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SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o

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O espiritismo e a teoria do conhecimento O médico, filósofo, psicólogo e doutor em educação André Luiz Peixinho explica como nossas heranças culturais materialistas interferem na produção do conhecimento e fala sobre a grande proposta libertadora do espiritismo. Leia nas páginas 4 e 5.

Um congresso especial Mais reflexão e interação para os espíritas

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om uma programação diferenciada, o congresso estadual de espiritismo, em São Paulo, inovou. Além das conferências de palestrantes renomados, boa parte do tempo foi dedicada a reunir pequenos grupos em diversas salas para oficinas e rodas de conversa, onde foi possível abordar assuntos diferenciados, ouvir relatos de experiências e pensar em novas propostas para o trabalho nas casas espíritas. A qualidade doutrinária da nossa literatura, as práticas estranhas ao centro espírita, a impropriedade de se utilizar teorias científicas modernas para explicar conceitos espíritas, política e sexualidade foram alguns dos assuntos trazidos para a reflexão, que deve contribuir para um melhor preparo das casas no enfrentamento das demandas sociais da atualidade. Leia nas páginas 8 e 9.

Quando minha dor é a dor do outro Não estava nos planos de Juliana Heck ser escritora. Até entender que sua história de dor e superação poderia ajudar muitas outras pessoas. Leia na página 14.

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A história do Brasil com emoção e arte Iniciada há quatro meses, a novela Novo Mundo traz cor e movimento aos acontecimentos históricos do primeiro reinado brasileiro e desperta em nós um pouco mais de sensibilidade sobre essa terra que nos acolhe. Leia na página 7.

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eDItorIAl

A verdadeira J

á habituados à rapidez que caracteriza a comunicação nos dias de hoje, muitas vezes nem percebemos a alegria de um encontro, o valor de uma boa conversa. Será que estamos nos isolando fisicamente pela facilidade de encontrar pessoas através de computadores e celulares? Essa é uma questão que só o tempo dirá. O que não podemos esquecer é que fomos criados para viver em sociedade e que a interação com o outro é que nos permite as maiores aprendizagens. Isso ficou bem evidente no recente congresso estadual que comemorou os 70 anos da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. Uma multidão ávida por trocar ideias, informa-

religião

ções e também – por que não? – afeto, o que nos leva a pensar o quanto essa proximidade nos faz felizes e alimenta a alma, mostrando a religião em seu verdadeiro sentido filosófico, de comunhão de ideias, sentimentos e pensamentos, como nos ensinou Allan Kardec. Por isso escolhemos para esta edição fazer um apanhado geral do que foi discutido nas rodas de conversa, uma programação inovadora do evento que permitiu uma participação mais ativa do público presente, ao reuni-lo em grupos para refletir sobre assuntos importantes não somente para as casas espíritas, mas para a sociedade em geral. Vale ficar por dentro sobre o que está se falando no movimento espírita, suas

CORREIO DO CORREIO Filosofia e Evangelho Gostaria de parabenizar o professor Edson Outtone pelo artigo tão esclarecedor, que trouxe em uma síntese breve, porém substancial, as principais ideias de nosso mestre Jesus e o pensamento de vários filósofos, em perfeita consonância com a importância do autoconhecimento como caminho da busca da Verdade. (“A filosofia e os ensi-

namentos de Jesus”, edição 474) Kleber Simão, São Paulo, SP. Prevenção do suicídio Entre 1988 e 2003, falei muito na Associação Municipal Espírita de Caruaru e também em outros centros espíritas da cidade sobre a prevenção do suicídio e crimes de morte, o que tem ocorrido muito hoje aqui

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118

Presidente: Izabel Regina R. Vitusso Vice-presidente: José Natal Inácio Tesoureiro: Olímpia Iolanda da S. Lopes Secretário: Vladimir Gutiérrez Lopes Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP www.correiofraterno.com.br

em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos.

conquistas e desafios. Afinal, o espiritismo só tem 160 anos. Ainda é uma criança. Boa leitura! Equipe Correio Fraterno

na cidade. Nós sabemos que o suicídio não é a solução, mas infelizmente muitas pessoas pensam o contrário. Vamos orar por todos! (“Há algo novo no ar”, edição 475) Adriano Henrique, Caruaru, PE. 50 anos de Correio Fraterno No cinquentenário desse abençoado divulgador do espiritismo, rogo ao excelso Mestre que abençoe a todos os que o mantêm tão ativo, abençoado e ofertando luzes doutrinárias para nós, seus leitores. Parabéns! Eurípedes Kuhl, por email.

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Administração/financeiro: Raquel Motta Comercial: Magali Pinheiro Comunicação e marketing: Tatiana Benites Auxiliar geral: Ana Oliete Lima Apoio de expedição: Osmar Tringílio Impressão: LTJ Editora Gráfica

Uma ética para a imprensa escrita

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• os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


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Acontece

MEDNESP

A maior iniciativa de profissionais da saúde e os novos paradigmas da medicina Da redação 1

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1- Mesa de abertura do Congresso, com a presença de Divaldo Franco

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2- Mais de dois mil congressistas presentes 3- Gilson Luis Roberto: “O paradigma médicoespírita em novos lugares e maior participação no meio acadêmico

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á mais de 20 anos a AME-Brasil vem realizando o Mednesp – Congresso da Associação Médico-Espírita do Brasil, reconhecidamente o maior evento de medicina e espiritualidade que se conhece. Em 2015 o evento bienal, realizado em Goiânia, obteve público recorde e a presença de cem expositores, que discutiram os avanços na área da saúde e sua intersecção com a espiritualidade. Este ano, o 11º Mednesp – organizado pela Associação Médico-Espírita carioca e apoio das demais AMEs Brasil – alcançou mais de dois mil participantes, que se reuniram de 14 a 17 de junho no Riocentro, na cidade do Rio de Janeiro. No evento, que representa um pujante convite para o debate sobre a contribuição do espiritismo na elaboração de um novo paradigma para a saúde, foram discutidos os avanços na área de saúde e espiritualidade a partir de suas práticas, através de conferências e mesas-redondas que abordaram a psicologia transpessoal de Joanna de Ângelis, a homeopatia, a prevenção do suicídio, a dependência química e cuidados paliativos, e

um seminário voltado aos acadêmicos, com a participação de 160 estudantes. Também fez parte da programação o Seminário Internacional de Consciência, Saúde e Espiritualidade, que contou com a presença de renomados pesquisadores internacionais e nacionais, como a psiquiatra Olfa Hélène Mandhouj (França), o psicólogo Chris Roe (Reino Unido), Giancarlo Lucchetti (UFJF), Mario Peres (Unifesp) e Alexander Moreira Almeida (UFJF), não faltando também a homenagem ao psiquiatra carioca Jorge Andréa, que desencarnou em 2017, aos cem anos de idade, tendo deixado importantes pesquisas sobre a saúde, o comportamento humano e a correlação espírito-matéria. “A ideia é manter o planejamento estratégico, com ênfase em ensino, pesquisa e assistência, ampliar nossa comunicação e organização e, acima de tudo, manter o legado que a dra. Marlene Nobre nos deixou, de realizar o trabalho, levar o paradigma médico-espírita para novos lugares e ampliar a nossa participação no meio acadêmico. Este é o nosso presente ao dr. Bezerra [de Menezes]

e à dra. Marlene” – enfatiza o presidente da AME Brasil, Gilson Luis Roberto. “Este evento foi, é e será um marco na cidade do Rio de Janeiro, e é o maior Mednesp já realizado em volume de palestras, mais de 120 e mais de duas mil pessoas, profissionais da área de saúde e outras áreas, todas interes-

sadas no tema ciência, saúde espiritualidade” – satisfeito, avalia o médico Luis Felipe Guimarães, presidente da AME carioca. O próximo Congresso será realizado em Teresina-PI, em 2019, também no feriado de Corpus Christi. (Colaboração: Giovana Campos)

O testamento vital e a questão bioética Durante o Mednesp foi também realizada a atualização da Carta de Princípios Bioéticos, que introduz o polêmico tema ‘testamento vital’, que trata de decisões antecipadas especificando as ações que uma pessoa gostaria que fossem ou não tomadas, no caso de adoecer gravemente e não tiver condições de manifestar sua vontade. O médico intensivista e coordenador do Departamento de Bioética da AME-Brasil, Dr. José Roberto Pereira Santos, explicita: “Nós, médicos espíritas, somos contra o testamento vital. Somos favoráveis à ortotanásia ou morte natural (entendida quando o paciente se encontra em estado terminal). Somos favoráveis aos cuidados paliativos. Não podemos dispor da nossa vida, um bem indisponível que só a Deus pertence. As dores e sofrimentos são decorrentes dos nossos atos e a melhor maneira de se ter uma morte digna é viver dignamente, seguindo os exemplos de Jesus. Muitas vezes o paciente, em momentos de dor e sofrimento, vem a descobrir novos valores e encontrar um sentido para a vida, o que pode alterar sua atitude e a vontade manifestada anos atrás. Para acessar a Carta de Princípios Bioéticos da AME-Brasil, acesse o nosso site www.correiofraterno.com.br www.correiofraterno.com.br


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ENTREVISTA

O papel renovador do espiritismo no caminho do conhecimento Por Eliana Haddad

André Luiz Peixinho: Precisamos desenvolver uma consciência clara da nossa natureza essencial como espírito

Qual o papel do espiritismo no progresso das diversas áreas do saber? André Luiz Peixinho: A era moderna, que começou no período histórico conhecido como Renascença e influencia até hoje a organização social, trouxe-nos a diferenciação e a autonomia das esferas culturais: ciência, filosofia, arte e religião. Na sua progressão, entretanto, por mais de um motivo, adotou como saber hegemônico a ciência, sendo esta centrada na www.correiofraterno.com.br

substância material passível de investigação pelos cinco sentidos humanos e aparelhos derivados. Assim, constituiu uma cosmovisão materialista que vigora até hoje na civilização. Além disso, a separação entre as esferas culturais resultou em falta de contato, comunicação, especialização e perda do sentido de totalidade. O espiritismo, conforme assevera Kardec, é o maior adversário do materialismo. Enquanto cosmovisão, propõe a tese de que a substância primordial do universo

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cadêmico da Universidade Federal da Bahia, André Luiz Peixinho possui graduação em psicologia, medicina e filosofia. É mestre em medicina interna e doutor em educação, sendo atualmente professor titular da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e professor associado da Faculdade de Medicina da Bahia. Peixinho é presidente da Federação Espírita da Bahia e tem sido presença de destaque em congressos espíritas, trazendo sempre em suas palestras um conteúdo diferenciado que assinala o importante papel do espiritismo na teoria do conhecimento. Segundo ele, ainda há muito a se descobrir e a se conhecer, e o caminho a ser trilhado depende do nosso empenho no autoconhecimento, através do qual precisamos desenvolver uma consciência clara da nossa natureza essencial como espíritos, criações divinas. Acompanhe-o na entrevista abaixo e saiba por que o espiritismo é a chave para a mudança do paradigma materialista.

é o espírito que anima e transcende a vida material. Portanto, sem excluir a matéria, seus derivados e progressos, demonstra que a realidade é muito mais vasta do que podemos apreender com o nosso mundo sensorial. Assim, abre um vasto campo para a pesquisa da realidade, que inclui regiões ignoradas como o mundo espiritual. Por outro lado, a proposta espírita é de religação dos saberes sem a hegemonia científica da modernidade.

Como podemos analisar essa proposta de integração na produção do conhecimento? Encontramos na codificação textos que demonstram esta tese, como se pode depreender do capítulo “A aliança da ciência com a religião” em O evangelho segundo o espiritismo, da filosofia espiritualista estampada no frontispício de O livro dos espíritos e dos estudos de arte publicados em Obras póstumas. Posteriormente, Léon Denis reforçou a visão integradora do conhecimen-


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to espírita e anteviu um tempo em que “ciências, filosofias, religiões, divididas hoje, reunir-se-ão na luz e será então a vida, o esplendor do espírito, o reinado do conhecimento. Neste acordo magnífico, as ciências fornecerão a ordem e a precisão na ordem dos fatos; as filosofias, o rigor de suas deduções lógicas; a poesia, a irradiação das suas luzes e a magia das suas cores; a religião juntar-lhes-á as qualidades do sentimento e a noção da estética elevada”. De outra parte, o método de Kardec para a produção de conhecimento abriu caminho para uma parceria interexistencial dialógica bastante frutífera, de que a civilização ainda não se aproveitou adequadamente, em função do seu reducionismo materialista. O conceito evolucionista espírita permite agregar todos os saberes; assim, as pequenas visões de mundo ou sistemas podem ser colocadas como compreensões parciais, num espectro de manifestações do ser espiritual que vai do átomo ao arcanjo, sem nada desprezar, identificando cada saber como um momento existencial evolutivo do indivíduo ou grupamento que o produz. O espiritismo prega a fé raciocinada. Como analisar a fé e a razão no processo do conhecimento humano? O contexto histórico em que nasceu o espiritismo era claramente contra a fé, pois a ela se atribuía os descaminhos da religião e suas ingerências políticas, além dos equívocos cosmológicos que a ciência progressivamente ia demonstrando. Kardec, entretanto, preferiu encontrar uma solução que valorizasse a fé, pois a entendia como instrumento da revelação e da comunhão transcendental, e ao mesmo tempo colocou freios ao dogmatismo nascido do mau uso da fé, constituindo um crivo para suas produções: a razão. Daí decorre o seu aforismo: “Fé verdadeira é aquela que encara a razão face a face em todas as épocas da humanidade”. Os desenvolvimentos posteriores da gnosiologia espírita mostraram que nossas percepções evoluem e no estágio humano atual podemos contar com algumas faculdades, a saber: sensação, razão, intuição, sentimento, vontade e imaginação. Por outro lado, temos os estados diferenciados da consciência além da vigília, que nos permitem acessar outros níveis de realidade, a exemplo da vida onírica, dos transes, do devaneio, do êxtase, do uso da consciência supraliminar, do superconsciente etc...

A qual faculdade de conhecer pertence a experiência da fé? O saber fideístico usualmente é atribuído à percepção intuitiva, agregada ao sentimento ou a estados de consciência além da vigília. Portanto, a fé não nasce no raciocínio lógico ou do experimento empírico. Mas seu conteúdo pode ser passível de verificação através da razão e do sensório. O conhecimento da reencarnação, por exemplo, foi inicialmente de origem fideística, ora revelado em estados de transe, ora intuído. Posteriormente, foi motivo de demonstrações filosóficas, a exemplo da lei dos contrários de Sócrates e da explicação da justiça divina para as diferenças humanas por Kardec. A seguir, passou a ser pesquisada e aceita por experimentos comprovados de regressão a vivências passadas e marcas de nascença. Assim, concluímos que nenhuma faculdade é capaz

rio e suas impressões etc... E depois, juntos, fariam um relatório circunstanciado da pesquisa. A intuição se utilizaria apenas de um sujeito que tomasse o banho e já teria o conhecimento do que é o motivo da pesquisa. A razão estuda o fenômeno a partir de suas manifestações; a intuição experiencia o fenômeno diretamente e, por isso, é indispensável transportar o próprio eu com sua sensibilidade até o centro dos acontecimentos, tornando-se um com ele em perfeita comunhão. Assim, enquanto a razão divide para melhor estudar através da análise, a intuição procede por síntese. É claro que exige para funcionar uma maturação psíquica evolutiva que faz aparecer esta capacidade. Assim como na evolução a consciência sensorial foi ampliada com o surgimento da consciência racional analítica, o futuro evolutivo deverá tornar comum a consciência intuitivo-sintética.

A proposta espírita é de religação dos saberes sem a hegemonia científica da modernidade” de perceber a totalidade da realidade. Mas o que seria então intuição? O que ela pode conhecer? Como se desenvolve? A intuição é uma faculdade psíquica que nos permite apreender a realidade focada sem passar por processos analíticos. Léon Denis a denomina sentido íntimo ou sentido espiritual que permite descobrir as verdades essenciais. Afirma ainda ser a faculdade de entendimento que se desenvolve no estudo silencioso e no recolhimento. A melhor comparação que conhecemos sob a forma de uma metáfora entre o método da razão e a intuição foi criada por Henri Bergson (1859-1941), filósofo intuicionista francês que tomou como exemplo o conhecimento do que é um banho de rio. A razão por sua natureza analítica precisaria de vários sujeitos pesquisadores especializados que estudariam as condições ambientais, os tomadores do banho de

Que rede devemos jogar nesse mar de conhecimentos para pescarmos com maior sabedoria em tempos de tanta informação? Creio que o melhor caminho para lidar com o conhecimento disponível é estudarmos a nós mesmos, através das nossas diversas faculdades psíquicas, identificarmos nosso nível existencial evolutivo e nossas possibilidades futuras e selecionarmos no mundo as experiências, que nos auxiliam a progredir como espíritos em manifestação no mundo dos encarnados. Como já advertia Léon Denis, muita informação distrai a mente, impede-a de perceber o que lhe revela o sentido íntimo. O aspecto filosófico do espiritismo não tem sido negligenciado pelos próprios espíritas? O conhecimento espírita é uma proposta de revolução paradigmática evolucionária que pretende, em nossa compreensão,

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transcender a visão materialista, incluindo-a como um aspecto particular restrito do Cosmos. Seu potencial, entretanto, pela própria antecipação evolutiva que representa, não pode ainda ser devidamente explorado, pois não temos a massa crítica de pessoas que consigam vivê-lo na sua integralidade epistemológica. Por isso, entrevemos futuros desenvolvimentos das esferas culturais baseados nas noções estruturantes do espiritismo como a evolução, a palingênese, a interexistencialidade. Por enquanto, estamos na fase de aproveitamento do saber espírita já coligido para atender nossas demandas imediatas, relativas à liberação do sofrimento ou, pelo menos, à consolação. Qual o papel do Evangelho para conhecermos uma realidade mais transcendente? Numa abordagem evolutiva, o Evangelho é o nosso horizonte futuro mais distante; a mais elevada aspiração do ser, o zênite da sua evolução humana. Jesus é o modelo e guia para nos tornarmos espíritos puros, crísticos, revelando no mundo nossa natureza essencialmente divina. Viver o Evangelho é trans-humanizar-se, sendo perfeito como Deus o é, expressar uma amorosidade tão universalista que inclui os inimigos, renunciar a todo apego, a toda impermanência, dedicar-se a experienciar o reino dos céus e sua justiça como objetivo de vida e unificar-se em perfeita comunhão com Deus, superando toda separatividade. Assim pensadas, as lições evangélicas são o estímulo para a nossa realização plena ou estado de bem-aventurança. Como espíritas, qual o grande trabalho que ainda nos aguarda? O grande trabalho é agilizar o nosso processo evolutivo pessoal e coletivo. Para tanto, precisamos de uma dedicação profunda ao estudo espírita e sua aplicação na vida cotidiana. Precisamos desenvolver uma consciência clara da nossa natureza essencial como espírito, criação divina, perceber com nitidez a dinâmica da evolução em nós e na comunidade, utilizarmos da grande potência da alma, a vontade para agilizarmos nosso progresso até tornarmos nossa vida uma gravitação em torno de Deus. Ampliando nossos estados de consciência e elevando seus estágios evolutivos, conceberemos mundividências que hoje estão recônditas no universo à espera de seres que as identifiquem e delas se aproveitem. www.correiofraterno.com.br


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coISAS De lAUrInHA

Por tAtIAnA BenIteS

Tem espíritos no escuro? C

lara e laurinha conversam: – eu posso até dormir na sua casa, mas preciso que você deixe uma luz acesa à noite – diz clara –. tenho medo é de espíritos. – e tem espíritos no escuro? – claro que tem. Você já percebeu que todo filme de terror é no escuro? – É verdade, mas não sabia que era por causa disso. – É sim, no escuro tem espíritos. – e no claro? – Acho que no claro não tem. Pelo menos não dá tanto medo... na aula de evangelização, laurinha pergunta: – Professora, você sabe por que as pessoas têm medo de escuro? – Hum! Você tem uma pista? – incentivou a professora. – Porque tem espíritos no escuro. – Quem disse isso? – A clara. e ela só dorme de luz acesa, por isso. – Mas os espíritos convivem com a

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gente o tempo todo, não é verdade? – Siiiiiiiiimmmm – respondem os alunos. – Mas tenho medo, porque à noite aparecem espíritos que querem nos assustar, igual no filme de terror. – clara, nem sempre os espíritos que estão ao nosso redor são maus. os filmes de terror gostam de mostrar suspense, de surpreender com sustos quem os assiste. Por isso, não são indicados para crianças. tem muitos outros filmes legais próprios para vocês assistirem – explica a professora. – Viu, Pedro? – desafiou laurinha. – lembrem-se de que espíritos são pessoas como nós. Apenas já estão sem o corpo físico. não há o que temer. outra coisa: É pelas nossas ações, pelos nossos sentimentos e pensamentos que podemos ou não sintonizar com eles. Quanto mais sintonizados às coisas boas, mais ligados aos espíritos bons nós estare-

mos. Podemos também pedir através de uma prece, toda noite, para que os bons espíritos nos protejam. laurinha com sua cara de esperta diz: – É por isso que minha mãe sempre faz a prece comigo antes de dormir, para nos proteger e para iluminar minha casa à noite. Por isso não tenho medo de escuro! – Muito bem – disse a professora. A melhor iluminação para nossa casa é sempre a oração. É luz espiritual, que traz aos ambientes o amor, que acaba com qualquer medo e que acende em nós os bons sentimentos, a confiança e a fé. laurinha veio logo sugerindo: – Ah, entendi. e, se a gente quiser bem clarinho, tem que rezar bem forte. – como assim, laurinha? – tem que aprender a rezar direito. Assim, nem vai precisar de abajur, lanterna, luzinha de celular... Isso é coisa do passado.

Tatiana Benites é autora dos livros tem espíritos no banheiro? tem espíritos embaixo da cama? E agora tem espíritos no escuro? (Ed. Correio Fraterno)


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JULHO - AGOSTO 2017 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

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BAÚ DE MEMÓRIAS

A história do Brasil com emoção e arte

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Por izabel vitusso

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feitos ou não ao hábito de assistir a novelas, com um fato precisamos concordar: o Brasil emplaca mais uma vez em sua arte de produzir a teledramaturgia. Iniciada há quatro meses, a novela Novo Mundo (TV Globo) tem proporcionado cor e movimento à memória dos acontecimentos históricos que marcaram o primeiro reinado brasileiro. Fazendo uso de boa dose de licença poética, o enredo mistura o passado e o presente, a realidade com a ficção, enquanto cria um entretenimento com ritmo, suspense e aventura. O cenário, que tem como pano de fundo a presença do índio e a escravidão no Brasil, protagoniza as intrigas palacianas, as paixões, vinganças e o eterno jogo de interesses na órbita do poder, no caso, do imperador D. Pedro I (Caio Castro). Assistir à encenação de parte de nossa história, ver as dificuldades por que passaram seus protagonistas e também seus reflexos na atualidade, tudo isso acaba por despertar em nós um pouco mais de sensibilidade sobre essa terra que nos acolhe. Não se sabe se o enredo da novela alcançará a vida do sétimo filho do D. Pedro I com a imperatriz Leopoldina (Letícia Colin). Trata-se de um espírito muito diferente dos que o antecederam na coroa. Convidado a reencarnar em missão para promover a organização social e política do Brasil no pós-Proclamação da Independên-

cia, D. Pedro de Alcântara, mais tarde D. Pedro II, será o exemplo vivo de bondade e de virtudes, inaugurando um novo período de progresso moral no Brasil. Com apenas um ano de idade, D. Pedro II vê-se órfão de mãe e aos quatro vê chegar sua madrasta, Amélia de Leuchtenberg. Criança encantadora, ganha o coração da nova imperatriz. Quando Pedro I abdica ao trono e parte com ela para Europa, deixando para trás o pequeno aos cuidados de José Bonifácio, ela escreve em carta de despedida: “Adeus, menino querido, delícia de minha alma, alegria de meus olhos, filho que meu coração tinha adotado; adeus, para sempre, adeus”. D. Pedro II estava com cinco anos, idade com que se tornou príncipe regente do Brasil. Vale a pena rever a história do Brasil, considerando-se a responsabilidade que tiveram os representantes da nação, e as consequências tanto sociais como individuais, espíritos encarnados em processo de evolução, diante do que elegeram como norma de conduta para suas ações. Não foi à toa que, segundo o escritor espiritual Humberto de Campos, Jesus lembrou a D. Pedro II, ao prepará-lo para a sua missão, que “a autoridade, como a riqueza, é um patrimônio terrível para os espíritos inconscientes dos seus grandes deveres”. Disse também que ele o inspiraria em suas

ações, mas que não esquecesse da responsabilidade que permaneceria em suas mãos, reafirmando a beleza das leis naturais que contempla cada um de nós com o direito soberano de nossas escolhas. D. Pedro II não só inaugurou uma nova era no campo político e moral no solo brasileiro, mas se fez conhecer como um erudito patrocinador do conhecimento, da cultura e das ciências, ganhando respeito e admiração de estudiosos e grandes celebridades internacionais da época, como Graham Bell, Charles Darwin, Victor Hugo, Friedrich Nietzsche, Richard Wagner, Louis Pasteur, Jean-Martin Charcot, dentre outros. O Império do Brasil foi encerrado em 15 de novembro de 1889, por meio de um golpe de Estado e Pedro II não permitiu qualquer medida contra sua remoção. Não apoiou qualquer tentativa de restauração da monarquia, passando os seus últimos dois anos de vida em exílio na Europa. Para encerrar, vale lembrar a pergunta 519 de O livro dos espíritos, que nos lembra que as sociedades, as cidades, as nações também têm os seus espíritos protetores. Porque, como individualidades coletivas, elas marcham igualmente para um objetivo comum e têm necessidade de uma direção superior. Conquanto nunca nos falte a direção superior, o apoio da Espiritualidade Maior,

1- D. Pedro I (Caio Castro) e a imperatriz Leopoldina (Letícia Colin), em cena da novela Novo Mundo (TV Globo) 2- O imperador Pedro II aos 12 anos de idade (Museu Imperial)

será sempre importante lembrar que a história de nossa pátria a ser contada amanhã é o que dela fizermos agora. Que seja a ética, a fraternidade, a fé ativa, a bondade em nosso coração, o fazer ao outro o que quereríamos para nós o novo norte para o Brasil engatar a sua nova marcha. Bibliografia: Chico Xavier, D.Pedro II e o Brasil, Walter José Faé, Correio Fraterno, 1992. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho, Humberto de Campos/ Chico Xavier, FEB, 1938. www.correiofraterno.com.br


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ESPECIAL

Tempo para reflexão e interaçã Por Eliana Haddad e Izabel Vitusso

Apoio com imagens: Rubens Toledo e A. J. Orlando

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ão é novidade para o movimento espírita a realização de congressos, que contam com palestrantes renomados. Com programação diferenciada, porém, o Congresso Estadual de Espiritismo, realizado pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, em Atibaia, SP, de 23 a 25 de junho, parece ter inaugurado uma nova fase para os eventos espíritas, ao valorizar a conversa, a interação para troca de ideias. O evento, que comemorou os 70 anos de fundação da USE com lançamento de livro sobre a história da entidade e selo comemorativo dos Correios, reuniu cerca de mil pessoas, vindas de 13 estados brasileiros e 132 cidades, e contou com quatro conferencistas: Divaldo Franco, André Luiz Peixinho, Haroldo Dutra e Alberto Almeida, que enalteceram a necessidade dos espíritas se conscientizarem da grande tarefa do espiritismo na transformação moral dos indivíduos, um convite à mudança de paradigma materialista para uma humanidade tão necessitada da consolação e esclarecimento que a doutrina espírita traz ao anunciar a era do Espírito. O público, entretanto, não ficou restrito ao salão de palestras. Numa proposta bastante dinâmica, boa parte do tempo do congresso foi dedicada a reunir em diversas salas grupos para oficinas e rodas de conversa, onde foi possível debater assuntos diferenciados, ouvir relatos de experiências e pensar em novas propostas para o trabalho nas casas espíritas. Ao falar sobre os desafios a serem enfrentados pelo movimento espírita, a presidente da USE, Julia Nezu, lembrou o papel da entidade no apoio às organizações espíritas, com subsídios em forma de cursos, debates e material de suporte para que a unidade do espiritismo seja preservada em termos doutrinários. E destacou o pensamento de Bezerra de Menezes sobre o trabalho da unificação: “Nenhuma hostilidade recíproca, nenhum desapreço; acontece porém que há necessidade de se preservar os fundamentos espíritas, honrá-los e sublimá-los, senão acabaremos estranhos uns aos outros.” Ponto alto do evento, seis rodas de conversa abordaram assuntos preponderantes para o movimento espírita. Como foi enfatizado pelos organizadores, o congresso não terminava ali e deveria continuar nas casas espíritas, como um convite à reflexão e discussão sobre os vários itens apontados. Veja as principais conclusões apresentadas: Qualidade doutrinária da literatura espírita Por Marco Milani

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preciso ponderar o que pode ser aceito como novo conhecimento, separando-se os livros em espíritas e “pseudoespíritas”. Para que algo possa ser considerado como uma nova informação para a doutrina é preciso haver evidências objetivas que comprovem a novidade. Passar pelo crivo da razão, por toda a comunidade espírita e científica. Também o perigo da idolatria foi abordado, em função da fixação que algumas pessoas têm com relação a médiuns. Não é porque o médium é famoso, que todas as suas obras devam ser aceitas sem análise. A seleção das obras para a livraria na casa espírita deve prezar a coerência doutrinária, sendo de reponsabilidade do dirigente. A biblioteca pode ter outro caráter e conter

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inclusive obras que tenham contradições, mas devidamente classificadas como tal. Práticas estranhas ao centro espírita Por Antonio Cesar Perri de Carvalho

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movimento espírita tem dificuldade de lidar com a crítica. Porem, feita de maneira equilibrada, não pode ser considerada como algo destrutivo. É preciso atentar para práticas estranhas, não somente com relação à mediunidade, mas também em questões doutrinárias, gestão administrativa e as inter-relações dos espíritas, entre dirigentes, colaboradores e frequentadores. Sobre o passe, concluiu-se que por ser uma doação de sentimento, muito simples, não há necessidade de movimentos e encenações. É preciso atenção sobre os limites das atividades de cura para não se correr o risco da caracterização de curandeirismo e prática ilegal da medicina.

1- Cerca de mil congressistas participam do Congresso, no Hotel Tauá, em Atibaia, SP 2- Roda de conversa com Haroldo Dutra e Allan Veloso 3- Na presença de autoridades, Julia Nezu lança o selo comemorativo dos 70 anos da USE 4- Alexandre Fonseca, Antonio Perri, Marco Milani, Luis Penteado, André Peixinho e Allan Veloso apresentam as conclusões das rodas de conversa 5- Alegria e muita emoção na despedida do Congresso

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Outro ponto analisado foi o crescimento de instituições que acabam por requerer um autêntico comércio para sua manutenção. Herculano Pires foi lembrado, através de seus comentários no livro O evangelho em espírito e verdade sobre Paulo de Tarso, que libertava a religião da política e do negócio, para ser vivida em si mesma, com toda a independência moral. A apometria foi claramente considerada como prática não espírita. Há também centros espíritas utilizando-se de cursos e técnicas de magnetismo, sendo preciso haver a identificação sobre diferenças entre prática espírita e práticas alternativas de terapias complementares, que estão fora da alçada do centro espírita. Teorias científicas e espiritismo Por Alexandre Fontes da Fonseca

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efletiu-se sobre a impropriedade de se utilizar teorias científicas modernas

para explicações de conceitos espíritas. O espiritismo tem valor por si só e possui todos os ingredientes filosóficos para ser uma ciência legítima, sem deixar a desejar a nenhuma física, química, biologia, medicina, etc. Perante a tentação de aceitar essas novidades, somos seduzidos pelo linguajar técnico, sofisticado, com ar de moderno, e deixamos de lado a própria doutrina, esquecendo-nos de que ela tem valores intrínsecos. Qual engenheiro, ao fazer o projeto de um viaduto vai deixar de usar os conhecimentos da engenharia para fazer seu projeto? Por que nós, espíritas, não usamos os nossos termos e conceitos para explicar os fenômenos com os quais lidamos na nossa casa espírita? Vários questionamentos surgiram sobre como fazer pesquisa segura dentro da doutrina, utilizando-se desses parâmetros. Essa é uma questão difícil, porque precisamos

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ão nos 70 anos de USE 2

Oficina de Comunicação O Correio Fraterno também participou do congresso, coordenando a oficina “Como potencializar a divulgação espírita pelo uso de canais de mídia”. Veja algumas dicas para a comunicação na sua casa espírita no site do Correio. www.correiofraterno.com.br/

criatura humana em concepção diferente de outros autores da ciência política, como Thomas Hobbes, Jacques Rousseau, Karl Marx. O homem para o espiritismo é um ser preexistente e que vive depois da morte, fundamento que faz toda diferença na abordagem do tema. A política deve buscar mudanças para melhor. Não há mundo melhor sem o homem melhor. O espiritismo tem contribuições brilhantes para a questão, para que se possa atuar na sociedade, inclusive na seara da política. O homem é o agente de transformação. Vários trechos de Kardec, em Obras póstumas, assinalam que essas mudanças se darão naturalmente quando homens de bem passarem a ser maioria nesse planeta. O desafio de educar além de instruir Por André Luiz Peixinho

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LIVROS & CIA. Editora Correio Fraterno Telefone: 11 4109-2939 www.correiofraterno.com.br O perfume de Helena de Juliana Ferezin Heck 160 páginas 14x21 cm

AME-Brasil Telefone: 11 2574-8696 www.lojaamebrasil.org.br O cérebro triúno – a serviço do espírito de Décio Iandoli Júnior, Irvênia Prada e Sérgio Luis da Silva Lopes 564 páginas 16x23 cm

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estudar mais o espiritismo para termos uma visão completa de conjunto. A Liga de Pesquisadores Espíritas (www.lihpe.net) tem dado contribuições ao conhecimento espírita de um modo cuidadoso e com respaldo na doutrina, assim como alguns periódicos, como o JEE – Jornal de Estudos Espíritas. Sexualidade e afetividade sob a ótica espírita Por Luiz Fernando Penteado

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espiritismo nos permite um aprofundamento frente aos novos reclamos da sociedade, mostrando a atualidade da sua filosofia. A casa espírita tem um papel preponderante, como espaço acolhedor, fonte de informação e desenvolvimento. Deve se preparar para que, além do conteúdo doutrinário, tenha condições de dar suporte às demandas sociais da atualidade. A sexualidade é uma fonte transforma-

dora, procriadora, que vai muito além do contexto biológico reforçado por toda a sociedade e pela mídia. Inclui comunhão, aprendizado. Homossexualidade é um assunto que todos devemos entender, até para vencer preconceitos. Que o trabalho junto à criança e ao adolescente não se limite a dar a orientação sobre a sexualidade, mas a orientação moral, de valores e que aborde o amor como fonte geradora. Uma orientação que permita ao indivíduo entender a sexualidade de forma construtiva, no processo evolutivo, buscando-se a compreensão do amor e do autoconhecimento. Política e espiritismo Por Allan Kardec Pitta Veloso

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assunto política deve ser tratado na casa espírita sem partidarismo, paixão ou dogma. Allan Kardec considera a

onsiderando-se os vários aspectos da educação, refletiu-se sobre como se dá a aprendizagem, utilizando-se de alguns informes da neurociência, mostrando a diferença entre o que é observado e o que é a verdadeira transformação, fazendo-se conexão com as aprendizagens que são mais significativas e que fazem parte da noção de espírito. Sobre a importância do estudo espírita, é necessário que haja uma unidade do pensamento espírita. Sem querer transformar isso numa uniformização de práticas pedagógicas. E isso se daria pelo projeto educacional dos cursos regulares para que as pessoas, formando consensos, construam as estruturas possíveis na sociedade em geral. É preciso analisar se não estamos copiando os métodos laicos, de origem do paradigma materialista, para o contexto espírita. A educação deve passar pelo que é essencial: o espírito. A educação, de modo geral, insere o indivíduo na sociedade tornando um cidadão. É necessário refletir e construir o nosso próprio projeto pedagógico com um finalismo mais amplo, na revisão dos conceitos de níveis evolutivos. O centro espírita poderia atuar na formação dos grupos de autoconhecimento como forma de crescimento pessoal, destacando-se os espaços de convivência, sendo fundamental a aprendizagem em grupo.

Edições USE Telefone: 11 2950-6554 www.use-sp.org.br USE 70 anos: passado, presente e futuro em nossas mãos organizado por Rubens Toledo 304 páginas 21x28 cm

Editora UNESP Telefone: 11 3242-7171 www.livrariaunesp.com.br História da minha vida de George Sand organizado por Magali Oliveira Fernandes 650 páginas 16x23 cm

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VOCÊ SABIA?

Uma senha para os espíritas Da redação

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m 1862 Allan Kardec visitou mais de vinte cidades na França, presidindo aproximadamente 50 reuniões. Tinha ele a finalidade de avaliar a situação em que se encontrava a doutrina espírita e levar ao conhecimento geral as orientações necessárias aos organizadores dos diferentes centros. Nos discursos pronunciados por Kardec, em Lyon e Bordeaux, por exemplo, foram feitas considerações sobre a conduta dos espíritas, as atividades dos grupos e temas que envolviam os espíritas da época. Aos grupos, Kardec oferece instruções particulares em resposta a diversas questões propostas e até mesmo um projeto de regulamento para o uso de pequenas sociedades espíritas. Várias perguntas foram feitas a Kardec nesses encontros, uma delas sobre a melhor forma de se identificar os seguidores do espiritismo. “Não seria desejável que os espíritas tivessem uma senha, um sinal qualquer para se reconhecer quando se encontram?”, perguntaram. A resposta de Kardec foi esclarecedora: – Os espíritas não constituem nem uma sociedade secreta, nem uma afiliação. Eles não devem, pois, ter

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nenhum sinal secreto para mútua identificação. Eles nada ensinam e nada praticam que não possa ser conhecido por toda a gente e não têm, por consequência, nada a ocultar. Um sinal, uma senha, poderiam ser também usados por falsos irmãos e o resultado é fácil de ser imaginado. Vós tendes uma senha que é compreendida de um ao outro extremo do mundo: é a da caridade. Esta palavra é fácil de ser pronunciada e pode estar na boca de todos, mas a verdadeira caridade não pode ser falsificada. Na prática da caridade reconhecereis sempre um irmão, ainda que ele não se diga espírita, e deveis estender-lhe a mão, pois, se ele não vos partilha a crença, nem por isso deixará de ser para convosco benevolente e tolerante. Um sinal de reconhecimento é, ademais, de todo inútil hoje em dia, pois o espiritismo já não se oculta. Para aquele que não tem a coragem de afirmar sua opinião, igualmente seria inútil, pois que dele não se serviria. Quanto aos demais, eles se fazem reconhecer falando em alto e bom tom, sem nenhum temor. Fonte: Viagem espírita em 1862, O Clarim.


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o corpo rejeitado Por lAUro F. cArVAlHo

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ste caso se deu em Palmelo, a cidade espírita, em Goiás, em meio a tantos outros igualmente interessantes. Foi lá pela década de 50, quando as curas mediúnicas ali estavam no auge. Entre as centenas de pessoas que lá aportavam semanalmente, em busca do alívio para as doenças do corpo e da mente, muitas delas sem esperança pela medicina terrena, chega a jovenzinha, Jozilda. Os familiares já estavam extenuados de tanto labutarem com o mal inexplicável. Sua doença? Desmaiava frequentemente, permanecendo inconsciente por dias inteiros. E foi assim que ela chegou ao centro, na sessão da tarde: fora de si, conduzida nos braços. O primeiro trabalho foi feito logo. Acomodando-se a paciente inerte, concentraram-se os médiuns, sob a segura direção do senhor Jerônimo Candinho, presidente do centro. Conjugando-se as revelações dos médiuns, foi definido o seguinte quadro: um palácio imperial. Um casal de jovens e garbosos mandatários em estreito idílio. Honrarias, poder, vaidades... e os abusos de uma sociedade prepotente e escravagista. Voa o tempo, mudam-se os quadros. Um dia, a morte, a separação. Padecimentos nas furnas astrais. Por fim, o reajuste indispensável, no instituto da reencarnação. Ela volta primeiro. Porém agora não mais nas pompas palacianas. Não mais o físico exuberante; nada do que possa pôr em

concede para aprender as lições da humildade e do trabalho digno! Ante o imperativo da ordem e a vibração da corrente mediúnica, a médium estremece, ao mesmo tempo em que o corpo inerte à frente começa a dar sinal de vida. Mais um pouco e a mocinha é despertada. A doutrinação prossegue, no estado consciente dela, e o intricado problema dos desmaios inexplicados desaparece. É mais uma ‘rainha’ que perde sua coroa, e mais uma alma que se matricula na academia do Amor Divino...

risco o programa retificador, favorecendo reincidência nos desvarios do passado. Mas o espírito soberbo não se conforma com tão brusca mudança. E o comparsa de outrora, acenando-lhe dos ouropéis estruturados nas telas mentais de ambos, arrebata-lhe o espírito, deixando desfalecido o corpo. Dá-se o tratamento espiritual, requerendo algumas sessões, pela gravidade do caso. O suposto príncipe incorpora-se primeiro, exaltado, exigindo explicações. É doutrinado e entregue aos mentores espirituais, a fim de ser encaminhado aos institutos retificadores do Espaço. A seguir, convocam a presença do espírito fugitivo da paciente. À custa de muita firmeza, ela

é finalmente trazida, manifestando-se num dos médiuns de incorporação, indiferente ao seu corpo estirado próximo. E o diálogo surge, veemente. – Jozilda, você está me ouvindo? – interroga o dirigente. – Jozilda, não! – retruca asperamente o espírito incorporado. – Veja lá com quem está falando! Eu sou a alteza... – e anuncia os sonoros títulos que um dia ostentara. – Jozilda, deixe de ser orgulhosa! Tome logo seu corpo, aceite a vida que tem e assuma suas responsabilidades! – Eu?! Viver nesse corpo aí? Nunca! Sou dama da nobreza! – Qual nobreza? Tola vaidade!... Não despreze o abençoado corpo que Deus lhe

Este fato foi narrado por Jerônimo Candinho (1889–1981), um nome de re f e r ê n c i a na história do espiritismo no Brasil Central, pela fundação de inúmeros centros pelas cidades por que passou e por seu trabalho de cura e assistência pela mediunidade. O ex-aluno de Eurípedes Barsanulfo atuou também na vida pública, ajudando a elevar o povoado de Palmelo à categoria de cidade em 1953.

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cUltUrA & lAzer

Cursos temáticos de filosofia Abertas inscrições para cursos modulares no Instituto Espírita de Estudos Filosóficos: • Cardápio Sócio-Filosófico: Apreciação de fatos da vida através dos tempos – Às sextas-feiras, às 17:30h. • Deus: Concepções Filosóficas – Aos sábados, às 12:30h. Rua Mesquita, 789, Vila Mariana, São Paulo. Início: 11 de agosto. Um semestre. www. instituto@ieef.org.br

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Festival de Música Espírita de S. B. do Campo O Conselho Espírita de São Bernardo do Campo abriu as inscrições para o 4º Festival de Música Espírita da cidade. Inscrição até o dia 18 de agosto, pelo site: www.femesbc.com.br. As dez músicas mais votadas pela internet se apresentarão na grande final, dia 21 de outubro, às 17 horas, no Teatro Lauro Gomes (Rua Helena Jacquey, 171, Rudge Ramos).

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Encontro da Liga dos Pesquisadores Espíritas De 26 a 27 de agosto, acontece o 13º Encontro da Liga dos Pesquisadores Espíritas, na sede da União das Sociedades Espíritas (Rua Dr. Gabriel Pizza, 433), em São Paulo, SP. Tema central: “Preces e curas espirituais”. Temas a serem apresentados e debatidos: experimentos mediúnicos, cartas psicografadas, magnetismo e espiritismo, cirurgias espirituais, terapia fluídica e investigação científica de fenômenos anímicos e mediúnicos. Inscrições: http://usesp.org.br/13o-enlihpe/

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2º Congresso Jurídico-Espírita Brasileiro Com o tema: “Dignidade humana: valor universal, desafio para o século 21”, a Associação Jurídico-Espírita do Brasil realiza de 7 a 9 de setembro o 2º Congresso Jurídico-Espírita Brasileiro, na Federação Espírita do Estado de Goiás, em Goiânia. Participação de: Pedro Camilo, Alysson Mascaro, Gilmar Bortolotto, Gabriela Cunha Ferraz, Anauara Maia, Edmar Jorge de Almeida, Gustavo Machado. www.ajebrasil.org.br/conjebras.

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Congresso Espírita da Bahia Será realizado de 2 a 5 de novembro o 17º Congresso Espírita da Bahia, coordenado pela Federação Espírita do Estado da Bahia. Participação de: Álvaro Chrispino, RJ, André Siqueira, DF, Cosme Massi, PR, Éden Lemos, RN, Frederico Menezes, PE, José Carlos de Lucca, SP, Jorge Elarrat, RO, Jorge Godinho, DF, Sérgio Thiesen, RJ, além de palestrantes do estado. Local: Fiesta Convention Center, em Salvador. www.feeb.org.br.

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CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO Provas e calamidades Olhe o poder que possui De buscar o que lhe agrade, Você consegue mover-se, Conforme a própria vontade. Lembre o sono que desfruta, A mesa que o reconforta, A fonte jorrando em casa, O pão que lhe vem à porta. Recorde a sombra vencida Pelos dons da luz acesa, Os recursos do progresso E as bênçãos da natureza. Medite nos animais Que sofrem no dia a dia, Para que o prato lhe seja Um transmissor de alegria. Pense nos dias tranquilos De estudo, de calma e prece, Nas horas somente suas Em que ninguém lhe aborrece. Então, você notará, De atenção célere e pronta, Que os benefícios da Terra São benefícios sem conta. Em síntese, caro amigo, No mundo, a gente, a meu ver, Muito pouco sofreria Se soubesse agradecer. Se você quer progredir Na luz que Deus nos consente, Esqueça a conversa mole, Largue a queixa e siga em frente. Baú de casos, Cornélio Pires, Chico Xavier

A P P r o G r e D I r n Q t o A r c r M o c S S P A r r A S

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Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

A o t M r n l F K z o e P r F A r P A P Y c I t V r V P e U

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r A o c o n S e G U e A r I A c n e e r M I X A I e r e D A

Tem gente que lê pensamento Você sabia que no plano espiritual os espíritos leem pensamento?

50 anos editora Correio Fraterno Venha comemorar conosco a passagem dos 50 anos de fundação da editora Correio Fraterno, com a palestra da oradora Heloísa Pires. Dia 7 de outubro, sábado, às 16 horas. Local: Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955, V. Alves Dias, São Bernardo do Campo, SP. Fone: 11 4109-2939. www.correiofraterno.com.br

Vixe! Isso não deve ser muito bom...

imagine se eu pensar: “Credo, agora tenho que usar essa roupa igual a todo mundo!”... E todo mundo vai saber o que pensei...

ENIGMA

Onde se deu o primeiro encontro de Allan Kardec com dirigentes espíritas? qualquer hora, em qualquer lugar

Solução do Passatempo Veja em: www.correiofraterno.com.br

Resposta do Enigma: Allan Kardec é recebido no Centro Espírita de Broteaux, o único existente em Lyon na noite de 19 de setembro de 1860. À porta esperam-no Dijou, operário, chefe de oficinas, e sua esposa. Este é, na história, o primeiro encontro de dirigentes espíritas. (Fonte: Viagens espíritas de 1862, FEB)

AGENDA


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SAIU no CORREIO

Vigiados pelo mundo espiritual Por DeolInDo AMorIM

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ão acredito muito nessas coisas... Mas senti a presença de minha mãe e modifiquei o que estava escrevendo”. Assim me falou, certa vez, um conhecido meu, faz alguns anos. Pelo que dizia, era cético em relação a comunicações do mundo espiritual. Havia sido encarregado de um inquérito administrativo. Estava à máquina, redigindo a conclusão do inquérito, mas em termos muito radicais, fazendo uma carga bem forte no funcionário acusado. Iria inutilizá-lo mesmo, se não tivesse havido uma intervenção emocional, estranha ou inesperada. Intervenção de quem? Não viu nenhum vulto na sala, mas sentiu uma emoção muito forte, de um momento para outro, e quase chorava, apesar de ser um homem muito frio, por temperamento. Mas ia chorando e parou de escrever. Sentiu a presença de sua mãe, pela vibração, como se estivesse a lhe dizer: “Meu filho, abrande essa informação, não seja tão rigoroso”. wFoi o que ele me contou, embora não acreditasse muito “nessas coisas”... Emocionado, como que dominado por uma força amorosa, arrancou o papel da máquina, rasgou tudo e escreveu outra página, muito diferente. Muitos e muitos casos semelhantes poderiam ser relatados, especialmente na vida familiar. Ainda que não se dê a presença de um espírito diretamente, por meio de manifestações físicas, o certo é que qualquer pessoa está sujeita a captar influências inesperadas. É a experiência que o demonstra. Muitas vezes, quando estamos pensando sobre determinados problemas ou quando estamos escrevendo, ocorrem ideias, que passam como relâmpago, e nem sempre percebemos que essas ideias são de outra origem. Nosso contato com o mundo espiritual é muito mais frequente do que supomos, o que, aliás, não é novidade para quem está ‘enfronhado’ neste assunto. Nossa sensibilidade, desde que tenhamos condições predisponentes, tanto pode ser influenciada

pelas vibrações momentâneas de espíritos desencarnados, o que já aconteceu inúmeras vezes, principalmente com artistas, poetas e homens geniais, como também por motivações diversas: uma paisagem, um quadro, o deslumbramento de um espetáculo como o da Foz do Iguaçu, por exemplo, a melodia de uma canção. Tudo isto, em seu momento, pode dar inspiração, como ainda provoca reações especiais. Contaram-me, por exemplo, que um crítico literário, ao analisar um livro com o propósito de arrasá-lo, ouviu certa música e ficou tão embevecido que terminou alternando o tom ferrenho da crítica e dando outra feição, mais amena, aos seus comentários. Há ocasiões em que a natureza nos fascina de tal forma que chegamos a nos sentir fora do corpo, pois a nossa sensibilidade se eleva instantaneamente acima de todas as contenções da matéria. Lembro-me do que ocorreu comigo, em viagem de Belém do

Pará a Manaus. Ao contemplar, do avião, a imensa e deslumbrante paisagem amazônica, fiquei a bem dizer fora de mim. Pouco depois, ao levantar voo em Santarém, à tarde, o avião começou a sobrevoar um trecho impressionante, justamente no chamado ponto das ‘águas trançadas’, onde se avista o Solimões. Estava entardecendo. Senti-me tão emocionado, tão absorvido pela paisagem, diante de um espetáculo que eu jamais contemplara em minha vida – o pôr do sol sobre águas e florestas na região amazônica – que cheguei a fazer uma prece de contentamento, como se estivesse extasiado perante tanta beleza natural, e falei, intimamente: “Meu Deus, como é bela a Tua criação!”. A vida nos mostra muita coisa triste e horrenda, mas precisamos ver o outro lado, exatamente aquilo em que a natureza nos revela a beleza e a bondade, muitas vezes espontaneamente.

Se a nossa sensibilidade pode ser influenciada por motivações naturais, na planície, no mar, na serra, no jardim etc., muito mais aptidão tem ela para ser influenciada pelo mundo espiritual. Não é necessário que todos tenham mediunidade no sentido positivo, nem é preciso que todos ‘recebam’ espíritos. Muitas e muitas vezes, os espíritos estão ao nosso lado, mas nós não os percebemos. Absorvemos, entretanto, muitas ideias que nos levam a tomar direção nova. Eles ‘sopram’ onde querem. As influências do Alto, como se sabe, tanto podem ser benéficas, como maléficas. Precisamos, pois, manter boas condições íntimas a fim de que eles encontrem em nós instrumentos dóceis e, pelas suas interferências instantâneas, nos infundam energias e nos tragam sugestões capazes de modificar certos propósitos. A presença de entidades amigas nos permite captar conselhos e advertências verdadeiramente providenciais, como no caso daquele meu conhecido, que sentiu, sem sombra de dúvida, a recomendação de sua própria mãe, aconselhando-o a não ser tão inflexível no que estava escrevendo. Daí o acerto do velho dito popular: somos cada vez mais vigiados pelo mundo espiritual. Publicado na edição 85, de janeiro de 1978, com o título “Advertências espirituais”. Deolindo Amorim (1906-1984) foi sociólogo, escritor e jornalista espírita. Nasceu na cidade de Baixa Grande, BA, e desencarnou no Rio de Janeiro, RJ. Autor de diversos livros e artigos espíritas, foi o primeiro presidente da Associação Brasileira dos Jornalistas e Escritores Espíritas, fundada em Brasília, em 1976. www.correiofraterno.com.br


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LEITURA

O perfume da experiência Da REDAÇÃO enfrentar o luto pela minha filha recém-nascida. Neste período, conheci um grupo de apoio às mães que sofreram perdas neonatais ou gestacionais, para o qual passei a escrever uma coluna mensal. Foi quando comecei a ter contato com várias mães enlutadas, que traziam a perda da fé em Deus e uma busca incessante por culpados. Senti então necessidade de transformar o que vinha escrevendo em algo instrutivo, consolador.

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ão estava nos planos de Juliana Ferezin Heck ser escritora. Até ela passar por uma marcante experiência, que a levou a escrever O perfume de Helena (Correio Fraterno). Com apenas dois meses de lançamento, o livro já ganha nova impressão. Leia abaixo a entrevista. Como surgiu a ideia do livro? Ferezin Heck: Usei a escrita como um processo de autoconhecimento para poder

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Dizem que diante da dor da perda o tempo é o melhor aliado. É isso mesmo? Não acredito que o tempo cure tudo. Mesmo porque tive contato com mães que vivem o luto por seus filhos há anos sem compreender o ensinamento que a dor pode proporcionar. A fé é nossa maior aliada. O tempo passa e a saudade deixa de doer, mas sem a compreensão do Evangelho, da reencarnação e da esperança de reencontrar minha filha, eu

não teria superado uma dor tão grande. Como o espiritismo ajudou vocês passarem por esta experiência? A princípio nos sustentando através de uma equipe de amigos, nossos colegas da casa espírita. Durante o período em que Helena ficou na UTI Neonatal, a dor era imensa e muitas vezes o desânimo tomava conta de nós dois. Mas nunca deixamos de fazer o Evangelho no Lar... e eram nessas noites que encontrávamos muitas respostas. Utilizamos todas as ferramentas que conhecíamos: o passe, a água fluidificada, a música e o atendimento fraterno. Digo que nos preparamos para este momento ao longo de nossos trabalhos na casa espírita e com a gestação e nascimento da Helena, tivemos oportunidade de colocar tudo em prática. O que você diria para aqueles que neste momento também passam pela dor?

Diria para não se afastarem de Deus, para não duvidarem do seu propósito de amor e para lembrarem que uma tempestade nunca dura para sempre. Os dias claros são em maior número e a chuva é necessária. Assim é nossa vida: cheia de dias felizes, mas a dor ainda se faz necessária para nos ensinar. Diria também para não se preocuparem com os que insistem em colocar prazo para o seu sofrimento acabar, os que para consolar dizem que “foi melhor assim”. Ouçam os que se propõem a ajudar com conselhos pautados no Evangelho e não em “pontos de vista”. É importante estarmos abertos para receber ajuda, mas só nós sabemos quanto tempo precisamos para entender toda a lição. E, claro, viver na raiva, na amargura e na tristeza sem fim apaga qualquer lembrança feliz daqueles de quem tivemos que nos despedir. Ninguém gostaria de ser lembrado pela dor que causou. Ficar relembrando só o sofrimento que passamos juntos, não seria justo com Helena!


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DIRETO AO PONTO

Um novo modo de pensar e agir Por UMBERTO FABBRI

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uitas são as aflições e dificuldades que o mundo contemporâneo atravessa. Em muitos países, as crises políticas, econômicas e sociais são notícias rotineiras gerando um clima de pessimismo e inseguranças generalizados. E nos perguntamos; quando começaremos a vivenciar a tão aguardada nova era, descrita pelos benfeitores como um novo período para a humanidade, onde teremos paz, justiça e fraternidade? Ilusoriamente acreditamos que um dia acordaremos e receberemos a notícia tão esperada, talvez pelos mesmos noticiários que enfatizam as problemáticas, de que tudo mudou, o mundo se transformou regenerando-se e agora sim, seremos felizes. Ledo engano. Todo o processo de transformação ocorrerá na intimidade dos habitantes de nosso planeta, ou seja, de dentro para fora. A regeneração não será material, mas moral. Em toda a codificação encontramos explicações sobre a necessidade da reformulação de nossos hábitos e comportamentos. O evangelho segundo o espiritismo trabalha em minúcias os principais pontos negativos a serem observados e combatidos em nossa personalidade, mas também nos traz o bom ânimo tão necessário em todos os embates. Insuflam-nos os bons

Vislumbrar a nova era dependerá do esforço que empreendermos em nosso próprio crescimento moral Espíritos a fé que fortalece, dentro do entendimento de que tudo pelo que passamos pode servir como aprendizado, desde que utilizemos de bom senso, avaliando nossas atitudes, verificando como não cometer os mesmos erros. “... Vós sois o grão de areia, mas sem

grãos de areia não haveria montanhas...”. Nesta linda alusão do espírito Fénelon, que encontramos no próprio O evangelho segundo o espiritismo, capítulo I, vemos retratada a importância do todo. Cada um de nós representa uma parte de algo maior, como um grande organismo que precisa de

todas as suas células sadias e trabalhando em harmonia para ser considerado saudável. Se cada grão fizer sua parte, garantiremos a integridade da montanha. Cada um de nós tem sua tarefa de crescimento individual que se reflete no coletivo. A lei dos mundos é a do progresso incessante, e este processo já se iniciou há muito tempo. Já não ultrapassamos a era primitiva? Entretanto, vislumbrar a nova era dependerá do esforço que empreendermos em nosso próprio crescimento moral, pois ela representa um novo modo de pensar e agir. De nada nos adiantará o desânimo, a tristeza, o cansaço, embora sejam perfeitamente compreensíveis os momentos de exaustão em uma grande viagem. Todavia, precisamos nos lembrar das promessas do mestre Nazareno: “Vinde a mim todos que estais cansados e eu vos aliviarei...”. Em nosso auxílio, Jesus nos legou seu Evangelho redentor e esclarecedor, que pode nortear nossos caminhos, consolar nossas aflições, mas acima de acima de tudo nos ensinar a importância do amor, elemento fundamental para nossa felicidade futura. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor dos livros O traficante, Amor e traição e Pecado e castigo, ditados pelo espírito Jair dos Santos (Correio Fraterno).

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CORREIO FRATERNO

JULHO - AGOSTO 2017

MÍDIA DO BEM Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Oftalmologistas trocam consulta por cobertor

Estudantes criam aplicativo para comunicação com surdos

Menina pinta quadros para ajudar amigo cego

Médicos oftalmologistas se reuniram no Distrito Federal numa campanha de inverno, trocando o valor da consulta por um cobertor. “Além de trazer mais calor para a vida de pessoas carentes, a campanha solidária pode ajudar outras que precisam de tratamento oftalmológico e não têm condições de fazer exames de vista”, explica o oftalmologista Hilton Medeiros, idealizador da campanha. Os agasalhos e cobertores arrecadados serão doados para a Casa de Ismael e Lar dos Velhinhos. A campanha será encerrada no dia 20 de agosto.

Um grupo de estudantes do curso de Ciência da Computação da Universidade São Judas Tadeu, SP, criou o aplicativo Librazuka para auxiliar o ensino de maneira simplificada da Língua Brasileira de Sinais (Libras) a ouvintes. A ideia é facilitar a comunicação com pessoas que têm deficiência auditiva e de fala. O aplicativo apresenta módulos teóricos (alfabeto, números e gramática) e jogos que auxiliam na fixação do conteúdo. Mais de 20 mil downloads já foram realizados.

Muitas crianças surpreendem os adultos na sua forma criativa e até prática de resolver problemas. É o caso da pintora mirim Sofia Cabucci, 7 anos, que pinta quadros para vender e arrecadar fundos para ajudar seu amigo, Vinícius Ferreira Ribas, 13 anos, a realizar cirurgias para voltar a enxergar. Ele tem glaucoma congênito e já passou por mais de 20 cirurgias para evitar a perda definitiva da visão. Apegado à música, toca teclado muito bem – inclusive para a amiga Sofia, enquanto ela se perde em meio às tintas.

Fonte: Jornal de Brasília

Fonte: Catraca Livre

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