Correio Fraterno 471

Page 1

ISSN 2176-2104

CORREIO

FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA Ano 49 • Nº 471 • Setembro - Outubro 2016

Entrevista

Isolamento solamento social Um desafio para as relações humanas O psicólogo Alan Della Bella adverte sobre o comportamento cada vez mais comum que tem causado transtornos muito mais preocupantes do que se imagina. Leia nas páginas 4 e 5.

Morte: a necessidade de se preparar para ela A pesar de morrer fazer parte das leis naturais e imutáveis da vida, pensar na morte não faz parte de nossos hábitos mais frequentes. Os questionamentos sobre ela nos sobressaltam quando, pegos de surpresa, vemos partir um parente, um vizinho, um amigo, um ídolo. Foi o que aconteceu com a morte recente do ator Domingos Montagner, ao desaparecer nas águas do Rio São Francisco. Nesses momentos, a fragilidade da vida e sua temporalidade tomam vulto em nossa mente e intensificam a comoção generalizada. Evidenciam a falta de compreensão sobre o lado espiritual da vida e a necessidade de vivermos mais conscientes sobre ela. Leia mais nas páginas 8 e 9.

Os portugueses no movimento espírita brasileiro

Conhecer Allan Kardec e suas obras mudaria para sempre a vida de Jacques, o jardineiro.

Portugal e Brasil estão muito mais interligados do que pela mera relação entre países colonizador e colonizado. Chico Xavier teve os ‘seus’ textos publicados pela primeira vez por dois portugueses. São também fortíssimas as ligações entre o português Leão Pitta e Cairbar Schutel e Jeronymo Ribeiro e Anália Franco. Leia mais na página 13.

O centenário de Jorge Andréa Autor de mais de 30 livros sobre aspectos científicos da doutrina, o psiquiatra baiano Jorge Andréa completa cem anos e lança mais um livro. Leia homenagem ao escritor na página 7.

Romance 176 páginas R$ 30,90

www.correiofraterno.com.br 11 4109-2939


2

CORREIO FRATERNO

setembro - oUtUbro 2016

eDItorIAL

Deseducados para a

Uma ética para a imprensa escrita

morte

A

falta de sentido na vida é um dos motivos que têm levado o homem às maiores dúvidas sobre a própria finalidade de estar vivo. Viver para quê? Mas a lei divina, que está imanente na Criação, nos convida a pensar pela observação da Natureza – o que vive, morre. São reflexões simples que surgem quando nos deparamos com a morte – seja de um parente, um amigo, alguém famoso. A morte sempre assusta com sua chegada inesperada, levando-nos a pensar em nossa vida, que também pode ser ceifada no próximo segundo. Com a morte recente do ator Domingos Montagner não foi diferente. Por que

foi daquela forma? E se ele não estivesse lá? E se ele tivesse outra profissão? Hipóteses e dúvidas não faltam nessa hora, percebendo-se o quanto estamos ainda deseducados sobre o que há de mais certo na vida: morrer. O filósofo J. Herculano Pires pensou bastante no assunto e escreveu o livro Educação para a morte, que agora é relançado num trabalho conjunto pelas editoras Correio Fraterno e Paideia. “Só o espiritismo pesquisou objetivamente o fenômeno da morte e pode esclarecê-lo”, escreve o autor, lembrando que os que quiserem saber o que ela é, não têm outro caminho, senão estudar o espiritismo, sem a necessidade, inclusive, de se

CORREIO DO CORREIO O direito à vida Adorei ler a entrevista da menina Ariel [edição 470. “Não aborte. Dê seu filho para mim”]. É preciso ter coragem para fazer o que ela faz. Ainda mais num mundo onde o que vemos prevalecer é o egoísmo, a satisfação pessoal. Emocionante também o depoimento

da americana [“Filha do estupro, não. Filho de Deus”]. Parabéns. Esmeralda Pain, Santos, SP Sempre achei muito simplista a ideia de que a mulher é dona de seu corpo e tem o direito de fazer o que quiser. Seu direito

em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

tornarem espíritas. Este é o assunto principal desta edição, que também alerta, na entrevista com o psicólogo Alan Della Bella para os riscos do isolamento social, da falta que o abraço faz para que a vida seja mais prazerosa e fraterna. Vale a pena pensar sobre isso tudo. Boa Leitura! Equipe Correio Fraterno não ultrapassa o fato de sermos todos filhos de Deus. Ruth Almeida Fragasso, por email A entrevista com a ativista Ana Ariel realmente levantou assuntos importantes, que precisam entrar mais vezes nas pautas das discussões sociais. E a doutrina espírita tem a sua rica contribuição a dar, incluindo a realidade espiritual e a amplitude do significado da vida. Obrigada sempre, por estar com a gente! Equipe Correio Fraterno.

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

CORREIO

FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118

Presidente: Izabel Regina R. Vitusso Vice-presidente: José Natal Inácio Tesoureiro: Olímpia Iolanda da S. Lopes Secretário: Vladimir Gutiérrez Lopes Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP

www.correiofraterno.com.br

JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Administração/financeiro: Raquel Motta Comercial: Magali Pinheiro Comunicação e marketing: Tatiana Benites Auxiliar geral: Ana Oliete Lima Apoio de expedição: Osmar Tringílio Impressão: Gráfica Mar Mar

Telefone: (011) 4109-2939 E-mail: correiofraterno@correiofraterno.com.br Site: www.correiofraterno.com.br Twitter: www.twitter.com/correiofraterno Atendimento ao leitor: sal@correiofraterno.com.br Assinaturas: entre no site, ligue para a editora ou, se preferir, envie depósito para Banco Itaú, agência 0092, c/c 19644-3 e informe a editora. Assinatura anual (6 exemplares): R$ 48,00 Mantenedor: acima de R$ 48,00 Exterior: U$ 34.00 Periodicidade bimestral Permitida a reprodução parcial de textos, desde que citada a fonte. As colaborações assinadas não representam necessariamente a opinião do jornal.

• Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. serão um meio de esclarecimento. • se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2016

3

Acontece

Suicídio Falar para prevenir Da redação

E

m seu terceiro ano seguido, a campanha mundial do Setembro Amarelo, realizada com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a prevenção do suicídio, vem ganhando força na sociedade, reunindo cada vez mais simpatizantes e abrindo espaço para a devida discussão do tema, nem sempre tão fácil de ser abordado. A Associação Internacional para Prevenção do Suicídio vem incentivando a divulgação da campanha, vinculada ao dia 10 do mesmo mês, no qual se comemora o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Realizada por entidades médicas, sociais, filantrópicas e afins, como a Associação Médica Brasileira, Associação Brasileira de Psiquiatria, Conselho Federal de Medicina, Federação Nacional dos Médicos e CVV, dentre outras, no Brasil, a iniciativa do Setembro Amarelo tem conseguido quebrar o maior preconceito que envolve o suicídio: não se falar sobre ele. Neste ano, além dos prédios e monumentos iluminados de amarelo, também foram feitas ações de rua, como caminhadas, passeios ciclísticos, motoatas e abordagens em locais públicos de várias cidades. Segundo Antonio Carlos Braga, que representou o CVV no Seminário Valorização da Vida — realizado pela Associação Médico Espírita de Osasco, no dia 10 de setembro, em São Paulo —, é preciso abrir espaço para a informação sobre o assunto. “Perder emprego, um problema conjugal, uma decepção, não podem ser

consideradas causas isoladas de um suicídio. Isso é somente o final de um processo”, destacou, enaltecendo a importância de se desenvolver a habilidade de ouvir as pessoas, como faz o CVV há 54 anos, nos seus 76 postos espalhados pelo Brasil, que reúnem cerca de dois mil voluntários. “Em 1962, quando o CVV assumiu seu trabalho como entidade filantrópica, falavam em torno de 800 suicídios por dia no mundo. Hoje os dados falam em cerca de 3 mil suicídios por dia”, lembrou Antonio Carlos Braga. Espírita, ele também destacou que, além da prevenção, é preciso socorrer os que já partiram para o mundo espiritual através do suicídio e outras mortes violentas. A lembrança sensibilizou algumas entidades espíritas do Brasil a lançar recentemente uma cartilha (agora também em inglês e espanhol) para informação e orientação sobre esses trabalhos, visando ampliar o socorro espiritual. “Se o Brasil é o país que reúne o maior número de casas espíritas, que já têm a experiência e o trabalho do diálogo fraterno com encarnados, por que não pode também intensificar o socorro a esses espíritos nas reuniões mediúnicas?”, pergunta Antonio Carlos. Para ilustrar, ele recomenda a leitura do capítulo 6 do livro Memórias de um suicida, FEB, um clássico na literatura espírita, onde existe a citação de que alguma coisa precisava ser feita para socorrer os espíritos suicidas que, recolhidos nos leitos, sequer percebiam a presença das equipes

CVV: Mobilização para o Setembro Amarelo em diversas cidades do Brasil

de socorro, dado o estado de torpor em que se encontravam. E a proposta é que tivessem contato com grupos mediúnicos para que recebessem o choque de vibrações para o despertar. Direitos autorais para o CVV Em setembro de 2015, o CVV iniciou o atendimento pelo telefone 188, primeiro número sem custo de ligação para prevenção do suicídio. Inicialmente implantado como teste no Rio Grande do Sul e com perspectivas para ampliação em todo território nacional, a iniciativa já possibilitou aumentar em quatro vezes o número de chamados, passando e 4 mil para 17 mil ligações/mês naquele Estado. Segundo o CVV, desde o ano passado — quando a editora Correio Fraterno oficialmente entregou à entidade a doação dos direitos autorais do jornalista André Trigueiro, autor do livro Viver é a melhor

opção – até julho deste ano, os recursos transferidos custearam 46% das despesas da implantação da linha direta 188, com a contratação de sistema de PABX virtual e despesas com links telefônicos da Embratel. A expectativa agora é conseguir sensibilizar as empresas envolvidas a doarem seus serviços. Também engajada no projeto de prevenção do suicídio, a editora Correio Fraterno realizou durante todo o mês de setembro a venda promocional do livro Viver é a melhor opção, favorecendo ainda mais o acesso à obra, que já chegou à tiragem dos 35 mil exemplares. Para acessar a cartilha: prevencaodosuicidio.com.br/correio/gaes/ www.correiofraterno.com.br


4

CORREIO FRATERNO

setembro - oUtUbro 2016

entreVIstA

Isolamento social

Um desafio para as relações humanas Por eLIAnA hADDAD Alan Della Bella: “Ainda precisamos do abraço, do olho no olho, do ombro amigo, da escuta particular, do afago e de todos os caprichos da condição humana”

O

número de pessoas que buscam o atendimento fraterno com problemas de saúde mental nas casas espíritas tem superado em muitas vezes o das instituições hospitalares e de cuidados específicos. com uma demanda crescente, que tem como vilões, muitas vezes, o uso abusivo de álcool e outras drogas e o índice cada vez maior de depressões, pânico e ideações suicidas, a Associação médico-espírita vem atuando com seus profissionais através da divulgação da importância de se considerar a visão integral da vida, como forma de prevenção, que extrapola o convencional das práticas adotadas pela medicina atual. o psicólogo Alan Della bella, como um dos incentivadores dos projetos do Departamento de saúde mental da Ame-brasil, adverte nessa entrevista sobre um dos assuntos que tem causado transtornos muito mais preocupantes do que imaginamos: o isolamento social.

www.correiofraterno.com.br

Como reconhecer os primeiros indícios do isolamento social? Alan: Mesmo diante de um momento de muita tecnologia para a comunicação social, temos nos isolado do mundo. Tenho a impressão de que ao curtir uma foto ou mandar uma mensagem de otimismo, nos desincumbimos da cordialidade de um contato pessoal e seguimos sozinhos e amoitados em nossos celulares e computadores. Percebemos um grande número de pessoas em sofrimento de solidão, isolando-se do mundo real e enveredando para a companhia de álcool e outras drogas, como fuga social e mecanismo de alienação psicológica. Por horas, ficam navegando na internet, sendo preciso enorme esforço para conversações de qualquer assunto. Precisamos de muita atenção para notar os primeiros indícios de isolamento, buscando uma aproximação afetiva além dos momentos, como refeições em família, festas, eventos sociais, trajetos programados de deslocamentos etc... É preciso ampliar a escuta, a fim de perceber a atuação do indivíduo no seu protagonismo espontâneo, entendendo suas queixas e formas de lidar com os desafios que lhe surgem. O isolamento social é uma doença? Ele é causa ou efeito dos quadros depressivos? O isolamento social, para ser entendido como algo patológico, requer uma investigação acurada dos prejuízos causados à vida da pessoa, avaliando-se minuciosamente o comprometimento biopsicossocial decorrente desse comportamento, além de considerar o período de sua instalação. Pode ser entendido como um sintoma dos quadros depressivos. Nesse sentido, na maioria dos casos, é um efeito. Não obstante, há quem busque isolamento social como proposta terapêutica aos enfrentamentos pessoais.

Como estimular o cultivo a atividades que exijam maior socialização? É mais fácil o engajamento naquilo que nos interessamos, naquilo que nos dá prazer. Para favorecer o cultivo a atividades sociais daquele que tem se isolado de forma nociva, é preciso apresentar-lhe sugestões que vão ao encontro do que ele se afiniza. Daí a necessidade de buscar uma aproximação que evidencie seus gostos e suas inclinações. Conhecendo-o na intimidade e entendendo suas questões, temos melhor noção do que poderemos lhe oferecer, na ampliação de seu vínculo ao convívio social. As redes sociais nos aproximam ou nos afastam socialmente? Depende da pessoa que se utiliza dessa ferramenta. O que temos percebido é um afastamento social. Infelizmente temos feito mau uso das redes sociais, pois embora tenha aumentado a comunicação e as descobertas, o afeto tem diminuído e, por nossa constituição psíquica, ainda precisamos do abraço, do colo, do olho no olho, do aperto de mão, do ombro amigo, da escuta particular, do conselho verbal, do carinho, do afago e de todos os caprichos da condição humana. Qual a importância de se cultivar “um milhão de amigos”? A rede social não retrata nossas amizades. Trata-se apenas de uma vitrine virtual humana destituída de afetividade. Por vezes, não encontramos um amigo sequer nos milhões de seguidores. Em minha opinião, não existe nada de importante nesse cultivo, uma vez que não atende aos nossos íntimos anseios existenciais. Podemos dizer que o contato pessoal, o olho no olho, o abraço, estão se transformando em coisas do passado, como sustentáculos das relações pessoais? Sim, temos nos tornado imediatistas. O mundo contemporâneo tem se transformado num palco de corrida desenfreada na busca de coisa nenhuma. Uma tentativa de conquistar o inatingível, um sonho de atingir uma perfeição que, em nossa constituição humana, é um devaneio, uma ilusão impossível, graças à nossa condição imperfeita. Não nos bas-


CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2016

tamos, precisamos do outro. Somos seres sociais e, quando nos dermos conta disso, faremos melhor uso das redes sociais e retomaremos as rédeas do único rebanho referido por Jesus, onde amar, dar afeto, acolher, será mais importante do que receber amor ou do que ter um milhão de “amigos” nos seguindo em redes sociais. A evolução pelo exercício da caridade, em sua essência, não cabe na restrição do mundo virtual. Qual o papel da família na percepção dos sintomas de isolamento? A família é de suma importância, nosso primeiro núcleo social, nosso grande compromisso espiritual e, muitas vezes, nosso vínculo de necessidades. Nesse sentido, é dela que esperamos as percepções mais sutis do isolamento social. Uma família vinculada, ainda que apresente suas dificuldades afetivas, deve ser funcional no interesse do outro e, quando me interesso, me comprometo e me sinto responsável no cuidado, no zelo, na proteção, no estímulo, no apoio, no acolhimento e na escuta, lançando mãos nessas ferramentas indispensáveis ao desvelamento dos sintomas. O isolamento social tem alguma relação com a idade? A incidência do isolamento social é maior em idosos, talvez por conta de uma restrição em suas redes sociais e da dificuldade de acessos por debilitações físicas e mentais. Todavia, esse problema tem se ampliado em todas as idades, inclusive em crianças. O isolamento social é uma questão que merece maior problematização das instituições de saúde, colocando em discussão os sintomas e ampliando as reflexões e intervenções a esse respeito. O isolamento pode ser uma defesa contra as críticas, o bullying, a constatação dos nossos limites? Pode ser uma fuga aos desafios pessoais. Quando há baixa autoestima, insegurança, com restritos conhecimentos sobre si e suas capacidades, tende-se a eleger o isolamento, em detrimento do enfrentamento às críticas, aos próprios limites. A esquiva ao que toca, ao que sensibiliza, ao que desconforta, ao que dói não resolve as questões sociais, psicológicas e outras, que tendem a se aprofundar, agravando

consideravelmente o estado emocional e causando importantes prejuízos mentais. Psicologicamente, qual o papel das relações interpessoais para o equilíbrio da mente e do corpo? As relações interpessoais oferecem o espelho de quem somos. Só é possível a evolução pessoal na proposta filosófica do “vença-te a ti mesmo”. A única chance de aprimoramento individual consiste na lapidação das más inclinações e esse aprimoramento moral requer o contato com o outro para a percepção das necessidades pessoais.

há solidão. Torna-se mais difícil encontrar sentido existencial na superficialidade da vida. A depressão é esse vazio que pressiona, vazio que ocupa espaço degenerativo, que furta a mobilidade, que destrói o interesse, que causa o isolamento social e a fuga de si. A vida virtual é superficial, apressada, desinteressada, egocêntrica e fútil em sua falta de profundidade e em sua realidade paralela. É a lacuna onde os sintomas depressivos encontram morada.

ma e nos deslocamos do protagonismo materialista para um lugar solidário em sociedade. Saímos do imediatismo dos interesses pessoais para o envolvimento em causas mais edificantes. O comportamento antes inconformado diante dos percalços atrozes, torna-se amistoso e resignado, graças ao ponto de vista espiritualizado e direcionado na certeza da justiça divina, em tudo o que nos acontece e na imortalidade da alma.

O suicídio, prevenível em 90% dos casos, por ter como principal causa problemas de ordem men-

A religiosidade nos faz menos solitários? Sim, sobretudo a religiosidade intrínseca, a que nos coloca em sintonia com as máximas proferidas por Jesus: “não fazer a outrem o que não quer para si e amar ao próximo como ama a si mesmo”. Quando enveredamos por esses trajetos, nos tornamos solidários, participativos, inclusos, responsáveis, caridosos e experimentamos as consequências do altruísmo, que se transforma no antídoto contra a solidão.

Não podemos progredir sem a descoberta de quem somos e isso só é possível na verdadeira interação social” A vida digital está transformando as nossas relações para melhor ou pior? Não podemos generalizar. Muitas pessoas transformaram sua vida social para melhor, pois não se renderam à vaidade do rótulo e abriram espaço para ampliação do contato com os seus. Isso não é, porém, o que acontece com a maioria, que piorou suas relações, em virtude do mau uso da rotina virtual, seja porque tornou-se usuário compulsivo e restringiu sua possibilidade de trocas sociais, ou mesmo porque livra-se do interesse real pelo outro a um simples clique virtual. Mais de 120 milhões de depressivos no mundo (17 milhões só no Brasil). Por que tanta depressão? Estamos depressivos porque nos colocamos isolados. Onde não há solidariedade,

5

tal e emocional, poderia ter um novo olhar, se o convívio social fosse mais intensificado? Sem dúvida. Esse novo olhar tornaria possível a identificação dos comportamentos que favorecem o autoextermínio, diminuindo consideravelmente essa problemática que só faz crescer e que deixa o Brasil na incômoda posição de oitavo lugar no mundo em número de ocorrências dessa natureza, sem ter muitas vezes com quem dividir fraternalmente as angústias, os desafios. Qual o papel do conhecimento da espiritualidade para a melhoria da vida em sociedade? Fundamental. Muda tudo. Quando nos conhecemos numa abordagem espiritual e colocamos em prática esse conhecimento, nosso referencial se transfor-

Podemos progredir sozinhos? Acredito que não. O progresso, ainda que seja a vitória sobre si mesmo, se dá no contato com o outro. Como vencer as sombras sem isso? Como mensurar a ampliação da tolerância sem considerar as diferenças? Como avaliar a vitória sobre os comportamentos de julgar, invejar, revoltar, envaidecer e todos os ‘pecados capitais’ sem o contato com o outro? Não podemos progredir sem a descoberta de quem somos e isso só é possível na verdadeira interação social. O orgulho e o egoísmo têm parte na questão do relaxamento dos laços sociais? O orgulho e o egoísmo são chagas que prejudicam nosso protagonismo e comprometem nossa reencarnação em todos os sentidos, dentre os quais, os laços sociais. Tanto um como o outro, em seu significado epistemológico, são antagônicos ao que entendemos como laços sociais, pois divergem da ideia de compartilhar, de dividir, de solidarizar, de incluir etc... Nesse sentido, eles favorecem o relaxamento dos laços sociais e acenam para uma atuação individualista, onde os caprichos pessoais e os interesses individuais se sobrepõem aos anseios de ordem coletiva. www.correiofraterno.com.br


6

CORREIO FRATERNO

setembro - oUtUbro 2016

coIsAs De LAUrInhA

Por tAtIAnA benItes

O carma A

professora pede para os alunos fazer uma pesquisa sobre que é carma e explica: – tragam por escrito, em poucas palavras, na próxima aula. os alunos saem empolgados e comentando: – eu vou perguntar para minha mãe – diz Pedro. – eu vou perguntar para o meu avô – diz Aninha. – Vou falar com a minha tia, ela vive dizendo que tudo é carma e eu nunca sei o que é isso – diz Jorginho. – Vou falar com os meus pais – diz Laurinha. – eu vou ver na internet, lá tem tudo que eu preciso, aposto que tem até o que é carma – comenta rita, que é mais velha e adora computador. todos vão para suas casas com a lição para fazer.

www.correiofraterno.com.br

Laurinha chega em casa e pergunta aos seus pais: – Preciso fazer uma pesquisa sobre carma e escrever em poucas palavras o que isso significa. Vocês podem me ajudar? – carmas são as experiências da vida, as dificuldades, Laurinha, que vão surgindo, quase sempre ligadas às nossas vidas passadas. no centro chamamos de expiações ou lei de causa e efeito. elas nos levam a aprender e a progredir. – Vixe! não entendi nada. Quem espia, mãe? o pai de Laurinha, que é mais paciente, resolve explicar à filha: – essa expiação não é a de olhar, que é com “s”. essa é com “x” e significa reparar uma falta. – Ah, é por isso que dizem: “pagar por esse erro, nem que seja em outra vida”, não é? – pergunta Laurinha. – Pagar, não, Laurinha. As expiações

apagam as faltas, por nos ajudar em nossa melhora, a crescer em sentimentos. mas isso não é um castigo, senão Deus não seria bom, nem justo. – Ah, tá! É uma forma de aviso pra gente não fazer mais aquilo... – Isso é carma? entendi, mas essa explicação ainda está muito grande. A professora disse que queria uma explicação com poucas palavras. Laurinha pensou, pensou e disse: – Já sei! – e começou a escrever no papel. sua mãe muito interessada disse: – Deixe-me ver o que você escreveu, Laurinha. e ela pegou o papel que estava escrito: “cArmA é como se fala cALmA no interior”. Tatiana Benites é autora dos livros tem espíritos no banheiro e tem espíritos embaixo da cama (Ed. Correio Fraterno)


CORREIO FRATERNO

setembro - oUtUbro 2016 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

Cem anos de Jorge Andréa

7

bAÚ De memÓrIAs

Jorge Andréa é presidente de honra do ICEB, Rio de Janeiro, autor de mais de 30 livros sobre os aspectos científicos da doutrina espírita

Por cÉsAr soAres Dos reIs

J

orge Andréa é um homem com ideias avançadas que unem ciência, filosofia e comportamento. Um homem dotado de uma religiosidade essencial. Um homem raro com o qual temos o privilégio de conviver. Sua vida, agora centenária, é uma permanente e lúcida pesquisa. Mas é também uma constante afirmação de que qualquer pesquisa feita nas fronteiras do conhecimento se caracteriza por não se ter ideia aonde ela poderá chegar. O trabalho de Jorge Andréa mostra sua perseverante busca em relação a um tema fundamental: a transformação da visão do homem que acontece na ciência e se projeta na sociedade. Nos anos 20 do século passado, Jorge era ainda muito jovem, mas Heinsenberg e Bohr observaram que o mundo não é uma coleção de objetos distintos. Ao contrário, assemelha-se a uma teia de vibrações que se relacionam entre as diversas partes de um todo, que é uno. Jorge Andréa demonstra que cada célula é, em si, um pequeno mundo, nesse mundo que é o ser humano, e faz parte da sua teia de relações. Isso cria uma nova cartografia da psique com seus núcleos que se assemelham a fontes que transformam energia potencial em dinamismo essencial. As

ondas mentais desdobram-se percorrendo todo o organismo, caracterizando pontes entre a estrutura psíquica e a organização material do ser. Há, portanto, correlações espírito-matéria, em vários níveis, estabelecendo-se transições entre energia coagulada, a matéria, e o espírito. As energias espirituais projetam-se permanentemente no corpo de carne, destacando-se o papel da pineal como antena, ao mesmo tempo de captação e de distribuição de vibrações, desde as mais sutis às mais densas entre limites que ainda serão conhecidos e mensuráveis. Ele nos aponta uma questão básica: seus estudos nos levam a uma nova concepção da criatura humana e, por extensão, à busca de uma nova realidade social porque compreender o ser é compreender sua estrutura complexa, seus medos, seus desejos, sua fragilidade, sua força, sua história sabida e não sabida. Aí Jorge se aproxima de Joanna de Ângelis com a psicologia que trata da transpessoalidade. E nós nos perguntamos, atônitos, como é possível transcender o pensamento sem abandonar o compromisso com a ciência. Não é, talvez, o dilema de todas as religiões? Essa procura da transcendência sem

perda da visão científica, aproxima Jorge Andréa de Aksakof, Geley, Bozzano, Richet, de Rochas, Delanne, Myers, Lodge e, mais modernamente, Hernani Guimarães Andrade, Jung, Wilber, Grof. Também não podemos esquecer de Emmanuel em A caminho da luz e de André Luiz, sobretudo em Evolução em dois mundos, abrindo as janelas da vida cósmica do ser humano, como diria Hermínio Miranda. Jorge Andréa dos Santos é médico psiquiatra, formado na Universidade Federal da Bahia, oficial da Aeronáutica e presidente de honra do Instituto de Cultura Espírita do Brasil. No Instituto, em ambiente de estudo e pesquisa, Jorge tornou-se admirado pela alegria, pelo humor fino, pela humildade e modéstia e pela sabedoria extrema. Mais do que ensinar as complexidades espírito-perispírito-corpo e suas inter-relações, ele é o homem bom, o homem de bem, exemplo vivo do melhor que a doutrina espírita pode produzir em nós.

Jorge Andréa demonstra que somos seres espirituais, embora estejamos num corpo físico. Com seu olhar cósmico ele nos diz que temos um bilhete, intransferível, para os elevados níveis da consciência plena. No entanto, chegaremos mais depressa interagindo, compartilhando, como o fazem as células, por mais pequeninas e passageiras sejam. Um homem que, aos cem anos, lança um livro científico de alta qualidade, Do outro lado da matéria - Enigma da vida, com mais de setecentas páginas, é um homem raro a quem nos cabe sempre reverenciar. César Reis é diretor-presidente do Instituto de Cultura Espírita do Brasil.

www.correiofraterno.com.br


8

CORREIO FRATERNO

esPecIAL

MORTE

A necessidade de se educar para ela Por eLIAnA hADDAD

M

orrer, assim como nascer, é apenas uma etapa da vida. Afirmação fácil para os espiritualistas que admitem haver algo além do corpo físico, e certeza absoluta de todos que sabem que dela não escaparão, a morte não é assunto assim tão simples e confortável de se lidar. Perguntas sobre ela também não faltam: O que acontece no exato momento em que morremos? Para onde vamos exatamente? Reencontraremos parentes e amigos? Como ficará a saudade dos que tanto amamos? O medo, a fantasia e o mistério do desconhecido ocorre justamente pela falta de educação que se tem sobre a morte, assunto que motivou o filósofo J. Herculano Pires (1914-1979) a analisar melhor esse assunto. Ele atribui muito do desespero de quem fica e da insegurança de quem vai à essa lacuna ‘lamentável’ que se criou no conhecimento humano sobre um ato natural, que faz parte da lei divina. “A morte não é uma opção, nem uma possibilidade, é uma certeza, nosso fim inevitável”, alerta o escritor espírita logo no início de uma de suas mais importantes obras, Educação para a morte , relançada pela Correio Fraterno juntamente com a editora Paideia. Herculano lembra que foi Allan Kardec quem primeiro cuidou do assunto objetivamente, através de uma pesquisa psicológica ‘exemplar’ sobre o fenômeno da morte. “Por anos seguidos falou a respeito com os espíritos dos mortos. E, considerando o sono como irmão ou primo www.correiofraterno.com.br

da morte, pesquisou também os espíritos das pessoas vivas durante o sono. Isso porque, segundo verificara, os que dormem saem do corpo durante o sono. Alguns saem e não voltam: morrem”, explica. Outro ponto importante por ele observado é que a falta de conhecimento sobre a morte leva os espíritos desencarnados a perturbações que poderiam ser evitadas. Afinal, a experiência advinda das comunicações mediúnicas de inúmeros espíritos atormentados e perdidos mostra quanto sofrimento simplesmente pelo fato de se desconhecer que o corpo físico é que morre, enquanto a vida é para sempre, manifestando-se através de um corpo mais sutil, que Kardec chamou de perispírito, com propriedades específicas, mudando-se apenas o meio, na condição de desencarnado.

Apesar do fato de morrer fazer parte das leis naturais e imutáveis da vida, não se pensa na morte de forma tão frequente, muito menos se dedica a ela de modo a aprofundar-se em estudá-la. Os questionamentos, porém, são inevitáveis, quando se depara com ela. A morte nos pega de surpresa. De repente, lá se foi um parente, um vizinho, um amigo, um ídolo, e a realidade volta a burilar o raciocínio, os sentimentos.

A falta de compreensão sobre o lado espiritual da vida muitas vezes nos leva a respostas imediatas e simplistas, quando na verdade há muito a se entender sobre a vida do espírito mortal. Explica Herculano Pires que a educação para a morte não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do Céu. “É um processo de ajustar os

A consciência do ser e do seu destino Seria estranho, e até mesmo irônico que, num Universo em que nada se perde, tudo se transforma, o homem fosse a única exceção perecível, sujeito a desaparecer com os seus despojos.” J. Herculano Pires, Educação para a morte


CORREIO FRATERNO

JAneIro - FeVereIro 2016

9

Domingos Montagner

LIVROS & CIA. Editora Paideia – Versátil Vídeo Telefone: 11 3670-1950 www.dvdversatil.com.br Herculano Pires – um convite para o futuro de Edson Audi 2 DVDs 72 minutos

Linhas tortas Por André Trigueiro

educandos à realidade da vida que não consiste apenas no viver, mas também no existir e no transcender.“ E lembra o poeta Vinícius de Moraes: “O homem que vive sem tomar conhecimento desse processo, passou pela vida e não viveu”. Para ele, é preciso desenvolver em nós a consciência da morte para aprendermos a morrer com “decência e dignidade”. Lembrando que Jesus já havia nos deixado a mensagem da vida eterna, que fora de-

turpada e mal compreendida, o filósofo assinala que a vida só terá sentido quando servir de preparação para vidas melhores. “Os segredos da morte nos são agora racionalmente acessíveis. A morte marca o limite da tarefa que nos foi confiada e nos transfere para o plano de avaliação de nós mesmos e do que fizemos. O renascimento resulta desse balanço final de uma existência e nos prepara para a seguinte. Méritos e deméritos de tudo quanto fizermos será exclusivamente nossos”, reforça ele, convidando-nos, assim, para a verdadeira educação num curso contínuo do bem viver.

Foi assim com Ayrton senna... Foi assim com os mamonas Assassinas... está sendo agora com Domingos montagner. Quando pessoas famosas, queridas do público, no auge das respectivas carreiras, com um futuro auspicioso pela frente, partem subitamente de forma violenta e inesperada, sobrevêm a dor e a perplexidade. mesmo sendo a única certeza que temos em vida, a morte por vezes parece desprovida de qualquer sentido. Parece que Deus nos testa não apenas a fé, mas a capacidade de entender que nossa partida desse mundo pode acontecer a qualquer momento, de forma inusitada, inesperada, surpreendente, pelo menos para nós. Por linhas tortas, inscreve-se nessas tragédias a mensagem divina de que o tempo é precioso demais. De todos os instantes da vida, qual será o derradeiro? Até quando teremos a condição de realizar nossos sonhos e projetos, curtir as pessoas amadas, nos desculparmos com quem errou conosco e pedirmos desculpas àqueles a quem fizemos sofrer? mergulhados na existência, a distração parece ser a regra, e a dispersão nos conduz pelas correntezas da vida. melhor lembrar que estamos aqui de passagem, e que cada segundo tem o seu valor. Feliz daqueles que, como Domingos montagner, preencheram a vida de amor, alegria e talento.

Um diálogo com um espírito – A ideia da morte causou-vos terror? – Tinha bastante fé em Deus para que tal não sucedesse. – O desprendimento foi doloroso? – Não. Isso que denominais últimos momentos, nada é. Eu apenas senti um rápido abalo, para encontrar-me logo feliz, inteiramente desembaraçado da mísera carcaça. – E que sucedeu depois?

– Tive o prazer de ver aproximarem-se inúmeros amigos, notadamente os que tive a satisfação de ajudar, dando-me todos as boas-vindas. Ao lugar em que ora me encontro não se chega senão depois de uma série enorme de provas, ou de encarnações.

Editora EME – Editora CEU Telefone: 19 3491-7000 www.editoraeme.com.br Correio do além de Emmanuel e espíritos diversos psicografia de Francisco Cândido Xavier 208 páginas 14x21 cm

Marcos Alves www.facebook.com/cdmarcosalves Amanhecerá de Marcos Alves CD com 19 faixas 65 minutos

Instituto Lachâtre Telefone: 11 4063-5354 www.lachatre.com.br Eu queria ser Allan Kardec de Mauro Camargo 256 páginas 14x21 cm

Este é apenas um dos diálogos que existem no livro O céu e o inferno (Allan Kardec), sobre os diversos níveis de evolução. www.correiofraterno.com.br


10

CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2016

LEITURA Caroline de Ávila (à direita): o abraço dos amigos em noite de autógrafos na livraria Saraiva, BH

Carmem de Sevilha O sonho pela liberdade Por Izabel Vitusso

D

ia 15 de setembro, a escritora e jornalista Caroline de Ávila reuniu amigos e convidados na Saraiva Megastore Shopping Diamond Mall, em Belo Horizonte, para o lançamento de seu livro Carmem de Sevilha, recém-lançado pela Correio Fraterno, que retrata o amor de uma jovem pela dança e pela liberdade, a ponto de se tornar conhecida por toda a Europa, no século 19. A história foi inspirada pelos espíritos Clara e padre Rolim e revela a caminhada da dançarina, seus sofrimentos, aprendizados e superação, após anos de rebeldia e dor. “Tenho aprendido muito com essas e outras histórias que me remetem ao passado. Independentemente de nossas ações pretéritas, hoje tendo boa vontade para fazer o bem, tudo pode mudar em nós”, analisa a auto-

www.correiofraterno.com.br

ra, entre amigos e autógrafos em noite de festa. “Comecei desde muito cedo o contato com a espiritualidade. Desde pequenininha, sentia a presença e conversava com o espírito Clara, que me acompanha sempre. Nasci com uma atrofia no nervo do olho direito e enxergava muito pouco. Clara me instruía com exercícios, diariamente, para que eu não ficasse com o olho paralisado ou com consequências mais graves. Deu certo! “Sempre tive a bênção de boas companhias ao meu redor, que nem sei se mereço. Elas me ajudam a concluir o que é preciso. Sou feliz por ser de alguma forma instrumento para levar consolo, servir à espiritualidade. “O trabalho com Cristo não é fácil. Mas o trabalho sem Cristo é muito mais difícil. O fardo é leve, o jugo é suave. A vida sempre nos ensina.”


CORREIO FRATERNO

setembro - oUtUbro 2016

11

QUem PerGUntA QUer sAber

Por que os espíritos se comunicam? Da reDAção

O

s espíritos, encarnados e desencarnados se comunicam o tempo todo. Isso porque sua linguagem é o pensamento, atributo do ser inteligente. É através do pensamento e pela vontade que os espíritos se influenciam mutuamente, modificando o ambiente em que vivem através de sintonias diversas. Por isso Allan Kardec, quando perguntou se os espíritos (desencarnados) interferiam no nosso pensamento, obteve como resposta: muito mais do que se imagina. No livreto O espiritismo em sua mais simples expressão (1862), Kardec faz uma exposição sumária dos ensinamentos dos espíritos e suas manifestações, salientando que geralmente se faz uma ideia completamente falsa do que sejam os Espíritos.

Nunca entendi a necessidade da comunicação dos espíritos com os vivos. Por que os espíritos se comunicam com os homens? Antonio José Bentuim, Recife, PE

“Eles não são, como muitos imaginam, seres abstratos, vagos e indefinidos, tampouco algo como uma faísca ou uma centelha, mas ao contrário, são seres muito reais, que possuem sua individualidade e uma forma determinada”. Ora, através da sua manifestação, tantos deles reconhecidos como parentes e amigos, os espíritos vêm demonstrar a continuidade da vida após a morte, dando provas de sua existência e demonstrando que somente os seus cor-

VocÊ sAbIA?

pos físicos pereceram, mas que continuam vivos, mantendo sua individualidade. Encontram-se aqui, junto de nós, vendo-nos e observando-nos como durante sua existência física, dispensando seus cuidados àqueles que amaram e cuja lembrança para eles também era uma satisfação. O espiritismo revela que os espíritos são uma das forças da natureza, não são seres à parte da Criação. Também que a observação, através das comunicações,

demonstra que, no geral, os Espíritos se manifestam prazerosamente e revelam satisfação em saber que os que aqui ficaram não os esqueceram. Comunicam a sua nova situação, o motivo de suas alegrias e de suas tristezas e sofrimentos, contando a maneira como deixaram a vida física, seus hábitos, temperamentos, sua visão precisa do mundo invisível. Essas comunicações permitem também uma visão geral do que encontraremos no futuro, mostrando que aqui nada termina, que tudo continua, convidando-nos a uma responsabilidade muito maior dos nossos atos aqui e agora. Fonte: O espiritismo em sua mais simples expressão, de Allan Kardec, FEB.

Por eDUArDo cArVALho monteIro

Anália Franco e o carinho do padre Euclides

A

educadora Anália Franco, que se entregava de corpo e alma à prática do bem, havia chegado há poucos dias a Ribeirão Preto, SP, acompanhada da banda musical Operárias do Bem, formada por moças e meninas pertencentes a um orfanato da cidade mineira de Uberaba, MG. Viera a convite do líder espírita Alexandre Gomes de Abreu. Na cidade, Anália Franco procurou conhecer pessoalmente o padre Euclides Gomes Carneiro, cuja fama de caridoso já havia transposto os limites daquela cidade. Porém, tratando-se ela de uma espírita, os dirigentes da Sociedade Legião Brasileira receavam que algo de desagradável pudesse verificar-se quando padre Euclides, como era

de seu hábito, chegasse à instituição. Demonstraram, por esse receio, que ainda não conheciam bem o virtuoso sacerdote. Anália, ao vê-lo chegar, foi ao seu encontro, cumprimentando-o respeitosamente, mas sem exagero, ao mesmo tempo que lhe dizia: “ Padre Euclides, vim a Ribeirão Preto para aprender com o senhor a prática da caridade”. “Dona Anália”, respondeu o sacerdote, “a senhora está enganada. Não veio aprender, mas sim ensiná-la. Eu tenho esta batina, que me abre muitas portas e até mesmo muitas bolsas. A senhora professa uma doutrina tão nobre quanto qualquer outra, mas ainda pouco compreendida, o que lhe dificulta os passos. Mas eu e a senhora seguimos

o mesmo caminho, procurando minorar o sofrimento. Esta é a verdadeira lei de Deus”. Depois desse encontro, o mal-estar dissipou-se por completo e a cordialidade reinou entre os presentes, demonstrando que a caridade, quando verdadeira, como a praticaram o padre Euclides e Anália Franco, une os corações e os transporta ao criador. No dia seguinte, era o padre Euclides quem visitava Anália Franco e as Operárias do Bem. E foi ele recebido com vivas demonstrações de simpatia. Sua visita tinha uma finalidade: levantar-lhes o primeiro donativo que receberiam em Ribeirão Preto. Fonte: Anália Franco, a grande dama da educação brasileira, Ed. Eldorado Espírita.

www.correiofraterno.com.br


12

CORREIO FRATERNO

setembro - oUtUbro 2016

cULtUrA & LAzer

AGENDA

CARTA ENIGMÁTICA DO CORREIO

Festival de Música Espírita de São Bernardo Acontece dia 22 de outubro, às 17 horas, a final do Festival de Música Espírita de São Bernardo do Campo. Local: Teatro Cacilda Becker, praça Samuel Sabatini, 50. Realização: Conselho Espírita de S. Bernardo do Campo. www.femesbc.com.br. – www.youtube.com/femesbc

OUT

ENIGMA

22

Quando e onde Allan Kardec assistiu pela primeira vez aos fenômenos das “mesas girantes”?

Mostra Espírita de Pernambuco Nos dias 22 e 23 de outubro a Federação Espírita Pernambucana realiza a 25ª edição da Mostra Espírita de Pernambuco. Terá a participação de: Yasmin Madeira, Sandra Borba, Jorge Godinho Nery (presidente da FEB). Participação também da orquestra de violões Inspiração e Paz e do dueto Cordas Vivas. Local: Rua João de Barros, 1629, Espinheiro, Recife, PE. Auditório Lírio Ferreira, da FEP. www.federacaoespiritape.org

OUT

22

Mostra de Arte e Cultura Espírita NOV de São Gonçalo Será realizado de 1 a 15 de novembro, na cidade de São Gonçalo, a 1ª Mostra de Arte e Cultura Espírita. Durante o evento, acontece também a 1a Feira do Livro Espírita. Local: Casa das Artes Villa Real. Rua Cel. Moreira César, S/N, São Gonçalo, RJ. Realização: 37º Concelho Espírita de Unificaçãode São Gonçalo. Informações: secretaria@ceusg.org. br NOV Feira do Livro Espírita USE Campinas Acontece de 12 a 20 de novembro, das 8 às 19 horas, a Feira do Livro Espírita USE Campinas. Local: Largo do Rosário, Centro, Campinas, SP. Inf.: (19) 3241-1148. www.usecampinas.org.br

qualquer hora, em qualquer lugar

1

Solução do Passatempo

_ _ _ _ _ _ _ _, _ _ _ _ _ _ _ _ _____ ____ ______ ______

12

10

NOV

27 Chá-Bazar beneficente

O evento mais aguardado! Dia 27 de novembro, a partir das 14:30h

Artesanatos belíssimos, peças exclusivas e preços especiais.

Local: Salão do Lar, na Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955, S. Bernardo do Campo, SP – Tel.: (11) – 4109-2939

www.laremmanuel.org.br www.correiofraterno.com.br

Veja em: www.correiofraterno.com.br

Resposta do Enigma: Foi em maio de 1855, na França, na casa de mme. Plainemaison.

Encontro Nacional Espírita de SurDEZ dos e Ouvintes Será realizado dias 10 e 11 de dezembro, na Seara Bendita Instituição Espírita, o 2º Encontro Nacional Espírita de Surdos e Ouvintes. Local: Rua Demóstenes, 834. Campo Belo, São Paulo, SP. O evento tem apoio da USE do Estado de São Paulo. Informações: www.searabendita.org.br.

Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Pagar o mal com OBEM não entendi direito essa palestra “Pagar o mal com OBEM”...

por que, filha?

porque nunca vi esse dinheiro que vem escrito OBEM pra eu poder pagar alguém...


CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2016

13

ANÁLISE

Uma história luso-brasileira Batuíra

Os colonos portugueses surgiam no novo mundo comprometidos com uma religiosidade altamente definida pelo culto e ritual da Igreja Católica, de onde retiravam o temor a Deus, mas ainda não o apelo ao amor, instituído por Jesus. Essa falta de compreensão das lições do mestre Nazareno levou a que os europeus em geral, e os portugueses em particular, chegassem aos novos horizontes encontrados para lá do imenso mar, com as falhas maiores do Velho Mundo, nomeadamente o esclavagismo. Mas como o Universo se aproveita até do mal para criar o bem, os escravos trazidos das terras africanas vêm trazer mais um elemento determinante para a fixação de uma nova ideia de Deus e de Homem no mundo: a idealização da liberdade suprema, como meta maior. A reunião destas realidades, diferentes, mas surpreendentemente convergentes, fizeram do Brasil um terreno ímpar para a implantação de uma nova doutrina. Por isso é muito justo dizer que apesar da chegada de outros europeus (incluin-

A história viva do espiritismo, Washington Nogueira Fernandes

P

edaços de história existem que pela sua importância e mais elementar justiça merecem ser recuperados. Esse é o caso da narrativa por trás da participação de espíritas portugueses no movimento espírita brasileiro. Uma história que, ainda que contada parcialmente por alguns cantos do Brasil, é praticamente desconhecida em Portugal e necessita ser integrada numa realidade histórica mais ampla. Essa tem sido uma causa que abracei e que desde 2014 transformei num pequeno livro: Uma história luso- brasileira1. Esse esforço de recuperação da memória espírita em plagas de Santa Cruz passou recentemente por uma viagem que fiz pelo Brasil e que tentarei agora converter numa nova obra. Muitas são as versões acerca da chegada da mensagem espírita às terras de Vera Cruz. Umas destacam a importância de sociedades secretas que teriam aberto as portas a uma visão não sacerdotal ou dogmática das questões fundamentais para a evolução espiritual da humanidade. Outras evidenciam a importância do surgimento dos estudiosos do magnetismo e das energias, como por exemplo os médicos homeopatas (um francês e um português que chegaram ao Brasil em meados do século 19). Qualquer uma destas versões tem algo de verdade, mas acreditamos que a semente teria sido implantada muito antes e até aí tendo em conta as peculiaridades e idiossincrasias do povo português como elemento aglutinador de etnias que já pontificavam nas terras brasileiras e outras que foram para aí trazidas pelos colonizadores portugueses. Os indígenas do Brasil tinham uma proximidade com os ritmos e espíritos da natureza que naturalmente abriam portas a uma ideia de espiritualidade não ritualizada.

A história viva do espiritismo, Washington Nogueira Fernandes

Por paulo mourinha Inácio Bittencourt

Leão Pitta

do franceses) ao Brasil e da presença de brasileiros no Velho Continente que naturalmente trouxeram com eles também a mensagem espírita, sem embaraço da verdade podemos afirmar que, da França ao Brasil, há uma história portuguesa. Existem ligações de tal forma fortes entre os países, que por vezes parecem fazer parte de um todo global. Por exemplo, grande parte dos homens e mulheres aqui biografados foram imortalizados no seu país de adoção através de ruas, jardins, centros, asilos, hospitais e escolas. Fernando Lacerda, um dos maiores médiuns que o espiritismo conheceu, foi emissário de trovas e poesias de muitos dos imortais que viriam a se manifestar na grande obra do maior médium do século 20: Chico Xavier. Não terá sido também por acaso que o mesmo Chico Xavier teve os ‘seus’ textos pela primeira vez publicados por dois portugueses: Inácio Bittencourt e José Machado Tosta. São também fortíssimas as ligações entre Leão Pitta e Cairbar Schutel, Jeronymo Ribeiro e Anália Fran-

co. Também não é por acaso que André Luiz nos revela que a colônia Nosso Lar, que se encontra sobre a cidade do Rio de Janeiro, foi fundada por portugueses. Do Rio Grande do Sul ao Ceará, homens como Simões de Mattos, Batuíra, Inácio Bittencourt, Jeronymo Ribeiro, José Borges dos Santos, entre tantos outros, fizeram a diferença, por sua abnegação e amor. Essa foi a força maior da diáspora portuguesa, que soube aproveitar as terras imensamente férteis do rincão brasileiro. Por isso dizemos que hoje, como ontem, a legião de espíritos amigos e compromissados com a expansão da doutrina dos espíritos continuará a atravessar a atlântica massa de água para benefício da Humanidade. A história luso-brasileira irá continuar… Federação Espírita Portuguesa, 2015.

1

Paulo Mourinha é português. Em São Paulo, participou do 12º Encontro Nacional dos Pesquisadores de Espiritismo, ENLIHPE, apresentando parte de sua pesquisa. É neuropsicólogo e homeopata. www.correiofraterno.com.br


14

CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2016

FOI ASSIM

Nas profundezas dos sentimentos Por GIOVANNI BERNINI

Q

uando eu tinha nove anos, passei por uma experiência traumática. Fui submetido a uma cirurgia das amígdalas. Lembro-me sentado numa cadeira, com os pulsos atados, como se fosse um condenado. Comecei a inalar aos poucos o éter. Senti muito medo do que viria pela frente. Mas, será que fiquei amarrado mesmo, ou foram fantasias em torno do meu medo? Mas de uma coisa eu tenho certeza: Quando acordei, tive uma sensação muito estranha, um enorme mal-estar. Queria explicar para os meus pais o que estava sentindo, também sobre os pesadelos que tivera, mas não encontrava palavras. Algum tempo depois, quando estava sozinho, voltava aquela mesma sensação, a que eu comecei a chamar de “ausência”, ou, simplesmente, “a coisa”. Com o tempo, comecei a ficar re-

www.correiofraterno.com.br

traído, fugindo das pessoas. Na adolescência, continuei retraído, achando que todos descobririam que eu não estava bem. Será que era orgulho? Depois de muito tempo, descobri que não era só depressão, mas um quadro de obsessão. Hoje sei que a cirurgia foi apenas a gota d’água de uma crise que iria acontecer, mais cedo ou mais tarde. A obsessão estava subjacente. Obsessão e depressão caminharam juntas. Hoje, com cinquenta e dois anos, estou casado, com uma filha, amigos. O que faço para me manter bem, longe da depressão e mesmo da obsessão? Leio bastante, estudo, assisto a bons filmes, escrevo, ouço boa música. Enfim, me ligo no mundo. Porque não podemos ficar o tempo todo rememorando experiências me-

nos felizes ou situações que nos afligem. Não podemos permanecer numa atitude imatura e comodista de transferir para os outros ou as circunstâncias a responsabilidade pelo que está em nós. Temos que detectar a causa profunda e não ficar na superfície dos sentimentos. A verdade é que o perdão, a compaixão, a compreensão são sentimentos que nos proporcionam um imenso benefício. São atitudes básicas, palavras-chave. Também não posso me esquecer de agradecer sempre a Deus por tantos valores e bênçãos que possuo. É preciso enfrentar de cabeça erguida os problemas, fazer trabalhos voluntários, pertencer a alguma comunidade, buscar concentração, autoconfiar. Entender que os outros não são obrigados a corresponder às nossas expectativas. Preciso respeitar os outros. Todo mundo tem limita-

ções, tenho também as minhas. Frustração, mágoa, depressão, orgulho. Tudo isso acaba com a gente! Preciso me lembrar sempre das coisas boas que absorvi: tratar todo mundo igual, ser responsável, cumprir a palavra dada, seguir em frente com galhardia, saber perdoar, entender que há males que vêm para o bem. Ajuda bastante a conscientização de que somos pessoas falíveis, ainda inexperientes e inseguras... Espíritos a caminho da evolução. É preciso nos dar sempre novas oportunidades. A psicologia e as psicoterapias me auxiliaram bastante, assim como o Neuróticos Anônimos. Mas algo me ajudou e continua me ajudando muito. Ele é fundamental e chama-se ESPIRITISMO.


CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2016

15

DIRETO AO PONTO

Medo da morte Por UMBERTO FABBRI

O

medo e todos os seus derivados estão de certa forma ligados aos nossos sistemas de defesa. Nosso instinto de preservação nos alerta sobre as possíveis situações que oferecem risco à nossa integridade. E isto até certo ponto é saudável, mas quando o medo passa do estado de alerta para os níveis mais altos, como a fobia, por exemplo, este pode se tornar patológico e altamente prejudicial, pois passamos a perder a condição da racionalidade e da realidade que nos cerca. Um dos grandes medos da humanidade é o temor da morte. Sim, a grande maioria dos seres humanos receia a morte. Mesmo entre nós, espíritas, que cremos no processo da reencarnação, apesar de sabermos como funciona na teoria, não desejamos vivenciar a parte prática. Não por que não acreditemos na sobrevivência da alma, mas sim, por desagrado em abandonar situações que de certa forma dominamos, aqueles a quem amamos e estruturas que levamos anos para montar e conquistar. Nossa vida segue determinado curso, ao qual estamos acostumados, temos receio do novo, sofremos pelo apego, nos habituamos com o que temos, e muitas vezes até com o que não nos agrada ou faz bem, pois já aprendemos a conviver com estas circunstâncias. Vivemos em uma agradável zona de conforto... Todavia, existe um fato que não pode-

mos empurrar para debaixo do tapete: a evolução! Sim, a evolução que tanto almejamos se fará principalmente frente às novas experiências. Novos cenários, amores, aprendizados, vivências e para que tudo isto se efetive precisamos mudar; inclusive de corpo, de dimensão, cultura, religião, sexo, sociedade, etc. Aceitar a realidade das transformações e trabalhar nossos receios nos trará maior capacidade de enfrentamento, de adaptação às situações que não estão sob nosso controle, mas de Deus e das inteligências espirituais que trabalham para nos ofertar novas possibilidades de crescimento, individual e coletivo.

Quando possuímos um grande medo e deixamos que nos domine, já estamos vivendo dentro dele, damos espaço e ele acaba fazendo parte de nosso dia a dia. Segundo o Evangelho, o medicamento para todos os males é a fé, e sabiamente Allan Kardec nos diz que ela precisa ser raciocinada. Precisamos entender e trazer à luz da razão e de nosso entendimento, mesmo que ainda relativo, a compreensão de quem somos, do que fazemos aqui e para onde vamos. Faz-se necessário ainda nos lembrarmos do imensurável amor de Deus por todos nós e de que estaremos sempre amparados e dirigidos por suas leis imutáveis e justas.

As mudanças, sejam elas em pequenos ou grandes acontecimentos, sempre acontecerão. Nasceremos e morreremos inúmeras vezes visando sempre nosso aprimoramento. Talvez o grande temor venha de nossas experiências passadas, das lembranças inconscientes dos últimos desencarnes, ou ainda, do peso de nossas consciências por não termos nos esforçado o bastante para atingirmos nossos objetivos reencarnatórios, por termos falhado. Quando estudamos o livro O céu e o inferno, são estes os relatos mais comuns que encontramos dos irmãos que se encontram em sofrimento. E isto deve ser usado por nós, não para intensificar ainda mais nossa insegurança e receios, mas como um alerta para que vivamos de forma a contribuir efetivamente com nossa viagem de volta para nossa casa: a espiritualidade. Lembrando Jesus, é essencial a construção do reino de Deus em nosso íntimo, pois, assim, não importarão as circunstâncias exteriores; nos sentiremos seguros e fortalecidos pelo amor que conquistarmos e distribuirmos. Seja onde ou como for, estaremos em casa e a salvo de todos os males, pois estes não estarão mais em nós. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro e mora atualmente na Flórida, EUA. Autor dos livros O traficante, Amor e traição, e lança agora Pecado e castigo, pelo espírito Jair dos Santos (Correio Fraterno).

Contabilidade – Abertura e encerramento de empresa – Certidões

Tel. (11) 4126-3300 Rua Aral, 123andar I São Bernardo do Campo I SP | SP Rua Índico, 30 | 13º | São Bernardo do Campo jdcontabil@terra.com.br www.correiofraterno.com.br


16

CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2016

MÍDIA DO BEM Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Para todas as peles

Espaço para todos

A UniAfro, um curso de aperfeiçoamento para a política de promoção da igualdade racial na escola, criou uma ação em parceria com um fabricante de giz de cera para ampliar as cores de pele na caixa de lápis de colorir. Os tons vão das mais claras até a pele negra. A ação foi um sucesso e o fabricante já ampliou o projeto inicial para as vendas. Pintar desenhos de personagens e pessoas pode ser agora uma experiência mais real.

Às vésperas de completar 104 anos, a sueca Dagny Carlson ganhou status de celebridade. Com mais de 1,4 milhão de visitantes, ela é provavelmente a blogueira mais velha do mundo. Ela defende em seu blog uma só bandeira: Os idosos merecem mais respeito. “As pessoas mais velhas são tratadas, em geral, como se fossem crianças”. Dizem aos idosos: ‘você não entende isso’, ‘meu velhinho’ e coisas assim. “Desafio todos os idosos: sejam mais assertivos!”, conclui a sueca ativista.

Destinado a oferecer às pessoas com deficiência visuais a experiência de andar de bicicleta, o Projeto Pedaleiros ganha adeptos na cidade do Rio de Janeiro, com grupos de voluntários que saem com dia e hora marcada para oferecer aos inscritos a prazerosa experiência. A ideia do projeto é perceber no outro as necessidades mais básicas. Deixar de lado um pouco as vontades individuais e estabelecer relações de ajuda mútua.

Fonte: Correio Braziliense

Fonte: BBC

Fonte: Globo.com

www.correiofraterno.com.br

Deficientes visuais andam de bike


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.