritismo. Meu pensamento era: “nós é que estamos com Jesus.” Certa vez [o médium] Chico Xavier foi fazer uma visita a Lavras. Não sei qual o motivo, mas Chico foi à nossa igreja. Sabendo de sua presença, o pastor fez um sermão e à certa altura disse que desafiava
quem conseguisse falar com os espíritos, provocando o médium, que já começava a ficar conhecido. Chico saiu sem falar nada. Chico também esteve em nossa casa. Minha família tinha uma relação de amizade com Rômulo Joviano [chefe do médium na Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo-MG]. Acertado com meu pai [José Martins Palhano], minha mãe comentou comigo que naquele dia fariam uma reunião, com um moço muito bom de Pedro Leopoldo. Era o ano de 1942. Fiquei na expectativa. Vi aquele moço entrando em casa. Ele era mesmo feio e muito tímido. E eu, com desdém, me sentia profundamente importante. Não falei com ele. Segui para o meu quarto. Quando começaram a reunião, fui atacada por um surto de risadas, que fez com que minha mãe logo viesse, a pedido do Chico, me pedir silêncio, porque eu estava atrapalhando a reunião. Na minha ignorância, me dei por vencida, toda orgulhosa. Na verdade, desde cedo eu já sentia a interferência da mediunidade. Desde pequena tinha sonhos e me via saindo da cama, atravessando a parede, coisas assim. Mas a vida foi me levando a entender muita coisa. Anos depois, já morando em São Paulo, fui levada para orientação até o seu Spártaco [Guilardi Spártaco] e comecei a frequentar o Grupo Espírita Batuíra, de onde não saí mais. Já faz 42 anos. A vida não é sempre como a gente quer. E é nessas horas que o espiritismo faz a diferença.
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ESPECIAL
PRISÃO
Entre o preconceito e a indiferença Por ELIANA HADDAD
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revista Veja São Paulo (edição 23 fev. 2011) destacou como capa matéria palpitante, cujo assunto requer a atenção da sociedade – o duro caminho da recuperação dos menores infratores. Presos pelos mais variados motivos, dos atos mais corriqueiros aos mais impressionantes, além de impactos noticiosos na sociedade, provocam inúmeras indagações: Como saber o que vai no coração de cada um? O que levam pessoas agirem de formas tão diferentes? O fato é que, disfarçada, fica evidente a incômoda insegurança com relação a esses momentos de desequilíbrio dos comportamentos humanos. E ninguém se atreve a atirar a primeira pedra, muito menos a dizer “desta água não beberei”, porque não pode afirmar-se totalmente livre de fazer aquilo que condena nos outros. Socialmente, a questão é séria e multidisciplinar. Cumprida a pena, o infrator estaria quite com a sociedade. Mas não é assim que acontece. Poucos conseguem desfrutar efetivamente das mesmas oportunidades de quem nunca passou pela detenção. É difícil recomeçar. Exemplos? Ninguém quer morar com um presídio por perto. O próprio imóvel desvaloriza-se. Você daria, sem restrições, trabalho ou abrigo para um ex-detento ou concordaria que seus filhos convivessem com um deles? Não se pretende aqui de forma ingênua retirar-se a gravidade dos crimes, nem desprezar os problemas sociais causados pela delinquência. Temos medo, sim. E, se já é difícil perdoar, mais difícil ainda é exercer o perdão com relação ao ‘inimigo’. Natural. www.correiofraterno.com.br
“Esse sentimento resulta de uma lei física: a da assimilação e repulsão dos fluidos”, explica O evangelho segundo o espiritismo, no capítulo “Amai os vossos inimigos”, evidenciando inclusive o ‘equívoco’ sobre o sentido da palavra amor nessas circunstâncias, ao esclarecer que Jesus não quis dizer que se deve ter pelo inimigo a ternura que se tem para com o amigo, pois a ternura supõe confiança.
O criminoso é qualquer um de nós que foi descoberto (Emmanuel) A visão espiritual Ninguém sabe o que se passa na intimidade de cada ser, com suas milenares experiências. Por isso fica impossível saber o que leva o outro a praticar certas ações. “É pelo pensamento que o homem goza
de uma liberdade sem limites, porque esse não conhece entraves. Pode-se impedir sua manifestação, mas não aniquilá-lo”, explica o espiritismo. Por isso somente a Deus, pela perfeição, caberia o direito de julgar. A justiça divina não é externa, mas se dá no foro íntimo de cada criatura, na própria consciência, onde está escrita a lei eterna e imutável do amor, não por vingança ou castigo, mas pela perfeição do Criador na criatura, que deixa sua marca como autor, a marca do Bem na obra. Na convivência com detentos (ver texto ao lado), percebe-se a extensão da explicação dos espíritos sobre a justiça, na lei humana. Misturam paixões aos julgamentos, aos sentimentos, ao considerarem os fatos sob um falso ponto de vista. Certa vez, diante da pergunta “quem é o criminoso?”, respondeu Emmanuel sabiamente a Chico Xavier: “Qualquer um de nós que foi descoberto”, referindo-se claramente à nossa fragilidade como seres que ainda se enganam, crendo-se inatingíveis por qualquer pedra em nossos telhados de vidro. Não está aqui, mais uma vez, em questão o que leva as pessoas a terem comportamentos destrutíveis para com a sociedade. Muito menos conivência com o mal, valendo recordar, aliás, exemplos amplamente divulgados pela mídia de pessoas que perdoaram algozes, assassinos de seus próprios filhos, libertando-se do ódio, do sentimento de vingança, o que mostra que a prática do amor não é uma utopia. O potencial do perdão está em todos nós. “Sois luzes, podeis fazer o que eu faço e muito mais”, alertou Jesus.
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Quando estive preso Por CRISTIAN FERNANDES
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ui preso no mesmo dia Cristian Fernandes: Percebi que a grande em que compareci à maioria dos presos delegacia para prestar usava máscara para esclarecimentos. Claro que não demonstrar a fraqueza por estar tive grande receio sobre o afastado da família que aconteceria atrás das e por não conseguir mudar de vida grades, já que ouvimos e lemos muita coisa a respeito. Mas a grande surpresa foi perceber que são apenas pessoas que escolheram um caminho de vida diferente. Percebi que a grande maioria usava uma máscara para não deixar demonstrar a fraqueza por estar ali afastado da família e por não conseguir mudar de vida. Quando as conversas ficavam mais frequentes e os detentos conseguiam se abrir, era essa fraqueza que aparecia de forma intensa. Por que chegam a esse ponto? Como acontece com qualquer um de nós, somos levados a fazer diversas escolhas ao longo da vida. Para grande parte deles, as escolhas não eram muito saudáveis, e acabaram entrando neste mundo de crimes. Sair dele se tornava uma tarefa muito difícil, assim como é difícil para nós mudar atitudes às quais nos acostumamos. Existiam, porém, muitos adolescentes que estavam ali apenas por não terem encontrado no lar uma educação moral firme; claro que a falta de educação não justifica a escolha que eles tomaram, mas existe a responsabilidade dos pais. Os criminosos não são pessoas más, mas pessoas que agem de maneira ruim em determinadas situações, como o momento de um crime. Fora disso, são pessoas boas com suas famílias, com seus amigos, amam seus pais, suas esposas, seus filhos. Sentem muita falta da convivência com eles! Quando você olha a pessoa tendo certeza de que todos somos criaturas que batalham pelo crescimento espiritual, consegue-se criar uma relação isenta de preconceito, e penso que só consegui isso em função do conhecimento
do espiritismo. E era divertido compartilhar com eles este conhecimento, porque muitos ainda acreditam em céu e inferno e têm medo dos espíritos. Criei com a ajuda de pessoas de fora uma biblioteca espírita circulante, e as histórias que surgiam por causa dos livros eram sempre emocionantes, para eles e para mim. Foram grandes lições. A primeira foi a da paciência, porque eu não sou muito paciente; fiquei preso injustamente por quatro meses, e consegui compreender o que os espíritos falam sobre a fé sincera ser sempre calma e dar a “paciência que sabe esperar”. A segunda lição foi o entendimento de que, por mais distantes que possamos parecer de determinados grupos de pessoas, um objetivo maior nos une: a necessidade de melhor compreender e praticar as leis de Deus. Estive preso com muitas pessoas que representam grande perigo do lado de fora das grades, é verdade, mas durante os meses em que lá estive, fui muito bem tratado por eles. Cristian Fernandes é editor de livros da editora Correio Fraterno e palestrante espírita. Foi acusado e detido indevidamente em 2008, em São Paulo. Sua história foi contada na revista Universo Espírita, edição 59, cuja reportagem pode ser lida no site do Correio Fraterno (www.correiofraterno.com.br). www.correiofraterno.com.br
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QUEM PERGUNTA QUER SABER
Existem anjos? Por PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
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o decorrer da história da humanidade, a espiritualidade esteve misturada a fábulas, mitos e ideias obscuras. A doutrina espírita, ao analisar todo esse misticismo, oferece uma explicação racional e coerente com os dados da ciência. Pensando assim, há quem conclua que os anjos não existam. Não é verdade. Afirma Allan Kardec, em O livro dos espíritos: “O espiritismo não é obra de um homem. Ele é tão antigo quanto a criação. Encontramo-lo por toda parte, em todas as religiões, principalmente na religião católica, com mais autoridade do que em todas as outras, porque nela se encontram os princípios de todas as manifestações: os Espíritos de todos os graus, suas relações ocultas ou patentes com os homens, os anjos guardiães, a reencarnação, a emancipação da alma, a
No espiritismo, acredita-se em anjos? Quem são e o que fazem? Eles podem estar na Terra? Pergunta de Jussara Gimenez – Foz do Iguaçu, PR
dupla vista, as visões, as manifestações de todo gênero, as aparições tangíveis”. Foi Tomás de Aquino, filósofo da
Idade Média, que defendeu serem os anjos criados por Deus como seres incorpóreos e os homens, almas sempre ligadas ao corpo físico. Os anjos seriam, assim, naturalmente sábios e bons, enquanto os homens estariam sujeitos ao pecado. Kardec estudou todos esses dogmas no livro O céu e o inferno, onde há inclusive um capítulo sobre anjos e outro sobre demônios. A explicação é bem simples: todos são espíritos, não existem seres à parte na criação. Os anjos são espíritos mais adiantados, que já viveram no
COISAS DE LAURINHA
a aula de educação espírita as crianças conversam e Ana comenta: – Ontem eu ouvi minha mãe falando com a tia Filó que a Bruna tem cinco anos e tem um amigo invisível. – O que é um amigo invisível? – pergunta Pedro. – É um amigo que ninguém pode ver – reponde Laurinha. – Mas se ela não pode ver, como é amiga dele? – Pedro volta a questionar. Laurinha pensa, pensa e responde – Sei lá. As crianças continuam conversando e achando que amigo invisível não existe porque não dá para ninguém ver, quando a professora entra na sala. – Bom dia, pessoal! – Bom dia! – respondem os alunos. www.correiofraterno.com.br
Administrador de empresas, autor do livro Mesmer, a ciência negada e os textos escondidos. Ed. Lachâtre. E-mail: paulo@mesmer.com.br
Por TATIANA BENITES
O AMIGO INVISÍVEL N
passado como homens e evoluíram vida após vida, agora auxiliando a humanidade em sua evolução. Há os que têm a missão de nos ajudar particularmente. São os anjos da guarda. Todos temos um espírito protetor ligado a nós, em pensamento, não importa a distância (estão em outros mundos, não precisam ficar ao nosso lado literalmente) nos aconselhando, ajudando e nos tirando das enrascadas quando permitido ou necessário. Ninguém está sozinho. Pertencentes a uma ordem elevada, eles ouvem nossas preces e nos ajudam sempre, mesmo que não percebamos. Sabendo disso, além de pedir ajuda, é uma boa ideia agradecer a eles por tudo que têm feito por nós.
Os alunos inquietos começam a murmurar: – Vai, pergunta pra ela – disse Ana. – Pergunta você, foi você quem ouviu – comenta Pedro. Laurinha toma a iniciativa e pergunta: – Professora, é verdade que a Bruna tem um amigo invisível? E a professora responde: – De onde você tirou isso, Laurinha? – Foi a Aninha que ouviu a mãe dela falar. – Então está bem. Vocês já ouviram falar em amigo invisível? – Nããããoo! – respondem em coro. – Vocês acreditam em espíritos, não acreditam? – Acreditamos – respondem. – Pois então, o amigo invisível é um espírito. – Huuum, quer dizer que todo mun-
do tem um amigo invisível? – Pode ser, mas nem sempre nos comunicamos com ele. Algumas pessoas conseguem se comunicar com eles e como nem todos somos capazes de ver os espíritos desencarnados, chamamos de amigos invisíveis – explica a professora. – Ah, agora entendi – responde Laurinha. – E como sabemos onde ele está se não conseguimos vê-lo? – indaga Pedro. – Como... – a professora é interrompida por Laurinha. – Ué, nós não o vemos, mas não somos surdos! O espírito já chega gritando em nosso ouvido: “OLÁÁÁ CHEGUEEEII!” Assim saberemos onde ele está... Achei isso muito fácil. – TEM ALGUM AMIGO INVISÍVEL AQUI? – grita.
olááááá, chegueiiiiii!
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CRÔNICA
Tudo está incrível O e ninguém está
humorista estadunidense Louis CK ganhou fama na internet graças à sua participação no programa de entrevistas Late night with Conan O’Brien, onde cunhou uma frase que reflete bem os tempos atuais, quando a tecnologia faz de tudo para melhorar nosso mundo e, curiosamente, ninguém está satisfeito. “Tudo está incrível e ninguém está feliz”, disse Louis. E passa a comparar o mundo da forma como era “antes” com o “agora”. Ele relembra o telefone com disco que, para ser usado, era preciso girar com o dedo todos os numerais o telefone a ser chamado.. E como era demorado, principalmente quando o número zero aparecia, já que ele ficava no final do disco e tínhamos que esperar que ele girasse por completo. Muitas vezes, antes mesmo de completar a ligação, a operadora já emitia um sinal de ocupado. Sim, existia um sinal de ocupado. E se você tem menos que vinte anos, talvez nunca tenha ouvido um sinal de ocupado e, nem mesmo, um telefone com disco. Mas é dele que vem a expressão “internet discada”. Provavelmente se, de fato precisássemos discar para conectar a internet, a coisa seria muito mais complicada já que hoje entramos em desespero quando o celular sai de área ou quando a internet não conecta. E, se ela demorar mais que cinco segundos para abrir um programa, haja vocabulário chulo e gestos de impaciência diante deste ‘absurdo’! Na entrevista, Louis fala do avião
feliz Por GEORGE DE MARCO
e é curioso como compartilhamos a mesma opinião. Eu demorei a ‘voar’. Antes, avião era coisa de rico. Hoje, além de promoções que fazem com que passagens aéreas custem menos do que as de ônibus, temos o parcelamento. Assim, minha filha de 14 anos já fez seu primeiro voo. Ainda bem que ela adorou. Não é maravilhoso cruzar os ares num aparelho seguro e moderno, encurtando distâncias, sentado numa poltrona sem precisar dirigir ou se preocupar com o trânsito? Não é lindo ver um pouco do mundo lá de cima? Quando voltei de Roma, quis um lugar na janela e me diziam que não adiantava, pois nada se via. Eu insisti e vi, por exemplo, uma parte do deserto do Saara. E vi o oceano enquanto as nuvens deixaram. Ao entrar no espaço aéreo brasileiro, me diverti tentando adivinhar os locais por onde estava passando e, com uma ajuda do mapa exibido a bordo, cheguei mesmo a identificar lugares como a baía de todos os santos, em Salvador. No pouso (ou na decolagem), me divirto identificando os pontos conhecidos. Para quem decola do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, por exemplo, passar por cima e pertinho do Pão de Açúcar é um momento de tirar o fôlego. Mas há os que preferem reclamar do lugar apertado, do lanche servido e do movimento excessivo de pessoas nos aeroportos...
O humorista classifica estas pessoas como “idiotas mimados”. Educadamente eu prefiro chamar de “reclamões mimados”. A doutrina codificada por Allan Kardec educa, reforma, eleva, redime, restabelecendo, pouco a pouco, o domínio da ideia cristã na vida do homem, ensinando-o a compreender a razão da existência terrena, a necessidade retificadora da dor e a justiça divina no processo da reencarnação. O espiritismo é, assim, um roteiro de autoeducação, pois visa tornar cada um de nós melhor, porém respeitando a personalidade humana, porque reconhece nosso livre-arbítrio. Se a doutrina nada impõe, nada exige, nada reclama, é justamente porque não nos compete criticar, reclamar ou julgar – já que cada um é o próprio juiz de suas ações –, e para que estejamos convencidos de que a segurança e o êxito de quaisquer receitas de progresso e elevação solicitam de nós a justa fidelidade ao programa que a vida estabelece em toda parte, a favor de nós todos: reclamar menos e servir mais. Ou seja, agradecer a Deus por estar voando, em vez de reclamar que a poltrona não reclina o bastante... George De Marco é publicitário e radialista. Realiza atividades como expositor e educador de mocidade espírita. E-mail: george@correiofraterno.com.br
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Fonte: As quatro Deusas da Babilônia de Maria Augusta F. Puhlmann. Editora Correio Fraterno, 2011.
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No dia seguinte, 1º. de abril de 1869. (Fonte: artigo publicado pelo Jornal Paris e republicado na edição de maio de 1869 da Revista Espírita) Saiba mais www. correiofraterno.com.br
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Dia 13 de maio, às 20 horas Local: Restaurante São Judas Tadeu – na rota tradicional do “Frango com polenta”. Av. Maria Servidei Demarchi, 1749 – São Bernardo do Campo-SP. Você se diverte e ainda colabora! Informações e convite: (11) 4109-8938. site: www.laremmanuel.org.br
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Encontro de pesquisadores Termina dia 15 de junho o prazo para envio JUN de trabalhos para participação no 7º Encontro da Liga dos Pesquisadores do Espiritismo, a ser realizado em São Paulo, dias 20 e 21 de agosto. Tem foco no debate, publicação e divulgação de pesquisas científicas com temática espírita. Informações e inscrições: E-mail: 7enlihpe-inscricao@ccdpe.org.br.
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7º Encontro Espírita Boliviano A Federação Espírita Boliviana realizará, 22 a 24 ABR de abril o 7º Encontro Espírita Boliviano, comemorando os 150 anos do lançamento de O livro dos médiuns. Local Viña Del Sul, cidade de Tarija. Informações: www.febol.org. Tema: Mediunidade com Jesus: Luz inapagável. Conferências com Divaldo Pereira Franco e José Raul Teixeira.
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2ª Semana de Arte Espírita de Vitória da Conquista De 19 a 23 de abril, no Centro de Convenções ABR Filó Prates. Bahia. Música, dança, oficinas, exposição de artes plásticas, palestras e seminário. Realização: União Espírita de Vitória da Conquista. Informações: Fone (77) 34246323 8101-0495. Site: www.uevc.com.br/portal/
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COMJESP - Encontro de Jovens em Guarulhos Confraternização das Mocidades e Juventudes ABR Espíritas do Estado de São Paulo. De 21 a 24 de abril. Realização USE-SP, organização: Departamento de Mocidade. Tema: O essencial é invisível aos olhos. Local: Universidade de Guarulhos, Centro. Site: www.usesp.org.br/comjesp.
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Antes de se recolherem a seus APOSENTOS pessoais, as quatro DEUSAS da BABILÔNIA encontrando suas SERVAS preparadas para fazer-lhes a toalete da NOITE, despediram-nas com um SINAL. Estavam ansiosas para ficar a sós e trocar CONFIDÊNCIAS. Saluí chama as companheiras para um canto do SALÃO, reservado para as visitas do rei, recinto que dava CAMINHO aos quatro quartos de REPOUSO das deusas. Esse salão fora DECORADO segundo a idealização do próprio rei, mas continha o toque PESSOAL das jovens, que o aprimoraram bastante.
Allan Kardec desencarnou no dia 31 de março de 1869 vitimado por um aneurisma. Depois de quanto tempo ele se manifestou através de médiuns?
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9º Encontro Clube Amigos da Boa Nova Um encontro entre comunicadores, ouvintes e ABR colaboradores da Rádio Boa Nova. Dia 10 de abril, das 9h00 às 18h. Local: Rua João Cavalari, km 225 da Via Dutra. Informações: Fone (11) 2456-7109. http://www.radioboanova.com.br
ENIGMA
Encontre no diagrama abaixo as palavras em destaque
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Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
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Simpósio Envelhecimento e Espiritualidade A Associação Médico-Espírita de Sorocaba reaABR liza no dia 17 de abril o I Simpósio Envelhecimento e Espiritualidade – Por que e para que envelhecemos, a partir das 14h30, na Sociedade Espírita e Filantrópica Irmã Francisca, à rua Tamandaré, 116, Sorocaba, SP. Informações e inscrição: eventoamesorocaba@yahoo.com.br
CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO
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Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fique atualizado com o que acontece no meio espírita. Participe. www.correiofraterno.com.br
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ANÁLISE
É impossível barganhar L com a lei
ivros sobre o segredo da lei de atração, sobre como obter sucesso, dinheiro e amor na vida por meio da aplicação de ‘mantras’ e exercícios, não faltam nas livrarias. Eles são baseados numa tese correta quanto ao pressuposto, mas equivocada nas suas conclusões. O pressuposto é a capacidade do pensamento focado de potencializar-se, gerando uma atmosfera em
espiritual Por RITA FOELKER
torno do indivíduo, segundo a sua qualidade e intensidade, criando condições para a realização de certos objetivos. De fato, a ação do pensamento é real, sua força é efetiva, como não deixam dúvida trechos diversos da codificação, como este, A gênese, capítulo 2, onde lemos: “quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido. Na impossibilidade em que nos achamos de o isolar, parece-nos que ele, o pensamento, faz coro com o fluido, que com este se confunde, como sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo”. A conclusão de que poderemos materializar no presente todos os nossos desejos, aprendendo a usar a força do pensamento, todavia, é incorreta. Isso porque o objetivo de cada encarnação é a evolução, evolução pede aprendizado e aprendizado pede condições próprias para sua realização, as quais normalmente se apresentam na forma de desafios. Desafios assumem inumeráveis configurações. Em geral, é aquela situação que se repete em nossas
vidas, que nos irrita e nos ‘tira do sério’, pois nos sentimos incompetentes e inadequados diante dela. Talvez seja um problema que sempre surge na vida sentimental, ou na família, ou na profissão, enfim, o que quer que identifiquemos como uma grande dificuldade e que não desaparecerá, nem mesmo com altas doses de pensamento positivo e frases autossugestivas. Ele só desaparecerá quando aprendermos a lição necessária, quando superarmos a nossa ‘deficiência’ emocional ou moral e incorporarmos o respectivo aprendizado à nossa forma de ser. É claro que os bons pensamentos sempre poderão nos ajudar a enfrentar estas situações, mas não terão o efeito milagroso de nos subtrair às vivências indispensáveis ao desenvolvimento espiritual que aqui estamos buscando. O que viemos fazer na Terra? Toda encarnação tem um objetivo espiritual relacionado ao progresso intelecto-moral. Este objetivo costuma envolver o autoconhecimento, a melhoria nas atitudes, a reconciliação com seres que participaram do nosso passado. Não se trata da ‘pena de talião’, de quitar dívidas, como algumas visões simplistas levam a supor. Trata-se, antes, de aproveitar as oportunidades que temos, perante nós mesmos, de aprimorar nossa forma de encarar a vida e nossas reações perante os fatos, de reconhecer a ação das leis divinas e de nos conformarmos a elas. Trata-se de ampliar a visão, abandonando o egoísmo e o orgulho para abraçar a fraternidade e humildade, a fim de que passem a ser nossas diretrizes em cada situação. Esse aprendizado pode levar décadas, muitos de nós talvez já tenhamos atravessado existências inteiras nas quais demos pouquíssimos passos
efetivos em sua direção. O desvio de atenção para as soluções fáceis e exteriores, como as receitas apresentadas nas diversas literaturas que mencionamos acima, não nos ajudarão a encontrar o caminho da automelhoria. Elas transmitem uma ideia falsa de poder, de barganha com a lei espiritual: se eu pensar de tal forma, se repetir tais palavras, tantas vezes por dia, o que eu quero acontecerá. Ultimamente, essas obras encontraram respaldo em depoimentos de cientistas e filmes, dentre os quais se destaca Quem somos nós?, os quais se propõem a explicar ‘cientificamente’ a ação do pensamento sobre a realidade considerada concreta. Em geral, uma das falhas desses filmes e depoimentos é desconsiderar a lei da reencarnação e da necessidade da evolução espiritual, de que tratamos aqui. Outra falha é extrapolar o limite das conclusões plausíveis perante os avanços da teoria quântica, afirmando que uma eventual influência do pensamento em escala subatômica possa mudar toda a realidade a partir do que pensamos, proporcionando amor, prosperidade e saúde, bens materiais e sucesso profissional. Nada de científico pode ser confirmado a esse respeito. A fonte segura da codificação espírita, por outro lado, esclarece que é no desenvolvimento de nossas virtudes, na ampliação do amor e da capacidade de perdoar, que se encontra a chave de uma vida melhor para cada criatura, a qual não será passageira, constituindo-se numa efetiva conquista espiritual. Rita Foelker é co-fundadora do grupo e projeto Filosofia Espírita para Crianças. É mestranda em Filosofia. Escritora com 50 livros publicados, entre infantis e adultos, mediúnicos e próprios, seu mais recente lançamento é Calunga definitivo. E-mail: rfoelker@gmail.com www.correiofraterno.com.br
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FOI ASSIM
O espiritismo me ensinou a superar a timidez
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unca gostei de falar em público, pois me julgava uma pessoa muito tímida. No ano passado, fazendo o curso de espiritismo, na Federação Espírita do Estado de São Paulo, descobri que essa era uma limitação imposta pelo meu orgulho. A timidez que me acompanhava nada mais era do que uma forte manifestação do alto apreço pela minha própria pessoa. Mas, como um dia as nossas máscaras caem, a descoberta dos meus verdadeiros sentimentos acabou provocando a mudança. Foi como se eu renascesse. Uma experiência muito difícil, mas necessária, pois tive de lidar primeiramente com a aceitação da minha soberba para, depois, anulá-la ou amenizá-la. Conforme transcorria o ano letivo, a classe recebia trabalhos para desenvolver. Primeiro, em grupos, fomos intera-
Por ROSELA PRESTES gindo com os colegas; depois, apresentando os relatos para toda a turma. Assim, cada vez mais ia sendo colocada à prova a capacidade de lidarmos com a própria exposição, enfrentar a timidez. E como compreender esse tolhimento que me paralisava? Cheguei até a pensar em desistir do curso... Um dia, ansiosa, falei com uma das expositoras da classe. “Sou tímida!”, afirmei, tentando achar um motivo plausível para não ter de discorrer para a classe minhas impressões sobre um capítulo do livro Viagem espírita de 1862. Meu grupo já havia quase se dissolvido e justo naquela aula restávamos eu e outra colega, tão ou mais tímida que eu. Ao confessar sobre minha timidez queria mesmo era me livrar da tarefa, que certamente sobraria para mim. A resposta que obtive da expositora foi: “A
timidez é uma forma de orgulho.” Fiquei chocada. A expositora explicou que o fato de eu não querer falar em público era uma maneira de evitar que fosse julgada, pois nosso orgulho não permitia isso. Ao falarmos para um grupo supomos que em vez de pessoas, ouvintes interessados, temos juízes a nos apontarem os defeitos. Como não queremos mostrar nossas dificuldades, escondemo-nos atrás da timidez, do isolamento, uma forma errônea de perceber os frutos do próprio orgulho. Depois da explicação, ‘caiu a minha ficha’. Decidi que iria enfrentar o desafio e que falaria de qualquer forma, tentando ser mais humilde. À frente do grupo, apresentei então minhas impressões sobre o tal capítulo do livro. Tudo transcorreu de forma tranquila, não era um ‘bicho de sete cabeças’.
Olhava para o rosto dos ouvintes e percebia que estavam interessados e atentos. E também que eu podia errar. Quando terminei, estava muito feliz, pois havia rompido uma barreira à qual me confinara durante anos. Acredito que seja justamente isso o que o estudo da doutrina espírita proporciona – autoconhecimento e discernimento. O maior aprendizado está em acabar com as desculpas que criamos para as nossas próprias mazelas, fator indispensável para vivermos de maneira íntegra e verdadeira. Há a famosa frase do filósofo Sócrates que diz: “Só há um bem, o conhecimento; só há um mal, a ignorância.” E outra, que complementa esta, cujo autor é desconhecido, diz assim: “O conhecimento liberta da ignorância. Todavia, somente a aplicação do que se aprendeu liberta do sofrimento.”
VOCÊ SABIA?
Por IZABEL VITUSSO
Aquelas ideias no papel
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esde que o senhor Dentu falecera, sua esposa, Mélannie, era quem tocava os negócios da Livraria Dentu, em Paris. Foi para lá que Allan Kardec se dirigiu com os manuscritos de O livro dos espíritos, quando sentiu que era momento de publicá-lo. Porém ao receber os originais, Edouar, filho do casal e diretor da livraria, não manifestou nenhuma vontade para realizar o projeto. Não lhe interessava editar livros sobre espíritos. Mas Rivail disse que desejava apenas um
orçamento tipográfico, pois iria editar a obra por conta e risco. Contrapondo-se ao rumo da conversa, a senhora Mélannie interferiu dizendo que seria uma honra, para eles, dar vida àquela obra. Dias depois, em 18 de abril de 1857, Kardec recebe os 1.200 exemplares de O livro dos espíritos, resultado de uma impressão simples, até mesmo com poucos cuidados nos serviços tipográficos. Mas sua importância estava mesmo no conteúdo, na composição de cada bloco de
letras e ideias que nasciam naquele papel. Publicidades foram feitas pelos jornais da cidade. Como cortesia, Kardec envia um exemplar ao barão Du Potet –estudioso do magnetismo animal, que possivelmente divulgaria o livro no jornal dos magnetistas –; à escritora George Sand, esposa do compositor Chopin, que recebe os cumprimentos de Allan Kardec por fazer referência em seus trabalhos ao homem e sua comunicação com a Espiritualidade; e também às médiuns que o ajudaram
em todo o trabalho que deu origem ao livro. Também o escritor Victor Hugo é contemplado com a obra. Na época, pelo menos vinte poetas e romancistas eram espiritualistas. E para os artistas das letras, o espiritismo, além da beleza da lógica, simbolizava novas cores na paleta de suas criações. Bibliografia: A literatura espírita, seu estudo e sua divulgação, de José Antônio Castilho, Ed. EME. Saiba mais no nosso site www.correiofraterno. com.br
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CORREIO FRATERNO
MARÇO - ABRIL 2011
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MUNDO SUSTENTÁVEL
Por um centro espírita
sustentável Por ANDRÉ TRIGUEIRO
A
lguém dirá que não importa a forma de uma instituição espírita, o que conta é a qualidade dos serviços ali prestados nos dois planos da vida. De fato, dentre as funções mais importantes de um centro espírita destacaríamos a promoção dos valores cristãos através do exercício da caridade, do socorro aos necessitados, da divulgação da doutrina espírita e da educação mediúnica. Portanto, as instalações físicas da instituição e outros cuidados alusivos ao uso inteligente dos recursos ficariam em segundo plano. Entretanto, tentarei aqui demonstrar que a preocupação com a sustentabilidade conspira em favor da redução dos custos de manutenção da instituição – algo vital para qualquer organização filantrópica ou voluntária – e do exemplo que a casa espírita deve dar num momento em que experimentamos uma crise ambiental sem precedentes na história da Humanidade. São muitas as vantagens ao alcance de quem tem a oportunidade de erguer uma nova construção para abrigar um centro espírita. Um projeto que contemple a entrada de luz natural reduz drasticamente o uso de energia para luminárias. Num país tropical, onde o sol brilha 280 dias por ano, em média, desperdiçar essa maravilhosa fonte luminosa é jogar dinheiro fora. Todas as lâmpadas devem ser fluorescentes. Embora mais caro, este equipamento dura mais e consome bem menos energia ao longo de sua vida útil. Deve-se privilegiar a ventilação natural, de preferência conhecendo previamente a corrente dos ventos da região. Numa construção sustentável, ventiladores ou aparelhos de ar-condicionado só precisam ser ligados quando há necessidade. Em algumas instituições, as despesas com equipamentos de refrigeração são expressivas, e poderiam ser melhor destinadas a outras
frentes de trabalho e assistência. Todos os equipamentos elétricos e eletrônicos eventualmente adquiridos devem ter, de preferência, o selo Procel marcando a letra “A” de máxima eficiência energética. A coleta de água de chuva a partir do telhado, acumulada na laje em uma cisterna, assegura a disponibilidade desse recurso para múltiplos usos. A instituição poderá continuar usando água clorada e potável para beber, cozinhar e tomar banho. Para todos os demais usos – limpeza de pisos e janelas, rega de jardim, vaso sanitário, desentupimento de ralos ou bueiros etc – a água da chuva poderá suprir a demanda sem custo financeiro para a instituição. É recomendável aposentar as válvulas e usar as chamadas ”caixas acopladas” nos vasos sanitários, que reduzem tremendamente a demanda por água. Há equipamentos que liberam três litros de água por descarga, o que já assegura o asseio devido sem riscos para a higiene. Em instituições espíritas que mantém atividades como creches, orfanatos ou asilos, onde o uso regular de chuveiros elétricos onera sensivelmente os custos mensais de manutenção, vale a pena encomendar
um orçamento para a instalação de coletores solares. São mais caros do que os chuveiros elétricos, mas dependendo da escala e do tamanho da conta de luz, a instalação dos coletores poderá ser compensada em dois ou três anos de uso. Depois, é só comemorar o que se deixa de pagar para a concessionária de luz e destinar esses preciosos recursos para outros fins. Promover a coleta seletiva é algo simples, fácil, e requer um planejamento prévio que identifique o local adequado onde serão armazenados provisoriamente os re-
cicláveis até a chegada de uma cooperativa ou da própria companhia de limpeza urbana que levará, enfim, esses materiais para o lugar certo. A reciclagem promove geração de emprego e renda e, via de regra, redução dos impactos ambientais graças ao reaproveitamento dos recursos naturais. Em relação ao copinho plástico da água fluidificada – um resíduo abundante e ao mesmo tempo desinteressante para boa parte dos catadores – recomendamos que cada instituição verifique a conveniência de promover o uso de canequinhas ou garrafinhas trazidas pelos próprios frequentadores ou a compra de copinhos de papel. Há ainda a opção de procurar no mercado alguém interessado em reciclar o plástico dos copinhos tradicionais. Estimular o transporte solidário (caronas) entre voluntários e frequentadores, disponibilizar um bicicletário, adquirir móveis ou peças de madeira com certificado de origem para evitar o incentivo ao desmatamento ilegal da Amazônia são medidas igualmente simples e importantes para que não sejamos agentes da destruição e sim promotores da “vida em abundância”, tal qual nos ensinou o Mestre Jesus. Tudo o que foi descrito aqui está em absoluta sintonia com a lei de Conservação, uma das leis morais apresentadas em O livro dos espíritos. Se o planeta é morada transitória e o nosso corpo é perecível, isso não invalida o compromisso ético que temos em relação ao uso inteligente e sustentável dos recursos que, por empréstimo, nos são oferecidos em favor de nossa evolução. Façamos bom uso deles a partir das rotinas da casa espírita. André Trigueiro é jornalista, apresentador do Jornal das Dez e editor do programa Cidades & Soluções, na Globonews. www.mundosustentavel.com.br
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CORREIO FRATERNO
MARÇO - ABRIL 2011
LEITURA
Conde Rochester envia à Terra um novo romance Por ELIANA HADDAD
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omance mediúnico do consagrado escritor Conde Rochester, A pulseira de Cleópatra, editora Correio Fraterno, traz a história de Thilbor, um poderoso mago que enfrenta as mais diversas emoções, tendo em mente a vingança diante daqueles que o prejudicaram. Ele busca,
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na verdade, a compreensão do amor verdadeiro, num enredo de pura emoção. “Rochester fascina o leitor e consegue prendê-lo no seu visgo literário, tornando-o personagem atuante das suas obras, demonstrando que somos, todos, de fato e de direito, personagens desse drama épico que é a vida”, explica a médium Arandi Gomes Teixeira, cuja história como médium, desde a infância, também envolve cenas emocionantes. Uma delas se refere justamente quando começou a psicografar o Conde Rochester. (Veja entrevista de Arandi Gomes Teixeira no nosso site www.correiofraterno.com.br)
Arandi e as descobertas de Rochester No final da década de 70 uma vizinha me ‘empurrou’ um livro grande, encapado de papel prateado, me dizendo que eu precisava lê-lo. Rejeitei, por falta de tempo, mas diante da sua insistência, levei por delicadeza. Numa tarde, decidi dar uma olhadinha. A obra era A vingança do judeu. Logo no início da leitura, fui ficando estranha, emocionada, e comecei a me aborrecer, inexplicavelmente, com isso ou aquilo, que não estaria como deveria estar, com relação à edição, nomes próprios etc. Parei, um instante e me questionei: “Arandi, você enlouqueceu?!”. Como, eu poderia fazer cobranças como aquelas, se não conhecia a obra, nunca ouvira falar nela, ignorando, até mesmo, o nome do seu autor? Procurei, então, e li: “J.W., Conde Rochester”... O impacto foi grande. Declarei, sem me entender: “Eu não sei quem é você, mas sei que te amo!” Sentimentos desconhecidos, saudade sem saber de que e um dilúvio de lágrimas me alcançaram. Aquele livro era “meu! Muito meu!” Que situação estranha!... Então, uma ideia me ocorreu: desafiar o autor... Pedi, em alto e bom som: “Venha até mim! Apareça!..” Não precisei evocá-lo duas vezes. Ele se materializou no meio da sala, sorrindo, roupas de nobre inglês, exibindo muita alegria. Ficamos, assim, nos olhando. Eu chorando, muito, e ele muito feliz. A partir daí, nunca mais nos afastamos, de fato, um do outro. Outros fenômenos se seguiram e passamos a caminhar juntos, todas as noites, durante o meu desdobramento pelo sono. Eu olhava para o meu corpo na cama, adormecido, antes de sair e o seguia. Peregrinamos, muitas vezes, por espaços e esferas, diferentes; conversamos muito e ele me instruiu a respeito de obras que eu deveria estudar. Com o tempo, me disse que escreveríamos livros. Assim foi e assim tem sido.