Haroldo Dutra
ISSN 2176-2104
CORREIO
Entrevista:
As incríveis descobertas deste orador e pesquisador trazem uma nova visão sobre a figura puramente religiosa de Jesus. Págs. 4 e 5.
FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o
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ABRACE,
A. J. ORLANDO
uma ação no imperativo!
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se você estivesse desesperançado e buscasse hoje o alento para a sua alma? E se encontrasse uma casa espírita pela primeira vez e resolvesse entrar... ME ABRACE! – possivelmente seria este o apelo de seu coração. Uma ação tão comum, mas tão esquecida em nossas relações cotidianas. Compartilhar é lei da Natureza! Não foi por acaso que “solidariedade” foi o tema que pautou os quatro dias do Congresso Estadual de Espiritismo, realizado em abril, em Franca, SP. Em tempos de rapidez e instantaneidade na comunicação, representantes do espiritismo no Brasil e no mundo alertam para que não se percam os olhos de ver para as necessidades humanas. Afinal, acima de tantos planos, projetos e estatísticas, todos estamos ávidos por encontrar aconchego nos momentos de desconforto. O convite é um grande desafio: precisamos nos sentir acolhidos. Leia mais nas páginas 8 e 9.
Humor Encarnado ou empeixarnado? Essa Laurinha! Sobre tudo ela quer logo opinar... Mesmo que não domine assim tão bem o assunto. Sobre reencarnação, ela tem uma teoria! Divirta-se! Pág. 13.
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Baú de memórias Tomás Novelino teve inúmeros motivos para fundar o Educandário Pestalozzi, reconhecido pelos próprios suíços como o colégio que mais se assemelha ao modelo idealizado por Pestalozzi, o mestre da educação do Instituto de Yverdon, na Suíça, onde estudara Allan Kardec. Pág. 11
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eDItORIAL
Ávidos por
aconchego
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Brasil é um país religioso. Aqui vive um povo de fé, das mais diversas origens e crenças. Nós espíritas somamos mais de um milhão e meio de adeptos, que seguem e estudam a doutrina codificada por Allan Kardec. Proporcionalmente à população, somos poucos. E temos muito a realizar através do espiritismo, que ainda, como dissera Herculano Pires, é um grande desconhecido. Não há dúvida de que o espiritismo está na moda. Invadiu todas as mídias, na maioria das vezes, porém, ainda com um conteúdo bem superficial, por não ter conseguido transmitir sua grande mensagem. Ela subjaz no incentivo à transformação moral, individual e social, através do conhecimento da primazia do espírito sobre a matéria. Isso, claro, só com
tempo. Porém, algo acena como necessidade imediata na sua tarefa de caridade: o acolhimento das pessoas que o procuram. Por curiosidade, pela dor, pela esperança, não importa o motivo. Todos precisamos ser abraçados por essa doutrina que explica e liberta. O tema solidariedade, que mapeou quatro dias do 15º Congresso Estadual de Espiritismo, em São Paulo, mostrou através de palestrantes, voluntários e congressistas que nós espíritas precisamos partir para a ação da fraternidade, darmos as mãos, respeitarmos diferenças e abrirmos os braços para um mundo ávido por aconchego e esperança, uma Humanidade que nada mais procura do que ser amada. Mas que ainda precisa também aprender a amar.
CORREIO DO CORREIO Curtir o Correio A Edição 444 do Correio ficou excelente. Gostei muito do texto do Jáder Sampaio (Há um século e meio), principalmente relacionando problemas do movimento espírita emergente com os presentes nos dias de hoje. Ótima também a entrevista com o Michel Buffet. O entrevistado não se ilude, nem adota a postura
ufanista (que nós brasileiros somos ingenuamente especialistas) sobre o papel da França no surgimento e desenvolvimento do Espiritismo. A internacionalização do Espiritismo é o tema com o qual cada vez mais nos depararemos. Parabéns! Se estivesse no Facebook eu teria apertado o botão de curtir. Um abraço a todos. Marco Milani, São Paulo-SP
• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos.
Um abraço aconchegante da equipe Correio Fraterno. Espiritismo na internet Acho sempre ótimo que as pessoas tenham tempo para nos prestar amor e ensinamento. Obrigado ao site. Um abraço. Santana, Pelotas-RS Olá, Santana. Realmente o acesso à informação através da internet é uma grata conquista para todos nós. E como é gostoso saber que o trabalho que realizamos com tanto carinho aqueceu seu coração. Nosso intuito é sempre esse: entreter, consolar e oferecer o que a doutrina espírita tem de melhor a todos os que se interessarem. Um abraço da equipe Correio Fraterno.
Foto de capa: Gisele Monteiro e Maysa Neves Pimenta, de Mocidades Espíritas da cidade de Franca, voluntárias no Congresso Estadual.
CORREIO
FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118
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em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências.
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• Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
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Acontece
Entretenimento inteligente nas tardes de domingo Por ELIANA HADDAD cinema”, que analisa filmes com temática espírita, como O sexto sentido, Amor além da vida, Ghost, Espíritos, E se fosse verdade, dentre outros, comentados pelos médiuns Divaldo Franco e Raul Teixeira. O programa é uma realização da Federação Espírita Brasileira, com a produção do Conselho Espírita Internacional. “O que se pretende é atingir os dois públicos – o público leigo, através da divulgação da fenomenologia mediúnica, que normalmente é a porta de entrada, a da curiosidade; e o público espírita, conhecedor dos conceitos codificados por Kardec, através de uma mensagem consoladora” – explica o coordenador Luis Hu. É assim que alguns expoentes do movimento espírita, como o médico Alberto Almeida, participam trazendo conceitos sobre depressão, relações familiares, saúde etc., tudo de uma forma leve, bem contextualizada, numa linguagem rápida e direta, como exige a televisão. Luis Hu alegra-se com a oportunidade da divulgação e destaca a dificuldade de se conseguir um espaço em rede aberta. “Em tevê, tudo é muito caro. O espírita não entendeu ainda o enorme alcance dessa veiculação, que atinge milhões de pessoas, sendo também uma forma de caridade. Caridade não é só dar esmolas, mas proporcionar esclarecimento para que todos possam se libertar de tantos conflitos, pela descoberta do espiritismo”. Segundo Hu, esse custo financeiro é alto, porém necessário para que
Luis Hu: “Se Kardec estivesse vivo investiria em TV”
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aseado numa cultura inspiradora de filmes, livros, novelas e seriados, o programa Mundo Além, que vem sendo veiculado em canal aberto, na Rede TV!, aos domingos às 16:15h, tem alcançado mais de 200 mil domicílios semanais em sua primeira temporada. Produzidos pela TVCEI, sob a coordenação geral de Luis Hu, 24 episódios irão ao ar até o próximo mês de setembro. Na sequência, uma nova temporada se inicia seguindo até dezembro, quando termina o espaço garantido na grade de programação, graças ao patrocínio de um grupo de empresários espíritas. Apresentado por Jorge de Almeida, Mundo Além mostra diversos vídeos com temática referente à fenomenologia espírita – como psicografias, psicofonias, pinturas mediúnicas –, relembra os melhores momentos do Pinga-Fogo com Chico Xavier e dos festivais de música espírita. Possui também um quadro chamado “Além do
os programas espíritas sejam competitivos e tenham qualidade para serem atrativos e agradáveis. O desafio, como esclarece o coordenador, não é mesmo fácil. “Muitos colocam tudo dentro do mesmo lema do ‘dá de graça o que de graça recebeste’. Esquecem-se de que isso se refere à mediunidade e não à qualidade, ao custo de uma produção profissional.” Ele conta que o plano inicial era de que os custos do projeto fossem cobertos pela venda de assinaturas do Clube CEI. Hoje já são dois mil associados, não se constituindo ainda como aporte financeiro suficiente para que o programa possa ter continuidade. “Continuamos na dependência de novos investidores espíritas.” Para Luis Hu, a repercussão do Mundo Além tem sido bastante favorável, com os espaços sendo desbravados. Além de exibido em rede aberta para todo o Brasil, o pro-
grama também está sendo veiculado em Moçambique e dublado para o inglês para ser transmitido em Miami. Também pode ser assistido pela TVCEI, aos domingos, às 19:30h, com reprises às terças e quintas-feiras às 21:30h. E, através de parceria com a Netnow, canal 1, também é possível baixar os episódios anteriores gratuitamente. Todos os esforços para produzir, editar e deixar o programa cada vez mais agradável estão sendo envidados pelos profissionais da TVCEI, que também contam com o apoio da TV Fraternidade (Fraternidade Francisco de Assis), produtora do antigo programa Transição. E finaliza: por tradição, os espíritas possuem muito material escrito, mas ainda pouco material de imagem e som. “Se Kardec estivesse vivo, investiria em TV”. Saiba mais: www.mundoalem.com
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ENTREVISTA
Um mergulho nos originais do Novo Testamento Por ELIANA HADDAD e IZABEL VITUSSO Ele nasceu em Belo Horizonte, é juiz de Direito, e especializou-se nas línguas hebraica, aramaico, francesa, grega clássica, e também em paleontografia, crítica textual e tradição judaica. Haroldo Dutra Dias prepara agora a segunda edição da tradução do Novo Testamento diretamente dos manuscritos gregos. Seu jeito simples engana. Bastam alguns minutos de conversa para perceber a profundidade de seu conhecimento e seu interesse em resgatar a mensagem renovadora de Jesus na sua origem. Por onde passa, tem lotado seminários e impressionado a plateia, pela precisão de conceitos e clareza de raciocínio. Para ele, porém, o conhecimento não basta. “É preciso desenvolver a sensibilidade dessa visão cósmica e espiritual da vida, fruto do estudo da doutrina espírita, na sua feição de cristianismo redivivo”. Estas e outras ideias você lê na entrevista que se segue: O que levou você a se interessar pelo estudo mais aprofundado da linguagem do Evangelho? Haroldo Dutra Dias: Eu tinha 15 anos de idade quando li o livro Nosso Lar. Tive com a obra uma identificação total. Senti como se eu tivesse chegado a um porto seguro, uma área conhecida. Fui parar numa mocidade espírita, com tradição de estudo da obra de Emmanuel sobre o Evangelho. Poucos meses depois passei a frequentar o Grupo Emmanuel, de onde participaram os pioneiros: Dona Neném, Martins Peralva, Manuel Alves, Honório Abreu, Mário Sampaio, Damasceno Sobral. Um grupo que tinha uma tradição pouco comum de estudar a Bíblia à luz da doutrina espírita. Um dia, ao ler no O evangelho segundo o espiritismo, o capítulo “Moral estranha”, percebi que havia uma nota de fim de página [Nota de M. Pezzani]. Era um amigo de Allan Kardec, que conhecia grego e hebraico, esclarecendo que as traduções não eram felizes naquele ponto, porque não consideravam os elementos daquelas línguas. Que amar e odiar era uma expressão literária que significava amar mais e amar menos. Percebi que o estudo da língua era uma chave para penetrar mais profundamente nas questões do Evangelho. www.correiofraterno.com.br
Haroldo Dutra: É impossível compreender o Evangelho sem conhecer a cultura e a sociedade judaica da época de Jesus
Você conseguiu discutir, estudar esse conteúdo na casa espírita? Haroldo Dutra Dias: Procurei esses estudos no meio espírita e me surpreendi. Não obstante a riqueza de material sobre o Evangelho, a começar pelo monumental O evangelho segundo o espiritismo, não havia tradição no estudo bíblico, ao contrário dos movimentos católico e protestante, em que há escolas, formação de pessoas, cursos em que aprendem as línguas bíblicas. À medida que eu fazia o curso de Direito, comecei a fazer grego. E ao se ler o Novo Testamento em grego, um mundo novo se descortina. Acabei por entrar em contato com a obra de dois grandes espíritas: Canuto de Abreu – O evangelho por fora – e a obra de Pastorino, que não é propriamente uma obra espírita, no sentido doutrinário, mas com grande conteúdo histórico e linguístico. Ao me formar em grego, as outras línguas do Velho Testamento vieram como necessidades.
Jesus. Sem o conhecimento da língua, da literatura de um povo, não o entendemos. É impossível uma compreensão profunda de certos elementos do novo testamento e da Bíblia de um modo geral sem o conhecimento da cultura greco-romana da época. E a maioria dos equívocos de interpretação bíblica, dos fundamentalismos, dos fanatismos, das leituras literais, decorrem disso.
O que você descobriu de diferente? Haroldo Dutra Dias: Confirmei na prática uma afirmação de Kardec, que está na introdução histórica do O evangelho segundo o espiritismo: é impossível compreender o Evangelho sem que a pessoa estude a cultura e a sociedade judaica da época de
Você poderia citar algum exemplo da mensagem de Jesus que foi mal interpretada? Haroldo Dutra Dias: Sim. Há o exemplo clássico do: “Quem odiar pai e mãe não será digno do reino dos céus”. Na língua hebraica, os opostos são feitos em forma
poética. E nesse contraste passa-se a ideia de gradação: “Os últimos serão os primeiros, os primeiros serão os últimos”, por exemplo, e uma série de frases de Jesus está na poesia hebraica. Ele usa esses expedientes. Se você não conhece a literatura, faz afirmações absurdas sobre esses ensinos. Segundo exemplo: quando Jesus está na cruz e diz: Eli, Eli, lemá sabachthani (“Deus, meu Deus, por que me desamparaste? Por que me abandonaste?) e lemos rios de tinta que dizem que Jesus fraquejou, sentiu medo. Escrevem coisas que não têm o menor sentido por não entenderem que na verdade ele está recitando o Salmo 22. São mais de 30 salmos recitados por Jesus, desde o momento da sua prisão até o da crucificação.
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eNtReVIStA Fazendo-se um estudo desses salmos, da sua importância na literatura judaica, entende-se por que Jesus está citando cada um e qual a lição. Além dos salmos que enriquecem a compreensão, ainda há a dificuldade com relação às traduções do Novo Testamento. Como devemos estudá-lo? Haroldo Dutra Dias: Há uma pesquisa que estamos fazendo, um campo inexplorado, que é a retradução dos textos bíblicos. Todos os textos do Velho Testamento estão em grego e sabemos que Jesus falava aramaico. A sociedade daquela região falava aramaico e hebraico. Quando fazemos isso, há uma surpresa: tudo está em forma de poesia, 98 por cento da fala de Jesus obedecem a um padrão de poesia, com rima e ritmo. Um francês chegou a levantar essa hipótese, mas agora precisa-se explorar mais isso. A poesia de Jesus possui quatro ritmos – de dois, três, quatro e cinco acentos, que são as sílabas tônicas. E a pesquisa agora está confirmando que quando ele quer consolar ele usa um tipo de acento; quando quer chamar atenção, usa outro tipo de acentuação. Tudo é poética e quando Jesus muda esse ritmo, a mensagem que está querendo veicular é diferente. Jesus deixa de ser uma figura puramente religiosa e passa a ser aquilo que o espiritismo sempre o apresentou – o governador espiritual do orbe, o espírito de suprema hierarquia que já pisou na Terra, mestre dos mestres, cujo ensino contém poesia e musicalidade, conteúdo, espiritualidade. É como se Jesus ressuscitasse – no sentido metafórico – diante dos nossos olhos. Já que tudo isso tem a ver com a difusão dos ensinos de Jesus, gostaria que fizesse um paralelo entre a era da divulgação da doutrina hoje, com vocês desenvolvendo programa em rádio web, por exemplo, com a anterior, fortemente marcada por palestras, conferências, com oradores de grande público como Divaldo Franco. Haroldo Dutra Dias: Entendo que são projetos complementares e não excludentes. A seara de Jesus é muito ampla e o Divaldo representa aquele trator que desbravou, abriu os caminhos, deixando o campo pavimentado para a divulgação do espiritismo. Divaldo tem com seu estilo o objetivo
de atrair o grande público, através da poesia da sua fala, da história contada com certa encenação e que produz uma mobilização interior em quem o está ouvindo, para conhecer a doutrina. E aí começa o nosso trabalho, que é um trabalho mais dialógico, mais de conversa. É um segundo momento. A pessoa chegou, ouviu, aprendeu e agora sente sede de diálogo. Fale um pouco de como nasceu o podcast, o PodSer? Haroldo Dutra Dias: O PodSer nasceu quando tivemos uma intuição de que se colocássemos um microfone, reuníssemos pessoas em torno de uma pauta de assuntos a serem estudados, debatidos, iriam querer ouvir a nossa conversa. Gravamos o programa entremeado de um café, um pão de queijo, tudo muito natural, porque o mais importante é a reflexão sobre o conteúdo doutrinário. Há uma sede por diálogos, porque a casa espírita e o movimento federativo se prepararam e muito bem para quem está iniciando, mas o movimento espírita está muito carente para os veteranos que não encontram espaço. Tínhamos vontade de conversar! Encontrava pessoas com 30 anos de espiritismo e elas queriam debater questões sobre O livro dos espíritos, questões do Evangelho... O Podcast foi uma surpresa muito grata. Estamos vivendo um momento novo, de menos isolamento? Haroldo Dutra Dias: Estamos todos com muita vontade de compartilhar conhecimento. Acredito que estamos num novo paradigma. Depois da internet, o paradigma hoje se chama compartilhamento, construção coletiva o conhecimento. A gente não comparece a essa conversa [PodSer] como quem detém o conhecimento, mas como alguém que tem peças do quebra-cabeças e está interessado em montá-lo junto. É um processo de ajuste para a construção do conhecimento. Depois de ter feito isso tudo, ter iniciado o Podcast, eu decidi reler a Revista Espírita. E quando abri o primeiro mês da primeira revista espírita percebi que quem inaugurou isso foi Allan Kardec. Ele diz: “Essa será uma tribuna livre – discutiremos, mas não deputaremos. Porque disputa é orgulho.” É do que estamos sentindo falta hoje – de dialogar. E será através do debate que vamos aprender coisas do espiri-
tismo que estão adormecidas, participando do avanço do espiritismo rumo ao futuro. Ultimamente estou vivendo essa experiência. Tenho 25 anos de movimento espírita e resolvi reler toda a obra de Kardec na cronologia. Peguei a primeira edição do O livro dos espíritos, em francês, o primeiro fascículo da Revista e aí na sequência... Cheguei à conclusão: “Não conheço Kardec!”. Estou assombrado, lendo coisas que digo “não é possível que eu tenha passado por isso, não acredito que eu já tenha lido isso”. Tenho sempre convidado amigos a lerem também. E todos ficam surpresos... Gostaria de saber como você está organizando esse arquivo de documentações originais. Pretende montar algum acervo ou museu? Haroldo Dutra Dias: Temos a ideia, mais para frente, de um projeto grandioso, que possa abarcar todos esses projetos. Ainda estamos numa fase de gestação da ideia e temos um ponto intermediário, através da FEB, um convite para coordenarmos um núcleo de pesquisa e estudo do Evangelho, do Novo Testamento, um programa em nível nacional. A ideia é fazer algo compartilhado. Ter pessoas de vários estados, como uma rede, para que possamos dialogar. Eu fiquei muito feliz, porque é a primeira vez que a Federação Espírita Brasileira abraça um programa de estudo do Novo Testamento à luz do espiritismo. Nós do Correio Fraterno ficamos felizes e vibramos muita luz para esse seu trabalho. Parabéns por sua inquietude! Haroldo Dutra Dias: Eu é que agradeço com carinho a emoção que me proporcionam. Quando começamos a falar de Jesus à luz da doutrina espírita, entramos em sintonia com esses grandes espíritas do passado que tinham esse ideal. É como se nós elevássemos a nossa vibração e entrássemos na esfera de atuação deles e aí a gente sente aquela emoção mesmo. Profunda. Porque é como se nó voltássemos para as nossas raízes – Kardec, Bezerra, Eurípedes, Cairbar, Ivonne... Aquele espiritismo que você se emocionava, que fazia o coração bater acelerado. É isso!
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ANÁLISE
O caminho para a
felicidade social Por Doris Madeira Gandres*
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m filósofo, Rodhain, afirmou: “A justiça só floresce num terreno trabalhado antes pela caridade” e Allan Kardec assegura: “Considerada do ponto de vista de sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira linha: é a base. Sem ela não poderiam existir a igualdade, nem a liberdade séria. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade é consequência das duas outras”. Percebe-se facilmente como estas duas declarações se assemelham, já que caridade e fraternidade caminham juntas – uma, a fraternidade, leva inevitavelmente à outra, a caridade. Em Obras póstumas, no estudo em torno da bandeira Liberdade, Igualdade, Fraternidade, há tanto tempo desfraldada e objeto de inúmeros conflitos, compreendemos que ainda não conseguimos mantê-la erguida e tremulando sobre toda a Humanidade, justamente porque ainda não consolidamos em cada um de nós essa base fundamental para o bom convívio e para o efetivo desenvolvi-
mento espiritual que é a fraternidade. Naquele estudo, veem-se ainda destacados o orgulho e o egoísmo como inimigos da igualdade e da liberdade e, consequentemente, da fraternidade de modo ainda mais ferrenho. O orgulho não permite se veja o outro, em primeiro lugar, como ‘próximo’; em segundo, muito menos ainda como igual, como irmão. E o egoísmo faz com que se queira tudo, sobretudo o que houver de melhor, para si mesmo, outorgando ao egoísta liberdades que não reconhece para os outros – o necessário para ele é pouco, precisa de supérfluos, por vezes até em excesso... A questão 793 de O livro dos espíritos alerta para o fato de que “uma civilização completa será reconhecida pelo seu desenvolvimento moral quando houver banido todos os vícios que a desonram e quando passarem todos a viver como irmãos”. Ora, para tanto, será necessário o exercício indiscriminado da fraternidade e da caridade, ferramentas indispensáveis para
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a extirpação dos preconceitos de todo tipo e das desigualdades excessivas, obra do homem devido a sua ambição e ganância (p. 806). Não foi em vão que Allan Kardec tomou como bandeira espírita o lema: “Fora da caridade não há salvação”, naturalmente desde que bem se compreenda o que seja caridade. Na questão 886 da obra citada, fica muito claro o entendimento de Jesus quanto ao exercício da caridade: “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas”. Não cogita da caridade material, do assistencialismo, visto que tal necessidade é decorrente justamente dos abusos que certas fatias da humanidade vêm perpetrando desde os tempos mais remotos. O destaque é para a ‘caridade moral’, de muito mais difícil aplicação... Quem de nós pode afirmar que tem benevolência para com todos, mesmo para com aqueles que não desfrutam da nossa amizade; quem de nós aplica a indulgência indiscriminadamente, ainda
que para com estranhos ou desafetos; quem de nós sabe efetivamente perdoar as ofensas, o que não significa esquecer, pois nada se esquece, mas compreender a situação evolutiva do outro dentro, muitas vezes, de condições de dificuldades mentais, físicas e sociais as mais complexas... É com base nessa caridade bem compreendida que chegaremos a implantar a verdadeira justiça, aquela compatível com a lei de Deus, porque compreenderemos o que os espíritos superiores afirmaram a Kardec na questão 812a de O livro dos espíritos: “Os homens se entenderão quando praticarem a lei da justiça”, visto que isso não é senão a prática da recomendação do mestre de todos nós: “Fazer ao próximo o que desejo que ele me faça”. E esse procedimento só se dará com a fraternidade e a caridade moral como vigas mestras do relacionamento entre os seres. Carioca, articulista de diversos jornais e revistas espíritas. Autora do livro A felicidade ao nosso alcance, DPL Editora.
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ESPECIAL FOTOS: A. J. ORLANDO
SOLIDARIEDADE A silenciosa conquista do progresso humano Por ELIANA HADDAD e IZABEL VITUSSO
“É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo...” O livro dos espíritos
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O caminho é compartilhar
oi justamente para falar sobre o trabalho no bem, a solidariedade entre todos e o cultivo da tolerância ante as imperfeições alheias que a União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo realizou, de 30 de abril a 1º de maio, o seu 15º Congresso Estadual do Espiritismo, em Franca, SP, reunindo mais de mil pessoas que discutiram e refletiram sobre o tema central “Solidariedade, uma outra forma de conhecer”. Realizado nas dependências do emblemático Educandário Pestalozzi, fundado há quase 70 anos pelo casal Maria Aparecida e Tomás Novelino (leia matéria na pg. 11), o evento que contou com congressistas, voluntários e representantes das federativas estaduais e também da Federação Espírita Brasileira, através do presidente Nestor João Masotti, estendeu a grande malha, onde conferencistas e oradores ajudaram a imprimir a essência do
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pensamento espírita sobre o tema. Acompanhado por pessoas de pelo menos 100 cidades de nove estados diferentes, o congresso para grande parte dos presentes foi um emocionante movimento de imersão reflexiva: solidariedade também é motivação que impulsiona a alavanca das mudanças. Divaldo P. Franco, Heloisa Pires, Alberto Almeida, Haroldo Dutra Dias, André Luiz Peixinho e Antonio Cesar Perri de Carvalho, todos abordaram aspectos diferentes de um mesmo tema, sorvido sofregamente pela plateia, e sobre o qual ainda permanece a nossa grande necessidade de falarmos... pensarmos... agirmos... rumo à silenciosa conquista do progresso humano. Ao final, além do grande desejo de se confraternizarem, os congressistas levaram consigo lembranças e impressões do que fora abordado: “Gostei muito de ter parti-
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cipado. Fiquei encantada ao conhecer as principais entidades espíritas de Franca, um exemplo a todos nós. Em sua palestra, César Perri sensibilizou a todos com sua exposição, profundamente doutrinária, sedimentando em nosso ser a necessidade de sermos solidários para não ficarmos solitários”, analisa Neiva Paggioli de Carvalho, uma das congressistas, de Ilha Solteira, SP. Veja alguns pensamentos dos oradores e participantes do evento: Valorizando a solidariedade “Kardec se utilizou da tríade de Pestalozzi para a educação: trabalho, solidariedade e perseverança com uma pequena modificação: trabalho, solidariedade e tolerância, porque sem tolerância nenhum grupo pode prosseguir, por falta do equilíbrio que dá a todos os mesmos direitos. Sem solidariedade o indivíduo está solitário.” (Divaldo P. Franco) Fortalecendo laços “A solidariedade é ponto fundamental para toda nossa atividade espírita. Uma oportunidade de somarmos nossos esforços, contermos as nossas imperfeições, para que possamos concretizar essa união e trazer para a Terra o mundo de regeneração, que não vem pronto, mas depende e precisa da participação de todos nós.” (Nestor Masotti) Reintegrando o saber “Kardec fez uma trajetória completamente diferente do modelo da época. Foi pioneiro na reintegração do saber. E ainda religou a comunidade dos encarnados e dos desencarnados, numa visão interexistencial, numa proposta jamais vista na história da humanidade. Para entender a solidariedade mente e corpo é preciso compreender que somos essencialmente espíritos, o substrato do universo. Estamos humanos, vestidos num corpo de carne. A evolução é vasta, solidária. Aprender é um ato de humildade. Se compreendermos que estamos em momentos de vida dife-
rentes, enxergaremos as coisas de maneiras diferentes. O altruísmo é uma conversão a um ego mais ampliado, onde o outro não existe separado de mim. Fazemos parte de um grande campo que se chama Natureza. Interagirmos uns com os outros o tempo todo.”(André Luiz Peixinho) Retornando às bases do espiritismo “Jesus há mais de dois mil anos fez o trabalho lindo de espalhar suas sementes luminosas. Creio que já estejamos aptos para acelerar a nossa marcha evolutiva. Desejamos continuar num mundo de provas e expiações? É agora a hora de libertação de paixões inferiores, de medos e inseguranças. Mas, sobretudo, da divulgação da doutrina espírita em suas bases seguras, impedindo-se enxertos de ideias bizarras. Está em nossas mãos a possibilidade de auxiliarmos na constituição de uma juventude forte. Somos os últimos convidados da Parábola do filho pródigo. Somos fortes e aceitamos o desafio, o convite foi para o amor, para a força, para a fé raciocinada. Que Deus nos ampare na obra da divulgação dessa doutrina libertadora e consoladora, o espiritismo. Aprendamos a respeitá-lo.” (Heloisa Pires) José Antonio Balieiro
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Haroldo Dutra
Aprendendo a conviver “Experimentamos em nossos dias os reflexos do materialismo. As grandes atitudes da solidariedade não ganham manchete de jornal. Elas estão escondidas, subjazem, e vão fermentando. Aprender é conviver. E o caminho da solidariedade é justamente o caminho que o evangelho nos propõe de irmos além, através da imanência que vive em nós, que dorme, mas que às vezes acorda em algum momento, falando-nos de uma cumplicidade que transcenda os limites acanhados do ‘ego-ísmo’, do ‘ego-centrismo’, da ‘ego-latria’.” (Alberto Almeida)
Compreendendo a lei da vida “O paradigma do mundo de regeneração é o paradigma da solidariedade. O dia em que o mundo entender que não é preciso ter bilhões na conta, mas que todos usufruam, o mundo será feliz. O dia em que eu entender que a Terra sou eu, não vou jogar mais nada no chão. Não há espaço para o egoísmo num mundo onde tudo está interligado, conectado, onde todos dependem uns dos outros. Solidariedade é lei divina, é lei da vida, novo paradigma do aprendizado e do comportamento humano. Se hoje a Humanidade resolvesse dar as mãos, em pouco tempo os problemas do mundo estariam solucionados.” (Haroldo Dutra Dias)
Acolhendo com amor “Há um grande número de neófitos que buscam a casa espírita. São pessoas sofridas que não encontraram respostas e vêm até nós em busca de um entendimento, de um coração fraterno. Há necessidade de uma reflexão sobre o trabalho integrativo nos centros espíritas. Não podemos nos transformar em caixas estanques de ação, mas num conjunto de trabalho solidário e fraterno que deve permitir a ação continuada dentro da base do movimento espírita brasileiro.” (Antonio César Perri)
Não há espaço para o egoísmo num mundo onde tudo está interligado, onde todos dependem uns dos outros. Não há felicidade individual”
Evento encerrado. O que fica no seu coração?
A esperança, que nos faz acreditar em melhor entendimento da vida, e a esperança de que o coração humano se abra para novas conquistas no campo do relacionamento e respeito para com o próximo. Qual o papel do Congresso, representando o movimento espírita paulista? É o compromisso e a responsabilidade de se acreditar no que se fala e se dar o exemplo como contribuição para que o cenário possa ser transformado. Principalmente entre os espíritas, onde o amor, o perdão e a caridade sempre surgem como palavras mágicas que tudo resol-
vem, embora nem sempre as ações e os sentimentos acompanhem o significado e o conteúdo das palavras. Já estamos conseguindo ser solidários? Por quê? Palavras da moda já vivem entre nós: inclusão, aceitação, alteridade, humanização. É um começo. Em si não resolvem. Mas parece-nos que algo mais forte fala em nosso coração, chamando-nos às vivências dos ensinamentos de Jesus. Esse, sim, é um bom começo. A doutrina espírita visa estimular o crescimento, a força e a liberdade de seus adeptos. Esse é o caminho para a busca da felicidade. José Antonio Balieiro, presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, organizadora do Congresso, com apoio das USES Regional e Intermunicipal de Franca, SP. www.correiofraterno.com.br
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QUEM PERGUNTA QUER SABER
Tenho medo de espíritos Por Luiz Cláudio da Silva*
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a reunião do Evangelho no Lar, a presença principal é Jesus, nosso modelo e guia, assistindo a toda a família. Portanto, pode ficar tranquila, porque quem o tem no pensamento e no coração está sempre muito bem, com certeza. Com nossa participação assídua no Evangelho no Lar, vamos nos fortalecendo, do íntimo para o exterior, possibilitando maior segurança em nós mesmos. Ao final do livro O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec explica que os maus espíritos não vão senão onde acham com o que satisfazerem a sua perversidade e que as boas qualidades do coração
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nos fortalecem para lhes resistir. “A melhor forma de afastá-los é preservar-se do orgulho e da presunção, afastando-se do coração o ciúme, o ódio, a malevolência e todo sentimento contrário à caridade”. O Evangelho no lar é luz que se
Minha mãe faz toda semana o Evangelho em casa. Quando posso, participo, mas fico sempre insegura. Quando realizamos o Evangelho não atraímos ainda mais os espíritos para a nossa casa? Fernanda Marques, por email
faz na família, porque o bem só pode atrair o bem. O roteiro a ser seguido pela família é simples, sendo importantes a pontualidade e a assiduidade no dia da semana e horário escolhidos para a reunião. Ela se inicia com uma
prece, seguida da leitura e comentário de um trecho de O evangelho segundo o espiritismo. Termina-se com vibrações de amor e proteção ao lar, orando-se pelos familiares e agradecendo-se a Deus pela reunião. Pode ser servida água fluidificada aos presentes e é desaconselhável qualquer manifestação mediúnica durante a reunião, cuja duração pode ser de aproximadamente 15 minutos. Veja no site do Correio Fraterno outras informações sobre a prática do Evangelho no Lar. *Luiz Cláudio da Silva é o responsável pelo setor de Evangelho no Lar da USE-SP.
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MAIO - JUNHO 2012 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
BAÚ DE MEMÓRIAS
Educandário Pestalozzi Nos moldes do Yverdon
Educandário Pestalozzi, em Franca, SP
Por IZABEL VITUSSO
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a década de 40, Tomás Novelino, uma das mais importantes influências na educação e no movimento espírita na cidade de Franca e também no Brasil, teve inúmeros motivos para fundar o Educandário Pestalozzi, reconhecido pelos próprios suíços como o colégio que mais se assemelha ao modelo idealizado por Pestalozzi, o mestre da educação do Instituto de Yverdon, na Suíça, onde estudara Allan Kardec. Órfão aos 7 anos de idade, com mais três irmãos, Tomás Novelino foi interno por cinco anos no orfanato Anália Franco, em São Paulo, outra grande educadora e espírita que não concebia educar-se uma criança sem a presença do complemento moral e da formação para o espírito. Aos 12 anos, de volta para Minas Gerais (nascera em Delfinópolis, MG), Novelino foi para a cidade de Sacramento, beber diretamente em outra fonte genuína de educação: o Colégio Allan Kardec, junto a Eu-
rípedes Barsanulfo, um espírito de ilibada competência, que entendeu e priorizou o valor da educação na edificação do ser. No Colégio Allan Kardec prêmios e castigos não faziam sentido. O que se propunha era a autodisciplina, com avaliação contínua e atenta de todos os alunos, em seus potenciais e suas carências, não tendo as provas finais, por exemplo, o efeito de aprovação, mas de compor o conjunto das observações dos professores, um modelo bastante avançado para os moldes da educação no começo do século passado. Com toda essa vivência em sua formação, o impulso derradeiro para que Tomás Novelino efetivasse a fundação de uma escola surgiu quando, morando na cidade de Franca e já casado com a educadora Maria Aparecida Rebelo Novelino, o ex-aluno de Eurípedes Barsanulfo indignou-se com a expulsão de um aluno de uma escola da cidade, pelo fato de ele ser espírita. O casal então pôs mãos à obra e fundou
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Tomás Novelino: compromisso com a formação do ser
no ano de 1944 o Educandário Pestalozzi, destinado a crianças desde a primeira infância, e que iria se transformar num dos estabelecimentos de ensino mais tradicionais do país, inclusive com aulas de evangelização à luz do espiritismo. Em 1949, a escola transferiu-se para suas instalações definitivas, construídas com todo os requintes pedagógicos, guar-
necidos pelas linhas arquitetônicas coloniais que lembram um castelo, quando foi possível ampliar-se a educação que chamamos hoje ensino médio. Foi o próprio Novelino quem contou que, ao ser levado para Suíça para ser homenageado, na ocasião dos 250 anos do nascimento de Pestalozzi, teve oportunidade de conhecer o castelo onde Pestalozzi atuou, surpreendendo-se com a similaridade dos pátios de ambas instituições. No início dos anos 50, no intuito de atender à demanda de crianças órfãs e carentes, o casal iniciou também o trabalho de um orfanato, dentro da própria escola. E quem pensa que a educação foi o único pendor de Tomás Novelino engana-se. Em 1928, ainda solteiro, ele recebia no Rio de Janeiro seu diploma de médico, profissão que abraçou e à qual se dedicou, além das incumbências como espírita atuante requisitado na cidade e das atribuições familiares. Foi pai de seis filhos. “Papai era muito empreendedor, tanto é que ele fez isso tudo e nunca pensou nele mesmo. Faziam bem feito. Ele e minha mãe. A escola sempre primou pela qualidade. Não é porque os alunos que a frequentavam eram simples que tudo podia ser mais ou menos”– analisa seu filho Cleber Novelino, que também é médico e diretor da Fundação Pestalozzi. “Conviver com meus pais foi uma verdadeira lição de vida. Lição como: conviver com os órfãos, com a simplicidade... Nós nos alimentávamos com eles, vestíamos o que eles vestiam. Meu pai era médico, minha mãe professora do estado, tinham condições [financeiras]. Mas se houve em algum tempo, algum sofrimento por não desfrutarmos dos bens materiais, houve também o tempo do crescimento para o nosso espírito. Uma grande oportunidade!”– conclui. Passados quase 70 anos de fundação e uma incontável coleção de histórias de lutas pela sobrevivência, o Educandário Pestalozzi orgulha-se por ter conquistado condições para ajudar a formar milhares de alunos por ano, da pré-escola ao ensino superior. Orgulha-se também por sustentar em seu portal de atividades, em pé de igualdade, com tantas possibilidades se formação, uma opção diferenciada para os alunos: ATIVIDADES DOUTRINÁRIAS. www.correiofraterno.com.br
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Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fique atualizado sobre o que acontece no meio espírita. Participe. www.correiofraterno.com.br IX Semana Chico Xavier em Pedro LeJUN opoldo De 29 junho a 8 julho, sobre o tema: 70 anos da obra Paulo e Estevão. Com a participação de Marival Veloso, André Luiz Ruiz, Henrique Kemper, Célia Maria Rey de Carvalho, Haroldo Dutra, Wagner Gomes Paixão, Oceano Oliveira, dentre outros. Local: Espaço Cultura Chico Xavier (Fazenda Modelo). Pedro Leopoldo, MG. Realização: Centro Espírita Luiz Gonzaga.
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Seminário com Haroldo Dutra Dia 30 de junho, das 14:00h às 17:00h. Tema: O apocalipse na visão espírita. Local: Rua Conselheiro Joaquim Caetano, 1160, Nova Granada, Belo Horizonte, MG. Realização: AMEMG - Associação Médico-Espírita de Minas Gerais. Inscrições: www.amemg.com.br Fone: (31) 3332-5293.
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Seminário com Richard Simonetti e Sidney Francez Dia: 30 junho, das 20:00h às 22:30h. Tema: Suicídio. Local: Espaço Cultura Urca. Praça Getúlio Vargas, s/n, Poços de Caldas, MG. Promoção: Aliança Municipal Espírita de Poços de Caldas e Conselho Regional Espírita-4ª Região.
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CRIPTOGRAMA DO CORREIO
Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
Descubra o nome do novo livro de Arandi Gomes Teixeira, editado pela Editora Correio Fraterno:
Inerente ao homem O que o médium Chico Xavier usava na cabeça Andar em volta Inclinação natural de cada um, condição ou caráter especial Elemento químico metálico
ENIGMA
Quem falou a Kardec pela primeira vez sobre as mesas girantes?
centro de energia do corpo humano, segundo os indianos País do Sudoeste da Ásia Sentimento que brota de nosso íntimo e nos liga a Deus (pl) O grande _ _ _ _ _ _. Obra de Léon Denis
qualquer hora, em qualquer lugar
Vítima do ódio Arte do raciocínio correto Contração involuntária do músculo Precursor da magnetização Poemas religiosos Filósofo, um dos precursores do espiritismo
Solução do Criptograma
Veja em: www.correiofraterno.com.br
Resposta do Enigma: Sr. Carlotti, em 1855, amigo de Kardec há 25 anos.
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Encontro de Arte Espírita de Cachoeira Paulista De 6 a 8 julho, II ENARTECAP. Promoção: União Espírita Cachoeirense. Local: Rua Prudente de Morais, 190, Centro, Cachoeira Paulista, SP. Informações: (12) 9785-1744.
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Exposição e Feira do Livro Espírita em Uberaba De 10 a 16 de julho a Aliança Municipal Espírita de Uberaba realiza a 57ª Exposição e Feira do Livro Espírita. Local: Rua Segismundo Mendes, 50, Centro, Uberaba, MG.
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Simpósio com Suely Caldas Schubert em Recife Tema: Mediunidade, caminho para ser feliz 22 julho, das 8:30h às 12:00h. Promoção: Federação Espírita Pernambucana. Local: Auditório da Federação Espírita Pernambucana. Informações: (81) 3241-3490
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Concurso de poesias em São Bernardo revela ganhadores Realizado junto ao III Festival de Livros Espíritas de São Bernardo do Campo, SP, no dia 3 de junho, o Concurso de Poesias efetuou durante o evento a premiação dos três primeiros colocados. Além da alegria, pelo reconhecimento à qualidade dos trabalhos, os ganhadores: Juarez Machado (3º lugar, com Extremos), Suca (2º lugar, com Espectro de luz) e Rubia Braz ( 1º lugar, com O que não foi dito) receberam suas premiações em livros e também em incentivo para continuarem suas produções literárias. O evento foi realizado pelos grupos espíritas João Ramalho, Dr. Eduardo Monteiro e Mocidade Espírita Azaluz. Vejam a cobertura no site do Correio Fraterno.
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LeItURA
Arrependimento puro e verdadeiro Por SONIA M. c. KASSe
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esde que o homem passou a viver em sociedade, incorporou a essa vivência princípios, normas, valores, credos e crenças estabelecidos no grupo. A convivência harmoniosa de todos é resultado da aceitação e obediência às regras, condição primária para o sucesso e a continuidade do agrupamento, o que exige solidariedade, aceitação e acatamento ao que já foi previamente estabelecido por uma civilização e suas leis próprias. Diante disso, o cidadão precisa fazer o seu melhor. Mas, nem sempre esse melhor cumpre correta e sabiamente as ordens
máximas oriundas da Providência Divina e, infelizmente, os indivíduos, em nome de “Deus”, praticam as maiores barbaridades acreditando que o fazem com total justiça. Há também pessoas cujas vidas são administradas de acordo com os autênticos princípios cristãos, almas iluminadas que exemplificam o intenso amor ao próximo e conseguem acender a centelha do discernimento nas pessoas, ajudando na transformação do ódio e vingança em arrependimento puro e sincero. Podemos observar na obra da Editora Correio Fraterno Vós sois Deuses de J. W. Rochester, psicografada por Arandi Gomes Teixeira, relatos de perseguições, ódio, traição e muita crueldade a todos os que ousaram contrariar o poderoso Império Romano. Alguns envolvidos em executar essas atro-
cOISAS De LAURINHA
cidades o faziam acreditando ser este um procedimento completamente isento de qualquer anormalidade, tal o grau de obediência às inquestionáveis leis da época. Mas o contato com espíritos iluminados vem clarear essas mentes enegrecidas pelas falsas verdades e plantar-lhes a semente do arrependimento. Com o coração dominado pela tristeza dos erros cometidos, por toda desumanidade que lhes aflora a alma e clama por expiação, esses que antes foram os opressores partem agora em uma jornada de redenção, ajuda e dedicação a todos os necessitados. Conheça detalhes comoventes participando da leitura dessa maravilhosa obra. Sonia Kasse é articulista, professora do Ensino Fundamental aposentada.
Por tAtIANA BeNIteS
Enfrangarnado e empeixarnado Na aula do centro espírita as crianças aprendiam sobre encarnação. A professora explicava que encarnado é o espírito que vive na Terra, considerados “vivos” e desencarnado é o espírito que vive no plano espiritual, considerados “mortos”. As crianças falavam entre si sobre o assunto quando Laurinha levanta a mão e pergunta: – Professora, por que tem esse nome difícil: encarnado e descarnado? – Você quer dizer encarnado e desencarnado, Laurinha? – pergunta a professora. – É, foi isso que eu falei – responde. – tem o nome de encarnado quando a pessoa vive na terra com o corpo de carne por isso tem esse
nome... Pedro interrompe a professora e diz: – Por isso tem carne no nome? – Sim, por isso mesmo – responde a professora. – encarnado quer dizer “na carne”. Pedro continua: – e desencarnado quer dizer “sem carne”? – É isso mesmo! Se encarnado significa que tem carne, desencarnado significa que não tem. então Laurinha fala: – Ah, agora entendi. Por que no espiritismo tem tanto nome difícil, professora? – Na verdade não é tão difícil assim. São apenas palavras que explicam o que de novo trouxeram os estudos espíritas. clara levantou a mão e falou:
– esse negócio de encarnado e desencarnado vale para animais também, professora? e Marcos resolve também emendar: – Vale também pra frango e peixe? Antes de a profes-
sora responder, Laurinha fala: – claro que não! Nesse caso é enfrangarnado e empeixarnado, né? e antes que a professora pudesse explicar a todos que essas duas palavras não existiam já era tarde demais, pois todos estavam rindo. e muito! www.correiofraterno.com.br
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FOI ASSIM
Entregue esta flor para a Carmem Por Maria Elena S. Rodrigues
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articipei durante muitos anos de nossa reunião de estudo e assistência espiritual às terças-feiras num Centro Espírita em São Bernardo. Com a família grande, eu sempre estava correndo com os afazeres da casa. Naquela terça, um pouco antes de começar a fazer o almoço, um vento muito leve soprou, mas o suficiente para derrubar da árvore em que estava pendurado um dos vasos de orquídeas que eu cultivava. Recolhi o vaso do chão e, com pesar, vi que um cacho das flores havia se quebrado. Ao me abaixar para pegá-lo, ouvi direitinho em meu ouvido: Leva para a Carmem (uma das amigas que faziam parte do grupo). Mas para a Carmem – pensei – E as outras? São tantas, não posso fazer diferença!
Coloquei o vaso perto da cozinha, onde rapidamente preparei o almoço, coloquei-o na mesa e, depois do almoço ligeiro, fui trocar de roupa, porque pegava carona com meu marido, que retornaria ao trabalho. Mas foi só quando vi a Carmem entrando na sala da reunião, já no Centro, que me dei conta de que havia me esquecido da orquídea. Mesmo assim, disse em poucas palavras que eu tinha uma surpresa para ela, mas havia me esquecido. Passada a parte dos estudos, nem bem começavam os trabalhos mediúnicos, ouvi novamente em meus ouvidos: e o presente da Carmem? Pedi licença e então contei ao grupo sobre a orquídea e os recados que eu ouvira. Carmem caiu num choro convulsivo e eu
só pensava: por que fui esquecer a flor! Só depois de conseguir conter as lágrimas ela contou: “Eu estava em casa fazendo almoço quando começou a tocar uma música na rádio, aquela ‘Eu nunca mais vou te esquecer’. De repente me senti tocada por uma saudade tão grande e tão profunda. Pensei, saudade de quem, se nem nunca tive um grande amor em minha vida! ” E foi assim que em poucos instantes, através do intercâmbio mediúnico, o espírito trazia um recado para a amiga. Dizia: “Nunca se sinta só e não amada. Eu nunca te esqueci. Você é e sempre será o meu grande amor! Apenas não programamos estar juntos nesta vida. Mas estivemos e ainda estaremos muitas delas juntos! A distância programada
VOCÊ SABIA?
era necessária para nós. Mas sempre que possível estou! Você nunca estará só.” Depois da grande emoção e, finalizada a reunião, Carmem então disse para nós: “Vocês não imaginam como foi bom ouvir tudo isso! É difícil a vida sem ninguém – Carmem já tinha alcançado a idade madura, mas permanecia solteira, nunca havia encontrado alguém que gostasse de verdade! Eu queria me sentir amada! É muito bom saber que eu tenho também um grande amor. Vocês não imaginam como é bom saber que tenho um amor que me espera na espiritualidade!” Quando acabou a reunião, eu disse então à minha amiga: Vou dar um jeitinho de te entregar o seu presente! O seu lindo cacho de orquídeas!
Por ENRIQUE ELISEO BALDOVINO
Tradução histórica do professor Rivail
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Tradução histórica de Rivail, do francês para o alemão, de Les trois premiers livres de Télémaque. www.correiofraterno.com.br
ma preciosa informação, ainda pouco conhecida, é a de que o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, além de pedagogo emérito, foi também tradutor de obras do francês para o alemão, do francês para o holandês, etc. Como eminente poliglota, gramático e lexicógrafo, ele dominava com fluidez o alemão, francês, holandês, inglês, possuindo sólidos conhecimentos de latim, grego, gaulês e de algumas línguas neolatinas. Zêus Wantuil, em sua obra em dois volumes: Allan Kardec - o educador e o codificador (FEB), em coautoria com Francisco Thiesen, relata que o educador verteu para o idioma germânico excertos de autores clássicos da França, especialmente os escritos do grande escritor francês Fénelon (François de Salignac de la Mothe [1651–
1715]), que posteriormente seria um dos expoentes da codificação. Fénelon escreveu quando encarnado sua obra-prima: Telêmaco (1699), espécie de epopeia em prosa poética, um dos livros mais populares e admiráveis da literatura francesa sobre educação, verdadeiro código de moral principesca que preparava o futuro rei da França, transformando-lhe o caráter agressivo e vicioso, acautelando-os contra as tentações do despotismo, a ambição e a guerra. Essa obra de Fénelon ecoou fundo na alma de Rivail, que traduziu Os três primeiros livros de Telêmaco ao alemão, recebendo dele inteligentes comentários e notas do tradutor, tradução histórica publicada em fevereiro de 1830, que leva o nome de: “Os três primeiros livros de Telêmaco em alemão, com notas sobre as raízes das
palavras, compêndio de fórmulas gramaticais e tabela de verbos irregulares; para uso dos educandários; por H. L. D. Rivail, membro de várias sociedades sábias, Paris, Bobée e Hingray Editores”. Também é digno de destacar que o ilustre codificador Allan Kardec foi a reencarnação de Jan Huss (Husinec [Boêmia], hoje República Tcheca, 1369 – Constança, Alemanha, 06/07/1415), célebre mártir tcheco e reformador da língua do seu país, como lexicógrafo emérito e tradutor. Então, desde há vários séculos que esse espírito notável vem abordando as questões ortográfico-gramaticais e o importante quesito das traduções, com a mestria que lhe é peculiar. Para saber mais acesse www.correiofraterno.com.br
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MUNDO SUSTENTÁVEL
O espiritismo em frases de efeito Por ANDRÉ TRIGUEIRO*
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inda entretido com a ausência dos assuntos ambientais em tantas casas espíritas, lembrei-me de que uma das razões para tudo isso estar acontecendo poderia ser encontrada em algumas frases que usamos para expressar a nossa fé. Os espíritas – assim como os seguidores de outras doutrinas ou religiões – afirmam suas crenças por meio de frases curtas que emprestam sentido às suas convicções. Essas frases alimentam a nossa fé pelas ideias que encerram. “O acaso não existe” é uma delas. Toda vez que dizemos “o acaso não existe”, reafirmamos nossa confiança em Deus, na “Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas”, na Providência ou na ordem estabelecida em meio ao caos. Pois bem, há pelo menos duas frases repetidas com frequência no Movimento Espírita que poderiam explicar esse distanciamento dos assuntos ecológicos. Ao compartilhá-las aqui, não guardo nenhuma pretensão de estar dizendo uma verdade absoluta. São apenas elementos de reflexão que podem auxiliar a compreensão do problema. Uma dessas frases é a seguinte: “A verdadeira vida é a vida espiritual”. Concordamos inteiramente. Para o espiritual. É forçoso admitir, porém, que muitos de nós usamos esta frase para legitimar o desinteresse, a desatenção, o completo desapego dos assuntos terrenos. Esse é um assunto delicado, sobre o qual há certa confusão. É preciso reconhe-
cer que a vida espiritual não começa no exato instante da desencarnação. Somos Espíritos encarnados, portanto, experimentamos desde já a vida espiritual – embora com restrições, dadas as limitações impostas pelo corpo físico – e precisamos nos lembrar sempre de que somos Espíritos animando corpos, e não corpos animando Espíritos. Há que se reconhecer também que o “horário nobre” de nossa existência é aqui e agora, já que as escolhas que fizermos a cada instante definirão a qualidade de nossa vida espiritual. Uma vez encarnados, é evidente que devemos ter alguma preocupação com a matéria (nosso corpo,
nosso planeta) enquanto aqui estivermos. Sem exagero, sem ilusões – pois que nada disso nos pertence e daqui só levaremos o que “as traças e a ferrugem não consomem e os ladrões não furtam nem roubam”, como asseverou Jesus –, mas reconhecendo que faz parte de nosso aprendizado espiritual nos relacionarmos de forma saudável, inteligente e responsável com os assuntos da matéria, consagrando parte do nosso tempo à manutenção do corpo e do planeta que nos acolhem. “Eu estou aqui de passagem” é outra frase bastante repetida. Com ela, afirma-se a impermanência, a transitoriedade de
todas as coisas, o eterno devir preconizado pelos filósofos gregos, a realidade física inexorável do universo onde nada é, tudo está. Dependendo da forma como se diz, muitos daqueles que repetem a frase “eu estou aqui de passagem” podem estar reforçando o estoque de desapreço e desinteresse pelos assuntos do aqui e do agora. Por que vou me preocupar com o aquecimento global se em breve não estarei mais aqui? Por que economizar água e energia se estarei desencarnado em alguns anos? Se deixarmos um legado material e espiritual no planeta – onde poderemos eventualmente reencarnar –, é evidente que, mesmo de passagem, devemos nos preocupar com os nossos rastros. Pela lei de causa e efeito, o eventual desperdício ou uso irresponsável dos recursos naturais terá implicações em nosso processo evolutivo. Portanto, não é porque a vida é transitória que não precisamos prestar atenção naquilo que fazemos – e também naquilo que deixamos de fazer, apenas porque retornaremos em breve à pátria espiritual. Cabe a nós identificar quais ações podemos fazer, e de que jeito, para tornar este mundo um lugar melhor e mais justo. Portanto, mesmo de passagem, há que se cuidar melhor do mundo onde estagiamos em nossa jornada evolutiva. Do livro Espiritismo e ecologia, editora FEB. André Trigueiro é colunista do Jornal da Globo, e no site G1 sobre o tema “Sustentabilidade”.
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ENSAIO
Silva e a atendente do banco Por PEDRO CAMILO
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ilva, médium conhecido em sua cidade pela paciência e pela dedicação ao trabalho no bem, dirigiu-se para o banco, a fim de conversar com uma atendente sobre um problema que verificara em sua conta. Ao chegar, havia cerca de seis pessoas em sua frente. Olhou para a atendente, sorriu, e ela, prontamente, devolveu o sorriso. À medida que a fila andava, Silva sorria e a atendente devolvia a gentileza. Contudo, quando pensou que era a sua vez de ser atendido, ela pôs outra pessoa em sua frente e continuou sorrindo. Crendo tratar-se de um pequeno equívoco, o médium aguardou, pensando que o próximo seria ele. Mais uma vez, porém, se enganou. A atendente fez
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passar outro, e mais outro, e mais outro... e sempre sorrindo! Silva, por um instante, imaginou que se tratava de uma provocação. Quis se irritar, chamar o gerente, tomar uma providência. Uma intuição, porém, o conteve, e ele pensou que ela talvez tivesse um motivo justo para fazer aquilo. Quando só restava ele para ser atendido, a atendente o chamou. Olhou nos seus olhos, sorrindo, ao que ele respondeu com outro sorriso, e disse: – O senhor deve estar chateado comigo, não é? – Só cinquenta por cento – disse Silva. Ela sorriu do gracejo e asseverou: – Eu ia atendê-lo na ordem certa. Acontece que o senhor estava com um
sorriso tão bom que me senti contagiada. É tão difícil ver alguém sorrindo assim por aqui! Por isso, quis que o senhor ficasse mais tempo, para eu me sentir feliz um pouco mais. Silva ouviu aquelas palavras e silenciou por alguns segundos. Depois, sentindo-se aliviado e entendendo o que se passava, afirmou, entre descontraído e satisfeito: – Da próxima vez a senhora me avisa antes, para que eu possa sorrir um pouco mais! *** Estamos muito longe de conhecer a força que um sorriso tem. Sempre que sorrimos com alegria sincera, geramos um fluxo intenso de energia que contagia a todos que estão
em volta, sobretudo os que se encontrem necessitados de paz. O caso de Silva é interessante. Se ele tivesse escolhido a chateação, além de perder a tranquilidade interior, perderia a oportunidade de auxílio. Como, porém, optou por não julgar a atendente e aguardar para ver o que acontecia, o resultado foi extremamente positivo para ambos. Naturalmente que a deficiência no atendimento deve merecer, por parte de qualquer pessoa, estranheza e solução. Entretanto, qual a melhor forma de buscar isso? Silva ouviu a própria intuição, aguardou pacientemente e continuou sorrindo. Quantas vezes, na vida, precisamos fazer o mesmo?