Entrevista:
ISSN 2176-2104
CORREIO
Michel Buffet
Em entrevista exclusiva, o presidente do Conselho Espírita da França fala sobre a difusão do espiritismo em seu país. Págs. 4 e 5.
FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o
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MUItO MAIS QUe UMA
VIAGEM O
s primeiros passos do movimento espírita foram dados por Allan Kardec através de várias viagens pelo interior da França. Em 1862, comemorando cinco anos do lançamento de O livro dos espíritos, o codificador parte de Paris rumo a vinte cidades francesas não só para divulgar a doutrina dos espíritos, mas principalmente para ver de perto as dificuldades e os desafios do espiritismo nascente. Queria instruir, cumprimentar, compartilhar, enfim, com os companheiros espíritas. Passados 150 anos desse incrível movimento iniciado por Kardec, pode-se dizer que a viagem continua, tendo como desbravadores todos aqueles que descortinam horizontes, levando adiante a mensagem do consolador prometido. Como disse Kardec, na época, “vendo uma pequena semente, quem poderia compreender, se não a tivesse visto, que dali sairia uma árvore tão imensa?...” Leia nas páginas 8 e 9.
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O que exatamente estamos levando para casa como consumidores? Sapatos, meias, relógios, óculos, qualquer brinquedinho que a gente goste de colecionar leva juntos “pedaços” da natureza. Pág. 15.
Quando o arado está pronto
A história de realização do casal europeu no projeto social na Chapada dos Veadeiros. “Meu mundo em Berlim era de muros, de medo, morte, fome, frio”. Pág. 7
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eDItORIAL
A liberdade
Uma ética para a imprensa escrita
de cada um
D
isse Allan Kardec, em 1862, que o direito de exame e de crítica era imprescritível, ao qual o espiritismo não tinha a pretensão de esquivar-se, como não tinha a de agradar a todos. Enaltecia, assim, a liberdade de consciência como direito natural, mas acrescentava algo muito importante: “Todos têm o direito de aceitá-lo ou repeli-lo, contanto que o façam com conhecimento de causa”. E foi esse um dos principais motivos que o levou a sair de Paris e a viajar por várias cidades para verificar de perto como o espiritismo estava sendo desenvolvido pelos grupos espíritas. Iniciava-se o movimento espírita. Com os cuidados do próprio codificador para que o conhecimento espírita não fosse deturpado, perdendo-se em vaidades, egoís-
em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:
mo ou despreparo. Passaram-se 150 anos, e o desafio continua, no desbravar de novos horizontes, tentando-se seguir os mesmos princípios defendidos por Kardec, com seu pensamento libertador. É o que procuramos retratar nesta edição. O espiritismo muito mais além das mesas girantes, que conta conosco no trabalho incessante da seara do bem. Confira na Entrevista exclusiva com Michel Buffet, presidente do Conselho Espírita Francês; no Baú de Memórias, com o casal europeu que encontrou a alegria no trabalho com crianças na Chapada dos Veadeiros; no alerta de André Trigueiro, sobre o consumismo, a mensagem de Rui Barbosa, em Você Sabia. E, claro, na matéria de capa, de Jáder Sampaio. Boa leitura!
• A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos.
CORREIO DO CORREIO Levando adiante o que é bom Parabéns ao Correio! Devemos fazer uso de todas as ferramentas disponíveis para nos instruirmos, direcionarmos, e nos divertirmos. Saúde e Paz a todos. Fátima Reis, pelo site Site Correio Olá, fiquei admirado com o belo trabalho
que vocês realizam. Queria agradecer e parabenizá-los por esta bela mensagem de paz e luz que vocês passam. Tenho um blog espírita e gostaria de saber se posso colocar o link de vocês em meu blog. Quero apenas divulgar este belo trabalho e a doutrina. Leon Felisberto, pelo site www.blogentraai.blogspot.com/
Olá, Leon, que bom receber a sua mensagem. Claro que pode divulgar o link do nosso site. Participe também com seu blog da nossa campanha Sorria e compartilhe alegria http://www.correiofraterno.com.br/sorria. Um abraço da equipe Correio Fraterno.
Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br
ERRATA: Ao contrário do publicado na edição 442 (nov/dez de 2011), o texto Quem é Jesus para os espíritas é de autoria de Aristides Coelho Neto.
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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118
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• Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
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Acontece
União de amigos e família: boa opção para estudo REDAÇÃO
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o período do carnaval, tem sido cada vez maior o número de eventos que reúnem jovens do meio espírita, e mesmo adultos, numa prática que congrega um número crescente de participantes, valorizando a troca de conhecimento e experiências, a união fraterna e a vivência com pessoas de regiões mais distantes. Nem sempre é tão fácil se ver livre dos compromissos para se ausentar de casa, por pelo menos quatro dias de feriado. Pois foi pensando em aproveitar o feriadão do carnaval deste ano, só que sem sair da cidade, que um grupo de amigos espíritas resolveu realizar o que chamou “Uma opção de encontro com Jesus”. Há dois anos juntos, eles se reúnem aos sábados para estudar a doutrina espírita, enfocando o relacionamento familiar. Essas reuniões ocorrem de forma itinerante, nas residências dos participantes (que moram em Belo Horizonte e Contagem, MG). Ao contrário dos grandes encontros, o evento que realizaram no carnaval retorna à congregação de grupos pequenos: cerca de dez adultos e nove jovens e crianças, de 7 a 15 anos, todos amigos, com seus familiares, participando e discutindo os mais diversos aspectos do tema proposto para a ocasião: laços de família. Este encontro foi realizado na sede do Grupo Espírita Irmãos em Cristo, em Contagem. “Somos amigos desde a época da Mocidade e dos encontros de confraternização de mocidades espíritas de Belo Horizonte”, conta a educadora Regina Beatriz do Amaral Moraes, uma das idealizadoras. Num trabalho interativo, e utilizando a obra Paulo e Estevão – Emmanuel, psicografia Chico Xavier – que completa 70 anos de lançamento – foi possível aprofundar questões sobre os obreiros de Jesus e sua conduta na sociedade, a reencarnação e a formação de novos caráteres, a conduta
do espírita na família e a família como processo evolutivo do espírito, temas acompanhados e realmente interiorizados por todos do grupo. A integração dos participantes já se fez presente desde a leitura dos capítulos pré-estabelecidos, realizada por cada núcleo em seus lares. Mas foi o estudo dirigido no sábado de carnaval que sensibilizou as crianças e os jovens, para, na sequência, desenvolverem um roteiro, baseado nos capítulos “Corações flagelados” e o “No caminho de Damasco”, com orientação de um adulto com experiência na área, para a peça que apresentariam ao final, promovendo-se um proveitoso debate sobre os temas encenados. “Por causa do teatro, a gente teve uma forma mais legal de entender o tema sugerido”– analisa Maria Cecília Jesué Ramos, 11 anos, opinião endossada pelo irmão João Augusto Jesué Ramos, de 8 anos: “Achei que foi melhor fazer o teatro, pois a gente teve mais criatividade”. Além do teatro e das atividades com muita música, que entretiveram e ajudaram a manter a harmonia do ambiente, todos juntos assistiram à apresentação do filme Karate Kid (2010), que foi seguido por uma análise aberta a todos, à luz dos ensinamentos espíritas. Segundo Regina Beatriz, além da confraternização, o estudo entre famílias constitui-se mais uma oportunidade para a conscientização da necessidade de se colocar em prática os ensinamentos do Evangelho à luz do espi-
Arte: pela vivência, a melhor forma de entender o tema sugerido
ritismo. “Frequentar mocidade, fazer verdadeiras amizades, faz a gente encontrar o caminho da felicidade”– analisa. “Se os filhos imitam a gente, juntos vamos caminhando, fazendo da nova oportunidade de encontro um lugar de bom viver e de aprender, apertando cada vez mais os laços de família consanguínea e espiritual. Fica então o convite: “Pegue a sua família, junte o seu grupo de amigos e aperte o laço” – aconselha a educadora.
Em pequeno grupo, o estudo e as reflexões são bem assimiladas, inclusive pelas crianças www.correiofraterno.com.br
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ENTREVISTA
A obra é do mundo Por ELIANA HADDAD e IZABEL VITUSSO
Michel Buffet: A filosofia espírita toma o seu lugar de direito para o tempo anunciado
Ele nasceu em 1944, na cidade de Rennes, Bretagne, França, numa família simples. Michel Buffet, presidente do Conselho Espírita Francês, frequentou, como se fazia na época, a igreja católica, embora muitas práticas contrariassem a ideia que tinha sobre suas relações com Deus. Foi na UEFF – União Espírita Francesa e Francófona (onde se fala o francês), em Tours, que Michel descobriu O livro dos espíritos, que causou uma reviravolta em sua vida no final dos anos 80. “Durante anos, todos os sábados, fazia 250 quilômetros para assistir às reuniões em Tours, desenvolver minha mediunidade e ler muitos livros relacionados ao espiritismo”, conta. Acabou fundando com a esposa, Sylviane, um centro espírita em Rennes para a prática do estudo e desenvolvimento mediúnico. E, ao se aposentar, morando ao sul da França, perto da Espanha, fundou o Centro Espírita Maria Munoz, filiado ao Conselho Espírita Francês. Neste ano, quando se completam 150 anos da viagem espírita de Allan Kardec pela França, convidado a falar sobre o movimento espírita francês, Michel Buffet concede esta entrevista exclusiva ao Correio Fraterno: www.correiofraterno.com.br
O espiritismo foi tão importante na França, berço da cultura da época. E, hoje, como está? Você concorda com a expressão em que se diz que a árvore do espiritismo foi transferida para o Brasil? Michel: Muitos consideram que a França foi o berço do espiritismo porque Allan Kardec teve a missão de codificar a doutrina dos espíritos neste país. Ainda que a língua francesa tenha sido tomada em consideração pelos espíritos superiores para dar à letra o espírito de perenidade no tempo, não esqueçamos que antes disso os fenômenos de Hydesville contribuíram para sensibilizar esse período de manifestações inteligentes no mundo material. Não esqueçamos também a passagem de Rivail pela Suíça, no seu encontro com Pestalozzi. Tudo isto para dizer que prefiro considerar o trabalho de Kardec como uma abertura à universalidade do planeta, em vez de ver nisso qualquer referência franco-francesa. O papel do Brasil foi o de preparar as condições de preservação e desenvolvimento do espiritismo em um terreno fértil de espiritualidade, a fim de dar nascimento à estrutura e à organização que daria sentido ao porquê da vida. É agora que as árvores devem dar os seus frutos no mundo inteiro através do CEI – Conselho Espírita Internacional – para que se instale esse período de regeneração tão esperado. Você tem contato mais direto com o movimento espírita brasileiro? Em sua opinião, quais seriam as diferenças básicas entre o movimento espírita nos dois países? Michel: Temos contato direto com o CEI através de Charles Kempf, vice-presidente do Conselho Espírita Francês, também membro da comissão executiva do CEI, e que morou no Brasil por vários anos. É muito difícil comparar o movimento espírita brasileiro e o movimento espírita
francês. O coração dos brasileiros se achava muito receptivo à espiritualidade, permitindo à doutrina consoladora encontrar um terreno fértil para se desenvolver. O mundo espiritual contou com grandes almas, que tiveram a tarefa de se comportar como espíritas exemplares juntando ao exemplo a fé espírita raciocinada e consoladora, como Bezerra de Menezes e Chico Xavier. O desenvolvimento foi contínuo para chegar a um reconhecimento nacional no senado, por ocasião do centenário do nascimento de Chico Xavier. Na França, depois da desencarnação de Kardec, alguns pioneiros fortaleceram as bases do espiritismo, Léon Denis na parte filosófica, e Gabriel Delanne na parte científica. Jean Meyer financiou uma organização que visava o futuro do espiritismo na França, adquirindo a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e, com ajuda de Léon Denis, retomou a publicação da Revue Spirite. Em 1919, Meyer transforma a União Espírita Francesa em associação, tendo como presidente de honra Léon Denis e, como presidente, Gabriel Delanne. Em 1923, adquiriu La Maison des Spirites (A Casa dos Espíritas), que abrigava as Edições Jean Meyer, a USF, a Revue Spirite, a Federação Espírita Internacional. Alguns anos depois, entre 1925 e 1931, as grandes figuras que fizeram o espiritismo na França desaparecem: Camille Flammarion, Gabriel Delanne, Léon Denis e Jean Meyer. Vem a Guerra Mundial de 1939-1945 com a ocupação da França e a desorganização das associações. Em seguida, depois das guerras mundiais, a França e outros vários países onde o espiritismo tinha se implantado estavam muitos preocupados com os problemas materiais. Hoje, Kardec é pouco conhecido, a imagem do espiritismo é a das mesas girantes e o discurso das autoridades católicas continuam sempre a gerar medo. Atualmente, os valores materiais estão desmoronando e muitas pessoas procuram consolação para
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entReVIStA a incerteza do amanhã. Crianças encarnam trazendo uma sabedoria e uma espiritualidade inata. Os tempos estão mudando e que a filosofia espírita toma o seu lugar de direito para o tempo anunciado. Você percebe alguma mudança no comportamento dos franceses, e do europeu de maneira geral, quanto à busca da espiritualidade? Michel: Certamente há uma mudança de comportamento na Europa. Isso se traduz pela criação de vários centros espíritas em vários países e isso em poucos anos. Os comentários do catolicismo já não são suficientes para as consciências de hoje, pois que a razão amadureceu. Mas para a França, temos que enfrentar as marcas deixadas pelas mesas girantes que acabaram se passando por brincadeira, fazendo os espíritas passarem-se por saltimbancos. Se o espiritismo foi codificado aqui na França, foi também aqui que mais o combateram pelos representantes da igreja católica. A espiritualidade é uma porta que se abre hoje e a razão deve ser satisfeita para crer no país de Descartes, pois nesse tocante, o espiritismo é forte. Quais os atuais projetos do Conselho Espírita Francês? Michel: De 2007 até hoje, temos trinta centros membros do CSF, e colocamos ênfase especial no ensino da doutrina propondo simpósios, seminários, estudos, formação e conferências sobre questões de grande importância como unificação, obsessão. Utilizamos conferências, o boletim de notícias Voie Spirite, websites do CSF e da Enciclopédia espírita, documentos do CEI para formação de trabalhadores e estudo, simpósios, e estamos presentes nas realizações do Movimento Espírita Francofóno e do CEI. Para este ano, estamos programando uma grande reunião em Denicé para os espíritas franceses, a fim de criar um evento fraterno, em comemoração aos 150 anos da Viagem Espírita em 1862. Ainda temos que desenvolver ações para a juventude, mas a lei francesa não facilita, e as condições para que isso se realize são rigorosas. O Evangelho no Lar não faz parte ainda da mentalidade francesa, e só se estenderá através de famílias espíritas que o praticam hoje. Todos os anos nos mobiliza-
mos também com temas de proteção à vida: 2011, campanha contra o suicídio; 2012, campanha contra o aborto, que é legalizado na França. Vocês editam a Revista Espírita, criada e dirigida por Kardec no século 19. O que mudou da época em que foi lançada até hoje? Quem é o leitor da Revista? Michel: Depois que Roger Pérez, Louis Serré e a USFF recuperaram o título da Revue Spirite, cuja edição tinha sido abandonada e retomada nos anos 80, a propriedade do título da Revue Spirite foi transferida para o CEI. Hoje a edição em língua francesa é assumida pelos países fancófonos através do LMSF. O objetivo dessa equipe é de relançar a Revue Spirite, de torná-la mais atraente e interessante tanto para os espíritas como para as pessoas que se interessam pelo espiritismo, de acordo com a orientação dada pelos espíritos ao seu fundador Allan Kardec: A Revue […] deve reunir o sério ao agradável […]. Em suma, é preciso evitar a monotonia por meio da variedade, congregar a instrução sólida ao interesse […]. Obras póstumas. Quem é Kardec para os franceses hoje? Michel: Kardec suscita geralmente respeito, até mesmo pelos leigos, ele só é criticado, como já foi na época, pelos religiosos tradicionais e materialistas que se opõem à doutrina espírita. Dos três aspectos do espiritismo – ciência, filosofia e religião – com qual deles você acredita que o francês mais se identifica? Michel: Precisa-
mos reformar essa imagem do espiritismo e explicar que ele é uma filosofia, uma moral confirmada pelos fatos em seu aspecto científico. É uma doutrina reencarnacionista. Difundir é uma coisa, mas corrigir as ideias falsas é mais difícil, é um trabalho duplo. Atualmente, há duas abordagens na propagação do espiritismo, que são sensíveis aos franceses, O livro dos espíritos, porque faz apelo à razão e também O evangelho, que faz apelo ao coração e ao sentimento; ou seja, o primeiro pela crença e o segundo pela consolação. Quem é o espírita francês? Michel: A maioria dos espíritas são franceses nativos que conheceram o espiritismo, seja na França ou no Brasil. Temos também pessoas de origem portuguesa e brasileira que colaboram ativamente no movimento espírita francês. Qual a melhor contribuição que nós podemos dar para a divulgação do espiritismo fora do território brasileiro? Michel: O CEI continua a contribuir na divulgação do espiritismo pelo mundo, permitindo a tradução de documentos da FEB para estudo e formação de colaboradores, fazendo-nos beneficiar de muitos anos de experiência. Através das traduções das psicografias de Chico Xavier, por exemplo, e também através de conferências e seminários onde participam representantes brasileiros. Os brasileiros e os franceses possuem grandes afinidades que facilitam nosso intercâmbio permanente, não se diz que muitos franceses se reencarnaram no Brasil?
LIVROS & CIA. IDE Editora Tel.: (19) 3541-0077 www.idelivraria.com.br Anuário Espírita 2012 de diversos autores 224 páginas 13,5x18,5 cm
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Colaborou com a entrevista Charles Kempf, vice-presidente do Conselho Espírita Francês.
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QUEM PERGUNTA QUER SABER
Espiritismo sem espíritos? Da REDAÇÃO
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Espiritismo veio ao mundo através dos espíritos. Mas para se comunicarem também precisaram dos médiuns. Não foi o espiritismo que inventou os espíritos; eles são uma força da natureza. E quem são, afinal, os espíritos? Nós, encarnados e desencarnados, seres inteligentes da criação. Por isso, queiramos ou não, impossível cogitarmos em espiritismo sem espíritos. Mesmo porque, ainda que sem as comunicações mediúnicas ostensivas, estaremos sempre nos acotovelando, como disse Kardec em O livro dos espíritos. O mais importante, contudo, não é o aspecto fenomênico da doutrina espírita.
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O espírito psicografia de Há quem defenda que o Santo AgostiFrancisco C. nho, em O livro Xavier e Waldo espiritismo não necessita dos espíritos, conVieira, define do trabalho mediúnico clusão 5, afirma bem o seu signa casa espírita. É ser falsa a ideia nificado, saliende se acreditar tando que as possível espiritismo sem que a força do reuniões de deespíritos? espiritismo desobsessão não Antonio José Leite, São Paulo corra da prática são uma “caça das manifestaa fenômeno e ções materiais; sim trabalho sua força está na sua filosofia, no apelo que paciente do amor conjugado ao conhefaz à razão e ao bom senso. cimento e do raciocínio associado à fé”. Sobre a importância dos trabalhos meConclui-se ainda em O livro dos espíridiúnicos, André Luiz no livro Desobsessão, tos, no item 7, que o espiritismo se apre-
senta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que delas decorrem e o da aplicação desses princípios. Lembra que, em decorrência, podemos dividir em três o grupo de adeptos: os que creem nas manifestações e se limitam a comprová-las; os que lhe percebem as consequências morais; e os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral. Qualquer que seja o ponto de vista, científico ou moral, todos compreendem constituírem eles uma ordem, inteiramente nova, de ideias que surgem e da qual não pode deixar de resultar uma profunda modificação no estado da Humanidade, no sentido do bem.
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MARÇO - ABRIL 2012 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
BAÚ DE MEMÓRIAS
Quando o arado está pronto… Giuseppe Grattapaglia e Úrsula Sandkuler descobriram a alegria de servir no interior de Goiás
Por FABIANO POSSEBON
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine” Coríntios 13:1
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ona Espero (Boa Esperança, em Esperanto) – parque nacional de conservação ecológica – é uma fazenda-escola esperantista que dá assistência e alfabetização a crianças carentes da zona rural. Possui agricultura alternativa, energia solar e eólica. Localiza-se perto de Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, Goiás. Fundada em 1957, seu objetivo é realizar um trabalho social-educativo por um mundo melhor e uma humanidade mais feliz. Possui quatro mil hectares de terra. Desde sua fundação, sempre manteve escola de alfabetização, onde os filhos de famílias paupérrimas e abandonadas da sociedade encontram um lar e um exemplo de existência digna. Em 1948, o italiano Giuseppe Grattapaglia tinha dezessete anos de idade e trabalhava na FIAT de Turim. Naquele ano, um determinado diretor perguntara aos
funcionários quem desejaria frequentar um curso de Língua Internacional Esperanto. Ele aceitou. Em 1950, em Berlim também foi lançado um curso desta língua. Uma garota, também de dezessete anos, chamada Úrsula Sandkuhler, resolveu fazê-lo. Ela era aluna das freiras franciscanas e estudava latim, alemão, inglês e francês. Em 1956, Giuseppe já se tornara um esperantista atuante e, naquele ano, a Juventude Esperantista Italiana havia convidado jovens de toda a Europa para um acampamento às margens do Lago Ceresole Reale, base de apoio para a escalada ao Monte Grande Paradiso. Úrsula participou desse encontro e conheceu Giuseppe. Casaram-se no ano seguinte e o matrimônio foi celebrado na língua de Zamenhof. Foram morar em Turim. Giuseppe tor-
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nou-se projetista responsável pelo Departamento de tratores FIAT e Úrsula começou a trabalhar como intérprete da Comunidade Europeia e de alguns ministros. Em determinado ano, Úrsula, consultando uma vidente, esta lhe falou: “Você tem uma missão a desempenhar no sul”. Não acrescentou mais nada. A moça ficou pensativa: “Que sul? Sul da Itália?”. Ficou intrigada, mas com o tempo, não pensou mais nisso. Em 1973, o casal resolveu passear aqui no Brasil, estavam com dois filhos menores. Ao chegar em Brasília, conta Úrsula em depoimento, sentiu que “energias saíam de seu corpo e a prendiam ao solo”. Achou muito estranha aquela sensação momentânea. Eles ficaram duas semanas em Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros. Lá conheceram uma instituição filantrópica chamada Bona Espero.
Voltaram para a Itália, desprenderam-se do supérfluo, despediram-se dos altos salários e se mudaram definitivamente para o nosso país, em meados de 1974. “Meu mundo em Berlim era de muros, de medo, morte, fome, frio” – narra Úrsula, no livro de autores diversos Não só de idealistas, mas realizadores, Ed. Liney: “Eu queria mudar aquilo. Encontrei a língua da solidariedade. Mas parece que não era o bastante. Havia mais: O esperantista também a serviço dos mais necessitados do nosso planeta. Na Itália, estávamos vivendo em uma sociedade de consumo, de egoísmo coletivo e sentíamos instintivamente que haveria algo mais. De repente, eis aí! A harmonia, a realidade dos meus três desejos: Esperanto, serviço, qualidade de vida. Mesmo vivendo hoje no “fim do mundo”, para nós e através de nós o Esperanto se tornou um instrumento educacional à liberdade do pensamento. Vivemos em um mundo paralelo. Um mundo de largos horizontes. Junto com tantas crianças goianas sentimos o ar do planeta, sem muros, sem limites, sem barreiras. Ah! Que mundo diferente!”. Giuseppe assim se expressa no mesmo livro, em um capítulo que ele intitulou “Entre dois paraísos”: “Para ser membro desta comunidade é mister, entre outras coisas: amar a natureza em todas as suas formas, não ter hábitos que dariam mal exemplo, como: fumo, álcool, droga, preguiça, maledicência, inveja, etc. Ter conhecimentos práticos e disponibilidade para orientação nos seguintes campos: ensino, psicologia da infância e adolescência, administração, agropecuária, enfermagem, mecânica, eletrotécnica, serviço de pedreiro, costura, cozinha, etc. Tendo conhecimentos, saber e querer fazer as coisas, preferivelmente tudo... com nada.” Ser esperantista, o que necessariamente não quer dizer saber falar Esperanto (a língua se pode aprender em três meses), mas ter uma visão global e ecumênica”. Hoje, os Grattapaglia estão felizes, realizados, vivendo na Bona Espero, porque se identificaram com a bandeira verde do movimento esperantista, a bandeira da não violência, da fraternidade planetária, a bandeira do bom senso, da tolerância e da aceitação sem distinções. Fabiano Possebon é funcionário público, psicólogo por formação escritor e articulista. www.correiofraterno.com.br
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ESPECIAL
Há um século e meio Por JÁDER SAMPAIO
Lion, século 19
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espiritismo não é uma produção solitária de um grupo perdido na capital francesa do século 19. O estudo dos fenômenos espirituais e da vida após a morte também não é uma produção burguesa, classe social adormecida para os problemas do mundo e do que hoje se chama de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Allan Kardec deu-lhe o status de reflexão sobre o mundo e de adversário das vias materialistas para o futuro da humanidade. Vemos alguns momentos distintos do trabalho de Rivail. No primeiro, ele reagiu às notícias que propunham a existência e interferência dos espíritos dos chamados mortos em nossas vidas. Em seguida, pesquisador, não se furtou de estudar os fenômenos espirituais, considerando-os a priori como fruto de alguwww.correiofraterno.com.br
Por JÁDER SAMPAIO
ma força física, como o magnetismo animal de Mesmer. Da observação cuidadosa dos fatos, ele teorizou, encontrando diversas explicações para o que via, mas sustentando a existência e comunicabilidade dos espíritos. Uma vez aceita a mediunidade, começou a explorar e a checar as informações oriundas dos médiuns de sua época, o que lhe permitiu escrever uma opinião coletiva dos espíritos, através de um artifício curioso: ele buscava ideias semelhantes, lógicas e racionais, obtidas por médiuns diferentes, de preferência desconhecidos entre si. Seu trabalho não foi apenas passivo. Ele interrogou os espíritos comunicantes e, não raro, procurou médiuns diferentes para fazer as mesmas questões. A revisão de O livro dos espíritos para a publicação da segunda edição é uma prova viva disto. Obtidos resultados importantes com as
A caridade é a base, a pedra angular de todo o edifício social”
pesquisas, começou o trabalho de publicação e divulgação de suas observações e conclusões em diálogo com a espiritualidade. Fundou seu próprio grupo de pesquisas, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE), iniciou a publicação dos livros que conhecemos hoje, no Brasil, como a codificação, e, não menos importante, iniciou a publicação da Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos, periódico mensal e denso, que o colocou em comunicação à distância com o mundo leitor de sua época. Na falta de um meio de comunicação como a internet, Kardec começou a receber cartas da França, de diversos países europeus, do norte da África e da América. Embora ele negasse que a SPEE fosse a sede de algum movimento federativo, situando-a como um grupo de estudos e pesquisas, ele não se ne-
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gava a responder as cartas e a emitir sugestões e orientações a quem quer que o pedisse com boas intenções e seriedade. Em 1860, Kardec fez uma visita a Lyon, e segundo Wallace Rodrigues foi recebido no Centro Espírita de Broteaux, por Dijon e sua esposa, um casal operário. No ano seguinte, volta à cidade dos mártires e encontra novos grupos formados. Fizemos esta introdução para que possamos entender o livro que foi traduzido e publicado pela Casa e Editora O Clarim e que se chama Viagem Espírita em 18621, de autoria de Allan Kardec. Dois anos após sua primeira viagem com finalidade espírita, Kardec realizou a “mais extensa” de toda a sua vida. Esboçamos um pequeno mapa que mostra em que cidades ele esteve pela França. As informações sobre a viagem impressionam. São vinte cidades e mais de cinquenta reuniões. Imagino que o deslocamento se deu por algum veículo de tração animal ou via férrea. O calçamento das estradas e vias seguramente não era nada igual ao que temos hoje, e as despesas, como Allan Kardec fez questão de deixar claro, correram por conta própria, ao contrário do que acusaram seus adversários. Os relatos da viagem foram publicados sob a forma de livro para evitar a ocupação de um grande espaço da Revista Espírita. Kardec deseja mostrar não apenas o grande crescimento do movimento espírita francês, mas igualmente levar ao grande público o conteúdo de suas palestras. São quatro os grandes temas tratados pelo conferencista: Ele aborda os adversários do espiritismo, agrupando-os em adversários naturais e adversários entre os adeptos do espiritismo. Estes últimos já haviam sido descritos em O livro dos médiuns: os que apenas se interessam por fenômenos (espíritas experimentadores), os que entendem haver uma moral decorrente do estudo do espiritismo, mas não a praticam (espíritas experimentadores). Kardec reafirma que ser espírita não é apenas uma questão de crença, mas de caráter também, embora reconheça que aqueles que ele chama de espíritas-cristãos ou verdadeiros espíritas, possam não conseguir viver em plenitude a ética espírita, cometendo erros, mas fazem esforços para torná-la cotidiana. Ele parafraseia sua própria frase
de efeito, explicando: “Fora da caridade não há verdadeiros espíritas”. Outro ponto alto do “recado” de Kardec aos novos espíritas é uma espécie de síntese dos princípios da moral espírita, que transcrevemos aqui: • Amai-vos uns aos outros. • Perdoai os vossos inimigos. • Retribuí o mal com o bem. • Não ter ira, rancor, animosidade, inveja ou ciúme. • Ser severos consigo mesmos e indulgentes com os outros. Kardec discute com seu público sobre
dium por sua faculdade). Um segundo problema, grave ainda nos dias de hoje, são os que utilizam do espiritismo como um pedestal para se promoverem. Não se trata da promoção do trabalho espírita ou do pensamento espírita, mas da personalidade. Estes o fazem sem interesses econômicos, mas como uma forma compensatória para os insucessos da vida pessoal, profissional e mesmo social, fora da esfera da comunidade espírita. Continua atualíssimo e nos convidando à reflexão. O codificador fala dos ciúmes para com o sucesso de sua obra. Os estudiosos de histó-
Viagem espírita em 1862
as animosidades no meio espírita. Essas são sesquicentenárias, pelo visto, talvez porque façam parte do espírito humano, que se encontra em processo de educação no meio espírita, mas têm impulsos de difícil controle. Ele fala da mediunidade paga, criticando-a pela grande propensão à fraude, e dá uma alternativa: a cobrança de mensalidades para o funcionamento das sociedades. Uma cobrança que não é imposta, que respeita os que não podem pagar, e que possibilita o exercício mediúnico (mas certamente não remunerará nenhum mé-
ria do espiritismo já identificaram alguns dos atores sociais que cabem dentro desta avaliação. Médiuns que participaram dos grupos frequentados por Rivail, que tinham sua centralidade aí e passaram a criticá-lo após o sucesso de O livro dos espíritos, por exemplo. Os médiuns fascinados por espíritos (e por seu próprio ego), também estão na pauta de discussões do conferencista francês. Eles acreditam que tudo o que lhes sai da ponta da pena é sublime e correto. No livro A obsessão, Allan Kardec dialoga com um espírito fascinador de um médium francês
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e lhe diz que irá tentar tirar “a venda dos olhos” da vítima, ao que ele lhe responde: “... não tereis resultado, porque farei tais coisas que ele não vos acreditará.” Esta consideração parece ter sido escrita ontem, e certamente continuará útil no futuro. Outro tema de agora são as “suscetibilidades excessivas”, que costumamos tratar como melindres. Eles faziam e ainda fazem “baixas” nas sociedades espíritas. Por fim, ele aponta os que fazem pequenas calúnias nos grupos e na sociedade, que põem pessoas em posições falsas e comprometedoras, espalhando a descrença e a discórdia, até sem o perceber. No segundo discurso, Allan Kardec faz uma análise da propagação do espiritismo e da oposição do materialismo e se volta contra a proposta materialista e a proposta individualista que lhe decorre. Com o desenvolvimento do materialismo no mundo e uma crítica do pensamento cristão, temos visto algumas sociedades cada vez mais individualistas, que se recusam a adotar políticas de bem-estar social e apostam na prosperidade de cada um. Allan Kardec parece ter se antecipado em pelo menos um século ao problema da fundamentação da ética do materialismo. O terceiro e último discurso de Kardec trata da caridade. Não de uma caridade de esmolas, de doações inconsequentes, nem apenas das virtudes teologais, mas de uma atitude interior que deve presidir a consciência do homem de bem. Wallace percebe que o codificador trata da benevolência, da justiça e indulgência em relação ao próximo, baseada no que queríamos que o próximo nos fizesse. É importante perceber que Allan Kardec fez uma análise dos reformadores sociais de sua época e que ele entende que visaram apenas a vida material, o que não é suficiente para sustentar-se uma sociedade que se estruture em laços de fraternidade, e não em uma sociedade de sagazes, que divide as pessoas entre exploradores e explorados. “O espiritismo, por sua poderosa revelação, vem, pois, acelerar a reforma social”– afirmou. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutor em Administração e especialista em Psicologia do Trabalho. Além de escritor e articulista, Jáder mantém o blog espiritismocomentado@blogspot.com. 1
2ª edição, 1981, trad. Wallace Leal V. Rodrigues www.correiofraterno.com.br
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ENSAIO
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oi o amigo Lindomar Coutinho quem me contou a seguinte história: Elisângela saiu de casa, no horário habitual, para buscar sua filha Raquel na escola. Era uma linda garota de seis anos, doce e amorosa, que se convertera na luz daquele lar.
chorar Parando o carro em frente ao prédio, como sempre fazia, a mãe buzinou cinco vezes, como era de costume. Aquilo era um código entre ambas, e a filha, tão logo identificava os sons, saía, festiva, para encontrar os beijos maternos e retornar para o ninho doméstico. No entanto, naquele dia, Raquel não saiu. Elisângela buzinou novamente, mas a menina não saía. Avistando uma funcionária na porta da escola, pediu-lhe o favor de procurar a filha, no que foi prontamente atendida. Passados alguns minutos, a pequenina era trazida, guiada pela mão esquerda, enquanto a direita era utilizada para enxugar grossas lágrimas que teimavam em cair de seus olhos. Chegando ao carro, abraçou-se à mãe e continuou o seu choro. Elisângela, acolhendo a filha e com carinho, perguntou se ela tinha caído,
Por PEDRO CAMILO
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se machucado; queria, enfim, saber o que estava acontecendo. Raquel, com os olhos ainda marejados, respondeu: – Sabe, mamãe, a Joaninha? Pois é! A boneca dela quebrou. Era a boneca mais querida dela, mamãe! – Ah, filhinha, foi mesmo? – Foi, mamãe, foi. Aí, eu demorei tanto assim porque estava lá, ajudando ela. Ouvindo aquelas palavras, Elisângela perguntou: – Quer dizer que você estava ajudando sua amiguinha a consertar a boneca? Registrando a pergunta e pensando por um momento, a menina respondeu: – Não, mãezinha. A boneca quebrou de vez, não tem jeito. E, num jeito de olhar bem característico, fitou a mãe e completou: – Eu estava ajudando ela a chorar... *** Não foi à toa que Jesus afirmou que precisamos ser como as crianças, se quisermos alcançar a plenitude. A pureza dos sentimentos e das iniciativas desses ‘pedacinhos de gente’ nos revelam lições que os livros e os discursos mais eloquentes nem sempre conseguem consolidar em nossos corações. Ao ver um irmão em dor, em sofrimento, costumamos exortá-lo a resistir, a que tenha resignação, a compreender que tudo aquilo possui uma causa e que não há injustiça nas leis divinas.
Não foi à toa que Jesus afirmou que precisamos ser como as crianças, se quisermos alcançar a plenitude” Contudo, em algumas circunstâncias, essas pessoas que nos procuram não necessitam de sermões longos e exaustivos. Carecem, apenas, de que tenhamos suficiente sensibilidade para, sintonizados com suas dores, podermos, simplesmente, “ajudar a chorar”. Pedro Camilo é escritor e expositor baiano, biógrafo de Yvonne Amaral Pereira.
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ANÁLISE
A língua que fere Por GUARACI DE LIMA SILVEIRA
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época de apurar valores individuais e coletivos, estabelecendo novas diretrizes comportamentais e educativas para a consolidação do Reino de Jesus na Terra. Muito embora a grande maioria não se interesse pelo assunto, tachando-o de futurista ou ilusório, é bom contribuir para que os mentores possam trabalhar conosco na edificação desse grande projeto. Em mundos superiores a interação é total nas esferas que compõem os sistemas planetários. Estamos sendo preparados para novas funções. Necessitamos realizar várias transformações e uma delas deve ser bem observada: as conversações diárias. O estalar da língua em frases soltas diuturnamente, muitas vezes sem os devidos cuidados. Com seu teor vibratório, a palavra tem o poder de construir ou destruir, alterando ondas, frequências e estados gerais dos ambientes. Há casos em que, num ambiente infestado pelo mal falar, paredes ficam impregnadas de formas-pensamentos deletérias produzindo doenças, ao mesmo tempo atraindo espíritos vampirescos, criando ali seu habitat. Falar é uma arte. Evolução conseguida a partir dos primeiros grunhidos soltos nas florestas, quando saíamos da irracionalidade. Apurar a arte de falar é próprio dos seres racionais. Um “palavrão” é um ato rebelde ou leviano de alguém que passa por determinada situação que não o agrada. As situações são geradas a partir das nossas opções. Somos responsáveis absolutos por elas e devemos aproveitá-las ou nos desvencilharmos das suas agressões, sem ferir ouvidos alheios, sem manchar ambientes, sem contribuir para colapsos frequenciais de ondas em desalinho. No capítulo 3 da Carta de Tiago, vemos sérias advertências do apóstolo: “Vede como um pequeno fogo pode incendiar uma grande floresta! Assim também a língua é fogo, é um mundo de iniquidade; entre os nossos membros, é ela que contamina todo o corpo (...). Todas as espécies de animais selvagens, de aves, répteis e ani-
mais do mar se podem domar e têm sido domadas pelo homem. A língua, pelo contrário, ninguém a pode dominar: é um mal incontrolável, carregado de veneno mortal. Com ela bendizemos quem é Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procedem a bênção e a maldição.” Teólogos sempre se perguntam por que o apóstolo entrou por este assunto de forma tão contundente. Encontramos a resposta no livro Pontos e contos, Irmão X, psicografado por Chico Xavier. Conta-nos o autor que Tiago e Matias, apóstolo sorteado para substituir Judas no colégio, caminhavam para Betânia falando sobre a
traição de Judas. Conversação infeliz e acusatória ao irmão Judas: Tiago - Adiantou-se o infame e beijou-o na face. Matias - Que insolência. Que homem fingido esse Judas terrível! Tiago - Será Judas para sempre a nossa vergonha. Matias - Como se atreveu a semelhante absurdo? Tiago - Foi o espírito diabólico da ambição desregrada. Matias - Judas não deveria passar de criminoso vulgar. De repente eis que Jesus surge ao longe na estrada. Vinha caminhando apressado.
Tiago o reconheceu. Lembrou-se dos caminhantes da estrada de Emaús e foi logo dizendo: – É o Senhor, abençoai-nos! Podemos voltar a Jerusalém a fim de receber a vossa vontade e cumpri-la. O Mestre, no entanto, quase não parou para atendê-lo e disse meio que caminhando, meio que penalizado, aprofundando seu olhar naquele companheiro que ainda não havia entendido sua mensagem do “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.” Então disse a Tiago: – Não, Tiago. Não vou agora à cidade. Sigo em missão de auxílio a Judas. Foi aí que aquele apóstolo retornou à sua escrita e grafou o capítulo terceiro da sua carta, reconhecendo o erro cometido no julgamento a Judas. Encerrou-o dizendo: “Mas isto não deve ser assim, meus irmãos. Porventura uma fonte lança pela mesma bica água doce e água salgada? Porventura, pode a figueira produzir azeitonas, ou a videira dar figos? Uma fonte de água salgada também não pode dar água doce.” Como é minha língua? A que fere ou a que cura? Como utilizo meu poder de falar? Emitir opiniões e conceitos é salutar, desde que os propósitos sejam para a paz e nunca o fermento para guerras. Há quem não perde uma única chance de incendiar fogueiras. Incendeiam-nas e saem, deixando que outros se queimem, afirmando depois que não tinham aquela intenção! Sabiamente Jesus nos alertou: “A boca fala o que está cheio o coração”. “Não é o que entra pela boca que macula o homem e sim o que dela sai.” Injúrias, maledicências, fofocas, julgamentos... Pratos servidos em refeições diárias dos falares humanos. A língua pode ser uma arma fatal ou uma luz a guiar em plena selva escura. Depende do coração de quem a detém. Guaraci é escritor, dramaturgo e articulista espírita de Juiz de Fora, MG. www.correiofraterno.com.br
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Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fique atualizado sobre o que acontece no meio espírita. Participe. www.correiofraterno.com.br Curso de Capacitação Administrativa MAI para Gestão de Centro Espírita Início dia 12 de maio de 2012, às 8:30 horas, no CCDPE-ECM - Alameda dos Guaiases, 16 - Planalto Paulista – Metrô Praça da Árvore. Realização: USE do Estado de São Paulo e Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro. Preparado e coordenado pela Secretaria Geral do Conselho Federativo Nacional da FEB. Inscrições: use@usesp.org.br e julianezu@terra.com.br. Informações: www.ccdpe.org.br . Fone: 11-5072-2211 e 2950-6554.
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Simpósio nos Estados Unidos MAI O Conselho Espírita dos Estados Unidos promoverá no dia 12 de maio o 6º Simpósio Espírita dos Estados Unidos, sob o tema “Amor e iluminação, um caminho para a autocura”. Expositores: Daniel Assisi, Brian Vosberg, Marcia Trajano, Vanessa Anseloni, Jussara Korngold, Edward Christie, além do Mark Baker, autor do livro Jesus, o maior psicólogo que já existiu. Local: The Rialto Center for the Arts at Georgia State University – 80 Forsyth St. NW – Atlanta, GA – 30303 – Estados Unidos. www.spiritistsymposium.org.
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Chamada de trabalhos para o Encontro AGO Nacional de Pesquisadores Aos pesquisadores e estudiosos em geral sobre a temática espírita que queiram submeter seus trabalhos de pesquisa para o 8º Encontro Nacional da Liga dos Pesquisadores do Espiritismo. Período: de 15 de março a 15 de junho. Data do evento: 18 e 19 de agosto de 2012. Local: Centro de Cultura, Pesquisa e Documentação do Espiritismo – CCDPE/ECM. Alameda dos Guaiases, 16, Planalto Paulista. São Paulo. Informações: www.lihpe.net ou contato@lihpe.net.
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3º Festival do Livro Espírita de São Bernardo do Campo Dia 3 de junho, no Grupo Fraternal Dr. Bezerra de Menezes. Rua Batuíra, 400, Bairro Assunção. Das 9:00 às 20 h. Com descontos especiais, sessão de autógrafos, mesas de debate com João Berbel, Astrid Sayeg, Alex Carciofi, Pedro Camilo, Agnaldo Paviani, Manolo Quesada, além de grupos musicais, espaço para crianças e muito mais. Apoio: Conselho Espírita de São Bernardo do Campo. http:// flesb.blogspot.com.br/p/cronograma-do-festival-2012.html
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CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO
Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
Encontre as palavras em destaque no diagrama abaixo.
ENIGMA
ALMA – espírito encarnado
MÉDIUM – intermediário
BILOCAÇÃO – desdobramento
OBSESSÃO – influência espiritual perturbadora
ANIMISMO – manifestação da alma
VOZ DIRETA - uma das formas de efeito físico
ECTOPLASMA – fluido da materialização
PASSE – transfusão de fluidos
ÊXTASE – sonambulismo apurado
PSICOGRAFIA – um dos tipos de mediunidade
DUPLA VISTA - vista da alma R
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Solução da Palavra Cruzada
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Veja em: www.correiofraterno.com.br
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22º Concurso de Poesia A Arte Poética Castro Alves inicia o 22º Concurso de Poesia com Temática Espírita. Os interessados têm até o dia 30 de setembro para participar. Saiba mais acessando o site www.correiofraterno.com.br.
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qualquer hora, em qualquer lugar
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Quando começou o período de transição do planeta para um mundo de regeneração?
De acordo com os discursos de Kardec publicado na obra Viagem Espírita em 1862, este período de transição já havia começado em sua época. Kardec destacava que uma nova geração de espíritos melhores estavam reencarnando e que os piores estavam partindo para não voltarem mais.
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Jantar dançante beneficente Dia 11 de maio, às 20 horas I Local: Restaurante São Judas Tadeu – na rota tradicional do “Frango com MA polenta”. Av. Maria Servidei Demarchi, 1749 – São Bernardo do campo-SP. Você se diverte e ainda colabora! Informações e convites: 11 4109-8938. site: www.laremmanuel.org.br
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LeItURA
Uma viagem ao passado baseada em histórias espirituais Por SOnIA M. c. KASSe
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eviver fatos, acontecimentos que marcaram a história da humanidade nem sempre é uma tarefa fácil e prazerosa. Trazer à tona os costumes, hábitos, crenças e filosofia de uma época, implica assumir alguns desafios e riscos, principalmente quando tais vivências são relatos de espíritos atormentados. Em sua obra A dama da noite, da Edi-
tora Espírita Correio Fraterno, Herminio Corrêa de Miranda oferece ao leitor uma viagem no tempo muito bem estruturada e esclarecedora, com a qual as explicações precisas e detalhadas nos fazem reviver avidamente todos os acontecimentos enunciados. É como se o presente deixasse de existir e fôssemos transportados através do tempo. Por sua considerável experiência como doutrinador em tarefas mediúnicas, Herminio consegue gentilmente obter relatos de espíritos que se sentem perseguidos, ofendidos, magoados ou incompreendidos.
cOISAS De LAURInHA
Muitos estão cegos pelo ódio e desejo de vingança, por isso, criam obstáculos e bloqueios para sua evolução. A beleza da obra está na seriedade, persistência, calma e bondade com que o doutrinador dialoga com os sofredores. Ele lhes transmite a confiança necessária para a continuidade dos trabalhos, sempre com paciência e dedicação. Assim, consegue reverter várias encarnações de dor e sofrimento para o aprendizado de novas lições baseadas no perdão, na fé em Cristo e no amor ao próximo. Viaje através dos tempos com esta literatura cuidadosamente elaborada.
Por tAtIAnA BenIteS
Médium lê pensamentos
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aurinha chega da aula de evangelização infantil e fala para mãe: – Mãe, você sabe o que é mediunidade? – Sei, filha. Foi isso que você aprendeu hoje? – Foi!.... Mãe, pergunta pra mim o que é mediunidade. A mãe abre um sorriso e diz: – Filha, o que é mediunidade? – Mediunidade é quando alguém pode se comunicar com espíritos. Pode ser por
pensamento, escrevendo recados e cartas ou falando com eles em voz alta. Você sabe o que é médium? – O que é? – perguntou a mãe percebendo a empolgação da filha. – É a pessoa que se comunica com o espírito. – Muito bem, Laurinha. – Mãe, você sabia que a vovó é médium? – É? Por que ela é médium? – Por que ela se comunica comigo por pensamento. toda vez que eu vou pra casa dela, ela faz meus bo-
linhos preferidos e eu nem falo nada pra ela. ela lê meus pensamentos. – Mas o que você aprendeu na aula hoje é sobre pessoas que se comunicam com espíritos... Antes de sua mãe terminar, Laurinha, mais séria, responde para sua mãe: – Mãe, hoje aprendi que o médium se comunica com o espírito por pensamento... Espírito é espírito, não importa se está vivo ou morto! Já sei tudo sobre mediunidade! www.correiofraterno.com.br
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FOI ASSIM
Reencontro de Chico na Casa Transitória Por SÉRGIO TADEU DINIZ
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estes dias, vimos uma conversa interessante sobre a casa Transitória, sim, a mesma casa Transitória Fabiano de Cristo, fundada pelo sr. José Gonçalves Pereira, na década de 50. Os amigos conversavam e um disse ao outro: – Sabia que já dei passe no Chico Xavier aqui na casa? Numa de suas visitas, Chico veio até onde funcionava o asilo e me pediu um passe. Interessante é que depois fomos ver
as assistidas e, entre um cumprimento e outro, vimos uma senhora muito sensível que tinha um pouco de esclerose e sempre repetia as coisas da mesma maneira. Quando Chico se aproximou dela, ela disse: – Francisco, como você está lindo...” Ninguém entendeu, uma vez que ela jamais reconhecia alguém pelo nome, apenas dizia “meu amor” a todos os que via. Mas com Chico foi diferente.
VOCÊ SABIA?
O médium, por sua vez, respondeu a ela: – Teresa, quem está linda é você, e olha que te conheço de outras vidas, hein. Isso mesmo, ali, com uma senhora doente e distante, Chico faz uma revelação dessas, de maneira tão simples, direta, sem sensacionalismo, enfim, de forma muito discreta. Esse era o Chico, essa era a Teresa. Esses são os fatos. Mais um que ninguém jamais poderia imaginar.
Por ELIANA HADDAD
A resposta de Rui Barbosa sobre a constituição E
m 1933, desejando de alguma forma contribuir para a solução do problema constitucional, o dedicado colaborador da Federação Espírita Brasileira, Frederico Figner (Irmão Jacó), pediu ao médium Francisco Cândido Xavier que procurasse obter do espírito Rui Barbosa (1849 – 1923) a sua valiosa opinião sobre o momento político-social do Brasil, pois certamente, patriota que era, deveria estar atento à política nacional. Naquela época, Chico Xavier respondia a entrevistas e divulgava algumas mensagens transmitidas pelos espíritos,
que aceitavam responder grande parte das perguntas através do médium. Isso não demorou muito, porque logo Chico seria orientado por seus mentores espirituais a evitar tais abordagens, para não prejudicar a essência da sua tarefa, que era de trazer a lume obras complementares à codificação espírita. E foi pela psicografia de Chico que Rui Barbosa, que redigiu a constituição anterior, em 1891, revelou-se mesmo preocupado, alertando para que não se perdessem na nova constituição as conquistas de liberdade, cidadania e de justiça da anterior.
A mensagem acabou virando o opúsculo Rui e a nova Constituição (FEB), que circulou somente nos anos de 1933 e 1934. Em um dos trechos, revelou Rui Barbosa: “É inegável que o Brasil atravessa um dos períodos mais críticos de sua vida como nacionalidade. País novo, não se achava indene de contagiar-se do sopro das reformas que agita as coletividades do Velho Mundo... O erro da política brasileira, porém, está em não reconhecer a profunda diversidade dos métodos psicológicos a serem aplicados ao nosso povo e aos do mundo europeu... Que Deus
inspire aos novos constituintes as noções de seus austeros deveres, a fim de que não sufoquem arbitrariamente as prerrogativas naturais do Direito, que jamais se posterga impunemente... A adaptação, aqui, dos processos políticos praticados largamente na Europa moderna seriam de eficácia irrisória. No Brasil, os problemas são outros”– comentou. Fonte: Chico Xavier inédito, de Eduardo Carvalho Monteiro. Ed. Madras. Leia a mensagem completa em nosso site www.correiofraterno.com.br
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MUNDO SUSTENTÁVEL
Closet: o santuário do consumo moderno Por ANDRÉ TRIGUEIRO
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em o consumo consciente não há salvação, não há solução para a humanidade. Nós replicaremos o modus operandi dos gafanhotos quando se transformam em pragas que dizimam lavouras. É o que estamos fazendo com os recursos naturais não renováveis do planeta, que é um só! Nem todos os recursos são renováveis. Não há outro planeta. Não há plano B. Não há operação Arca de Noé. Ou usamos com inteligência e discernimento o que temos, ou pereceremos. Essa questão fica um pouco invisível dentro da sociedade de consumo, por motivos óbvios. Se imaginarmos um planeta onde não houvesse miséria ou pobreza, sem dúvida alguma seria um lugar muito melhor e mais justo. Entretanto, se nesse planeta não houvesse a cultura do consumo consciente amplamente disseminada, não haveria solução para nossa espécie. Nós precisamos disseminar os valo-
Não há outro planeta. Não há plano B. Ou usamos com inteligência o que temos, ou perecemos”
res do consumo consciente com urgência porque o tempo corre, os anos passam, e a sociedade de consumo vai se sofisticando na direção contrária à da sustentabilidade. Lembro-me da importância atribuída ao armário embutido na minha infância. Passados aproximadamente 35 anos, a garotada não sabe o que é armário embutido. Os valores mudaram e a demanda por espaço aumentou. Hoje usamos um nome sofisticado, em inglês, para designar um cômodo inteiro que precisa abrigar todas as nossas quinquilharias do dia a dia. É o closet! E ele ganhou uma importância incomum dentro do imóvel, a ponto de revistas de decoração trazerem na capa reportagens com dicas de decoração, de light designers, ensinando a projetar feixes mágicos de luz dentro do closet. O closet se torna, portanto, o símbolo
de uma época. Na época do armário embutido, importava ter, possuir, colecionar. Na época do closet importa não apenas tudo isso, mas também ostentar. Há pelo menos três armadilhas embutidas no estilo de vida. A primeira é de natureza ético-moral: ostentar a abundância onde há escassez. Na sociedade de consumo essa não é uma questão porque os valores prevalentes são o egoísmo, o hedonismo e o individualismo. Cada um por si e, talvez, Deus por todos. Não é difícil encontrar, em boa parte do Brasil e do mundo, num raio de cem metros ao nosso redor, alguém que passe por privações de ordem material. Ostentar a abundância não é inteligente, não é uma boa ideia. A segunda armadilha é de ordem ecológica: o que exatamente estamos levando para casa como consumidores? O consu-
mo favorece a vida. Precisamos consumir para viver. Já o consumismo depreda, devasta e destrói os recursos fundamentais da vida. O sufixo “ismo” alude a desperdício e excesso. Sapatos, meias, relógios, óculos, qualquer brinquedinho que a gente goste de colecionar leva juntos “pedaços” da natureza. Basicamente matéria-prima e energia. Se o planeta é um só e os recursos são finitos, precisamos fazer bom uso deles para que não haja escassez. Cenário de escassez precipita conflito, guerra, disputa. A terceira armadilha é a ilusão de transferir para bens materiais o que é verdadeiro, porém intangível: felicidade e paz. Acumular bens achando que esse é o caminho da felicidade e depois fazer fila no consultório psicanalítico. Ou se entupir de drogas lícitas e ilícitas porque permanece a sensação de vazio existencial, uma vida descartável, perecível como é a embalagem de um presentinho qualquer. Tenhamos atenção. Não há tempo a perder. Algumas instituições revelam que a sanha consumista tem determinado um avanço de 30% na capacidade de suporte da Terra. Ou seja, ao final do ano teremos explorado 30% a mais de recursos naturais do que a Terra seria capaz de suportar no período. É um modelo ecocida de desenvolvimento. Nós estamos estimulando o ecocídio. Segundo o Banco Mundial – que não é uma organização ambientalista – aproximadamente 20% da humanidade consomem 80% dos recursos naturais. Desarmar esse ímpeto consumista de aproximadamente 20% da população mundial é um desafio. Consumir menos não é apenas possível, é necessário. Uma vida simples faz bem para a alma. E não é uma vida monástica, é uma vida com menos. O texto completo está publicado no livro Mundo Sustentável 2 – Novos rumos para um planeta em crise, André Trigueiro. Ed. Globo. www.correiofraterno.com.br
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MARÇO - ABRIL 2012