ISSN 2176-2104
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FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o
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Entrevista Comprometido com a preservação da história do espiritismo, o pesquisador Oceano Vieira de Melo se dedica à arte de encontrar tesouros em gravações antigas. Leia nas páginas 4 e 5.
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Fenômeno A realidade dos fatos
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IluStRAÇÃo ISMAel toStA GARcIA
m pós-doutorado aprovado recentemente na Universidade de São Paulo pode ser mais um instrumento para ajudar a encurtar o caminho da ciência em direção à espiritualidade. Pesquisadores analisaram as mensagens e cartas recebidas pelo médium Chico Xavier de parentes e amigos desencarnados e encontraram indícios de que o médium não tinha conhecimento prévio das informações passadas, o que aponta para a possibilidade de um tipo de comunicação diferenciada entre os homens. Legitimados pelos fatos, não há argumentos contra fenômenos espirituais. Eles existem e sempre chamaram a atenção da Humanidade. São eles também que inspiraram o pesquisador Paulo Henrique de Figueiredo a escrever o artigo central desta edição sobre o cuidado que se deve ter diante da análise de um fenômeno. Efeitos físicos também é o que acontece na casa de Maria Fernanda, que escreve o Foi Assim. Não deixe de ler nas páginas 3, 8 e 13.
Quem pergunta quer saber É verdade que ao desencarnar os espíritos remoçam? Com a palavra, J. Herculano Pires, que no programa de rádio No limiar do amanhã respondia às questões mais instigantes sobre o espiritismo. Leia na página 14.
João Leão Pitta Nas recordações de Raymundo R. Espelho, as alegres histórias de seu convívio, quando criança, com o português que conviveu com Cairbar Schutel e que corria o Brasil divulgando o espiritismo. Leia na página 7.
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eDItoRIAl
contra fatos não há
argumentos
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m um de seus discursos, por ocasião de suas viagens espíritas pela França, em 1862, Kardec fez questão de destacar a importância do caráter experimental da doutrina espírita para ter sua autoridade como ciência. “O espiritismo apoia-se sobre fatos”, afirmava, lembrando que era o próprio mundo invisível que vinha se revelar a nós, provar que estava não em regiões do espaço, inacessíveis mesmo ao pensamento, mas aqui, ao nosso lado, em torno de nós. Esta edição do Correio Fraterno abre suas páginas para a parte fenomênica do espiritismo, aquela mesma, considerada coisa do passado para ser divulgada para nós espíritas, que já passamos da fase da curiosidade e percebemos que a finalidade da doutrina é
o convite à transformação moral. Ocorre que o fenômeno causa ainda espanto em muita gente, e não se pode esquecer que foi a partir dele que Allan Kardec iniciou suas pesquisas para então deduzir as causas primeiras de tudo o que existe, mergulhando na vida espiritual como uma realidade inconteste. Havia algo além do que os olhos podiam ver e as mãos podiam tocar. Os efeitos físicos na residência de dona Maria Fernanda (Foi Assim) vem ilustrar bem este fato. O pesquisador Paulo Henrique Figueiredo analisa também a questão (Especial), alertando para o tênue limite que separa a fé da ilusão. Outros dedicados estudiosos, Alexandre
Sanatório Espírita de Brasília Fiquei muito feliz por saber notícias do Lauro Carvalho, fundador do Sanatório Espírita de Brasília, no Correio Fraterno (edição 455). Na década de 1980, fiz parte de uma caravana que ia todo ano para Brasília, realizar uma grande corrente de vibração pelo Brasil. De lá, visitávamos o Lauro e a Amélia, um casal encantador que se dedicava com afinco e imensa vontade
Caroli e Denise Paraná (Acontece) o demonstraram recentemente, numa frente multidisciplinar que envolveu a área de psiquiatria da Faculdade de Medicina, que o médium Chico Xavier recebia mensagens de parentes e amigos de desencarnados, cujos dados não eram de seu conhecimento prévio, indicando ser possível uma comunicação diferenciada, o que abre as portas para um novo olhar da ciência que, mergulhada no materialismo, terá que aos poucos se exercitar para alargar seus horizontes.
de ajudar em nome de Jesus. Loreni Biriteli, São Paulo Livres pensamentos A extrema credulidade em temas que criam valores subjetivos na doutrina demonstra individualismo, além da adoção de preconceitos contra aqueles que não compartilhem o senso comum. Fundamental entendermos o que pregamos no mais amplo
‘Drogas, o desafio das casas espíritas’ Está excelente a edição do Correio Fraterno. (edição 455) Que Jesus nos auxilie a perseverar para que a ‘Fé na Prevenção’ seja proposta de todos nós. Abraços fraternos, Miltes C. Bonna, São Bernardo do Campo, SP
Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br
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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118
Presidente: Adão Ribeiro da Cruz Vice-presidente: Tânia Teles da Mota Tesoureiro: Vicente Rodrigues da Silva Secretária: Ana Maria G. Coimbra Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP www.correiofraterno.com.br
JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Administração/financeiro: Raquel Motta Comercial: Magali Pinheiro Comunicação e marketing: Tatiana Benites Auxiliar geral: Ana Oliete Lima Apoio de expedição: Osmar Tringílio Impressão: Lance Gráfica
em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências.
sentido. Os dogmas estrangulam os pensamentos mais livres de irmãos que buscam depurar sua atual existência. Toda mudança é rápida, lenta é apenas a adaptação e entendimento do novo. Sérgio Galdino
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Uma ética para a imprensa escrita
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• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.
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Acontece
USP aponta novos rumos para a ciência através da mediunidade Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo FMUSP
Da REDAÇÃO
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ma pesquisa pioneira, concluída recentemente na Universidade de São Paulo, investigou em um estudo multidisciplinar através de pós-doutorado a mediunidade de Chico Xavier. Alexandre Caroli Rocha, especialista em análise textual e Denise Paraná, especialista em elaboração de biografias pelo método de história oral, realizaram estudo sobre o tema em âmbito multidisciplinar e as portas do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP se abriram para a realidade empírica das capacidades mediúnicas, demonstrando a necessidade de um novo entendimento sobre a relação mente – cérebro através de teorias não-reducionistas. Sob a supervisão do professor dr. Francisco Lotufo Neto e do professor dr. Ale-
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xander Moreira-Almeida, da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, o estudo obteve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP. Foram dois anos de pesquisa que resultou em uma série de estudos, cuja divulgação o Correio Fraterno antecipa com exclusividade. O primeiro artigo acaba de ser publicado pela revista científica internacional Explore, com o título “Investigating the Fit and Accuracy of Alleged Mediumistic Writing: A Case Study of Chico Xavier’s Letters” (“Investigando a adequação e a acuidade da alegada escrita mediúnica: um estudo de caso das cartas de Chico Xavier”, em tradução livre). Também assina este artigo a doutora Elizabeth Schmitt Freire, da Universidade de Abedeen, na Escócia, pesquisadora que somou esforços com a equipe.
O objetivo do pós-doutorado foi verificar, usando métodos acadêmicos, se na produção das cartas psicografadas de Chico Xavier havia indícios de obtenção ‘anômala’ de informações, ou seja, se Chico poderia ter acesso àquelas informações que escrevia em suas cartas psicografadas. “Investigamos se aqueles dados objetivos que tantas vezes traziam consolo aos familiares em luto eram verdadeiramente inacessíveis ao médium por vias comuns, ou seja, como por leituras, conversas etc. Além disso, fizemos um amplo levantamento bibliográfico sobre a relação mente – cérebro e a prática da mediunidade”, explica Denise Paraná. Para atingir esse objetivo, os pesquisadores tiveram um longo trabalho. “Era preciso verificar se a eventual fragilidade emocional dos parentes que procuravam
consolo nas cartas de Chico os levava à crença de que o falecido era o autor das cartas, ou se havia nas cartas, de fato, registros dos falecidos”, explicam os pesquisadores. Por isso, eles investigaram detidamente a veracidade das informações presentes nas cartas, fizeram longas e detalhadas entrevistas e buscaram documentos relativos aos casos estudados em arquivos particulares, acervos de jornais, cartórios etc. Também compararam nas cartas psicografadas o estilo linguístico, as descrições físicas e de personalidade do autor espiritual (desencarnado) com seus traços quando ainda ‘vivo’. Também foi analisado o conjunto de cartas produzidas por Chico Xavier para entender suas principais características, verificando-se o que havia de genérico e subjetivo nas psicografias, “tudo aquilo que poderíamos aplicar a qualquer situação de morte, mas também aquilo que existia de particular a quem o texto foi atribuído”. Por fim, sistematizaram os dados, analisaram as informações coletadas e produziram artigos. No primeiro deles, já citado, descobriram que dos 99 itens de informações verificáveis, identificados em um conjunto de 13 cartas psicografadas, 98% tinham adequação clara e precisa e não havia nenhum item não adequado. Segundo os pesquisadores, concluiu-se que explicações comuns para tal acuidade de informação, como fraude, acaso, vazamento de informação e leitura fria seriam possibilidades apenas remotamente plausíveis. Mesmo para os espíritas, que têm convicção na imortalidade da alma, os resultados da pesquisa são surpreendentes. “Sabemos que médiuns são humanos e, portanto, passíveis de erros. O próprio Chico costumava se lembrar disso e gostava de checar com os seus consulentes alguns dados das cartas particulares que psicografava. Entretanto, pesquisas como estas, que nos trazem evidências da sua fantástica capacidade mediúnica são muito bem-vindas. Somadas a outras pesquisas, elas ajudam a ampliar os horizontes da ciência em busca de novos modelos de entendimento da consciência humana e de nosso papel no universo”, concluem. A questão da mediunidade é fato para os espíritas e esse trabalho é uma das formas de sensibilizar a academia para isso, principalmente a comunidade internacional, que ainda desconhece quem foi Chico Xavier. www.correiofraterno.com.br
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ENTREVISTA Oceano Vieira de Melo: Há muito material perdido, que as pessoas nem sabem do que se trata
A força da voz e da imagem na história Por Eliana Haddad
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empresário e pesquisador espírita Oceano Vieira de Melo, idealizador da Versátil Home Vídeo, reúne em seu escritório, em São Paulo, vasto material de audiovisual que revela os bastidores da história do espiritismo, principalmente no Brasil. Através da empresa que administra, já lançou mais de trinta DVDs, filmes e documentários com temática espírita, como Minha vida na outra vida, Vida além da vida, Pinga-Fogo, Joelma, A vida de Eurípedes Barsanulfo e Chico Xavier em São Paulo. Pessoalmente, ele se dedica a uma atividade específica em prol da memória do espiritismo. Do trabalho que realiza de recuperação e edição de fitas de áudio e vídeo, é possível resgatar a emoção da preservação da memória, através da gravação de vozes e imagens de médiuns e colaboradores do movimento espírita, que incluem Chico Xavier, Yvonne Pereira, Clóvis Tavares, Herminio Miranda, Deolindo Amorim e Herculano Pires, dentre tantos outros. Apaixonado por cinema desde criança, Oceano fez de sua admiração pela arte e cultura um trabalho importante de resgate da nossa própria história e não perde uma oportunidade para pedir que lhe enviem qualquer material sobre a história do espiritismo. O material fará parte do acervo do Museu Espírita do Estado de São Paulo, agora pertencente à Federação Espírita Brasileira, que abrigará também o acervo da biblioteca do historiador e escritor Canuto Abreu e manuscritos originais da Codificação. A seguir a entrevista concedida por Oceano ao Correio Fraterno: www.correiofraterno.com.br
Você se diz autodidata. Como se envolveu com tantas frentes culturais, inclusive nesta de preservação da memória espírita? Oceano Vieira de Melo: Desde criança eu frequentava cinema. Morei em uma cidade muito pequena do interior de Alagoas, Carneiros, onde o divertimento era o rádio e o cinema, e acabei me envolvendo por divertimento. Sempre estive envolvido com imagem e som. A mesma coisa agora, ao pesquisar, estudar e editar filmes e áudios espíritas. É uma maneira de agradecer pelo que recebi da doutrina, que me educou como cidadão. Não tenho escolaridade nenhuma, mas leio muito, adoro cinema, política. Estou envolvido com o cinema, profissionalmente, através da distribuição de filmes pela Versátil, sob licença dos produtores nacionais e do exterior. Tudo isso me abre muito a cabeça. Meu objetivo é deixar para as futuras gerações registros desses homens extraordinários da doutrina, que deixaram palestras e depoimentos gravados, livros importantes, como Herculano Pires, Herminio Miranda, Leopoldo Machado, Clóvis Tavares, Eliseu Rigonatti e tantos outros. Como você está conseguindo resgatar esse material? As pessoas me mandam ou então eu localizo e peço. Hoje mesmo recebi uma boa quantidade de fitas de vídeo, de cinema, 8 e 16 mm, fitas cassete dos anos 70 e carretéis de rolo dos anos 50 e 60. São fontes preciosas, que acabam me inspirando e dando origem aos inúmeros documentários. Você nasceu em berço espírita? Não. Comecei a me interessar pelo espi-
ritismo quando vi o Chico no Pinga-Fogo em 1971. Eu tinha vinte anos. Mas naquela época não me envolvi com a doutrina, porque comecei a me desenvolver no campo profissional, a formar família e depois com o jornalismo dirigido ao mercado cinematográfico. Você acredita que se não houver esse trabalho dos espíritas essa história vai se perder? Sim. E as futuras gerações não vão nos perdoar. Porque vivemos no século de um Francisco Cândido Xavier, no mesmo século do cinema, do rádio, do som, seja nos discos em fitas das imagens digitais. Profissionalmente, estou envolvido com cinema, fui jornalista e editor de revista dessa área por 18 anos. Mas se eu não tivesse essa cultura espírita, talvez não fosse capaz de perceber e apreciar a literatura, a arte, a música clássica, a filosofia. Esses conhecimentos que nos educam e engrandecem o espírito poderiam ficar para futuras encarnações. Isso só aconteceu quando comecei a ler os livros de Chico Xavier logo depois do Pinga-Fogo, mas só me engajei realmente no movimento espírita há exatamente dez anos quando das comemorações do bicentenário de nascimento de Allan Kardec. A que você atribui esse seu envolvimento? Maturidade, alguma tarefa maior? Não. Acho que foi por necessidade mesmo. Pelo fato de reconhecer que existiram pessoas maravilhosas que perceberam antes de mim o que eu percebi na década de 1970. Por exemplo, nunca estive com Herculano, e hoje adoro o Herculano, nunca estive
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com Herminio, e hoje adoro o Herminio, sei do valor que eles têm. Existem nomes como Carlos Imbassay, Deolindo Amorim, Leopoldo Machado, Anália Franco, Manoel Quintão, Bittencourt Sampaio que não podem ser esquecidos na história, porque não foram só intelectuais; tornaram-se filósofos que marcaram o nosso movimento espírita. Do que você precisa para continuar nesse trabalho? Sempre peço para quem tiver áudio e vídeo, que encaminhe para nós! Nós restauramos e devolvemos o material original e outro digitalizado. Precisamos preservar o que foi gravado para as futuras gerações. Todo esse material vai ficar fazendo parte do Museu Espírita de São Paulo. Tudo é realizado com critérios jornalístico e da preservação. Tudo o que faço tem meu envolvimento emocional de amor a doutrina e a seus valorosos nomes. Você acha que tem ainda muito material importante que está perdido? Perdidíssimo. Material que as pessoas nem sabem do que se trata principalmente aquelas que não se engajaram no movimento espírita, filhos ou netos de espíritas que herdaram materiais e não sabem o que fazer com eles. Já descobri muitas coisas interessantes. Por exemplo, sobre o escritor e jornalista português Isidoro Duarte Santos, fundador de uma revista espírita em Portugal de 1939. Em minha opinião, ele é um dos grandes intelectuais do espiritismo e ninguém o conhece. Esse homem veio para o Brasil em 1955, gravou uma sessão mediúnica com Chico Xavier, onde o Emmanuel reúne vários espíritos, inclusive sua esposa desencarnada, dona Maria Duarte Santos, amigos e familiares que foram à sessão para cumprimentá-lo e incentivá-lo em seu trabalho de divulgação da doutrina espírita nos países do idioma português. Qual a destinação de todo esse material? Tudo vai ficar no Museu Espírita de São Paulo, fundado pelo casal Paulo e Elza Toledo, que passou recentemente sua administração para a Federação Espírita Brasileira, ficando o local como um espaço cultural da FEB em São Paulo. Depois
da reforma, será aberto diariamente para o público e pesquisadores. Ele terá local para projeção de filmes espíritas, palestras, debates e reunirá importantes documentos, inclusive manuscritos de Allan Kardec pertencentes ao Instituto Canuto Abreu que ocupará dois prédios do Museu Espírita. Nos anos 40 e 50 Emmanuel já orientava Canuto, através do Chico, considerando o material original de Kardec, de Léon Denis e de Gabriel Delanne “um tesouro do nosso movimento espírita”. O que há nesse material de tão importante? São documentos, centenas de correspondências de Allan Kardec, originais da Revista Espírita e da codificação. Canuto conseguiu esse material com a família de Pierre Gaitan Leymarie, que era quem cui-
Por que esse material é tão comentado? Há algo ‘comprometedor’? Não. O que há é muita coisa pessoal de Allan Kardec. Mas é muito emocionante. Mostra o quanto ele passou por dificuldades, traição dos amigos, o que enfrentou do clero, e da imprensa. Também sobre quando o Espírito de Verdade o orientou para que se ausentasse de Paris e fosse para um lugar mais tranquilo para organizar O evangelho segundo o espiritismo, e ele se isola numa cidade litorânea da França. Você vê todo o lado missionário e humano de Allan Kardec. Há lições maravilhosas em cartas sobre isso. Elas também explicam porque o Evangelho saiu primeiro com nome de Imitação do evangelho. Os espíritos o instruíram para colocar ‘imitação’ para protegê-lo, para não dizerem que o livro era um concorrente direto do Evangelho tradicio-
Nós tivemos a sorte de viver no século de Chico Xavier. Temos que preservar esse legado, divulgálo, conhecê-lo e praticá-lo” dava das coisas do Codificador depois da sua desencarnação. Ele comprou quando os herdeiros de Leymarie se desfaziam de todo o material. Não perceberam o que tinham de extraordinário nas mãos. Canuto era um homem culto, que viajava sempre a trabalho pelo mundo e sempre permanecia longo tempo em Paris, o que possibilitou que ele como pesquisador percebesse esse tesouro histórico. Nesse tempo é que ele passa a escrever no jornal Unificação os textos que mais tarde foram reunidos por Paulo Toledo em O livro dos espíritos e sua tradição histórica e lendária. Em 18 de abril de 1957, na comemoração do centenário de O livro dos espíritos, no Ginásio do Pacaembu, em São Paulo, Canuto faz um longo discurso contando toda essa história. Temos essa gravação. Ela estará no museu.
nal, porque com certeza a Igreja viria para cima com todo seu poderio. Idolatria a médiuns, escritores, ao próprio Chico, para você, isso tudo não é um risco para o espiritismo? Sem dúvida. Mas idolatria é uma coisa e preservação de memória é outra. Se nós espíritas, não preservarmos nossa cultura, nossos nomes, quem é que vai preservar? Você acha que o espiritismo busca ainda um substituto para o Chico? Não. E nem deve. Cada um faz o seu trabalho. Nós tivemos a sorte de viver no século dele. Temos que preservar esse legado, divulgá-lo, conhecê-lo e praticá-lo. Acho até que não virá outro médium como ele. Ele
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já deixou uma obra de inestimável valor. Para milênios. Você tem literatura, filosofia, ciência e religião. Todos os problemas da atualidade e do futuro dos povos são comentados na obra de Chico Xavier. Estamos conseguindo atingir os jovens com a mensagem espírita? Sim. E existe uma quantidade enorme de obras para que tomem contato com essa mensagem. Se o jovem ficar só na obra de Allan Kardec, ele já terá tudo. E o complemento da obra de Allan Kardec é a obra de Chico Xavier. Mesmo que os jovens não tomem conhecimento dessa obra agora, vão tomar no futuro. E vão levar um susto! E é até bom que ele não leia agora, porque tem tanta coisa nova aí para eles: internet, celular, TV a cabo, que podem passar batidos nesse conteúdo, achar que é coisa do passado, ver e não dar a menor importância. É preciso vir o amadurecimento do ser para perceber. Há algum filme a ser lançado? Estamos preparando documentários sobre Yvonne Pereira e Clóvis Tavares. No ano que vem é o seu centenário de nascimento. Ainda vamos fazer do Isidoro Duarte Santos e da sua esposa, dona Maria Gonçalves Duarte Santos. Pesquisar a doutrina espírita é fascinante. Pesquisando essas fitas antigas encontramos gravados momentos maravilhosos. Às vezes não dá nem um minuto, mas o conteúdo é fantástico. É trabalhoso, mas vale a pena. Na vida comum talvez houvesse uma disputa natural pela posse de documentos importantes. E no meio espírita, você acha que isso também acontece? Ter essa documentação lhe dá poder? Não. Absolutamente nenhum. E nem quero ter. Eu fico feliz pelo trabalho que estou realizando e isso já basta. Eu adoraria que tivesse mais pessoas para trabalharmos juntos. Tenho muitos projetos. Por exemplo, planos de fazer um departamento de jornalismo, para levar para a Rádio Web textos resgatados de escritores importantes. Isso é memória! É o que estamos fazendo agora com o Newton Boechat, Clóvis Tavares, D. Yvonne do Amaral Pereira, Canuto Abreu e muitos outros. Esse trabalho não pode parar. É a nossa história. www.correiofraterno.com.br
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coISAS De lAuRInHA
Por tAtIAnA BenIteS
A reza braba L
aurinha está no centro espírita conversando com seus colegas e lucas continua sua história: – Daí minha mãe disse que tinha que fazer uma oração e... Aninha interrompe e vai dizendo: – não é oração, é prece! lucas, empolgado e querendo continuar a história, resolve logo: – ela disse oração, então é oração. – lá em casa também falamos ‘oração’ – posiciona Sílvia. – Minha tia fala que temos que fazer uma reza – salienta laurinha. – Para mim é tudo a mesma coisa – adianta lucas. e Aninha retruca: – É nada. Reza é reza, oração é oração e prece é prece. e as crianças começam a discutir sobre o assunto, cada uma com sua opinião, quando chega a professora:
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– o que está acontecendo que vocês estão tão agitados hoje? laurinha vai logo dando notícias: – estamos discutindo qual a diferença entre oração, prece e reza. A professora se entusiasma ao ver o motivo do burburinho e responde: – ora, crianças, o importante é reservar um tempinho para elevar o pensamento e conversar com Deus, não é? todos dizem em uma só voz: – Éééééééé!!!!! – então, não importa o nome que se dê para isso, o importante é fazer a reza, a oração ou a prece com o coração aberto, para que nossos amigos espirituais consigam nos auxiliar, ou auxiliar aquele para quem dirigimos nossas boas intenções. então Pedro levanta a mão e se manifesta:
– Mas, professora, lá em casa, quando a coisa fica feia, meu pai diz: “Vou ter que fazer uma reza braba!” entra no quarto e bate a porta. Se é braba não é boa? – ele quis dizer que é uma reza com fé e fort... e antes de terminar laurinha diz: – Professora, a senhora já viu o tamanho do pai do Pedro? Se ele faz uma reza brava não tem como não conseguir o que quer, porque até os espíritos vão ficar com medo dele. Pedro olha para laurinha e solta: – Será que é por isso que ele sempre diz depois: “Reza braba sempre funciona!” – Só de ver os braços fortes dele e a batida da porta, todo plano espiritual deve sair correndo dizendo: “lá vem ele com a reza braba! Bora ajudar logo!”
Nos livros Tem espíritos no banheiro? e Tem espíritos embaixo da cama?, de autoria de Tatiana Benites, você encontra outras aventuras de Laurinha (Ed. Correio Fraterno).
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JULHO - AGOSTO 2014 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br. ILUSTRAÇÃO ISMAEL TOSTA GARCIA, DO LIVRO A HISTÓRIA VIVA DO ESPIRITISMO, DE WASHINGTON FERNANDES
João Leão Pitta Um dos pioneiros na divulgação. Amigo de Cairbar e de Herculano Pires
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BAÚ DE MEMÓRIAS
Meu convívio com Leão Pitta Por Raymundo R. Espelho
Pedro de Camargo nasceu em Piracicaba em 1878. Autor dos livros: O mestre na educação, Na seara do mestre, Nas pegadas do mestre e Em torno do mestre
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uando criança, participávamos das aulas de evangelização cristã no Centro Espírita Bezerra de Menezes, em Catanduva, interior de São Paulo. Na época, o livro base usado pelas casas espíritas quase sempre era um dos clássicos de Eliseu Rigonatti, 52 lições de catecismo espírita. Lembro-me do autor ter nos visitado, ministrando-nos inclusive aulas que nos ajudaram a sedimentar os conhecimentos doutrinários. Era época em que iniciávamos os estudos escolares. De lá para cá fizemos inúmeras amizades no meio espírita, muitas delas mantidas até hoje. Foi naquela época que tivemos a grata satisfação de conhecer um grande divulgador espírita, amigo inclusive de Cairbar Schutel e José Herculano Pires. Seu
nome: João Leão Pitta. Fora numa daquelas manhãs de domingo de evangelização cristã. Ele era representante da Casa Editora O Clarim, editora de Matão responsável pelo jornal O Clarim e a Revista Internacional de Espiritismo e percorria grande parte do território brasileiro, o que contribuía para sua felicidade de bom cristão e a de muitos de nós. Com sua presença marcante e enigmática, Leão Pitta nos contou histórias maravilhosas e bem apropriadas para nossas idades. Em seguida, vinham as recreações, quando a meninada ria muito e se soltava. O grande momento acontecia quando ele se sentava em uma cadeira e diante dele fazíamos fila, meninos e meninas, para montarmos ‘cavalinho’ em seus joe-
lhos, quando ele, divertindo-se, simulava uma corrida. Alisando suas barbas embranquecidas, que chegavam perto da cintura, nos entretínhamos naqueles momentos que brincavam com a nossa imaginação. Pitta reencarnou para esta existência no dia 14 de abril de 1875 na Ilha da Madeira, em Portugal, e desencarnou no Brasil em 11 de fevereiro de 1957, destacando-se por sua inteligência e dinamismo. Quando completou 16 anos de idade, seus pais insistiram para que ele se ordenasse padre. Mas em vez disso, preferiu migrar para o Brasil, onde se casou com Maria Joaquina dos Reis e teve 12 filhos. Em virtude de epidemia da época, três filhas do casal desencarnaram. Mais tarde, já adulto e com meus filhos crescidinhos, vim a conhecer uma das filhas do casal. Morava em Itanhaém, litoral de São Paulo e casada com Kardec Rangel Veloso. Mas a enfermidade de uma de suas filhas quando ainda pequenas foi o que fez com que Pitta procurasse um centro espírita para tratamento pela mediunidade de cura. Em pouco tempo, a melhora e depois a cura da filha levaram-no a repensar a sua repulsa pelo espiritismo. Ele que sempre relutara em ler livros espíritas, passou a aceitá-los e a lê-los com interesse, captando seus ensinamentos com extrema facilidade. Tomando conhecimento sobre a doutrina, sem perda de tempo, passou a divulgá-la e em pouco tempo a escrever livros, fazer palestras, frequentar reuniões de estu-
dos e mediúnicas. A primeira palestra espírita que o Herculano Pires assistira foi através de Leão Pitta, em Marília, no interior paulista. Gostou tanto que se tornou seu grande amigo e admirador. Posteriormente Herculano o denominou de “O Apóstolo do Espiritismo no Brasil”. Requisitado, Leão Pitta realizava palestras, principalmente pelo interior de São Paulo, onde certa feita, em uma de suas explanações em Botucatu, Marino Oliveira Lobo, outro grande divulgador da doutrina, teceu comentário discordando de uma de suas citações. Este, com raciocínio rápido e aproveitando para descontrair a plateia, engatou: “Não te esqueças, meu amigo, se tu és um Lobo e eu ainda sou um Leão”. Além de Cairbar e Herculano Pires, outro nome de referência na história do espiritismo faz parte das experiências em vida de Leão Pitta. É que logo depois de fundar um centro espírita em Cerqueira César, ele começou a sofrer perseguições, que lhe fecharam todas as oportunidades de emprego. Nesse período crítico, sua esposa costurava para ganhar algum dinheiro. E foi numa loja de ferragens em Piracicaba que ele voltou a tirar o ganha-pão, permanecendo ali trabalhando por vinte anos. Pedro de Camargo, o reconhecido autor espírita de cognome Vinicius, foi quem lhe ofereceu o apoio no momento crítico, e com quem teve depois oportunidade de convívio, trocas e realizações. Um a um, os trabalhadores foram chegando, escrevendo suas histórias, dando nome a inúmeras casas espíritas e deixando em nós ensinamentos e lembranças. Algumas inesquecíveis. www.correiofraterno.com.br
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Desvendando os mistérios do Roncador Por Paulo Henrique de Figueiredo
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programa Fantástico (Globo) de algumas semanas atrás apresentou a comunidade esotérica do Santuário do Roncador (no Mato Grosso), visitada há trinta anos por centenas de doentes e crentes, vindos de todo o Brasil, que participam de rituais de cura numa gruta gigantesca no meio da floresta amazônica. A comunidade é liderada por Deusinha, como gosta de ser chamada. Seu nome é Deusenir Esteves, uma mato-grossense, viúva, de 67 anos. Deusinha é considerada pela comunidade uma vestal (sacerdotisas que cultuavam a deusa romana Vesta), e a mantém como única intermediária para receber as instruções dos mestres. Diversas pessoas deixaram suas vidas em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, para compor as hierarquias do grupo que acredita na existência de mundos subterrâneos, numa Terra oca, portando continentes e mares, onde vivem esses seres superiores. O repórter do programa dominical foi recebido na casa de Deusinha, onde conversaram sobre sua missão: – Que é um mundo intraterreno? – É um bolsão da própria Terra. – É nesse ouvido esquerdo que você ouve o mestre, é isso? – Eu escuto tudinho. Os pacientes chegam em ônibus fretados, caminhonetes e até de jato. O procedimento de cura, iluminado por lanternas, ocorre em três macas. Ela usa algodões molhados, mexidos e revirados sobre o ventre www.correiofraterno.com.br
por simples mecanismos de eletroímãs. Mas a comunidade não permitiu sua visita para exames. De onde teria surgido essa estranha ideia de uma Terra oca e habitada? Por mais estranha que seja ela é encontrada em mitos ancestrais do Oriente. Na era moderna, essa doutrina teve
Reportagem sobre o sumiço de Fawcett no Correio da Manhã em 1952 Orlando Villas-Boas e a ossada do coronel britânico Fawcett
desnudo dos pacientes. Desses algodões, manchados de vermelho, ela tira pequenos pedaços do que parecem substâncias orgânicas, que ela cheira e passa para os assistentes. Já fora da caverna, o Fantástico mostra um ambiente, uma tenda, onde os pacientes são tratados embaixo de grandes pirâmides de alumínio, pesando quatrocentos quilos, que ficam suspensas como por um campo magnético, mas que para os místicos, estaria suspensa por estranhas forças da Terra oca. Luvison, o marido de Deusinha, já desencarnado, afirma: “Ela faz a cura em qualquer tipo de doença”. — Qualquer tipo de doença? — Qualquer tipo. Doenças médias, leves e graves. Na conclusão da matéria do programa, um físico explica a levitação das pirâmides
origem pela imaginação do capitão Clever Symnes de Ohio, Estados Unidos, que em 1818 enviou cartas para membros do congresso nacional e para universidades americanas revelando: “Ao mundo inteiro declaro que a Terra é oca e habitável interiormente. Ela é aberta no polo de 12 a 16 graus. Comprometo-me a demonstrar a realidade do que afirmo e estou pronto a explorar o interior da Terra se o mundo aceitar auxiliar-me no meu empreendimento” (Em O despertar dos mágicos, página 301). O mundo não se mobilizou para ajudá-lo. No entanto, o estadunidense Cyrus
Desconfiai das c tragam caráter d singularidade, o cerimônias e ato O livro do Read Teed, em 1870, um ano depois da morte de Allan Kardec, também afirmava que a Terra era oca, por suas leituras da Bíblia. Em 1894 contava quatro mil discípulos e um jornal, A espada de fogo. Em 1914, o aviador alemão Bender, prisioneiro na França, teve acesso a alguns exemplares do jornal de Teed e popularizou a ideia na Alemanha. Em 1942, o mundo estava em guerra novamente. Em plena campanha militar, com a autorização de Hitler e seus ministros Goering e Himmler, o doutor Heinz Fisher, famoso por suas pesquisas sobre os raios infravermelhos, travou uma expedição munido de equipamentos então de última geração. Por seus radares, pretendia
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comunicações que de misticismo e de ou que prescrevam os extravagantes” os médiuns comprovar cientificamente que a Terra seria oca! Quando a opinião de Hitler sobre a validade da pesquisa foi solicitada, ele respondeu: “Não temos a menor necessidade de uma concepção de mundo coerente”, tudo valia a pena para derrotar a ciência judaico-cristã do resto do mundo, como relatou o psicólogo Ricardo José Barbosa da Silva, em sua tese de doutorado História invisível: uma análise psicossocial das raízes mágico-religiosas do nacional-socialismo. Da Alemanha nazista e de outros países da Europa, a ideia da Terra oca aportou no Brasil trazida por imigrantes, e alimentadas pelo intrigante desaparecimento, na região, do coronel britânico Percy Harrison Fawcett, em busca de uma possível civiliza-
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ção perdida. A epopeia de Fawcett inspirou obras como O mundo perdido, de Conan Doyle, e também o personagem Indiana Jones do cinema. Os místicos juram que Fawcett não morreu, encontrou a entrada para o mundo subterrâneo e vive lá feliz para sempre. Todavia, conversando com os índios do Xingu, os famosos irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Boas souberam que um explorador havia passado por lá e, por importunar os filhos dos índios, foi morto e enterrado. Eles encontraram as ossadas de Fawcett, identificado por seus pertences e divulgaram o fato. No entanto, a lenda já tinha vida própria, e da mesma forma que Elvis não morreu, Fawcett também não... Quanto à comunidade visitada pelo Fantástico, o livro Minha vida com uma vestal, de Leo Doctlan, explica que a tão desejada ligação com o mundo subterrâneo foi feita há quarenta anos, e que os mestres subterrâneos prepararam uma emissária desde os seus 9 anos, sendo a entrada para a civilização perto do Rio das Mortes, entre os paralelos 14 e 15. No entanto essa obra foi escrita pelo próprio marido de Deusinha, Armando Luvison. Toda essa estranha história serve para destacar que o misticismo cresce no terreno da imaginação, e nesse campo não há limites para criar mirabolantes teorias, que podem, inicialmente, parecer engraçadas ou inocentes, mas quando tomam lugar na fé cega presente na forma de pensar de milhares de pessoas, tornam-se instrumentos de dominação ou atraso em suas vidas. Há quem abandone suas famílias, comprometa seu sustento, buscando isolamento, ou servindo ingenuamente a mestres, sacerdotes e outras lideranças. Milhares de pessoas, quando afligidas pela dor e pela negação da cura pela medicina, agarram-se a qualquer possibilidade de esperança, por mais estranha que pareça. De acordo com a doutrina espírita, a mediunidade é natural. Nas mais diversas seitas, o que pode ocorrer, se o médium for autêntico, é um diálogo com espíritos. Mas que tipo de espíritos? Em O Evangelho segundo o espiritismo, afirma-se que há falsos profetas “entre os espíritos orgulhosos que, aparentando amor e caridade, semeiam a desunião e retardam a obra de emancipação da Humanidade, lançando-lhe seus sistemas absurdos, depois de terem feito
que seus médiuns os aceitem. (...) Cegos, portanto, são os homens que se deixam cair em tão grosseiro embuste”. Qualquer grupo, mesmo que se dedique com a caridade de servir à cura, bem intencionado, pode ser seduzido por espíritos falsos profetas, caso abandonem a simplicidade, principalmente nos ambientes e hábitos dedicados aos tratamentos. No caso dos grupos espíritas, o alerta é mais grave. Não cabe no meio espírita qualquer tipo de misticismo, sinal, símbolo, exigências como tipo de vestimenta, luzes coloridas ou ritual. Por mais comuns que hoje, infelizmente, eles possam ser nas casas espíritas. Em O livro dos médiuns, Kardec alerta: “Em geral, desconfiai das comunicações que tragam caráter de misticismo e de singularidade, ou que prescrevam cerimônias e atos extravagantes. Sempre haverá, nesses casos, motivo legítimo de suspeição”. Nunca haverá grupo especial para receber mistérios privilegiados. Continua Kardec: “Todo médium, todo grupo que julgue ter o privilégio de comunicações que só ele pode receber e que, por outro lado, esteja adstrito a práticas que orçam pela superstição, indubitavelmente se acha sob o guante de uma das obsessões mais bem caracterizadas”. Qualquer grupo de cura, seja espírita ou não, se abandonar o critério racional, adotar misticismo ou deixar de comprovar se realmente as curas são reais, cairá facilmente no engano paralisante. Não basta receber as pessoas em filas para tratamentos sem nenhum acompanhamento. A única forma real para se reconhecer o resultado da prática de cura é o registro das condições do paciente e da evolução da doença. Deve-se anotar também os exames e os pareceres dos médicos que conduzem o tratamento médico convencional, que jamais deve ser abandonado. Será o médico que acompanha o paciente quem melhor poderá informar se o progresso da cura é anormal ou inexplicável, situação esta que, estatisticamente, poderá confirmar se os trabalhos de cura estão sendo eficazes e se estão justificando suas existências, pois poucos são os médiuns de cura, e nem todos os grupos podem contá-los entre suas fileiras.
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ANÁLISE
O prazer da leitura Por Suely Venturini
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i no Correio Fraterno recentemente, o brilhante artigo de Marco Milani (edição 455), sobre o analfabetismo funcional no Brasil. Acompanho com tristeza a deterioração da educação em nosso país e, como ele, imaginei o impacto dessa realidade no que diz respeito ao espiritismo e em como poderíamos ajudar as pessoas a compreenderem os conceitos da doutrina espírita. Lembrei-me de como fui atraída para as questões espirituais ao ler o livro Nosso lar¹. A partir dessa história emocionante, nunca mais deixei de buscar esclarecimentos à luz do espiritismo. Com saudades, recordei-me da dica carinhosa de Therezinha Oliveira*, sobre seu romance predileto: Esquina de pedra², e fiquei ansiosa para tomar contato com ele. É claro que o exemplo é tudo e sou agradecida a minha avó materna, que lia com fervor as obras de Allan Kardec e passou à minha mãe o gosto pela leitura e que, hoje, lê no mínimo dois livros espíritas por mês. Sem dúvida, é necessária grande capacidade de um escritor para passar conhecimentos de forma que, quando a pessoa toma contato, pareça-lhe simples. Assim era Léon Denis³, que me deixa impressionada pela forma singela e poética que traz a elucidação dos temas tratados. Tenho certeza de que, assim como eu, as pessoas que se deliciam com esses textos
vão poder refletir sobre o sentido de suas vidas e reavaliar os valores morais adotados, buscando ser uma pessoa melhor, mais digna, mais amiga, mais amorosa e compreender as palavras de Kardec, de que de nada adiantaria acreditar na existência do espírito se isso não nos tornasse indivíduos melhores. Tenho a impressão de que se conseguíssemos despertar nossos irmãos para esse hábito tão saudável da leitura, muitos
Sem dúvida, é necessária grande capacidade de um escritor para passar conhecimentos de forma que, quando a pessoa toma contato, pareça-lhe simples” poderiam também, ter suas mentes abertas a reflexões mais profundas, que os levariam a entender o significado de sua existência. Por tudo isso, admiro a coragem e a determinação de Cairbar Schutel4, que escrevia e distribuía seus textos pessoalmente em estações de trens, portas de cemitérios, numa época em que havia grande preconceito contra as ideias que envolvessem a existência de espíritos e a continuidade da
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vida pós-morte. Iniciativas como a dele e de inúmeros companheiros, como a de Raymundo Espelho, que ajudou a fundar o Correio Fraterno, que considero um dos periódicos mais conceituados do Brasil, nos incita a dar continuidade à tarefa de divulgação. Fica então nosso desafio para levar o conhecimento espírita às pessoas, numa época em que a televisão e o cinema já exploram enredos envolvendo o espírito desencarna-
do e sua comunicação com os encarnados, fato que torna nossa tarefa mais fácil, pois faz com que as pessoas encararem isso com maior naturalidade. Ficou evidenciado o grande sucesso da Feira do Livro Espírita no Educandário Eurípedes de Campinas no ano de 2013, pelas enormes filas no caixa de pessoas carregando sacolas abarrotadas de livros. Isso mostra que estamos no caminho certo.
Através da USE Campinas, também, foi lançada uma campanha de doação de livros espíritas para a Biblioteca Municipal de Campinas. Essa iniciativa aconteceu pela grande procura do público por essas obras e ausentes nas prateleiras dessa instituição. Existe muito espaço e interesse para esse tipo de literatura. Estamos inseridos nessa dura realidade brasileira, mas podemos levar essa mensagem consoladora, seja de forma verbal, escrita, ou mesmo exemplificando com nossas próprias atitudes no dia a dia. Espero que cada vez mais, nossos filhos recebam livros de presente, para que se descubram cada vez mais cedo, como almas imortais rumo à evolução. Tomo a liberdade de adaptar a frase de Paulo Freire sobre a educação: “Os livros não mudam o mundo. Os livros mudam as pessoas. E as pessoas mudam o mundo”. Psicóloga e terapeuta floral, membro da Associação dos Divulgadores do Espiritismo de Campinas. Bibliografia: André Luiz, psicografado por Chico Xavier, FEB.
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Wallace Leal Rodrigues, O Clarim.
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O problema do ser, do destino e da dor, Léon Denis. FEB. 3
4 Cairbar Schutel, o bandeirante do espiritismo, Eduardo Monteiro; Wilson Garcia, O Clarim.
* Reconhecida oradora e escritora de Campinas, que desencarnou em agosto de 2013.
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CRÔNICA
Enxoval de bebê Por Jáder Sampaio
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ACS chegou meio tímida. ACS é a sigla que o pessoal da saúde municipal usa para designar os agentes comunitários de saúde, profissionais que visitam as famílias de uma região para promover ações, acompanhar as famílias, identificar problemas que possam prejudicar a saúde e muitas coisas mais. – Doutora Ana, fiquei sabendo que a senhora tem como conseguir um enxoval, falou a agente meio tímida. Na verdade, a informação não devia ser bem essa. Ela deve ter sabido que a doutora era espírita, e todo mundo na comunidade sabe que os espíritas costumam fazer algumas ações de apoio emergencial à pobreza, para o desgosto dos supostamente politizados, desejosos de soluções permanentes e insensíveis aos problemas emergenciais. – Consigo sim, o que aconteceu? – Sabe, doutora, é uma família com uma adolescente da comunidade, que acabou de ter um neném. O pai é da mesma idade e não trabalha. A família depende do salário da avó, que não dá para fazer muita coisa, além de pôr comida em casa. O neném está enrolado em uns panos porque não tem nada... A história é antiga. As figuras masculinas são negativas, vistas como um mal necessário. As famílias nucleares se dissolvem, a mãe fica com a responsabilidade de cuidar dos filhos, se tiver sorte, com algum apoio dos parentes. Com a ausência de casa, para trabalhar, os filhos crescem, às vezes, no sistema dos mais velhos cuidarem dos mais novos, especialmente se não existe creche e a escola atende apenas meio período. – Mas, se não der, não tem problema, eu procuro a doutora sicrana. A doutora sicrana também era espírita, sua principal credencial para conseguir o desejado. – Claro que consigo. Vou conversar com uns amigos e vejo o que posso fazer. Os amigos também são espíritas. Mantêm a tradição de encontrarem-se uma vez por mês para montar os enxovaizinhos. É uma herança de família, tarefa que os
pais faziam com o apoio de amigos e que foi perpetuada pelos filhos, após duas desencarnações inesperadas e relativamente rápidas. “Foram-se os anéis, ficaram-se os dedos.” – Mara, você me consegue um enxovalzinho? Falou ao telefone. Estou com uma família precisando com urgência. – Claro, Ana, você consegue buscar aqui no trabalho do Ademir? – Dou um jeito! O jeito foi familiar. Nem pensar em usar a estrutura do município para fazer o trabalho que deveria ser obrigação do Estado. O sobrinho da médica foi acionado e colaborou com a empreitada. O belo discurso repetido nas reuniões com a comunidade, quando os ACS foram criados, ainda ressoa em minha memória: Saúde não é só remédio, não é só médico, saúde é também a casa em que moramos, as condições de vida, e é necessário cuidar dessas coisas também, falar delas... Acho que as pessoas descobriram que não adianta voz e consciência, se do outro lado a burocracia continua inoperante. Tem horas que dá tristeza de ver o quão pouco um assistente social pode fazer em um posto de saúde. O enxovalzinho chegou, mercê do so-
brinho, da amiga e da espírita. Veio dentro de um grande saco plástico transparente, com um monte de coisas bonitas. Uma caneca, mamadeiras, roupas, fraldas, colherinhas, bicos (para a tristeza de alguns dentistas)... O leitor deve ser capaz de imaginar um pratinho fundo, todo colorido, feito de material sintético, mas estampado com bom gosto. Algo tão lindo que eu amaria ter recebido para minhas filhas. – Não dá para resolver o problema, mas já é alguma coisa – falou a doutora Ana, que, pediatra, sabia que iria receber o menino, talvez trazido pela avó, para fazer a puericultura, a vacinação, e os exames diversos, rezando para que a família consiga seguir as
orientações de promoção de saúde. Mara explicou: – Tem coisas que eu nem sei ao certo de onde vêm. São muitas pessoas envolvidas nesta singela atividade. Recordei do meu centro espírita, quando nas manhãs de sábado recebíamos as gestantes, quase todas muito novas, de ventre volumoso e expressão de curiosidade, para fazer o ‘curso’. Médicos, enfermeiros, psicólogos e muitos outros profissionais, além de outros voluntários sem formação na área de saúde, ofereciam um café da manhã, fumegante, nas canecas de plástico azul, com um pãozinho recheado, às vezes com margarina, às vezes com um delicioso doce de banana. Tomávamos café com leite juntos, e depois todas iam para a sala de aula, discutir o sentido de ser mãe, os cuidados com os filhos, planejamento familiar e muitas outras coisas de interesse. Talvez elas jamais conseguissem aprender no sistema de saúde ou com as pessoas mais experientes da família. Ainda há rincões da grande capital mineira em que o Estado não chega, a família não consegue, mas a caridade e a solidariedade podem mitigar e humanizar o que tentam nos ocultar com números. O convite de Cáritas em O evangelho segundo o espiritismo continua relevante. Psicólogo, professor do Departamento de Psicologia (UFMG) e doutor em Administração. Além de escritor, Jáder também coordena o blog: Espiritismocomentado. blogspot.com.br
Melissa Castro Tavares
Psicóloga Clínica / Facilitadora em Constelações Familiares CRP 06-73121
Adultos e Adolescentes Rua Dr. Dupré, 441 – Nova Petrópolis São Bernardo do Campo – SP Tel.: (11) 98205-2153 / e-mail: me_castr@hotmail.com www.correiofraterno.com.br
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cultuRA & lAZeR
Núcleo Universitário de Saúde e Espiritualidade - UNIFESP Dia 20 de agosto, às 18:30h, o psiquiatra dr. Frederico Leão realizará palestra sob o tema Cuidados espirituais em pacientes portadores de deficiência mental, como parte dos seminários mensais, que acontecem na Universidade Federal de São Paulo através do Núcleo Universitário de Saúde e Espiritualidade. Local: Anfiteatro Clóvis Salgado. Rua Botucatu, 862, Vila Clementino. Informações: mae.noguti@gmail.com
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Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo Acontece nos dias 30 e 31 de agosto o 10º ENLIHPE - Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, na sede do Centro de Cultura Eduardo Carvalho Monteiro, em São Paulo. O evento reúne pesquisadores de todo o Brasil e contará com apresentações de inúmeros trabalhos. Local: Rua Guaiases, 16, Planalto Paulista. Fone: (11) 5072-2211. Inscrições: www. ccdpe.org.br
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Exposições na sede Histórica da FEB Está aberta ao público até 10 de setembro a exposição Chico Xavier, no Espaço Cultural da Sede Histórica da Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro, à Av. Passos, 30. São 35 telas a óleo do artista plástico Napoleão Figueiredo sobre personagens e fatos marcantes da vida do médium mineiro. Informações: diretoria@febnet.org.br. Fone: (21) 3078-4747.
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Evento inter-religioso pela Paz em São NOV Bernardo Será realizado dia 15 de novembro, das 9h às 16 horas, o Dia de Ação pela Paz, que marca os quinze anos do programa Um convite à Vida, encabeçado pelo C. E. Obreiros do Senhor, Instituição Assistencial Meimei, Centro de Tratamento Bezerra de Menezes, Conselho Espírita de São Bernardo do Campo e AME-ABC. O evento será realizado no Parque Municipal Engenheiro Salvador Arena, Rudge Ramos, São Bernardo, com apoio da Prefeitura e programação para todas as idades.
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Feijoada beneficente Dia 17 de agosto, a partir das 12 horas Local: Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955, V. Alves Dias São Bernardo do Campo, SP www.correiofraterno.com.br
CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti nasceu em 29 de agosto de 1831, no Ceará, e desencarnou no Rio de janeiro em 11 de abril de 1900. Além de militar, escritor, jornalista e político, foi um dos principais expoentes do movimento espírita do século 19. Por sua postura de médico caridoso, que atendia gratuitamente as pessoas sem recursos, ficou conhecido como “O Médico dos Pobres”. Assim Bezerra se expressou sobre o exercício da medicina: “O médico verdadeiro não tem o direito de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado e achar-se fatigado ou por ser alta à noite, mau o caminho e o tempo, ficar perto ou longe do morro; o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro. Esse não é médico, é negociante da medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura”. Lindos casos de Bezerra de Menezes, Ramiro Gama, lake.
A I e c o R B G A o A R M A S q D A V e R D A D e I R o D A e
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Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
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ENIGMA
Quantos assinantes tinha a Revista Espírita, ao ser lançada por Allan Kardec em 1º de janeiro de 1858? qualquer hora, em qualquer lugar
Solução do Caça-palavras Veja em: www.correiofraterno.com.br
Resposta do Enigma: Nenhum
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Batidas na porta mãe, aprendi que os espíritos comecaram a se comunicar com batidas na porta! isso mesmo, laurinha!
então posso chamar a dona neide de espírito, porque ela nunca toca a campainha, sempre bate na porta!
laurinha! espírito encarnado, mãe...
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FOI ASSIM
Efeitos físicos em nossa casa Por Maria Fernanda Santana
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ra uma família comum: o marido (José), a esposa, três filhos. Moravam na capital e iam às vezes para o interior de São Paulo visitar parentes. Em 1969, um acidente durante a viagem. Óleo na pista, curva fechada, o carro se desgovernou e foi para a barroca. A esposa e seu pai faleceram. Conheci José três meses depois; logo após, suas duas filhas e o caçula. Um sentimento muito forte surgiu entre todos nós. Veio o namoro e, no ano seguinte, o nosso noivado. Quando conheci a casa onde iríamos
morar, uma sensação ruim tomou conta de mim. Na sala havia uma estante com muitos livros; peguei um caderno, abri-o ao acaso e li um poema escrito por sua primeira esposa. Lembro-me dessa passagem: “Penso em ti/ mesmo que meus olhos/ estejam fechados para sempre!” Casamos em 1970 e fomos para São Paulo com as três crianças. Era o início de uma vida nova. Dois anos depois nasceu Ricardo, e um ano e meio após, nasceu Rodrigo. Com formação católica, ignorávamos a existência de eventos descritos pelo espiritis-
mo e outros segmentos espiritualistas. No início de 1982, apareceu uma sombra em formato de ave na parede da sala; quando tocávamos nela, ela ‘voava’ velozmente pelas paredes; quando apagávamos as luzes, ela ficava luminosa. Nesse período, comecei também a mudar meu comportamento, a maneira de me vestir, a maneira de escrever, a alimentação. Segundo José, eu estava assumindo características de sua primeira esposa, a quem não conheci. A vida da família estava prestes a virar de ponta-cabeça. Comecei a achar que ha-
via em casa muita coisa supérflua; contratei um carreto e me desfiz de quadros, porcelanas, roupas. No quintal ia queimando tudo o que me incomodava: fotos do primeiro casamento e, depois, as minhas, inclusive o álbum de casamento. Chegamos a ficar sem cobertores, sem calçados. Um dia, peguei um crucifixo de metal, queimei-o, coloquei o que restou dentro de um saco de lixo que foi levado embora; no dia seguinte uma voz me dizia para abrir certa gaveta. Abri-a e lá estava o crucifixo, intacto. Eu ficava com muito medo, mas não sabia como me livrar daquilo. Fui ao psicanalista, ao psiquiatra, famoso, caríssimo, nada adiantou. Várias vezes, à noite, ninguém na cozinha, as panelas eram atiradas ao chão; o chuveiro e o aparelho de som ligavam sozinhos e o disco vinil era acionado. No trabalho, o carro de meu marido também ligava sozinho. E sem as chaves. Eu ia assumindo outras personalidades. Alguns conhecidos recomendavam minha internação. Procuramos um padre exorcista, que atuou em casa, mas também não obteve sucesso. A família estava toda desestruturada; as crianças faltando às aulas; eu e meu marido praticamente não dormíamos. Até que a cozinheira do local de trabalho de José quis saber qual era o nosso problema. Ele contou, e ela, peremptória, assegurou que a causa era espiritual e que nenhum médico me curaria. Passou então a nos ajudar e nos encaminhou a uma assistência espiritual. Os problemas rapidamente se resolveram e tudo foi voltando ao normal. Reassumi finalmente minha personalidade e os fenômenos praticamente deixaram de ocorrer em casa. A partir de então, fomos estudando e aprendendo a lidar com a mediunidade de alguns da família e passamos também a ajudar pessoas que passavam por experiências semelhantes, que agora sabíamos eram fenômenos de efeitos físicos – uma forma de chamar nossa atenção para o lado espiritual da vida. A história narrada é real. Apenas os nomes foram preservados a pedido de alguns familiares. Conte também a sua história para ser publicada aqui nesta seção. (redacao@correiofraterno.com.br) www.correiofraterno.com.br
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DIRETO AO PONTO
Conviver e crescer Por UMBERTO FABBRI
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iver em sociedade faz parte das sábias leis divinas, entretanto esta lei apresenta grande complexidade e desafios. Por meio da convivência, seja ela em família ou em sociedade, é possível o crescimento, tanto espiritual quanto material. Aprendemos uns com os outros, e observando e convivendo, é possível aprender, dividindo experiências e conhecimentos. Aquele que aprendeu mais pode e deve dividir suas conquistas com os que estão ainda no início da jornada. Entretanto quando não há bondade, desprendimento, compreensão e fraternidade, o conviver, principalmente com os que nos são diferentes, pode gerar preconceito e sofrimento. Ao observarmos a história da Humanidade, veremos que grandes desatinos já foram cometidos pela sociedade. Em nome da paz, se fez a guerra; em nome de Deus, se aplicou a violência e o desamor; em nome da liberdade, muitos tiveram seus direitos cerceados. Tudo pela inexperiência e imaturidade espiritual. Muito já se caminhou, é verdade, e uma boa parte da Humanidade aprendeu, a duras penas, que o que plantarmos colheremos, e que não se pode ser feliz com a infelicidade do outro. As leis humanas, apesar de imperfeitas, uma vez que são feitas por nós, seres imperfeitos, tentam regulamentar a ordem social, para que seja possível uma vida justa e digna para todos. Mas apesar do que muitos
Aprendemos uns com os outros, e observando e convivendo, é possível aprender, dividindo experiências e conhecimentos” possam pensar, esta ordem social tão almejada deve ser antes implantada em nosso modo de ser e de viver e não como algo imposto, a ser obedecido porque assim determina a lei. A maneira como vemos o mundo, a nós e as pessoas que nos cercam é fator preponderante para que consigamos
viver em harmonia. Jesus nos ensina o modo certo de convivência harmônica, no amor a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos. Ensina que a lei de amor é a pedra fundamental que regula todas as outras. É compreensível que em nosso estágio evo-
lutivo atual ainda não consigamos amar verdadeiramente. Mas já nos é possível respeitar o direito do próximo aceitando as diferenças. Afinal de contas, quem garante que o ‘nosso’ modo de ser e viver seja o melhor, o mais acertado? O único ser que pode servir de verdadeiro modelo em todas as circunstâncias é Jesus. Não nascemos para a solidão, não crescemos e não sobrevivemos sozinhos. Dependemos uns dos outros para a manutenção da vida e principalmente para evoluirmos. Mesmo no atrito, quando nos deparamos com as dificuldades de convivência, temos aí uma enorme possibilidade para crescer. Nossos desafetos são os melhores professores, pois exigem sempre o nosso máximo. Inúmeras vezes somos chamados ao desenvolvimento obrigatório para a nossa grande superação. Por exemplo, frente à ingratidão, à traição, ao desamor de uma forma geral, se não buscarmos a vivência da paciência, do perdão, da tolerância, causamos a nós inúmeros transtornos, adoecendo inclusive física e espiritualmente. Cada uma sabe de si. Mas o modo como convivemos, compartilhamos e dividimos o que já possuímos pode ser o termômetro que demonstra nosso estágio evolutivo. Pense nisto! Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando hoje na Flórida, EUA.
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queM PeRGuntA queR SABeR
É verdade que ao desencarnar os espíritos remoçam? Por elIAnA HADDAD
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o programa de rádio No limiar do amanhã, J. Herculano Pires contou um fato curioso, relatando a história de uma viúva. O marido desencarnado lhe aparecia remoçado, mostrando-lhe especialmente o rosto sem rugas e dizendo: “Enquanto você continua enrugando, veja como estou cada vez mais moço.” Herculano explicava que isso realmente acontecia e que para se compreender essa situação era preciso que se tivesse ‘noção’ da diferença entre espírito e matéria. Somente assim seria possível se compreender sem assombros o fenômeno. “O espírito — como elemento natural e básico da forma-
ção da Terra — não se desgasta no tempo, enquanto a matéria sofre desgaste violento. Quando os espíritos se manifestam envelhecidos, o fazem ‘artificialmente’, para comprovação de sua identidade humana”, explica Herculano. Cita Herculano também que Kardec já observara, após a conclusão de suas pesquisas científicas, que o mundo primitivo é o mundo espiritual, sendo portanto as formas físicas secundárias. Assim, o mundo material, que seria apenas ‘cópia’ do original (espiritual), poderia ser destruído, sem prejuízo deste. Herculano Pires lembrou também du-
rante o programa a filosofia de Platão, que 400 a.C já dividia a realidade existencial em ‘mundo inteligível’ e ‘mundo sensível’ – o primeiro original, indestrutível, permanente; o outro, transitório, perceptível aos sentidos físicos por ser aparente. O caso de os espíritos desencarnados aparecerem remoçados está diretamente ligado a tudo isso. Ao desencarnarmos, deixamos um corpo físico de matéria mais densa ‘envelhecida’, mas o mesmo normalmente não acontece com o nosso corpo perispiritual. De matéria menos densa, é mais maleável e,portanto, suscetível à vontade do espírito, de acordo com os seus sentimen-
tos, pensamentos e intenções. Por isso só aparecem mais velhos, se assim lhes convier, mas em equilíbrio, conservarão a melhor imagem que possam ter de si mesmos. Segundo Herculano, trata-se de um processo dialético. “Por estranho que pareça, o elixir da longa vida e da juventude perene não está nas mãos dos vivos, mas nas dos mortos. Só a morte goza do privilégio de nos rejuvenescer”. Baseado na resposta dada por Herculano Pires no programa de rádio No limiar do amanhã, produzido pelo Grupo Espírita Emmanuel na década de 1970, onde era o apresentador.
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MÍDIA DO BEM Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!
Amor no cabide
Granadas que viram vasos de flor Uma mulher palestina resolveu dar um destino diferente para as granadas, muito presentes na região. Em um protesto pacífico e inspirador, ela reaproveitou as antigas armas de guerra e passou a usá-las como vasos para plantar flores na aldeia de Bilin. As granadas foram recolhidas de locais de confronto entre israelenses e palestinos e usadas para construir um jardim em uma área que causa bastante polêmica, por ser reivindicada pelos palestinos. Essa situação de conflito acaba restringindo a oferta de diversos produtos para a população de ambos os países. Vasos de plantas por exemplo. (Site: asboasnovas.com)
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Três amigas tiveram uma ideia genial para aquecer as pessoas menos favorecidas neste inverno. Helena Legunes, de 22 anos, Laura de Brum, de 24, e Luana Flores, de 30, espalharam cabides e penduraram roupas nas ruas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Deixaram à mostra roupas em portões, grades, postes e em pontos de ônibus da capital, numa campanha do agasalho diferente, chamada “Amor no Cabide”, que já ajudou a aquecer muitos moradores de rua. “Queríamos criar essa visão de que qualquer um pode fazer, de algo realmente colaborativo, dar a característica de cocriação”, explica Helena. Elas imprimiram cartazes, recortaram corações de papel capricharam na divulgação. E perceberam que os casacos deixados nos locais eram pegos rapidamente, mas outras roupas eram recolocadas, por pessoas impactadas pela ação. “Fazer o bem não é tão difícil quanto parece”, conclui Helena. (Site G1.com)
Espera e viagens mais divertidas Nas estações de metrô de São Paulo já é possível ter acesso à leitura com grande facilidade, através da campanha “Pague quanto acha que vale”, que disponibiliza máquinas com livros variados. Basta colocar uma cédula de cada vez de qualquer valor, digitar o número abaixo do livro e retirá-lo da gaveta imediatamente. Também em Bogotá, ficou diferente esperar o ônibus. Isso porque a capital da Colômbia passou a ter 50 paradas com minibibliotecas. A iniciativa tem como objetivo a democratização do acesso à leitura, que já somam acima de 100 biblioparadas em todo o país. Cada uma delas conta com quase quatrocentos livros, todos doados por pessoas e organizações que fomentam a leitura. Uma ideia simples que pode ser replicada em várias cidades. (Site:asboasnovas.com)