Correio Fraterno 453

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FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA Ano

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Setembro-Outubro

Isabel Gervásio

ISSN 2176-2104

CORREIO

Entrevista

Vice-presidente da Aliança Municipal Espírita de Uberlândia fala sobre os cem anos de espiritismo na cidade mineira. Páginas 4 e 5..

2013

CARTAS DE CHICO são analisadas por métodos estatísticos

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s cartas psicografadas por mais de vinte anos pelo médium Chico Xavier que tanto consolaram pais, mães, esposas e maridos, já foram objeto de estudo de algumas áreas do conhecimento. A cerca de três anos uma nova abordagem de análise desse material foi iniciada pelo pesquisador Ademir Xavier. Formado pela Unicamp em física computacional e desenvolvedor de ferramentas para análise de sistemas, Ademir quer agora, através de seus estudos, catalogar por métodos estatísticos dados de todas as cartas publicadas. “A ideia é permitir que várias correlações sejam investigadas, o que fornecerá um quadro da riqueza de informações contidas nas comunicações privadas psicografadas pelo médium mineiro.” Leia nas páginas 8 e 9

RenAto De AGUIAR

O centenário de Herculano Com um ciclo de palestras sobre os assuntos abordados em suas 84 obras, tiveram início em setembro as comemorações dos cem anos de nascimento do escritor e filósofo José Herculano Pires. Página 7

Marcel Souto Maior lança livro sobre Allan Kardec Autor de As vidas de Chico Xavier, que deu origem ao filme Chico Xavier (2010), o jornalista Marcel Souto Maior lança agora livro sobre o codificador. “Para entender o médium mineiro precisei decifrar o mestre francês. Um homem que viveu duas vidas ao longo de 64 anos.” Leia mais na página 3

Adquira o seu exemplar com desconto! Intensa trama envolve amigos e herdeiros em O condado de Lancaster

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eDItoRIAL os sempre novos

outubros

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o iniciarmos esta edição, lembramo-nos de dois pontos principais relacionados a outubro: Kardec e o Correio Fraterno. O francês, que nasceu em Lyon, em 1804, e o jornal, que nasceu em 1967, em São Bernardo do Campo, SP, dentro do Lar da Criança Emmanuel. Nesses anos todos, com tantas comemorações, o que poderia ser novidade? Foi quando nos deparamos no 9º Enlihpe com a pesquisa de Ademir Xavier sobre a tabulação dos dados das cartas psicografadas por Chico Xavier. Também Uberlândia, em Minas Gerais, comemorava os cem anos de espiritismo na cidade, analisados em Entrevista por Isabel Gervásio, que enalteceu a importância do evangelho na transformação individual e da sociedade. O caráter consolador do cristianismo redivivo mar-

cava com emoção as páginas desta edição. O jornal estava quase fechado, quando convidamos o jornalista Marcel Souto Maior a escrever sobre o livro que irá lançar dia 21 de outubro – Kardec, a biografia (Record). Também tinha a cobertura do Fórum Caminhos para o Espiritismo, com o tema “As várias vozes de Kardec”. Em Leitura, Arandi Gomes Teixeira, que psicografa Rochester em O condado de Lancaster, mostrava a mensagem universal do amor. Umberto Fabbri, Direto ao ponto, falava sobre a mediunidade como um meio de comunicação que sempre existiu. Em 25 de setembro, participamos do início das comemorações do centenário de Herculano Pires, o metro que melhor mediu Kardec, segundo Emmanuel, relembrado através de Heloísa Pires no Baú de Memórias.

CORREIO DO CORREIO Física quântica Denominar “ciência espírita”, apartando o conhecimento da doutrina da ciência comum, é o mesmo que manter a separação entre ciência e espiritualidade, um preconceito que não é compatível com o paradigma que está se instalando na ciência hoje. É claro que existem aqueles mais empolgados e que colocam o carro na frente dos bois, mas nem por isso a

contribuição da física quântica deixa de ser relevante e significativa para explicar uma série de fenômenos descritos pelo espiritismo. Na minha opinião ciência é só uma, portanto não existe “ciência espírita”, existe sim ciência, e o espiritismo contribui de maneira significativa com ela. Só não existe uma nova física para quem ainda não vislumbrou a grande mudança de

Uma ética para a imprensa escrita em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências.

E a palavra ‘codificador’, perguntava uma leitora, de onde teria surgido? Assunto para ser abordado em Quem pergunta quer saber. A edição, enfim, estava fechada. E outubro, mais uma vez, bem representado. Homenageando Kardec e comemorando 46 anos de jornalismo espírita, na certeza de que outros desafios virão, com novas ideias, novas pautas. Novos outubros. Boa leitura! Parabéns, Kardec! Equipe Correio Fraterno

paradigma que se opera no planeta. Um grande abraço. Décio Iandoli, por email Parabéns pela importante entrevista com o professor de física Alexandre Fontes da Fonseca, que nos esclarece sobre física quântica e o espiritismo, e que certamente irá tirar muitas dúvidas dos espíritas de boa vontade e que queiram ter uma doutrina sem fantasia, sem achismo, seguindo os passos do grande codificador. Felicidades para vocês, o professor e o jornal. Earle, por email

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118

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• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


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Acontece

Por que escrever sobre Kardec?

RENATO DE AGUIAR

Marcel Souto Maior: Rivail mudou de vida e de nome para dar voz ao Invisível. É a história desta conversão que reconstituo no livro

Por MARCEL SOUTO MAIOR

Com lançamento do livro marcado para 21 de outubro, Marcel Souto Maior revela ao Correio Fraterno por que escreve agora sobre Allan Kardec

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pergunta se repete nas entrevistas que começo a dar e nas conversas com amigos céticos. A resposta é simples: por interesse jornalístico. Kardec começou a me intrigar quando iniciei as pesquisas sobre a vida de Chico Xavier, há 20 anos. Kardec era a principal bússola de Chico e representou também para ele uma espécie de ‘tábua de salvação’. Atormentado por vozes e visões desde a infância, Chico tinha medo de enlouquecer ou, como dizia seu pai, de ser louco. As suspeitas só terminaram quando ele leu O livro dos espíritos – obra fundadora do espiritismo lançada por Kardec em 1857 – e O livro dos médiuns, publicado em 1861. As respostas que Chico tanto buscava estavam todas ali e vinham, segundo Kardec, dos espíritos. Ao longo de toda a vida – até morrer na cama estreita de seu quarto simples em Uberaba, aos 92 anos –, Chico lutou para pôr em prática as principais lições difundidas pelo ‘codificador’, reverenciado como o mestre por uma legião de discípulos. Uma dessas lições tornou-se uma espécie de estandarte do espiritismo: “Fora da caridade não há salvação”. Ajuda o outro e você estará se ajudando. Não faça contra o outro o que você não gostaria que o outro fizesse com você. Cuidado com a vaidade, com o orgulho e com a ambição! A obra de Kardec tornou-se quase um ‘manual de ins-

truções’, um guia de conduta para Chico. Ou seja: para entender o médium mineiro, precisei decifrar o mestre francês. Um homem que viveu duas vidas ao longo de 64 anos. Até os 53 anos de idade, ele se chamava Hippolyte Léon Denizard Rivail e ganhava a vida como professor e autor de livros pedagógicos na França do século 19. Discípulo do educador suíço Pestalozzi, guiava seus estudos com rigor científico, de acordo com os seguintes métodos de investigação: “ver com os próprios olhos, tocar com os próprios dedos e descartar tudo o que seja meramente provável.” Para ele, fenômenos como as ‘mesas girantes’ – que causavam impacto e polêmica nos salões nobres da Europa e dos Estados Unidos do século 19 – deveriam ser encarados com muito cuidado. O que faria os móveis saírem do chão, flutuarem sobre as cabeças dos participantes das sessões e ‘ditarem’ mensagens atribuídas a mortos? Espíritos? Nada disso. Sua tese inicial era a outra: a energia dos próprios vivos, concentrada em torno das mesas, seria a responsável por aqueles giros, rodopios e levitações. Esta era a melhor das hipóteses. A outra explicação era bem menos sofisticada: fraude pura e simples. Era, portanto, com ceticismo que ele encarava fenômenos reverenciados por personalidades como o escritor Victor Hugo. Um ceticismo que foi perdendo força a

Marcel Souto Maior Jornalista e escritor, o carioca Marcel Souto Maior pesquisou a vida e obra de Chico Xavier (1910-2002) e escreveu três livros sobre o médium, sendo que um deles (As vidas de Chico Xavier) originou o longa-metragem Chico Xavier – O Filme (2010). Na rede Globo, Marcel foi editor do Fantástico, editor-executivo da Globo News, supervisor de texto do programa Linha Direta, responsável pela implantação e direção do programa Profissão Repórter, apresentado por Caco Barcellos. Atualmente é editor do programa Na moral, apresentado por Pedro Bial. (Redação) cada sessão testemunhada pelo desconfiado Rivail. Como explicar, por exemplo, a complexidade das mensagens escritas a jato pelas simplórias irmãs adolescentes Baudin? Como explicar que as perguntas lançadas por ele ao invisível recebessem respostas idênticas através dos mais diversos ‘médiuns’? Quais seriam as fontes de tantas informações? Ele demorou muito tempo até ter coragem de responder: – Espíritos!

Aos 53 anos, depois de conduzir uma série de diálogos com ‘inteligências ocultas’, Rivail mudou de vida e de nome para dar voz ao Invisível. Tornou-se Allan Kardec. É a história desta conversão que reconstituo no livro. O que levou Rivail a se transformar em Kardec? O que transformou o pedagogo em missionário? A biografia é a história desta conversão, pontuada por altos e baixos, ataques e perseguições, surpresas e decepções. www.correiofraterno.com.br


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ENTREVISTA

A chamada de consciência nos cem anos de espiritismo em Uberlândia Por izabel vitusso Isabel Gervásio: “Precisamos ter a prática. Já estamos atrasados”

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lém da evangelização, aos 9 anos Isabel Gervásio de Faria já frequentava as reuniões públicas, por livre iniciativa, no Centro Espírita Fé, Esperança e Caridade, o primeiro a ser fundado na cidade, num movimento encabeçado por Gustavo José da Silva, em 1913. Toda segunda à noite, ia com o irmão assistir a palestras, tomar passes, para depois voltar, saltitante, pelas ruas de Uberlândia, tomando toda a água que levavam para fluidificar. Coisas de criança. Lembranças que ficaram, junto com os exemplos do convívio com os pioneiros do movimento espírita da cidade. Entusiasta e determinada, ela é hoje é uma das trabalhadoras mais representativas do movimento espírita na cidade. Atuando desde cedo na Aliança Municipal Espírita, onde hoje ocupa o cargo de vice-presidente, Isabel foi uma das grandes incentivadoras das comemorações dos cem anos de espiritismo em Uberlândia. Em entrevista ao Correio Fraterno, ela explica por quê.

Homenagem aos cem anos de espiritismo também na câmara municipal

Qual a importância da comemoração dos cem anos de espiritismo em Uberlândia? Por que essa comemoração se estendeu à câmara municipal? Isabel Gervásio: É um chamamento para aprofundar a consciência do movimento espírita para esse marco. Ainda que simples, a comemoração serve para que todos sintam o peso da nossa responsabilidade. Nós temos hoje cem casas espíritas. Querendo ou não, isso influencia na cidade. É claro que o espiritismo, comparado às crenças evangélicas pentecostais, neopentecostais e mesmo o catolicismo, é um grão de areia. Mas nada substitui aquilo que um determinado conjunto de ideias tem de realizar em favor www.correiofraterno.com.br

da Humanidade. A ação do espiritismo tem o seu papel e é para isso que estamos trabalhando e, com toda sinceridade, a gente vive isso! Temos também que prestar conta para a comunidade uberlandense do que o espiritismo fez aqui durante esse tempo. E fez tudo o que se pode imaginar, mas o mais importante foi sensibilizar o coração das pessoas para o Evangelho.

O que representam cem anos de espiritismo para a cidade? Muita responsabilidade. Cem anos não são cem dias. A cidade já tem que estar madura doutrinariamente para responder aos desafios de ordem espiritual. Porque daqui um tempo Uberlândia terá um milhão de habitantes [hoje tem 620 mil] com outras dimensões de problemas, e

na base deles grande parte das vezes os de ordem espiritual. Temos que nos preparar para isso. Antigamente supria-se o pão material. Agora é a vez do pão espiritual. É a ação do atendimento das necessidades espirituais das criaturas. Nunca tivemos tanto obsediado nas rua como agora. As casas estão abarrotadas. A prefeitura tem quatro postos para atendimento de pessoas com problemas mentais; com tanta gente, não há mais vagas. Pode-se dizer que a presença do espiritismo nesses cem anos ajudou a definir o contorno do que é cidade hoje? Exatamente, a cidade tem uma história linda de fundação [31 e agosto de 1888]. E nesses anos todos, em todas as crises nós estávamos aqui. Na década de 1930, na caça aos comunistas, na implantação do Estado Novo. Depois, na época da Revolução. Agora, diante desse enorme crescimento da cidade. O espiritismo tem muito a contribuir, ajudando no entendimento, com respostas. Isso sem contar todo o trabalho de assistência social realizado desde os primeiros centros fundados na cidade. Uma história que precisa ser registrada e lembrada.


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entReVIStA Conheci você ao procurar a AME para buscar dados para um livro sobre a história do espiritismo na cidade [Terra fértil, semente lançada – a história do espiritismo em Ubelândia]. Na época, você tirou um caderno de anotações da gaveta, dizendo que ali estava o projeto, só aguardando quem o fizesse. É assim? Você sempre teve esta noção da preservação da memória espírita? Registrar essa história era uma coisa que me afligia. Porque estava correndo-se o risco de desaparecer todo esse material histórico. Treze anos se passaram e partiram praticamente todos os que ajudaram a fundar essas casas espíritas, os que foram os pilares do espiritismo na cidade e que sabiam contar essa história. Agora precisa ser feita a segunda etapa do registro, de 1960 até hoje. Tem muita coisa ainda para ser registrada. Sobre os fatos históricos, do que vocês se lembraram ou contaram nas palestras em homenagem aos cem anos, pelas casas espíritas? Vêm à mente as diversas histórias dos pioneiros. As perseguições, do ponto de vista da incompreensão do que é o espiritismo. Toda uma batalha, emparelhada com a história da cidade, da região, que respeitando todos aqueles que, vindos de diferentes lugares, aqui fizeram um ponto de partida de suas vidas, constituíram família, fundaram casas de oração. A luta era contra o preconceito pelo espiritismo. Uberlândia está a pouco mais de 100 km de Uberaba e de Sacramento, berço de Chico Xavier e Eurípedes Barsanulfo. Que legado esses dois expoentes do espiritismo deixaram para o movimento espírita da cidade? A questão do exemplo. A presença de Chico na região valeu como um estímulo, para o movimento espírita avançar, crescer e ser fiel a Kardec. Ele dava exemplos muito grandes. Saía no trabalho de peregrinação todo sábado, do jeitinho que O evangelho segundo o espiritismo narra, na história da baronesa que saía para visitar famílias doentes. Bebi nessa fonte por muitos anos, participando quase todos os sábados lá com eles. E fazíamos o trabalho de peregrinação [assistência aos necessitados] aqui

também. Bem antes de Chico estar em Uberaba, também Eurípedes Barsanulfo já realizava seu trabalho, com a homeopatia em Sacramento. Salvou a vida de muita gente, mas a mensagem mais importante que esses expoentes nos deixaram foi a prática do Evangelho. Esse é o grande legado que aqui em Uberlândia nós absorvemos. Basta lembrar que a grande maioria das casas espíritas na cidade nasceu de grupos de pessoas que se uniram para dar assistência, e acabaram fundando um centro no local. O movimento espírita ofereceu nesses anos todos parte da infraestrutura, onde o apoio da prefeitura não chegava, com sopa, cesta básica, atendimentos básicos de saúde.

Cem anos não são cem dias. Uberlândia já tem que estar madura doutrinariamente para responder aos desafios de ordem espiritual.” Hoje a situação está bem melhor, liberando os trabalhadores para dar assistência agora espiritual. É a grande oportunidade para transformarmos esse mundo de teoria. E eu duvido que alguma outra religião com a idade do espiritismo tenha uma estrutura tão grande de conhecimento elaborado. Precisamos ter a prática. Já estamos atrasados. Quais os desafios do movimento espírita hoje? Nosso grande desafio da atualidade é oferecer o que o espiritismo tem de melhor no entendimento, no consolo, no convite para o trabalho diante de tantos quadros de perturbação, angústia, problemas dos jovens com bebida, drogas, suicídios. O povo está sofrendo de depressão e obsessão. Isso é o que tem atraído as pessoas para o centro espírita. Essa nossa preocupação com os

jovens é que trouxe grande motivação para um dos projetos da AME, de revitalização das juventudes. Outra questão a ser trabalhada é na carência do estudo mais aprofundado, que busque extrair o espírito da palavra para saber o que Kardec quis dizer. É também bastante desafiadora hoje a questão dos movimentos paralelos. Ideias de determinadas concepções científicas, religiosas e até doutrinárias mal interpretadas que, não tendo condições de se manterem sozinhas, organizarem-se em centros, enraízam-se para aproveitar o público da casa espírita, o que acaba interferido no entendimento do que realmente é espiritismo. Para quem tem um pouco de senso doutrinário, isso dói muito. Autores até consagrados se descuidam e às vezes se deixam levar. Diante desses apontamentos, que não são pertinentes apenas ao movimento espírita na cidade, dá para entender que há muito ainda por se fazer na questão da consolidação do espiritismo em nós. Vendo a história dos pioneiros do espiritismo, a gente entende que, se existia uma questão desafiadora para o movimento espírita se estabelecer, era a formação de grupos, a própria divulgação da doutrina espírita. Agora chegou o momento de se vivenciar tudo o que culturalmente se absorveu. É preciso conquistar os valores interiores da bondade, exercer a prática da caridade. Mas as pessoas parecem não estar preocupadas. É aí que surge o descompasso entre a questão cultural e a espiritual. E no meio do caminho entram a obsessão, a depressão, o desespero, que a pessoa não consegue equacionar. É o que vemos acontecer. Os jovens hoje estão preocupados com o mercado, com os estudos, com a titulação. Mas é preciso entender que a religiosidade é algo essencial no mundo íntimo. E a AME tem esse papel de fazer o movimento espírita ir além dos templos, através do jornal da cidade, de programas em rádio, internet, no Hospital do Câncer, na APAC [Associação de Proteção e Assistência aos Condenados], onde semanalmente prestamos assistência, falamos do Evangelho. As forças contrárias são grandes. A inércia é imensa. Mas é nossa obrigação espiritual, porque eles precisam fortalecer a questão da religiosidade para caminharem em outro rumo na vida.

LIVROS & CIA. FEB Editora Tel.: (21) 2187-8282 www.feblivraria.com.br Estudos e crônicas de Herminio C. Miranda 384 páginas 14x21cm

Instituto Lachâtre Tel.: (q1) 4063-5354 www.lachatre.com.br O observador e outras histórias de espíritos diversos psicografia de Jáder dos Reis Sampaio 128 páginas 16x23 cm

Editora Mente Aberta Tel.: (71) 3484-3729 www.editoramenteaberta.com Devassando a mediunidade – estudo da obra de Yvonne A. Pereira de Pedro Camilo 192 páginas 15,7x23 cm

Editora Correio Fraterno Tel.: (11) 4109-2939 www.correiofraterno.com.br O processo de J. W. Rochester 448 páginas 14x21 cm

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coISAS De LAURInHA

Por tAtIAnA benIteS

As sete chácaras

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o sentar-se para almoçar, Laurinha diz a sua mãe: – Mãe, descobri que nós temos várias chácaras. – Sério, filha? e onde conseguimos tanto dinheiro? – Dinheiro pra quê? – Para comprar as chácaras, oras. – Mas nós não precisamos de dinheiro, porque já temos as chácaras. – Mas chácaras custam caro! Lá tem animais, flores, plantas e árvores frutíferas. nós não temos, não, de onde você tirou isto? – não, mãe. Você fez confusão, chácara é bolinha virtual,

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não precisa de dinheiro. – Hã? – sua mãe manifesta confusa. – É que na aula no centro falaram que temos sete chácaras, que podemos chamar de centros virtuais. A mãe de Laurinha ri e diz: – Filha, você confundiu tudo! não é chácara, é chacra, e não é centro virtual é centro vital. São como usinas de forças em nosso organismo. – Mãe, como eu vou explicar isso para os meus amigos? tinha pensado em colar algumas bolinhas coloridas no meu corpo para mostrar onde estão. – boa ideia, filha! Mas não é

chácara, é chacra. – entendi, mãe. cHAcRAAAAAA! Centros vitais centros vitais, ou centros de força, são pontos de concentração de energias captadas pelo perispírito e redistribuídas a todos os órgãos do corpo físico e espiritual. São chamados de: centro genésico, gástrico, esplênico, cardíaco, laríngeo, frontal e coronário. Nos livros Tem espíritos no banheiro? e Tem espíritos embaixo da cama?, de autoria de Tatiana Benites, você encontra outras aventuras de Laurinha (Ed. Correio Fraterno).


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SETEMBRO - OUTUBRO 2013 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

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BAÚ DE MEMÓRIAS ESPECIAL

Cem anos de J. Herculano Pires Por ELIANA HADDAD

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niciaram-se na quarta-feira, 25 de setembro, no Grupo Espírita Cairbar Schutel, na Vila Mariana, em São Paulo, as comemorações do 1º Centenário de J. Herculano Pires. Fundado por Herculano, o centro receberá todos os meses, até 25 de setembro de 2014, aniversário do escritor, filósofo e jornalista espírita, vários palestrantes que desenvolverão os diversos temas por ele abordados em suas 84 obras, entre estudos doutrinários, crônicas, romances e poesias. A programação das conferências e de outras comemorações poderá ser acompanhada através do site www.herculanopires100anos.com.br Num ambiente aconchegante, informal assim como gostava Herculano, entre amigos, familiares, estudiosos e representantes do movimento espírita, a primeira conferência da série foi aberta por sua filha, Heloísa Ferraz Pires, que abordou o tema “O homem no mundo”, trazendo conteúdos do dia a dia que ficaram na lembrança do “homem” Herculano, “o pai”, como ela emocionada a ele se referiu. “Estamos aqui para falar do Herculano que nos ensinou a ser felizes, que trazia flores para a esposa Virgínia, que nunca desistiu da ideia de nos mostrar que cada um constrói a sua vida e tem a habilidade de ser feliz”, comentou. Herculano sabia que era preciso conservar o ser num ambiente de amor, de estímulo para que desenvolvesse suas potencialidades. “Se a família não estimula o ser, a sociedade fica doente. Com amor, o arbusto frágil se desenvolve numa árvore imensa...”, lembrou, destacando a marca registrada de Herculano: respeito ao modo de ser de cada um. “O que ele mais queria era que fôssemos felizes, homens de bem”, contou. Citando vários trechos de livros de Herculano, Heloísa confessou que até hoje, quando lê as obras de Herculano, ainda se

pergunta: “Como esse homem pôde pensar tão bem?!”. E ainda arriscou: “Não é por ser meu pai, mas porque ele vai fundo nas nossas necessidades de conhecimento e de entendimento de amor, ele compreende as nossas necessidades”. Heloísa lembrou os conselhos de Herculano em seu livro O ser e a serenidade, quando reconduziu o existencialismo às suas perspectivas espirituais. Partindo de uma reflexão romântica sobre a serenidade, Herculano mergulhou nas angústias do espírito em busca de si mesmo e refletiu sobre os segredos do ser para alcançar a plenitude: 1) Procura sempre a perfeição; 2) Nunca te deixes abater; 3) Supera as circunstâncias. “O pai foi um homem sereno, alguém que sempre manteve o sorriso nos lábios, a vontade de se superar e a humildade de rir de si mesmo. Enxergando muito mal no fim da jornada terrena, confundia as pessoas, cumprimentava jovens netas como sendo senhoras, escrevia Os filhos, Heloísa e seus textos com Herculano Ferraz falam erros que precisobre projetos da Fundação sávamos ajudar a decifrar... e ria”, revelou com grande admiração. Heloísa comentou também o fato de muitos criticarem Herculano por sua indignação, sua personalidade de não deixar passar o que comprometia a verdade. “Indignava-se, sim. E Jesus, também não se indignou com os vendilhões do templo?”, questionou, lembrando o imenso amor e respeito que tinha Herculano pela doutrina

Heloísa Pires: “Herculano mergulhou nas angústias do espírito em busca de si mesmo”

C.E. Cairbar Schutel, em São Paulo

dos espíritos, sempre atento ao aspecto da educação proposta de forma a transformar moralmente as criaturas, modificando o caráter dos indivíduos, inserindo-os numa realidade existencial mais ampla, verdadeira, que comporta corpo-espírito. Após a conferência, Heloísa Pires, Herculano Ferraz Pires e Antonio Carlos Molina falaram sobre os projetos da Fundação

Maria Virgínia e Herculano Pires, criada em 2001, analisaram os desafios do movimento espírita na atualidade e as relações fraternas entre Herculano Pires e Chico Xavier, dois expoentes do espiritismo que divulgaram em suas obras o tríplice aspecto da doutrina – ciência, filosofia e religião. Assista aos vídeos e acompanhe a programação em www.herculanopires100anos.com.br www.correiofraterno.com.br


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eSPecIAL

Na mira da pesquisa, as cartas psicografadas por Chico Xavier Por eLIAnA HADDAD

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Frequência (%)

urante mais de duas décadas, Chico Xavier escreveu em sessões públicas de psicografia cartas que consolaram famílias, revelando que a vida realmente continuava para os entes queridos que partiam. Frequentemente destinados aos pais, maridos e esposas abalados com a perda, muitos desses textos estão registrados em vários livros de editoras espíritas, que documentam inclusive as evidências de personalidade dos autores espirituais, identificadas através de detalhes particulares, segredos, gírias, apelidos, citações etc. Desde 2010 o pesquisador Ademir Xavier está desenvolvendo um trabalho de compilação de parte desse material publicado, analisando através de métodos estatísticos 159 cartas particulares psicografadas pelo médium mineiro, com base em algumas medidas extraídas de cada texto, tais como: o número de palavras, a causa mortis e a idade do comunicante, a data da mensagem e de falecimento, o ‘anfitrião’ que recebeu o comunicante após sua desencarnação e número de citações. “A ideia é permitir que várias correlações sejam investigadas, o que fornecerá um quadro da riqueza de informação contida nas comunicações privadas psicografadas pelo médium na divulgação do espiritismo”, explica Ademir. O objetivo principal do estudo é extrair e catalogar atributos do maior número possível de cartas psicografadas, ressaltando o conteúdo de citações e informações, dividindo-as em várias classes. Com a tabulação do conteúdo desses textos, será possível fornecer, segundo o pesquisador, um índice e arquivo correspondente para as cartas, cuja base poderá ser disponibilizada para outros interessados. “Poderemos, por exemplo, compreender melhor, a partir do estudo, os processos envolvidos em mediunidade psicográfica”, ressalta Ademir.

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Chico dizia que o telefone tocava de lá pra cá. Muitas vezes, sem saber quem era o espírito que dele se aproximava e queria se comunicar, perguntava à pessoa interessada que receberia o ‘recado’ do telefone: “Sabe quem é fulano de tal?” Tinha muito cuidado, afinal, de não endossar qualquer conversa. As cartas de Chico aliviaram muitos lutos familiares e acabaram por encaminhar muita gente ao espiritismo, tornando-se, inclusive, referência na assistência social, fundando muitas casas espíritas, como ocorreu com dona Yolanda César, que desencarnou em agosto passado, e que, por várias vezes, confessou ter sido devolvida à vida depois de 39 anos de luto, quando começou a receber através de Chico as cartas de seu filho Augusto César. Como é fato comum nas cartas ter a citação de nomes de vários parentes, além de seus apelidos, inclusive desencarnados, algo para o que os céticos torcem o nariz, argumentando em torno da possibilidade de o médium ter tido acesso a essas informações por meio de parentes próximos, que, em algumas ocasiões, com ele conversavam antes das sessões, a pesquisa de Ademir Xavier em termos estatísticos revela dados bem diferentes, que fazem refletir. “Ainda que seja possível que uma ou outra informação tenha sido proferida por algum parente em determinadas

40 a 47

47 a 55

55 a 62

62 a 70

70 a 77

77 a 85

ocasiões, é absolutamente impossível que isso tenha se verificado em todas elas e no mesmo grau”, conclui o pesquisador, cujo objetivo está sendo justamente mostrar que a quantidade de informação contida nas cartas adquire uma dimensão imensurável quando o conteúdo frequentemente despercebido pelos céticos é levado em consideração. “Com isso, é muito difícil imaginar como esse tipo de informação pode ter sido transmitido de uma fonte qualquer que não o comunicante”, afirma. Outra questão considerada é a exisOutro acidente

1,0%

Afogamento

1,0%

tência de frases sintéticas que só podem ser corretamente decodificadas pelos parentes, a presença de intenção claramente demonstrada em inúmeras cartas, que também exige um processo de ‘decodificação’, algo mais complexa por parte de parentes muito próximos e a referência a situações que só foram descobertas depois do falecimento do comunicante, ou que eram conhecidas apenas por poucos familiares. “Tudo, em conjunto com o número de citações, inclusive de apelidos de falecidos, torna o fenômeno das cartas particulares por Chico Xavier de uma riqueza inestimável para a literatura espiritualista e para o apoio à tese da sobrevivência”, assinala. Ele esclarece que a pesquisa só está começando e que o objetivo do trabalho não é simplesmente teorizar sobre o processo de comunicação mediúnica, mas que este estudo pode prover subsídios para uma melhor compreensão dos mecanismos desse processo tal como ele se apresenta a partir dos dados disponíveis, demonstrando o caráter científico da pesquisa da sobrevivência.

Causa mortis Relacionando-se este gráfico e o da Idade dos autores, percebe-se que boa parte deles era de jovens entre 18 e 25 anos, sendo o acidente de carro a maior causa mortis

3,8%

Acidente com arma de fogo

1,9%

Suicídio

4,8%

AVC (derrame) Outra doença

7,6%

Acidente de moto

7,6% 4,8%

Assassinato

1,9%

Queda fatal

7,6%

Não informado 1,9%

Queda de avião

14,3%

Ataque cardíaco 3,8%

Câncer Acidente de carro 0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

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Com a palavra, o pesquisador Por que você resolveu fazer essa pesquisa? Ademir Xavier: A existência das comunicações particulares coloca um problema sério para os céticos, que contestam a possibilidade das comunicações. É que, por conterem elementos facilmente comprováveis, em um sentido específico do conteúdo da mensagem e no contexto em que são produzidas, elas são, no nosso entender, uma das mais graves anomalias presentes para o status quo científico que simplesmente despreza sua existência. existem muitos textos que falam de possíveis aberrações na psicologia de médiuns ou teses de fraude, mas são escassas as tentativas de se estudar o fenômeno mediúnico tal como ele ocorre, de fato. como poderemos desenvolver e aplicar um fenômeno ao se partir de sua explicação equivocada? então, decidimos criar uma abordagem sistematizada para tentar investigar os fatos tais como eles nos apresentam, dando valor a esses dados. em conversas com Alexandre caroli Rocha acabamos desenvolvendo o tema dessa pesquisa. Sou agradecido também a elizabeth Freire (Universidade de Aberdeen, escócia) que nos indicou um caminho para o tratamento sistemático dos dados. Faz bastante tempo que nos interessamos pelas cartas em si, e a possibilidade de fazer um trabalho com elas desde 2010, com o conhecimento adquirido no tratamento de dados, somente aumentou nossa expectativa em direção a sua realização de fato. Qual a importância do resultado dessa pesquisa para o espiritismo e para a ciência? A literatura mediúnica pode ser dividida em duas grandes classes: a de textos produzidos por autores espirituais em temas próprios sobre princípios doutrinários, na forma de dissertações dirigidas ou romances, histórias e estudos etc, e outra grande classe, a das mensagens particulares. Kardec em O Céu e inferno, (nota de rodapé do capítulo 1, “o passamento” na parte II) nos fala que o primeiro caso corresponde aos ensinos das grandes autoridades do plano espiritual, enquanto que a segunda se refere às “pessoas comuns”, “gente como a gente” que viveu muitas vezes uma vida obscura ou totalmente ligada a um grupo familiar restrito. Se a primeira classe traz a teoria, da outra vem a prática. Aprendemos muito com os grandes mestres de além-túmulo, mas é através da narrativa de espíritos que tiveram uma vida parecida com a nossa é que podemos compreender, de fato, o processo da desencarnação e o estado de felicidade ou infortúnio em que nos encontraremos

depois desta vida. É nesse tipo de narrativa onde achamos a validação dos princípios e leis espirituais que governam o destino dos seres além-túmulo. esse estudo das cartas é de grande importância, não tanto para o movimento espírita que já está convencido de sua realidade e real origem, mas para aqueles que consideram a sobrevivência uma possibilidade real. Mas, uma considerável parcela da sociedade simplesmente desconhece a montanha de informações e dados que se pode obter por meio do uso correto da mediunidade. e mais ainda, mesmo hoje, podemos encarar a necessidade de se desenvolver novos métodos para o estudo da mediunidade. então, ao se propor uma linha de pesquisa na área de análise das cartas, estamos sistematizando e adaptando procedimentos e métodos já consagrados em apoio a uma área onde muito ainda resta para ser feito. Acho que essa segunda razão é, talvez, a mais importante, uma vez que a pesquisa iniciada por Allan Kardec ainda não está finalizada. Como as pessoas (espíritas ou não) podem colaborar com você? o trabalho consiste na catalogação de diversos dados e sua posterior análise. Isso não pode ser feito sem ajuda de computadores, uma vez que esses são dispositivos criados principalmente para tratar dados. Por outro lado, nem todas as mensagens estão, de fato, publicadas. então, após a fase de catalogação, a disponibilização dos dados dos autores (informação como data de nascimento, parentesco, causa mortis etc), pode motivar as pessoas a ajudarem na busca de dados faltantes. Isso porque, muita coisa foi perdida no processo de registro em papel das cartas e não iremos ter, no final, um banco de dados absolutamente completo e sem falhas. Além disso, no caso das comunicações particulares de chico Xavier, as histórias anteriores estão “se perdendo” paulatinamente com o tempo, à medida que os personagens envolvidos tomam outros rumos, parentes falecem etc. Acho essa uma grande oportunidade de interação com o grande público, que tem certa afinidade com as histórias reais e os dramas subjacentes às cartas. espero poder contar com esse tipo de ajuda. Qual o papel da pesquisa de um modo geral para o espiritismo? Pesquisar significa aplicar, de uma forma sistemática, o conhecimento presente sobre um tema para gerar mais conhecimento sobre esse tema ou aque-

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eSPIRItUALIDADe e SocIeDADe

Ademir Xavier: “As histórias estão se perdendo”

les que lhe são correlatos. Dado o caráter progressivo do espiritismo, ele, naturalmente, deve incorporar a pesquisa em suas práticas. Dito isso, há que se distinguir entre pesquisar os diversos temas espíritas no âmbito de seu paradigma próprio e tentar validar esse paradigma de acordo com métodos e procedimentos de pesquisa que não estão de acordo com ele. Isso significa que o caráter progressivo da doutrina espírita não se restringe apenas à ampliação de seu corpo de conhecimento, mas também à criação de novos métodos, dada a natureza altamente especial de seu objeto de estudo, que é o espírito. creio que, cada vez mais, o tema da comunicabilidade e reencarnação poderá ser estudado sem preconceitos, uma vez que a ciência moderna, em que pesem todos os milagres que ela conseguiu fazer com suas descobertas, está em uma encruzilhada com relação ao seu futuro. esgotaram-se as possibilidades de desenvolvimentos teóricos nos paradigmas presentes, boa parte do desenvolvimento científico atual (leia ‘recursos financeiros’) está voltada para aplicações tecnológicas onde o risco é menor e os retornos são garantidos. então, na grande área de fronteira da ciência com a filosofia, a consciência e a possibilidade da sobrevivência surgem como temas naturais frequentemente desprezados, que contam com grande apoio popular. os casos de “experiências de quase-morte” são temas recorrentes exibidos pelas grandes mídias. Além disso, não podemos nos esquecer de que a imensa maioria da população mundial acredita na sobrevivência (por influência das diversas religiões) então, por que não estudar esse tema, que talvez, no dizer do eminente psicólogo americano William James, seja o que há de mais importante para a raça humana? Saiba mais sobre a pesquisa e leia a entrevista completa de Ademir Xavier no site www.correiofraterno.com.br www.correiofraterno.com.br


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VOCÊ SABIA?

Morto auxilia Kojak

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renomado ator Telly Savalas, que se destacou numa série para televisão fazendo o detetive Kojak, na década de 1970, revelou ter vivido uma experiência interessante. O fato está esmiuçado no livro World of strange powers (O Mundo de forças misteriosas), de Arthur C. Clark, segundo notícia divulgada pelo jornal Psychic News. Ele viajava em seu automóvel, tarde da noite, por uma estrada da Inglaterra, quando o veículo parou por falta de combustível. Ele descreve: “A noite era escura e o lugar ermo. Eu sabia que eram remotas as chances de alguém passar por ali e me dar qualquer ajuda. Mas de repente apareceu um Cadilac preto. Seu motorista, simpático e gentil, me ofereceu providencial carona. Enquanto rodávamos, ele foi conversando e dizendo que era amigo de um atleta muito popular. Quando saltei agradeci, naturalmente,

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a gentileza. Ele me deu seu nome e o número de seu telefone. No dia seguinte, lendo um jornal deparei, com enorme surpresa, que aquele atleta a que o simpático cavalheiro se referia havia morrido naquele mesmo local em que meu automóvel havia parado... E ele me recolhera... Resolvi telefonar para agradecer sua gentileza e também para esclarecer minha curiosidade. Fui atendido por uma voz feminina, também gentil. Quando me ouviu dizer que queria falar com aquele cavalheiro, indagou o que eu queria. Contei-lhe tudo sobre nosso encontro na noite anterior. Com muita calma e gentileza a senhora, então, me explicou: “De fato sua descrição confirma que se trata do meu marido. Ele possuía um Cadilac preto. Mas já morreu há três anos.” Acervo Correio Fraterno, ed. 267, abril 1993.

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ATUALIDADES

Em estudo, as muitas vozes de Kardec Por Rodrigo Henrique Cabrera

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endo como tema “As muitas vozes de Kardec”, a Associação Caminhos para o Espiritismo reuniu no dia 31 de agosto cerca de 230 pessoas para a realização do seu quinto fórum, na Associação Espírita Obreiros do Bem, em São Carlos, SP. O evento pôde ser assistido também pela internet, através do canal da TV Espírita, disponibilizado pela Associação de Divulgadores Espíritas de Campinas (ADE). O encontro proporcionou reflexões sobre as diferentes ideias que influenciaram Kardec durante a produção de sua obra, através de palestrantes que apresentaram estudos e pesquisas sobre o tema programado. Oito palestras foram divididas em três painéis temáticos: “As vozes anímicas”, que abordou as encarnações de Kardec; “As vozes sociais”, que analisou as influências externas que Kardec recebeu em seu dia a dia dos espíritos encarnados e desencarnados; e “As vozes culturais”, sobre o quanto a obra de Kardec prende-se ao século 19 e o quanto ela supera o seu momento histórico. Também aconteceram duas sessões de debates com os palestrantes que responderam perguntas do público presente e dos internautas que acompanhavam o evento online. Uma característica marcante do fórum foi o fato de que todos os palestrantes fundamentaram seus argumentos em pesquisas pessoais e textos históricos, como por exemplo o convidado Eugênio Lara, membro-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc) e do site Pensamento Social Espírita (PENSE). Em sua apresentação, intitulada “Allan Kardec, druida?”, Lara fez uma análise das correlações históricas e filosóficas entre as culturas celta e kardecista. “As semelhanças entre essas duas culturas são maiores do que as diferenças. O conceito de reencarnação, a imortalidade, os ciclos evolutivos

e os princípios morais contidos nas tríades célticas, guardam muitas similaridades com a filosofia espírita”, explicou. A pesquisadora Cintia Alves da Silva, de São Carlos, já conhecia o trabalho da Associação, mas somente este ano participou de um evento. “Eventos como este representam um espaço privilegiado para discussões sobre o histórico e os rumos do movimento espírita, sobre a atualidade do espiritismo, em diálogo com temas contemporâneos, e sobre as fronteiras e articulações entre ciência e religião”, comenta. O técnico de som José Henrique Martiniano de Oliveira, de Araraquara, já participou de quatro eventos do “Caminhos”. Desta vez, estava em Nova York e acompanhou o evento pela internet. “Meu tema predileto foi a discussão sobre a implantação de uma TV Espírita e a conciliação dos grupos dentro do movimento espírita, unindo forças para conseguirmos esse objetivo”, diz Oliveira. Em relação aos resultados, Leopoldo Daré, fundador da Associação e coordenador-geral do evento, aponta que o encontro deste ano cumpriu todas as expectativas em relação ao público, organização e conteúdo. “As palestras tiveram o êxito de apresentar dados que demonstraram a grande diversidade de influências que Allan Kardec recebeu durante a produção de suas obras espíritas. Esperamos que nas cidades em que os eventos do ‘Caminhos’ ocorram fique a mensagem de alteridade com todos os diferentes caminhos que o espiritismo tem percorrido na atualidade, uma grande vontade de dialogar entre os

Leopoldo Gustavo Daré na apresentação “A alma de Rivail”

espíritas e com os saberes não-espíritas, resultando

em novos eventos e até em estudos dentro das casas espíritas, em parceria com universidades”, conclui Daré. Público presente no V Fórum Caminhos para o Espiritismo

Caminhos para o Espiritismo Criada em 2007 por um grupo de oradores da União das Sociedades Espíritas (USE) de Ribeirão Preto, para organizar eventos de temática espírita, a Associação Caminhos para o Espiritismo inicialmente festejou os 150 anos de lançamento de O livro dos espíritos através de um grande evento. “Com o sucesso do primeiro encontro sentimos a necessidade de criar oficializar a associação para expandir e dar continuidade ao trabalho. Com a divulgação, foram se juntando ao grupo ‘caminhantes’ de diversas cidades e estados do Brasil”, lembra Leopoldo Gustavo Daré, membro-fundador da associação, cuja meta é difundir o processo de organização de congressos espíritas e de compartilhar diferentes ideias e vivências espíritas com toda a região de Ribeirão Preto. Desde a fundação, o grupo já realizou nove eventos, em diferentes formatos, entre fóruns, encontros e colóquios, realizados nas cidades de Ribeirão Preto, Matão e Araraquara, tendo como objetivo incentivara participação de casas espíritas locais nas programações. “Em São Carlos, por exemplo, três casas atuaram intensamente na organização e execução do fórum: o Grupo Kardecista Caibar Schutel, a Associação Espírita Obreiros do Bem e o Núcleo Kardecista Paz Amor e Fraternidade. Saiba mais em http://www.caminhosparaoespiritismo.org.br/blog/ www.correiofraterno.com.br


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CARTA ENIGMÁTICA DO CORREIO

ENIGMA

O que simboliza o número 666 no Apocalipse de João?

IV Simpósio de Filosofia Espírita O Instituto Espírita de Estudos Filosóficos realizará nos dias 12 (9 às 16h) e 13 de outubro (12 às 14h) o IV Simpósio de Filosofia Espírita, com o tema “A filosofia da vida – A vida divina é a vida do Pai em nós”. Palestrantes: Franklin Leopoldo e Silva, Juvenal Savian Filho, Adriano Pires Otafij, Carlos Alberto Simões e David Vieira Monducci. Público-alvo: espíritas em geral, dirigentes de casas espíritas e simpatizantes de um modo geral. Local: Centro Espírita Nosso Lar – Casas André Luiz. Rua Duarte de Azevedo, 691. Próximo ao metrô Santana. Informações: 11 4324-1846. E-mail: instituto@ieef.org.br www.ieef.org.br

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Monitores do ESDE se reúnem em Osasco Será realizado no dia 12 de outubro, das 10h às 17h o 5º Encontro Paulista de Monitores do ESDE, no Instituto Espírita Obreiros do Bem. Rua Eclísio Viviane, 25, em Osasco, SP. Aberto a monitores e também a pessoas que ainda não trabalham com a metodologia da FEB. Promoção USE-SP. Inscrições: epmesde@usesp.org.br. Saiba mais sobre o ESDE no site www.correiofraterno. com.br

qualquer hora, em qualquer lugar

Solução da Carta Enigmática

OUT

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Apresentação musical com Tim e Vanessa “Caminhando Juntos” é o show que Tim e Vanessa apresentam dias 19 de outubro, às 20h, e 20 de outubro,às 19h, no Teatro SESI Minas – Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, Belo Horizonte, MG. Ingressos R$ 30 reais, com renda revertida para a construção da creche A Caminho da Luz. Informações – 31 99745-9556 (Victor) http://www.timevanessa.com.br

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Veja em: www.correiofraterno.com.br

Resposta do Enigma:

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _-_ _ Do livro Cartas do coração, LAKE

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Feirão de Livros ADELER, São Paulo Será realizado dias 19 e 20 de outubro, das 9 às 17 horas o 1º Feirão de Livros da ADELER - Associação de Editoras, Distribuidoras e Divulgadoras do Livro Espírita. Local: CENLEP- Centro Nosso Lar de Educação Profissional, na Av. Regente Feijó, 1500. Jardim Anália Franco, São Paulo, SP. A feira reúne, além de grande público, inúmeros autores que participarão das sessões de autógrafos, dentre eles a escritora Lygia Barbiére Amaral, que lançará seu novo romance Um tom acima, pela editora Correio Fraterno. Ônibus grátis do metrô Carrão e descontos especiais. Tel: (11) 2973-4998 - www.adeler.com.br

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Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

O papa. Trata-se da soma dos algarismos romanos encontrados em cada um dos títulos VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS”, “VICARIVS FILII DEI” e “DVX CLERI” que significam “Vigário-Geral de Deus na Terra”, “Vigário do Filho de Deus” e “Príncipe do Clero”.

Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fique atualizado sobre o que acontece no meio espírita. Participe. www.correiofraterno.com.br

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Ser médium será que é legal ser médium?

por que você tá perguntando isso?

porque ser pequena às vezes cansa...


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QUEM PERGUNTA QUER SABER

As referências ao mestre francês Da REDAÇÃO

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rata-se de pergunta aparentemente simples, mas uma busca mais aprofundada gerou inúmeros levantamentos, como seguem abaixo: A palavra ‘codificar’ vem do francês codifier. Codificar significa, segundo o Houaiss: 1 - reunir numa só obra textos, documentos, extratos oriundos de diversas fontes; coligir, compilar; 2 - reunir em código. Mas daí vem a pergunta: o que Kardec juntou, reuniu? Justamente o fruto de sua pesquisa. De início, apenas como curiosidade pessoal, querendo entender o que havia por trás do fenômeno das mesas girantes; depois, algo que se transformou num trabalho metódico e lógico para desvendar e divulgar de forma filosófica e organizada a existência do espírito. Kardec foi, portanto, muito mais do que um codificador. Foi um pensador, um cientista. Sabe-se que o termo ‘codificador’, para qualificar Kardec, foi consolidado no Brasil. Na Europa, ele era mais conhecido como fundador do Espiritismo. É assim, aliás, que está em sua lápide no formato de dólmen, em Paris: fundador do Espiritismo. Segundo o pesquisador Eugênio Lara, quem popularizou essa expressão no Brasil e América Latina foi provavelmente Carlos Imbassahy, em seu livro Missão de Allan Kardec, publicado em 1957. Mas ele adverte: “Seria preciso uma pesquisa mais apurada e rigorosa nos periódicos espíritas e não espíritas do final do século 19 e início do século passado. No final do século

Por que Kardec é chamado de codificador? Lílian R. Mendonça, Cascavel, PR 19, o grupo de Torteroli referia-se a Allan Kardec como o fundador do espiritismo, fundador da ciência espírita etc. Isso pode ser conferido nos jornais diários da época. Para se ter certeza, seria necessária uma comparação terminológica entre a revista Reformador, cujo redator por muitos anos foi Carlos Imbassahy, e a Revista Espírita do Brasil, cujo editor-gerente era o Affonso Angeli Torteroli”. Ainda não sabemos ao certo quem foram os espíritas que introduziram essa expressão para se referir a Kardec. Recentemente, alguns pesquisadores da Lihpe (Liga de Pesquisadores do Espiritismo), com ajuda da FEB e outros estudiosos, levantaram os seguintes dados. Em edições antigas da revista Reformador (1883 a 1907), foram encontrados termos como fundador, mestre e missionário, em referência a Kardec. Somente em 1908, dois artigos assinados por Vianna de Carvalho utilizavam os termos ‘codificando’ e ‘codificador’, conforme transcrições abaixo: “Allan Kardec, codificando tão admiravelmente o ensino dos espíritos, precisara de modo irrefutável a existência de um

princípio intermédio que, servindo como meio de transição entre o corpo e a alma, completa a synthese do ser humano em suas mínimas particularidades.” (Reformador, fevereiro de 1908, “Caracteres funcionais do perispírito”). “Reformador, março de 1908, p. 108, Coluna: Colaboração, Título: Humilde Apologia, Subtítulo: A Allan Kardec, venerado mestre e excelso codificador do espiritismo.” Mas há também algumas referências mais antigas, em francês, como a seguinte, do livro O fenômeno espírita (1893), de Gabriel Delanne: “Em vez de apresentar aos incrédulos toda a doutrina formulada pelos Espíritos e codificada por Allan Kardec (...)”. No original: “Au lieu de présenter aux incrédules toute la doctrine formulée par les Esprits et codifiée par Allan Kardec (...)”. Em nova consulta do Correio Fraterno sobre o assunto, a FEB respondeu o seguinte, em 23/9/2013, através de José Carlos da Silva Silveira: “Diz-se que Kardec é o codificador do espiritismo porque o seu trabalho foi o de reunir, compilar e sistematizar os ensinos

dos Espíritos. Na verdade, ele mesmo não se atribuiu esse título. No livro Allan Kardec, o educador e o codificador, Zeus Wantuil e Francisco Thiesen (volume I, capítulo I, item 1) dizem o seguinte: ‘Embora houvesse, em 1858 (RS, p 206), declarado que ‘as mesas girantes são como a maçã de Newton, que, na sua queda, encerra o sistema do mundo’, o fato de ele ter sido o sistematizador não lhe subiu jamais à cabeça, pois declinou da honra de ter fundado o espiritismo. Em 1861, aspirava apenas ao ‘modesto título de propagador.’ (RS, p.7). Nada obstante, em Obras póstumas (Projeto 1868), ao falar do “desenvolvimento teórico da doutrina e os meios de popularizá-la”, ele se atribui o título de fundador da teoria, quando diz, referindo-se a si mesmo: ‘Ora, creio que seria conveniente que aquele que fundou a teoria pudesse ao mesmo tempo impulsioná-la, porque então haveria mais unidade’. Assim, Kardec fazia diferença entre ser fundador do Espiritismo e fundador da teoria espírita. Quanto aos termos ‘codificador’ e ‘codificação’, têm origem, ao que parece, no próprio movimento espírita, ao que tudo indica, no Brasil. Seria interessante, do ponto de vista histórico, que se descobrisse quando foram as expressões ‘codificador’ e ‘codificação’ usadas pela primeira vez e quem as introduziu.” A pesquisa, portanto, continua em aberto. Colaboraram na pesquisa Alexandre Caroli Rocha, Herivelto Carvalho e Eugênio Lara.

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FoI ASSIM

Meu último encontro com a vovó Por cRIStInA AbeL

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esde pequena eu era diferente; tinha amigos imaginários, falava sozinha, via luzes piscando no escuro e vultos em paredes brancas. Mas nunca ninguém achou que isso fosse relacionado à mediunidade. Com o passar do tempo, e conforme minha família e eu conhecemos a doutrina espírita, começamos a entender que talvez eu tivesse uma mediunidade mais aflorada. Ainda na adolescência, dei início a estudos de desenvolvimento mediúnico para que eu conseguisse me controlar e me dominar em certas situações. Mas foi com o desencarne de minha avó materna que ganhei o maior presente. No dia em que ela nos deixou para partir para outra dimensão, toda a família e amigos a visitaram ou telefonaram para saber de seu estado de saúde, pois ela se recuperava de uma cirurgia para a colocação de um marca-passo. Ela estava muito bem e feliz. Minha mãe, que passou aquela última semana inteira dedicando-lhe cuidados e atenção em sua casa, disse que aqueles dias foram abençoados e que a paz reinava naquele lar. Como minha avó morava em outra cidade, meu pai e eu ficamos em casa, por causa do trabalho. Mas naquela sexta-feira, meu pai ligou para minha mãe e quem atendeu foi minha avó. Eles conversaram

rapidamente e quando o telefone foi passado para mim já era minha mãe quem estava do outro lado da linha. Conversamos normalmente, mas eu não tive a chance de falar com minha avó. E não teria mais essa oportunidade, pois ela faleceria naquela noite. Após o enterro comecei a me sentir culpada por ter sido a única da família a não dar o meu adeus em vida. Mas Deus me

reservava uma dádiva maior. Alguns dias depois, tive um lindo encontro com minha avó em sonho. Sonhei que havíamos voltado para a casa dela para uma reunião familiar. Minha mãe pediu que eu fosse ao quarto de minha avó buscar um documento. Para minha surpresa, encontrei minha avó vasculhando o próprio armário em busca de alguns papéis. Ao vê-la me assustei e falei

que era impossível ela estar ali, pois já havia desencarnado. Ela então se virou para mim e disse que só havia voltado para buscar algumas coisas, mas que precisava ir embora, que havia alguém a esperando para levá-la. Eu, desesperada, gritava para a família que ela estava ali, entre nós, mas ninguém podia vê-la. Eu a seguia pela casa e conversávamos enquanto isso. Até que ela abriu a porta da frente, e eu pude perceber que havia uma luz diferente no céu, mais brilhante. Minha avó me abraçou, pediu que eu dissesse algumas coisas aos meus tios e se despediu de mim. Abriu o portão e saiu caminhando pela rua em direção a um grande portal de luz. Ao vê-la se aproximar do portal, vi também outra senhora de cabelos brancos e curtos, parada ao lado do feixe de luz, como a receber minha avó e guiá-la na nova empreitada que começaria no outro plano. Foi a despedida mais bonita e emocionante que poderia ter com minha querida avó. Acordei imediatamente em prantos, por entender que ela veio ao meu encontro para que eu tivesse a chance de vê-la mais uma vez e me despedir. Este fato aconteceu com Cristina Abel, de São Bernardo do Campo. Conte também a sua história para ser publicada aqui no Correio Fraterno. (redacao@correiofraterno.com.br)

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DIReto Ao Ponto

Mediunidade Enigma no passado, recurso para o bem no presente

De UMbeRto FAbbRI

O

s que desconhecem a doutrina dos espíritos acreditam que a mediunidade seja uma exclusividade do espiritismo e que com ele tenha nascido. O próprio espiritismo não tem uma criação específica, mas uma codificação realizada por Allan Kardec, sendo a doutrina dos espíritos o cristianismo redivivo, em toda a sua grandeza e brilho. O espiritismo está para a nossa vida como o ar para os nossos pulmões. Não obviamente como religião constituída ou aparamentada, mas como ligação da nossa realidade espiritual com nosso Criador. Portanto não tratamos o espiritismo como a religião do futuro, mas, sem sombra de dúvida, como o futuro das religiões, como nos ensinou o sábio francês de Tours, Léon Denis. Futuro este como cristianismo puro, na sua essência verdadeira, lastreado nos ensinos objetivos e transparentes do Cristo, sintetizando mandamentos, leis e profetas, em “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. O espírito é imortal. Para conquistar sua evolução, utiliza-se da reencarnação. Neste processo, habitará a materialidade e a espiritualidade. A linguagem universal do espírito é o pensamento, para o qual não existem barreiras, nem mesmo existências em dimensões diferentes. O médium intermedeia a comunicação da espiritualidade para a materialidade. Este processo sempre

Médiuns tidos como semideuses influenciaram a história do mundo, decidindo guerras, comandando exércitos e orientando governantes crédulos e temerosos.” existiu, embora tenha recebido nomes diferentes, como por exemplo, profecias. Os profetas eram verdadeiros médiuns, mas, por falta de terminologia específica para defini-los, receberam o nome de ‘profetas’. Mediunidade é uma ferramenta que acompanha o ser em qualquer plano da Criação, e se faz presente em nosso planeta desde as eras mais remotas, onde a criatura ainda rudimentar comunicava-se com os chamados ‘mortos’, que continuavam mais vivos do que nunca através de metodologia comum, visando atender suas necessidades mais prementes de acordo com a sua evolução. Os sacerdotes, os profetas, os pajés, as pitonisas e oráculos eram consultados e tidos como seres privilegiados, detentores de poderes divinos. Na história das civiliza-

ções antigas, como Egito, Grécia e Roma, dentre outras, a mediunidade recebeu citações importantes. Esses médiuns tidos como semideuses influenciaram a história do mundo, decidindo guerras, comandando exércitos e orientando governantes crédulos e temerosos. Temos ainda na Bíblia várias passagens que citam anjos e demônios, seres que nada mais eram do que espíritos desencarnados se comunicando conforme suas possibilidades e entendimento. Com Jesus, a mediunidade ganha novas cores e aplicações. “Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça; deem também de graça.” – Mateus 10:8, pede ele aos seus discípulos. Tempos depois, na Idade Média, vemos

uma grande perseguição aos que possuíam a mediunidade. A falta de conhecimento, o fanatismo e os interesses escusos promoveram injustiças e dores, deixando os ensinamentos do Cristo de lado. Por volta de 1848, os fenômenos de Hydesville deram início a uma invasão organizada dos espíritos para o estudo e codificação da doutrina espírita. As mesas girantes chamaram a atenção de Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec), que se dedicou ao estudo sério e profundo da vida espiritual. O espiritismo na figura de Allan Kardec e de todos os espíritos envolvidos na elaboração da codificação espírita traz grandes revelações sobre a mediunidade e sua aplicação. Retirando seu viés sensacionalista e sobrenatural. À luz do espiritismo, a mediunidade se alicerça na razão e na caridade, e nos mostra os propósitos elevados da fraternidade necessária entre os mundos espirituais e materiais. A mediunidade nunca foi, não é e nunca será exclusividade de quem quer que seja. Ela nos tira do vale do desconhecimento, livrando-nos de consequências desastrosas através das oportunidades de aprendizado com as experiências daqueles que nos sucederam, auxiliando o ser a sair do círculo vicioso do eu. Profissional de marketing, é orador e escritor brasileiro, morando hoje na Flórida, EUA. www.correiofraterno.com.br


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CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2013

LEITURA

Rochester em mais uma emocionante história Da redação

Desconhecendo a própria origem, um príncipe raptado vive em um ambiente hostil e tem como melhor amigo o filho de um xeique. Entre vinganças e conquistas, a lei do amor universal vai se consolidando, envolvendo famílias e herdeiros, renovando atitudes e trazendo novos caminhos para corações aflitos que buscam apenas ser felizes.

A

editora Correio Fraterno acaba de lançar O condado de Lancaster, romance espírita de autoria do consagrado J. W. Rochester, psicografado pela médium Arandi Gomes Teixeira, que também o acompanhou em A pulseira de Cleópatra, Vós sois deuses e O príncipe do Islã, sucessos na literatura espírita recente. Na entrevista abaixo, a médium comenta sobre a nova publicação e sua relação de parceria e compromisso com Rochester para divulgação dos conhecimentos espíritas, num estilo espiritual característico, que imprime sempre muita emoção e suspense na narrativa de suas incríveis histórias. Rochester não para com seu convite à reflexão através de obras que retratam personagens em conflito. O que aborda no seu novo romance www.correiofraterno.com.br

O condado de Lancaster? Arandi Gomes Teixeira: Neste romance, ele destaca a infância desvalida, através do pequeno personagem, Kadir, e convida o seu leitor a pensar, seria e profundamente, nas crianças e jovens que se arrastam na face do planeta implorando socorro; muitas vezes, em meio ao silêncio ou mergulhados em situações trágicas; enquanto a sociedade como um todo quase sempre olha para o outro lado, ignorando-os irresponsavelmente.

A diferença cultural dos personagens expõe detalhes da religiosidade no Ocidente e no Oriente. Como Rochester concilia isso? Arandi Gomes Teixeira: Ele concilia com o bom-senso e a razão esclarecida, baseados no cristianismo redivivo, sem ferir suscetibilidades, nem esperar transformações, que sempre dependerão do tempo e da história espiritual de cada um. O espiritismo não faz proselitismo. Você, que psicografa as obras de Rochester atualmente, nota durante o trabalho um envolvimento maior do autor espiritual com seus personagens? Pode dar um exemplo? Arandi Gomes Teixeira: Sim, ele se envolve visceralmente com os seus personagens e ‘passeia’ em meio às suas diferentes reações.

Eu partilho igualmente dessas experiências e muitas vezes a recordação de antigas vivências na carne nos remete ao passado, permitindo-nos mais uma vez as mesmas alegrias ou os mesmos sofrimentos. A alma registra tudo que viveu, devolvendo-nos no espaço e no tempo, quando possível, os mesmos cenários e as mesmas emoções. Rochester é consagrado autor espiritual por suas histórias ‘fortes’. Ele continua com o mesmo estilo? Arandi Gomes Teixeira: Sim. Basta ler os seus livros e reconhecer a força e a paixão com as quais ele escreve. Ainda que noutra época e numa nova fase, quando ele já dispensa a ‘pompa e circunstância’, tão do seu agrado em tempos idos, o seu estilo literário continua o mesmo. Como esse trabalho de O condado de Lancaster iniciou? Você sabia previamente sobre o que iria escrever, o conteúdo temático da história? Arandi Gomes Teixeira: Às vezes recebo, bem antes, algumas pinceladas de um provável trabalho psicográfico. Mas quase sempre ignoro completamente o conteúdo. Em O condado de Lancaster, vi apenas a capa da primeira edição e nada mais. Depois, ao longo das diversas narrativas, ele foi me informando melhor, e não é raro ele ‘me tirar’ da cama pela madrugada para psicografar algumas páginas das suas obras. Rochester relembra o ranço de antigos conceitos e enaltece a transformação através do conhecimento do Evangelho. O que significa em O condado a mensagem de Jesus? Arandi Gomes Teixeira: Ele cita os refe-

ridos ranços para esclarecer o seu público leitor. Neste livro, a mensagem do Evangelho nos alcança de forma direta e transcendente, com Jesus falando a todos nós, seus irmãos; frente a um grupo de encarnados e desencarnados, reunidos numa esfera próxima da Terra, para uma avaliação espiritual. Este capítulo deu nome à primeira edição. No seu início a obra trazia o título Apolo contra a luz, modificado depois pelo próprio Rochester para O paradigma da humanidade. O que sentiu quando terminou a psicografia de O condado de Lancaster? Arandi Gomes Teixeira: A grande satisfação de mais um dever cumprido junto ao Rochester e à espiritualidade, e na concretização de mais uma obra da doutrina espírita que nos esclarece, consola, transforma e redime. E se tivesse que apresentar essa obra em poucas palavras, o que diria? Arandi Gomes Teixeira: Que ela é imperdível, porque através deste romance, acompanhando a vida da protagonista, Constance, veremos o verdadeiro e eterno amor, as dores da perda, a saudade de um filho muito querido; a incompreensível e invigilante vingança e os perigos da obsessão; o respeito devido aos diferentes credos e etnias; a necessidade imprescindível de união familiar como base sólida para a educação moralizada. Tudo isso e muito mais, tendo como pano de fundo as adversidades devastadoras pelas quais passam as crianças abandonadas, num alerta para a urgência de nos voltarmos para essas ‘novas sementes’, a fim de que o mundo progrida, de fato e de direito, no rumo da perfeição e da felicidade!


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