Correio Fraterno 479

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CORREIO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA Ano 50 • Nº 479 • Janeiro - Fevereiro 2018

ISSN 2176-2104

FRATERNO

Entrevista Uma nova linguagem para um novo tempo? Espírita há 30 anos, o ex-presidente do Grupo Abril, Alexandre Caldini,, fala sobre a comunicação espírita e os segredos para se obter maior eficiência com ela. Leia nas páginas 4 e 5.

A gênese A polêmica sobre as alterações no texto original

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á 150 anos, surgia A gênese, a quinta e última obra da codificação espírita. Nela Allan Kardec retoma pontos importantes, pesquisados e analisados por mais de dez anos, tendo como critério a universalidade e a concordância dos ensinos dos Espíritos, sob o comando do Espírito da Verdade. No início deste ano, o movimento espírita se viu à frente de fatos intrigantes, advindos de uma pesquisa realizada pela diplomata Simoni Privato, indicando que o texto da obra original de Allan Kardec teria passado por alterações após a sua desencarnação, em março de 1869. No mês que vem, o livro da pesquisadora será lançado em São Paulo, em sua versão na língua portuguesa, depois de seu lançamento em espanhol na Argentina, no final do ano passado. O Correio Fraterno traz o fato e aguarda novos desdobramentos, cumprindo a sua tarefa de não só informar, mas de promover sempre a boa reflexão. Leia nas páginas 8 e 9.

Biblioteca Nacional da França, considerada a mais antiga do mundo (1461), onde se encontra depositado o exemplar da primeira edição de A gênese

Movimento da Fraternidade O Grupo da Fraternidade Espírita João Ramalho completa 50 anos. Uma história que para começar vai muito além da reunião de trabalhadores locais, de São Bernardo Campo. Saiba como tudo começou. Leia na página 7.

Um alívio para a sua dor Tentando ainda se refazer da sua grande perda, ocorrida com o acidente que sofreu com a família no final do ano, o técnico do Fluminense, Leo Percovich, fala sobre sua dor e o alento do espiritismo. Veja na página 10.

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JAneIro - FeVereIro 2018

eDItorIAl

cuidado e

compromisso

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echávamos esta edição e ainda tínhamos muitas dúvidas sobre a notícia que agitou o movimento espírita no início deste ano, com relação às diversas alterações contidas no texto de A gênese, a última obra da codificação espírita, a partir de sua quinta edição, utilizada por diversos tradutores pelo mundo afora. Publicamos a matéria a respeito do assunto certos de que o tema é de extrema responsabilidade de todos que o divulgam, dentro dos parâmetros éticos que nos ensina o espiritismo: verdade, utilidade e caridade. Nosso dever é informar o fato, sem dá-lo como concluído. A diplomata brasileira Simoni Privato,

autora da pesquisa em questão, estará presente num seminário sobre o tema, que será realizado em São Paulo, na sede da USE, no dia 4 de março, quando lançará o livro O legado de Allan Kardec, contendo os dados da sua pesquisa. O também pesquisador Cosme Massi, em vídeo recente, questionou a lógica das premissas e conclusões dos fatos apresentados. Programas de rádio e tevê espíritas procuram explicar a veracidade das conclusões advindas das pesquisas... O assunto é antigo e muitas questões continuam no ar, convidando-nos à leitura mais aprofundada das obras de Allan Kardec, tantas vezes esquecidas. A codificação espírita é obra de estudo que não se esgota e

Dúvidas mais comuns sobre mediunidade e cura Muito esclarecedora a maneira como esta matéria nos coloca no nosso papel de tarefeiros. O compromisso da mediunidade é grande e exige disciplina e entrega, porém dona Nena nos lembra do nosso compromisso de praticar aquilo que se estuda e se aprende nas palestras e a importância de irmos ao centro espírita para aprendermos e nos fortalecer espiritualmente. (“As dúvidas mais comuns

• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.

exige discernimento. E aqui vale lembrar o conselho de Erasto: “O que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai corajosamente. Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa.” Estudemos. Boa leitura! Equipe Correio Fraterno

CORREIO

FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118

Presidente: Izabel Regina R. Vitusso Vice-presidente: José Natal Inácio Tesoureiro: Olímpia Iolanda da S. Lopes Secretário: Vladimir Gutiérrez Lopes Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP www.correiofraterno.com.br

• A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos.

sobre mediunidade e cura”, edição 478). Rosana Ruiz, São José dos Campos, SP. Mídia do bem A seção “Mídia do bem” do jornal dá um banho de otimismo e alegria em mim, sempre que leio. Tem muita coisa boa acontecendo. E são notícias que encorajam a gente a procurar fazer o mesmo, ser útil, dar significado sempre à nossa vida. Obrigado. Janice Lisboa, Jandira, SP.

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Administração/financeiro: Raquel Motta Comercial: Magali Pinheiro Auxiliar geral: Ana Oliete Lima Apoio de expedição: Osmar Tringílio Impressão: LTJ Editora Gráfica

em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências.

CORREIO DO CORREIO Espiritismo e promoção da saúde Excelente a entrevista do Correio Fraterno com o psiquiatra Sergio Felipe de Oliveira, pesquisador e doutor pela USP. Ela nos mostra as diversas possibilidades de integração da área de saúde, com as ciências médicas e os trabalhos no centro espírita. Parabéns, Eliana Haddad e equipe. (“O potencial do espiritismo no cuidado com os pacientes”, edição 478). André Luis Rodrigues, por email.

Uma ética para a imprensa escrita

Telefone: (011) 4109-2939 Whatsapp: (011) 97334-5866 E-mail: correiofraterno@correiofraterno.com.br Site: www.correiofraterno.com.br Twitter: www.twitter.com/correiofraterno Atendimento ao leitor: sal@correiofraterno.com.br Assinaturas: entre no site, ligue para a editora ou, se preferir, envie depósito para Banco Itaú, agência 0092, c/c 19644-3 e informe a editora. Assinatura anual (6 exemplares): R$ 48,00 Mantenedor: acima de R$ 48,00 Exterior: U$ 34.00 Periodicidade bimestral Permitida a reprodução parcial de textos, desde que citada a fonte. As colaborações assinadas não representam necessariamente a opinião do jornal.

• confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


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Acontece

Encontro Nacional de Pesquisadores abre suas inscrições Da redação

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á estão abertas as inscrições para a submissão de trabalhos para o 14º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - ENLIHPE, com prazo a se encerrar dia 30 de abril. O evento atrai todo ano pesquisadores de todo o Brasil, interessados na divulgação e discussão de estudos nas diversas áreas do conhecimento sobre a temática espírita. Este ano, o Encontro acontece em Belo Horizonte, na sede da União Espírita Mineira, dias 25 e 26 de agosto, e terá como tema “Sobrevivência da alma”. Segundo Jáder Sampaio, coordenador geral do encontro deste ano, um dos diferenciais do ENLIHPE é o seu formato multidisciplinar, que acaba por incentivar a formação de redes de pesquisa, promovendo a aproximação de autores de diferentes áreas de formação. “Estamos na fronteira entre o meio espírita e a universidade. Participam dos encontros membros da LIHPE, espíritas interessados no debate que a LIHPE promove e pessoas do meio acadêmico com interesse no espiritismo. Já tivemos um doutorando italiano participando dos eventos e diversos graduandos e mestrandos que buscaram no ENLIHPE

ideias para o doutorado”, comenta Jáder, salientando a importância do evento. Os encontros da Liga dos Pesquisadores iniciaram em 1999, por sugestão do próprio historiador Eduardo Monteiro, fundador da Liga dos Historiadores e Pesquisadores do Espiritismo. Tudo em ambiente virtual, a ideia era também promover encontros presenciais, além das trocas que já aconteciam via internet. Nos últimos anos, os encontros aconteceram em São Paulo, consolidando-se cada vez mais como um espaço para a discussão sobre a construção do pensamento espírita, sua metodologia e técnicas de pesquisa, além de sua interlocução com os avanços científicos. “Quem não é pesquisador pode também participar dos encontros livremente, perguntar e interagir”, salienta o coordenador. Pode inclusive apresentar trabalhos, aprovados anteriormente pela comissão avaliadora, obedecendo a forma estabelecida para artigos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas. Os trabalhos podem ser de revisão de literatura, baseados em pesquisa experimental, ensaios teóricos ou ter outra forma/ conteúdo aceito pelas ciências ou filosofia.

Participantes do ENLIHPE de 2017

As pesquisas que tratarem, por exemplo, de questões que exijam conhecimento específico, como a física ou a biologia, serão encaminhadas preferencialmente para pareceristas com formação na área para a avaliação, que seguem sempre as exigências do universo acadêmico, como: blind review, avaliação por pares, revisão das críticas pelo autor, decisão final de publicação pelos organizadores que têm formação acadêmica. Vale salientar que a apresentação de trabalho no ENLIHPE pode ter valor acadêmico, dependendo do tema apresentado e dos critérios dos departamentos ou faculdades às quais os participantes estão ligados. Os trabalhos escritos são ainda publicados

O físico Alexandre Fonseca

Jáder Sampaio (esq.) e Gilmar Trivelato: Esforços que somam à cultura acadêmica e à espírita

em livro, na série “Pesquisas Brasileiras sobre o Espiritismo”, edições realizadas pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro. Saiba mais: www.lihpe.net

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ENTREVISTA

Alexandre Caldini

Uma nova linguagem para um novo tempo? Por Eliana Haddad butidos. Para falar de ética, por exemplo, estarão ali todos os valores da ética espírita. Quando estou falando com empresas, não falo em Kardec, codificação, reforma íntima ou reencarnação, mas a base é exatamente igual e a conversa rola muito bem.

Alexandre Caldini: “Devemos falar no espiritismo como falamos em casa, no trabalho e nas ruas”

Foi assim também com os livros? Sim. Certa vez, quando morreu a ex-esposa de um amigo, tentei explicar à jovem Maria, sua filha, o que havia ocorrido com sua mãe. Essa conversa virou o livro A morte na visão do espiritismo. Antes, escrevi outro para a Superinteressante intitulado Espiritismo, que logo esgotou e foi relançado pela editora Belaletra. E agora, no final de 2017, lancei o A vida na visão do espiritismo pela Editora Sextante, que aborda os temas de nosso dia a dia, mas na visão espírita. Tudo fácil de entender. Nada da linguagem enfadonha, igrejeira e rebuscada que por vezes vemos em alguns livros espíritas.

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dministrador de empresas, Alexandre Caldini foi presidente do Grupo Abril e do jornal Valor Econômico. Espírita há 30 anos, tem se destacado no meio espírita por sua expressão simples ao falar sobre aspectos do cotidiano, contextualizados à luz do espiritismo. Fiel às obras de Allan Kardec, Caldini tem demonstrado através do sucesso alcançado pelos seus mais recentes livros A morte na visão do espiritismo e A vida na visão do espiritismo (Sextante) que a naturalidade é o seu maior segredo na divulgação das ideias espíritas. Você sempre atuou como executivo. Como surgiu a ideia de falar sobre o espiritismo? Alexandre Caldini: Sempre tentei manter a vida espírita em harmonia com a vida empresarial, porque não são coisas antagônicas. Dá para pautar a vida pelo lado moral também no campo empresarial. Um dia me chamaram na Abril para fazer uma palestra no programa Professor por um dia, onde você falava sobre algo que conhecia. Falei sobre espiritismo e lotou. Mais tarde adaptei essa fala para a espiritualização do ambiente de trabawww.correiofraterno.com.br

lho. E desde então tenho falado nas empresas sobre o tema. Em essência a fala mostra que as melhores e mais rentáveis empresas já atuam prezando valores espirituais como o respeito, a honestidade, a ética, a fraternidade, a confiança e a busca do bem. Ser bom, inclusive no trabalho, veja só...dá mais lucro! Isso é falar de espiritismo de uma forma indireta, com outra linguagem? No meu caso não existe uma fala espírita e outra não espírita. Os valores espíritas, por serem universais, estarão ali sempre em-

Você acredita que a bola da vez no mercado editorial seja a autoajuda? Há uma busca maior pela felicidade? O que todos sempre buscamos é ser feliz. O problema é que buscamos a felicidade em qualquer lugar e a qualquer custo. A lógica espírita de ser feliz é diferente. Ela passa pelo autoaprimoramento, uma transformação fascinante, ainda que um pouco trabalhosa. A chamada reforma íntima do espiritismo abraça temas diversos do cotidiano. O livro A vida na visão do espiritismo surgiu justamente como tentativa de nos ajudar em nosso caminhar enquanto estamos por aqui, encarnados. Você doou os direitos de seus livros, não? Sim. Por contrato, 100% dos direitos autorais, tanto do A morte como do A vida

são depositados diretamente na conta das Casas André Luiz. Já no livro Espiritismo os direitos foram doados para o centro espírita que frequento em São Paulo. Você vê o espiritismo dessa forma tão simples como escreve? Sim, ele é mesmo muito simples, uma filosofia do bem viver. É, em essência, o que pregaram todos os grandes filósofos da humanidade, por isso cito-os em minhas obras. É curioso notar que algumas pessoas se incomodam com isso. Pedem que eu cite mais Kardec. Eu me acho ‘megaKardec’. Para todos os que me seguem nas redes sociais ou me pedem alguma orientação, recomendo sempre a leitura dos livros de Kardec, principalmente O livro dos espíritos e O evangelho segundo o espiritismo. Estudo essas obras há 30 anos e é algo que nunca se esgota. Agora, quando se chega ao espiritismo, seja pela porta de um centro ou pela página de um livro, não estamos atrás de Kardec, mas sim de um encaminhamento para nossas dores. Espera-se acolhimento. Queremos saber por que nosso filho se suicidou, por que entrou na droga, por que nosso casamento não deu certo, ou por que estamos infelizes. São questões muito concretas, atuais, que angustiam a todos nós. E o que vejo de mais bonito no espiritismo é que ele nos ajuda a pensar melhor esses belos temas, ensinando-nos como lidar melhor com nossas dificuldades. Por isso também acho que ele não é para todo mundo, pois não resolve os problemas como que por milagre. Não adianta dar uma grana, pagar um dízimo ou recitar oração. O espiritismo não alivia nossa responsabilidade inalienável, que é a de resolver nossas próprias questões. O que faz é nos esclarecer, mostra caminhos e nos fortalece para resolvermos por nós mesmos os nossos desafios. É assim que o espiritismo pode ser considerado autoajuda?


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Sim. E não acho que a palavra autoajuda seja depreciativa, se compreendermos sua essência, que significa um socorro intransferível. É você se descobrindo e se ajudando para sair de uma situação difícil. Isso é espiritismo: crescer intelectual e moralmente. O que há de diferente na autoajuda de massa e na autoajuda espírita é que a espírita deixa bem claro que não há solução mágica. O espiritismo esclarece que o problema é nosso e que a solução não está fora de nós. Não há milagres. Ser feliz dá um pouco de trabalho e requer esforço. Como expert em comunicação, como vê a divulgação dos postulados espíritas? Essa pergunta é interessantíssima. Penso que devemos falar no espiritismo como falamos em casa, no trabalho e nas ruas. O que importa na comunicação, seja ela espírita ou não, é que a mensagem seja compreendida. Penso que, por vezes, no espiritismo, nossa mensagem ainda é muito rebuscada, hermética e distante do que o frequentador busca. O mais importante é o acolhimento ao necessitado, em suas dores morais. Devemos sair do automatismo, formal, insípido e ineficiente, para oferecer o calor da solidariedade e do amor. Outro problema que vejo é essa estória de adorarmos algumas figuras do espiritismo. Isso não é espiritismo. Sabe, me arrependo de não ter visitado o Chico Xavier, a quem muito admiro por sua postura, enquanto estava por aqui, encarnado. Não fui justamente porque implicava com essa coisa de caravanas irem visitar o Chico. Ele também não gostava dessa idolatria. Já hoje vejo alguns médiuns que me parecem apreciar a reverência a si. Isso é muito sério. Sim, mas como superar esse estágio, livrar-se de tantos apegos? Acho que estamos caminhando para isso. Uma pesquisa nos Estados Unidos mostra que 70% da população são religious with no religion, que é o sujeito que é religioso, mas não tem religião. Está em busca de alguma coisa, vendo o que lhe serve. É aquela pessoa que diz, ‘Eu tenho minha própria religião’. Isso me chama atenção. Penso que o espiritismo se encaixa bem para muitos deles, que buscam algo mais contemporâneo, menos maternal e controlador, menos maniqueísta e igrejeiro. Isso é justamente o espiritismo original, puro, o de Kardec, não dogmático e não personalista. O espiritismo entrou no Brasil com um aspecto religioso bem evidente. Isso se justificava no início do século

20, quando ele ainda engatinhava por aqui. Mas, talvez, tenha também atrapalhado um pouco a visão mais ampla da filosofia espirita. A minha linguagem não é religiosa. Meu endereçamento é radicalmente Kardec, no sentido de raiz mesmo, de uma forma atual para os problemas atuais. O que a casa espírita poderia fazer para ampliar essa visão? Ela já faz, divulgando o espiritismo, explicando o que ele é. Se você estiver angustiado, passando por alguma dificuldade, ali você vai encontrar alento, não por milagre ou qualquer coisa mística, sobrenatural, mas pelo estudo e pela compreensão. Espiritismo é só isso. É tudo isso. Fazendo palestras em diversos estados e mesmo fora do país, vejo que há diferentes filiações, cada casa é uma casa, tem seu perfil, mas a beleza

Tendo, ótimo. Não tendo, ótimo também. Mas há religiões que lotam grandes templos, oferecendo de tudo. O que acha disso? São salvacionistas. É a solução fast religion. Do tipo one-stop-shop com a promessa: “Venha que somos poderosos e o meu Deus resolverá todos os seus problemas por você”. Conheci um espírita que fazia um trabalho muito bom nas prisões. Contou-me que enquanto em sua sala havia três, quatro presidiários, as salas ao lado ficavam lotadas com religiões que ofereciam solução fácil e imediata para os problemas. Compreensível. Do ponto de vista de benefício, a promessa dessas religiões é muito mais atraente do que o espiritismo que diz: “Veja este caminho. Ele é bem bacana, mas você vai ter que se cuidar, estudar, batalhar,

Não há milagres. Ser feliz dá um pouco de trabalho e requer esforço” é que vão adiante sozinhas, porque dirigem a si mesmas. Me encanta essa autonomia. Conseguem caminhar e cuidar de si. Muitos acreditam que essa autonomia pode fazer com que o espiritismo perca a unidade, prejudicando-se sua correta propagação. Só há um espiritismo: Kardec. Devemos nos pautar pela união e não pela cisão. Somos todos, espíritas ou não, cristãos ou não, a humanidade. Gosto do espiritismo e me alegra estar envolvido em sua propagação. Mas o sucesso dessa propagação não me angustia. Cada coisa a seu momento. Também não vejo o espiritismo como a solução única, e sim como um dos bons caminhos. Para mim é bom, é o caminho que escolhi. Mas reconheço haver vários outros. Esse afã de se querer trazer pessoas para o espiritismo não faz sentido. É arrogância sectária. O melhor é apresentar a filosofia espirita com serenidade. E apenas quando o outro quiser saber de que se trata. Isso lhe interessa? Faz sentido para você? Na sua visão, tem lógica?

mudar seu modo de ser. Seus problemas não vão acabar, mas você vai aprender a lidar melhor com eles”. Esse caminho íngreme, honesto e belo, ainda não é para todos. Como então tornar a proposta do espiritismo mais atraente? É preciso falar à inteligência e ao coração. Se perguntar: como eu vou falar com essa pessoa que está deprimida? O que ela quer, o que precisa e o que pode ouvir? É preciso colocar-se no lugar dela, entender a sua dor. Isso exige mais esforço. Hoje muita gente no espiritismo já tem uma fala melhor, mais atualizada, sem perder o conteúdo, a base de Kardec. Mas dá trabalho. É bem mais difícil do que ler um trechinho do Evangelho. E a divulgação do espiritismo nas mídias espíritas, nas editoras, está cumprindo seu papel? Acho que sim, mas o espiritismo tem que ir para a mídia não espírita. Já estive falando sobre espiritismo em alguns programas de tevê. Curiosamente, no Brasil, a mídia não espírita é muito simpática ao espiritismo.

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Mas, se a gente começar a querer convencer todo mundo a ser espírita, vamos perder essa abertura. Temos o papel maravilhoso da internet, das redes sociais, dos vídeos que se propagam tão rapidamente. E isso depende da linguagem. Um vídeo enfadonho que diga: “Queridos irmãos, gostaríamos neste momento solene de discorrer sobre...”, dançou. Você perdeu o cara no primeiro segundo. O que devemos é trazer numa linguagem mais sincera, natural e atual, mensagens onde reconheçamos nossos próprios limites no conhecimento, colocando-nos de igual para a igual. Vejo dirigentes dizendo “As pessoas erram! Vocês precisam agir assim ou assado!”. Isso é autoritário, arrogante e ineficaz. Mais adequado seria assumir que todos estamos no mesmo barco, dizendo algo como: “Nós erramos”. São detalhes, mas detalhes fundamentais que, se a gente não prestar atenção, perdemos o pé. Inclusive dentro do centro espírita. Você escreve dessa forma inclusiva, como se estivesse passando por aquela experiência também. É isso mesmo? Sim. Em meus livros há muitos casos pessoais. Eu me coloco na situação, porque é real, passei e passo por tudo isso. Escrevo sobre o que vivo e observo. Lembro que em uma reunião de diretoria, como executivo, houve uma questão que exigia mudanças e um diretor disse: “Mas a empresa não faz isso”. Eu alertei: a empresa inexiste, a empresa somos nós! Essa é a mesma questão na casa espírita. O outro somos nós. Erramos tanto quanto. É se colocar na situação, olhar o outro com o olhar dele, observar nosso entorno. Você acredita que estejamos desatentos a esses pequenos gestos? Há quem já esteja bastante atento. Mas muitos ainda estamos mais focados nas atitudes do outro. Criticamos o outro, o picareta. Mas e eu, que passo pelo acostamento, que pego dois recibos para descontar no plano de saúde e que não devolvo o troco que veio a mais? Desconsideramos situações pessoais e ainda nos justificamos: “Não devolvi porque ele já está ganhando demais”. Deveríamos nos observar honestamente. No fundo, estamos todos num pequeno bote. Uns mais na popa e outros mais na proa, mas o barco da diferença moral é pequeno e estamos todos juntos. Ter consciência de nossa precariedade moral muda a nossa forma de ver o outro e nos faz ficar mais espertos no nosso autoconhecimento. www.correiofraterno.com.br


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VOCÊ SABIA

Os talismãs e a medalha cabalística

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m 1868, Allan Kardec foi consultado por um senhor que havia comprado uma medalha, em cujas faces estavam gravados vários sinais e caracteres bizarros e dispostos de modo cabalístico. Tendo interrogado uma médium a respeito dessa medalha, fora-lhe respondido que o objeto tinha o poder especial de atrair os Espíritos e facilitar as evocações. Outro médium dissera-lhe que era uma coisa

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Da redação maléfica, destinada a atrair os demônios; outra, que a medalha possuía uma virtude magnética. Pouco satisfeito com essas respostas, o senhor apresentou a medalha a Kardec, pedindo sua opinião a respeito. Eis sua resposta: – Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento, e não pelos objetos materiais, que nenhum poder exercem sobre eles. Em todos os tempos os Espíritos superiores têm condenado o emprego de sinais e de formas cabalísticas, de modo que todo Espírito que lhes atribuir uma virtude qualquer, ou que pretender oferecer talismãs como objeto de magia, por isso mesmo revelará a sua inferioridade. Quando não traduzem pura fantasia, os sinais cabalísticos são símbolos que lembram crenças supersticiosas na virtude de certas

coisas, como os números, os planetas e sua concordância com os metais, crenças que foram geradas nos tempos da ignorância. Quem quer que tenha estudado racionalmente a natureza dos Espíritos não poderá admitir que, sobre eles, se exerça a influência de formas convencionais, nem de substâncias misturadas em certas proporções; seria renovar as práticas do caldeirão das feiticeiras, dos gatos negros, das galinhas pretas e de outros sortilégios. (...) Ora, os Espíritos, seja qual for a sua natureza, não necessitam de semelhantes artifícios para se comunicarem; os Espíritos superiores jamais os empregam; os inferiores podem fazê-lo visando fascinar a imaginação das pessoas crédulas que querem manter sob dependência. Fonte: Revista Espírita – setembro de 1858.


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JANEIRO - FEVEREIRO 2018 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

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BAÚ DE MEMÓRIAS

João Ramalho

50 anos de história Por Izabel Vitusso

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notícia da passagem dos 50 anos de fundação do Grupo da Fraternidade Espírita João Ramalho, em São Bernardo do Campo, SP, foi para mim uma grande surpresa! Não percebi que já havia passado tanto tempo! Eu e meus irmãos éramos muito pequenos, mas tenho a viva lembrança do convívio com a família do Sr. Orlando de Sousa Brito sua esposa, dona Ruth de Souza Brito, assim como de seus filhos: Marco, Augusto, Glacus e Ana Ruth. O casal dedicou-se intensamente à fundação e ao desenvolvimento das atividades da casa, que chega aos cinquenta anos com uma lista de atividades de proporções expressivas no movimento espírita da cidade e região. Papai passava todo domingo cedo pela construção, acompanhando o prédio que se erguia para a sede do Grupo, que iniciou de maneira provisória na própria garagem da família Souza Brito. Sr. Orlando era médium de efeitos físicos e, juntos, numa época com poucas frentes de trabalho de assistência, o casal se desdobrava para atender aos pedidos de socorro que vinham de todo lado. Iam quase sempre tarde da noite. O carinho e a vibração acolhedora do sr. Orlando ninguém esquece! Ele foi também um dos grandes incentivadores da fundação do jornal Correio Fraterno, em 1967. Nascido em São João da Boa Vista (1924 – 1982), ele chegou ao espiritismo em 1949, depois da perda de seu pai. Morou em diversas cidades do interior de São Paulo, onde acabou por fundar também centros espíritas. Segundo a obra Movimento da Fraternidade, de Célio Alan Kardec de Oliveira, naquele mesmo período, iniciava-se um movimento intensamente emanado pela espiritualidade, sensibilizando expoentes do meio espírita, com foco primeiramente em Belo Horizonte. Mensagens chegavam através de médiuns de excelente reputação, trazendo a ideia des-

te movimento de caráter Parte das nacional, que fortaleceria comemorações dos 50 anos a chama da fraternidade do movimento espírita do Brasil. Célio ressalta que o médium Chico Xavier foi um desses intermediários, com mensagens que psicografara no Centro Espírita Oriente, na capital mineira, que tinha à frente Jair Soares. Muitos nomes se juntam a esta história, como Américo Rafael Ranieri, Amaury Guerra, Fábio Machado, Ênio Wendling. Um suceder de acontecimentos foi ajudando a dar forma àquele ideal que denominaram Movimento da Fraternidade. Um deles foi o fato inusitado. Altas horas da noite, o sr. Jair Soares recebeu em sua casa três pessoas embaixo de chuva torrencial. Chegavam do Rio de Janeiro, pedindo desculpas pelo adiantado da hora, dado o atraso do trem. O amigo Ranieri insistira que procurassem pelo sr Jair, na certeza da hospedagem. A ideia dos três era seguir viagem logo cedo para a cidade ao lado, Pedro Leopoldo, MG, para conversar com o médium Chico Xavier. Mas ao olhar para a esposa do sr. Jair, Irmã Ló, um dos três visitantes, o hoje reconhecido médium Peixotinho, logo disse: “Agora percebi o porquê de nossa presença aqui no lar. Vejo o espírito Scheilla a dizer-me que a irmã é muito querida e está precisando de tratamento”. Irmã Ló estava profundamente doente, vitimada por um câncer, fato que poucos sabiam. Orientados pela espiritualidade, eles permaneceram na cidade e iniciaram uma série de reuniões de materializações, com notáveis fenômenos de efeitos físicos. Reu-

FENANDO RUSCHEL

nindo médiuns de rara capacidade de trabalho, outras reuniões foram se estabelecendo para o socorro através dos recursos espirituais. No caso da Irmã Ló, ela se curou e ainda trabalhou por mais de vinte anos. As reuniões de efeitos físicos permaneceram por muito tempo como uma característica nos Grupos de Fraternidade que foram surgindo pelo Brasil, todos vinculados à Oscal, Organização Social Cristã André Luiz, com a bandeira da fraternidade sempre à frente. O Grupo João Ramalho, citado inicialmente, é um deles. Além de todas as atividades de uma casa espírita, todos eles trabalham num projeto em comum: a Cidade da Fraternidade. Criada no Alto do Paraíso, GO, a Cifrater mudou a realidade da região, quando há mais de cinquenta anos foi levantada, com foco na assistência às crianças órfãs. Centenas delas passaram a ter a oportunidade de educação e desenvolvimento muito além do campo material. Falando assim, tão rápido, fica a impressão de que

tudo foi conseguido sem percalços, num passe de mágica. Não foi! Necessitou de muito trabalho e determinação daqueles que entenderam o que é servir à causa Maior, num projeto de grandes dimensões, envolvendo espíritas de todo o Brasil. E é para lá que todo ano jovens dos Grupos de Fraternidade do Brasil vão no período do Carnaval, para realizar o grande encontro: COMEMOFRA - Confraternização das Mocidades Espírita do Movimento da Fraternidade. Estudam, trabalham e vivenciam uma realidade muitas vezes diferente da que possuem. Bebem em fonte de água cristalina, capaz de despertar em cada um o potencial transformador para a construção do mundo que sonhamos, o da verdadeira fraternidade instituída entre os homens. Fonte bibliográfica: Movimento da Fraternidade, Célio Alan Kardec de Oliveira. A revelação da chave, Raymundo Rodrigues Espelho, EME. www.correiofraterno.com.br


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eSPecIAl

A gênese 150 anos

Pesquisas indicam alterações nos originais de Allan Kardec Imagem do exemplar de A gênese depositado legalmente na Biblioteca Nacional da França, quando Kardec ainda era vivo

E

m dezembro de 1884, o biógrafo de Kardec, Henri Sausse, apoiado pelo editor Gabriel Delanne, Léon Denis e Berthe Froppo, denunciou no jornal Le Spiritisme, no artigo “A infâmia”, que a quinta edição do livro A gênese havia sido adulterada em mais de 260 itens. Dita “revisada, corrigida e aumentada”, a edição fora publicada quando Pierre-Gaetan Leymarie acumulava as funções de secretário-gerente da Revue Spirite e administrador da Sociedade Anônima da Caixa Geral e Central do Espiritismo. Sausse, Froppo, Delanne, Denis e Amelie Boudet, entre outros, vinham denunciando os desvios de Leymarie e seus partidários com relação aos interesses originais propostos por Kardec. Através de palestras e artigos, afrontavam conceitos da doutrina espírita, misturando teosofia, mistificações e temas contrários ao espiritismo. Em março de 1885, Leymarie publicou na Revue uma carta-resposta de seu amigo A. Desliens, antigo administrador da Sociedade em 1870 e 1871, informando que, antes mesmo de ter se esgotado a primeira tiragem de A gênese, Allan Kardec havia autorizado uma nova publicação em 1868. “São as 4ª, 5ª e 6ª edições (...) e esta matriz serviu para as edições publicadas de 1869 a 1871 e em diante”. Segundo Desliens, Kardec teria feito modificações em letras soltas da placa provisória, diretamente na tipografia. Durante alguns anos a polêmica se sustentou, mas esfriou e acabou esquecida, www.correiofraterno.com.br

Por PAulo HenrIQue De FIGueIreDo sendo as traduções autorizadas por Leymarie pelo mundo afora feitas com base na versão alterada da quinta edição. Somente na Espanha, excepcionalmente, José Maria Fernandez Colavida (1819-1888) ofereceu a tradução da segunda edição original de Kardec, escapando assim das alterações depois efetuadas. No Brasil, em 1998, o escritor Carlos de Brito Imbassahy participava de um grupo de debate de Filosofia Espírita, num programa de bate-papo da internet (TiVejo). Estudando A gênese, tinha à mão uma rara edição, a terceira, em francês, herdada de seu pai, o escritor Carlos Imbassahy (18831969). Percebendo que o texto não coincidia com as traduções dos demais participantes, ‘redescobriu’ as alterações, imaginando equivocadamente que o tradutor brasileiro seria o responsável. Sua indignação não teve repercussão e ele resolveu traduzir para o português a terceira edição original (http:// bit.ly/2GoBse). Dezoito anos depois, em 2016, o presidente da Confederação Espírita Argentina, tradutor das obras de Kardec, Gustavo Martínez, recebeu um e-mail questionando-o sobre as controvérsias históricas em torno de A gênese. Consultou a pesquisadora brasileira Simoni Privato, espírita e diplomata, residente em Montevidéu e que estava em viagem pela divulgação espírita em Buenos Aires (Veja entrevista ao lado). Direto na fonte Em abril de 2017, Simoni Privato foi

a Paris para continuar sua pesquisa. “Tive em minhas mãos, por exemplo, o testamento original de Allan Kardec, escrito de seu próprio punho. Ao mesmo tempo que me emocionava, compreendia que tinha o dever de compartilhar o resultado dessa investigação”. Depois de obter autorizações de acesso aos documentos judiciais inéditos, Simoni publicou no final do ano passado o resultado de sua minuciosa investigação no livro El legado de Allan Kardec (CAE). Na obra, conclui que “os novos documentos encontrados provam, de maneira categórica, que a quinta edição de La Génesis, foi publicada em 1872, mais de três anos depois da morte física de Allan Kardec, sendo portanto falsa qualquer alegação a favor de que Allan Kardec seria o autor das modificações nela existentes”. Atualmente, podemos ponderar que trágicas circunstâncias históricas criaram uma nuvem de fumaça, de tal forma que as alterações não foram prontamente percebidas. Depois de 1868, o movimento espírita e o povo francês viveram momentos difíceis. Em março de 1869, a morte de Allan Kardec desfaz a grande rede de comunicação que chegou a mil centros de pesquisa em todo o mundo. Entre 1870 e 1871, a guerra entre Prússia e França. Em um mês e meio, a derrota do exército francês. Cai o imperador, rebelião em Paris, república. Paris é bombardeada, invadida. Na Sociedade de

Paris, Desliens renuncia, alegando problemas de saúde, e Leymarie assume. O movimento espírita estava disperso justamente entre a quarta e a quinta edição. A necessária restauração do texto original Quando do lançamento de El legado de Allan Kardec, a Confederação Argentina anunciou a publicação da tradução para o espanhol do conteúdo definitivo da obra, isto é, de 1868, disponível também para download gratuito (http://bit. ly/2DKAEix). No dia 4 de março próximo, convidada pela USE-União das Sociedades Espíritas, a própria pesquisadora, Simoni Privato, fará um seminário em São Paulo, quando também haverá o lançamento da versão em português de seu livro. As editoras, os meios de comunicação espírita, palestrantes, escritores, todos são chamados a fazer parte da solução! Uma dedicação solidária em torno do texto original de Allan Kardec em suas traduções brasileiras. Pois a ele devemos essa adequada e grandiosa homenagem: o marco de um resgate histórico, aos 150 anos de A gênese. Citações bibliográficas Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos. Allan Kardec. FEB, 1858-1869. El legado de Allan Kardec. Simoni Privato Goidanich. Confederación Espiritista Argentina, 2017.


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entrevista

Simoni Privato

“Tinha o dever de compartilhar com os interessados o resultado da investigação”

Por elIAnA HADDAD Por que se interessou em pesquisar as alterações de A gênese? Simoni Privato: Em matéria doutrinária, o que afirmamos deve estar muito bem fundamentado, ainda mais com relação a um tema tão relevante, como o conteúdo definitivo de uma obra fundamental do espiritismo. Meu único propósito foi encontrar a verdade. Não parti de nenhuma opinião pessoal ou ideia preconcebida. Concentrei-me nos fatos, nas provas e nos ensinamentos doutrinários. Em qual edição foram feitas as alterações? As alterações do texto publicado por Allan Kardec em La genèse, les miracles et les prédictions selon le spiritisme foram feitas na quinta edição, depositada legalmente em 23 de dezembro de 1872 perante as autoridades francesas, ou seja, mais de três anos depois do falecimento de Allan Kardec. As quatro edições anteriores, todas datadas de 1868, têm o mesmo conteúdo – o texto definitivo da obra. Mas não existe a possibilidade de o depósito legal ter sido feito bem depois da publicação da quinta edição? Antes da impressão e, portanto, do depósito legal, deveria ser feita uma declaração de que se pretendia imprimir a obra. Segundo os documentos dos Arquivos Nacionais da França, o registro da declaração de que se pretendia imprimir a obra foi feito perante o Ministério do Interior em 19 de dezembro de 1872 pela gráfica

Rouge Frères, Dunon et Fresné. Quais foram as principais alterações? São tão numerosas que é muito difícil especificar as principais. Henri Sausse mencionou 126 passagens que foram modificadas, acrescentadas ou suprimidas. Entre as muitas modificações que sofreu o capítulo 28, por exemplo, está a eliminação dos sete parágrafos do item 20, que trata do papel do espiritismo na regeneração da humanidade. Também foram eliminados três parágrafos sobre o desaparecimento do corpo de Jesus, no capítulo 15. No capítulo 10, foi acrescentado um parágrafo final no item 23, sobre a geração espontânea, no lugar do parágrafo que havia sido escrito por Allan Kardec, provocando a mudança do teor da conclusão sobre o tema apresentada por ele nas quatro edições de 1868. Uma maneira rápida para confirmar se o texto corresponde ao que Kardec publicou é ver quantos itens tem o capítulo 15. No texto de Allan Kardec é composto de 68 itens. Você acha que houve má fé? Isso impacta no trabalho realizado pelo Espírito de Verdade? O que se pode constatar, do ponto de vista doutrinário, é que a pessoa ou as pessoas que alteraram o conteúdo da obra não compreendiam a doutrina espírita – nem suas características nem seu papel para a humanidade. O texto publicado por Allan Kardec na obra não é sua opinião pessoal – e, por isso, não deve ser relativizado. É o resultado de muitos anos de estudo, de observação e sobretudo de confirmação segundo os critérios

espíritas da razão e da concordância do ensino dos Espíritos, com exceção de algumas teorias hipotéticas, que Allan Kardec teve todo o cuidado de indicar como tais. A alteração do conteúdo publicado por Allan Kardec revela, portanto, uma tentativa de substituir a doutrina dos Espíritos pela opinião de alguma ou de algumas pessoas. A seriedade do trabalho realizado pelo Espírito de Verdade é inabalável. O espiritismo sempre triunfa: é obra de Jesus. Este caso é prova disso. Diante deste fato, qual deve ser o nosso papel como comunicadores e formadores de opinião no movimento espírita? No processo de restauração do verdadeiro conteúdo de La genèse, é necessário que haja traduções fiéis, mas também que se esclareça a questão da adulteração e se estimule a união de esforços para que o conteúdo adulterado seja definitivamente substituído pelo que Allan Kardec realmente publicou. Também é preciso incentivar o estudo da obra. O papel dos comunicadores e formadores de opinião no movimento espírita é de extrema importância. Como proceder para que a seriedade da obra da codificação não seja abalada? A restauração do conteúdo definitivo, de 1868, é fundamental não apenas para essa obra, mas também para as demais de Allan Kardec. A elaboração de La genèse, que foi publicada quase onze anos depois de O livro dos espíritos, beneficiou-se do desenvolvimento teórico e prático da doutrina espírita. Seu estudo é indispensável para a compreensão e o estudo aprofundado do conteúdo das obras anteriores – e, portanto, para a devida compreensão, prática e divulgação da própria doutrina espírita. Além disso, para respeitar-se a seriedade das obras de Allan Kardec, é necessário incentivar o estudo e a divulgação dessas obras, além da prática de seus ensinamentos.

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FOI ASSIM

Um pouco de alívio para uma grande dor Da REDAÇÃO MAILSON SANTANA

Leo Percovich, técnico do Fluminense

O

uruguaio Leo Percovich, técnico do Fluminense, retomou seu trabalho no campeonato Sub-20 no último 23 de janeiro, pouco mais de um mês após o trágico acidente automobilístico que ele sofreu com sua família no

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dia 17 de dezembro, numa estrada de Minas Gerais, onde acabou por perder suas duas filhas. Sua esposa e filho precisarão de cuidados especiais nos próximos meses e estão de cadeiras de rodas. Leo também teve fraturas nas costelas e lesões

no pulmão e na clavícula. Nem é preciso dizer que seu sofrimento tem sido enorme, como cita a reportagem do jornal O Globo de 23 de janeiro. Mas o esportista tenta se desafiar para ser melhor todos os dias. “À medida que vou me reestruturando e reorganizando, vou voltando a ser um treinador melhor e estarei em harmonia com meu trabalho”, desabafa. Percovich reconhece sua grande dificuldade em assimilar tudo o que está passando e diz que tem encontrado no espiritismo algum conforto e respostas para o seu sofrimento: “A ida das minhas filhas terá sido em vão se eu continuar sofrendo. E meu filho merece ser feliz. Apesar de me sentir vazio, procuro me encher outra vez daquela alegria e de amor e passar tudo para eles. Estou dando tudo o que tenho, mas sentindo que ainda é pouco.” Percovich explica que através do espi-

ritismo começa a entender que existe uma conexão, um porquê e um quando. Ele estava morando na Inglaterra, percorrendo o mundo inteiro, e se pergunta agora o que teria vindo fazer aqui. “A gente se refugia nisso porque dá paz. Não acaba com a dor. Mas aprendemos a não viver com sofrimento, que é diferente. Você a coloca de lado, ajeita. Já o sofrimento mata. Mas aí vão passando os dias e você começa a ter uma dimensão maior. Tenho que entender que nada disso foi em vão”. Além do espiritismo, Abel Braga, treinador do Fluminense, que também perdera um filho num acidente doméstico em julho passado, ligou para consolar o amigo de profissão, aconselhando: “Pega sua esposa, seus amigos e sua família e se dedica ao trabalho para você se manter forte. Porque a dor não vai passar”. “Eu entendo a dimensão do que ele passou. E ele sabia onde eu estava metido”, conclui Percovich.


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ANÁLISE

A grande lição de Jó Por Sueli Albano

A

história de Jó, um dos personagens do Antigo Testamento, tem conduzido muitas pessoas à reflexão sobre o sofrimento humano e suas causas, bem como sobre a capacidade de aceitação ou revolta diante dessas situações. Muitos afirmam que Jó, no sofrimento, se rebelou contra Deus. Essa questão requer uma análise mais apurada, recorrendo-se ao próprio texto bíblico que apresenta a sua trajetória. Narra a história que Jó era um homem íntegro e reto, que temia a Deus, se afastava do mal e era o mais rico de todos os homens do Oriente. Entretanto sua vida muda drasticamente, levando-o a perder todos os bens materiais, os filhos e a saúde. Nesse tempo vigorava a doutrina da retribuição, a qual afirmava que, no tempo oportuno, os bons seriam premiados por Deus antes da morte e os maus castigados. No primeiro momento da história, Jó estava confortável com essa doutrina. Porém a situação muda completamente quando ele é lançado para o outro lado, representado no texto com a simbologia das cinzas – o que não serve mais, que é jogado para fora da cidade por estar impuro. Ele experimenta o sofrimento na condição mais extrema. Todavia, inicialmente demonstra aceitação (Jó 1, 20-21; 2,10). Três amigos vêm visitá-lo e ficam tão aterrorizados com a situação que passam dias ao lado dele sem dizerem uma palavra. Tempo em que provavelmente Jó buscava o entendimento da sua situação à luz da doutrina da retribuição, mas algumas ideias não concatenavam: Por que ele estaria sendo castigado, encontrando-se à beira da morte, se era um homem bom? Por que alguns ímpios morriam sem castigo? Os supostos sábios começam então a fazer conjecturas, apresentando uma visão de Deus soberano e temível, aconselhando Jó a parar de se rebelar contra Deus para ter a sua situação restabelecida sobre a Terra. Jó os escutava e também refletia a partir dos ensinamentos religiosos que recebera

nho certo. Inclusive em condições de interceder em favor dos pseudoamigos, pois o sofrimento o fez avançar a ponto de agora entrever o Deus-amor que seria apresentado por Jesus.: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora meus olhos te veem”. Mesmo sem compreender racionalmente as causas do seu sofrimento – explicação que viria a seu tempo, através da doutrina espírita – Jó sentiu-se profundamente amado pelo Criador e fortalecido em sua fé para enfrentar com perseverança as suas adversidades. Um exemplo para todos nós, principalmente nos momentos que nos exijam paciência e resignação. E diferentemente de Jó, temos hoje a doutrina dos Espíritos a nos consolar e esclarecer racionalmente em relação aos sofrimentos humanos, permitindo-nos melhor compreensão dessa história, que ilustra a grande mensagem do Mestre: “Felizes os aflitos, porque serão consolados”. Frequentadora do Centro Espírita O Reencontro e do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Evangelho, em Cajazeiras, PB. Referência Bibliográfica

e ficava ainda mais confuso. Contudo, ele mesmo era a prova viva da inconsistência daquelas ideias. Além do fato de se lembrar de tantos ímpios que partiram da Terra sem pagarem por suas faltas. Alguns diziam que a punição recairia sobre os filhos deles, mas Jó não concordava mais com isso – “que os ímpios recebam seus próprios castigos, e não os filhos deles”. As palavras dos amigos, aliadas aos próprios pensamentos de Jó, dilaceravam-no ainda mais, por isso um dos seus maiores desejos era que o “sentinela dos homens” lhe desse uma trégua: “deixa-me, pois os meus dias são um sopro!” De fato, Jó não se rebelara contra Deus. Suas palavras denunciavam a incapacidade de consolo através daquela doutrina, que se propunha apenas a julgar os homens e a segregar aqueles que não se enquadram num padrão de felicidade. Inconformava-se com a ideia de um Deus à imagem e se-

melhança dos homens da época: poderoso, indiferente, vingativo e sem misericórdia, representado na postura dos amigos sem compaixão, diante de alguém em situação extrema de sofrimento. No final do Livro de Jó, fica claro que apesar de suas queixas, ele seguira o cami-

• A Bíblia de Jerusalém. Paulus, 2002. • O evangelho segundo o espiritismo. Allan Kardec. IDE, 2009. • Retribuição e Prosperidade: gênese, percurso histórico e confronto com a teologia da graça. Marcelo Oliveira. 2006. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Departamento de Teologia, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Belo Horizonte.

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culturA & lAzer

Comenesp em Franca O Departamento de Mocidades da USE Intermunicipal de Franca realizará, de 30 de março a 1 de abril, a 45ª Confraternização de Mocidades Espíritas do Norte do Estado de São Paulo. O evento, que aguarda a participação de cerca de 200 jovens, incluirá inúmeras atividades culturais, tendo como tema central: “Sua mala está pronta?“. www.dmfranca.com.br

MAR

30

Megafeirão do livro em Santo André Acontece de 7 a 8 de abril o 24º Megafeirão do Livro Espírita, Espiritualista e Autoajuda, na cidade Santo André. Das 9 às 17 horas, na Creche Amélia Rodrigues. Rua Silveiras, 23. Vila Guiomar, Santo André, SP. O evento disponibilizará ônibus grátis saindo do Metrô de São Paulo. www.megafeiraodolivro.com.br

ABR

7

MAR

11

Churrasco beneficente

Venha saborear com a sua família o nosso delicioso churrasco, em benefício dos projetos do Lar da Criança Emmanuel. Dia 11 de março, às 12:00h Local: Salão do Lar, na Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955. São Bernardo do Campo, SP. Tel.: 11 4109-2939 www.laremmanuel.org.br

1

Caráter da ..... espírita

espiritual

2

O .... e o mal

Terra

3

Papel da .... na Gênese

tempos

4

Antigos e modernos ... do mundo

geológico

5

Uranografia .....

6

Esboço ...... da Terra

sistemas

7

Teorias sobre a formação da

bem

8

..... do globo

gênese

9

.... orgânica

revelação

12 Evangelho

10 Gênese ...

revoluções

11 Gênese ...

geral

12 Os milagres do ...

presciência

13 Teoria da ....

mosaica

14 Os ..... são chegados

Ciência

Jesus foram chamados pela primeira vez de “cristãos”? qualquer hora, em qualquer lugar

Solução do Passatempo Veja em: www.correiofraterno.com.br

Resposta do Enigma:

Em Antioquia, na Síria.

4

discípulos de

Segundo Atos dos

Seminário com Simoni Privato MAR A USE-SP promoverá Seminário com a pesquisadora Simoni Privato Goidanich, autora do livro El legado de Allan Kardec, que trata das alterações nas edições francesas do livro A gênese, de Allan Kardec. Haverá lançamento da versão do livro em português e painel para a discussão do tema. Dia 4 de março, das 8:30 às 13 horas, na rua Dr. Gabriel Piza, 433, São Paulo-SP. Inscrições: www.usesp.org.br. Tel.: 11 2950-6554.

Onde os

Apóstolos 11:26, neste

3

ENIGMA

local, Paulo e Barnabé

Palestra de André Trigueiro MAR O jornalista André Trigueiro realizará dia 3 de março palestra sobre o tema: O fenômeno da violência à luz do Espiritismo. O evento acontece na Associação dos Obreiros de Jesus. Av. Maracanã, 1524, Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, às 10 horas. Haverá autógrafos e também arrecadação de alimentos não perecíveis para a instituição.

entre em contato com os principais conteúdos de A gênese, obra da codificação que está comemorando 150 anos. Faça a correlação seguindo o exemplo e tente descobrir alguns dos principais assuntos nela abordados.

divulgaram o Evangelho

24

Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

ano.

Pós-graduação em Pedagogia Espírita Abertas as inscrições para o curso de pós-graduação em Pedagogia Espírita, turma 2018. Curso semipresencial. Duração 24 meses. Para alunos de todas as áreas do conhecimento. Realização: Universidade Livre Pampédia, em Bragança Paulista, SP. Início: 24 de fevereiro. Saiba mais: www.universidadelivrepampedia.com

FEV

PASSATEMPO DO CORREIO

aos gregos durante um

AGENDA

A casa espírita oi, isidoro! tá indo pra onde? oi, deodato! tô indo numa reunião na casa espírita! casa espírita?

Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio www.correiofraterno.com.br


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ArtIGo

lugar para o novo Por SolAnGe SÓlon BorGeS

O

artista termina sua belíssima obra de arte e tem duas atitudes a tomar: assinar o seu quadro com o nome lá no cantinho ou entender que ela é tão bela que não pode conter a assinatura de apenas uma pessoa, pois foi edificada sob inspiração divina. A essa segunda atitude chamamos de abnegação e renúncia. Herculano Pires disse que “a lei de Deus está escrita na consciência do homem como a assinatura do artista em sua obra”1. Somos, realmente, obras do Criador, mas Deus – em sua suprema e infinita bondade – foi tão sutil e humilde que não assinou com letras visíveis, mas plantou em nossa consciência o eco do amor divino e as suas leis. A nossa consciência sabe quando estamos acertando ou errando: é nosso guia. Para nortear essa caminhada terrestre, Deus misericordioso nos enviou Jesus como modelo vivo e Mestre maior. Está lá, em O livro dos espíritos, questão 625: “Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo? Vede Jesus”. É nosso espelho. Abandonemos as dúvidas! Como somos filhos de Deus, nossa consciência nos alerta quando fugimos de nossa estrada, do nosso melhor roteiro. É preciso ter Jesus como exemplo. Então, por que adiamos o trabalho? O verdadeiro viver cristão? Não há por que temer o desconhecido e os problemas que se colocam à nossa frente. Ao buscarmos a solução para um problema, crescemos, criamos alternativas que não só exercitam o poder criativo como também nossa ética e moral, colocando-nos à prova. Se o medo surge, entra-se num circuito paralisante, embotando sentidos e sentimentos. Portanto, é preciso o esforço para superá-lo. Se confiamos em Deus, se temos fé, o medo é o reverso; representa a inconsistência dela. É claro que o ser humano falha nesta estrada de aprendizagem, que integra o processo de evolução, mas há procedimentos que são inevitáveis, como por

“Onde está escrita a Lei de Deus? Na consciência”

(O livro dos espíritos)

O trabalho agora é nosso! Trabalhar a reforma íntima, o perdão, a renúncia, a fraternidade. Prestar atenção à nossa consciência, às leis de Deus e ao amor vívido de Jesus, nosso mestre e amigo, que sempre seguiu em frente sem temer os obstáculos. Não nos esqueçamos de que não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais vivendo uma experiência humana, lembrando o jesuíta e filósofo espiritualista Teilhard de Chardin. Também nos ensina J. Herculano Pires2: “Não somos materiais, mas espirituais. Estamos na matéria porque ela é o campo em que fomos plantados. Como sementes, devemos germinar, crescer, florir e frutificar”. Portanto, sigamos sempre em frente com amor em nosso ciclo evolutivo de redenção, cumprindo a lei de Deus.

Nota do autor na tradução de O livro dos espíritos. 2 Educação para a morte. Herculano Pires. Correio Fraterno & Paideia, 2016. 1

exemplo, fechar a porta a determinadas situações que já foram tão esvaziadas pela vida, mas não a abandonamos, apesar da consciência alertar que “algo não vai bem”. Isso vale para o emprego ruim, o relacionamento que acabou, aquela amizade aparente que só traz infelicidade. Você já experimentou usar um sapato velho que aperta, machuca? Aí você vê aquele novinho, na vitrine, confortável, macio. Você quer o novo, mas não consegue largar o velho, então, nunca irá usufruir do bem que sempre lhe aguarda. E isso é princípio básico da física: “dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo”. Dois pensamentos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tem-

po. Se não largar o velho padrão mental, o novo não virá.

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leIturA

Sob a lona do picadeiro A

Por SÔnIA KASSe Grand Circo Monteverdi, senhor austero para com os funcionários, mas que diante da menina derrete-se em mimos e dedicação, cercando-a de todo cuidado. Ela, por sua vez, retribui com intensidade todo o amor paterno, atendendo a todos os seus pedidos e sendo uma filha exemplar. Mas as teias do destino estão sendo fiadas e enormes desafios espreitam a vida desta nossa personagem que, além de ser retirada à força do convívio paterno, ainda enfrentará outras experiências no acampamento cigano para onde será levada. No decorrer da leitura vamos conhecer a fundo a vida de cada personagem, retratada de maneira primorosa e com um encadeamento de narração que nos impossibilita de interromper a leitura, tal é a intensidade dos acontecimentos. Passado e presente se entrelaçam na vida dos personagens e cada um construirá sua história, de acordo com seus resgates e amadurecimento espiritual. Obra que se destaca pela qualidade da narrativa: as situações e os personagens que as vivem parecem nos envolver e nos carregar para dentro da história como se a estivéssemos vivendo junto a eles. Leitura maravilhosa, realmente imperdível!

rtistas circenses encantam a todos com as diversas atividades que realizam: malabarismo, equilibrismo, acrobacias, piruetas, saltos, danças, teatro, e isso sem nos esquecermos do glorioso palhaço: protagonista da alegria e das deliciosas gargalhadas. Com momentos lúdicos e manipulação da magia, de cidade em cidade eles vão levando sua arte, proporcionando felicidade e emoção às pessoas que são convidadas a assistirem ao espetáculo. A vida desses artistas não é muito diferente da vida da maioria das pessoas: eles lavam, passam, fazem o serviço doméstico, além de cuidar do circo e de todo reparo que precisa ser feito para que as exibições ocorram da melhor maneira possível e com toda a segurança. Além disso, dedicam tempo à escolarização e também organizam o espetáculo ensaiando e preparando a realização das apresentações. E é nesse contexto que vamos encontrar Rosalva, personagem principal do romance O exílio de autoria de J. W. Rochester e psicografia de Arandi Gomes Teixeira, publicado pela Correio Fraterno. Nascida dentro do circo, seu pai, Pietro, é dono do

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DIreto Ao Ponto

Artífices da nossa

evolução Por uMBerto FABBrI

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entro do sábio ensinamento do “Vigiai e orai”, que num primeiro momento pode parecer algo simples em sua apresentação, mas complexo no tocante a sua execução, podemos encontrar desdobramentos extremamente benéficos que nos auxiliam a recuperar e manter a saúde mental, física e espiritual. Estar atento, vigiando nossas reações, pensamentos e atitudes nos permite o autoconhecimento e por meio dele, aliado à nossa vontade, podemos chegar à nossa transformação moral, melhorando-nos e evoluindo como Espíritos imortais que somos, pois em reconhecendo nossos erros comportamentais e lutando para efetivar nosso burilamento, podemos eliminar o tolo orgulho, a traidora vaidade e o famigerado egoísmo, que sem sombra de dúvida são os principais responsáveis por todos os problemas, dores e sofrimentos que hoje vivemos, embora ainda encontremos muitas pessoas que creiam piamente no castigo divino, creditando suas dificuldades ao Criador. Ou ainda os que culpam terceiros por suas desditas, gerando um processo de vitimização confortável, que os libera consciencialmente de suas responsabilidades perante a vida.

Sair da posição queixosa requer exercitar a gratidão Quando nos dispomos a olhar nossa existência de maneira clara, objetiva, sem desculpismos, mas com sinceridade e maturidade, percebemos nossa participação efetiva em tornar nossa vida no que ela é. Os que buscam semear o amor, a compreensão, a amizade, esforçando-se na manutenção de seus relacionamentos, com certeza não vivenciam a solidão, ao contrário dos que priorizam a si mesmos e seus interesses, sem levar em conta os sentimentos

alheios por exemplo. Isso que nos leva a citar Mateus (16:27): “A cada um segundo suas obras”, ou seja, viveremos abrigados na casa mental que edificarmos e não na que sonhamos e não nos esforçamos para construir. Sair da posição queixosa requer exercitar a gratidão. Esta é uma atitude interessante e altamente libertadora, pois quando nos colocamos a agradecer precisamos, num primeiro momento, identificar as

bênçãos que nos rodeiam: a vida, nosso alimento diário, nossa saúde, nossa família, nossos amigos, nossa fé, e mesmo que um desses pontos esteja comprometido, com certeza outros não estarão. Agradecendo, tiramos um pouco do peso de nossa revolta, gerando em nosso íntimo uma vibração positiva, que anula a gerada pelo descontentamento. A gratidão nos leva a identificar o amor do Pai por todos nós, uma vez que Ele sempre nos envia, de algum modo, o socorro, o remédio — mesmo que amargo —, o alimento material e espiritual, que nos sustenta e auxilia. Assim como tudo em nossas vidas depende do nosso esforço e dedicação, aprender a viver de forma mais plena, tranquila e harmoniosa também depende de cada um e, para tanto, contamos com o roteiro abençoado de nosso mestre Jesus, que nos ensina de forma resumida a postura mais assertiva e infalível, a de fazer ao nosso semelhante o que desejamos para nós mesmos. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor dos livros O traficante, Amor e traição e Pecado e castigo, ditados pelo espírito Jair dos Santos (Correio Fraterno).

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CORREIO FRATERNO

JANEIRO - FEVEREIRO 2018

MÍDIA DO BEM Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Brasil vira membro oficial do grupo de elite da matemática mundial

Time paulista contrata idosos para atuar em jogos do Paulistão

Voluntárias criam toucas e perucas de princesas para crianças com câncer

A União Matemática Internacional acaba de aprovar a entrada do Brasil no Grupo 5, que reúne a elite das nações que desenvolvem pesquisas na área da matemática. A partir de agora, o país dialoga com igualdade e se equipara a potências como Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia. “Começamos a trabalhar nisso em junho de 2017, enviando uma candidatura que expõe por que merecemos entrar no grupo”, explica Marcelo Viana, diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada.

O Ituano, time de futebol do interior paulista, abriu vagas para idosos trabalharem nos jogos do Paulistão. Foram escolhidas quatro pessoas acima de 60 anos. A função é recepcionar e orientar torcedores no Estádio Novelli Junior, em Itu. São os chamados “anjos do futebol”, um programa do time para a inclusão de pessoas da terceira idade. A ideia é que haja revezamento dessas quatro vagas a cada partida.

Um grupo de mulheres do sul do país se reuniu, juntou lã e agulha e construiu um mundo de magia e muita emoção. São todas voluntárias de Blumenau, interior de Santa Catarina. Em comum, elas têm a paixão pelo crochê e o desejo de ajudar quem precisa. Pensando em crianças com câncer, as voluntárias se reúnem para criar touquinhas de personagens divertidos e perucas de princesas.

Fonte:Revista Galileu

Fonte: Catraca Livre

Fonte: Portal G1 (Fantástico)

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