Correio Fraterno 477

Page 1

CORREIO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA

Raymundo R. Espelho, fundador da Correio Fraterno, e a jornalista Izabel Vitusso, há 13 anos à frente do projeto, analisam o passado e falam sobre os desafios atuais da divulgação. Leia nas páginas 4 e 5.

ISSN 2176-2104

FRATERNO

Entrevista

Ano 50 • Nº 477 • Setembro - Outubro 2017

50 anos do correio Fraterno

E

m 3 de outubro de 1967, o jornal Correio Fraterno entrava em circulação, chegando hoje a quase 500 edições, ininterruptas e preparadas com o ideal de levar a visão espírita atrelada aos mais diversos assuntos – da ciência à religião, da filosofia aos problemas atuais da humanidade. Basta folhear as antigas edições do acervo do jornal ou a coleção de todos os livros publicados para reconhecer o valor do trabalho conjunto de todos que no decorrer desses 50 anos passaram pela editora. Trata-se de um retrato da própria história do movimento espírita, registrada em grande parte por escritores e articulistas renomados. Os desafios continuam e a gratidão é o sentimento que prevalece nesses tempos de reflexão e comemoração. Leia mais nas páginas 8 e 9.

George Sand A afinidade da escritora do século 19 com as ideias espiritualistas antes mesmo de lançados os livros da codificação, por Allan Kardec. Leia na página 7.

A grande lição de

Irma

Depois de alguns dias de espera angustiosa, finalmente Irma chegou, deixando uma boa parcela da população americana carente de quase tudo. Mas algo de novo ela nos trouxe. Leia na página 15.

A história do político que volta para contar sobre seus arrependimentos e aprendizados

www.correiofraterno.com.br


2

CORREIO FRATERNO

SeteMBro - oUtUBro 2017

eDItorIAL

Um horizonte

Uma ética para a imprensa escrita

imenso

J

á anunciava Allan Kardec, no final do século 19, que a certeza da vida futura com todas as suas consequências transformava completamente a ordem de ideias, fazendo com que o homem visse as coisas por outro prisma. Esse grande missionário, nascido em 3 de outubro de 1804, em Lyon, França, somente por volta dos 50 anos vislumbrou uma verdadeira revolução que se processaria no conhecimento da humanidade. Não se contentando com a diversão das mesas girantes, foi pesquisar suas causas e acabou por descobrir e organizar a doutrina dos espíritos, trazendo à Terra uma obra de inestimável valor, desvendando e comprovando que a vida ia muito mais além do que os nossos sentidos físicos e limitados podiam abarcar.

Com Kardec surgia há 160 anos o espiritismo, o Consolador Prometido por Jesus. Pensar na importância da divulgação dessas novas ideias causa emoção, pelo tanto que representam, um salto na compreensão dos problemas humanos. A responsabilidade é grande na sua propagação, porque está em nossas mãos fazer o espiritismo progredir mais ou menos rapidamente, uma vez que, independentemente de nós, ele há de se fazer conhecer, por ser portador de verdades da própria Natureza. Humildemente, estamos tentando fazer a parte que nos cabe: no jornal, nos livros, no site e nas mídias sociais. Esse trabalho é pequeno, diante da imensidão que se nos apresentam tantas propostas espirituais. Tanto ainda a se fazer. Mas já muito nos

CORREIO DO CORREIO A novela Novo Mundo O artigo “A história do Brasil com emoção e arte” (edição 476) está ótimo e aponta não só o tratamento da teledramaturgia ao tema como também nos mostra a reflexão sob o viés da espiritualidade sobre a personalidade dos imperadores da nossa história. Ana Maria Stuginski, São Paulo, SP. Os 50 anos do Correio Fraterno Parabenizo a todos os responsáveis e dedi-

cados trabalhadores que mantêm a editora Correio Fraterno, um desafio nestes tempos de tanta incerteza e dificuldades. Continuem sempre avante, na certeza de que toda boa ação repercute na sociedade como um todo, e nós estamos sempre necessitados destas iniciativas de apoio e divulgação da doutrina. Rogério Miguez, por email. Parabéns a toda a equipe Correio Frater-

em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

alegra, porque sabemos de seu fim útil, de sua importância para construirmos um mundo melhor. Que Jesus ilumine o nosso caminho e o de todos que conosco compartilharam e compartilham esses 50 anos do Correio Fraterno. Gratidão é o sentimento, por todos leitores e colaboradores que ajudaram a construir essa história. Vida longa para o Correio é o nosso desejo! Equipe Correio Fraterno

no pelo excelente trabalho. Que outros 50 anos se repitam com a mesma qualidade. Grande e fraterno abraço, Doris Gandres, por email. Nós agradecemos o imenso carinho que recebemos através das mensagens a nós enviadas, pela passagem dos 50 anos. Toda essa vibração nos chega como incentivo e reconhecimento ao nosso trabalho e de todos os que por aqui passaram. Nosso desejo é estar sempre aqui, levando luz a cada edição do jornal. Um abraço de toda a equipe Correio Fraterno.

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

CORREIO

FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118

Presidente: Izabel Regina R. Vitusso Vice-presidente: José Natal Inácio Tesoureiro: Olímpia Iolanda da S. Lopes Secretário: Vladimir Gutiérrez Lopes Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP www.correiofraterno.com.br

JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Administração/financeiro: Raquel Motta Comercial: Magali Pinheiro Auxiliar geral: Ana Oliete Lima Apoio de expedição: Osmar Tringílio Impressão: LTJ Editora Gráfica

Telefone: (011) 4109-2939 Whatsapp: (011) 97334-5866 E-mail: correiofraterno@correiofraterno.com.br Site: www.correiofraterno.com.br Twitter: www.twitter.com/correiofraterno Atendimento ao leitor: sal@correiofraterno.com.br Assinaturas: entre no site, ligue para a editora ou, se preferir, envie depósito para Banco Itaú, agência 0092, c/c 19644-3 e informe a editora. Assinatura anual (6 exemplares): R$ 48,00 Mantenedor: acima de R$ 48,00 Exterior: U$ 34.00 Periodicidade bimestral Permitida a reprodução parcial de textos, desde que citada a fonte. As colaborações assinadas não representam necessariamente a opinião do jornal.

• Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2017

3

Acontece

Prece e curas espirituais são temas do

13º Encontro de Pesquisadores Da redação

E

spaço privilegiado no contexto brasileiro para apresentação e discussão de propostas e trabalhos de investigação científica sobre a temática espírita, realizou-se nos dias 26 e 27 de agosto, em São Paulo, o 13º ENLIHPE - Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo. O sucesso alcançado nos anos anteriores tem atraído pesquisadores de todo o Brasil, interessados na divulgação e discussão de seus estudos. De qualquer área do conhecimento, mas relacionados à temática espírita, os trabalhos inscritos em forma de artigos científicos passam pela análise de uma comissão científica, utilizando-se o sistema Double Blind Review, com avaliação anônima de dois pareceristas da comissão do encontro. Neste ano, com recorde de público e número de trabalhos apresentados, o 13º ENLIHPE teve como tema central “Prece e curas espirituais” e como o homenageado, Lamartine Palhano Júnior (19472000), que se dedicou à pesquisa do transe mediúnico, evocações, assédio espiritual, bem como sobre alguns médiuns notáveis, como Carmine Mirabelli. A USE sediou o evento das entidades parceiras — a Liga dos Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE) e o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo (CCDPE). “Um dos diferenciais do ENLIHPE é o seu formato, que incentiva a formação de redes de pesquisa e promove a aproximação de estudiosos de diferentes áreas do conhecimento”, lembrou o economista e diretor de doutrina na USE-União das Sociedades Espíritas de São Paulo, Marco Milani, coordenador do encontro deste ano. O tema empolgou os mais de 120 participantes, vindos da própria capital e também de várias cidades do interior paulista e de outros estados. Jáder Sampaio abriu as apresentações mostrando como se realiza uma pesquisa científica. Élida Mara Carneiro apresentou os resultados de seus estudos sobre o

FOTOS: IZABEL VITUSSO

1

2

4

3

5

1- Mesa de abertura 2- Pesquisadores de todo o Brasil participam do Encontro 3- Marco Milani, Ney Pietro Peres e Julia Nezu: O incentivo à formação de rede de pesquisa 4- Alexandre Fonseca: “o espiritismo já tem autoridade científica por si só 5- Jáder Sampaio (esq.) e Gilmar Trivelato: grandes colaboradores, com a soma do conhecimento acadêmico

passe, observando a eficácia da terapêutica em pacientes de hospital de Uberaba, MG. O gaúcho Sandro Fontana apresentou experiências sobre a fluidificação da água, que envolveu vários médiuns videntes. Também apresentaram trabalhos Raphael Vivacqua Carneiro, Clóvis Aurélio Vervloet, Gilmar Trivelato e Adolfo de Mendonça Júnior. Professores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Ademir Xavier Júnior mostrou o estudo estatístico

que vem realizando sobre as cartas psicografadas por Chico Xavier, e Alexandre Fontes da Fonseca chamou a atenção para os riscos dos espíritas, muitas vezes sem conhecimento, se utilizarem de termos científicos para validar a importância da doutrina sem ter estudo específico na área. “O espiritismo não precisa disso, ele já tem autoridade científica por si só”, alertou Fonseca, ao explanar sobre o tema “Magnetismo e espiritismo”. O evento contou com a presença do

professor Ney Pietro Peres, diretor do Instituto de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP), que acompanhou a apresentação dos trabalhos, participando ativamente de suas discussões e debates. No domingo, pela manhã, sob a coordenação de Jáder Sampaio, foi realizada a assembleia dos membros da Liga dos Pesquisadores do Espiritismo, em que definiram Belo Horizonte como sede do 14º Enlihpe, dias 25 e 26 de agosto de 2018, com o tema “Sobrevivência da alma”. www.correiofraterno.com.br


4

CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2017

ENTREVISTA

De pai pra filha Por Eliana Haddad Raymundo Rodrigues Espelho

S

eus pais já eram espíritas. Quando criança, na década de 1940, morava na zona rural de Catanduva, SP, e a família já realizava reuniões espíritas. Hoje, aos 80 anos, Raymundo Rodrigues Espelho lembra com gratidão a oportunidade que lhe foi dada de trabalhar para a divulgação do espiritismo. Pouco antes de se casar, em janeiro de 1959, mudou-se para São Bernardo do Campo, SP. Começou a frequentar o único centro da cidade, Centro Espírita Emmanuel, onde o projeto da fundação de um lar de crianças ganhou força. Em 1960, nascia o Lar da Criança Emmanuel e anexo a ele formaram-se também o Centro Espírita Pátria do Evangelho e a editora Correio Fraterno. Como surgiu o Correio Fraterno? Raymundo Espelho: Começou numa conversa entre os espíritas, principalmente do Lar da Criança Emmanuel. Em 1967, durante a Primeira Semana Espírita de São Bernardo, começamos a cogitar sobre a possibilidade de fundarmos um jornal voltado para a divulgação espírita. O Correio Fraterno surgiu então em 3 de outubro daquele ano, em homenagem ao nascimento de Allan Kardec. Anos depois, ele daria origem à fundação da Editora Espírita Correio Fraterno do ABC. Não sei se eram planos da Espiritualidade, mas, quando jovem, eu já pensava em fundar um jornal espírita. Sentíamos a necessidade de uma maior divulgação o espiritismo. É verdade que, quando criança, o senhor já pensava em divulgar o espiritismo? Sim. Eu mesmo fazia manuscritos com frases de Emmanuel, psicografias de Chico Xavier, de Divaldo Franco, de Yvonne Pereira, e saía distribuindo pelas casas da viwww.correiofraterno.com.br

Do sonho acalentado e efetivado em 1967 com a criação de um jornal espírita, à proposta de se falar sobre espiritismo de uma forma contextualizada para um público mais abrangente, Raymundo Rodrigues Espelho, fundador do jornal e editora Correio Fraterno, e a jornalista Izabel Rodrigues Vitusso, há 13 anos à frente do projeto, analisam o passado e falam sobre os desafios atuais da divulgação espírita.

zinhança. Felizmente nasci em lar espírita e sempre tive gosto pela escrita. Mesmo novo, já sentia o quanto o espiritismo poderia ajudar as pessoas. Eu tinha aquela ansiedade de divulgar! Como foi o início do Correio? O jornal começou com quatro páginas e uma tiragem de mil exemplares mensais. Com o tempo, tivemos sorte por ter um dos nossos companheiros de doutrina, Maury Dotto, como uma das pessoas à frente do grande jornal da região, o Diário do Grande ABC, que imprimia gratuitamente o Cor-

reio para nós. Mas no início foi muito difícil. E vale lembrar que, como todo projeto com muitos anos de existência, o Correio Fraterno também passou por vários períodos, teve diversas equipes, que deram o melhor de si. No início, mais informativo; depois, mais crítico. Hoje os tempos são outros e o Correio também se preocupa com o público em geral, que deseja ter informações sobre o espiritismo para aplicação nos seus desafios do cotidiano. Quem escrevia no jornal Correio Fraterno? Era tudo muito simples. Pedíamos artigos

para quem conhecíamos no meio espírita. Eu escrevia, e também o Ismael Sgrignoli, que era diretor do Lar Emmanuel. Ele foi um grande apoiador, liderando esse movimento juntamente com o Manoel Romero, um dos pioneiros do movimento espírita de São Bernardo, e outros companheiros. Em 1959, São Bernardo só tinha uma casa espírita, a dirigida por ele, o Centro Espírita Emmanuel. Havia algumas reuniões de estudos mediúnicos e sessões espíritas em residências. Naquele tempo, a cidade era bem pequena, tinha 50 mil habitantes. Com o passar dos anos, criou-se no jornal uma verdadeira rede de apoio, da qual faziam parte Herculano Pires, Freitas Nobre, Deolindo Amorim e incontáveis outros companheiros e articulistas. Como faziam para cobrir as despesas e como era a expedição dos exemplares? Havia os assinantes e também vendas avulsas do jornal para alguns centros espíritas, além dos anúncios que eu mesmo ia atrás. Eram lojas, farmácias, bancos, casas de material de construção, construtoras; amizades que eu tinha. Alguns oradores de fora vinham fazer palestras na região, traziam seus livros e da venda sempre davam alguma colaboração para o jornal. Os próprios diretores do Lar Emmanuel ajudavam a mantê-lo. Quando os jornais estavam impressos, eles iam direto para nossa casa. Os endereços eram mimeografados e recortados por nós todo mês. Dobrávamos o jornal e colávamos o endereço com a cola de farinha que a Maria Elena, minha esposa, preparava. Era tudo muito primário. Quando tudo ficava pronto, colocávamos os exemplares no nosso carro e levávamos até os Correios, na única agência que havia em São Bernardo. Foi um tempo muito bom! Como surgiu a ideia de passar a publicar livros? Na época havia uma ‘meia dúzia’ de editoras espíritas. Hoje somam muito mais de cem. A divulgação do conteúdo espírita era feita mais através de jornais e também por alguns


CORREIO FRATERNO

SeteMBro - oUtUBro 2017

programas radiofônicos. A publicação de livros foi aos poucos ganhando força, com as obras psicografadas, principalmente pelo Chico, por Divaldo Franco, Yvonne Pereira. No final da década de 1970, iniciamos com a publicação de livros: Começamos pelo O Besouro Casca Dura, de Iracema Sapucaia. Jorge Rizzini, o seu esposo, nos trouxe em seguida a sua obra de pesquisa: Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da Caridade. Depois veio o A extraordinária vida de Jesus Gonçalves, do jovem escritor Eduardo Carvalho Monteiro. Da médium Dolores Bacelar logo chegou um dos nossos romances clássicos A mansão Renoir. Com o tempo, vieram Herculano Pires, Deolindo Amorim, Richard Simonetti, Wilson Garcia, Herminio Miranda e tantos outros. Qual seu maior desejo para os próximos 50 anos do Correio? Que o Correio Fraterno possa estar sempre ativo e vibrante, acompanhando a evolução dos tempos. Todo leitor há de ter sempre o nosso respeito. Quero estar presente, nem que seja espiritualmente, para comemorar o centenário do Correio Fraterno!

Izabel Regina Rodrigues Vitusso

E

mbora tivesse participado desde criança junto da família nos projetos do Lar da criança Lar emmanuel, do início do jornal e da editora, não fazia parte dos projetos profissionais de Izabel rodrigues Vitusso trabalhar no correio Fraterno. Formou-se em jornalismo, morou fora, em Belo Horizonte e Uberlândia, MG, atuando em outras frentes, em comunicação corporativa, deu aulas em faculdades de jornalismo, escreveu livros. Somente quando voltou, quase vinte anos depois, é que foi percebendo que a tarefa da divulgação espírita a aguardava. Abraçou o desafio da condução dos projetos e hoje sente-se parte de uma equipe muito maior, cuja responsabilidade espiritual é levar adiante ideias que não apenas informam, mas que consolam e libertam.

Como foi para você vir trabalhar no Correio Fraterno? Izabel Vitusso: Diria que são os velhos pla-

nos que provavelmente traçamos na espiritualidade. Morando longe, eu não imaginava que um dia voltaria. Hoje vejo que a minha grande realização profissional aconteceu aqui, dentro do projeto Correio Fraterno, o que para mim é uma grande alegria. Como você vê o seu trabalho hoje como parte dessa história dos 50 anos? Quando vejo o acervo do Correio Fraterno, tento entrar no pensamento de todos que trabalharam lá atrás. Embora a causa seja uma só, o momento era outro, e a forma da escrita bem diferente. Mas em todas as fases do jornal existe um conteúdo importantíssimo, um acervo raro que conta a história do movimento espírita nesses 50 anos. É bom para lembrarmos que ninguém faz nada sozinho, que somos só mais nessa grande esfera do trabalho da divulgação da doutrina. Hoje o espiritismo ganhou espaço fora da casa espírita. Ele está na internet, nas TVs, na lista de opções de lugares onde as pessoas sabem que podem buscar socorro, num momento em que se fala tanto de crise existencial, de ansiedade e depressão. O espiritismo propõe reflexões inteligentes com enorme potencial libertador. Poder fazer parte de um projeto com esse foco só pode ser imensamente gratificante. Você acha que o jornal está cumprindo o seu papel? A gente acredita no trabalho que faz. Discutimos muito sobre cada projeto que vamos desenvolver, cada edição do jornal, levando em conta nossa responsabilidade em matéria de alinhamento com o pensamento de Kardec, buscando a clareza no conteúdo e o melhor entendimento para o nosso leitor. Percebemos a presença da espiritualidade de forma intensa no que fazemos. Vemos a cada edição do jornal que os assuntos vão se convergindo para um tema de maior importância para o momento. Somos uma equipe bem enxuta, mas muito entrosada e comprometida. Nos divertimos muito trabalhando! Nossa proposta é levar de uma forma encadeada, jornalística, fatos e situações, textos para reflexão, deixando sempre uma porta aberta para que o leitor se encontre em sua caminhada. Quem é o público do Correio? Na história do espiritismo vemos o esforço dos pioneiros para que as ideias espíritas conquistassem o seu lugar. Meu pai sempre conta que quando eram pequenos, muitas pessoas atravessavam a calçada para não passarem na frente da casa dos espíritas. Falavam para um público muito mais reduzido, cheio

de preconceitos. Hoje a pessoa vê você no metrô com um livro espírita, ela quer interagir, comentar uma experiência. Sente curiosidade sobre o mundo espiritual. E o jornal procura acompanhar esse público. A própria forma com que o jovem leitor lida com as diversas áreas do conhecimento, comparando linhas de pensamento, deixa pistas de como sensibilizar esta geração através da comunicação, o que é sempre um desafio. O que procuramos é oferecer esse conteúdo de maneira clara, afetuosa, atual, tendo claro o respeito ao direito alheio de se identificar ou não com o que lê. E os livros? Quantos títulos já foram publicados? Só nos últimos dez anos, cerca de 50 títulos, dentre eles, alguns relançamentos de obras que o Correio já tinha em seu catálogo. Cada projeto de novo livro é acalentado por toda a equipe, com um carinho muito especial. Na avaliação da obra, na escolha de cada detalhe dos projetos editoriais. É um trabalho de parceria junto aos autores. Qual o grande desafio, em termos doutrinários ao se publicar, por exemplo, um romance? Uma das maiores preocupações é não perder de vista o senso crítico, levando em consideração a base de conhecimento doutrinário. Kardec é a essência da leitura espírita. Insubstituível. Tendo-o como base, é possível se prestar um bom trabalho para a divulgação. Os recursos da comunicação existem para serem utilizados, a fim de atender aos diversos perfis e o momento por que todos nós passamos, como leitores. Aprofundar-se nos estudos, consolar-se com a leitura de uma mensagem, deixar-se tocar pela emoção trazida por um romance. Tudo isso é bem-vindo e possível, e extraindo-se o que de melhor o espiritismo tem a nos oferecer. O que você diria para quem está iniciando o trabalho de divulgação da doutrina hoje? Somos pequenas peças de num processo que sabemos ser muito maior e todo trabalho na seara do bem nos proporciona um sentimento enorme de plenitude e gratidão. O incentivo da espiritualidade sempre presente, o retorno de pessoas que nos apontam que alguma coisa lida de nosso trabalho fez a diferença para ela, tudo isso nos move e nos completa. Eu diria, principalmente para os jovens que vale a pena trabalhar pela divulgação.

5

LIVROS & CIA. Editora Maat Telefone: 17 3524-9800 www.candeia.com Mesmer – a ciência negada do magnetismo animal de Paulo Henrique de Figueiredo 592 páginas 15,5x22 cm

Versátil Vídeo Spirite Telefone: 11 3670-1950 www.dvdversatil.com.br Humberto de Campos: o imortal da Boa Nova de Oceano Vieira de Melo DVD 73 minutos

AME-Brasil Telefone: 11 2574-8696 www.lojaamebrasil.org.br Saúde mental – relatos do dia a dia de um psiquiatra espírita de Jaider Rodrigues de Paulo 288 páginas 16x23 cm

USE Regional de Araçatuba Telefone: 11 2950-6554 www.use-sp.org.br A dama da caridade de Antonio Cesar Perri de Carvalho 144 páginas 15,5x22 cm

www.correiofraterno.com.br


6

CORREIO FRATERNO

SeteMBro - oUtUBro 2017

coISAS De LAUrInHA

Por tAtIAnA BenIteS

Venda de passe

L

aurinha está assistindo à te-

pessoas que vão lá.

vendeu o passe por dez milhões

levisão, prestando bastan-

– Para isso que precisamos de

de reais. Isso ajudaria bastante

te atenção. Depois de algum

dinheiro?

o centro espírita, mãe!

tempo, ela se levanta e vai falar

– Sim, para tudo isso.

– Laurinha, não é desse tipo

com sua mãe.

Laurinha dá um sorriso e res-

de passe que estamos falando.

– ouvi a dona neide dizer que

ponde:

Passe de jogador é quanto ele

teremos que fazer outro bazar

– eu tive uma ideia! Podemos

vale para o time e...

para conseguir mais dinheiro

vender passes!

Laurinha interrompe a mãe e,

para o centro, verdade?

– como assim, vender passes?

pensando em voz alta, diz:

– Isso mesmo, filha.

– Para conseguir dinheiro!

– entendi. Mas eu não tenho

– Por que o centro precisa de

– Laurinha, não podemos ven-

culpa, se não inventam pala-

dinheiro?

der passes.

vras diferentes para falar coisas

– Precisamos pagar as contas de

– Mãe, tem muita gente que

diferentes? Mãe, mas bem que

água, luz, telefone, materiais

vende passe.

ajudaria a gente vender o passe

de limpeza e tudo o que usa-

– onde você viu isso?

do filho da dona Mafalda. ele é

mos para trabalhar e ajudar as

– na televisão! Um jogador

maior craque na bola!!!

www.correiofraterno.com.br

Tatiana Benites é autora dos livros tem espíritos no banheiro? tem espíritos embaixo da cama? E agora tem espíritos no escuro? (Ed. Correio Fraterno)


CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2017

7

BAÚ DE MEMÓRIAS

O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

George Sand O olhar destemido da escritora do tempo de Kardec Por Alexandre Caroli Rocha

P

ara quem gosta de história, literatura e cultura francesa, uma ótima notícia é a recente publicação do livro História da minha vida, de George Sand, pela Editora da Unesp. A nova edição da autobiografia, em volume único – a publicação original, de 1856, tem dez volumes –, é o resultado do trabalho de seleção e organização de Magali Oliveira Fernandes (poetisa e autora de trabalhos acadêmicos com temática espírita). Foi traduzida por Márcio H. Godoy e revisada por mim. George Sand (1804-1876) fez grande sucesso como escritora; autora de mais de cem títulos, foi a primeira francesa a viver de seus direitos autorais. Era admirada por autores importantes como Dostoiévski, Victor Hugo, Balzac e Flaubert. Com muita dificuldade, conseguiu se inserir no meio literário e social de seu país, na época composto quase exclusivamente por homens. Ela viveu durante anos com o compositor romântico Chopin, e parte desse convívio é tratada no livro. No meio espírita, ela era elogiada por Kardec e, no Brasil, por Chico Xavier. Na autobiografia, a narrativa de sua vida se entrelaça com a história da França e envolve sua reflexão a respeito dos principais temas do seu tempo. Ao longo do livro, Sand registra suas lutas, decepções e conquistas nos âmbitos social, político, afetivo e familiar. Ela fala da condição das mulheres, de religião, do futuro da sociedade, de fatos históricos, de filosofia, de sua criação literária. História da minha vida – publicada um ano antes da primeira edição de O livro dos espíritos – discute muitas questões que também encontramos em obras de Kardec. Nesse sentido, o livro de Sand é um meio de acesso ao contexto histórico e cultural em que Kardec desenvolveu suas pesquisas.

MAGALI OLIVEIRA FERNANDES

George Sand viveu durante anos com o compositor Chopin. No meio espírita, ela era elogiada por Kardec e, no Brasil, por Chico Xavier. Ao fundo, parte do castelo de Nohant, onde George Sand viveu por muitos anos

Ainda que a autora não tenha endossado as conclusões de seu contemporâneo (não sabemos nem se ela chegou a ler os livros dele), ela demonstra grande afinidade com o espiritualismo de sua época. Abaixo, alguns trechos do livro de George Sand: “Vivemos em um tempo em que ainda não explicamos bem as causas naturais que se passam até o momento por milagres, mas desde já podemos constatar que nada é milagre neste mundo, e que as leis do universo, embora não estejam todas sondadas e definidas, não são menos conformes à ordem eterna.” “Suprimir o maravilhoso da vida da criança é proceder contra as próprias leis da natureza. A infância não é para o homem um estado misterioso e pleno de prodígios inexplicáveis? De onde vem a criança? Antes de se formar no seio de sua mãe, não

teria ela uma existência qualquer no seio impenetrável da Divindade? A parcela de vida que a anima não vem do mundo desconhecido ao qual ela deve retornar?” “Orei e recebi forças para resistir à tentação do suicídio. Em certas ocasiões, essa tentação era tão viva, tão súbita, tão singular, que pude constatar que era uma espécie de demência pela qual estava acometida.” “Existe apenas uma verdade na arte, o belo; uma só verdade na moral, o bem; não mais que uma verdade na política, o justo. Mas quando almejamos colocar cada um no quadro de onde pretendemos excluir tudo aquilo que, segundo nosso ponto de vista, não é justo, foge ao bem e ao belo, estreitamos ou deformamos a tal ponto a imagem do ideal, que nos encontramos fatal e felizmente quase sozinhos em nossa opinião. O quadro da verdade é mais vasto,

sempre mais vasto que qualquer um de nós pode imaginar.” “De todas as religiões pelas quais me fizeram passar em revista como um estudo histórico pura e simplesmente, sem me engajar em adotar uma, não houve nenhuma delas, com efeito, que me satisfizesse completamente, e todas me chamaram a atenção por um ou outro motivo. Jesus Cristo era para mim o modelo de perfeição superior a todas as outras; mas a religião que me proibia, em nome de Jesus, de amar os outros filósofos, os outros deuses, os outros santos da antiguidade, me perturbava e me sufocava por assim dizer.” Uma leitura instigante por meio da qual acompanhamos parte da vida de George Sand. Alexandre Caroli é autor da tese O caso Humberto de Campos: autoria literária e mediunidade (Unicamp, 2008). www.correiofraterno.com.br


8

CORREIO FRATERNO

eSPecIAL

os 50 anos do correio Fraterno Por eLIAnA HADDAD

zzini teiro, Jorge Ri Eduardo Mon de ão ss ia em se e Wilson Garc 80 autógrafos, 19

Congresso Brasileiro de jornalistas, Niterói, 1972: participação de Herculano Pires e Deolindo Amorim

ores Visita de Jorge Rizzini e Dol 0 198 , ora edit à elar Bac

Registro no Correio: Herculano Pires autografa o livro A viagem, que marca o início das novelas espíritas na TV. 1976

www.correiofraterno.com.br

E

m 3 de outubro de 1967, com quatro páginas, formato 23 x 33cm, o jornal Correio Fraterno entrava em circulação, partindo de São Bernardo do Campo, SP, ganhando a cada edição novas cidades do Brasil. Dos mil exemplares impressos, primeiramente, quinhentos seguiram postados pelos Correios e o restante, entregues em casas espíritas e em pontos comerciais. Assim iniciava a caminhada do Correio Fraterno, que alcança hoje 477 edições, ininterruptamente preparadas com o ideal de levar aos leitores a visão espírita atrelada aos mais diversos assuntos – da ciência à religião, da filosofia aos problemas atuais da humanidade. “Lutamos com algumas dificuldades, mas nunca nos faltou amparo. Houve tropeços, períodos difíceis, mas como o bem sempre se sobrepõe, a luz também se fez presente, e aqui estamos, felizes pelo caminho trilhado”, assinala Raymundo Rodrigues Espelho, idealizador do projeto, junto a outros companheiros espíritas (veja entrevista na página 4). Nove anos depois, a editora espírita Correio Fraterno se lançava no desafio da publicação de livros, começando a tecer um novo capítulo da sua história, reunindo atualmente cerca de cem títulos publicados, quarenta em catálogo e mais de um milhão de exemplares vendidos. Basta folhear as antigas edições

do acervo do jornal ou a coleção de todos os livros publicados até hoje para se reconhecer o valor do trabalho realizado pelas diversas equipes que no decorrer desses 50 anos passaram pela editora. Trata-se de um retrato da própria história do movimento espírita, escrita em grande parte por escritores e articulistas renomados, como: Herminio Miranda, Deolindo Amorim, Herculano Pires, Jorge Rizzini, Iracema Sapucaia, Lamartine Palhano Junior, Heloisa Pires, Dora Incontri, Sueli Caldas Schubert, Wilson Garcia, Humberto Mariotti, Aureliano Alves Neto, Amilcar Del Chiaro, Richard Simonetti, Carlos Imbassay, Alberto de Souza Rocha, Altamirando Carneiro, J. G. Pascale, Carlos Toledo Rizzini, Domério de Oliveira, Rita Foelker. A lista é bem grande... “A partir de 2004, quando assumi a coordenação da editora, já havia uma boa base construída através da participação desses escritores, tão presentes no movimento espírita. Essa história foi aos poucos sendo ampliada, com a chegada de novos autores e articulistas, que traziam também projetos editoriais inovadores no campo da comunicação espírita, dentre os quais: André Trigueiro, Tatiana Benites, Alexandre Fontes da Fonseca, Lygia Barbiére Amaral, Jader Sampaio, Umberto Fabbri, Arandi Gomes Teixeira, Marco Milani, David Monducci etc.”,

comenta a jornalista Izabel Vitusso, filha de Raymundo Espelho. O bom alicerce Experimentando grande impulso no início dos anos de 1990, o jornalismo espírita era pautado em congressos e encontros realizados pelas principais entidades do movimento espírita, principalmente a Associação dos Jornalistas Espíritas do Estado de São Paulo. Esses eventos procuravam abranger os diversos segmentos de atuação da imprensa espírita, reunindo jornalistas, escritores, colaboradores dos periódicos espíritas, além dos dirigentes das casas espíritas. E o Correio Fraterno sempre esteve presente, fazendo parte dessas iniciativas, que marcaram a história do espiritismo no Brasil. O escritor e jornalista Deolindo Amorim teve grande atuação nesse campo, sendo o idealizador do Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas, realizado pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1939. Era articulista sempre presente no Correio Fraterno. Não menos importante, Herculano Pires, que se notabilizou por sua variada atuação nos meios de comunicação, como repórter, redator, secretário, cronista parlamentar e crítico literário dos Diários Associados, também deu seu incentivo e colaboração ao projeto editorial do Correio Fraterno. São da


CORREIO FRATERNO

SeteMBro - oUtUBro 2017

Manoel Romero, um dos o pioneiros do moviment ndo mu Ray e C, AB no espírita Espelho, 1980

Construção do prédio da editora

amentos Os últimos lanç

Novos projetos, novos tempos A preocupação em oferecer um contexto literário para todas as idades não demorou a chegar. Foi assim que, em 1978 surgia o “Suplemento Literário” no jornal, trazendo análise de obras e autores espíritas. A seguir, As aventuras do Fraterninho, de Iracema Sapucaia, marcou época nas páginas do jornal, inicialmente como textos para o público infantil, numa seção de passatempos e, 30 anos depois, como revistas em quadrinhos encartadas nas edições. “Sabemos que é grande a nossa responsabilidade em cada trabalho que chega,

contando com o auxílio da espiritualidade para analisarmos a utilidade e a mensagem que se quer levar para que as pessoas possam ter um bom conteúdo acrescido pela leitura em suas vidas”, revela Vitusso. Um excelente exemplo é o livro Viver é a melhor opção, a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo, escrito pelo jornalista André Trigueiro, com direitos autorais doados para o CVV. “São mais de 40 mil exemplares vendidos e a obra marca uma fase de desbravamento do assunto-tabu”. São desafios constantes que fazem a editora Correio Fraterno se manter jovem, atuante – desde a preocupação com a estética, nas mãos de profissionais de arte como Hamilton Dertonio e André Stenico. Há ainda uma longa estrada a desbravar, inclusive a digitalização dos exemplares antigos desses 50 anos de jornalismo espírita para futuras pesquisas. Alguns mais recentes já estão disponibilizados na internet (issu). E o site do correio (www. correiofraterno.com.br) também traz uma infinidade de informações em entrevistas, artigos, crônicas, curiosidades, textos especiais. “Recentemente, passamos a disponibilizar gratuitamente alguns e-books e cursos em vídeos. Trabalho é o que não falta nesse projeto de amor, com tratamento jornalístico, profissional, sem proselitismos, não perdendo de vista que muitos leitores ainda estão começando a entrar em contato com o conteúdo espírita”, informa Vitusso. Apesar de todas as dificuldades encontradas ao longo de sua história, o Correio Fraterno tem se mostrado atual, um jornal com espírito de renovação constante. “É essa busca pelo melhor que nos faz correr atrás das necessidades atuais. A busca pela modernização e aprimoramento da linha editorial e apresentação gráfica continuam a ser palavras de ordem da equipe Correio Fraterno, a fim de tornar cada edição, cada livro, cada iniciativa, um trabalho mais completo ante as necessidades de seu público leitor.

Parte do a cervo do jornal e livros pub licados

infantil da Obras para o público ia, 1978 uca Sap a em autora Irac

O Fraterninho é lançado como revistas em quad rinhos, em 2008

ad, no e Eliana Hadd Izabel Vitusso ismo, rit pi Es de al du Congresso Esta Atibaia, 2017 FotoS Do AcerVo correIo FrAterno

Presença do Correio Fraterno na prévia do Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas. Rio de Janeiro, 1979

editora os três livros contendo 124 crônicas de sua autoria, publicadas no Diário de São Paulo entre 1957 e 1970 sobre os mais diversos temas analisados sob a ótica espírita – O mistério do bem e do mal, O homem novo e O infinito e o finito. Depois ainda viriam Visão espírita da Bíblia e Educação para a morte. Herminio Miranda também apoiou o projeto, não somente escrevendo para o jornal, como entregando à editora a coleção “Histórias que os espíritos contaram” (A dama da Noite, O exilado, As mãos de minha irmã, A irmã do Vizir). Ainda pela editora, seriam publicados pela série Começar O que é fenômeno mediúnico e O que é fenômeno anímico e Os procuradores de Deus. Também é o tradutor de A feira dos casamentos (Rochester). Aliás, de Rochester, a editora ainda receberia da médium Arandi Gomes Teixeira outras emocionantes histórias: Vos sois deuses, A força do amor, A pulseira de Cleópatra, A encarnação de uma rainha, O condado de Lancaster, O príncipe do Islã e, o mais recente, O exílio. Romances importantes psicografados por Dolores Bacelar também fazem parte dessa história: dentre os quais A mansão Renoir e os da série “Às margens do Eufrates” (O alvorecer da espiritualidade, Guardiães da verdade, Os veladores da luz e O voo do pássaro azul), hoje reunidos em Mesopotâmia, luz na noite do tempo.

9

www.correiofraterno.com.br


10

CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2017

FOI ASSIM

Palpite infeliz Por Jaider Rodrigues de Paulo

F

ui procurado por uma jovem de vinte e poucos anos, solteira. Estava muito assustada porque aconteciam alguns fenômenos estranhos e, por isso, ela tinha medo de estar enlouquecendo. Contou-me que tinha uma vizinha jovem, viúva há pouco tempo, que tivera um filho desse casamento. Tornaram-se amigas e foram ficando confidentes. Passaram a se ver mais amiúde. Certo dia, a amiga viúva confidenciou que estava namorando às ocultas. Não queria tornar ainda público, porque o marido havia falecido há pouco tempo e pensava ficar chato aparecer com outro tão cedo. A paciente incentivou que ela investisse no romance. Afirmava que ela era jovem e que a vida continuava. Elas conversavam muito sobre isso. Um dia, almoçaram juntas e ela deitou-se no sofá da sala da amiga e cochilou. Teve um pesadelo. Um homem jovem apareceu com o dedo em riste e lhe disse: “Se a minha mulher firmar namoro com esse sujeito, você me

www.correiofraterno.com.br

paga. Vou infernizar a sua vida. Você vai ver o que vai acontecer”. Desde então, passou a ter pesadelos persecutórios, a acordar cansada, ansiosa. Ter muito medo. A situação piorou quando confidenciou para a amiga o que estava acontecendo. A jovem viúva buscou, então, um retrato dela com o falecido marido, o que a deixou mais assustada, pois identificou o homem que aparecia em seus sonhos. Orientei que ela fizesse a leitura das obras O livro dos espíritos e O livro dos médiuns, de Allan Kardec, já que ela não tinha nenhuma objeção. Ela havia nos procurado considerando que, além de psiquiatras, éramos espíritas. Precisava saber se o que ocorria com ela era fruto de algum distúrbio mental. A essa pergunta respondemos que, à primeira entrevista, não. Frisei bastante a necessidade de que ela orasse por ela e pela entidade espiritual, e que deixasse para a amiga a resolução da sua vida amorosa. Orientamos que ela procurasse o apoio espiritual de

uma casa espírita e que se algum fato novo de importância ocorresse, poderia nos procurar. Situações às vezes embaraçosas nos levam a despertar para fatos de suma importância na vida. É bem provável que essa paciente passou por tudo isso para despertar a sua atenção para o fenômeno da vida após a morte e para ter mais cuidado no relacionamento com essa verdade. Muitas vezes não damos a devida importância às nossas palavras em relação a assuntos sobre pessoas já falecidas. Isso pode nos sustar dissabores desnecessários. Este fato foi narrado pelo psiquiatra e homeopata Jaider Rodrigues de Paulo, de Belo Horizonte, em um de seus livros: Saúde mental, relatos do dia a dia de um psiquiatra espírita, AME, 2014.


CORREIO FRATERNO

SeteMBro - oUtUBro 2017

11

AnÁLISe

Memórias do padre Germano Por orSon Peter cArrArA

I

magine o leitor um momento difícil e angustiante. Sim, daqueles mais graves e provocadores imediatos de desesperos, desânimos, violências e que se desdobram em sofrimentos e angústias pungentes. São instantes que geram afastamentos e desistências, entre outros prejuízos, como aqueles decorrentes de abatimentos graves. Se tivéssemos a visita do Cristo em instantes como esses, ele naturalmente nos diria: “Que fazes aqui desterrado? Ao começar a tua jornada já te faltam as forças para seguir caminho? Dizes que és uma árvore seca? Ingrato! Não há planta improdutiva, porque em todas germina a fecundante seiva de Deus. Eleva tua vista ao céu e segue-me; sê apóstolo da única religião que deve imperar neste mundo: a caridade, que é amor. Ama e serás forte! Ama e serás grande! Ama e serás justo!”. A frase transcrita está no notável livro Memórias do Padre Germano, cujo prefácio data de 1900, em obra preparada por Amália Domingo Soler1. Embora não haja na obra onde e quando viveu o Padre Germano, o fato real é a sublimidade dos ensinos do livro. Ela consta de capítulo específico nos desafios enfrentados pelo sacerdote. A frase que transcrevemos acima, extraída do citado e fabuloso livro, traz várias indicações para refletirmos: • Ao começar a tua jornada já te faltam as forças para seguir caminho? Note o leitor a grandeza da frase. Realmente as lutas apenas indicam início e

Vila da Grácia, Barcelona, Espanha

O livro Memórias do Padre Germano foi publicado pela primeira vez no Brasil em 1909, pela Federação Espírita Brasileira. A obra foi recebida na Espanha através do médium sonâmbulo Eudaldo Pagés, do Centro Espírita A Boa Nova, da vila de Grácia, atual bairro em Barcelona. Amália Domingo Soler foi quem registrou no papel as narrativas de Pages e, em abril de 1880, começou a publicá-las no Jornal Espírita A Luz do Porvir em forma de novela. (Redação) o amadurecimento da jornada evolutiva. É o momento de prosseguir com mais firmeza. • Não há planta improdutiva! Que frase magistral! – Sim, somos todos capazes, seres racionais capacitados para vencer obstáculos e prosseguir com destemor, já que trazemos dentro de nós a origem divina. Como nos entregarmos

com tanta facilidade a desesperos e abatimentos? Somos essas plantas produtivas. • Única religião que deve imperar neste mundo: a caridade. Notável! Claro, a caridade indica o respeito e o dever de servir e trabalhar, desdobrando-se dessas virtudes inúmeras outras que sustentam a harmonia na convivência. As interpretações religiosas são detalhes

da lei maior que é de amor. • Ama e serás forte! Ama e serás grande! Ama e serás justo! Eis o segredo para vencer dificuldades, eis o segredo de fortalecimento, eis o segredo de viver. Meu texto é pobre aqui, diante da grandeza do capítulo e de todo o livro. Padre Germano é criatura exemplar. Abraçou o sacerdócio como quem entende a tarefa, indo ao encontro das fraquezas e dificuldades humanas, acolhendo criminosos, enfermos e desorientados de toda ordem. Sua noção de dever e compromisso com o bem extrapola nossas limitadas percepções morais, tornando-se extraordinária fonte de inspiração para o bem. Li tantas vezes este livro, por influência direta de meu pai, que o entusiasmo trazido pelo livro me levou a elaborar outra obra: Um sacerdote espírita2, com comentários sobre as lições e essência de cada capítulo, com transcrições parciais, extraindo trechos expressivos e ensinos dos capítulos. O qualificativo fica por nossa conta, pois à época nem existia o vocábulo espírita’, mas não é porque ela era médium – uma vez que nem todo médium é espírita – mas por conduta e legado de amor, firmeza moral e coerência com a tarefa que abraçou. FEB editora. IDE Editora, 2016.

1 2

Orson Peter Carrara é escritor e orador espírita. Reside atualmente em Matão, SP.

Assine o jornal Correio Fraterno 6 edições por apenas R$48,00 www.correiofraterno.com br www.correiofraterno.com.br


12

CORREIO FRATERNO

SeteMBro - oUtUBro 2017

cULtUrA & LAZer

Festival de Música Espírita de São Bernardo Acontece dia 21 de outubro a grande final do Festival de Música Espírita de São Bernardo do Campo, SP, com a apresentação das dez músicas mais votadas na internet. Com entrada franca, o evento acontece no Teatro Lauro Gomes, Rua Helena Jacquey, 171, Rudge Ramos, São Bernardo do Campo, às 17h. www.femesbc.com.br.

OUT

21

Encontro de Evangelizadores no Espírito Santo Dia 21 de outubro será realizado no Grupo da Fraternidade Espírita Jerônimo Ribeiro o 24º Encontro Estadual de Evangelizadores Espíritas de Infância e Juventude. Tema: “Evangelização com inclusão”. Rua Henrique Laranja, 54, Vila Velha, ES. www.feees.org.br

OUT

21

Congresso Espírita da Bahia Será realizado de 2 a 5 de novembro o 17º Congresso Espírita da Bahia, coordenado pela Federação Espírita do Estado da Bahia. Participação de: Álvaro Chrispino, RJ, André Siqueira, DF, Cosme Massi, PR, Éden Lemos, RN, Frederico Menezes, PE, José Carlos de Lucca, SP, Jorge Elarrat, RO, Jorge Godinho, DF, Sérgio Thiesen, RJ, além de palestrantes do estado.Local: Fiesta Convention Center, em Salvador. www.feeb.org.br.

NOV

2

Congresso Espírita do Rio Grande do Sul Será realizado em Porto Alegre, RS, de 3 a 5 de novembro, o 9º Congresso Espírita do Rio Grande do Sul. O evento, que tem como tema central “Espiritualidade nas relações – para viver e conviver em paz” será promovido pela Federação Espírita do Rio Grande do Sul e contará com a participação de: Divaldo Franco, Alberto Almeida, André Trigueiro, Haroldo Dutra Dias, Sandra Borba, Sérgio Lopes e Roosevelt Tiago. www.espiritismors.org.br

NOV

3

Feira de Conhecimento Espírita em Pernambuco Acontece no dia 12 de novembro, no centro de Jaboatão dos Guararapes, PE, a 7ª FECESP – Feira do Conhecimento Espírita. O projeto inclui exposições e arte sobre a temática espírita, com venda também de livros. Grupo Espírita Manoel Philomeno de Miranda. Na Casa da Cultura de Jaboatão. Rua: Barão de Lucena S/N - Centro Jaboatão dos Guararapes.

CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO Kardec e a primeira mesa girante “Paris, rua Grange Betelière, número 18, maio de 1855. eram oito horas da noite de uma terça-feira quando a sessão na casa da sra. De Plainemaison começou. em silêncio absoluto, os convidados tomaram seus lugares à mesa, mãos espalmadas sobre o tampo de carvalho. entre os mais compenetrados estava o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, 50 anos. em poucos minutos, se tudo desse certo, ele seria testemunha de um fenômeno que causava espanto e polêmica na Europa e nos estados Unidos do século 19: o espetáculo das mesas girantes. (...) Uma breve prece antecedeu longo período de silêncio, só interrompido pela passagem de uma carruagem do lado de fora, pelo tique-taque dos relógios de bolso e por tosses esporádicas. rivail já pensava em se retirar, para preparar as aulas do dia seguinte, quando ouviu estalidos sobre os tacos e testemunhou o primeiro movimento da mesa.” (Homenagem do correio Fraterno a Allan Kardec (1804 - 1869) pela passagem de mais um aniversário). Fonte: Kardec: a biografia, Marcel Souto Maior, record.

NOV

12

Chá-Bazar beneficente

O evento mais aguardado!! Dia 12 de novembro, a partir das 14h30. Artesanatos belíssimos, peças exclusivas e preços especiais. Local: Salão do Lar, na Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955, Vila Alves Dias, São Bernardo do Campo, SP. Fone: 11 4109-2939 - www.laremmanuel.org.br www.correiofraterno.com.br

t L P Ó n Ô A I I r n I o o I I U A e e r G o Ó I o F o r A

B o r G t A r r n r S V V S L U L M o V I M e n t o e M t M

n r o S e r r Ó t S o Ô n Ó L e Q Ê t o F M n c U V M e A e

I e L I S r U G I r A n t e S Q U I n F U Q c I o I o F c n

o S U L G U A I M Ê c n r L S U e o I c Q U S A r M Ô Q o o

U n o r r A G S V o I t o S G e A S o r I e S r r e Ê U S S

50 anos do Correio Fraterno

NOV

12

A P r L A A c G M P Ê r P c S o e t I Q U e t A Q U e n e L

Neste mês o Correio Fraterno fAz 50 anos!

É por isso que as cartas sempre chegam com amor?

HÃ?

Porque o carteiro é fraterno!

A H A S o M e F e n Ô M e n o P U S c U M o S r V V A n o S

Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

V F V U e P M e r U Q e S P o o L o V A e r o Q I o A P r r

B e Ô A S G A n A e U L o I S L A r S A S r e U L V t L S r

F S M t r M n r e L Ó G I o S Ô S L S S A A F e M S A L H A

e S e A o e o M t U t o I e M e n A o S r P r S e A S I o o

r o n c P n F A o e A S D r e A o P r o F e S S o r A S L o

ENIGMA

Dentre as obras de Allan Kardec, qual delas foi lançada com o objetivo de popularizar o espiritismo? qualquer hora, em qualquer lugar

Solução do Passatempo Veja em: www.correiofraterno.com.br

Resposta do Enigma: O espiritismo na sua expressão mais simples. Brochura lançada em 1861 (após O livro dos Espírito e O livro dos médiuns) Fonte: revista espírita 1861.

AGENDA

O JORNAL Correio Fraterno! Então, se o Correio é fraterno o carteiro também é!


CORREIO FRATERNO

SeteMBro - oUtUBro 2017

13

SAIU no CORREIO

os bastidores do Escritores e fantasmas Por eLIAnA HADDAD

Q

uando em 1978 a editora Correio Fraterno publicou um dos seus primeiros livros, Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da caridade, o autor da obra, Jorge Rizzini, já era conhecido por seu tino aguçado para pesquisas. Em 1966 ele já havia lançado por outra editora o livro Escritores e fantasmas, fruto de seu extenso levantamento sobre o assunto. A obra mereceu elogios de vários críticos literários. E convidado a falar sobre a obra, Rizzini concede a Wallace Leal Rodrigues, da editora O Clarim, uma interessante entrevista. Passados mais de 20 anos, o livro chega para reedição, na Correio Fraterno. Na edição do jornal, de agosto de 1992, o autor é novamente convidado a falar sobre Escritores e fantasmas, sendo retomada a antiga entrevista que dera a Wallace Leal. Nos comentários, Rizzini traz curiosas revelações. Veja alguns trechos: Wallace Leal: Por que escreveu Escritores e fantasmas? Jorge Rizzini: Simplesmente deixei-me levar por uma força e o livro foi saindo... Mas tudo começou com Monteiro Lobato. Eu já havia redigido uma biografia dele para a juventude. Tornei a examinar-lhe a vida e a obra, e de posse de vasto material escrevi uma conferência subordinada ao tema “Monteiro Lobato e o espiritismo”, lida pela primeira vez no auditório da Biblioteca Municipal de São Paulo. Tudo isso me fez pensar: “E Olavo Bilac? Teria também vivido fenômenos espíritas? E Rui Barbosa? Fagundes Varela? Visconde de Taunay?”. Embora soubesse que havia pela frente um trabalho imenso a realizar, eu não podia mais recuar. Forças espirituais poderosas já me tinham sob controle. A pesquisa passou a ser uma obstinação. Não posso dizer que escrevi Escritores e fantasmas porque seria um li-

vro único na literatura mundial. Escrevi porque Lobato acossou-me, empurrou-me, eis tudo! (...) Qual foi a maior dificuldade na feitura do seu livro? Foi a segunda parte do livro. A que trata dos escritores e poetas estrangeiros, que viveram fenômenos mediúnicos. Nossas bibliotecas são muito falhas no que se refere a obras estrangeiras, e isso dificultou a pesquisa [hoje, os dados, frutos de uma pesquisa de dez anos do escritor, estão confirmados nos acervos digitais]. Qual o momento da mais ‘sensacional’ descoberta? Houve algumas descobertas que foram reveladas de forma abrupta, sendo eu, então, mero instrumento dos espíritos. Um exemplo: estava eu na Biblioteca Municipal, diante de centenas de livros, quando, de súbito, uma voz interior me disse: “Naquela prateleira, volume quinto, lombada vermelha”. Atravessei a sala, peguei o volume e... ao abri-lo, ‘ao acaso’, encontrei um depoimento de Afonso Celso. Um depoimento espírita!... Coisas assim posso contar às dezenas. Qual a maior alegria que Escritores e fantasmas lhe trouxe? Em suas páginas estão citados mais de quinhentos escritores e poetas que testemunharam ou viveram fenômenos mediúnicos! Um exército de escritores! Alguns escritores vivos, não espíritas, ficaram aborrecidos com o índice de nomes próprios. (...) Guilherme de Almeida me confessou: seu livro está sobre minha mesa. Mas notei que você só contou um caso espírita vivido por mim. Eu os darei por escrito a você para uma segunda edição”. Também Menotti Del Pecchia e Pedro Oliveira Ribeiro Neto, presidente da Academia Paulista de Letras, relataram-me vários casos espíritas. Antes da publicação os autores vivos temiam falar em

O escritor Jorge Rizzini (1924-2008) e os projetos editoriais do Correio Fraterno para o livro Escritores e fantasmas, de 1992 e o relançamento de 2017

espiritismo; depois do livro, quase todos se sentem na obrigação de me falar sobre os fenômenos espíritas que viveram.... E falam esperando que os cite numa próxima edição. A razão é simples: estarão em boa companhia, pois nosso livro cita Victor Hugo, Musset, Lobato, etc... É uma glória para eles. 23 anos depois... A reportagem do Correio Fraterno [em agosto de 1992] perguntou a Jorge Rizzini o que ele pensava sobre as declarações que fizera a Wallace Leal Rodrigues nesta entrevista de 1966:

“De lá pra cá muitos fatos importantes se sucederam. O próprio texto da segunda edição de Escritores e fantasmas não é o mesmo da primeira edição. Agora, sim, o texto é definitivo. Escrevi, por exemplo, na primeira edição que Monteiro Lobato não regressara do Além, embora em vida ele houvesse informado que o faria. Pois bem. Longos anos depois, veio Lobato comunicar-se por meu intermédio, através de uma ‘sessão de copo’, quando se identificou na residência de Maria José Sette Ribas, autora do livro Monteiro Lobato e o espiritismo, estando eu com os olhos vendados. Depois psicografamos juntos.” www.correiofraterno.com.br


14

CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2017

ARTIGO

Reclamações e vitimismo Por MARCO MILANI retos pelas infelicidades e desconfortos percebidos. Se não fossem aquelas pessoas, tudo seria diferente... O centro espírita não está imune desses comportamentos, pois não é o rótulo que determina o comportamento dos frequentadores. Podemos encontrar queixosos recorrentes que alegam ser vítimas de dirigentes, por não terem suas ideias e propostas revolucionárias acatadas na casa espírita. Algumas queixas podem ser justas e outras não. Muitos reclamantes se consideram perseguidos e vítimas das circunstâncias

As conquistas morais não são obtidas por reclamações, mas por trabalho e mérito

R

eclamar é uma atitude humana. Alguns reclamam mais, outros menos. Alguns com razão aos olhos do próximo, outros com razão somente aos próprios olhos. Ao nos manifestarmos sobre o que acreditamos ser necessário e correto, exercemos o livre-arbítrio e buscamos o aprimoramento de determinado contexto, entretan-

to, nem sempre o que reivindicamos guarda relação com a justiça e com a verdade. Em nosso acanhado nível evolutivo, não é raro observarmos o orgulho e o egoísmo motivarem essas manifestações. Uma forma orgulhosa e imatura de posicionamento é culpar terceiros pela situação em que o reclamante se encontra. Os outros seriam os responsáveis di-

por não terem todos os seus desejos satisfeitos. Alguns potencializam suas queixas nas redes sociais, tentando cooptar simpatizantes em causa própria. Acusam dirigentes de entidades espíritas de impedirem o desenvolvimento do espiritismo no Brasil e no mundo, por não lhes oferecer a tribuna para se apresentarem ou por não

obterem espaços privilegiados em eventos para venderem os seus livros. Mas críticas a dirigentes existem desde os primórdios do espiritismo, pois Kardec mesmo foi chamado de centralizador e acusado por adeptos místicos de impedir que ‘novos ensinamentos’, obtidos sem qualquer critério metodológico sério fossem inseridos no corpo doutrinário. Um desses queixosos foi o advogado Jean-Baptiste Roustaing, que afirmava ter recebido ‘novas revelações’, mas como se mostravam bem distante do bom senso e da coerência doutrinária foram justificadamente rejeitadas por Kardec. Nos dias de hoje, basta um clique para se fazer circular eletronicamente textos elaborados com as mais variadas intenções, sendo cômodo para algumas pessoas simplesmente se afirmarem vítimas injustiçadas de malvados dirigentes de centros espíritas, que tolhem suas maravilhosas iniciativas. Servindo-se do discurso acusatório atual, Roustaing chamaria Kardec de conservador, retrógrado, reacionário e outros adjetivos da moda. Certamente, todos erram e podem melhorar. Portanto, o diálogo respeitoso e racional sempre será o melhor caminho para os esclarecimentos necessários às partes envolvidas em divergências de ideias. As conquistas morais, entretanto, não são obtidas por reclamações ou vitimismo, mas por trabalho e mérito. Economista e professor da Unicamp. Diretor do Departamento do Livro da USE Regional SP.

Contabilidade – Abertura e encerramento de empresa – Certidões

Tel. (11) 4126-3300 Av. Paulista, 777 I Conj. 72 I Bela Vista I São Paulo - SP Rua Tomé de Souza, 200 I Centro I São Bernardo do Campo - SP brasilcontadores.com.br www.correiofraterno.com.br


CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2017

15

DIRETO AO PONTO

A grande lição de

Irma Por UMBERTO FABBRI

E

la, Irma, violenta tempestade, ou ele, o furacão, fenômeno atmosférico que se forma em águas oceânicas tropicais, foi chegando devagar ao Estado da Flórida, nos Estados Unidos, onde resido, deixando um rastro de destruição poucas vezes visto. Em seu curso, a velocidade era em determinados trechos de pouco mais de doze quilômetros horários. Menos do que um atleta de alta performance que pode alcançar no mesmo tempo, cerca de vinte quilômetros. Mas independentemente de sua baixa velocidade, ela avançava de forma firme e resoluta, por vezes demonstrando-se um tanto sem direção, ora deslocando-se para a esquerda, ora para a direita. Como convidada indesejável, não seria bem recebida em qualquer lugar que chegasse. Ao saber que ela tomara o rumo exato de minha região e não podendo formular desculpas cordiais para não a receber, tratei logo de fechar janelas e portas da maneira mais eficiente possível, pois tanto eu quanto os amigos que permaneciam em minha casa, por ser um local mais seguro, ainda não a conhecíamos e nem gostaríamos de sermos apresentados. No entanto, Irma ignorou nossa falta de receptividade e continuou determinada a avançar, trazendo consigo seus predicados destrutivos com velocidade máxima quase comparada aos carros de Fórmula 1: cerca de 296 quilômetros por hora. Foi dessa maneira que ela chegou no Caribe e em Cuba, deixando um trilho de destruição e morte. Sua magnitude chegou a atingir a categoria quatro ou cinco, número que pouco importou aos que foram colhidos por mais uma catástrofe, cuja grandeza, segundo alguns cientistas, tem relação direta com o aquecimento global. Ela aportou nos Estados Unidos com a mesma atitude; aos gritos, demonstrando a

Quando olhei para os vizinhos e pessoas desconhecidas nas ruas, pude ver nas atitudes de cada uma o reflexo de Deus” dor de um planeta que procura sobreviver, apesar dos maus tratos que tem recebido de seus habitantes. Sua chegada previamente anunciada gerou pânico e imensa ansiedade às pessoas, que procuravam se proteger e se preparar, estocando alimentos e outros gêneros de necessidade, frente à inusitada e ameaçadora visita. Os supermercados, lojas de materiais de construção, postos de gasolina simplesmente não conseguiam atender à demanda, com a falta de água, alimentos e até mesmo parafusos para as madeiras que protegeriam portas e janelas, causando ainda mais agonia.

Finalmente, depois de alguns dias de espera angustiosa, ela chegou e deixou uma boa parcela da população americana carente de quase tudo, e nos casos mais tristes, do maior patrimônio existente: a própria vida. Diante de um cenário pós-bombardeio, foi impossível controlar as lágrimas. Quando pude sair do meu abrigo, tomei ciência dos estragos, das árvores arrancadas, das casas danificadas, e ainda da incerteza e do medo sobre o que realmente havia acontecido, de como estariam os amigos e familiares. O número de óbitos – seis — representou um percentual pequeno, em

virtude de a população estar preparada. Porém, a lição maior estava por começar, quando olhei para os vizinhos e pessoas desconhecidas nas ruas, pude ver nas atitudes de cada uma o reflexo de Deus, de Jesus, de Buda, de Krishna, de Jeová, e mesmo daquelas que não admitiam a existência da divindade, o nobre sentimento chamado “solidariedade”. Os dias que se sucederam foram de dificuldade, mas todos se oferecendo para auxiliar, desde no corte de uma pequena árvore caída, até as doações de água e alimentos nos abrigos preparados para pessoas e animais. Os pássaros demoraram a cantar, cerca de dois dias ou um pouco mais, mas a música do coração das pessoas podia ser ouvida, demonstrando que acima de todas as dificuldades, o potencial divino do amor em cada criatura se faz presente e atuante. “É necessário que tudo se destrua, para renascer e se regenerar; porque isso a que chamais destruição não é mais que a transformação, cujo objetivo é a renovação e o melhoramento dos seres vivos” – dizem os espíritos em O livro dos espíritos, questão 728, sobre a lei de destruição – e tudo se encaminha em nossas vidas para uma retomada de atitudes, para que saiamos de nossa postura automática e busquemos a renovação. Ele ou ela, IRMA, o furacão, pouco importa se o classificamos masculino ou feminino. O mais importante é saber que apesar de nos apresentar por dias a face do terror, trouxe-nos uma certeza absoluta: deixou-nos almas um pouco mais IRMÃS. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor dos livros O traficante, Amor e traição e Pecado e castigo, (ditados por Jair dos Santos) e O político, (por Adalberto Gória) (Correio Fraterno). www.correiofraterno.com.br


16

CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2017

MÍDIA DO BEM Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Professora diminui a pressão do dia da prova com mensagens personalizadas

Homem recupera consciência Menina que sofria bullying por amar insetos publica artigo científico após 15 anos em estado vegetativo

A professora Chandni Langford, da Evergreen Avenue Elementary School, resolveu diminuir o estresse de seus alunos da 5.ª série com uma ideia genial: deixando recados em suas carteiras. O exame chamado PARCC é importante e decisivo, mas uma das primeiras situações de estresse estudantil. E por isso a professora resolveu tentar ajudar com “bilhetes” gigantes de muito incentivo à autoestima. Um deles: “Kwydir, aprender é o seu superpoder. Lembre-se: nunca pare de tentar e nunca pare de fazer o seu cérebro crescer”.

Amante de insetos, Sophia Spencer, 8 anos, publicou um artigo científico com ajuda do pesquisador Morgan Jackson e da Sociedade Entomológica do Canadá. A menina sofria bullying dos colegas de escola por gostar muito desses bichinhos, até que sua mãe resolveu mandar uma carta para o instituto, explicando sua situação e pedindo ajuda para encorajar a filha a continuar com o seu interesse. A Sociedade acabou publicando a carta em seu Twitter, o que gerou grande repercussão e a criação da tag #BugsR4Girls (#InsetosSãoParaGarotas). Logo a história ficou conhecida, e foi daí que partiu o convite de Morgan Jackson.

Um homem de 35 anos, em estado vegetativo há 15 anos, apresentou sinais de consciência após receber um implante feito para estimular seu sistema nervoso. O experimento, realizado em Lyon, na França, foi divulgado na segunda-feira (25/9) na revista científica Current Biology e contradiz a medicina, que diz ser impossível se retomar a consciência depois de 12 meses em estado vegetativo. Os implantes foram colocados para estimular o chamado nervo vago (ENV), que liga o cérebro a praticamente todos os órgãos vitais do corpo.

Fonte: Jornal de Boas Notícias

Fonte: Revista Galileu

Fonte: Portal Terra

www.correiofraterno.com.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.