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SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o

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ISSN 2176-2104

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Entrevista

A presidente da USE estadual São Paulo, Júlia Nezu, fala ao Correio sobre os 70 anos da entidade e avalia os próximos desafios do movimento espírita. Páginas 4 e 5.

Suicídio

o preconceito em queda

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ompendo séculos de silêncio, o debate sobre o suicídio começa a tomar fôlego no brasil e no mundo. o tema, sinônimo de silêncio na sociedade e nos roteiros cinematográficos, vem aos poucos ganhando protagonismo. Há cerca de dois meses, a chegada da série Os 13 Porquês (13 Reasons why), lançada pela netflix, que aborda o suicídio de uma jovem, causou alvoroço pelas cenas impactantes e a possibilidade de agravarem o desequilíbrio de pessoas fragilizadas psíquica ou emocionalmente. na mesma onda, o jogo virtual nocivo da “baleia Azul” viralizou nas redes sociais e chamou a atenção inclusive de autoridades. em texto exclusivo, o jornalista André trigueiro avalia o momento e as conquistas que podem ajudar a diminuir o alto índice de suicídio no mundo. Páginas 8 e 9.

Uma vivência espiritual de Therezinha Oliveira A reconhecida médium e escritora de Campinas conta o que viveu em um de seus sonhos e a lição que tirou de tudo o que viu. “Atravessei aquela entrada e fui para o fim da construção, contornando-a sem encontrar abertura, e me detendo ante uma janela iluminada”. Página 14.

Há 50 anos

A amizade de nena galves com chico Xavier e o início do centro espírita união O casal Nena e Francisco Galves teve despertada a vontade de conhecer o médium mineiro Chico Xavier. Eles partiram de São Paulo com um grupo de vinte frequentadores e dirigentes espíritas para Uberaba, MG. Só não imaginaram o impacto que teriam e um novo mundo que se abriria depois daquela viagem. Leia na página 7.

O primeiro livro espírita de Herminio C. Miranda

www.correiofraterno.com.br 11 4109-2939


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eDitoriAl

o valor inestimável da

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m meio a tantas notícias que assustam, desanimam e frustram os menos avisados, no Brasil e no mundo, esta edição do Correio Fraterno chega até você com vibrações amorosas de fé, esperança e valorização do que temos de mais importante: a vida. O jornalista André Trigueiro vem, desde 1999, pesquisando o suicídio e as diferentes estratégias de prevenção. Já são quase cem palestras proferidas sobre o tema, não só no Brasil, além de chats e transmissões pelas redes sociais. Em todas as frentes, ele procura desmistificar o assunto suicídio, substituindo o preconceito, o tabu, pela informação. Foi em 2015 que o jornalista lançou pela Correio Fraterno o livro Viver é a me-

vida

lhor opção, já com quase 40 mil exemplares vendidos e que traz esclarecimentos não somente com relação aos números assustadores do suicídio – a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo —, como também levando o que há de melhor para quem está pensando em desistir da vida: acolhimento e esperança de dias mais luminosos, na certeza de que é possível sim, em 90% dos casos, prevenir-se o suicídio. Agora, com os adventos recentes da série de filmes Os 13 porquês (Netflix), com cenas chocantes do suicídio de uma jovem, e com o jogo da Baleia Azul, nas redes sociais, com desafios que culminam no autoextermínio, o suicídio não podia mesmo ficar de fora do nosso jornal, que procura levar o espiritismo de

CORREIO DO CORREIO Adoro este jornal Quero aqui registar o meu agradecimento à equipe do Correio Fraterno pelo conteúdo sempre atual, científico e profundo de suas matérias. Adoro este jornal, que para mim expressa a sensibilidade e profissionalismo das pessoas envolvidas em sua edição. Mais uma vez, muito obrigada por me proporcionarem momentos de intros-

pecção espiritual e reflexão profunda. Um grande abraço. Viviane Bodaczny Taliberti, Uberlândia, MG Teresa de Ávila Em seu artigo “A mediunidade de Teresa de Ávila” (edição 474), Altamirando Carneiro cita texto nosso, da contracapa do roman-

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 inscr. estadual: 635.088.381.118

Presidente: Izabel Regina R. Vitusso Vice-presidente: José Natal Inácio Tesoureiro: Olímpia Iolanda da S. Lopes Secretário: Vladimir Gutiérrez Lopes Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP www.correiofraterno.com.br

em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos.

uma forma contextualizada – seja o que for e onde estiver o assunto. Boa leitura! Equipe Correio Fraterno

ce Perdoo-te. Registre-se que madre Teresa não é nominada diretamente na obra. Nominá-la em livro espírita causaria efervescência no meio católico espanhol, onde a Inquisição foi muito atuante. O que mais me gratificou ao fazer ressurgir o livro no Brasil, além da nova tradução e adaptação, foi dar o merecido crédito a Eudaldo Pagés, o médium do Perdoo-te. Amália Soler transcrevia o que Eudaldo falava, fazendo obviamente o necessário copidesque. Aristides Coelho Neto, por e-mail

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Administração/financeiro: Raquel Motta Comercial: Magali Pinheiro Comunicação e marketing: Tatiana Benites Auxiliar geral: Ana Oliete Lima Apoio de expedição: Osmar Tringílio Impressão: LTJ Editora Gráfica

Uma ética para a imprensa escrita

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• os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


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Acontece

Fé é tema central do Congresso FEESP Da redação

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Os palestrantes Umberto Fabbri e André Trigueiro participaram do evento, que lotou as dependências da FEESP

Federação Espírita do Estado de São Paulo realizou de 28 de abril a 1° de maio o Congresso FEESP 2017, reunindo quase três mil pessoas, em sua sede no centro da cidade. O evento teve como tema central “O grão de mostarda” e contou com a presença do orador Divaldo Pereira Franco em sua abertura. Como parte da programação, cerca de trinta palestrantes de várias regiões estive-

ram presentes, dando sua contribuição. O congresso contou também com a apresentação da peça teatral A morte é uma piada 2, com o ator Renato Prieto. Houve oficinas de apresentação das áreas da FEESP, incluindo pintura mediúnica, psicografia literária, direção e monitoramento de práticas mediúnicas, assistências espirituais, infância, juventude e mocidade. “A FEESP está em festa e é enorme a nossa alegria de podermos receber a todos para esse grandioso evento”, expressou a presidente Zulmira Hassessian, que considerou o tema do evento bastante apropriado para o momento. “Precisamos desenvolver em nossos co-

rações a semente da fé inabalável, a fé raciocinada que acredita porque conhece, sabe e compreende. São momentos de superação da fé cega e dogmática, ainda tão presente nos dias de hoje e que acaba produzindo tanta incredulidade, gerando vazios, decepções e sofrimentos”. André Trigueiro e Umberto Fabbri, autores da editora Correio Fraterno, estiveram entre os conferencistas e proferiram palestras sobre os temas Amor em movimento na transição planetária” e “Cirurgias espirituais e a fé”, respectivamente. www.feesp.com.br.

Seminário inter-religioso discute saúde e espiritualidade Por Eliana Haddad

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ia 17 de maio, cerca de trezentas pessoas, entre profissionais de saúde e religiosos, se reuniram no anfiteatro do Hospital Santa Catarina, em São Paulo, para participar do III Seminário da Coalizão Inter-Fé em Saúde e Espiritualidade. O evento teve como tema os “Desafios na Pesquisa em Saúde e Espiritualidade” sobre o qual palestras foram proferidas tendo como foco as experiências em ciência e religião dos convidados Antonio Fernando Stanziani (Associação Palas Atenas), Giarcarlo Lucchetti (Universidade Federal de Juiz de Fora) e Mario Peres (Hospital Albert Einstein). Num segundo bloco, cinco representantes expuseram o tema sob a visão específica de suas religiões: o judaísmo, por Auro del Giglio (Faculdade de Medicina do ABC); as religiões africanas, por Ronilda Iyakemi Ribeiro (USP); o espiritismo, por Frederico Leão (USP); o catolicismo, pelo neurocirurgião Marcus Serra; o budismo, por Lama Rinchen Khyenrab (Mosteiro Sakya Tsarpa). A Coalizão Inter-fé surgiu em 2015, quando alguns profissionais de diferentes origens, e que já se conheciam, começaram a idealizar a formação de um grupo para

explorar possibilidades de apoio espiritual a pacientes internados. Cada um contatou capelães de institutos que já se empenhavam em iniciativas de apoio religioso hospitalar e religiosos de diferentes credos. Começou assim a ser formado um grupo de profissionais de saúde, líderes religiosos e estudiosos de ciências humanas, para uma ação inovadora. Os seminários realizados trouxeram novas ideias e, ao mesmo tempo, revelaram a existência de muitas dúvidas, convidando o grupo a se empenhar no aproveitamento destes resultados em várias frentes. Com a multiplicação de recursos em um futuro próximo, os integrantes da Coalizão esperam poder trazer novos paradigmas para as necessidades religiosas-espirituais de pacientes internados, seus familiares e seus cuidadores, além dos próprios profissionais de saúde. Em seu manifesto, o grupo deixa claro que o cuidado da saúde deve sempre contemplar todas as dimensões humanas, o que inclui a dimensão espiritual. “A ciência tem vasta documentação sobre a associação positiva entre o bem-estar religioso-espiritual e inúmeros parâmetros da saúde física e mental. Pesquisas clínicas também enfatizam a importância do apoio religioso-espiritual nos tratamentos para a recuperação da

saúde. A própria Organização Mundial de Saúde tem diversos documentos enfatizando isto. Entendemos que haja várias formas de fornecer apoio a essas necessidades e sustentação da fé”. A Coalizão Inter-fé em Saúde e Espiritualidade reconhece todas as religiões históricas, as juridicamente constituídas e tradições de fé que possuem valores éticos e universais. Para saber mais, leia a íntegra do manifesto no nosso site www.correiofraterno.com.br.

Na mesa de debates: Marcus Serra (catolicismo), Ronilda Ribeiro (religiões africanas), Lama Rinchen (budismo), Frederico Leão (espiritismo) respondem perguntas da plateia www.correiofraterno.com.br


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ENTREVISTA

USE comemora 70 anos de trabalho em São Paulo Por Eliana Haddad e izabel Vitusso

Júlia Nezu: O movimento espírita precisa estar atento ao momento que atravessa a humanidade

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os preparativos finais da coordenação geral do 17º Congresso Estadual de Espiritismo, que acontece em Atibaia, SP, de 23 a 25 de junho, a presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE), Júlia Nezu Oliveira, concedeu entrevista ao jornal Correio Fraterno fazendo um balanço dos 70 anos da entidade. Vale a pena conferir os atuais desafios do movimento espírita não somente no estado de São Paulo, mas em todo o Brasil. Segundo Júlia, o movimento espírita precisa estar atento ao importante momento que atravessa a humanidade terrena, adaptando-se às necessidades morais e intelectuais dos tempos de transição em que vivemos, rumo à era de regeneração.

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Como você analisa esses 70 anos de USE? Júlia Nezu Oliveira: É um marco pelo serviço que a entidade prestou e vem prestando. A USE surgiu numa época em que o movimento espírita precisava se organizar. Na década de 1940, ele estava muito disperso, não só no estado de São Paulo, mas em todo o Brasil. Havia muitas infiltrações, muitas práticas não doutrinárias. Mas como foi criada a USE? Foi criada em 1947 sob a égide de quatro instituições: a Federação Espírita do Estado de São Paulo, a União Federativa Espírita Paulista, a Liga Espírita do Estado de São Paulo e a Sinagoga Espírita Nova Jerusalém. As quatro instituições mais 550 centros espíritas da época resolveram criar uma instituição que as representasse e falasse em nome do estado. Surgiu de um congresso paulista, no qual 28 teses foram apresentadas com propósito da criação da entidade. A tese vencedora foi a de Edgard Armond, em nome da Federação Espírita do Estado de São Paulo, que descrevia como deveria ser a operacionalidade. Todas as instituições se submeteram à nova entidade? Sim. Na época, todas as instituições abriram mão de federar. A USE passaria a ser a única federação e as demais funcionariam apenas como instituições espíritas. Tanto que o primeiro presidente da USE foi Edgard Armond, que era o secretário-geral da Feesp. A diretoria, no início, foi formada pelos membros das quatro instituições. O estado de São Paulo teve um impulso muito grande com o movimento espírita organizado. Todos juntos. E a USE nas-

ceu justamente com a função de união, com a importante função de manter a coerência doutrinária no estado de São Paulo. Havia muita confusão entre espiritismo, umbanda, magia, como se fossem a mesma coisa. Atualmente a doutrina espírita é mais compreendida. O que existe são pessoas querendo introduzir outras práticas deliberadamente — como a autoajuda, por exemplo — mesmo sabendo que não se trata de espiritismo. Mas Edgard Armond veio com algumas influências orientalistas, não? Sim. Dizem que o Edgard Armond era de uma linha mais orientalista. Mas não se pode negar o papel importante que ele teve no espiritismo no estado de São Paulo. Foi quem fundou as escolas na FEESP. As pessoas passaram a estudar a doutrina espírita, a conhecê-la de verdade. São Paulo foi um dos primeiros estados a ter cursos sistematizados, sendo modelo para os outros estados. O meio de comunicação naquela época não era rápido como hoje. As notícias chegavam através de pessoas que viajavam. Assim foi com a Caravana da Fraternidade na década de 1950, formada por companheiros do Rio Grande do Sul, o Francisco Spinelli, o Arthur Lins de Vasconcellos, do Paraná, o Leopoldo Machado, do Rio de Janeiro, e Carlos Jordão da Silva, de São Paulo. Eles visitaram todos os estados do norte e nordeste, fomentando a organização das federativas, viagem iniciada no dia 31 de outubro de 1950 e dissolvida em Belo Horizonte, a 13 de dezembro, depois de receber, na véspera, em Pedro Leopoldo-MG, mensagens de Emmanuel e Amaral Ornelas, por Chico Xavier.


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Quantos centros estão ligados a USE hoje? Legalmente, reunimos 1.450 centros associados no estado de São Paulo, aos quais a USE oferece apoio, assistência, orientação jurídica, tudo o que a casa espírita necessita para realizar suas tarefas, mas nos relacionamos com cerca de 2.500. Através de cursos de qualificação para multiplicadores, procuramos melhorar a qualidade desses trabalhos. Ela não vai, por exemplo, ensinar o que é o espiritismo. Mas ajudar na capacitação de expositores, oferecer cursos de gestão de centros espíritas, disponibilizar cursos sobre como evangelizar etc. Também não interfere, não impõe, mas disponibiliza as experiências bem-sucedidas para os que desejem utilizá-las. Somos um celeiro, um espaço onde os dirigentes podem apresentar suas vivências para que outras instituições possam conhecê-las. Como você vê o movimento de unificação em termos doutrinários, com cada centro tendo sua liberdade de assimilar práticas que julguem pertinentes? É um trabalho constante de perseverança, em que vamos levando assuntos necessários através de seminários, cursos, fóruns de debates, reuniões do conselho. À medida que as casas espíritas começam a participar desse movimento, percebem onde podem estar equivocadas, observando como a maioria procede. Nesse quesito, os palestrantes também têm um papel fundamental, quando há conhecimento doutrinário. O maior desafio da USE é estimular o estudo? Acho que o pessoal até gosta de estudar. O que é muito difícil, na USE e em qualquer parte, é a questão da dificuldade de se trabalhar em equipe. A USE faz um trabalho de rede e vejo que as casas espíritas têm a tendência de se isolarem, de criarem um clã no próprio centro e não sair dali. Cerca de trinta anos atrás, ouvíamos muito dirigente dizer para trabalhadores da casa que não precisavam participar de encontros, da USE ou qualquer outro evento, porque já tinham a orientação do plano espiritual e isso bastava. Hoje vejo que há uma abertura maior, muito mais casas trabalhando em equipe. O tempo está nos conduzindo a isso, não só nas casas espíritas, como nas próprias empresas, na sociedade de maneira

geral. O bom gestor é aquele que sabe buscar talentos, é o que sabe trabalhar em equipe. Até por força dos meios de comunicação. Os dirigentes precisam ter uma nova postura! Estamos conseguindo atingir o jovem com a mensagem do espiritismo? Sim, mas não tanto quanto poderíamos. Quem sabe possamos aproveitar mais e repensar a forma do diálogo, a linguagem. A área de comunicação vai fazer a diferença nesse sentido. Há muitos palestrantes cuja proposta é fazer uma palestra puramente divertida. Penso que esse não seja o caminho. A proposta seria uma linguagem mais acessível aos jovens, simples e direta.

geração é muito afoita, impaciente. Eles já vieram mais preparados e não aguentam esse nosso jeito de ser. E isso precisa ser revisto urgentemente. Eles devem fazer parte do trabalho não só como auxiliares do auxiliar do auxiliar, mas tendo uma função mais efetiva. Na diretoria da USE, sempre há jovens formando o nosso quadro, onde já vão sendo treinados para uma gestão em nível estadual. O próprio Departamento de Mocidade tem uma estrutura como a estrutura da USE no geral. Outro ponto importante que deve ser reavaliado é a questão da idade. O jovem no passado, de 18 anos, equivaleria hoje talvez a um jovem de 15 ou de 14 anos. A mentalidade é outra.

Evangelizar a criança, ensinar o espiritismo e auxiliar quem está com problemas espirituais deve ser o foco da casa espírita. A prioridade deve ser a educação moral, a educação dos sentimentos” Também ouço que os jovens têm reclamado a falta de espaço na casa espírita e maior acolhimento. E de alguns anos para cá, temos tido a preocupação de trabalhar com os jovens não como um futuro, mas como um presente, propondo aos dirigentes das instituições que os introduzam no trabalho da casa espírita. Não somente para tocar violão no final de semana. As casas espíritas têm inúmeras atividades para eles. Qual é o maior desafio para manter os jovens ligados ao trabalho espírita, num momento em que há tanta oferta de conhecimento, ocupação, opções de lazer? Apesar de tantas opções, a verdade é que eles estão também em busca de algo. Essa

Como as casas espíritas estão enfrentando a crise econômica? Estão sentindo mais dificuldades. Alertamos sempre em nossas reuniões: Se você não consegue dar 500 cestas básicas, dê 200, dê 100. Nós nos preocupamos muito com a parte social, porém houve tempo em que havia pobreza muito maior. Na época do Império, por exemplo, tínhamos problemas sociais graves. Quando houve a libertação dos escravos, outro caos se instalou. Eles não tinham para onde ir. Muitos espíritas se movimentaram, e nós sabemos disso, através de Anália Franco, Batuíra, Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo... Essas frentes de grandes espíritas vieram para enfrentar mesmo a fome, a falta de abrigo. Só

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Anália Franco fundou mais de 100 instituições. Essa necessidade mudou. Qual deve ser o foco da casa espírita na atualidade? Acredito que se ela puder fazer assistência social e, se isso não for prejudicá-la financeiramente, deve fazê-lo. Mas evangelizar a criança, ensinar o espiritismo e auxiliar quem está com problemas espirituais deve ser o foco da casa espírita. A prioridade deve ser a educação moral, a educação dos sentimentos. Esse é o grande papel da casa espírita. E na base de tudo deve estar o estudo. Se tivermos um bom conhecimento da doutrina, a divulgação também estará de acordo com ela. Nesses 70 anos da USE, o que você considera de maior importância? A USE veio com uma proposta inovadora, a da união, de unificação, de apoiar as casas espíritas, qualificando suas atividades. Penso que vem realizando bem o seu trabalho. Estivemos presentes: na iminência da descriminação do aborto ou quando tivemos a possibilidade da descriminalização da maconha e outras drogas, na prevenção do suicídio, família etc. Nesses momentos cruciais, a USE sempre entrou com grandes campanhas em todo o estado. Uma casa espírita pode fazer uma divulgação, mas se a USE faz no estado inteiro, simultaneamente, através dos 148 órgãos de unificação que a representam em todo o estado, tudo fica muito mais rápido e eficiente. E o futuro da USE? O que esperar? Estou terminando a minha segunda gestão. Há 20 anos estou em sua diretoria. A USE naturalmente tem seus caminhos traçados, com seu estatuto muito bem delineado, embora cada um faça a sua gestão de maneira peculiar. Penso que as futuras gestões deverão continuar nessa trilha, traçada em consonância com o Plano Maior, adequando-a para os tempos que vivemos, nessa ebulição dos valores, nessa transição que já está acontecendo. Cada vez mais virão crianças com um cabedal maior de conhecimento, e todas as federativas e casas espíritas deverão atentar para isso, sem esquecer que modernizar não significa abrir mão da doutrina espírita codificada por Allan Kardec. Isso é muito importante. www.correiofraterno.com.br


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coiSAS De lAurinHA

Por tAtiAnA beniteS

Uma palavra difícil A

professora está explicando como funciona a mediunidade, o contato do médium e dos espíritos. os alunos estão muito atentos: – os espíritos estão por toda parte e podem se comunicar com a gente, aqui do plano material, através dos médiuns. – os médiuns podem ver e falar com os espíritos – Depende da mediunidade, Jorginho. Alguns médiuns podem ver os espíritos, outros podem ouvi-los, ou escrever mensagens que eles queiram transmitir. – Qualquer um tem mediunidade, professora? – pergunta laurinha. – no sentido amplo, todos nós somos médiuns, porque influenciamos e somos influenciados

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pelos espíritos, através da sintonia do pensamento. Mas há pessoas que possuem essa capacidade muito maior. Por isso, podem se comunicar com os espíritos com muito mais facilidade. – eu só não consigo entender uma coisa. Por que as palavras precisam ser tão difíceis no espiritismo — diz Pedrinho. – Mas médium, mediunidade não são palavras difíceis. Apenas podem ser novas para vocês. estudando o espiritismo, vocês vão ver sim termos diferentes, mas quando entenderem o significado, ficará mais fácil compreender e memorizar. Jorginho levanta a mão e pergunta: – então, de onde vem a palavra

‘médium’? – Médium significa meio, aquele que intermedia dois lados. o que serve de instrumento de comunicação entre os homens e espíritos. o médium é o ‘telefone’ que faz a ponte entre duas pessoas para que possam conversar – explica a professora. – entendi, então por que não pode chamar ‘meio’ e sim ‘médium’? Meio seria mais fácil... – analisa Jorginho. laurinha, que prestava atenção na explicação, então se manifesta: – Porque é mais legal falar inicium, medium e finalium. – laurinha, só você mesmo, pra tanta criatividade! — diz a professora, enquanto aguardava acalmar o burburinho.

Tatiana Benites é autora dos livros tem espíritos no banheiro? e tem espíritos embaixo da cama? e lança agora tem espíritos no escuro? (Ed. Correio Fraterno)


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MAIO - JUNHO 2017 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

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BAÚ DE MEMÓRIAS

A verdadeira edificação Por izabel vitusso

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omo é bom lembrar que no Brasil podemos contar com um sem-número de casas espíritas, oferecendo socorro espiritual, acolhimento fraterno, oportunidade de estudo e orientação. Quem já precisou de socorro neste quesito fora do país entende o valor desta grande oferta de núcleos espíritas ao nosso dispor. A forma como cada um deles teve início é a mais variada. Alguns surgiram ainda no século 19. Os registros apontam para o ano de 1865 o marco da fundação da primeira casa espírita do Brasil, o Grupo Familiar de Espiritismo, na cidade de Salvador, BA. Hoje, somam-se cerca de 15 mil em todo o Brasil1. Os vínculos espirituais também são os mais variados. Frequentemente eles acontecem pela identificação do centro com um grupo de assistência do plano espiritual, capitaneado por trabalhadores expoentes do movimento espírita e sua equipe, missionários que abraçaram a causa e se mantêm incansáveis na tarefa de assistência na crosta terreste. Quando não, o inverso. O planejamento da fundação da casa espírita vem como consequência dos anseios da espiritualidade maior. Impossível generalizar. Mas o que importa é saber da grande responsabilidade que envolve a fundação de uma casa espírita, de mais um foco de luz na grande ciranda da fraternidade. O que aconteceu com o casal Francisco e Nena Galves a partir de 1959 ilustra isso muito bem e evidencia todo o cuidado dispensado pela espiritualidade maior junto ao núcleo que se forma para servir na seara do Jesus. Nena e Francisco Galves já frequentavam algumas casas espíritas na cidade de São Paulo e tiveram derpertada a vontade de conhecer o médium mineiro Chico Xavier. Partiram os dois com um grupo de vinte frequentadores e dirigentes espíritas para Uberaba, MG. Só não imaginavam o impacto que teriam e um novo mundo que se abriria depois daquela viagem. É Nena quem conta:

“Maio de 1959 é data que recordamos com imensa alegria. O encontro com o médium fez florescer na memória atual reencarnações passadas na Espanha e na França. Chico nos confidenciou que nos reconheceu imediatamente. Galves e eu sentimos uma atração imensa, uma grande afeição, e quando Chico tomou as mãos de Galves e as minhas entre as suas e as beijou, tivemos a certeza de que elas já haviam estado unidas num passado distante.”2 “A força do amor materializava-se em forma de homem de pequena estatura e de gestos lentos, ensinando-nos a andar certos e seguros, sem tropeços. (...) Estávamos longe de imaginar que aquela atenção representava trabalho e alegria futuros. (...) Nesse dia, senti-me mais esposa, mais mãe, mais filha. Um ser que renascia diante de um pai espiritual que acabava de reencontrar, enfim.” Nas visitas constantes de Nena e Francisco Galves ao médium (acabaram se tornando amigos íntimos), as orientações da espiritualidade foram chegando, com o respeito próprio da espiritualidade superior à condição de cada um, observando o tempo de maturação do casal e de todo o grupo que aos poucos se estruturava. Em 1965, Bezerra de Menezes orientaria: “A ideia do grupo íntimo com a finalidade de desobsessão é um plano feliz, para cuja execução rogamos o amparo da providência divina”. “O conjunto pequeno, como é necessário à formação de corações fraternos, poderá reunir-se uma vez por semana, à noite, e pouco a pouco as diretrizes virão, de vez que é aconselhável dar tempo ao tempo e verificar o desenvolvimento da nova planta de amor fraternal na terra do Cristo.” Em outra mensagem, Bezerra atenta para o esforço necessário no desenvolvimento moral e no sentimento de fraternidade para a sustentação de uma obra para o bem. Antes de erguidas as paredes da casa espírita, há que se ter a edificação mental: “É preciso nos decidamos levantar a construção íntima, aquela que se baseia no ajuste dos corações fraternos em uma obra

Cartão que Chico Xavier envia a Nena Galves, fazendo referência às lembranças do passado na Espanha

de elevação espiritual em comum.” “Continuemos na tarefa da edificação mental, na certeza de que já podemos contar com o amparo da construção externa.” E, por fim, a orientação que revela a sutileza da presença da espiritualidade na base dos trabalhos de uma casa espírita, que nos apoia de maneira incondicional, mas que respeita sempre o direito de fazermos nossas escolhas. “Através da inspiração, trocaremos ideias todos juntos acerca dos alicerces espirituais do conjunto em via de se formar.” Dois anos depois, o Centro Espírita União3 abriria suas portas no bairro Jabaquara, com um significativo trabalho de assistência social e espiritual, e até hoje, cinquenta anos depois, o laborioso casal continua à frente, junto com o grande tarefeiro, dr. Bezerra de Menezes, assistindo

Nena Galves com o médium na década de 1960

necessitados e despertando corações para a verdadeira ciranda de amor e de luz. Referências 1 Estimativa segundo a FEB. 2 Até sempre, Chico Xavier, Nena Galves, CEU, 2008. 3 www.centroespiritauniao.org www.correiofraterno.com.br


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ESPECIAL

Há algo novo no ar Por André Trigueiro

É

possível que o leitor não tenha ainda se dado conta, mas pela primeira vez na história da humanidade o debate sobre o suicídio está acontecendo de forma aberta, clara, sem tabus ou preconceitos. Salvo os nichos de resistência dogmática de sempre –, onde a luz da ciência e o amparo da razão não têm lugar – ou certas culturas do passado que normatizavam o autoextermínio, esta seria realmente a primeira vez em que o tabu em torno do assunto não resistiu à urgência de se entender o que leva alguém a se matar. É evidente que a série mais popular da história da Netflix – um dos maiores serviços de streaming do mundo – contribuiu para isso. Os produtores e realizadores de Os 13 porquês (13 reasons why) sabiam exatamente no que estavam se metendo. Lançaram uma série onde o suicídio de uma jovem seria o ponto de partida para uma história marcada pelo desejo de vingança, onde todos os supostos algozes da ‘vítima’ foram denunciados em gravações feitas pela própria suicida. Tudo isso numa escola que reproduz o ambiente competitivo das instituições escolares americanas (especialmente no High School) onde o massacre dos bullyings, a execração pública nas redes sociais pelo cyberbullying, o assédio, a violência sexual, entre outros problemas que asfixiam a garotada em boa parte do mundo, são mostrados didaticamente. Ponto para a Netflix por escolher o tema do suicídio entre jovens para uma nova série. Só faltou evitar os chamados ‘gatilhos’ – cenas que podem agravar o desequilíbrio de pessoas fragilizadas psíquica ou emocionalmente – amplamente diagnosticados e registrados em numerosos estudos respaldados pela OMS – Organização Mundial de Saúde). Em bom português, ‘gatilhos’ podem precipitar tentativas de suicídio e eventuais óbitos. A cena do suicídio da personagem principal foi apelativa e escatológica. Poucas vezes se viu algo parecido na tv ou no cinema. Num primeiro momento, os responsáveis pela

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série justificaram a exibição de cenas fortes como essa para chocar intencionalmente o público e mostrar como o suicídio é doloroso e dramático (?!). Semanas depois, pressionados por especialistas em saúde pública mundo afora, os produtores anunciaram a inserção de alertas e advertências em episódios que estavam sem esses avisos. Será o suficiente? Quantos de nós deixaríamos de continuar assistindo a uma série por causa de uma tarja informando que o episódio contém cenas chocantes e violentas? Em países como a Nova Zelândia, as autoridades de saúde chegaram a orientar país ou responsáveis a assistirem à série da Netflix ao lado dos filhos ou responsáveis. O fato é que toda essa repercussão levou a Netflix a anunciar a continuação da série. Haverá novos gatilhos? O tempo dirá. Nas primeiras semanas de exibição de Os 13 porquês, o volume de atendimentos do CVV cresceu 450%. Resta saber se isso

aconteceu porque a Netflix abriu espaço para divulgar o serviço voluntário e filantrópico prestado há 55 anos pelo Centro de Valorização da Vida, ou se a série e seus gatilhos fragilizaram parte da audiência.

O jogo da Baleia Azul Concomitantemente ao rebuliço causado por Os 13 porquês, as redes sociais no Brasil viralizaram a preocupação com a “Baleia Azul”, que os pedagogos se recusam a chamar de jogo, pois que a palavra ‘jogo’ deveria aludir a uma brincadeira, um desafio positivo que promove o lazer e o entretenimento sadios. Até o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, divulgou nas redes sociais um vídeo se dizendo alarmado com sete tentativas de suicídio supostamente motivadas pela Baleia Azul e prometendo acionar judicialmente os responsáveis. A armadilha virtual intitulada Baleia Azul oferece 50 desafios — todos mórbidos e rudes — que levariam os incautos a realizar ‘tarefas’ que dilaceram a autoestima e promovem o desequilíbrio psíquico e emocional. Fazem parte do pacote permanecer insone assistindo a diversos filmes de terror, esculpir na pele com objeto cortante uma baleia ou – esta seria a última ‘tarefa’– se matar. Se o jovem manifestar o desejo de desistir, recebe ameaças diretas contra si e a família. Muitos especialistas afirmam que eventuais tentativas de suicídio motivadas pelo Baleia Azul aconteceriam mais cedo ou mais tarde, sendo esta armadilha virtual apenas um atalho para a consumação de um projeto que provavelmente já vinha se desenhando há algum tempo. Neste período em que a Netflix e o Baleia Azul vieram à tona, tornou-se possível – como nunca antes no Brasil – debater o problema do suicídio em segmentos da mídia onde isso antes nunca havia acontecido. É o caso, por exemplo (dentre muitos outros exemplos), do programa matinal da TV Globo Encontro com Fátima, em que a ex-âncora do Jornal Nacional conduziu o


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tema por aproximadamente uma hora com vários entrevistados (pedagoga, psiquiatra, a mãe de um suicida que escreveu um livro sobre o assunto, etc) de forma clara, serena e objetiva. Um baita serviço de utilidade pública. Quando lançamos em 2015 o livro Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo pela editora Correio Fraterno não imaginávamos que chegaríamos à marca de 40 mil exemplares vendidos (com 100% dos direitos autorais do CVV), por causa do tabu em torno do assunto. E foi justamente o tabu a principal inspiração para o livro. Como continuar justificando o * Último ano em que os dados internacionais foram totalizados. imenso silêncio de governos, ongs, empresas, escolas, universidades, mídias, etc, em torno Suicídio (10/9), criado pela Organização Mundial da Saúde, para de um problema que é reconhecidamente caso de saúde pública no abrir espaços na direção desse debate tão importante e urgente. Brasil e no mundo? Como virar esse jogo sem informação? A quem Algo mudou. E para melhor. Deus escreve certo por linhas torprocurar quando houver uma tentativa? Quais os fatores de risco? tas, diz o ditado. Por que o suicídio é prevenível em pelo menos 90% dos casos? Essa é a função do livro, como essa também é a função do Setembro Amarelo (mês em que se realiza uma ampla campanha em favor da André Trigueiro é repórter da TV Globo, editor-chefe do programa Cidades e Soluções (Globonews) e comentarista da Rádio CBN. prevenção do suicídio) ou ainda do Dia Mundial de Prevenção do

A Organização Mundial da Saúde estima que 804 mil pessoas tenham se suicidado no mundo em 2012*. São 2.200 casos consumados por dia, um a cada 40 segundos

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LIVROS & CIA. Allan Kardec Editora Telefone: 19 3242-5990 www.allankardec.org.br Mediunidade e autoconhecimento de Augusto psicografia de Clayton Levy 120 páginas 14x21 cm

Editora EME Telefone: 19 3491-7000 www.editoraeme.com.br Deus confia nos pais de Lucia Moysés 184 páginas 14x21 cm

Mitos e verdades Cão que late não morde – A maioria das pessoas que tiraram a própria vida ou tentaram fazê-lo (pelo menos dois terços dos casos) anunciaram a intenção previamente.

Pessoas que se matam não avisam a ninguém – De cada dez pessoas que cometem suicídio, oito deixam pistas concretas de suas intenções. Mas essas advertências nem sempre são verbais ou percebidas com clareza por quem está próximo.

Se alguém deseja se matar, não há nada que possa ser feito – Ajuda apropriada e apoio emocional podem reduzir o risco de suicídio. não é possível evitar em 100% dos casos, mas em grande parte das situações.

Quem fala sobre suicídio está tentando apenas chamar a atenção – em mais de 70% dos casos, quem ameaça se matar realiza a tentativa ou comete suicídio. Quem pensa seriamente em suicídio costuma deixar pistas ou avisos que devem ser entendidos como gritos de socorro.

Quem só fica tentando o suicídio, não vai se matar realmente – Quem já tentou se matar alguma vez pertence ao grupo de maior risco de suicídio e deve ter suas ameaças sempre levadas a sério.

A melhoria do estado emocional elimina o risco do suicídio – em boa parte dos casos, os suicídios ocorrem no prazo de até três meses após uma aparente melhora, depois de um estado depressivo severo.

Falar sobre suicídio pode encorajá-lo – Ao contrário. Dar oportunidade para alguém desabafar e compartilhar seus maiores medos e sentimentos pode fazer a diferença em favor da vida.

Depois que uma pessoa tenta se matar, é improvável que ela tente novamente – em 80% doa casos, quem comete suicídio já realizou pelo menos uma tentativa anteriormente.

Se uma pessoa já pensou seriamente em se matar, ela será sempre um suicida – Quem deseja tirar a própria vida pode pensar isso por um período limitado de tempo. com apoio emocional, pode superar a crise e seguir em frente.

Uma tentativa de suicídio mal sucedida significa que a pessoa não estava realmente determinada a se matar – Algumas pessoas são ingênuas quando intencionam se matar. A tentativa em si é o fator mais importante, não o método.

O suicídio é um ato de covardia (ou de coragem) – o que dirige a ação autoinfligida é uma dor psíquica insuportável e não uma atitude de covardia ou coragem.

Editora Correio Fraterno Telefone: 11 4109-2939 www.correiofraterno.com.br Em nome do amor de Maria Cecília psicografia de Lourdes Marconato 252 páginas 14x21 cm

Editora Gente Telefone: 11 3670-2500 www.editoragente.com.br Produtividade para quem quer tempo de Geronimo Theml 160 páginas 16x23 cm

Fonte: Viver é a melhor opção, a prevenção do suicídio no brasil e no mundo, de André Trigueiro (Editora Correio Fraterno)

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VOCÊ SABIA?

A conversão de Cornélio Pires Da redação

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ornélio Pires foi um dos grandes folcloristas do Brasil. Educado em meio protestante, converteu-se ao espiritismo no ano de 1940. Estando ele adoentado, sentindo tonturas, decidiu tomar algumas injeções de Eparseno. Entrou na farmácia para tomar a primeira, o que não foi possível, porque três agulhas entortaram, sem que penetrassem em sua carne. Cornélio, embora não fosse supersticioso, disse ao farmacêutico que também estava espantado: – Aqui tem coisa... E prosseguiu em sua viagem de trabalho. Ao passar por São Carlos, SP, sentiu vontade de visitar seu grande amigo Lobo (provavelmente o espírita José Mariano de Oliveira Lobo).

Cornélio Pires: (1884 - 1958) Chico Xavier psicografou inúmeras trovas de Cornélio Pires, o escritor regionalista que usou o seu talento e seu bom humor para divulgar o espiritismo. Era primo do escritor José Herculano Pires.

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Conversavam na sala de visitas, quando lá apareceu o cozinheiro, de nome Alfredo. Lobo apresentou-o ao Cornélio, dizendo: – Eis aqui um grande médium sonâmbulo! – Cuidado que o Juqueri está lotado, brincou Cornélio Pires [referindo-se ao Hospital Psiquiátrico Juqueri]. Em seguida, o cozinheiro caiu em transe espontâneo e passou a transmitir um recado da espiritualidade: – Aqui o meu amigo da esquerda (apontando para o Cornélio), fez bem em não querer mais tomar aquelas injeções. Aquilo é arsênico e o irmão já tem o seu fígado em péssimo estado. Em seguida, indicou-lhe um chá para a dispepsia e despediu-se. Cornélio Pires saiu impressionado com a comunicação, pois ninguém, além dele, sabia da história das agulhas entortadas e dali para frente, passou a colecionar fatos mediúnicos semelhantes, que foram acontecendo inesperadamente em sua vida. Diante de inúmeras provas contundentes, Cornélio Pires acabou tornando-se espírita. Fonte: Kardec, irmãs Fox e outros, Jorge Rizzini, EME.


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ANÁLISE

A preocupação com a

dignidade humana Por Tiago Essado

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ignidade humana é um valor universal. Não é exclusivo dessa ou daquela religião, mas de todos que veem no ser humano, independentemente de raça, credo, nacionalidade, sexo, um sujeito de direitos, destinado ao progresso e à felicidade. Jesus é um exemplo histórico de quem, de fato, colocou o ser humano à luz do sol. Valorizou o miserável, a prostituta, o usurário, o poderoso, mas sempre se preocupou em proteger o fraco, o vulnerável, o oprimido. Procurava elevá-los, dar-lhes ânimo e coragem para prosseguirem na jornada, apesar das naturais dificuldades. E isso porque tinha a consciência de que a realidade vai além da perspectiva material. Nota-se, assim, que a dignidade humana é algo intrínseco ao ser humano, independentemente de decreto legal. Em relação à contemporaneidade, o valor dignidade humana remonta-se à Revolução Francesa, em 1789. Naquela ocasião houve a afirmação de direitos importantes ao ser humano, entre eles a liberdade, a igualdade, a fraternidade, como forma de colocá-lo acima dos anseios subjetivos e desmedidos do déspota. Havia a necessidade de se impor limites ao arbítrio. Infelizmente, esse movimento não foi suficiente para impedir guerras e atrocidades mundiais, sobretudo as ocorridas na primeira metade do século 20. Em 1948, as nações resolvem afirmar expressamente a preocupação com a dignidade humana. Surge, desse modo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, sob a coordenação da ONU, inspirada nos ideais da Revolução Francesa. O artigo 1º da Declaração sintetiza os valores que dela emanam: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns

O livro dos espíritos. A hora é de aplicarmos a dignidade humana em todas as atividades em que nos achamos inseridos. Não foi à toa que Emmanuel destacou: “É assim que, repetindo as lições do Cristo para o mundo atormentado, não nos achamos simplesmente diante de um espiritismo social, mas em pleno movimento de recuperação da dignidade humana, porquanto, em verdade, perante o materialismo irresponsável a sombrear universidades e gabinetes, administrações e conselhos, laboratórios e templos, cenáculos e multidões, o Evangelho de Jesus, para esclarecimento do povo, tem regime de urgência.”

Tiago Cintra Essado é promotor de justiça, SP e presidente da AJE-Brasil (Associação Jurídico-Espírita do Brasil).

aos outros com espírito de fraternidade”. Se a lei, por si só, não muda o comportamento humano, certo é que a partir da Declaração dos Direitos Humanos a dignidade humana passa a ser lentamente permeabilizada no âmbito das nações, e isso em patamar mundial. Aos poucos vão surgindo pessoas, grupos e instituições que passam a falar sobre direitos humanos, e a importância de respeitá-los para o progresso da civilização humana. A Constituição Federal, de 1988, traz a dignidade humana logo no início do texto constitucional, inserindo-a como fundamento da república. A partir dos anos 2000 surgem monografias, livros, estudos, debates, congressos sobre o assunto. Parte da sociedade civil se organiza para defender a dignidade humana, a partir de ONGs, ainda que à custa de preconceitos e de má compreensões. A defesa da dignidade humana implica respeitar a todos, indistintamente, mas

em especial os que têm seus direitos básicos aviltados. Respeitar o preso, o homossexual, a lésbica, o transexual, o negro, o refugiado, o índio, a pessoa em situação de rua, a pessoa com deficiência, enfim, o vulnerável em direitos e em proteção. Isso é um resgate da prática da lei do amor, da justiça e da caridade, tão bem aplicada por Cristo, e reafirmada como essência das leis morais, na terceira parte de

A AJE-Brasil realizará seu 2º Congresso Jurídico-Espírita Brasileiro, de 7 a 9 de setembro, na sede da Federação Espírita do Estado de Goiás, onde será debatido o tema: “Dignidade humana. Valor universal, desafio do século 21”. www.ajebrasil.org.br

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culturA & lAzer

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Encontro de Inverno em Poços de Caldas Acontece de 23 a 25 de junho, no Teart Maison (Rua Paraíba, 256, Centro) o 3º Encontro Espírita de Poços de Caldas. Participação de Wagner Gomes da Paixão, Simão Pedro, Florêncio Anton e outros. Além de palestras, o evento contará com música, teatro e pintura mediúnica. Informações: www.encontroespiritadeinverno.com.

JUN

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1º Congresso Espírita de Pedro Leopoldo Será realizado na cidade Pedro Leopoldo, MG, de 30 junho a 2 de julho o 1º Congresso Espírita da cidade, juntamente com a 14ª Semana Chico Xavier. Presença de Jorge Godinho, Andrei Moreira, Divaldo Franco, Haroldo Dutra, Oceano Vieira, dentre outros. Informações: www.1congressoespiritadepedroleopoldo.org.

Como são chamados os médiuns que têm aptidão de reproduzir a letra que o espírito comunicante tinha em vida?

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JUN

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G.E. Regeneração, Rio de Janeiro, RJ, 1891

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C.E. Fé e Amor, G.E. Fora da Caridade Sacramento, MG, Não Há Salvação, 1904 Piracicaba, SP, 1906

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C. E. Fé e Amor, Sacramento, MG, 1900

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C.E. Esperança e Fé, Franca, SP, 1894

FEB, Rio de Janeiro, 1884

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qualquer hora, em qualquer lugar

Solução do Passatempo Veja em: www.correiofraterno.com.br

Resposta do Enigma:

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Seminário em Caxias do Sul Será realizado no dia 5 de agosto o 1º Seminário sobre Educação do Ser, com participação de Simão Pedro de Lima, de Patrocínio, MG. Tema: “Que brilhe vossa luz.” Local: Personal Hotel, rua Garibaldi, 153, Caxias do Sul, RS. Realização: Centro Espírita Semente de Luz. Informações: Fone: 54 3208-4702 ou 54 98439-4828.

ENIGMA

C.E. Esperança e Fé, Franca, SP, 1894

F. Beneficente Verdade e Luz, S. Paulo, 1890

C.E. Amantes da Pobreza, Matão, SP, 1905

G.E. Fora da Caridade Não Há Salvação, Piracicaba, SP, 1906

Fonte: A história viva do espiritismo, Washington Fernandes, CCDPE, 2011.

C.E. Cuiabá, MT, 1906

Médiuns polígrafos.

Congresso Estadual de Espiritismo De 23 a 25 de junho, acontece na cidade de Atibaia, SP, o 17.° Congresso Estadual de Espiritismo, numa promoção da USE, juntamente com a Federação Espírita Brasileira. O evento contará com a presença de expressivos palestrantes do meio espírita, além de mesas de debates, oficinas e apresentações musicais. O congresso também selará a passagem dos 70 anos da USE. Local: Tauá Hotel Atibaia. Rodovia Dom Pedro I, Km 86. Informações: www.usesp.org.br/17-congresso.

Solucione a cruzada de acordo com os retratos abaixo dos pioneiros do espiritismo no Brasil.

Fonte: O livro dos médiuns,

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Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

cap. 16, “Aptidões

Palestra sobre pineal na Unifesp No dia 21 de junho a Universidade Federal de São Paulo realiza, através do Núcleo Universitário de Saúde e Espiritualidade, palestra com o psiquiatra Rafael Latorraca sobre “Os aspectos científicos da pineal: correlação com a espiritualidade”. Local: Anfiteatro Moacyr Álvaro. Rua Botucatu, 862, Vila Clementino, São Paulo. Das 18:30 às 20 horas. nuse@saopaulo@gmail.com

JUN

PASSATEMPO DO CORREIO

especiais dos médiuns.”

AGENDA

AGO

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Região do ABC retirada de doações para o bazar Permanente ligue (11) 4109-8938 www.correiofraterno.com.br

A fila Sabia que tem gente que morre antes da hora?

Eo que acontece quando chega no plano espiritual?

Tem que esperar até chegar a hora dele!

Será que dá pra sentar num banquinho?


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SAiu no CORREIO

o fenômeno mediúnico na tV:

Curar ou educar? Por AMilcAr Del cHiAro FilHo

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s cirurgias mediúnicas estão em voga porque a televisão tem dado destaque a esse fenômeno mediúnico, quase sempre evidenciando o maravilhoso, o inusitado, e muitos enfermos se apegam à esperança de que uma cirurgia feita pelos espíritos afastará a morte e solucionará o seu problema de saúde. Mas vamos examinar a intervenção dos espíritos com equilíbrio emocional. Emmanuel, no livro O consolador, indagado se pelo fato de um espírito receitar para um enfermo é um sinal evidente ou infalível de que o paciente será curado, ele responde que o espírito-guia é um irmão, um amigo que nunca ferirá as esperanças do enfermo. Ele pode receitar um medicamento para aliviar e até melhorar o doente, mas não poderá modificar as leis das provações ou dos desígnios superiores na hipótese da desencarnação. Acreditamos que as cirurgias através de médiuns estão nas mesmas condições. O fato de um espírito operar um paciente não significa que ele irá se curar. Precisamos compreender que, não raro, nossas doenças e até a nossa desencarnação é o caminho para uma verdadeira cura: a do espírito imortal. Embora o espiritismo, desde os seus primórdios, tenha se destacado no campo das curas, a principal finalidade da doutrina espírita é a da educação. A pessoa que chega ao centro espírita em busca de uma

mornas, porém os fenômenos, por mais interessantes que sejam, passam, caem no esquecimento e a educação espírita permanecerá para sempre. Os evangelistas narram que um dia Jesus ressuscitou uma menina, um jovem, filho de uma viúva, e também Lázaro, irmão de Marta e Maria, mas a natureza um dia reclamou os seus corpos físicos e eles morreram. Porém, fica a certeza de que a mensagem de Jesus não morreu em seus espíritos. Publicado na edição nº 199, de junho de 1987.

cura ou da solução de algum problema vivencial precisa receber, também, a mensagem esclarecedora, os ensinamentos simples e ao mesmo tempo profundos sobre a existência de Deus, da reencarnação, da lei de causa e efeito, da mediunidade, da evolução, da pluralidade dos mundos habitados e de muitas outras coisas que o espiritismo estuda. A finalidade maior do espiritismo não é a de curar os corpos físicos, mas a de educar para libertar. É a de provar ao homem a sua imortalidade. Mas o doente que vai ao centro espírita e não consegue a sua cura não perdeu seu tempo, pois os minutos que ali passou agiram como a chuva benéfica, suave, a penetrar o solo ressequido das suas descrenças. Será como o oásis reconfortante após a caminhada no deserto inclemente das

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provações. No bojo desses minutos estará o bálsamo bendito para curar as úlceras morais da alma. O espiritismo não cura e nem pode curar todas as doenças, mas não tenham dúvidas de que ele pode iluminar, consolar, orientar os que o procuram. Mas não nos iludamos, se curar é uma tarefa abençoada, educar é tarefa prioritária, pois as criaturas educadas saberão melhor se conduzir na vida. Os fenômenos trazidos à televisão são importantes para despertar muitas pessoas que sem esse choque visual permaneceriam

Amílcar Del Chiaro Filho foi um dos grandes divulgadores da doutrina espírita. Escritor e articulista, ele apresentou por quase 30 anos o programa “Gente como a gente”, na Rádio Boa Nova, voltado às pessoas com deficiência. Desencarnou em 2006, em São Paulo, aos 71 anos de idade.

O que diz Kardec Seria fazer uma ideia muito falsa do espiritismo acreditar que sua força vem das manifestações materiais e que, impedindo essas manifestações, pode-se miná-lo em sua base. Sua força está na filosofia, no apelo que faz à razão, ao bom senso. na Antiguidade, era objeto de estudos misteriosos, cuidadosamente escondidos do povo. Hoje, não tem segredos para ninguém; fala uma linguagem clara, sem equívocos. nele não há nada de místico, nada de alegorias passíveis de falsas interpretações; quer ser compreendido por todos, porque chegou o tempo de as pessoas conhecerem a verdade (...). não exige uma crença cega, quer que se saiba por que se crê; ao se apoiar na razão, será sempre mais forte do que aqueles que se apoiam no nada. os obstáculos que tentassem antepor à liberdade das manifestações poderiam lhe dar fim? não, porque só produziriam o efeito de todas as perseguições: o de estimular a curiosidade e o desejo de conhecer o que é proibido. o livro dos espíritos, conclusão 6, Allan Kardec, FEB. (REDAÇÃO).

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FOI ASSIM

Voltando ao passado Por THEREZINHA OLIVEIRA

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ma das experiências que obtive enquanto o sono concedia repouso ao corpo é o que desejo partilhar. Era noite. À minha frente, uma casa com janela à esquerda e, à direita, uma entrada em arco, por onde se adentrava ao interior. E uma voz me disse: “Lembra? Mas ainda não era assim”. Sem nada mais ouvir, aventurei-me a entrar. Atravessei aquela entrada e fui para o fim da construção, contornando-a sem encontrar abertura, e me detendo ante uma janela iluminada, que me permitia olhar o interior. Divisei ampla sala. Notei a pobreza de mobiliário. Um móvel tosco e pesado na parede ao fundo, uma mesa e alguns bancos ao seu redor. Então eles me chamaram a atenção. Eram dois homens que me pareceram tropeiros, de vestes rústicas e espécie de manto sobre as costas, com aspecto de couro ou tecido crus. Estavam sentados de costas, de modo que não me viam. Iluminava-os a luz de um lampião sobre a mesa. Entendi, amedrontada, que eles trama-

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vam a chacina dos moradores. Que fazer? Avisar aos moradores! Mas, para isso, teria de passar por eles, que certamente me viriam. Debati-me indecisa e, finalmente, decidi que fugiria. Lembrei-me que naquela entrada da casa havia umas gavetas na parede, em que eu guardara joias. Precisaria delas para custear minha fuga. Fui para a entrada, tateei nas paredes, abri a gaveta e tomei as joias nas mãos. “Joias”?! Eram colares, brincos e pulseiras pobres e rústicos... Tudo me parecia sem valor maior. Quando decidi pegar aquelas joias e partir, ouviu-se um tumulto e uma cena ao fundo se

fez visível para mim. Eram pessoas vestidas em roupas que me lembravam as túnicas gregas. Pareciam escravizadas e era delas que vinha o clamor. Estavam sendo acusadas de roubar as joias, ou precisariam delas e estavam sendo levadas embora... Não entendi bem, mas pensava: “tenho direito a elas, são minhas!” E aquela multidão começou a vir em minha direção... Foi então, que, na semiescuridão, apareceu um homem de aparência bela e presença poderosa, inspirando respeito, que estendeu o braço, onde a multidão descontrolada foi detida. Olhou-me e estendeu sua mão sem dizer palavra, mas eu entendi que era para nela eu

depositar as ‘joias’... Hesitei. Sentia-me com direito a elas.... Mas coloquei meus míseros valores em sua mão. Tudo então desapareceu. Eu estava de volta à cena inicial. Fui deixando a casa e, atravessando o portãozinho da entrada, saindo de lá. Que me poderia ensinar esse sonho espírita, a vivência que tive no plano espiritual, enquanto meu corpo dormia? Guardei a impressão de que lá atrás, em outra encarnação, eu possa não ter agido com a coragem e desprendimento devidos. E, também que, quaisquer sejam os valores de que dispomos e nos parecem ‘nossos por direito’, são, em verdade, recursos que Deus nos confia para os empregarmos em benefício geral. Este curioso fato, compilado de seu livro Coisas que eu não esqueci – porque me ensinaram muito (CEAK, 2010), foi narrado pela reconhecida escritora e oradora espírita Therezinha Oliveira (1930 -2003). Envie também sua história para ser publicada: redacao@correiofraterno.com.br


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DIRETO AO PONTO

Viver o presente, construir o amanhã Por UMBERTO FABBRI

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esatentos sobre as implicações de não aproveitarmos adequadamente a valiosa oportunidade da reencarnação, por vezes podemos ‘viver’ em uma dimensão mental que não nos auxilia, e até nos prejudica, em cumprir nossas metas para esta existência, escolhidas e planejadas com critério e empenho por mentores, visando nosso crescimento e harmonização. A melancolia alimentada por nossa dificuldade em aceitar e trabalhar as mudanças da vida nos remete ao passado. Geralmente fixamos nossa mente em fatos e acontecimentos que nos marcaram e nos fizeram muito felizes ou infelizes e acabamos por nos aprisionarmos em períodos de nossas vidas que simplesmente não existem mais... Mas, são alimentados e mantidos pelo ‘re’ sentir desapercebido que nos algema a situações que precisam ser superadas, esquecidas ou, lembradas sem dor, sem sofrimento. Se não nos desapegarmos do que já passou, como poderemos abrir espaço para novas experiências? Como poderemos interagir e crescer com o mundo que nos cerca, e que certamente é o mais indicado para nossa melhoria, se estamos ‘morando’ em algum lugar do passado? Existem ainda aqueles que vivem no futuro e são transportados para lá pela an-

A preocupação com o futuro mata nossa chance de sermos felizes hoje, com o que já possuímos siedade constante e não controlada. A ansiedade é uma denominação usada para caracterizar vários estados emocionais, tais como: nervosismo, medo, apreensão e preocupação. Esses sentimentos em altos graus podem gerar dis-

túrbios que afetam a maneira como nos sentimos e nos comportamos, e podem atingir um ponto de manifestarem sintomas físicos reais. Nascida quase sempre da pressão pela competividade, pelo materialismo, imedia-

tismo e perfeccionismo, a ansiedade não nos permite viver o agora, o presente. Deixamos de existir plenamente, de aproveitar enormes possibilidades, pois, a preocupação com o futuro mata nossa chance de sermos felizes hoje, com o que já possuímos. O ritmo frenético e cadenciado por um inconsciente coletivo que corre atrás do ‘amanhã’, ironicamente nos impede de construí-lo de forma adequada, de modo que ele nos traga boas perspectivas, equilíbrio e serenidade. Viver no futuro nos impede de experenciar o presente e quem não tem presente não pode almejar o futuro não construído. Não estamos aqui combatendo a saudade, a prudência, o progresso, o planejamento, mas, sim, os excessos que nos desabilitam, enfraquecem e nos desviam de nossas rotas evolutivas. Abraçar com gratidão e comprometimento nossos deveres nos possibilita conduzir de forma eficiente nossa vida presente, utilizando o passado como referência, de forma a construir um amanhã pleno em realizações no bem e no amor. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor dos livros O traficante, Amor e traição e Pecado e castigo, ditados pelo espírito Jair dos Santos (Correio Fraterno).

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MÍDiA Do beM este espaço também é seu. envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Detentos transformam bicicletas em cadeiras de rodas

Cientistas desenvolvem rim biônico

Dois detentos do Presídio de Itajubá, no sul de Minas Gerais, estão transformando bicicletas apreendidas por roubo ou tráfico de drogas em cadeiras de rodas para adultos e crianças que não podem comprar o equipamento para locomoção. O projeto iniciou há seis meses, e Damião e Donizeti já transformaram 300 bicicletas, com apoio de empresa fabricante de helicópteros instalada no município. A dupla também conserta brinquedos de praças públicas e escolas e faz a manutenção da parte hidráulica, elétrica, pintura e alvenaria do presídio. “É gratificante poder ajudar as pessoas com o meu trabalho” — conclui Damião.

Cientistas da Universidade da Califórnia, nos EUA, pretendem lançar este ano o primeiro rim artificial biônico. E a boa notícia é que, segundo os pesquisadores, não há riscos de rejeição, por ser elaborado a partir de células renais. O aparelho funciona com microchips e é movido pelo coração humano para filtrar os resíduos da corrente sanguínea. O protótipo, do tamanho de uma xícara de café, consegue otimizar a pressão arterial e o equilíbrio entre sódio e potássio no corpo. Os pesquisadores acreditam que as opções podem ser ainda mais amplas e que dentro de dois anos o rim biônico estará disponível para venda.

Uma publicitária e um designer brasileiros, em parceria com o CVV, lançaram há poucos dias pela internet o jogo da ‘Baleia Rosa’. O projeto se contrapõe ao Jogo da ‘Baleia Azul’, um fenômeno que chegou pelas redes sociais com propósito de encorajar principalmente os jovens a pôr em risco ou tirar a própria vida. O jogo da ‘Baleia Rosa’ consiste em 50 desafios diários que envolvem desde se olhar no espelho e agradecer por tudo que se tem, ligar para os avós, usar uma roupa nova em plena segunda-feira, pedir desculpas ou perdoar alguém. “Espalhe o amor nesse desafio do bem”— convida os criadores da iniciativa.

Fonte: queminova.catracalivre.com.br

Fonte: www.curapelanatureza.com.br

www.baleiarosa.com.br

www.correiofraterno.com.br

O jogo para o bem


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