Correio Fraterno 457

Page 1

FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o

4 6

N º

4 5 7

M a i o

-

J u n h o

ISSN 2176-2104

CORREIO

Alcoolismo na TV O ator Thiago Mendonça, que interpreta um médico que sofre com o alcoolismo na novela Em família, fala ao Correio Fraterno sobre o tema e seu papel. “Eu também torço pelo Felipe.” Página 9

2 0 1 4

DROGAS o desafio das casas espíritas

N

ão há como negar a imensa contribuição que a doutrina espírita tem a oferecer na prevenção e no combate ao uso de drogas, que têm exercido um intenso fascínio em nossa sociedade tão fragilizada. Na busca de forças para superar os desafios da vida, muitos se iludem nos sonhos do imediato, onde o materialismo mostra suas garras. Mas e as casas espíritas? Estão preparadas para receber milhões de pessoas que buscam por socorro todos os dias? Longe de concluir de forma simplista um problema de tão grandes proporções, o tema ganha espaço nesta edição como alerta e convite à mobilização e à capacitação das casas espíritas para cumprirem efetivamente a tarefa que lhes cabe. O momento é de união e ação. Leia mais nas páginas 8 e 9.

Ismael Gobbo

Os bastidores do amor de Yvonne e Canalejas Um livro pouco conhecido, editado em 2004, narra a antiga e comovente relação da médium Yvonne Pereira com Roberto de Canalejas , um espírito intensamente ligado a ela e que a acompanhou por inúmeras existências, sendo personagem nos principais romances por ela psicografado. Leia na página 7.

Ele quer mesmo é comunicar Seu gosto por difundir informação, cultura e notícias fez do aposentado Ismael Gobbo um polo centralizador e difusor de eventos no meio espírita. Apaixonado por fotografia, ele revela sua simplicidade e também os bastidores do blog “Notícias do Movimento Espírita”. Leia nas páginas 4 e 5.

ASSINE JÁ! Receba 6 edições em sua casa, com frete grátis!

R$

42,

00


2

CORREIO FRATERNO

MAIo - JunHo 2014

eDItoRIAl

Virar a A

Uma ética para a imprensa escrita

chave

vida segue seu curso e em meio a tantas notícias de violência, criminalidade e agitações sociais, o coração muitas vezes fica apertado, misturando receio e impotência diante dos fatos. Foi pensando nisso que iniciamos a pauta desta edição, sentindo na pele, como divulgadores espíritas, o peso da responsabilidade de comunicar e enaltecer o Bem, sem ficarmos acuados com o mal que se espalha nas matérias de TV, jornais e revistas. O que fazer para levar as lições de amor e da fé raciocinada às criaturas humanas, diante do bombardeio de tanta miséria humana? Foi olhando para essa atual realidade que lembramos da triste situação das drogas, e num belo exercício filosófico propomos uma importante reflexão.

Começamos pela entrevista com o novelista Manoel Carlos e o ator Thiago Mendonça, que interpreta o médico Felipe, o alcoolista da novela Em família, e acabamos por entrar em contato com grupos espíritas que realizam um trabalho incansável de socorro a doentes e dependentes, cuja atuação acaba por se perder na divulgação bombástica de tudo o que é ruim e que tem roubado espaço na mídia num processo de retumbar as desgraças. As casas espíritas estão preparadas para dar suporte àqueles que buscam socorro para si e para familiares, depois de tentarem muitas vezes o caminho da fuga através das drogas? Este é o segundo grande desafio levantado no texto.

CORREIO DO CORREIO Espiritismo laico Ao ler o artigo “150 anos de O evangelho” (edição 456) notamos o cuidado todo especial que essa obra recebeu de Kardec e dos espíritos superiores. Por isso não compreendo por que existem espíritas que alegam que esse livro não é doutrinário e defendem um espiritismo ‘laico’. Será que conhecem mais espiritismo que Kardec e o Espírito Verdade? Antonio Sérgio C. Piccolo, por e-mail

A lógica de Deus Não devemos querer explicar tudo sobre os desígnios do Criador, pois está escrito: A lógica de Deus é loucura para o homem. Ela tem que ser discernida espiritualmente (Coríntios 2:14). Nossa impressão é que estamos jogados sobre a Terra, sem nenhuma atenção, ao Deus-dará. Mas faria sentido achar que o criador do Universo nos deixasse abandonados? Adalberto Luiz Ferreira, por e-mail

em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências.

Essa leitura crítica sobre o nosso papel na divulgação e na transformação para o bem nos fez criar um espaço aqui no Correio Fraterno, ‘Mídia do bem’, onde reproduziremos notícias que nos ajudem a refletir mais e a superar os nossos desafios na escalada de nossa evolução. Fica o convite para que você nos ajude a virar este jogo! Boa leitura! O consolo da doutrina Ando perdida desde que saí do Brasil. É bom encontrar o consolo da minha religião aqui do outro lado do Atlântico. Obrigada por trazerem-me um pouco de alento. Parabéns, das terras dos lusíadas. Margaret Laranjeira, por e-mail O consolo é um dos melhores recursos que encontramos ao estudar a doutrina, Margaret, porque ela nos oferta a fé baseada na razão, que nos proporciona o melhor entendimento de nós mesmos de das circunstâncias da vida. Nosso carinho especial a você! Equipe Correio Fraterno

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

CORREIO

FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118

Presidente: Adão Ribeiro da Cruz Vice-presidente: Tânia Teles da Mota Tesoureiro: Vicente Rodrigues da Silva Secretária: Ana Maria G. Coimbra Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP www.correiofraterno.com.br

JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Administração/financeiro: Raquel Motta Comercial: Magali Pinheiro Comunicação e marketing: Tatiana Benites Auxiliar geral: Ana Oliete Lima Apoio de expedição: Osmar Tringílio Impressão: Lance Gráfica

Telefone: (011) 4109-2939 E-mail: correiofraterno@correiofraterno.com.br Site: www.correiofraterno.com.br Twitter: www.twitter.com/correiofraterno Atendimento ao leitor: sal@correiofraterno.com.br Assinaturas: entre no site, ligue para a editora ou, se preferir, envie depósito para Banco Itaú, agência 0092, c/c 19644-3 e informe a editora. Assinatura anual (6 exemplares): R$ 42,00 Mantenedor: acima de R$ 42,00 Exterior: U$ 28.00 Periodicidade bimestral Permitida a reprodução parcial de textos, desde que citada a fonte. As colaborações assinadas não representam necessariamente a opinião do jornal.

• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. serão um meio de esclarecimento. • se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


CORREIO FRATERNO

MAIO - JUNHO 2014

3

Acontece

Nos passos do mestre FOTOS: ROSANA SOUZA

Encenação da peça Há dois mil anos

André Marouço e convidados: Adão Nonato, Marlene Nobre e Severino Celestino

Seiscentas pessoas lotaram o evento

Por Izabel Vitusso

F

oi realizado no dia 24 de maio, no Teatro Santo Agostinho, em São Paulo, o primeiro seminário “Nos passos do mestre - Brasil”, uma iniciativa que ofereceu uma verdadeira ponte na geografia e no tempo, trazendo a realidade vivida pelos protagonistas da história do cristianismo primitivo até os dias de hoje. Depois de organizar por cerca de seis anos, viagens para levar espíritas brasileiros para conhecerem de perto os significativos marcos da história do cristianismo, a ideia do seminário se concretizou. A realização aconteceu por iniciativa da empresa RW Turismo em parceria com a TV Mundo Maior, do grupo da Fundação Espírita André Luiz e reuniu cerca de 600 pessoas, contando com a participação de expositores, como Marlene Nobre, Adão

Nonato e Severino Celestino – que apresentaram para o público a essência dos ensinamentos de Jesus com a visão mais abrangente da doutrina espírita. Contou também com a presença da equipe de profissionais do teatro e cinema, que garantiu mais beleza e envolvimento ao seminário. “A necessidade de fazer este seminário, que tem por objetivo falarmos sobre o Evangelho de Jesus, veio pelo fato de percebermos que todos voltamos diferentes depois de uma viagem evangélica a Israel e Turquia. Mas não podíamos esquecer das pessoas que, por motivos diversos, não podem viajar. Então, trouxemos a história e aquelas terras para cá, para o Brasil. Este seminário deverá ser anual, pelo Brasil afora” – explica Wanda Guerreiro, uma das

responsáveis pela RW Turismo. Através de palestras interativas, muitas delas salpicadas com a emoção de quem conta o que viu ‘nos passos do mestre’, o evento proporcionou um verdadeiro convite ao público para se transportar até a Galileia, ao monte Sinai, ao rio Jordão, a Cafarnaum, às portas de Damasco e deixar-se sensibilizar pelo verdadeiro chamado do mestre Jesus. Razão e emoção andaram juntas, regadas com as apresentações musicais, que incluíram interpretações com Paula Zamp e Gabriel Rocha em cenário com projeções das imagens gravadas pela equipe da RW Turismo em suas viagens e da Mundo Maior Filmes no Egito e na Turquia. Estudioso há mais de 50 anos da Bíblia e do Evangelho, Severino Celestino, mestre

de ciência da religião com domínio também do hebraico, sensibilizou o público em sua apresentação, ao descrever a emoção e o fenômeno de regressão espontânea que lhe ocorreram às portas de Carfanaum. “Eu me perguntava, onde estava a estrada que passava aqui?” Quando recebeu o convite para participar do seminário, a oradora e médica Marlene Nobre se mobilizou para atender ao convite, dizendo-se profundamente tocada pela oportunidade de falar sobre Jesus, levada também pelas lembranças dos tempos de criança, quando na “Paixão de Cristo” seguia com os irmãos para o cinema assistir ao filme O rei dos reis – filme épico americano. Grande parte das imagens que serviram de pano de fundo no seminário ajudarão a compor o filme documentário que está sendo preparado pela Mundo Maior Filmes, sob o comando do cineasta e diretor André Marouço, com lançamento previsto para o ano que vem. “Nos passos do mestre será exibido em salas de cinemas e em canais abertos e fechados e terá como objetivo desmistificar muitas mensagens contidas nos textos sagrados e que até hoje são mal compreendidas,” explica André Marouço. Em 2011, a Mundo Maior Filmes levou aos cinemas O filme dos espíritos, que foi assistido por mais de 2 milhões de pessoas. Agora prepara para entrar em cartaz o longa-metragem Causa e efeito, um drama com base em um dos fundamentos espíritas que conta a história de um policial que resolve fazer justiça, depois de ter esposa e filho atropelados. Agora é aguardar e conferir a partir de 3 de julho nos cinemas. www.correiofraterno.com.br


4

CORREIO FRATERNO

MAIO - JUNHO 2014

ENTREVISTA

Ele gosta mesmo é de comunicar

Ismael Gobbo: “Sou frequentador de museus, de cemitérios, de ruas e praças, de eventos onde possa colher imagens”

Por IZABEL VITUSSO

A

posentado pela Receita Federal, o divulgador espírita Ismael Gobbo tem motivos de sobra para continuar sendo um entusiasta do trabalho. Muito antes de se aposentar, ele já fazia planos de se dedicar ainda mais à divulgação da doutrina. Nascido em Araçatuba, interior de São Paulo, e iniciado desde tenra idade no espiritismo, seu gosto por difundir informação, cultura e notícias, sobretudo as que valorizam o bem, levam-no hoje a realizar um trabalho diferenciado, como importante polo centralizador e difusor de informações no meio espírita. Morando recentemente em São Paulo, ele revela sua simplicidade nesta entrevista e também os bastidores e um dos blogs mais conhecidos no meio espírita hoje. Como e quando começou a ideia de se divulgar o espiritismo pela mídia digital? Ismael Gobbo: Já faz mais de 15 anos. Na época eu reproduzia notícias divulgadas pelo site da USE de São Paulo e enviava para algumas dezenas de endereços. Em 2001, demos início ao site da USE Regional de Araçatuba, onde também postávamos notícias do movimento espírita. De “Notícias Espíritas”, passou a se chamar “Notícias do Movimento Espírita”. Qual o alcance desta iniciativa? O nosso trabalho foi paulatinamente ganhando os estados do Brasil e alcançando os países onde há movimento espírita ativo. Todos eles, por nós diretamente ou através de amigos que repassam o email, acabam conhecendo o nosso trabalho de divulgação. O número de acessos ao site onde as notícias ficam hospedadas ou no nosso blog também tem aumentado bastante. Isso faz com que frequentemente tenhamos que ampliar a capacidade de postagem e de remessa através de email marketing. Qual a importância de seu trabawww.correiofraterno.com.br

lho, já que você está sempre bem informado, recebendo e enviando notícias de eventos no meio espírita? O principal valor, se é que posso assim me expressar, é saber o que as casas espíritas estão fazendo e repassar essas informações para que outras se espelhem em algumas atividades que possam ser desenvolvidas em seu reduto. Gosto também de evidenciar o trabalho dos escritores, dos oradores, das atividades diversas que compõem o nosso movimento, especialmente as que tratam da evangelização infantil e das mocidades, onde comecei. Fico contente em saber como se processa o movimento em outros países e busco me aproximar das pessoas que aos poucos vão me ajudando no trabalho, que é totalmente em equipe. Sou apenas um divulgador das inúmeras contribuições que recebo. Processo da forma como me é possível! Conto com idealistas que as espalham através de suas listas de contatos. São companheiros entusiasmados, muitos dos quais já fazendo trabalhos semelhantes ao nosso na divulgação. Quanto tempo do seu dia você investe nesse trabalho de email

disparado diariamente? Tem uma equipe? O nosso trabalho é totalmente de colaboradores voluntários. Nossos amigos captam as informações dos eventos e nos remetem. Editamos o material, sempre de maneira singela, mas dando um toque que o possa fazer mais atraente. Aliamos as informações espíritas com outras de natureza cultural, embora saibamos de nossas limitações nesse particular. Qual o critério que você utiliza para a seleção e a divulgação do material enviado? Como espírita também sei de meus limites. Mas o que não posso esquecer é que tive uma base muito boa desde a evangelização infantil espírita. Embora sendo apenas um esforçado, convivi com pessoas muito bem postadas doutrinariamente. Talvez tenha algum senso crítico em função dessa importante convivência. E é isso que reputo como fundamental no trabalho de divulgação. Divulgar talvez não seja muito difícil, o complicado é saber o que e como passar isso adiante. Uma responsabilidade muito grande, que às vezes eu não sei se estou dando

conta ou tendo o critério que devia ter. Muitas imagens que você veicula são registros que você mesmo fez mundo afora. Fotografia também é uma iniciativa que veio para somar no seu trabalho? Eu não sou fotógrafo profissional. Uso as imagens por necessidade do trabalho e por isso tenho que fazê-las. Sempre busco dentro dos meus arquivos aquela que ilustra melhor o tema. Sou frequentador de museus, de cemitérios, de ruas e praças, de eventos onde possa colher imagens para o nosso modesto trabalho. São recursos que utilizo para que o email não fique restrito a textos e cartazes de eventos. Isso vem da infância. Fui colecionador de fotos da antiguidade clássica, envolvendo Egito, Roma e Grécia, obtidas nos principais museus especializados do mundo, o que me propiciou fazer várias exposições em diversas cidades, dentre as quais São Paulo e Rio de Janeiro. É coisa antiga que começou como hobbie. Talvez alguma preparação para o futuro, que começou na infância, quando eu ficava com um grosso volume da Bíblia fazendo aquelas leituras que me fascinavam.


CORREIO FRATERNO

MAIo - JunHo 2014

Dentre tantos materiais já publicados, lembra-se de algum que lhe tenha tocado mais profundamente? Eu não me detenho muito no que faço, porque logo que termino uma coisa já começo outra. Apenas fico intimamente contente e parto para a próxima. É muito perigoso o tal de exercício da massagem do ego. Aliás, nem sei se o que faço tem alguma importância. Pessoalmente eu nunca acho isso, porque vejo ao meu derredor companheiros fazendo coisas muito mais importantes. Sou extremamente contido nisso. Acesso à internet e redes sociais trouxeram uma nova realidade para a divulgação espírita. Como você analisa esse fenômeno na comunicação espírita? Sou favorável ao uso, desde que bem utilizados esses canais. Infelizmente, por falta de tempo, e para tanto aqui peço desculpas, eu não dou conta de acessar todos esses veículos de altíssima importância que o movimento espírita vem sabendo aproveitar muito bem. Só acho que há necessidade de muita cautela na forma de veicular informações, inclusive porque podemos ser responsabilizados por eventuais deslizes. Você tem ideia de quantas pessoas são alcançadas com seus emails “Notícias do Movimento Espírita”? Como você conseguiu formar essa rede? A minha listagem pessoal, inclusive depurada recentemente, conta com cerca de cinco mil destinatários, que recebem diariamente o nosso email. Acontece que contamos com dezenas de repassadores no mundo todo, alguns com listagens maiores do que a minha. De forma que não dá para saber ao certo o total de pessoas alcançadas. Mesmo porque, todo dia a minha lista cresce e eu garimpo companheiros para serem repassadores. Com certeza o alcance é de muitos milhares. O que significa para você a realização deste trabalho? Significa cumprir uma obrigação. Nada mais faço que prestar um pequenino serviço, diante de tanta coisa que tenho recebido na minha vida, sobretudo através da nossa doutrina espírita. Quando me aposentei, fiz um compromisso comigo de dedicar pelo menos dois dias da semana a essa

tarefa. Hoje eu, graças a Deus, faço-a todos os dias da semana. Sou uma pessoa ocupada com obrigações familiares, ainda com dois adolescentes na escola, com incumbência de preparar comida, limpar a casa e outras tarefas do cotidiano, como apoio à minha esposa que trabalha o dia todo fora. Administro no decorrer do dia, assim, as duas funções. Acompanho as notícias e as informações pela internet e depois edito o email, que será enviado à noite para minha lista pessoal, sobretudo para os repassadores. Enquanto isso, a colaboradora Gislaine Pascoal Yokomizo, de Jacareí, SP , atualiza o site com as notícias. Em sua opinião, a quantidade dos eventos e palestras públicas pode interferir no interesse das pessoas de se aprofundarem no estudo do espiritismo?

tanto para o movimento espírita como para outras iniciativas de interesse público. Qual o aspecto mais desafiador do seu trabalho de divulgação? Há projetos para ampliação ou mudanças? Eu e Gislaine já pensamos e até tentamos algumas coisas diferentes. Acontece que em internet ainda não dá para se utilizar a expressão: “querer é poder”. Quem mexe com informações em larga escala sabe disso. A internet é instável e há limites para certas operações, sobretudo de envio. Eu não posso incrementar o email como gostaria, porque ele passa a ser encarado como spam e não chega ao destinatário. Há limite de imagens para o email, que, se ultrapassado, também causa problema. Essa relação com internet é desgastante, e exige muito mais que o trabalho propriamente dito.

Sou apenas um divulgador das inúmeras contribuições que recebo. Conto com idealistas que as espalham através de suas listas de contatos” Sem dúvida que sim. Veja numa palestra que vai tratar de determinado assunto específico como reencarnação, perda das pessoas amadas, drogas, casamento, a utilidade para pessoas que querem ouvir uma mensagem positiva a respeito. E graças a Deus, no movimento espírita, temos sabido aproveitar os profissionais espíritas para tratarem de temas que envolvem todas as problemáticas do nosso dia a dia. Recentemente foi criado o Conselho Nacional das Entidades Espíritas Especializadas pela FEB - Federação Espírita Brasileira, que envolve diversas áreas, todas elas já em plena atividade, através de profissionais de altíssimo nível, que realizam palestras, seminários e elaboram projetos que servem

Que mensagem você nesse exato momento transmitiria às pessoas de sua lista? Agradeceria aos queridos leitores pela oportunidade de nos permitirem adentrar seus computadores com os nossos emails. Diria que estamos abertos a sugestões que possam melhorar o nosso trabalho. Aceito também a prova de carinho através desta entrevista e aproveito para transferir aos queridos colaboradores as vibrações de amor que o Correio nos presta. Sigamos em frente fazendo o melhor que nos for possível.

5

LIVROS & CIA. Instituto Lachâtre Tel.: (11) 4063-5354 www.lachatre.com.br As duas faces da ida de Herminio C. Miranda 320 páginas 16x23cm

Vivaluz Editora Tel.: (11) 4412-1209 www.vivaluz.com.br Salomé – o encanto das mulheres que surgem do céu de Lucius psicografia de Sandra Carneiro 576 páginas 16x23 cm

AME Editora Tel.: (31) 3334-7841 www.ameeditora.com.br Saúde Mental – relatos do dia a dia de um psiquiatra espírita de Jaider Rodrigues de Paulo 640 páginas 14x21 cm

Editora Correio Fraterno Tel.: (11) 4109-2939 www.correiofraterno.com.br Um tom acima de Lygia Barbiére Amaral 368 páginas 14x21 cm

Blog do Ismael: www.ismaelgobbo.blogspot.com www.correiofraterno.com.br


6

CORREIO FRATERNO

MAIo - JunHo 2014

coIsAs De lAuRInHA

Por tAtIAnA benItes

Quantas vidas nós já tivemos? E

m sua casa, laurinha surpreende seus pais conversando sobre vidas passadas. eles haviam lido um livro sobre o tema e estavam comentando, quando laurinha, na fase de fazer perguntas sobre tudo, prestava atenção: – nossa! Mas ele foi um rei e depois voltou como mendigo na outra vida – dizia sua mãe. – sofreu bastante, mas conseguiu aprender muito – comentou o pai. laurinha, aproximando-se um pouco mais, interviu: – Pai, quantas vidas nós já tivemos? – não sei, filha. – como não? Você não leu no livro? – eu li a história de uma pessoa. – Ah! entendi... – fez uma pausa e perguntou. – e quantas vidas ela teve? – no livro, eles contam sobre três vidas da personagem.

www.correiofraterno.com.br

– Hummm! ela foi quem? – Primeiro foi um rei, depois foi um mendigo e na última foi um vendedor. – nossa, mas por que ele foi rei e depois mendigo? – Porque, como rei, foi muito bravo, muito ruim para as pessoas e acabou retornando numa condição para aprender a valorizar os outros, a tratar bem as pessoas mais humildes e a dar valor às coisas simples. – todos os mendigos foram reis? – não, por quê? – respondeu o pai. – Porque tem muitos mendigos na rua. – Mas cada caso é um caso – disse o pai. – e em que número de vida nós estamos agora? – não sabemos o número de reencarnações que uma pessoa já teve, pois isso depende do estado evolutivo em

que se encontra cada espírito. tudo dependerá de nós. Aprendemos que o melhor é nos preocuparmos com o presente. – Mas quem escreveu o livro pra contar essa história não sabia quantas vidas tinha? – Quem escreveu o livro foi um médium, que recebeu uma mensagem de um espírito, e esse espírito só contou essa parte para ele. – e se eu perguntar para esse espírito, ele me responde? Ah, pai. Me fala o nome desse escritor. – Mas por que você quer saber isto? – ué, assim eu sei se estou próxima de ser rainha ou mendiga. – e o que isso vai mudar? – Vou ver se ele me ajuda a fazer uns contatos ‘lá em cima’ pra ver se eu consigo aliviar a minha prova. eu vi na televisão que contato é tuuuudo, pai.

Nos livros Tem espíritos no banheiro? e Tem espíritos embaixo da cama?, de autoria de Tatiana Benites, você encontra outras aventuras de Laurinha (Ed. Correio Fraterno).


CORREIO FRATERNO

MAIO - JUNHO 2014 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

7

BAÚ DE MEMÓRIAS

O encontro (frustrado) de Yvonne Pereira com Roberto de Canalejas

Y

vonne Pereira nasceu com diversas formas de mediunidade: desdobramento, vidência, cura, dentre outras. Viveu para servir ao plano espiritual e sua biografia é uma verdadeira lição de superação e reconquista da honra espiritual. Em encarnações diversas, descritas em seus romances, nos quais é protagonista, viveu intensamente paixões e quedas morais, ferindo espíritos amigos e enveredando pelo suicídio por duas encarnações seguidas. Não por acaso, trouxe à tona o melhor tratado sobre suicídio, através da narrativa das experiências dolorosas de Camilo Castelo Branco em Memórias de um suicida. Neste livro, vamos encontrar uma personagem melancólica denominada Roberto de Canalejas. Ele, no plano espiritual, e Yvonne, encarnada no Brasil, em lar humilde. Eis o trecho em que ele mostra a Camilo a sua ‘esposa espiritual’, ainda criança: [...] Enviou mensagem telepática a seus maiorais, e em seguida aproximou-se do esplêndido receptor de imagens, sintonizou-o cuidadosamente para a crosta terrestre e esperou, murmurando como que para si mesmo: “Deve estar entardecendo no hemisfério sul ocidental... Não haverá indiscrição em procurar vê-la neste momento...”. Com efeito! A pouco e pouco a configuração de uma criança destacava-se da penumbra de um aposento de família paupérrima. Tudo indicava tratar-se de um lar brasileiro dos mais modestos, conquanto não miserável. Uma menina aparentando cinco anos de idade, cujas feições concentradas e tristes indicavam a violência das tempestades que lhe tumultuavam o espírito, entretinha-se com seus modestos brinquedos de criança pobre, parecendo mentalmente preocupada com reminiscências que se embaralhavam aos fatos presentes, pois falava às bonecas como se conversasse com personagens cujas imagens se dese-

FOTOS EXTRAÍDAS DA OBRA CAMILO, PEDRO. YVONNE PEREIRA, UMA HEROÍNA SILENCIOSA. LACHÂTRE, BRAGANÇA PAULISTA, 2014

Por Cristina Helena ROCHa

Yvonne Pereira jovem

nhavam quais contornos a crayon em suas vibrações mentais. Roberto contemplou-a tristemente (...) “Aí está! Reencarnada na Terra de Santa Cruz... onde palmilhará seu doloroso calvário de expiações... Vive agora fora dos ambientes que tanto amava!... desamparada pela ausência daqueles que tão devotadamente a estremeciam, mas cujos corações espezinhou com a mais cruel ingratidão! Leila desapareceu para sempre na voragem do pretérito!... Para o mundo terrestre será linda e graciosa criança, inocente e cândida como os anjos do céu! Perante a consciência dela própria, porém, e o julgamento da lei sacrossanta que infringiu, é

A médium na presença de Chico Xavier

grande infratora que cumprirá merecida pena, é a adúltera, a perjura, a infiel, blasfema e suicida, pois Leila foi também suicida, que renegou pais, esposo, filhos, a família, a honra, o dever, pelas funestas atrações das paixões inferiores”. (...) É assim sempre – exclamou tristemente –, não tem coragem para enfrentar-me... No entanto, pensa em mim e deseja voltar ao meu convívio...”. A história de Roberto esteve sempre entrelaçada à de Yvonne. Em Recordações da mediunidade percebemos os fortes laços que os uniu séculos a fio. Roberto foi Luiz de Narbone (Nas voragens do pecado), Henri Numiers (O cavaleiro de Numiers) e Arthur de Guzman (O drama de Bretanha). A sua existência, no século 19, quando foi médico pesquisador do vírus causador da tuberculose, não está registrada em forma de romance. Há, porém, um pequeno volume, quase desconhecido do público,

denominado Um caso de reencarnação - eu e Roberto de Canalejas (editora Associo Lorenz, 2004). Nessas poucas páginas Yvonne nos surpreende com o relato da reencarnação de Roberto, na Polônia, quando ela já em idade madura o localiza através de um grupo que trocava postais usando o esperanto (idioma que os espíritos utilizaram para ditar alguns de seus livros). Nesta narrativa comovente, a relação entre a médium e Roberto é detalhada, desvelada. Yvonne nos revela a presença de Roberto desde a sua infância, passando pela adolescência, quando a seguia como espírito, a despedida ao retornar à Terra, até o vínculo com um ‘desconhecido’ Z. P. (ela não revela o nome) que é o próprio Roberto, vivendo na Polônia distante. A transmutação do amor humano, carnal em amor espiritual, profundo, abrangente é para ela uma luta diária consigo mesma. O sofrimento ao sabê-lo encarnado, ao visitá-lo espiritualmente, sem poder vê-lo foi sua ‘prova de fogo’, que lhe exigiu renúncia extrema. Tanto conteúdo há nesse pequeno volume, ensinamentos e exemplos que nos mostram que o maior desafio para o ser humano é vencer a si mesmo, superar o passado e construir um futuro de luz. Imaginamos os ex-suicidas como pessoas com deficiências, alquebrados fisicamente, como ‘castigo’. Mas nem sempre é assim. Para o espírito os sofrimentos e limitações físicas nem sempre são as situações mais difíceis. Veja no site do Correio o trecho do livro. www.correiofraterno.com.br


8

CORREIO FRATERNO

ESPECIAL

DROGAS

Prazer sob medida Por Eliana Haddad

M

uito já se falou sobre os malefícios da droga. Para quem ainda acredita não ter dificuldades com ela, o assunto é enfadonho e não passa de um problema difícil que acontece bem longe. Mas não é bem assim. Ele está cada vez mais perto de cada um de nós, alterando o curso da história da criatura humana, que tem encontrado nas drogas tudo o que necessita para satisfazer-lhe a estreita visão materialista da vida: prazer e poder. Aqui cabem três perguntas: Como acabar com isso? Por que essa situação nos parece tão irreversível, a ponto de nos sentirmos derrotados e impotentes diante dessa triste realidade? Estamos preparados para enfrentá-la? O domínio que as drogas exercem sobre a sociedade, principalmente sobre os jovens, pode ser traduzido em números dramáticos (veja no site), cujo universo se amplia a cada nova pesquisa. Por isso, a sociedade precisa estar mobilizada e capacitada para lidar com a quantidade cada vez maior de dependentes e usuários. A dependência química é uma doença, e não um vício ou malandragem como muitos ainda erroneamente analisam, e a melhor forma de combatê-la é a prevenção, que exige conhecimento. Não há quem não necessite de prevenção contra as drogas. Encarnados que estamos em um planeta de provas e expiações, todos trazemos tropeços e estamos sujeitos a situações desafiadoras nos campos da moral, pelas necessidades do espírito, que se apresentam ao mesmo tempo com as necessidades materiais, do ‘homem no mundo’, como ensina a filosofia espírita. Assim, nem sempre a vida será tão fácil, sendo a luta e o trabalho instrumentos de aprendizado que nos levarão pouco a pouco à felicidade verdadeira. As casas espíritas, como refúgios de consolo e aprendizado, recebem diariamente www.correiofraterno.com.br

centenas de pessoas que buscam solução para suas aflições: a cura de doenças, o emprego, o equilíbrio financeiro, o bom relacionamento, etc. A cultura espírita não combina com o imediatismo, mas valoriza o processo dos esforços, das transformações interiores. E aí está a sua melhor contribuição para a humanidade em tempos de aparências, supérfluos, rapidez de soluções e do alívio salvador das tensões normais da nossa jornada, onde por desespero a droga entra como mecanismo de fuga e ilusão para aquisição de um bem-estar fugidio e temporário. Nada fácil a tarefa das casas espíritas, que precisam estar preparadas para receber tanta gente desiludida e aflita, que ante os desafios da vida abriu as portas para o mundo das drogas, num processo de inversão de valores do sentido do que seja realmente felicidade. A visão materialista embota a humanidade com a venda do sonho dos prazeres fáceis, impedindo a reflexão do ser e o impulso à ação interior em prol de si mesmo e do próximo, em resposta aos anseios de uma coletividade doente, da qual também faz parte e é responsável. Daí a necessidade da divulgação do Evangelho de Jesus, da compreensão dos princípios espíritas, da lógica da pré-existência e imortalidade da alma, da comunicação entre os espíritos e da reencarnação, como cartilhas de exemplo e conduta para ser feliz. Aí estão os efeitos do materialismo, sintetizados na proliferação das drogas, lícitas e ilícitas, com sua interminável cauda de enganos: a criminalidade, a violência, as conquistas fáceis, as overdoses, os acidentes de trânsito, o sexo irresponsável, as doenças contagiosas, a prostituição. Como cidadãos, espíritos e espíritas, é preciso refletir sobre o que estamos fazendo e qual tem sido a nossa contribuição para tantos males. Aprisionados pelo medo e pela indiferença, somos submetidos diariamente

aos efeitos infelizes do álcool e das demais drogas, gerando-nos dificuldades de toda sorte, do aumento de faltas ao trabalho a quedas de produtividade; do abandono ao rompimento de famílias; de desequilíbrios a vibrações densas, de sonhos impossíveis aos suicídios. Não dá para cruzar os braços com as informações que temos, cientes das nossas responsabilidades. É preciso substituir o reclamar pelo atuar. Já existe, por exemplo, um programa do governo, chamado ‘Fé na prevenção’, e destinado a capacitar religiosos e entidades afins. Inúmeras delas já colhem muitos resultados de seus esforços , como o Programa Valorização da Vida, que mobiliza profissionais voluntários e instituições de São Bernardo do Campo, como Instituição Assistencial Meimei, Centro de Tratamento Bezerra de Menezes, Associação Médico-Espírita do ABC e outros. (Veja no site) Como o objetivo do espiritismo não é ditar normas de comportamento humano, cumpre-lhe em sua amplitude, como ciência, filosofia e religião, enaltecer os dispositivos das leis divinas que asseguram a todos o direito de escolha e a responsabilidade pelos seus atos. Têm com isso as casas espíritas muito a oferecer a essa sociedade tão carente de atenção e conhecimento, mostrando que é possível sim construir a qualquer tempo novas oportunidades de acerto. Isso se chama mudança, um convite ao abraço, mas também à conscientização sobre falhas e reconhecimento de pedras que estão atra-

palhando os nossos caminhos. A sociedade está doente e para que seja fortalecida é necessário que seja alimentada com o pão do corpo, mas também com os alimentos espirituais da fé e razão de modo a compreender a realidade da vida em sua amplitude, com suas alegrias e tristezas, conquistas e frustrações, o que faz parte da trajetória normal do espírito. Esse conhecimento será sempre a melhor prevenção para o primeiro gole, a primeira tragada, a primeira tentativa de fuga ou prazer. Afinal isso pode se transformar numa grande tragédia, se o ‘aflito’ também carregar a doença da dependência química, uma memória espiritual que predispõe o organismo a querer mais e sempre mais para ter os mesmos resultados iniciais, levando o usuário ao descontrole, perdendo a si mesmo e desperdiçando a grande oportunidade de vencer a predisposição adquirida em tempos passados através de uma encarnação vitoriosa e repleta de bons resultados. O espiritismo traz também em sua abordagem a questão da obsessão, como explicou José Herculano Pires no livro Vampirismo. “Sendo os espíritos nada mais que os homens desencarnados, é fácil compreender-se que as relações possíveis entre homens e espíritos, no campo afetivo e


MAIo - JunHo 2014

CORREIO FRATERNO

a vencer ou tarefas a desempenhar. Como o homem encarnado é um ser triplo: espírito, perispírito e corpo, o tratamento também deve ser multidisciplinar. O ideal seria que à parte técnica, científica, se aliasse a assistência espiritual. E vice-versa. As casas espíritas devem se pre-

D

mental, permitem as ligações de espíritos viciados com homens de tendências viciosas”. Ele assinala, inclusive, que “os resultados obtidos nos centros espíritas, e em muitos hospitais espíritas, deram de sobejo a plena confirmação dessa descoberta ao mesmo tempo assustadora e consoladora”. “É muito importante compreendermos que a vida continua, e sendo assim todos os nossos defeitos e qualidades nos acompanham após o nosso desencarne. Assim, a nossa ligação com as drogas lícitas ou ilícitas em nada muda do outro lado. Continuamos sofrendo das mesmas consequências, e só mudamos na hora que tomarmos consciência do problema e dando um basta, dizendo: ‘não quero mais isso para a minha vida’”, analisa Nelson Mendes, especialista no assunto e um dos participantes do projeto de São Bernardo do Campo. O problema tão aflitivo da droga, portanto, na visão espírita não é apenas um caso de polícia e prisão. Mesmo porque todas as doenças, inclusive a dependência química, têm suas raízes no espírito, em função de provas

parar adequadamente para tudo isso, buscando informações e cursos (quase sempregratuitos) de capacitação técnica para que os atendimentos a usuários e dependentes de drogas possam ser mais eficazes, a fim de que o espiritismo desempenhe na sociedade o papel que lhe cabe, a caridade que

9

os espíritos tão bem definiram como benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições alheias, perdão das ofensas. Afinal, como destacou Allan Kardec, a caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes.

A arte imita a vida

rogas é tema recorrente abordado por Manoel carlos em suas novelas globais. Desta vez, o autor de Em família (Rede Globo) rertoma o problema do alcoolismo através do personagem Felipe (thiago Mendonça). “coloco sempre esse tema porque acho o alcoolismo o pior de todos os vícios, já que o álcool é considerado uma droga lícita. Isso significa que qualquer pessoa pode usar e se envenenar”, respondeu em entrevista para o Correio Fraterno. Para ele, a insistência na abordagem é um alerta permanente. A família de Helena (Julia lemmertz) é bastante problemática. seu irmão, o médico Felipe, provoca situações complicadas quando aparece totalmente bêbado. Vale conferir a entrevista do ator ao Correio Fraterno: Como você, Thiago, pode auxiliar através da arte tantas famílias com problema de álcool em casa e que assistem à novela? Thiago Mendonça: o ator exerce uma função social. A minha é de sensibilizar quem assiste, ouve. Acho que na tv há e tem que haver espaço pra tudo. Diferentes linguagens e temas. um tema como o álcool e seu consumo é um assunto próximo da vida das pessoas. o álcool é uma droga. nociva e lícita. Pais, mães, filhos… ouço relatos de pessoas que viveram isso e que sempre se mostram sensibilizadas e solidárias ao Felipe e sua recuperação. Como está sendo para você se entregar a um papel de um alcoólico? É um papel que exige racional, física e emocionalmente. Mas as relações que vivo em cena são criadas com pessoas, artistas bem sensíveis e belas. Acabam virando verdades pra gente. no outro dia fiz uma cena de surto do Felipe, onde ele quebrava o consultório, que me esgotou. Você se baseia em algum caso próximo para se inspirar para o personagem? A vida me inspira para esse e para qualquer outro per“Todo mundo tem um caso próximo. Já ouviu ou viveu isso!”

sonagem. Retratar a sociedade é a função de qualquer arte. Do que é belo, e também do que não é. O alcoolismo é uma doença. Como você analisa um médico, como seu personagem, não conseguir solucionar sua própria doença? não creio que a cura de qualquer doença esteja em se medicar. e existem especialidades. essa não seria a do Felipe. Acha que o conceito vício/doença é hoje bem assimilado pelas pessoas de um modo geral? sim. Porque todo mundo tem um caso próximo. Já ouviu ou viveu isso tudo. sabe de alguém que bebeu exageradamente ou de alguém que bebe sempre. e sofre dessa doença. A experiência do personagem nos alcoólicos anônimos não foi muito positiva? Por quê? sempre é positiva. não se sentir sozinho talvez seja bem importante para alguém que vive uma situação de fraqueza. Mas cada pessoa tem o seu tempo e é um passo de cada vez. E sobre fé e espiritualidade? Acha que auxiliaria no despertar pela valorização da vida? o Felipe vem de uma família bem católica. A mãe dele fala muito em Deus, em milagres. A Rosa (tânia toko) sempre reza, faz promessas. o Felipe que ainda não se despertou pra isso. Por ser médico talvez ele seja mais cético. Como você gostaria que fosse solucionado o problema na novela? eu também torço muito pelo Felipe. Mas sinto que ele só vai aprender depois de ter um trauma maior. e também acredito que o amor é um combustível muito importante para tudo na vida, principalmente para se ter força em uma recuperação. sinto que ele tem uma torcida muito grande. Para sua recuperação e sorte no amor. Você leva alguma experiência, como Thiago, interpretando esse papel? Mudou alguma coisa para você? sim. Muito. Fico mais atento aos riscos que a liberdade empresta. O que você, Thiago, falaria ao Felipe para ele poder sair dessa? Força, cara. como diria o Renato (Russo): FoRÇA seMPRe. www.correiofraterno.com.br


10

CORREIO FRATERNO

MAIO - JUNHO 2014

ARTIGO

Cada grupo um centro espírita Por Sidney Aride

V

amos supor que por algum motivo alheio à nossa vontade tivéssemos que mudar para uma cidade ou um bairro onde não existisse um centro espírita. Possivelmente, poderíamos começar fazendo reuniões na casa de algum amigo que gentilmente nos cedesse algum espaço disponível, ou mesmo em um lar. Se com o passar do tempo aparecessem recursos para fundação de um pequeno centro, certamente aquele núcleo de pessoas se uniria para ajudar a construí-lo. Depois, provavelmente tratariam com esmero de sua manutenção, da limpeza aos pequenos consertos, do aparelhamento às reformas futuras que qualquer edificação carece. E seguiriam em frente, desenvolvendo os estudos, as obras assistenciais, as reuniões mediúnicas, a evangelização, etc. Esses trabalhadores das primeiras horas do centro certamente teriam um carinho e sentimento de realização muito grande pelo que fazem! O livro Orientação ao centro espírita (FEB) ensina como deve ser um núcleo espírita: oficina de trabalho, recanto de paz construtiva, e oferecer aprimoramento íntimo e união fraternal pela prática e refazimento espiritual, o que podemos, então, considerar as diretrizes da FEB sobre como deve ser um centro espírita. Passado os anos, novos integrantes se interessariam em participar do dia a dia da instituição.

Mas uma estrutura complexa começa lão com centenas de frequentadores regua criar um cenário estratificador e menos lares das palestras públicas, com níveis de humano: se os neófitos frequentarem as pacomprometimento variados, às vezes nulo. lestras públicas e a fluidoterapia, acabarão Então questionamos: Será que não desendo denominados de público ou de freveríamos convidá-los a inaugurar pequenos quentadores. Se se matriculam nos nobres ‘centros espíritas’? cursos da casa, são considerados alunos. Se Claro que as pessoas não precisariam recebe ajuda, são os assistidos. Se, por fim, sair da instituição. Mas organizarem-se se integram também no trabalho volunem pequenos grupos nas salas disponíveis, tário, podem iniciar um processo gradual como se fossem pequenas casas. de sentir-se pertencente ao núcleo, emInúmeras pessoas deixando de ser exbora mesmo assim pectadoras nas pamuitos ainda não Allan Kardec esclarece lestras públicas e intenham se identigressando nas salas em O livro dos médiuns ficado plenamente do centro, integrancom a casa. que devemos assistir com do-se mais e finalFoi desenvolmente se conhecenprazer à multiplicação vendo este raciocído foi o primeiro nio que lançamos grande benefício dos grupos” uma pergunta em que constatamos. nosso centro: Por que não resgatamos Acreditem ou não, no auditório, mesesse sentimento, semelhante ao dos funmo os companheiros que frequentavam dadores, nos inúmeros companheiros que o mesmo dia e horário de atividades, por atendemos em nossa instituição? Essa ideia meses a fio e até anos, não se conheciam. acabou se tornando a base de nossa campaE na atividade proposta, o fato de se sennha: “Cada grupo um centro espírita”. tarem num formato em círculo nas salas Allan Kardec esclarece em O livro dos interferiu não só na posição física, mas no médiuns que devemos assistir com prazer posicionamento de cada um, iniciando-se, à multiplicação dos grupos, que é melhor a partir daí, um processo de companheiristermos vários pequenos centros espíritas mo entre os membros do grupo. do que alguns poucos com grandes assemEnfim, convencionamos que ocorreria bleias, e explica uma das grandes vantagens a fundação do grupo espírita quando houde se ser pequeno: o fortalecimento dos lavesse interesse de no mínimo cinco e no ços familiares entre seus integrantes. máximo vinte pessoas, com o objetivo de Em nossa instituição tínhamos um sase desenvolverem espiritualmente, seguin-

Zanutto, Rodrigues & Cia Ltda Materiais para construção

11

4121 3774

zr.vendas@uol.com.br R. José Benedetti, 170 • B. Santa Terezinha • São Bernardo do Campo • SP • CEP 09770-140

www.correiofraterno.com.br

do a formação de maneira semelhante ao nascimento de uma pequena casa espírita. No passo seguinte, os integrantes estabeleceriam um nome para o grupo que homenageasse espíritos reconhecidamente virtuosos ou que enaltecessem alguma virtude ou sentimento e definiriam os primeiros projetos, funções ou responsabilidades, incluindo plano de ação. Neste período inicial, confrades mais experientes de nossa casa acompanhariam e orientariam os primeiros passos. Alguns antigos companheiros acabaram ficando permanentes no grupo, mas em igualdade de direitos e deveres com os demais integrantes. Criamos também ações para conectar uns aos outros: projetos de caridade em parceria entre os grupos, circulação de jornal interno e jornal mural com notícias das práticas, eventos de confraternização e de ações com diferentes pessoas dos grupos para dialogarem e decidirem sobre os rumos da instituição. Os benefícios para a instituição e os seus integrantes, tanto na área de educação como em diferentes áreas de atuação, foram muito promissores! Tanto que achei valer a pena partilhar com mais pessoas esta experiência, que tem motivado e trazido excelentes resultados à nossa casa. Engenheiro do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro. Mestre em Sistemas de Gestão pela Universidade Federal Fluminense, com linha de pesquisa em gestão estratégica de pessoas. Ex-dirigente de Centro Espírita Fé, Esperança e Caridade, Nova Iguaçu, RJ.


CORREIO FRATERNO

MAIO - JUNHO 2014

11

MÍDIA DO BEM Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Saqueadores devolvem eletrodomésticos na delegacia de Abreu e Lima Papa Francisco convida árabes e israelenses para orarem pela paz Crianças aplaudem atitude de jogador O jogador de futebol italiano Mario Balotelli não reagiu aos insultos racistas que recebeu em Florença, onde sua seleção faz a preparação para a Copa do Mundo. (Uma notícia não tão do bem). Mas o jogador manteve a calma ao ser xingado, atitude que foi aplaudida por um grupo de crianças que acompanhava o treinamento da seleção. Após o fim dos trabalhos, o único nome gritado por elas era o de Balotelli. (Baseado no site Uol - 21/05/2014)

Em um gesto sem precedentes, o papa Francisco convidou os dois líderes, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e o presidente israelense, Shimon Peres, para orarem pela paz no Oriente Médio sob a cúpula de São Pedro, convite plenamente aceito por ambos. Esta é uma tentativa pouco comum e ousada do papa para reativar as negociações entre israelenses e palestinos, paralisadas desde o fracasso em abril de uma mediação americana. “Construir a paz é difícil, mas viver sem ela é um tormento”, lembra o pontífice num momento estratégico e oportuno. (Baseado no Correio Braziliense - 26/05/2014)

A delegacia de Abreu e Lima, região metropolitana do Recife, passou a manhã desta segunda-feira (19) recebendo as mercadorias que foram saqueadas na cidade durante a greve da Polícia Militar em Pernambuco. Muitas pessoas deixaram os produtos e utensílios espalhados pelas calçadas do município porque não quiseram levar diretamente para a delegacia, com nome, endereço e telefone de quem devolveu. Grávida do sexto filho, dona Sueli Dias levou o filho de 11 anos de idade para devolver um produto furtado. “Disse que era errado, que não era dele”, conta. A situação é semelhante a do pai de uma adolescente, que veio denunciar o furto da filha. “Eu fiquei muito chateado, como qualquer pai que vê um filho trazer uma coisa fora de casa sem permissão”, afirmou. (Site G1.com)

www.correiofraterno.com.br


12

CORREIO FRATERNO

MAIo - JunHo 2014

cultuRA & lAzeR

Palestra da Dra. Sissy Veloso Fontes na Unifesp A Dra. Sissy Veloso Fontes realiza dia 11 de junho, às 18:30h, palestra com o tema “Os sete pecados capitais e as sete virtudes sob a ótica dos cuidados integrativos, no Seminário Núcleo Universitário de Saúde e Espiritualidade, que acontece na UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo. Local: Anfiteatro Clóvis Salgado, Rua Botucatu, 862, V. Clementino, São Paulo, SP. E-mail: claro.unifesp@gmail.com.

JUN

11

Gestão Administrativa da Casa Espírita Curso de capacitação administrativa para gestão da casa espírita. Do Plano de Trabalho para o Movimento Espírita Brasileiro, do Conselho Federativo Nacional - FEB. Público-alvo: dirigentes de instituições espíritas. Local: USE do Estado de São Paulo. Rua Dr. Gabriel Piza, 433, Santana, São Paulo. Início: Dia 14 de junho de 2014, das 8:30 às 13 h, aos segundos e quartos sábados do mês. Duração: 6 meses. Inscrições: E-mail: use@usesp.org.br. Informações: (11) 2950-6554 (USE-SP).

JUN

14

11º Fórum Nacional de Arte Espírita Dia 19 e 21 de junho acontece o 11º Fórum Nacional de Arte Espírita, com objetivo de gerar reflexões sobre as atividades artísticas que vêm se desenvolvendo no meio espírita. Local: Colégio Pestalozzi II, na cidade de Franca. Informações: www. abrarte.com.br.

JUN

19

Inscrição para Festival de Música Espírita Vai até o dia 22 de junho as inscrições para participar do 13º Festival de Música Espírita de Uberaba (FEMEU). A final do evento será dia 9 de agosto, às 19 horas, no Cine Teatro Vera Cruz. Rua São Benedito, 290. Realização: União das Mocidades Espíritas de Uberaba. www.jornalespiritadeuberaba.com.br/femeu. Fone: (34) 9969-7191.

CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO no dia 3 de junho completaram-se 89 anos que o conhecido pesquisador Camille Flammarion desencarnou, na França. ele fora amigo pessoal de Allan Kardec, a quem chamou de “o bom senso encarnado”. certa vez, o pesquisador foi informado por uma entidade espiritual que haviam se conhecido, quando o cientista fora o poeta espanhol Don Alonso de ercilla y zuniga (1522-1554). Flammarion leu a biografia do poeta e verificou que ele havia sido condenado à morte por decapitação. lembrou-se, então, de que repetidas vezes tinha pesadelos, durante os quais queriam decapitá-lo. entretanto, nunca sonhou ter sido realmente decapitado. o motivo é que embora condenado, a sentença da condenação do poeta foi revogada. (Reencarnação baseada em fatos, de Karl Muller).

o l A l e e K l F Q M u e P A M Q I P e s A D e l o s K A M e

P M o P e I l l l u n n n K z M u o R s P s H o o I o A Q M o

c o n D e n A D o e c t t e n o I R A M M A l F e l l I M A c

s Q I n I M s M W M A o t c s A s V c A F c n c R o l A o l P

e u e t o n t M n M s t e A F n l b c F c o o V I I n c R e M

R A c Q u c o A t P W I R u e l o l M o M I e I o Q V o t R V

t c e n t I D A D e e s P I R I t u A l c D e n u u F P e I b

n X A e A A É n P t l t o I o A o A l n z P A n A I R l o o t

V z A s A s l b M A c A R e I I R D l b K e l e t s e M R l e

Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

c t o A P t l V A e D M P P o l A P e e P A I s D I s z e l K

D o I t l R e R e I z I R V u A s o P Q I o R o t o s W u A D

H Ç e b Ç e I e I o e G t z A o e c o u e A b D D e I t I o e

o à D e c A P I t A D o P A l n t K l I R s o A e P K o A P c

P o M c e M A o W b o I o P e s Q u I s A D o R b c A P M K A

ENIGMA

Que médium ficou conhecida pela qualidade de seu trabalho e por quem o escritor Victor Hugo ditou inúmeros romances no século passado? qualquer hora, em qualquer lugar

Solução do Caça-palavras Veja em: www.correiofraterno.com.br

Resposta do Enigma: Zilda Gama

Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fique atualizado sobre o que acontece no meio espírita. Participe. www.correiofraterno.com.br

JUN

22

1º Encontro de Medicina, Direito e Espiritualidade A Federação Espírita do Rio Grande do Sul promove, nos dias 26 e 27 de julho, o 1º Encontro de Medicina, Direito e Espiritualidade, sob o tema: “Em busca da saúde integral e da pacificação social”. Local: Teatro Bourbon Country. Av. Túlio de Rose, 80, Porto Alegre, RS. www.fergs.org.br, Fone: (51) 3406-6464.

JUL

26

www.correiofraterno.com.br

Venda de passe

mãe, por que a gente não vende passe no centro?

vender passe? ora, laurinha, o passe é transmissão de fluidos, de energias para ajudar as pessoas... Como vender passe?

mas, mãe...

eu vi na tv que um jogador de futebol vendeu o passe por R$ 10 milhões! isso ia ajudar muita gente no centro... será que alguém compra nosso passe?


CORREIO FRATERNO

MAIO - JUNHO 2014

13

ANÁLISE

Conhecer o que crê, saber por que crê Por Ivan Franzolim

G

rande parte das religiões tradicionais está alicerçada em dogmas que não devem ser analisada ou discutida, mas obedecida, uma vez que representa a verdade de Deus, o que não se aplica à doutrina espírita. Ela se posiciona, antes de mais nada, como uma filosofia, tendo como objetivo a reflexão e a análise sobre a vida e suas implicações. Semelhante às ciências que procuram estudar as leis que regem a matéria, o espiritismo busca estudar as leis naturais do mundo espiritual que afetam o homem, suas relações e seu bem-estar. O conhecimento espírita desenvolve uma ética própria que provoca ou induz a uma reflexão sobre a moral (conjunto de regras sobre o que é certo ou errado, bom ou mau). Não faz nenhum sentido que os seguidores do espiritismo não conheçam bem os seus princípios e conceitos, que não tenham lido e estudado pelo menos as obras de Allan Kardec, entre as milhares existentes. Não se trata de exigir dos espíritas conhecimentos de tudo em detalhe, mas o conhecimento dos pontos principais. Naturalmente leva-se tempo para se conhecer e entender os fundamentos da doutrina. Os cinco livros de Kardec, mais Obras póstumas, totalizam cerca de 2.500 páginas. Fazendo-se uma estimativa, seriam necessárias duzentas horas para se ler a coleção, levando-se em conta o gasto de quatro minutos por página. Penso que com um prazo mínimo de um ano seria possível estudar os seis livros, investindo-se uma hora por dia útil, ficando o estudo mais confortável se forem utilizados também os fins de semana e feriados, podendo-se incluir outros livros ou um curso de espiritismo, que geralmente dura de dois a quatro anos. Pensando nisso, pesquisei há dez anos os conhecimentos doutrinários dos frequenta-

dores de um centro espírita. Utilizei a técnica Focus Group para pesquisa qualitativa, reunindo por vez de quatro a seis pessoas para conversar sobre espiritismo, todas com mais de quatro anos como espíritas. Dessa experiência destacaram-se alguns aspectos que demonstraram o desconhecimento de pontos importantes da doutrina, como: • Tratar Jesus como Deus • Perceber Jesus como espírito que teve uma evolução sem erros • Entender a Bíblia como a verdade • Considerar que Deus decide sobre as mínimas coisas da vida de cada pessoa • Considerar os obsessores como espíritos inferiores ou maus • Desconhecer que a oração deve ser espontânea e não decorada • Entender que o obsidiado não tem responsabilidade sobre sua situação • Confundir a lei de causas e efeitos com a

lei do Talião • Entender Deus com sentimentos do ser humano, que perdoa, tem misericórdia, compaixão • Considerar que ser espírita e praticar a caridade é condição para a pessoa ser ‘salva’ • Julgar que “a felicidade não é deste mundo” e só estará acessível aos espíritos superiores • Acreditar que cada espírito possui uma ‘alma gêmea’ • Supor que o médium de psicofonia ‘incorpora’ o espírito comunicador, isto é, o espírito entra no corpo do médium • Crer que espíritos bons só falam a verdade e não se equivocam ou podem interpretar mal. Essa situação de desconhecimento ou de conhecimento equivocado deve ter muitas causas. A primeira é a automotivação, a responsabilidade de cada pessoa cultivar e despertar. Ter curiosidade intelectual, que-

rer saber os porquês da vida. A segunda é a qualidade da comunicação do espiritismo. Os comunicadores espíritas, as federativas e os centros têm responsabilidade nessa baixa compreensão da doutrina espírita. Que espiritismo estamos divulgando? Relaciono alguns tipos de comunicação incorreta que tenho observado: Espiritismo pessoal - aquele que destaca mais as opiniões do expositor, dirigente ou do mentor da casa Espiritismo alarmista - que enaltece o poder das trevas e a inferioridade moral dos espíritas Espiritismo místico - privilegiando a devoção, a contemplação, o sobrenatural Espiritismo superficial e dogmático que evidencia ideias e raciocínios pela autoridade dos autores e não pelas explicações doutrinárias corretas Espiritismo deslumbrado - que insiste em dar explicações simplistas para todos os casos e situações Espiritismo excessivamente religioso que usa linguagem piegas, não prioriza o estudo sério e se preocupa mais com o assistencialismo e o enaltecimento de Jesus. Todos os espíritas podem e devem colaborar para melhorar essa situação. A interpretação equivocada da doutrina é um risco para sua evolução. É preciso pesquisar o nível de compreensão de alunos e frequentadores, conversar com os dirigentes do centro, mudar e melhorar os cursos, instituir o estudo contínuo, trabalhos em grupo, produção de conteúdo e melhorar a forma como comunicamos o conhecimento espírita. Escritor e comunicador espírita, fundador da ADE-SP Associação de Divulgadores do Espiritismo de São Paulo. www.correiofraterno.com.br


14

CORREIO FRATERNO

MAIo - JunHo 2014

QueM PeRGuntA QueR sAbeR

Por que o espiritismo não se preocupa em aumentar o número de fiéis como acontece nas outras religiões? Por HeRculAno PIRes

Q

uando dizemos que não queremos fazer adeptos, estamos deixando bem claro que o espiritismo, mesmo no seu aspecto religioso – que ele também possui –, não se constituiu em religião organizada, religião estruturada, com sistema clerical, um sistema litúrgico, seus ritos e sua dogmática. As religiões assim constituídas é que precisam de adeptos, não apenas para aumentar o número de filiados, mas também porque se baseiam no dogma da salvação. Todas essas religiões organizadas entendem que elas, e somente

www.correiofraterno.com.br

elas, estão com a verdade e que somente elas podem salvar o homem. Então, a procura de adeptos por elas não corresponde apenas a um interesse social e econômico das igrejas, mas também a um interesse nobre e humano, o de salvar o próximo. No espiritismo isso não existe. Nós acreditamos que todas as criaturas estão a caminho da evolução. São indivíduos espirituais(...) desenvolvendo as suas potencialidades internas para atingirem sempre planos superiores da espiritualidade. Cada

um se salva por si mesmo. E Deus zela por todos, porque Deus é o poder supremo, inteligência suprema do Universo, criadora de todas as coisas e não criou ninguém para se perder. (...) Dessa maneira, ele nos proporciona todas as facilidades para isso, independentemente das organizações humanas. A busca da filosofia é justamente no sentido de encontrar a verdade. (...) Mas ela não se impõe. Ela se comunica e os homens é que decidem se querem ou não aceitá-la. Mesmo porque cada filosofia que atinge um plano de verdade tem sobre si uma grande respon-

sabilidade, a responsabilidade de haver encontrado uma solução para problemas que outras filosofias não encontraram. Assim, o espiritismo não podia se esconder debaixo do alqueire, segundo a expressão de Jesus no Evangelho. Ele é a luz que deve ser colocado em cima da mesa para que ilumine toda a casa, para que transmita a sua luminosidade a todas as criaturas que dela necessitam. Resposta dada por Herculano Pires no programa de rádio “No Limiar do Amanhã”, produzido pelo Grupo Espírita Emmanuel na década de 1970, onde Herculano era o apresentador.


CORREIO FRATERNO

MAIO - JUNHO 2014

15

DIRETO AO PONTO

Utopia da paz? Nestes tempos tão conturbados, onde boa parte da sociedade enfrenta a violência, pretender a paz poderia ser uma ilusão. Por UMBERTO FABBRI

J

esus, sabendo que se aproximava o momento de sua partida, aproveita a festa em comemoração à Páscoa e ali faz o sermão do Cenáculo. Nesta bela passagem, fala sobre a paz. Diz o mestre, conforme encontramos em João 14:27: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” Procurou Jesus preparar os corações amados para os momentos difíceis que chegariam. Somente uma alma portadora de tão imenso amor pensaria antes na dor e sofrimento dos que estavam ao seu redor do que em seu próprio martírio. Nesta frase, Jesus revela seu conhecimento sobre as fraquezas e dificuldades de seus aprendizes. Solicita a manutenção da paz que nasce da fé e confiança nos desígnios do Pai, mesmo quando estes não coadunam com nossos desejos e aspirações. A paz verdadeira é vivenciada por aqueles que já desenvolveram a confiança plena em Deus e que, em se esforçando para vivenciar a lei de amor, têm a consciência tranquila por terem feito o possível para cumpri-la. Falava Jesus da paz interior, aquela que nasce em nosso íntimo e que permite estarmos em equilíbrio, apesar das dificuldades exteriores. Bem diferente da paz do

Para conquistá-la, faz-se necessário a luta, não contra o semelhante, mas contra nossas tendências egoístas” mundo, que muitas vezes se confunde com o ócio, com a fuga ao trabalho ou com a satisfação de sermos atendidos em nossos interesses, mesmo que escusos, e que trazem consequências funestas. Paradoxalmente, para conquistá-la, faz-se necessário a luta, não contra o se-

melhante, mas contra nossas tendências egoístas e viciosas que se repetem inconscientemente, automatizadas em várias existências anteriores. Enfrentar as lutas e desafios com fé, de cabeça erguida e com confiança no amanhã infelizmente ainda é para pou-

cos. Na maior parte das vezes nos enfraquecemos com o medo do enfrentamento, com o rancor destruidor ou com a desilusão inesperada. Esquecemos que os corações que caminham conosco são tão imperfeitos quanto os nossos e também sujeitos ao erro. Nestes tempos tão conturbados, onde boa parte da sociedade enfrenta a violência, a falta dos recursos justos e básicos, as guerras, os desequilíbrios emocionais, as dificuldades financeiras, pretender a paz poderia ser considerado um anseio utópico. Entretanto, quando analisamos os ensinamentos do Cristo, compreendemos que as adversidades constituem um cenário ideal, quando não necessário, para o desenvolvimento de capacidades e virtudes latentes em nossa estrutura espiritual. Estar em paz requer grande esforço no controle de nossos pensamentos, vigilância de sentimentos e, acima de tudo, o exercício do amor verdadeiro e desinteressado, que perdoa, aceita e compreende as limitações do semelhante e de si próprio. Pacificar-se significa vibrar na frequência do amor universal, praticando a caridade que ampara, consola e instrui. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA.

Contabilidade – Abertura e encerramento de empresa – Certidões

Tel. (11) 4126-3300 Rua Aral, 123andar I São Bernardo do Campo I SP | SP Rua Índico, 30 | 13º | São Bernardo do Campo jdcontabil@terra.com.br www.correiofraterno.com.br


16

CORREIO FRATERNO

MAIo - JunHo 2014

leItuRA

Alcoolismo

Um tema que compromete silenciosamente a sociedade

P

Da ReDAÇÃo

oucos autores conseguem a façanha de conciliar um trabalho literário cativante com a abordagem de assuntos comportamentais inadiáveis e que frequentemente encontram resistências na sociedade, como a violência, a depressão, o consumo de drogas e suicídio. A escritora e novelista Lygia Barbiére Amaral transita com maestria nesse ambiente e descreve como poucos a trama o envolvimento de um grupo de amigos que se envolvem com o alcoolismo. Em A ferro e flores ores, o leitor toma conhecimento das origens do problema e dos recursos que pacientes e familiares podem utilizar para vencer o desafio da doença que está entre os dez principais problemas de saúde pública do mundo e é a quarta doença mais incapacitante, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

www.correiofraterno.com.br

Convidado a prefaciar a obra, o neurologista e psiquiatra carioca Márcio Amaral alerta para a importância do engajamento do movimento espírita no trabalho de resgate de pessoas com esse problema, lembra que o álcool é a substância tóxica mais utilizada e porta de entrada para outras drogas e que o combate a esse mal esbarra sempre na insistente negação da doença por parte de seu portador. “É importante que o enfoque, através da literatura, possa atingir as pessoas e fazê-las refletir sobre as consequências do uso que vem sendo feito de tal substância, pois a desestruturação não se dá apenas no lar dos envolvidos com alcoolismo, mas também atinge a sociedade como um todo, com o aumento das agressões físicas, dos acidentes automobilísticos e do alto custo que todos pagam pela vulnera-

bilidade a que estão sujeitos. A psicanálise apresenta uma abordagem para tentar explicar o que leva o ser humano a tal quadro de degradação. Com o surgimento da codificação de Kardec vem então uma luz, um entendimento diferenciado, que explica as origens do comportamento delinquente. Ao ler o livro, consigo vislumbrar e ter respostas mais claras a dúvidas que a ciência cartesiana não me permite responder.” O problema do alcoolismo na obra se revela em sua amplitude e complexidade. As relações entre dependentes, familiares e amigos são mapeadas nos dois planos da vida e impulsionam a busca por soluções. Elas descortinam uma nova visão para o significado do que é a vida e ensinam que para o socorro é preciso sempre determinação e muito amor!


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.