FRATERNO
ISSN 2176-2104
CORREIO
150 anos de O evangelho A marcante assistência a Kardec para conceber e organizar a obra. Página 8
SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o
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Universidade investiga o método de Kardec
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interesse que moveu Allan Kardec em seus estudos sobre a existência do mundo dos espíritos e suas relações não teve inicialmente o objetivo de desacreditar a ciência, mas de alertar os materialistas para o fato de que havia algo mais que ela não estava considerando, por falta de observação e pesquisa adequada. Cerca de 160 anos depois, a metodologia para a investigação dos fenômenos mediúnicos é tema de pesquisa realizada na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG e revela a importância do assunto, que toca em um dos pontos mais debatidos entre os céticos, que não consideram o espiritismo ciência, por não entenderem o método desenvolvido por Kardec para obter informações sobre a dimensão espiritual do universo. Para realizar a pesquisa, além de analisar toda a obra publicada pelo codificador, o historiador Marcelo Pimentel teve acesso a documentos originais inéditos de Kardec. Leia a entrevista nas páginas 4 e 5
Livre-arbítrio: marionetes de nós mesmos? O livre-arbítrio só existe antes de encarnarmos, quando escolhemos o gênero de provas por que temos que passar? Se é assim, então somos marionetes de nós mesmos? Página 13
Encontro reúne fitoterapeutas do Brasil Cerca de duzentas pessoas que trabalham com fitoterapia por todo o Brasil se reúnem em Uberaba, MG e fortalecem o emprego de um recurso utilizado na mesma região desde os tempos de Eurípedes Barsanulfo. O projeto, que já tem sede própria, além de estimular a multiplicação do conhecimento, inclui o cultivo de plantas medicinais, a coleta, o estudo e a aplicação da fitoterapia junto à assistência espiritual na casa espírita, presente em pelo menos 36 centros espíritas espalhados pelo Brasil. Leia mais na página 3
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o caminho, a verdade,
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ais uma edição finalizada! E esta está pra lá de especial. Os 150 anos de O evangelho, que se completam agora em abril, inspiram todo o movimento espírita a fazer a sua homenagem, cada um a seu modo. Nós, que reconhecemos a grande parceria com a equipe espiritual, sentimos o profundo envolvimento em torno do tema, que se iniciou desde a edição anterior. Em nós se instalou um desejo de saber algo mais sobre os sentimentos que invadiram Kardec, ao constatar que o Evangelho de Jesus seria a base de seu novo projeto junto ao Espírito de Verdade, escolhido como o melhor código de ética para compor a base moral da codificação, um verdadeiro roteiro para a grande e necessária
a vida
renovação da humanidade. Outra curiosidade também nos sobreveio: O que teria levado Kardec a colocar naquele projeto o nome Imitação do evangelho? Mais alguns dias e os textos dos amigos articulistas foram chegando e nos ajudando a compor a nova edição, trazendo um a um os temas de nossas curiosidades e pintando em cores vivas a realidade que vivemos 150 anos depois de sua publicação. Que a mensagem de Jesus não seja letra morta no coração dos homens, mas um exemplo a seguir, porque com a doutrina espírita a revelação do exemplo amoroso de
CORREIO DO CORREIO Analfabetismo doutrinário Muito interessante a matéria de capa da última edição (455). Realmente são tantas as confusões na compreensão da doutrina!! Por não entender direito, muita gente aceita qualquer novidade como sendo uma verdade dentro do espiritismo. Parabéns. Dirce Nascimento. Taboão da Serra, SP. Fãs de Hermínio Miranda Ao ler o jornal Correio Fraterno, edição
455 (“À procura de Deus”) vi que o autor Hermínio Miranda tem três livros que ainda não lemos, O que é o fenômeno anímico?, O que é o fenômeno mediúnico? e este que alguém achou um antigo exemplar no sebo: Os procuradores de Deus. Antes de sua desencarnação [aos 93 anos], cheguei a trocar email com ele, perguntando algo sobre a época de Jesus. Ele me sugeriu que lesse a entrevista com Haroldo Dutra no Correio
CORREIO
FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118
Presidente: Adão Ribeiro da Cruz Vice-presidente: Tânia Teles da Mota Tesoureiro: Vicente Rodrigues da Silva Secretária: Ana Maria G. Coimbra Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP www.correiofraterno.com.br
em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.
Jesus nos toca a alma como o verdadeiro roteiro para encontrarmos a felicidade, o caminho, a verdade, a vida. Boa leitura! Fraterno [de quase dois anos atrás] que eu encontraria a resposta. Em nossa casa, somos fãs de Hermínio Miranda. Carmen Corrêa, Centro Espírita Semente de Luz. Caxias do Sul, RS. Olá, Carmen, por aqui o autor também deixou fãs incondicionais, pelo que aprendemos em pelo menos sete obras que publicamos dele. Os procuradores de Deus já se encontra na fila de nossas publicações. Para nós, será sempre um dever manter vivas as reflexões de Hermínio, sempre tão avançadas, fruto de uma lucidez que a vida na espiritualidade só fará abrilhantar. Que ele não nos esqueça! Redação.
Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Administração/financeiro: Raquel Motta Comercial: Magali Pinheiro Comunicação e marketing: Tatiana Benites Auxiliar geral: Ana Oliete Lima Apoio de expedição: Osmar Tringílio Impressão: Lance Gráfica
Uma ética para a imprensa escrita
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• A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. serão um meio de esclarecimento. • se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.
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Encontro em Uberaba reúne fitoterapeutas espíritas
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A Caravana do Arco-Íris teve início com o médium Langerton Neves da Cunha, que desde muito novo já trazia em suas faculdades mediúnicas a aptidão para o cultivo e aplicação das plantas. A partir de 1959, sob a orientação de Eurípedes Barsanulfo e apoio do próprio Chico [Xavier], ele instituiu o trabalho com a fitoterapia, usando os princípios ativos de plantas medicinais junto à assistência espiritual em Peirópolis, distrito de Uberaba – MG, onde residiu e trabalhou. Sob o amparo espiritual de Eurípedes Barsanulfo, Emílio Luz, mentor espiritual de Langerton quando encarnado, que orientaram e continuam orientando as atividades, além do próprio Langerton, o encontro promoveu muita união, aprendizado e a oportunidade de trabalho conjunto. Munidos de enxadão, machado, facão, tesouras de poda, todos os participantes foram para o cerrado, em busca de plantas medicinais que, depois de coletadas e levadas para a sede do Núcleo, foram processa-
2- No cerrado, a coleta de plantas medicinais 3- Flor de maracujá: uma das belezas da natureza utilizadas em remédios fitoterápicos
Por Emerson Palhares Gonçalves ompanheiros de diversas cidades e estados de Brasil reuniram-se no feriado do Carnaval, na nova sede do Núcleo Espírita Brasileiro Langerton Neves da Cunha, em Uberaba-MG, para o grande encontro de coleta e estudos de plantas medicinais. Todos os anos o evento promove a reunião de membros da Caravana do Arco-Íris, que desenvolve atividades com a fitoterapia nas diversas bases ou boticas fitoterápicas espalhadas pelo país, todas elas vinculadas a casas espíritas. Este ano, cerca de duzentas pessoas representaram 36 boticas de 25 cidades – Teresina, Redenção, Aracaju, Sobral, Goiânia, Brasília, São Paulo, Uberaba, Uberlândia, Campinas, Jundiaí, Ribeirão Preto, Serra Azul, São José do Rio Preto, Jaboticabal, Araraquara, Piracicaba, Avaré, Curitiba, Jacupiranga, Diadema, Indaiatuba –, além de companheiros de diversas localidades onde estão sendo preparadas novas frentes e trabalho.
1- Entre os participantes, a troca de experiência e de matéria-prima para o trabalho
das e distribuídas entre todos, como base para a preparação das manipulações. Oferecendo-nos seus mananciais quase extintos de áreas nativas, aqui está o nosso rico cerrado, com sua magnífica biodiversidade. A ele e aos espíritos da natureza pedimos licença e retiramos apenas o necessário para a confecção das tinturas, que servirão a todos em suas atividades de assistência, juntamente com o trabalho do Evangelho. A atividade nos propicia a reflexão sobre a contribuição de cada parte no processo. A doação da natureza, em sua essência, na criação de Deus, pelos princípios ativos de cada espécie vegetal. A contribuição de cada encarnado, nos passos do processo para manipulação dos recursos naturais. A contribuição dos espíritos, no amparo e na inclusão de princípios espirituais, que reforçam a ação de cada substância de nossas ricas ervas medicinais. Por fim a ação dos assistidos, buscando os tratamentos fitoterápicos, com passe e Evangelho, juntamente com a laborterapia, onde quem trabalha
é sempre o mais favorecido. No fim das atividades, a alegria por tanto benefício colhido, finalizado pelo passeio turístico espírita, com a visita fraterna ao sr. Alexandre, do Grupo Espírita Amor Cristão, amigo de Langerton e de Chico Xavier – e grande figura inspiradora de nosso trabalho – e ao Museu Chico Xavier, para encerrar a festa espiritual deste doce encontro de amigos que muito se amam. “Continuemos em frente, aprendendo e servindo, crescendo e nos esforçando para que o bem se consolide, inicialmente na intimidade de nossas almas, e depois se exteriorize, espalhando bênçãos aos outros, já que o Mestre afirmou que seus discípulos seriam verdadeiramente reconhecidos por se amarem muito” – aconselha um dos amigos espirituais a nos encorajar para a continuidade da tarefa. Emerson Palhares Gonçalves é cirurgião-dentista, médium fitoterapeuta e presidente do Núcleo Espírita Brasileiro Langerton Neves da Cunha. www.correiofraterno.com.br
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ENTREVISTA
Universidade investiga o método de Kardec Por ELIANA HADDAD Marcelo Pimentel: Investigações que preenchem lacunas da história da ciência e da medicina
Como você analisa a importância de Kardec como pesquisador? Marcelo Gulão Pimentel: Allan Kardec foi importante, porque desenvolveu pesquisas pioneiras sobre os fenômenos mediúnicos. Ele propôs uma abordagem abrangente das manifestações mediúnicas que ocorriam na metade do século 19. Kardec buscou analisar as principais teorias a respeito do tema e concluiu que a hipótese da existência dos espíritos era aquela que melhor explicava o conjunto dos fenômenos observados. Em que o método de Kardec se diferencia? Kardec foi além dos demais pesquisadores, utilizando os médiuns como modo de acesso direto a dados empíricos a respeito do mundo espiritual. Para ele, o mundo relatado pelos espíritos não era metafísico, www.correiofraterno.com.br
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ma defesa de mestrado realizada em 25 de fevereiro pelo historiador Marcelo Gulão Pimentel levou para o Programa de Pós-Graduação em Saúde Brasileira da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, um tema de interesse para espíritas e não espíritas, ao apresentar na academia o método utilizado por Allan Kardec para a investigação dos fenômenos mediúnicos. A questão é de suma importância, porque toca em um dos pontos mais debatidos pelos céticos e pelos cientistas materialistas que não consideram o espiritismo ciência, muitas vezes pela falta de estudo e entendimento do método que Kardec buscou desenvolver para obter informações úteis e confiáveis sobre a dimensão espiritual do universo. A tese teve orientação do professor dr. Alexander Moreira-Almeida e coorientação do professor dr. Klaus Chaves Alberto, respectivamente, coordenador geral e coordenador da área de ciências humanas do Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde, que funciona na mesma universidade desde 2006. Participaram da banca examinadora o professor dr. Silvio Seno Chibeni, da Universidade Estadual de Campinas, e o professor dr. Gustavo Arja Castañon, da Universidade Federal de Juiz de Fora. Marcelo Pimentel concentrou sua pesquisa na leitura e análise de toda obra publicada por Kardec: seus livros e os doze volumes da Revue Spirite: Journal d’Études Psychologiques. Foram também obtidos e analisados documentos originais inéditos de Kardec, em viagem de pesquisa por um mês na França com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais.
e sim uma parte do mundo natural ainda pouco explorado. Em diversas passagens da obra de Kardec podemos vê-lo comparando o mundo espiritual com o mundo microscópio. Algumas vezes ele fazia a analogia do médium como um microscópio do mundo espiritual. Kardec também se diferenciava pela busca ativa por informações a respeito dos princípios que integraram o espiritismo. Ele procurava ampliar sua base de dados empíricos utilizando diversos médiuns, muitas vezes desconhecidos uns dos outros. Enfatizava a descrição e a interpretação do conteúdo das mensagens obtidas durante o transe mediúnico, comparando semelhanças e diferenças entre elas em busca de informações úteis que pudessem integrar sua teoria. Kardec dava uma grande ênfase na análise do conteúdo das informações, sendo menos relevante a
autoria das mensagens. No decorrer de sua pesquisa, contou com um número cada vez maior de correspondentes que foi de grande importância para a multiplicação dos relatos mediúnicos com os quais ele criou, desenvolveu e reformulou os seus princípios acerca do mundo espiritual. A Revista Espírita foi um espaço destacado de debates com os seus correspondentes, contribuindo para o amadurecimento das ideias a respeito do espiritismo. Pesquisador ativo, Kardec também se utilizava de casos históricos acerca dos fenômenos mediúnicos e também de pesquisas de campo, visitando médiuns e locais onde as manifestações espirituais se davam. Do conjunto de informações obtidas, ele desenvolveu a teoria espírita. Quais as contribuições que uma me-
lhor compreensão da metodologia do espiritismo pode trazer à ciência? Pode contribuir para o debate acadêmico acerca dos fenômenos anômalos que envolvem experiências conhecidas como espirituais, psíquicas ou mediúnicas. Investigações históricas não só do método de Allan Kardec, mas também de outros pesquisadores que conduziram pesquisas sobre o tema poderiam retomar teorias e metodologias fomentadoras de novas abordagens empíricas, bem como tornar mais bem conhecida uma longa tradição de investigações no campo da mediunidade. No nosso grupo temos um doutorando, Alexandre Sech Júnior, que está investigando outro pioneiro, William James. Há um crescente interesse no meio acadêmico sobre as relações entre
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ENTREVISTA espiritualidade e ciência. Por quê? Cada vez mais têm surgido em diversas partes do mundo estudos sobre os impactos positivos da espiritualidade na saúde do ser humano e as suas implicações em diversos ramos da sociedade. Em sua dissertação, você defende o caráter progressivo da pesquisa de Kardec. Por que isso aconteceu? Kardec via o espiritismo como uma ciência, portanto passível de ser aprimorada e modificada. Em um primeiro momento, contava com um número restrito de médiuns (cerca de dez), contudo, à medida que esse número foi ampliado, devido à repercussão de sua obra em diversas regiões do mundo, ele passou a recolher uma base maior de dados, o que permitiu o aprofundamento de aspectos de sua teoria. É o que se pode perceber com a leitura do ‘Ensaio teórico das sensações dos espíritos’, publicado na segunda edição de O livro dos espíritos. O ensaio é resultado de uma pesquisa que pode ser acompanhada desde a primeira edição de O livro dos espíritos, passando pelas edições da Revista Espírita de 1858 até o mês de dezembro, quando Kardec publica o artigo ‘Sensações dos espíritos’ em que apresenta suas primeiras conclusões sobre o tema. Este artigo ainda recebe algumas modificações baseadas na análise das informações dadas pelos médiuns entre 1859 e 1860 até a sua publicação na segunda edição de O livro dos espíritos, em 1860. Você acredita ser necessário retomar os estudos sobre os aspectos históricos e filosóficos das pesquisas científicas sobre as relações entre espiritualidade e saúde? Sim. Os estudos atuais nesse campo têm tido uma grande repercussão no meio acadêmico e na sociedade em geral. Contudo, pouco se sabe sobre a história dessas pesquisas. Estudos que busquem investigar suas tradições podem fortalecer essa área academicamente e fomentar novos trabalhos. E na área da metodologia científica? Isso poderia provocar uma revisão de teorias? Como historiador, é difícil medir o impacto desse estudo na área de metodologia científica. Em seus aspectos históricos, acredito que sim. Apesar da repercussão
que o espiritismo teve entre pesquisadores renomados da Europa na segunda metade do século 19, e na história da saúde mental no Brasil, o método de Allan Kardec é pouco conhecido. Acredito que com mais discussões e estudos acadêmicos sobre Kardec e seu método de investigação a academia possa inseri-lo como um dos pioneiros das pesquisas psíquicas, em especial, da mediunidade. O espiritismo não foi suficientemente explorado em seu aspecto metodológico de investigação. Além disso, Kardec não buscou apresentar seus estudos sobre espiritismo no ambiente acadêmico. Por que Kardec afirmava que o espiritismo não poderia ser enquadrado no mesmo ramo das ciências tradicionais, como a química e a física, mas sim como uma nova ciência?
desconhecido’, como já observara J. Herculano Pires? Acredito que falta uma leitura mais criteriosa e aprofundada da obra de Allan Kardec, notadamente em seu aspecto metodológico. Principalmente o conhecimento que pode ser obtido a partir da leitura da Revista Espírita. Você defendeu que a análise do conteúdo da Revista Espírita pode revelar importantes aspectos da construção teórica e metodológica do espiritismo. Pode dar um exemplo? Um bom exemplo é o da evolução do entendimento sobre a possessão. No começo, Kardec nega a possibilidade da possessão, como está expresso em O livro dos médiuns (1861). Contudo, no livro A gênese, de 1868, ele admitiu a existência da possessão para alguns casos de obsessão. O processo
O espiritismo não foi suficientemente explorado em seu aspecto metodológico de investigação” Kardec oferece diferentes definições do espiritismo enquanto ciência ao longo de sua obra. Uma das mais citadas está na obra O que é o espiritismo? em que ele definiu o espiritismo como “uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal”. Nos parece que a principal razão para ele não enquadrar o espiritismo entre as ciências tradicionais diz respeito à delimitação de seu objeto de estudo. Enquanto a física e a química têm como base a investigação da matéria, o espiritismo investiga o ser pensante, o espírito. Além disso, para Kardec, o método quantitativo e os experimentos laboratoriais praticados por essas modalidades científicas não seriam adequadas para a investigação dos fenômenos inteligentes gerados pelo espírito. O espiritismo continua um ‘grande
de convencimento de Kardec só pode ser observado na Revista Espírita. Em março de 1862, ele tomou conhecimento de uma série de fenômenos mediúnicos chamados pela imprensa de ‘Os possessos de Morzine’. Durante um ano, Kardec publicou uma ampla pesquisa sobre o evento, totalizando seis artigos, onde afirmava ter evocado espíritos por diferentes médiuns, promovendo entrevistas sobre o tema; promoveu estudos do tema com os membros da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas; analisou casos semelhantes registrados na história; comparou com fenômenos semelhantes enviados por seus correspondentes de diferentes lugares; analisou artigos publicados pela imprensa sobre a possessão em Morzine; leu diversos relatórios oficiais e acadêmicos sobre a epidemia de possessão; observou casos de possessão em várias localidades e realizou uma viagem de campo a Morzine
para avaliar os casos de possessão. Por fim, os dados analisados contribuíram para que ele, em dezembro de 1863, se convencesse da possibilidade da possessão. O que você descobriu de novo e como esse material foi utilizado em seu trabalho? Durante o mês que estivemos na França, tivemos a oportunidade de conversar com diversos pesquisadores acadêmicos, como Marion Aubrée, Guillaume Cuchet e Renaud Evrárd, bem como pesquisadores e estudiosos da história do espiritismo, como Charles Kempf, Jérémie Philippe e Pierre Etienne. Visitamos diversos arquivos públicos e bibliotecas francesas em busca de fontes históricas sobre a vida de Allan Kardec e sobre o espiritismo entre 1857 e 1869. Com a valiosa ajuda de Charles Kempf, visitamos os arquivos da Union Spirite Française et Francophone em Tours, na França, e conseguimos coletar diversas cartas, diplomas e outros documentos que serviram de fontes de informação para a conhecermos melhor a vida de Hippolyte Rivail, onde foi possível constatar a sua vasta erudição como professor, escritor e membro de diversas sociedades científicas. Também conseguimos acesso a algumas cartas do Kardec aparentemente nunca publicadas. Ainda estamos analisando o conteúdo dessas cartas e pretendemos apresentá-las juntamente com a sua análise em um trabalho futuro. Qual o papel de Kardec, na vinda do Consolador Prometido, com relação à equipe do Espírito da Verdade? Kardec foi muito mais que um compilador ou secretário dos espíritos na constituição do espiritismo. Ele foi um pesquisador ativo em busca das informações que permitiram que ele constituísse a sua obra. Kardec afirmava que o espiritismo seria o trabalho de uma dupla revelação: a divina ou espiritual, por ter sido a partir das informações dos espíritos que ele teria realizado sua obra, mas também pela revelação científica, onde o seu papel como pesquisador foi fundamental na elaboração dos princípios que compõem o espiritismo. Veja mais sobre o Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde e acesse os documentos inéditos de Kardec em www.correiofraterno.com.br www.correiofraterno.com.br
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coIsAs De lAUrInhA
Por tAtIAnA BenItes
Tem espírito embaixo da cama? L
aurinha e seus amigos conversavam na escola e Jorginho dizia: – minha tia sempre disse que é pra eu não falar de alguém que já morreu, porque senão ele vem e puxa meu pé de noite. – e você tem medo? – pergunta Aninha. – eu tenho. – eu também – disse Pedro. – Alguém já te disse isso também? – pergunta Jorginho. – Disse sim. – Ah, só dizem isto pra gente ficar com medo – fala laurinha. – mas vai que é verdade! – exclama Ana. – sempre que vou dormir cubro meu pé com o cobertor – diz Jorginho. – eu também – concorda Pedro. – e sempre fico com o pé em cima da
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cama, porque tenho medo de algum espírito lá debaixo me puxar – completa Jorginho. – eu não tinha pensado nisso – comenta laurinha pensativa. – nisso o quê? – pergunta Ana. – em ter espíritos embaixo da cama. – eu tenho tanto medo que até arrumei uma estratégia – explica Jorginho, com ar de inteligente. – eu coloco todos os meus brinquedos embaixo da cama, assim não vai dar espaço pra nenhum espírito ficar lá. – eu coloco as minhas caixas de sapato e as caixas dos jogos – diz Pedro. – e você, laurinha, não tem medo? – pergunta Jorginho. – não. eles não vão puxar meu pé. Porque embaixo da minha cama tem quatro gavetas. lotaaaaadas de roupa. nenhum espírito cabe lá.
laurinha dá um sorrisinho e deixa todo mundo pensativo. na casa de laurinha... – o pessoal estava falando que os espíritos ficam debaixo da cama e vêm puxar nosso pé à noite. – Ai, laurinha. os espíritos ficam onde quiserem, porque não ocupam espaço. A matéria não é empecilho para eles. – mãe, mas o que a gente pode fazer pra isso não acontecer? – laurinha, não fazemos prece toda noite antes de dormir, pedindo proteção para os espíritos de luz? – Ah, é. – eu estava preocupada. Porque se eles quisessem ficar embaixo da minha cama, teria que ser no friiiiiio. – Por que no frio, laurinha? – Porque no verão eles iam morrer de calor dentro daquelas gavetas.
Nos livros Tem espíritos no banheiro? e Tem espíritos embaixo da cama?, de autoria de Tatiana Benites, você encontra outras aventuras de Laurinha (Ed. Correio Fraterno).
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BAÚ DE MEMÓRIAS
O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
Kardec e a caridade que educa Por Tiago de Lima Castro
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o ouvirmos falar sobre Allan Kardec em palestras ou cursos na casa espírita, vemos que o foco recai normalmente no realce de suas qualidades intelectuais e em seu árduo e profícuo trabalho de organização e construção do edifício doutrinário que suas obras constituem. Enfatizar a figura de Kardec como um cientista frio e sóbrio é um recurso muitas vezes utilizado na oratória para enfatizar a capacidade racional do codificador e para evitar que os ouvintes o imaginem como alguém místico ou passível de fraudes de ‘médiuns’ ou mistificações nas mensagens mediúnicas. Porém, a doutrina espírita nos ensina que evolução espiritual implica evolução intelectual e também moral, o que nos faz concluir que por mais que este recurso oratório seja realizado com a boa vontade de evidenciar o olhar imparcial de Kardec e as condições intelectuais de sua personalidade, surge uma pergunta, principalmente para quem ainda está se aproximando da doutrina: Se o espiritismo tem como lema “Fora da caridade não há salvação”, por que Allan Kardec era este homem de coração frio e imparcial, distante da dor alheia ou da caridade? Ao abrirmos o capítulo 13 de O evangelho segundo o espiritismo, intitulado “Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita”, encontramos um bom argumento que nos ajuda a entender o silêncio de Kardec diante dos atos de caridade por ele empreendidos. Afinal, “fazer o bem sem ostentação tem grande mérito. Esconder a mão que dá é ainda mais meritório, é o sinal incontestável de uma grande superioridade moral”. Entretanto, após a sua morte, em 31 de março de 1869, os espíritas da época fizeram uma série de homenagens, como o
na produção de sua obra e em sua divulgação. Porém acrescenta: “Puderam avaliar a bondade de seu coração, seu caráter tão firme quanto justo, a benevolência de que usava em suas relações, a caridade afetiva que inundava sua alma, sua prudência e extrema delicadeza? Não!” Ilustrando a conduta do codificador, Alexandre Dellane narra que certa feita Kardec lhe contara sobre um encontro com um homem de idade avançada que passava por grandes dificuldades materiais, a ponto de mal conseguir se proteger do frio, porém, demonstrando aceitar a sua condição, devido a um texto espírita que lhe caíra nas mãos. Eis que durante a narração do caso, uma lágrima escorre no rosto de Kardec, que lembrava ter buscado moedas de ouro para ajudar aquele homem a sobreviver e, no dia seguinte, enviara-lhe uma série de suas obras para que conhecesse melhor o espiritismo, ou seja, fornecendo-lhe o pão material e o pão espiritual. Na carta narram-se outras situações em que Kardec fornecera ajuda material a necessitados, com a discrição que lhe era peculiar. Bastava saber de um necessitado que não se poupava em ajudar como podia. São narrativas como essas que evidenciam as virtudes morais do codificador, demonstradas desde quando, como educador Hyppolite Léon Denizard Rivail, já revelava ser um espírito de grande envergadura, coerente com a missão que caberia realizar. Dólmen de Kardec no cemintério Père-Lachaise, em Paris
dólmen levantado em seu túmulo, no cemitério Père-Lachaise, em Paris. Entre elas também estava o opúsculo Discursos pronunciados pelo aniversário de Allan Kardec, no ano de 1870, onde há uma importante
carta de seu amigo Alexandre Delanne, pai do conhecido escritor espírita Gabriel Delanne. Nela, o amigo comenta que conhecia bem a capacidade intelectual de Kardec
Bibliografia O espiritismo em sua expressão mais simples e outros opúsculos de Kardec. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Professor de música, filósofo, colaborador do Grupo Espírita Seara das Fraternidades e do Grupo Teatral Mensageiros da Luz. www.correiofraterno.com.br
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150 anos de O evangelho Por sIlvIo DIvIno De olIveIrA
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osso objetivo com este texto, fruto de pesquisa em torno dos registros que marcaram a publicação de O evangelho segundo o espiritismo, em abril de 1864, na cidade de Paris, é destacar a marcante assistência espiritual junto a Allan Kardec, inspirando-o na concepção do plano e na organização da terceira obra básica da doutrina, cujo sesquicentenário comemoramos em 2014. Data de 1863 os poucos relatos existentes em documentos, relacionados à redação e publicação da obra Imitação do evangelho. O codificador diz ter guardado segredo sobre o trabalho realizado, inclusive fazendo sigilo absoluto sobre o título do livro, a tal ponto que o próprio editor, sr. Didier, só veio a conhecê-lo no momento da impressão. Esse título, como sabemos, foi posteriormente modificado, conforme Kardec descreve: “Mais tarde, por efeito de reiteradas observações do mesmo sr. Didier e de algumas outras pessoas, mudei-o para O evangelho segundo o espiritismo,”1 fato que www.correiofraterno.com.br
demonstra o caráter aberto de Allan Kardec diante das sugestões procedentes. Sem dúvida, o título que passou a vigorar e chegou aos nossos dias é bem mais significativo e adequado. O termo ‘imitação’ fora usado naturalmente com o sentido de semelhante ou de concordante com os ensinos evangélicos. Todavia, a palavra poderia ser entendida, também, no sentido pejorativo como falsificação. Em 9 de agosto de 1863, em Ségur,2 o ilustre professor dirigiu perguntas a um espírito amigo, que se manifestou através do sr. d’A..., arguindo-o sobre a nova obra em que trabalhava. Lembremos que ele guardava discrição sobre o seu conteúdo e o médium nada sabia. A resposta – que segue em parte abaixo –, portanto, não podia ser fruto de ideias preconcebidas do medianeiro: “Esse livro de doutrina terá considerável influência, pois que explanas questões capitais, e não só o mundo religioso encontrará nele as máximas que lhe são necessárias, como também a vida prática das
nações haurirá dele instruções excelentes.” Mais à frente, o manifestante amigo previne o codificador sobre a reação do clero: “O clero gritará – heresia, porque verá que atacas decisivamente as penas eternas e outros pontos sobre os quais ele baseia a sua influência e o seu crédito. (...) O anátema secreto se tornará oficial e os espíritas serão repelidos, como o foram os judeus e os pagãos, pela Igreja Romana.” Sobre esta última previsão, relacionada à reação da Igreja Romana, ela realmente não se fez esperar. Tendo sido O evangelho publicado em abril de 1864, já no mês seguinte, em 1º de maio, os livros doutrinários foram colocados no famoso Index Librorum Prohibitorum (índice dos livros proibidos). Kardec comenta o fato na Revista Espírita de junho de 1864, dizendo que já era esperado e prevendo os bons efeitos daí advindos para a propaganda do espiritismo. Da mensagem obtida em Ségur também vale destacar a última frase do gene-
roso benfeitor. Para Allan Kardec deve ter sido muito confortadora e, para nós espíritas, realmente significativa: “Conta conosco e conta sobretudo com a grande alma do Mestre de todos nós, que te protege de modo muito particular.” Trata-se de alusão clara a Jesus, que protegia particularmente o nobre missionário na gigantesca tarefa de trazer ao mundo a Terceira Revelação. Ainda em Obras póstumas encontramos
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uma nota de Kardec, datada de 14 de setembro de 1863, em que ele informa: “Eu solicitara para mim uma comunicação sobre um assunto qualquer e pedira que ela me fosse enviada para o meu retiro de Sainte-Adresse.”3 Eis alguns trechos desse importantíssimo documento: “Quero falar-te de Paris, embora isso não me pareça de manifesta utilidade, uma vez que as minhas vozes íntimas se fazem ouvir em torno de ti e que teu cérebro percebe as nossas inspirações, com uma facilidade de que nem tu mesmo suspeitas. Nossa ação, principalmente a do Espírito de Verdade, é constante ao teu derredor e tal que não a podes negar.” Na sequência do comunicado, o espírito informa que, segundo os seus conselhos ocultos, o plano da obra fora modificado ampla e completamente e comenta a situação de isolamento a que Kardec fora certamente aconselhado a buscar pelas venerandas entidades que o assistiam: “Compreendes agora por que precisávamos ter-te sob as mãos, livre de toda preocupação outra, que não a da doutrina. Uma obra como a que elaboramos de comum acordo necessita de recolhimento e de insulamento sagrado.” Kardec descreve, em observação colocada ao final da mensagem, que de fato o plano da obra fora modificado, particularidade que o médium não poderia saber, uma vez que se encontrava em Paris e Kardec em Sainte-Adresse. Importante comentário sobre a influência que o livro teria na vida prática das pessoas também é feito pela espiritualidade: “Tenho vivo interesse pelo teu trabalho, que é um passo considerável para frente e abre, afinal, ao espiritismo a estrada larga das aplicações proveitosas, a bem da sociedade.” Ainda dessa mesma mensagem, relacionamos, para finalizar, este pensamento do comunicante, antevendo o futuro: “Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já se lhe pode ver a cúpula a desenhar-se no horizonte. Continua, pois, sem impaciência e sem fadiga; o monumento estará pronto na hora determinada.” A palavra ‘monumento’ é uma referência indiscutível à dimensão da obra da codificação, a cujo término o mestre lionês
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dedicaria o resto de sua vida, concluindo a edificação como trabalhador plenamente aprovado. No apêndice, inserido pela FEB ao final de Obras póstumas, foi reproduzido documento redigido por Allan Kardec com data de 20 de outubro de 1863, e que só muito tempo depois foi publicado na Revista Espírita de 1º de novembro de 1904, em que o nobre missionário faz menção a um fenômeno de clarividência, envolvendo diretamente os bastidores da elaboração de O evangelho. Nessa página, o codificador registra que a senhorita V..., natural de Lyon, era dotada de uma notável segunda vista. Estando de passagem por Paris, procurou-o na sua residência, na Rua Sainte-Anne, onde apenas pôde avistar-se com sua esposa, uma vez que ele, após ter retornado de Sainte-Adresse havia se retirado para Ségur,
Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já se lhe pode ver a cúpula a desenhar-se no horizonte” a fim de dar continuidade ao trabalho da sua obra. Não podendo concretizar-se o encontro esperado, foi sugerido pela esposa Amélie Boudet que ela tentasse ver-lhe o marido, usando os seus dons, o que de fato ocorreu. Após recolher-se por um instante, a senhorita fez a seguinte descrição: “– Sim, vejo-o; acha-se num aposento muito iluminado, no pavimento térreo; há ali três janelas... Oh!... e como tudo é alegre! A casa é circundada por jardins... por toda parte árvores e flores... Tudo respira calma e tranquilidade... Ele está sentado, próximo a uma janela, trabalhando... Está cercado por uma multidão de espíritos que lhe conservam a boa saúde... alguns há que parecem muito elevados, e o inspiram; um deles especialmente parece ser superior a todos os de-
mais, sendo-lhes objeto de deferências.” Após esta descrição pormenorizada, Amélie perguntou-lhe se podia perceber a natureza do trabalho de que o seu marido se ocupava. A resposta não se fez esperar: “– Um momento... Vejo um espírito que segura um livro de grandes proporções... abre-o e mostra-me o que se acha escrito... leio-o: Evangelho.” Kardec redige uma observação ao documento, confirmando a exatidão das descrições quanto ao ambiente físico em que ele trabalhava, enfatizando o acerto sobre a revelação da natureza do trabalho, ou seja, O evangelho, uma vez que não o revelara a ninguém. E termina dizendo: “Tal fato constitui-se, para mim, numa prova do interesse que os espíritos tinham por esse trabalho, bem como da assistência que a mim dispensam e a minhas atividades.” Finalizo, reiterando a importância de O evangelho segundo o espiritismo para a codificação, obra primorosa em que fica evidenciado o aspecto da religiosidade da doutrina e a fidelidade de Kardec a Jesus, o espírito mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe como guia e modelo, conforme revelado na pergunta 625 de O livro dos espíritos. Toda a assistência e cuidados espirituais que cercaram a sua elaboração atestam-lhe a relevância e demonstram que os Espíritos do Senhor são verdadeiramente as virtudes dos Céus que vêm iluminar os caminhos e abrir os nossos olhos. Trabalhador do C. E. Joana d’Arc, na cidade de Uberlândia, MG. 1 Todas as citações foram extraídas de Obras póstumas, coletânea de escritos de Allan Kardec, elaborada e editada em Paris, no ano de 1890, por Pierre-Gaëtan Leymarie, edição em língua portuguesa da Federação Espírita Brasileira, 36ª edição, tradução de Guillon Ribeiro. 2 Ségur: local em Paris onde Kardec possuía uma propriedade que lhe oferecia maior tranquilidade para o trabalho. Na Rua Sainte-Anne localizava-se sua residência oficial, onde o codificador frequentemente era procurado.
Sainte-Adresse: comuna francesa na região administrativa da Alta-Normandia, no departamento Seine-Maritime. (dados obtidos na Internet). Deduzimos que Allan Kardec se refugiara nesta região litorânea, por algum tempo, atendendo a orientação espiritual, para elaborar o plano da sua obra sobre os Evangelhos.
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ANÁLISE
Política do bom senso Por Marco Milani
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requentemente, colegas espíritas opinam sobre a relação entre o espiritismo e política. Os mais entusiastas chegam a estimular o apoio a candidatos a cargos públicos daqueles que se declaram espíritas ou mesmo cogitam a possibilidade de se criar um partido formado só por espíritas e simpatizantes. Dois pontos são fundamentais para tratarmos essa situação. Primeiro, o fato de alguém se declarar espírita não o torna uma pessoa melhor que outra, nem significa que ele não cometa erros ou que não faça escolhas erradas. Segundo, o espiritismo colabora para a melhoria da sociedade por meio do aprimoramento moral e intelectual dos indivíduos, não por meio do partidarismo político ou pelo apoio a determinados modelos de organização social e econômica. O rótulo religioso não é garantia de integridade na vida pública. Se assim fosse, diversas siglas partidárias que se declaram cristãs nunca estariam envolvidas em escândalos ou atos de improbidade. E não vale dizer que o espírita é melhor que as demais denominações. O fato de termos mais conhecimento sobre o mundo espiritual e sobre o que deveríamos fazer para evoluirmos implica responsabilidade, mas a conduta ilibada depende de cada um. Ainda estamos nos aperfeiçoando e lutando contra as más tendências que trazemos do passado. Se já tivéssemos atingido a perfeição, não estaríamos reencarnados aqui.
“Ahhh... mas é melhor ter um político espírita do que um materialista!”, afirmam alguns. Vamos refletir sobre isso... Se tivéssemos que passar por um procedimento cirúrgico e pudéssemos escolher o médico, a primeira coisa com que iríamos nos preocupar seria a crença religiosa do médico ou sua competência e experiência na função? Muita gente, inclusive eu, procuraria alguém competente e experiente. Se ele fosse espírita, católico ou ateu, seria uma questão secundária. “Ahhh... mas político é diferente, pois ele precisa ser honesto!”, replicam os entusiastas. Certamente a idoneidade é esperada por todos, assim como ele deve ter competência e defender propostas adequadas para a função que desempenhará. Mas
o que pensar de políticos que se declaram espíritas, mas se engajam em lutas para a legalização do aborto defendem a revolução armada ou, ainda, apoiam regimes autoritários, que convivem com o prender ou assassinar seus inimigos? Pois é... Quando consideramos um cenário mais realista e menos ingênuo, passamos a refletir sobre bases que nos exigem maior aprofundamento político, econômico e social. Trata-se de questões polêmicas que não se resumem na simples declaração de alguém ser adepto ou não do espiritismo, mas de propostas que variarão de pessoa para pessoa e deixam a denominação religiosa em segundo plano. O espiritismo, sem dúvida, apresenta uma das mais poderosas propostas para o
desenvolvimento humano já vistas, baseada no conhecimento da realidade espiritual e que justifica e motiva a construção de uma sociedade harmônica como reflexo do aprimoramento individual. Conforme aponta Kardec, no livro Obras póstumas, se quisermos que “os homens vivam como irmãos na Terra, não basta dar-lhes lições de moral; é preciso destruir a causa do antagonismo existente e atacar a origem do mal: o orgulho e o egoísmo” e a educação é o mais poderoso caminho para isso. Sinteticamente, sob a perspectiva espírita, a melhoria das condições sociais decorre, essencialmente, do aperfeiçoamento do indivíduo e não o oposto. O ambiente em que nos encontramos constitui-se em oportunidade evolutiva e não será por decretos que a liberdade, igualdade e fraternidade serão obtidas, pois antes se faz necessário “mudar o coração dos homens”. Responsáveis por nossos próprios atos e escolhas, cabe a nós defender aquilo que considerarmos o mais correto e adequado, além de buscarmos vencer as nossas próprias deficiências. Temos o livre-arbítrio para nos posicionarmos politicamente na sociedade em que vivemos e, portanto, cabe a nós escolhermos, antes de tudo, a linha de atuação política e econômica para depois identificarmos os melhores candidatos que se alinhem com nossas propostas. Economista e professor universitário. Diretor do Departamento do Livro da USE Regional SP.
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Seminário Mecanismos da mediunidade ABR No dia 26 de abril acontece em Belo Horizonte, MG, das 8:30 às 17:30h o Seminário “O livro Mecanismos da mediunidade e sua relação com a física e o hipnotismo” com o físico Alexandre Fontes da Fonseca e o psicólogo Jáder dos Reis Sampaio. Período de inscrição: Inscrições até 7 de abril. Local: Associação Espírita Célia Xavier. Rua Coronel Pedro Jorge, 314, Prado, Belo Horizonte, MG. Informações: www.aecx.org.br.
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Congresso FEESP 2014 A Federação Espírita do Estado de São Paulo realiza de 1 a 4 de maio o Congresso 2014, com participação de mais de 35 palestrantes, dentre eles Marcel Souto Maior, André Trigueiro, Divaldo Franco, Heloísa Pires, Umberto Fabbri, José Carlos de Lucca. Inscrições: congresso@feesp.org.br ou na FEESP, Rua Maria Paula, 140, 3º andar, Centro, São Paulo. Fone: 3115-5544.
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Jornada Médico-Espírita da Serra Gaúcha Será realizado de 16 a 17 de maio a IX Jornada Médico-Espírita da Serra Gaúcha, que terá como tema “A consciência quântica”. Aberto ao público, o evento contará com os palestrantes André Luiz Ramos, Roberto Lúcio de Sousa, Rogério Pereira e Victório Turconi. Local: UCS Teatro, Caxias do Sul, RS. Informações: www.ameserragaucha.com.br. Fones: (54) 3208-4702.
Especial Chico Xavier Grande amiga de chico Xavier, a pintora tarsila do Amaral recebia a visita do médium quando ele vinha a são Paulo. Tarsila viveu presa ao leito em seus últimos anos na terra, devido a uma grave queda. chico carinhosamente levava a ela estímulo para continuar seu trabalho. ministrava-lhe passes e o perfume exalado nesses momentos era sentido por todos os presentes. Fonte: Até sempre, Chico Xavier, Nena Galves, CEU.
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ENIGMA
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Solução do Caça-palavras Veja em: www.correiofraterno.com.br
Resposta do Enigma:
Tiptologia alfabética
Congresso Internacional de Educação e Espiritualidade De 17 a 20 de abril acontecem no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, 2º Congresso Internacional de Educação e Espiritualidade e o 5º Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita. Com expositores convidados do Brasil, Estados Unidos, França, Argentina, Portugal, Equador e Canadá. Organização: Associação Brasileira de Pedagogia Espírita. Informações: www.educacaoespiritualidade.com.
ABR
CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO
Fonte: o livro dos médiuns, capítulo 11.
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Revista Espírita em inglês Em parceria com o Instituto de Pesquisas Espíritas Allan Kardec, a Kardec TV, que apresenta aos domingos o programa Transição (RedeTV), inicia projeto que disponibiliza em seu site a Revista Espírita em inglês. Acesse www. kardec. tv/en/livros-online e baixe o primeiro volume da coleção (1858). www.correiofraterno.com.br
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QUEM PERGUNTA QUER SABER
Somos marionetes de nós mesmos? Por Eliana Haddad
A
questão do livre-arbítrio merece especial atenção para não ser mal interpretada. Nela está uma chave importante para se compreender a visão espírita da vida. Explica a doutrina espírita que o homem é livre para escolher e para desistir de suas escolhas, mas o exercício dessa liberdade estará sempre condicionado à sua evolução moral. Assim, podemos fazer as nossas escolhas, mas também cabe a nós realizá-las ou não. E isso não implica castigos, porque a justiça divina é misericordiosa, dando-nos novas oportunidades, até que consigamos ficar em paz com a nossa consciência, quitando débitos contraídos ou realizando novas tarefas no Bem. Conforme o espírito vai progredindo, vai passando por experiências, como encarnado e desencarnado, e aprendendo paulatinamente a agir, pensar, conhecer, a amar e também a escolher melhor, pois seu conceito de felicidade também se transforma. Ter uma encarnação feliz não é ter tudo de bom, mas conseguir realizar o que é necessário, e muitas vezes isso exige sacrifícios, superações, por não ser o ‘necessário’ tudo o que queremos. Muitas vezes, diante das provas, nos perguntamos “como fui escolher isso?”, esquecendo-nos de que nossa vida é resultado das nossas próprias ações, pretéritas e presentes, e que a nossa colheita é sempre submetida à lei do amor. Assim, quanto mais nos esforçamos e nos dedicamos ao Bem, mais vamos abatendo nossas ações negativas, sendo o nosso esforço no cumprimento da lei divina também levado em conta, porque nossa consciência sabe do que fomos e somos capazes de realizar na exata medida das nossas possibilidades. Allan Kardec diz que o homem não é fatalmente levado ao mal; os atos que pratica não foram previamente determinados; os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. ”Ele pode escolher uma existência em que seja arrastado ao crime (...) pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir.
O livre-arbítrio só existe antes de encarnarmos, quando escolhemos o gênero de provas por que temos que passar? Se é assim, então somos marionetes de nós mesmos? Paula Pessôa. Santarém, PA.
Assim, o livre-arbítrio existe para ele, quando no estado de espírito [desencarnado], ao fazer a escolha da existência e das provas e, como encarnado, na faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que todos nos temos voluntariamente submetido”. Ressalta a doutrina dos espíritos também que devemos combater nossas más tendências, através de uma educação que se baseie no estudo aprofundado da natureza
moral do homem. Como o progresso não dá saltos, a justiça divina respeita a nossa dificuldade e dispõe de um mecanismo de amor e aprendizado para nos auxiliar que muitas vezes não compreendemos: a reencarnação. Como oportunidades de novas realizações, com elas, tantas quantas nos forem necessárias, ainda temos o esquecimento do passado. E é nos relacionamentos, nas condições da vida atual, que vamos
lapidando a nossa pedra bruta, esforçando-nos nos embates do dia a dia para atingirmos esse progresso, que é inexorável, porque fomos criados por Deus para sermos felizes. “Sois deuses, sois luzes”, disse Jesus. Pela nossa imperfeição ainda e maior apego ao lado material da vida, não entendemos o que seja realmente felicidade para o espírito, confundindo essas oportunidades benditas de aprendizado como castigos, nos rebelando diante do remédio amargo elaborado por nós mesmos, feito sob medida para alcançarmos a paz das nossas consciências. Assim, a vida nos trata, e não nos maltrata como muitas vezes imaginamos. Podemos modificar, portanto, os nossos destinos todos os dias e, por maiores que sejam as nossas dificuldades e os nossos conflitos, nossa finalidade será sempre crescer, superar, evoluir. Dessa forma, vamos aprendendo a escolher e a decidir. “O espírito procede à escolha de suas futuras existências corporais, de acordo com o grau de perfeição a que haja chegado, e é nisso que consiste sobretudo o seu livre-arbítrio”, explica a doutrina. Os espíritos nos esclarecem que não há fatalidade. “Se assim fosse, o homem seria qual máquina sem vontade” e “de que lhe serviria a inteligência, desde que houvesse de estar invariavelmente dominado, em todos os seus atos, pela força do destino? Seria a destruição de toda liberdade moral; já não haveria para o homem responsabilidade, nem, por conseguinte, bem, nem mal, crimes ou virtudes”. A fatalidade, porém, segundo eles, não é uma ‘palavra vã’. Ela existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí desempenha, em consequência do gênero de vida que escolheu como prova, expiação ou missão. “Ele sofre fatalmente todas as vicissitudes dessa existência e todas as tendências boas ou más, que lhe são inerentes. Aí, porém, acaba a fatalidade, pois da sua vontade depende ceder ou não a essas tendências”. Allan Kardec, O livro dos espíritos, questão 872. www.correiofraterno.com.br
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VOCÊ SABIA?
Centros espíritas fazem mais atendimentos que hospitais em São Paulo Da REDAÇÃO
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m levantamento realizado em 55 centros espíritas da cidade de São Paulo aponta que, juntos, eles realizam cerca de 15 mil atendimentos espirituais por semana (60 mil ao mês). “Este número é muito superior ao atendimento mensal de hospitais como a Santa Casa, que atende em média 30 mil pessoas, ou do Hospital das Clínicas, com cerca de 20 mil atendimentos”, destaca o médico psiquiatra Homero Pinto Vallada Filho, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que orientou a dissertação de mestrado “Descrição da terapia complementar religiosa em centros espíritas da cidade de São Paulo com ênfase na aborda-
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gem sobre problemas de saúde mental”, de autoria da médica Alessandra Lamas Granero Lucchetti, apresentada ao Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP em dezembro. A ideia foi mostrar a dimensão do trabalho realizado pelos centros espíritas, tanto pelo número de atendimentos como pelos diferentes serviços oferecidos. A pesquisa revelou também que pouquíssimas casas utilizam cirurgias espirituais para os tratamentos, e quando fazem uso, não recorrem a cortes ou procedimentos do gênero. “Sabemos, por meio de vários estudos, que a abordagem do tema religiosidade ou espiritualidade exerce um efeito bastante positivo na saúde de muitos pacientes. Por isso,
podemos considerar a terapia complementar religiosa ou espiritual como uma aliada dos serviços de saúde”, revela o Homero Valada, salientando ainda a falta de hábito de os pacientes falarem sobre suas crenças religiosas ou mesmo citarem os tratamentos espirituais que realizam nas casas espíritas. Para a pesquisa Alessandra buscou na internet todos os centros espíritas da capital com site e endereço de contato, encontrando ao todo 504 instituições que seguem a doutrina codificada por Allan Kardec. Das 504 cartas registradas enviadas às instituições via Correios, 139 voltaram por motivo de mudança ou erro no endereçamento. Das 370 que restaram, apenas 55 foram respondidas. “Se considerarmos que essa média de 60 mil
atendimentos mensais representa menos de 15% da totalidade dos centros existentes na cidade, chegaremos a um número total de atendimentos muito superior aos dos 55 que participaram do estudo”, destaca Vallada. “Esse levantamento procurou descrever as atividades realizadas nos centros espíritas e salientar não só a grande importância social desempenhada por eles, mas também a grande contribuição ao sistema de saúde como coadjuvante na promoção de saúde, algo que a grande maioria das pessoas desconhece”, finaliza. A pesquisa completa pode ser consultada neste link. Fonte: Agência USP de Notícias.
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DIRETO AO PONTO
Por que terceirizamos nossas responsabilidades? Q
uantas lutas entre o bem e o mal! Um defendendo a felicidade do homem e outro tentando desviá-lo de sua senda de viver como filho de Deus. Com o entendimento primário em relação aos aspectos antagônicos do bem e do mal, a impressão que o homem mantinha como verdadeira era de que ambos os sentimentos encontravam-se fora de sua realidade íntima. Tanto é que criamos figuras tenebrosas para representar o mal. Algumas meio homem e meio animal, que na tentativa de nos seduzir faziam-nos de joguetes quando caíamos em suas fantasiosas garras. Pela lei divina, porém, por ser dotado de potencialidades para o bem, o homem, de forma intuitiva, não podia admitir que tivesse dentro de si algo que pudesse ser contrário àquilo que é da sua própria natureza. Afinal, como criaturas, somos filhos de Deus, herdando na relatividade os atributos do Criador. Logo, seria inadmissível termos atitudes contrárias à nossa essência, pois se o ser em-si é bom, não poderia equivocar-se e praticar o mal. Foi por conta dessa postura, talvez, que resolvemos terceirizar as nossas responsabilidades. O demônio, ou Lúcifer, Satanás e tantas outras definições ainda são utilizadas por uma boa parcela da humanidade para justificar o mal, sendo o ‘terceiro’ responsável, que busca incansavelmente tirar as
Por UMBERTO FABBRI
criaturas do bom caminho, para se realizar com a infelicidade delas. Chegou-se mesmo a admitir-se que o Criador disputava poder com o demônio, criatura aliás que só poderia ter sido criada por Ele como alguém infeliz desgarrado de seu rebanho, um verdadeiro anjo decaído. Ora, Deus sendo único e perfeito lutaria contra o demônio, que passou a ter status de divindade e poder semelhante ou igual a Ele. Quando mais experientes e conscientes em relação aos enganos dessa natureza, entendemos que essas figuras folclóricas serviram para uma época, ou ainda servem para parte da população do planeta em função de sua insistência em terceirizar o mal, hábito de muitos, traduzido em desculpismos infantis. São famosas as justificativas, tais como: sou assim por culpa do meio em
que vivo; costumo agir dessa forma porque todo mundo age assim; cansei de ser bom; vivo dessa maneira por responsabilidade dos outros... É a velha fuga, porta fácil da irresponsabilidade que aos poucos foi criando insensatos, os cegos que não querem ver, conforme o alerta de Jesus. Na realidade, é a ignorância ao direito do outro que produz o mal dentro de nós mesmos e se espalha no coletivo. O egoísmo é a mola propulsora que faz e mantém aberta as nossas feridas, às quais por nossos interesses mesquinhos acabamos por não permitir a devida e natural cicatrização. Emmanuel, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, ensina com sabedoria a respeito do bem e do mal, simplificando para o nosso entendimento e desmontando as estruturas viciosas da transferência
para o outro. Diz ele: “o bem é quando é bom para mim e para os outros e o mal, quando é bom só para mim.” Fica assim evidenciado que o cultivo do egoísmo, em detrimento do direito e felicidade de nossos semelhantes, mesmo que trazendo ilusoriamente nossa felicidade, é a representação do mal. Por isso, a enfermidade nos acompanha há tanto tempo. Somos enfermos de nós mesmos, porque nos viciamos em nós e não transpusemos as barreiras para o relacionamento fraterno com o outro. Vivendo com justificativas para o comportamento ególatra, permitimos que as diferenças se acentuassem, em torno da etnia, credo, cor, posição social, entre outras. É preciso que trabalhemos nossos pontos de vista em relação não somente ao outro, mas principalmente a nosso respeito, dentro da lição clara de Jesus de que deveríamos fazer a ele aquilo que gostaríamos dele receber. Dessa forma, as mudanças para melhor que aguardamos em nossa presente morada deixam de ser responsabilidades alheias e passam a ser assumidas por nós, na exata conscientização de nossos compromissos conosco e com o semelhante. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA.
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Herculano, também poeta Da reDAçÃo
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embrado e reverenciado por seu inegável raciocínio lógico e por seus textos desafiadores sobre a filosofia espírita, J. Herculano Pires, além de escritor, filósofo, jornalista e professor, também era poeta. Menino ainda, já escrevia poemas e sonetos. Em 1932, aos 15 anos, publicou seu primeiro livro de poesias, Coração. A filosofia o aproximou do escritor, também dado às artes das letras, o argentino Humberto Mariotti. Mas foi o escritor Clóvis Ramos que se referiu a Herculano como poeta, analisando os versos de sua obra Argila. Os textos de Mariotti e Clóvis Ramos compuseram um livro único: Herculano, filósofo e poeta, editado pela Correio Fraterno, em junho de 1984. Também, em 2001, foi a vez de o
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amigo Jorge Rizzini enaltecê-lo como poeta, no livro J. Herculano Pires, o apóstolo de Kardec (Paideia). “A poesia e a imaginação criadora amalgamadas à rara capacidade de raciocinar filosoficamente com o bom senso kardeciano, tornavam-lhe ímpar a personalidade”, exaltou Rizzini. Em 2004, a editora Paideia lançou o livro Poesias de J. Herculano Pires. “O homem Herculano encanta, o jornalista causa admiração, o escritor é impecável, mas o poeta! Ah! O bardo reencarnado nos emociona às lágrimas. De sua máquina de escrever as palavras vertem poderosas, transmitindo a compreensão do mundo como possibilidade de desenvolvimento pleno”, diz sua filha, Heloísa Pires, prefaciando a obra. No livro encontram-se também versos da irmã de Herculano, Ma-
rília Pires, que descreve sua trajetória na Terra. A poesia permitiu que Herculano expressasse sua filosofia com toda a sensibilidade de
seu ser, mostrando que a alma realmente vibra quando descobre a presença de Deus em si mesma. Confira.
Sandálias semeadoras o centro espírita nasceu das sandálias de Jesus, que nunca, nunca morreu nem de lança, nem na cruz.
essas sandálias vazias vão por caminhos e ruas, sem festas nem fantasias sob sóis e sob luas.
Jesus desapareceu para os vaidosos da terra, mas logo reapareceu para a gente de sua terra.
Param humildes e calmas na soleira de uma porta, batem solas como palmas, entram por baixo da porta.
As sandálias de Jesus nunca deixaram de andar, sozinhas, cheias de luz, para as trevas espantar.
há desespero e aflição. Quem sofre e geme lá dentro? As sandálias já se vão, mas fica na casa um centro.
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