Correio Fraterno 467

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FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA Ano 48 • Nº 467 • Janeiro - Fevereiro 2016

ISSN 2176-2104

CORREIO

Entrevista

A agência de turismo que se especializou em viagens de estudos ao Oriente Médio sob a ótica da doutrina espírita. “Atravessar o Mar da Galileia, como na época de Jesus, não há quem não sinta emoção. ” Leia nas páginas 4 e 5.

Marcia Valente

o que é, afinal, a doença mental?

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m pleno século 19, Bezerra de Menezes escreveu um trabalho inédito para os contextos médico e espírita mundiais considerando algo além da matéria, diante de quadros de alienação mental, ou loucura. Como médico e membro da Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, seus estudos preenchem uma lacuna no conhecimento e demonstram que o pensamento é pura função da alma, suscetível à “ação fluídica de agentes inteligentes e extraterrenos”. Diagnosticado pelos médicos do Rio de Janeiro como louco, um de seus filhos foi o seu principal observatório: “Passado o acesso e entrado no período lúcido, o doente ficava calmo, manifestava perfeita consciência, memória completa e razão clara, de conversar criteriosamente sobre qualquer assunto”, registra Bezerra em seus estudos. Antonio César Perri de Carvalho é quem traz, em artigo especial, esta importante obra do médico que, desencarnado há quase 120 anos, continua comprometido com a causa humana e as dores que ainda se derramam pela Terra. Leia nas páginas 8 e 9.

Antonio Schiriló

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Desencarnado em dezembro, aos 98 anos, Antonio Schiriló foi peça importante no movimento espírita de São Paulo. Inúmeras instituições contaram com o seu apoio, como agregador, humanista, um homem de bem. Leia em Baú de Memórias, na página 7.

Escrito por Herminio C. Miranda e publicado pela editora Correio Fraterno, especialmente para você!

Nos passos do Mestre A Mundo Maior Filmes lança no final de março o filme que traz uma nova visão sobre a vida de Jesus. “O que se pretende é desmistificar as mensagens deixadas por Jesus de acordo com os ensinamentos espíritas e mostrar que ele não quis criar nenhuma religião, apenas disseminar o amor e a paz”, explica o cineasta André Marouço. Leia mais em Acontece, página 3.

GRÁTIS www.herminiomiranda.com.br


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JAneiRo - FeVeReiRo 2016

editoRiAl

leve e repleto de

esperanças

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m dos maiores problemas enfrentados por todos aqueles que têm o conhecimento da imortalidade da alma e da reencarnação é justamente a conciliação entre a teoria e a prática da transformação de si mesmo. Na maioria das vezes, já reconhecidos os enganos e dificuldades morais, nos deparamos com nossas atitudes disparatadas, pensamentos e sentimentos diferentes daquilo que já entendemos pela razão ser o correto, o que mostra que, crianças espirituais ainda, já crescemos um pouco, mas ainda com um longo caminho a percorrer na nossa evolução. Como é difícil conciliar o que sabemos (ou pensamos que sabemos) com o que fazemos! Daí também tantos desequilíbrios,

decepções, a culpa, o arrependimento. Nada perdido, porém, na vida do espírito, que de tudo se aproveita, da alegria e da dor. E assim vamos caminhando para a Luz, sempre, mesmo que aos tropeços. Esta primeira edição do Correio de 2016 chega leve, repleta de boas esperanças de dias melhores, mas nem por isso deixa de tocar em assuntos não tão simples, importantes e atuais. O problema da doença mental é um deles. O que é, afinal, uma doença mental? Até onde ela pode ser do corpo? Qual o papel do espírito? É o que você vai ler no artigo especial de Antonio César Perri de Carvalho, que lembra uma das obras mais importantes e esclarecedoras do médico Bezerra de Menezes, Loucura sob novo prisma.

A entrevista com Marcia Valente e Wanda Guerreiro, empresárias espíritas que já levaram vários grupos de brasileiros para conhecer os locais históricos da vida de Jesus, deixa claro, por outro lado, o quanto a lembrança da mensagem de Jesus é renovadora, sempre atual, e hoje tão necessária. Aliás, é esse o objetivo da Mundo Maior Filmes, que lança em março Nos passos do Mestre, projeto justamente que impulsionou essas viagens e que, arregimentando investidores, traz agora para as telas uma visão libertadora, racional, espírita, da vida e obra de Jesus. A edição está recheada de boas surpresas. Que ela lhe seja útil e que chegue iluminando os caminhos e as reflexões de todos nós. Boa leitura!

Efeitos físicos Por que não ouvimos mais falar sobre as reuniões de efeitos físicos? Parece que quando o Chico era vivo isso ocorriam muito mais frequentemente. Mesmo assim, gostei de ler no Correio como eles faziam. Sandorval Pereira, por e-mail.

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 inscr. estadual: 635.088.381.118

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em dois artigos, escritos por Allan kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. discutiremos os princípios que professamos.

CORREIO DO CORREIO Jesus desmitificado Durante muito tempo me questionei sobre a forma com que entendemos a mensagem de Jesus. Sr. Eduardo foi muito feliz, lembrando o quanto é lenta a nossa evolução. (Entrevista “Como entendemos a mensagem de Jesus”, edição 466). Gislaine França, Itanhaém, SP

Uma ética para a imprensa escrita

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• confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


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Acontece

Vem aí o primeiro filme espírita sobre a vida e obra de

Jesus Por eliana haddad

André Marouço e elenco

O ator Fábio Malosso interpreta Jesus

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Mundo Maior Filmes, produtora de cinema da Fundação Espírita André Luiz, lança em 24 de março, na Semana Santa, o filme Nos passos do Mestre, trazendo uma visão inovadora sobre a vida de Jesus, segundo o espiritismo. Para o cineasta André Marouço, roteirista e diretor executivo da obra, trata-se de algo inédito em audiovisual. “O que se pretende é desmistificar as mensagens deixadas por Jesus de acordo com os ensinamentos espíritas e mostrar que ele não quis criar nenhuma religião, apenas disseminar o amor e a paz”, explica. A produção conta com depoimentos e supervisão de Severino Celestino e Adão Nonato, especialistas em estudos da Bíblia e da vida de Jesus. Além das imagens feitas em Israel, Palestina, Egito, Turquia e Itália, o filme conta com encenações das principais passagens de Jesus na Bíblia, como a Santa Ceia. A execução de Nos passos do Mestre só foi possível graças a um financiamento colaborativo, que reuniu 907 apoiadores, que doaram quase R$ 120 mil.

“O filme vai surpreender”, afirma Marouço, idealizador de outras produções como Causa e efeito e O filme dos espíritos. “A tradicional lembrança de Jesus sofrendo com certeza vai dar lugar à imagem de Jesus amigo e cheio de sabedoria, que transmite e exemplifica amor e paz”, adianta. Para compor o elenco a produção buscou os atores que fazem A paixão de Cristo, encenação ao ar livre realizada tradicionalmente na época da Páscoa, na cidade de Piracicaba, em São Paulo. O ator Fábio Malosso, que interpreta Jesus, confessa que é grande a responsabilidade de passar essa história nas telas. “É complicado trazer essa emoção e o conhecimento que ele tinha de tudo”, revela. Segundo o pesquisador Severino Celestino, o público poderá ver toda a sabedoria de Jesus de maneira racional. “O objetivo principal desse trabalho é quebrar dogmas e mostrar que Jesus é esse espírito extraordinário que viveu entre nós e dividiu o tempo entre antes e depois dele,

casas espíritas de São Paulo, capital, com o tema “Nos passos do Mestre - Jesus segundo o espiritismo” com o cineasta. pela importância de sua mensagem de amor, revelando inclusive que alguns textos evangélicos foram tendenciosamente alterados”, afirma. É também projeto da Mundo Maior Filmes elaborar a tradução e legendagem do filme para outros idiomas, aumentando o alcance da divulgação do trabalho realizado, inclusive com sua produção em DVD. “Depois desse filme, aquela imagem de Jesus sofrendo na cruz, do Cristo dogmático, milagroso, vai se modificar e abrir espaço para uma mensagem amorosa, mais racional, que vai transformar a vida de muita gente. Contamos com todos para compartilhar essa boa notícia nas redes sociais”, convida André Marouço. “Curta a página do filme e participe da divulgação. O projeto é de todos nós.” A Mundo Maior Filmes também está agendando palestras de divulgação nas

Contatos: marketing@mundomaiorfilmes.com.br www.facebook.com/DocNosPassosDoMestre

Ficha técnica: Roteiro e direção: André Marouço Curadoria: Severino Celestino Participação especial: Adão Nonato Produção: Pollyana Pinheiro Produção executiva: Duilio Moraes Direção de arte: Ana Diniz Direção de fotografia: Arthur Oliveira Estrelando: Fábio Malosso Duração: 100 min www.correiofraterno.com.br


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ENTREVISTA

A história do cristianismo de perto Por izAbel vitusso e Eliana Haddad viagens dos Congressos da AME pelo Brasil. Depois vieram as dos congressos espíritas mundiais. Nosso trabalho foi então naturalmente mudando.

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ócias da agência RW Turismo, Márcia Valente e Wanda Guerreiro aceitaram o desafio de levar o primeiro grupo de espíritas a conhecer o caminho por onde Jesus passou e viveu. E desde 2009 não pararam mais. Vale a pena sentir a emoção com que descrevem as experiências e viagens, no projeto que ganhou o nome “Nos passos do Mestre”. Como iniciou este projeto de unir lazer e conhecimento? Marcia: Começamos a receber diversos ‘alertas’, observando as ‘coincidências’ como um chamado para este novo projeto de divulgação da doutrina. Começaram a surgir sugestões de pessoas que tinham sonhos de conhecer a região por onde Jesus passou. Wanda: Mas em 2009 surgiu o convite para levarmos a equipe da Mundo Maior Filmes para fazer as gravações para o filme que está estreando agora nos cinemas, dia 24 de março: Nos passos do Mestre. Quando chegamos lá, entendemos a extensão do nosso trabalho, a real importância de tudo aquilo. Marcia: Vimos que era um compromisso www.correiofraterno.com.br

nosso com a divulgação do espiritismo e do Evangelho. Um trabalho de ajudar as pessoas a abrirem o coração. Porque nós estamos sentindo saudades de Jesus. Ele está batendo no coração de todo mundo, mas não estamos abrindo a porta para ele entrar. Como vocês incorporaram o novo serviço ao que já realizavam? Marcia: Era um novo projeto e teríamos que parar com tudo em nossa agência, que era de turismo normal desde sua fundação, em 1990. No entanto, a partir do ano 2000, a doutora Marlene Nobre [fundadora da Associação Médico-Espírita do Brasil e Internacional] já nos incentivava para que nos dedicássemos mais no campo das viagens para o movimento espírita. Já fazíamos as

O que muda neste novo trabalho? Wanda: Mais do que nunca, nosso foco agora são as pessoas. Desde quando o grupo está se formando para a excursão, já começamos a analisar o perfil dos que estão aderindo. A maioria é espírita. Mas vão católicos, espiritualistas, todos que têm interesse de ver ao vivo os lugares importantes da história do cristianismo primitivo. A proposta é integrar todo mundo do grupo. Há todo um envolvimento emocional e espiritual, um verdadeiro exercício de união e respeito, de doação ao outro e trabalho interior. O aprendizado já começa aí. O que mais as pessoas alcançam nessas viagens? Wanda: Acho que o melhor resultado desse programa é a reforma interior. As pessoas voltam completamente diferentes. Marcia: O foco não é o turismo, é realmente o espiritual. O professor Severino Celestino é o nosso convidado, nosso guia e orientador espiritual. Faz toda a diferença em nosso programa, como pesquisador do hebraico e das religiões, como o judaísmo, e como profundo conhecedor da Bíblia, a qual traduziu do Hebraico. O foco principal é a divulgação da doutrina espírita e o estudo dos ensinamentos de Jesus. É fazer despertar isso no coração de cada um de nós do grupo que está indo

e, inclusive, passamos isso para as pessoas que estão à nossa volta. Todos se emocionam... Por exemplo, quando passamos pela casa de Maria, em Éfeso, ou na gruta de Pedro em Antióquia, na Turquia, onde ele nos chamou de cristãos pela primeira vez, e em tantos outros lugares que são extremamente emocionantes, a gente sente que há um intenso trabalho espiritual no grupo. E há todo um movimento da espiritualidade, ao mesmo tempo, para ajudar aqueles irmãos que ainda estão presos há séculos em muitos lugares. Não é ao acaso que uma pessoa vai então a uma dessas excursões? Wanda: Sim. Nós percebemos as incríveis coincidências e que cada grupo é um grupo, com uma temática comum trabalhada durante toda a viagem. Um grupo é mais focado em busca do eu, outro pela doutrina, outro na pesquisa do Evangelho. Há casos em que as pessoas se veem em experiências já vividas. São verdadeiras catarses que acontecem. Isso é interessante, porque mostra um fenômeno natural que ocorre nas profundezas da alma, mas a viagem não é no sentido de idolatria, de peregrinação ou algo parecido... Marcia: Para se ter uma ideia, fomos com um determinado grupo para Massada, um monte platô de 520m acima do Mar Morto, a caminho de Tiberíades, e foi imediato o mal-estar quase geral que começaram a sentir, dizendo-se sufocados. Este é o lugar onde muitos cristãos ficaram escondidos dos romanos durante muito tempo, até serem descobertos e atacados. Todos morreram se jogando do alto do platô para não serem mortos pelos romanos. Outros grupos já foram para lá e não sentiram nada. Cada um com suas experiências e possíveis reminiscências.


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Acham que essa ‘magia’ acontece pelo local onde estão ou pelo grupo em especial? Por que vocês convidariam alguém para essa experiência? Marcia: Você estuda Jesus aqui, lê o Evangelho, mas não vivencia. Você imagina. No local, você sente a vibração, a energia. É uma terra de conflitos, mas você sente a paz de Jesus. Sente a presença dele muito forte. Cada lugar que você vai, cada parábola que lê, você se sente; a história, ativa suas lembranças. Wanda: Atravessar o Mar da Galileia no barco como na época de Pedro e de Jesus, pensar em Jesus, não há quem não sinta emoção. Vocês realizam reuniões mediúnicas nas viagens? Marcia: Não. Quando há necessidade, um grupo pequeno se reúne. Mas a sensibilidade espiritual de todos de maneira geral fica bastante aguçada. O objetivo de vocês é também levar luz para esses lugares? Vocês não têm receio dos conflitos por lá? Wanda: Paz e luz. Todo caminho é feito assim, inclusive na Turquia, a própria guia, que é mulçumana, comenta que as orações que fazemos todos os dias no ônibus e os comentários sobre a paz são muito importantes para a região. Marcia: A primeira vez que fomos, em 2009, a Faixa de Gaza, na Palestina, estava em conflito, mas a gente não chega perto. E, mesmo assim, digo que Israel é o lugar mais seguro para você ir, por conta dos antimísseis. Não podemos esquecer também que temos a cobertura espiritual. Qual a sensibilidade de vocês nessa área em relação a tantos conflitos religiosos? Marcia: Ali, a luta nesse campo religioso é antiga... Wanda: Por onde passamos não percebemos esse desequilíbrio. Inclusive Sefika, nossa guia muçulmana na Turquia, costuma dizer que sua filha de 6 anos vai ser a primeira ‘mulçumana espírita’. A semente está sendo plantada. Na Turquia eles nem sabem o que é espiritismo, Kardec, então, nem se fala... Apenas menos de 2% são cristãos. Mas entre eles todos, judeus, palestinos e mulçumanos, exceto os radicais,

que se infiltratam, há respeito. Justificam que os governantes é que querem brigar. O povo, na sua maioria, quer paz. Marcia: Na própria terra de Paulo, Tarso, na Turquia, não há cristãos. Só há duas freirinhas estrangeiras que cuidam do museu, na igreja de Paulo. Essa é a realidade lá. Esta mudança da agência de turismo para o ‘turismo religioso’ foi bem assimilada pelo público? Acham que vocês corriam o risco de serem mal-interpretadas, como oportunismo? Wanda: Tive muito conflito pessoal quando a gente começou. A RW deixou de ser uma agência comum, quase não faz mais outros programas que não sejam espíritas. A gente não consegue mais ter aquela postura comercial, como em qualquer negócio. Fazemos tudo com muito amor, valorizando e torcendo para que toda pessoa que desejar consiga

Wanda: Temos o guia local, que fala da parte arqueológica e histórica, e o professor Severino Celestino, complementando a parte da história, como pesquisador da Bíblia e cristão. Ele também fala com a visão espírita sobre as passagens de Jesus. Em cada ponto importante de nosso roteiro, Jesus deixou uma mensagem; nós muitas vezes até não entendemos o verdadeiro sentido. Por isso a importância do professor, com seu do conhecimento do hebraico e facilidade para ler as fontes originais. Ele diz que é preciso conhecer o povo judeu para compreender Jesus, porque se você não entender os costumes da época, muitas vezes não vai entender a mensagem. Marcia: É o caso por exemplo do salmo: “O senhor é meu pastor e nada me faltará”. O certo é: “O senhor é meu pastor e não me faltará”, o que muda totalmente a nossa compreensão. Não são as coisas materiais que não vão faltar...

As experiências vão calando fundo. Você sente o que é o espírito em evolução” ir. O restante já não importa mais, vem por consequência. Penso: Que coisa abençoada termos a oportunidade de fazer isso, de trabalhar por Jesus, de poder ajudar as pessoas a realizarem algo de bom para si. Tenho imenso sentimento de gratidão. As próprias pessoas que viajam com a gente acabam divulgando nossos programas. O meio espírita hoje reconhece o nosso trabalho. Marcia: Mesmo em situação mais difícil para viagens como agora, com a alta do dólar, digo com toda certeza: a pessoa que deseja mesmo ir, que tem isso na mente, vem e fecha a viagem, porque esse sonho é de muita gente. E muitos sonhos acabam se realizando. Por onde vocês passam? Marcia: Temos toda uma programação. Passamos pelos caminhos por onde Jesus passou, conhecemos os lugares onde ele viveu. Inicialmente pela Galileia, depois pela Judeia...

Wanda: Quando fazemos o Evangelho, todas as noites, onde todos participam, são esclarecidas várias passagens. No lugar da expressão de Jesus, conhecida como “Siga-me” a correta tradução seria “Coloque-se ao meu lado, vamos juntos”, mostrando que devemos segui-lo e nos colocarmos ao seu lado. Faz toda a diferença. E para vocês, o que mais marcou esse tempo todo? Marcia: O mais forte, para mim, foram as experiências espirituais. Indescritíveis! O que eu posso garantir é que muitos de nós estivemos lá, nas bodas de Caná, por exemplo. Calcule então a proximidade que estávamos de Jesus e não o seguimos... A gente se vê na época. São experiências que mostram que muitos de nós já tivemos a chance de estarmos juntos de Jesus e perdemos a oportunidade. Sem culpas, porque não estávamos

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amadurecidos, não sabíamos da importância que ele tinha. O que mudou para vocês fazer este trabalho levando o Brasil cristão ao Oriente Médio? Wanda: Mudou tudo. Primeiro que eu acreditava em Jesus, mas não tinha essa amizade com Jesus. Passei a estudar, estudar in loco, sentir toda aquela energia e aprender a lidar com pessoas, porque é preciso passar o amor, trabalhar o amor entre elas. Aprendemos que temos muito a aprender uns com os outros. Não importa a religião que professem. Não são só os espíritas que fazem coisas boas. Já tivemos no grupo, certa vez, uma católica, jornalista, advogada que trabalhou com o Herculano Pires, que quando contou o que fazia como caridade, deixou todo mundo admirado. Marcia: Para mim mudaram muito as vivências mediúnicas. Hoje sou mais sensitiva. Cada lugar diz muito. As experiências vão calando fundo e você sente o que é o espírito em processo de evolução, de aprendizado contínuo. Nunca vamos atentos ao fenômeno, ao que podemos ou não sentir, mas essas sensações espirituais, essas lembranças, acontecem não só com a gente. Quem vai também sente e passa por essas experiências. Qual a próxima programação? Wanda: Agora em maio vamos pela oitava vez para Israel. O grupo já está se formando. Serão 14 dias de viagem. Vamos pernoitar em Tel Aviv, Tiberíades, Jerusalém e visitar todos os lugares por onde Jesus teria passado: Também Betânia, Jericó e outras. Em junho, vamos à Grécia e Turquia, para fazer os caminhos de Paulo, Pedro, João e Maria. Marcia: De 7 a 9 de outubro, teremos o 8º Congresso Mundial Espírita, em Lisboa, Portugal. Estamos já com muitos inscritos que irão com a gente. Muitos estão optando para ficarem por dez dias para conhecerem outras cidades de Portugal. No final ainda há a opção de seguir para a Itália, para fazer o caminho de Francisco de Assis, e também em, o de Paulo e Pedro. Com tudo isso, só vamos aumentando a nossa grande família. E a união permanece viva, assim como nossos compromissos com Jesus. www.rwturismo.com.br www.correiofraterno.com.br


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coiSAS de lAuRinhA

Por tAtiAnA beniteS

Durma com os anjos N a casa de laurinha, a mãe dá início ao evangelho no lar e explica que todos nós temos espíritos protetores, que nos acompanham desde o nosso nascimento. laurinha ouve com atenção e pergunta: – Mãe, afinal, eles são ou não são anjos? – São espíritos superiores, laurinha, que estão sempre nos auxiliando e torcendo por nós. nós os chamamos de nossos mentores, ou nosso anjo guardião. – Ah! Por isso que todo mundo fala: “durma com os anjos”? – isso mesmo. não deixa de ser

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um pedido para que se tenha o sono guardado pelos bons espíritos, um sono muito bom. – entendi – responde laurinha. – e eles podem estar conosco não só durante o sono, mas principalmente nos momentos difíceis, dando consolo, bons conselhos... – explica a mãe. terminado o evangelho no lar, o pai lembra que já é hora de criança ir para a cama: – Amanhã você precisa levantar cedo – ele lembra. – está bem – conclui laurinha, levantando-se e indo para o quarto se preparar para dormir. não demora e a mãe vai até lá

dar o beijo de boa noite, dizendo o de costume: – durma com os anjos! – hi, mãe, não vai dar! Já tem

a Maga, o dinho, o dengoso, o Fred, meus amigos ursos hoje chegaram primeiro. não vai caber todo mundo.


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JANEIRO - FEVEREIRO 2016 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

A presença de Antonio Schiliró no movimento espírita paulista

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BAÚ DE MEMÓRIAS

Antonio Schiliró: “Não chore, ore”

Por Julia Nezu

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edicado trabalhador da seara espírita e integrante do movimento de unificação paulista, Antonio Schiliró regressou à pátria espiritual no dia 2 de dezembro de 2015, aos 98 anos de idade, deixando o seu exemplo de homem humanista e do bem. Viúvo de dona Lélia, com quem teve dois filhos, Antonio Luiz, engenheiro e Sandra Maria, arquiteta e psicóloga, que lhes derem seis netos, Schiliró era natural de São Paulo, filho de imigrante italiano da Sicília, Vitor Carlos Schiliró, e de Rocchina De Felice. Formado em contabilidade e economia pela Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo, trabalhou durante 40 anos no antigo Banco Nacional do Comércio. Foi professor de contabilidade bancária, membro do 2º Tribunal do Júri de São Paulo, tendo atuado também no sindicalismo, onde ocupou diversas funções nas entidades de classes dos bancários e economistas. Conta Schiliró em suas memórias – não publicadas – que em 1939 foi admitido no Banco onde trabalhava um jovem espírita e que foi conhecer uma sessão mediúnica num grupo familiar, na rua França Pinto, na vila Mariana. Ouvia incrédulo a manifestação psicofônica que ali acontecia, pois vinha de família católica. Mentalmente desafiou o espírito que se comunicava que se de fato o era, que interrompesse a comunicação e lhe dirigisse a palavra e, para a sua surpresa, no mesmo instante o espírito que se identificava como “Vovó Catarina”

virou-se para ele e disse-lhe “o que gostaria de falar comigo?”, e conversaram. A partir disso, passou a frequentar o grupo, que mais tarde foi constituído com o nome de Centro Espírita Obreiros da Fé, Jesus, Maria e José. Instituição Beneficente Nosso Lar Convidado a conhecer a Instituição Beneficente Nosso Lar, no Cambuci, conheceu o médium Spartaco Ghillardi, que o surpreendeu chamando-o pelo nome (estava sentado na última fila) através do qual um espírito se manifestou chamando-o para o trabalho. Ele e sua esposa dedicaram-se intensamente à instituição. Nas memórias registrou o carinho e a amizade pelos amigos do IBNL, por dona Maria Augusta Ferreira Puhlmann, mãe da Nancy Puhlmann, dirigentes e fundadoras da instituição. Mais tarde, Spartaco fundou o Grupo Espírita Batuíra, no bairro Perdizes, dirigindo-a até a sua desencarnação. Instituto Espírita de Educação Representando o Centro Espírita Obra da Fé – Jesus, Maria e José, participou em 1949 do Congresso que deu origem ao Instituto Espírita de Educação. Schiliró diz nos seus registros que se associou à recém-fundada instituição e recebeu a carteira social assinada pelo primeiro presidente, Pedro de Camargo (Vinicius), mantendo-se associado desde então, tendo inclusive assumido o

Com sua esposa, dona Lélia

cargo de tesoureiro, numa época de dificuldade financeira da entidade, como forma de ajudar. União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo Por volta de 1970 foi convidado a participar do movimento de unificação coordenado pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo como assessor de finanças. Em 1972 foi eleito diretor segundo secretário; em 1974 secretário geral, cargo que também exerceu em 1976, 1978 e 1980, a assumindo a presidência em 1982 e reeleito em 1984 até 1986. Na função de secretário geral organizou de forma eficiente a secretaria da USE, informatizando cadastros de órgãos e de centros espíritas e outras ações administrativas. Depois, na presidência, realizou uma gestão de sucesso e entre muitas ações destacam-se o revigoramento das campanhas institucionais da USE, a obtenção da declaração de utilidade pública estadual e municipal e a aquisição da atual sede da USE, no bairro Santana, na zona norte da Capital Paulista. Foi realizado na presidência da USE, em 1986, o 7º Congresso Estadual após

25 anos do anterior, caracterizado pelo pleno exercício da liberdade de pensamento e exposição de ideias, tanto que, mesmo os temas polêmicos que contrariavam o entendimento da USE puderam ser apresentados e debatidos. Schiliró deixou a sua marca de dirigente democrático que dava ampla liberdade às suas equipes de trabalhos. Ao término de sua gestão na USE, legalizou o grupo familiar que dirigia, dando-lhe o nome da mentora que fora médica em sua última encarnação: Grupo Assistencial Espírita Nair Bozzi, para receber crianças na creche, além de outras atividades. Ao se referirem ao pai, os filhos Sandra e Antonio Luiz disseram-me que ele havia deixado todos os documentos em ordem numa pasta e um bilhete recomendando: “não chore, ore”. Também, do seu carinho pela USE-SP. Julia Nezu é presidente da USE do Estado de São Paulo. www.correiofraterno.com.br


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eSPeciAl

Bezerra e a nova visão sobre a

loucura Por Antonio ceSAR PeRRi de cARVAlho

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dolfo Bezerra de Menezes teve intensa atuação em várias atividades espíritas, políticas, empresariais, e jamais deixou de atuar como médico. Em pleno século 19 – contemporâneo de Charles Richet, William James, Jean-Martin Charcot e outros notáveis colegas de profissão, voltados à procura de respostas extraorgânicas nas chamadas ‘pesquisas psíquicas’ e em casos de perturbações psíquicas – Bezerra escreveu um trabalho inédito para os contextos médico mundial e espírita: A loucura sob novo prisma. No final dos anos 1880, como médico e membro da Academia Nacional de Medicina, e consta que direcionado à instituição, Bezerra de Menezes escreveu o citado trabalho abordando um tema delicado e complexo. No estudo, dá ênfase à ‘loucura por obsessão’, isto é, por ação fluídica de agentes inteligentes e extraterrenos sobre a criatura encarnada. O histórico trabalho de Bezerra somente foi publicado em 1920, pela FEB. Na obra, Bezerra comenta sobre a postura tradicional “de que toda perturbação do estado fisiológico do ser humano procede invariavelmente de uma lesão orgânica, os homens da ciência têm até hoje, como verdade incontroversa, que a alienação mental, conhecida pelo nome de loucura , é efeito de um estado patológico do cérebro, órgão do pensamento, para uns; glândula secretora do pensamento, para outros. Nem os primeiros, nem os segundos explicam sua maneira de compreender a ação do cérebro, quer em relação à www.correiofraterno.com.br

função, em geral, quer em relação à sua perturbação, no caso da loucura.” Assim, Bezerra se propõe “a preencher essa lacuna, demonstrando, com fatos de rigorosa observação: que o pensamento é pura função da alma ou Espírito, e, portanto, que suas perturbações, em tese, não dependem de lesão do cérebro, embora possam elas concorrer para o caso, pela razão de ser o cérebro instrumento das manifestações, dos produtos da faculdade pensante.” Define claramente seu objetivo: “Meu estudo limitar-se-á à segunda espécie, ainda não reconhecida, nem estudada no mundo científico. Sobre este importante assunto, cuja simples enunciação já deve ter feito muita gente atirar longe o pobre livro, eu farei meditado estudo, no empenho de tornar patente a causa do mal – a sintomatologia necessária ao diagnóstico, quer do mal (obsessão), quer da diferenciação entre as duas espécies de loucura – e, finalmente, os meios curativos da nova espécie ou obsessão.” No desenvolvimento do livro há três partes bem delimitadas: 1) o pensamento em seu princípio causal e em suas manifestações; 2) relações do nosso Espírito com os Espíritos livres do espaço; donde a loucura por obsessão; 3) a loucura, como caso patológico, determinando-lhe a causa – apreciando-lhe os sintomas; colhendo os elementos para seu diagnóstico diferencial; e prescrevendo os meios com que se deve tentar a cura do terrível mal. Importante é que Bezerra relaciona as suas observações pessoais, das reuniões

que participava no Rio de Janeiro, com O céu e inferno, de Allan Kardec, referindo-se às manifestações de espíritos infelizes que permaneceram muitos anos sentindo-se ligados ao corpo. Também cita casos da Revue Spirite, criada por Allan Kardec. Além de tratar o tema teoricamente, ele robustece com casos selecionados: “Para não alongarmos, porém, este trabalho, citaremos apenas três, que preferimos às demais, por estarem vivas e presentes as testemunhas, caso alguém se abalance a impugná-las.” Bezerra relata os estudos de casos que realizou, recorrendo a reuniões com participação de figuras notáveis como o médium Frederico Pereira da Silva Júnior, Pedro Richard, Antônio Luís Saião, Francisco Leite Bittencourt Sampaio, e outros companheiros da história do espiritismo. Fica claro e, como ele escreveu, com testemunhas vivas, que se curaram da chamada alienação mental, libertando-se dos então ‘hospícios’, com o tratamento espiritual que incluiu o atendimento e esclarecimento de entidades espirituais envolvidas pela

ideia de perseguição e de vingança. Fato marcante foi vivido no seio de seu próprio lar. Bezerra escreveu: “Um de nossos filhos, moço de grande inteligência e de coração bem formado, foi subitamente tomado de alienação mental. Os mais notáveis médicos do Rio de Janeiro fizeram o diagnóstico: loucura; e como loucura o trataram sem que obtivessem o mínimo resultado. Notávamos, nós um singular fenômeno: quando o doente, passado o acesso e entrado no período lúcido, ficava calmo, manifestava perfeita consciência, memória completa e razão clara, de conversar criteriosamente sobre qualquer assunto, mesmo literário ou científico, pois estudava medicina, quando foi assaltado. [...] Desanimados, por falharem todos os meios empregados, disseram-nos aqueles colegas que era inconveniente e perigoso conservar o doente em casa, e que urgia mandá-lo para o hospício. Foi ante esta dolorosa contingência de uma separação mais dolorosa que a da morte, que resolvemos atender a um amigo que havia muito nos instava para que recorrêssemos ao espiritismo.”


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do filho, este veio a desencarnar aos 25 anos de idade, vitimado por febre tifoide, no ano de 1887. A vivência do caso do próprio filho foi um dos fatores que estimularam Bezerra a escrever o trabalho, posteriormente transformado em livro. Lembramos também que embora estudasse o espiritismo, desde a oferta de O livro dos espíritos por seu colega e tradutor, dr. Joaquim Carlos Travassos, em 1875, Bezerra somente se proclamou publicamente espírita no ano de 1886, época em que já se dedicava ao estudo dos casos relatados no livro. Bezerra aborda o tema obsessão em um capítulo específico. Ao final da obra, conclui: “Temos, pois, em resumo, que tudo concorre para tornar evidente a dualidade causal da loucura. [...] Definida a questão, a loucura sob novo prisma, exposta a doutrina onde se encontram as leis que a explicam, vem de molde, e antes de mais, discriminá-la da outra espécie, única até hoje

conhecida: fazer o diagnóstico diferencial.” Interessante é que Bezerra escreveu de uma maneira que o livro não está colidindo e nem ultrapassado com a diversidade das teorias do meio científico e nem com a extensa bibliografia espírita hoje disponível. O livro A loucura sob novo prisma, deve merecer a atenção pela leitura, estudo e divulgação por parte dos espíritas. Quiçá, um dia também tenha o reconhecimento na área acadêmica pelo pioneirismo e ineditismo do tema central, abordado ainda no século 19! Fontes: Menezes, Adolfo Bezerra. A loucura sob novo prisma. Ed.FEB. Wantuil, Zêus. Grandes espíritas do Brasil. Ed. FEB. Orador e escritor espírita, Antonio Cesar Perri presidiu a Federação Espírita Brasileira e o CFN até março de 2015. Leia mais no site www.correiofraterno.com.br

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Estranhas loucuras

Bezerra relata alguns trechos de diálogos ocorridos no atendimento do espírito que atuava como obsessor do filho. Foram muitas reuniões de tratamento espiritual: “O moço era vítima de seus abusos noutra existência, continuou a sofrer a perseguição, e por tanto tempo a sofreu, que seu cérebro se ressentiu, de forma que, quando o obsessor, afinal arrependido, o deixou, ele ficou calmo, sem mais ter acessos, porém não recuperou a vivacidade de sua inteligência. O instrumento ainda não se restabeleceu. [...] o nosso doente, desde que tivemos certeza de ser o mal obra de um Espírito, nunca mais tomou remédios, senão os morais, em trabalhos espíritas, de cerca de três anos. Vê-se, portanto, quanto importa, diante de um caso de loucura, fazer de pronto o diagnóstico diferencial, para que, se for obsessão, não chegue esta a desorganizar o cérebro, que é o órgão atacado pelo obsessor.” Esclarecemos que o filho a que o autor se refere é Antonio, segundo filho do primeiro casamento de Bezerra, nascido em 1862. Depois do tratamento e cura

da RedAÇÃo como médico e espírita, procurando demonstrar que há casos de loucura sem lesão no cérebro, cuja causa é puramente espiritual, bezerra de Menezes explica como se dá a ‘loucura por obsessão’, tentando esclarecer as relações do pensamento com o cérebro. como um dos argumentos irrefutáveis de que o homem não é simples matéria, bezerra lembra o fenômeno da memória, que não se esvai juntamente com a constante renovação das células do corpo físico. eis alguns pontos importantes de sua tese: • em oposição à ‘loucura científica’, essa ação é fluídica, de influências estranhas, inteligentes • A alma é que sente, que recebe, que quer, segundo as impressões que recebe do exterior, e tem ideias e pensamentos sem a intervenção dos sentidos corporais • os fenômenos intelectuais e morais, que se manifestam no correr da vida corpórea, são devidos às faculdades anímicas, e não às propriedades do corpo • A função do corpo, em geral, e dos seus órgãos, em particular, é de simples aparelho ou instrumento da alma • o corpo, como instrumento, bem ou mal aparelhado, são ou doentio, influi sobre o desempenho das funções anímicas • há casos bem verificados de perturbação mental sem lesão orgânica do cérebro, o que diz bem positivamente que a loucura não depende essencialmente do estado mórbido do cérebro • Se obtivermos o desprendimento do espírito, para se manifestar independente do órgão doentio, verificaremos o fato de o ‘louco’ se manifestar com tanta ou maior lucidez • uma função só se perturba, ou por lesão do órgão ou por lesão do agente.(...) Se não estiver no órgão, é preciso procurar a causa do mal fora dele, no agente • A ciência nadará em um oceano de incertezas, enquanto acreditar que a loucura depende exclusivamente do cérebro. (...) distinguir, portanto, uns de outros casos, os que dependem do cérebro dos que nada têm com ele, é facilitar a marcha da ciência, em seu empenho de curar

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VOCÊ SABIA

Lima Duarte, dona Pequena e o espiritismo Por Raymundo R. Espelho

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ator Lima Duarte não perde a oportunidade de voltar às suas origens para recarregar suas energias em terras mineiras, em Sacramento, a cidade natal também do nosso pioneiro do espiritismo, Eurípedes Barsanulfo. Considerado um dos maiores nomes da dramaturgia do Brasil, ele nasceu em

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1930, filho de um boiadeiro de Araguari, MG, Antônio José Martins, e de América Gonçalves Martins, paulista de Orlândia que foi levada na época para ser tratada espiritualmente pelo médium em Sacramento. Ariclenes Venâncio Martins, nome de batismo de Lima Duarte, conta em entrevista que eram todos muito pobres e que Eurípedes conseguiu um emprego para a mãe de zeladora em um centro espírita na cidade de Ribeirão Preto, SP. “Meu pai trabalhava como zelador e minha mãe, por ser médium, participava das sessões espíritas do centro”, ele lembra. Mas os anos se passaram e dona América veio para Santo André, onde eu tive a felicidade de não só conhecê-la, mas de trabalhar com ela. Ela era a administradora na Instituição Assistencial Nosso Lar e eu, voluntário nos serviços de enferma-

gem, no final da década de 1950. Sua vinda se deu através do sr. José Correa Gomes, um dos presidentes da instituição de Ribeirão onde ela trabalhava que, mudando-se para o ABC, presidia agora o Nosso Lar, instituição que dava assistência aos idosos, fundada em 1953. Dedicado aos trabalhos no espiritismo, sr. Correa ajudava em toda causa social na época, inclusive participando do próprio Lar da Criança Emmanuel, fundado por nós e outros companheiros em 1960. Ele trazia para perto pessoas com quem pudesse contar, como o caso de dona Pequena, como nós a chamávamos. Quando foi presidente do Lar da Criança Emmanuel, sr. Correa passava com seu caminhãozinho pelas casas comerciais em São Bernardo recolhendo caixas de papelão, que vendíamos em prol da casa. Assim também fazia com outros

materiais reaproveitáveis das indústrias de carro que foram se instalando em São Bernardo. Era um homem de visão. Mas também dona Pequena soube enfrentar os desafios da vida e o próprio preconceito que sofria na época. Além de espírita, antes de morar em São Paulo, ela sonhava em ser artista e participava de pequenas peças teatrais, na maior parte das vezes com cunho doutrinário, e carregava sempre o filho Ariclenes com ela. Lima Duarte era o nome do espírito de luz que se apresentava à dona Pequena e que o ator acabou adotando como e seu nome artístico. “Com ele, você vai ser muito feliz”, dizia-lhe a mãe. Aos 86 anos e depois de uma vida de sucesso, o ator continua com projetos para os palcos, onde desde pequeno ele realmente se encontrou.


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ARTIGO

Quando os bons quiserem, preponderarão Por Rita Foelker

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s consequências do egoísmo podem ser apreciadas em qualquer nível do relacionamento social. As atitudes egoístas estão nas ruas, nas escolas, nas agremiações, no ambiente de trabalho... Todos falam da crise moral e material em que se encontra nossa sociedade. Temos sentido seus efeitos, mais ou menos intensamente. Em geral, os governos são responsabilizados. No entanto, analisando a questão numa ótica espírita, verificamos que os governos se constituem em meros agentes com poder decisório e que a causa maior das mazelas humanas é o egoísmo. Enquanto não extirparmos o egoísmo dos corações não melhorará a vida na Terra. Não adianta criar boas leis que não são cumpridas, pois as leis não vão consertar o mundo, se as pessoas não se respeitarem mutuamente, nem conseguirem viver como irmãs. Infelizmente, vemos grassarem o oportunismo e a corrupção em todos os escalões do governo. Ignorar estes fatos é pretender viver alienado da realidade. Mas esta triste situação é apenas a parcela evidente da miséria moral da humanidade (evidente, quando a imprensa se interessa e dá destaque). De fato, as consequências funestas

do egoísmo poderiam ser apreciadas em qualquer nível do relacionamento social. As atitudes egoístas estão nas ruas, nas escolas, nas agremiações, no ambiente de trabalho e não competem exclusivamente aos que exercem funções públicas. Perguntamos, então, onde estão os bons que não aparecem? Onde estão os homens e mulheres que apenas desejam o bem comum e vivem conforme os princípios de boa moral? Onde estão as pessoas que não sonegam, nem prevaricam, nem se vendem? Pessoas que apenas tentam viver honestamente? Decerto que existem, que são nume-

rosas e que estão aptas a muito fazerem favor da coletividade. Tem ideias que merecem ser ouvidas e projetos que merecem ser estudados. Pois bem: queremos conhecê-las. Por que não se levantam? Que lhes falta, se tudo quanto desejamos seria poder eleger, confiantes, um homem de bem para cada cargo representativo? Um homem de bem, possivelmente, não resolveria tudo, mas teríamos, pelo menos, a certeza de que estaria se esforçando ao máximo. Queremos crer que estas pessoas estão por aí nalgum lugar incerto e não sabido, desesperançadas ou somente reclamando

das quais não participaram. Elas possuem um poder que desconhecem. Vejamos o que diz a questão 932 de O livro dos espíritos: Pergunta – “Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons? Resposta – por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes quiserem, preponderarão”. Falta aos bons determinação e ação. Iniciativa e coragem. Não pretendemos que todos venham a disputar cargos eletivos, que todos tenham postos no governo – isto é um sonho ainda distante! Mas sugerimos que não se calem, que deem exemplo, que escrevam, que não tenham medo de defender seus ideais. Que os bons trabalhem muito e que façam valer suas convicções. Queremos ver os verdadeiros homens de bem fazerem coisas realmente boas. É nobre orar e vibrar pela solução dos grandes problemas que afligem a humanidade. No entanto, a experiência demonstra que o simples esforço mental não tem sido suficiente. “Onde estão os bons que não aparecem?” Atualíssimo, este texto da escritora e filósofa Rita Foelker foi publicado na edição 253 do Correio Fraterno, em fevereiro de 1992.

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cultuRA & lAzeR

Palestras e seminário com André Trigueiro Palestras Viver é a melhor opção: • Dia 19 de fevereiro, 20h: Centro Espírita Bezerra de Menezes. Rua Municipal, 820, Catanduva, SP • Dia 20 de fevereiro, 11 h: Rio Preto Shopping (sala de cinema). Jardim Morumbi, Rio Preto, SP • Dia 20 de fevereiro, 20h: Comunidade Espírita Cairbar Schutel. Rua Saldanha da Cunha, 748, Centro Matão, SP Seminário Espiritismo e ecologia: • 21 de fevereiro, 20h: Comunidade Espírita Cairbar Schutel. Rua Saldanha da Cunha, 748, Centro Matão, SP

FEV

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Conferência Estadual Espírita no Paraná De 4 a 6 de março, 18ª Conferência Estadual Espírita em Pinhais. Participação de Divaldo Franco, Alberto Almeida, André Trigueiro e Haroldo Dutra. Rod. João Leopoldo Jacomel, 10.454, Pinhais. www.conferenciaespirita.com.br

MAR

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IEEF abre inscrição para cursos modulares O Instituto Espírita de Estudos Filosóficos inicia em março os cursos modulares gratuitos: • A filosofia platônica à luz do espiritismo, sábado, às 14h; • Concepção filosófica de Deus, sábado, às 14h; • Curso de paz, serenidade e finitude, às quartas-feiras, às 19h30. Duração de 2 meses. Rua Mesquita, 789, Jd da Glória, São Paulo-SP. 11- 4324-1846. www.instituto@ieef.org.br

MAR

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10ª Jornada da AME-SP Será realizada nos dias 14 e 15 de maio, das 8h30 às 19h00, a 10ª Jornada da Associação Médico-Espírita, cujo tema será: “Desafiando fronteiras em medicina e espiritualidade. O evento contará com a presença da dra. Sonia Doi (EUA), trazendo a experiência da AME-Internacional. www.jornada2016amesp.com.br.

CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO

Contudo quem não soube a sombra não sabe a luz. E num livro de matemática existencial juntei todos esses problemas insolúveis, com as respostas nas últimas páginas. Mas pra que me debruçar sobre eles, procurando a solução se a própria vida me conduz a resposta final?

Vocação para felicidade Contrariedades? Eu as tenho. E quem não as tem na vida secular ? Escassez de dinheiro? Nem é bom falar Amores não correspondidos? Separações? Rejeições? Saudades incuráveis? Carinhos reprimidos, ternuras guardadas, sem a contra parte do outro? Eu tenho aos montões. Sou a rainha das perdas, necessárias ao meu crescimento. e A n l l d n A A R u o P M P l e R S c

R S o P M R t d e A A A b u o A R A A e

u d e l u F o i o P R o b l e M A S t R

o u u c e G S n M o t u e u t P o o S R

l o n n u R S h V i c b R e b o M P o A

k M h t t l P e t A d i V R c t V Q P A

J z o u c c A i o e R V o n e e e u S l

A c c b d t R R i t o e n i R R R e e o

S d h A e A V o u M P R A i n h A u R A

u R e e A G b M A n l i o e u b S A o t

o e A u S R o o e o i o M R o o z n n R

Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Fragmento do poema de C. Drummond de Andrade

M M S i l t P c R c V A A X i i S o u e

b o A A b o l X t V R n e z A n o P F b

e h P A z A i e S b o c S S S e h M i i

R n o u X d A R M e A e A A e R n o n e

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n i u P o b S o u n e t R o V d R i l o

o o i i P n P i o M R A A M c c A u A M

i P R o i o Ã Ç u l o S V i R t c d t A

M o V b n i t t b o o Q n o t o M e e S

u R z c u M R V c M n u P e n M n t o S

o t S A M o R e S n i e e R J o e M P o

ENIGMA

Quem disse a frase: “Sois deuses”? qualquer hora, em qualquer lugar

Solução do Passatempo

Veja em: www.correiofraterno.com.br

Resposta do Enigma: A frase é do Salmo 82:6 do Antigo testamento. Foi citada por Jesus (João 10:34), quando os judeus o acusaram de blasfêmia por afirmar ser o Filho de deus. Seu objetivo era mostrar que a própria escritura já utilizava esse mesmo termo para demonstrar nossa comunhão essencial com o criador.

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Telefone de Jesus Na era digital Pai, seria tão legal se tivesse internet no plano espiritual, né?

por quê, laurinha?

Região do ABC Retirada de doações para o bazar Permanente ligue (11) 4109-8938 www.correiofraterno.com.br

Seria mais fácil me comunicar com meu mentor... Às vezes acho que a nossa conexão cai!


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ARTIGO

O médium referência em materializações no Brasil Por Fabiano Possebon

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médium Francisco Peixoto Lins (conhecido como Peixotinho) nasceu em Pacatuba, Ceará, em 1º de fevereiro de 1905. Em 1919, com quatorze anos, partiu para o Amazonas. Trabalhou durante seis meses nos seringais. No ano seguinte, de volta ao Ceará, foi acometido por uma dura e grave obsessão. Sofreu uma paralisia nas pernas, sem uma explicação plausível, e também letargia, isto é, uma morte aparente. A paralisia durou seis longos meses. Certo dia foi dado como morto e até velado. Só não foi sepultado graças à intervenção de seu pai, que tivera um pressentimento de que ele poderia estar vivo. Recebeu ajuda sob a orientação da Federação Espírita Cearense e, posteriormente, do orador espírita Vianna de Carvalho. Felizmente, o jovem Peixotinho conseguiu a cura das obsessões. Em certa ocasião, ocorreu com ele um fato bem insólito: desmaterializou-se, isto diante de várias pessoas e materializou-se novamente numa praia distante. Em 1926, mudou-se para o Rio de Janeiro e engajou-se no Exército. Casou-se em 33 com Benedita, apelidada de Baby. Teve um filho e oito filhas. Em novembro de 35, nasceu Aracy, que desencarnou com apenas um ano e seis meses. Vejam que interessante! Mais tarde, ela tornou-se guia e Espírito protetor do pai. A partir de 1938, começaram a ocorrer em Macaé, RJ, fenômenos de ectoplasmia (materialização). Os companheiros espíritas uniram-se em torno do médium Peixotinho e fundaram o Grupo Espírita Pedro. Aí o nosso biografado tornou-se médium receitista: fazia prescrições homeopáticas.

Depois de algum tempo, foi transferido para o Rio de Janeiro e, em sua residência, ocorreram as primeiras materializações nessa cidade. Sua reforma no Exército foi efetivada em 1952, com a patente de capitão. Então, passou a dedicar-se integralmente ao espiritismo. Um dos fenômenos que presenciou foi o transporte de pedras e cristais (algumas impregnadas de perfume). O espírito José Grosso [sempre presente nesses trabalhos de materialização na época, juntamente com Palminha, Scheilla, Joseph Gleber] é quem costumava levar essas pedras. Este é um fenômeno raro, que recebe o nome técnico de aporte. Nas sessões ocorriam tratamentos espirituais, às vezes cirurgias e muito estudo de livros espíritas. Certa vez, Irmã Scheilla materializou-se completamente. Digo completamente, pois muitas materializações ocorriam de forma parcial. Ela apareceu luminosa, colocando a mão nas pessoas. Outro fenômeno também ocorria: frases escritas com letras fosforescentes flutuavam no ambiente escuro. Certa feita, Scheilla distribuiu um buquê de cravos, vermelhos para os homens e brancos para as mulheres, isto em plena obscuridade. Em muitas sessões foram vistos focos luminosos em várias direções e de diversas cores, notadamente vermelha, azul e amarela, havendo também comunicação de escrita direta do espírito no papel, sem qualquer caneta ou lápis por perto. Um hino foi escrito por Scheilla em mensagem dita especular, isto é, de trás para a frente, só podendo ser lida diante de um espelho ou do lado inverso do papel, contra a luz. Com Peixotinho aconteciam coisas incríveis: com uma das mãos psicografava mensagem de teor científico e, com a

Irmã Scheilla e Peixotinho: presenças marcantes em reuniões de materializacão

outra, de teor filosófico, enquanto transmitia mensagem psicofônica. Então, três espíritos concomitantemente ‘ocupavam’ o mesmo médium. Peixotinho desencarnou em 16 de junho de 1966 em Campos, RJ, depois de uma vida mediúnica que mostra muito

bem que as verdades espíritas são possíveis de ser comprovadas cientificamente. Considerado um dos maiores médiuns de materializações de espíritos do Brasil, o leitor poderá encontrar na bibliografia abaixo mais informações sobre ele, fotos e desenhos de espíritos, como Scheilla, José Grosso, Aracy e Joseph Gleber, além de imagens de acervos dos dois museus do Peixotinho (Campos e Rio de Janeiro). Dossiê Peixotinho, Lamartine Palhano Jr e Wallace F. Neves, Lachâtre, 1997. Fabiano Possebon é funcionário público, psicólogo por formação, escritor e articulista.

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FOI ASSIM

O índio apegado ao seu passado Por MADALENA FRUAD

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m 1985, fui pela primeira vez com meu marido para o sul do Brasil. Passamos por diversas cidades, lugares lindos, com contato inesquecível com a natureza, céu azul maravilhoso, ambientes aconchegantes e bem-estruturados. Tudo indicava que teríamos dias e dias de passeios só de lazer, descanso e alegria. Em um dos dias, depois de horas de estrada, chegamos a um dos nossos destinos: a cidade de Florianópolis, SC. De carro, entramos no hotel pelo acesso dos fundos, pelo estacionamento. Já bem instalada, à medida que as horas passavam, ao contrário do bem-estar de antes, alguma coisa dentro de mim mudava. Não me sentia bem no lugar. Uma aflição estranha me invadia a alma, deixando-me angustiada sem saber o motivo. Nos divertimos no dia seguinte, mas o aperto no coração foi se intensificando ao en-

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tardecer novamente e me acompanhou até a hora de dormir. Fiz minha prece e pedi proteção espiritual para minhas horas de descanso. Entretanto, dormi agitada e acabei sonhando com um índio, que estava muito bravo e exigia que saíssemos dali. Eu via o índio em sua tribo, terra batida, num local circundado por um rio. E a ameaça dele continuava. Acordei assustada e contei o pesadelo ao meu marido. Descemos para o café da manhã e, quando fomos deixar a chave do quarto na portaria do hotel, não acreditei: O hotel tinha um nome indígena. E ao olhar pela janela, o rio sinuoso estava lá, bem na perspectiva em que eu havia visto em sonho. A informação final veio logo, quando perguntei sobre o quadro com um índio na parede

atrás da recepcionista. Dizem que neste lugar moravam índios antes. Deduzi que aquele índio com quem sonhei estava insatisfeito e apegado, tanto tempo depois de desencarnado, ao passado, requerendo para si o que julgava ainda ser suas terras. Fizemos uma prece vibrando muita luz para aquele espírito. Para que ele pudesse ser socorrido e orientado sobre sua condição. Somente depois disso é que comecei a me sentir melhor, aproveitando minhas férias com muita alegria. O socorro, com certeza, havia chegado para todos nós. Este fato aconteceu com a leitora paulista Madalena Fruad. Conte também sua história para ser publicada aqui no Correio Fraterno. (redacao@correiofraterno.com.br)


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DIRETO AO PONTO

Autoconhecimento e disciplina do pensamento Por UMBERTO FABBRI

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prática da reforma íntima, de modificação e melhoria de nossos sentimentos e atitudes, deve ser encarada como um processo necessário e urgente, todavia, sem sistematizar a autoflagelação, ansiedade, pressa ou culpa. Quanto mais simples, tranquila e objetiva, mais sadia e eficaz ela será. Podemos observar dois aspectos importantes para seu desenvolvimento; o mental e o afetivo. No aspecto mental, efetivamos sua aplicação pelo conhecimento e estudo. Trabalhando a razão no entendimento de sua necessidade e utilidade, ampliamos nosso discernimento nas questões sobre o bem e o mau, do certo e do errado, possibilitando assim utilizarmos mais adequadamente nosso livre-arbítrio. Na Codificação encontramos as orientações e explicações que nos levam a conhecer e compreender a realidade de nossa natureza espiritual e o caminho que precisamos percorrer para alcançarmos nosso destino de perfectibilidade. Já no aspecto afetivo trabalhamos o desenvolvimento dos bons sentimentos, nos relacionamentos que fazem parte de nossa vida e também na prática

do bem, buscando atender às necessidades de nossos semelhantes que estejam em situação de maior vulnerabilidade, moral ou material. Os dois aspectos se completam, uma vez que precisamos usar a razão no controle e bom direcionamento de nossos sentimentos e emoções. Vejamos, por exemplo, quando aliamos a razão e o sentimento na prática da caridade percebemos que as questões materiais não devem ser tratadas de forma assistencialista, mas sim caridosa, onde precisamos oferecer condições de crescimento digno, ‘ensinando a pescar’, e não de forma a se criar a dependência nociva ‘dando o peixe’. Aqui percebemos que o entendimento nos auxilia a bem direcionar a maneira mais útil e abrangente de fazer o bem. O autoconhecimento, ou seja, a observância realista do que vai em nosso íntimo, é primordial. Vejamos sinais que demonstram que algo não está bem e precisa ser acompanhado mais de perto, quando não, realmente modificado: • Sentir-se infeliz, pouco estimulado ou rejeitado • Estar desmotivado ou descontente com

aquilo que produz • Buscar constantemente o afastamento do convívio social • Irritar-se ou deprimir-se com frequência • Trabalhar excessivamente por ganância ou desejo de projeção social • Pensamentos fixos na busca por prazeres: sexo, jogo, comida, uso de substâncias químicas, etc. • Pensar sempre somente em si mesmo • Não suportar críticas ou contestações • Considerar-se inferior ou superior aos demais • Desejar o domínio e o controle de pessoas, coisas ou circunstâncias • Padecer de fobias ou inibições que prejudiquem seu convívio com outras pessoas • Usar o próximo para satisfazer desejos ou conseguir vantagens. É evidente que em nosso momento evolutivo atual podemos vivenciar uma ou várias destas situações, entretanto reconhecer tal fato já representa um grande avanço para sua solução. Emmanuel nos diz que “é necessário reconhecer que todos nós, espíritos encarnados e desencarnados em serviço na Terra, ante o volume dos débitos que contraímos nas existências passadas, somos

doentes em laboriosa restauração”, o que nos leva ao entendimento de que todos nós, enfermos da alma, estamos em busca da saúde, do restabelecimento físico e espiritual, mas, para tanto, é necessário “compreender e modificar” o que ocorre em nossas vidas, e segundo Sidarta Gautama, ou Buda, precisamos deixar para trás o círculo vicioso de reencarnar, não cuidar de si mesmo, permanecer adormecido na indiferença buscando apenas o bem-estar na vida terrena, desencarnar e reencarnar outra vez. Podemos ainda citar Emmanuel que diz: “Entre o berço e o túmulo, o homem detém o usufruto da terra, com o fim de aperfeiçoar-se”, que nos esclarece que não estamos aqui a passeio, mas em importante tarefa de crescimento e aprendizado, onde não somos ‘donos’, mas usufrutuários dos bens e possibilidades ofertados misericordiosamente por Deus, que nos ama, e sabe que um dia conquistaremos a bondade e o saber plenos. Profissional de Marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor do livro O Traficante e Amor e Traição, ditados pelo espírito Jair dos Santos (Correio Fraterno).

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CORREIO FRATERNO

JANEIRO - FEVEREIRO 2016

MÍDIA DO BEM Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Rally leva livros ao sertão nordestino

Carros, motos, quadricículos disputam o Ceriapó 2016, um rally que já se transformou em uma das maiores competições off-road da América Latina e que vai percorrer 1.300 km nos estados do Ceará e do Piauí. Pelo segundo ano consecutivo, os carros do rally levarão 10 mil livros para a população de Maranguape (CE), Quixadá (CE), Pacoti (CE), Iguatu (CE), Picos (PI) e Ipiranga (PI). A ideia, batizada de Rallyteca, foi apresentada pela produtoras piauienses Adriana Araújo a Magda Krauss, do Instituto Cultural Saber e Ler, de Campinas, no interior paulista. “Por ser da região, conheço a realidade e sei o quanto as cidades que recebem o Rally são carentes de saber e de cultura”, disse entusiasmada Adriana. Esse ano, dezoito editoras estão participando.

Fonte: Publishnews

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Ana se formou em jornalismo para ser ‘porta-voz da macrocefalia’

Ana Carolina Cáceres, de Campo Grande (MS), desafiou todos os limites da microcefalia previstos por médicos. Eles esperavam que ela não sobrevivesse. Hoje, Ana tem 24 anos. “Quando li a reportagem sobre a ação que pede a liberação do aborto em caso de microcefalia no Supremo Tribunal Federal (STF), levei para o lado pessoal. Me senti ofendida. Tenho microcefalia e escolhi este curso para dar voz a pessoas que, como eu, não se sentem representadas. Como projeto final de curso, escrevi um livro sobre minha vida e a de outras cinco pessoas com esta síndrome.” E avisa: microcefalia não é doença, é síndrome.

Fonte: Portal Uol

Zelo com a cultura

Um menino de 10 anos abriu um museu sobre Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, morto muito antes do estudante nascer: em 1989, aos 76 anos. O espaço criado por Pedro Lucas Feitosa fica na sala da casa de sua bisavó, no Ceará. O museu reúne cerca de 100 objetos que recriam a época em que Gonzagão viveu. São discos do artista, sanfonas, ferramentas de trabalho e utensílios que fazem parte do universo cantado por Luiz Gonzaga. Pedro Lucas guia as visitas no local, contando a história de cada objeto do museu, função que divide com o primo, Caio Éverton, de 8 anos. Os bens exibidos no museu são fruto de doação de conhecidos. Fonte: Só Notícia Boa


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