CORREIO
FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o
5 0
•
N º
4 8 1
• M a i o
-
J u n h o
2 0 1 8
ISSN 2176-2104
Entrevista Plantar e colher na horta da instituição Pensando num projeto de educação ambiental aliado à produção de alimentos orgânicos para a creche, o engenheiro Carlos Orlando Villarraga colocou em prática a ideia da horta autossustentável. Se deu certo? Leia nas páginas 4 e 5.
O ceticismo de Voltaire e a justiça divina
C
omo explicar a existência de um Deus bom e justo que permita e promova desgraças humanas? Ainda muito longe dos entendimentos lançados pela doutrina espírita, diferentes pensadores propuseram respostas a essa pergunta. O questionamento refletia o incômodo que sempre pairou no ambiente filosófico sobre a existência e os atributos de Deus. Em 1755, indignado com o abalo sísmico que atingiu em cheio a população de Lisboa, ceifando a vida de pelo menos 60 mil pessoas, o filósofo Voltaire escreve um texto provocativo, com sua visão ceticista sobre a Providêndia divina. Críticas e escárnios às crenças religiosas não faltaram na obra do ilustre pensador, mesmo que tenha enaltecido a liberdade de pensamento, e se posicionando contra a interferência do Estado na vida das pessoas e na economia. Evocado por Allan Kardec, cem anos depois, nas reuniões realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Voltaire se manifesta para falar de seus arrependimentos e seu novo modo de pensar. Leia nas páginas 8 e 9.
Fake news Tendo como combustível principal a maledicência, o prazer de se lançar notícias falsas nas redes sociais indica o esforço necessário de cada um para a caminhada da transformação moral. Leia na página 11.
Conselhos espirituais para a rainha Vitória Antes de enviuvar, a Rainha Vitória nada fazia sem antes consultar o marido, o príncipe Alberto. Mesmo depois de morto, ela encontrou uma nova forma de receber suas boas orientações. Página 14.
A incrível história espiritual de um grande amor!
www.correiofraterno.com.br/loja
2
CORREIO FRATERNO
MAIo - Junho 2018
eDItorIAL
O bem comum M
omento preocupante para o País, a greve dos caminhoneiros revelou algo muito importante para todos nós: quantas coisas boas acontecem na nossa vida sem nos darmos conta. Acordar, sair de casa, trabalhar, almoçar, ir e vir, dormir, acordar, recomeçar. A rotina esconde o mecanismo social, onde cada um faz a sua parte. Quantas pessoas estão envolvidas para que a vida pulse e se revele na família, na sociedade! Somos seres que dependemos uns dos outros e a lição mais importante que fica nesse momento de crise é a necessidade do despertar para a importância do outro em nossas vidas e do trabalho individual que vise o bem comum. De nada adianta a satisfação pessoal se o coletivo não vai bem. Numa visão espiritual rasa, é fácil per-
ceber como as crises nos fazem acordar para percebermos o quanto reclamamos da vida, muitas vezes sem nos darmos conta de que uma multidão trabalha para que possamos realizar nossos projetos pessoais. E tudo funciona. E não nos damos conta de que sozinhos não podemos ser felizes. Daí a sabedoria da lei divina que considera o isolamento contrário à lei natural. “O homem deve progredir; no entanto, sozinho, não o pode fazer. Nenhum homem possui todos os conhecimentos; é pela união social que eles se completam uns aos outros, a fim de assegurarem o bem-estar mútuo e progredirem”, esclarece O livro dos espíritos. Que possamos compreender e aproveitar os momentos de crise e que nossos pensamentos se unam em sentimentos amoro-
O carinho e a dedicação do Correio Achei excelente a matéria do Sergio Felipe (“Imposição as mãos é aprovada pelo Ministério da Saúde como terapia no SUS”, edição 480). Ele tem a capacidade de explicar de forma que a gente sempre entende. Fico feliz ao ver a qualidade dos artigos do Correio Fraterno. Sinto que tem carinho, dedicação, entusiasmo! O meu abraço para
• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.
sos de gratidão e esperança por essa terra que nos acolhe para as experiências dessa reencarnação. Às vezes, precisamos nos esquecer e olhar para os lados se quisermos crescer. Esta edição chega até você com esse propósito. Boa Leitura! Equipe Correio Fraterno
CORREIO
FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118
Presidente: Izabel Regina R. Vitusso Vice-presidente: José Natal Inácio Tesoureiro: Olímpia Iolanda da S. Lopes Secretário: Vladimir Gutiérrez Lopes Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP www.correiofraterno.com.br
• A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos.
toda a equipe do jornal. Loreni Biriteli, São Paulo As marcas do sr. Virgílio Sr. Virgílio [Pedro de Almeida] começou o grupo de jovens espíritas no Centro Espírita Lázaro, em Formiga, MG, em 20 de abril de 1947. Ele tinha um olhar no futuro! (“A história do mineiro que deixou marcas por onde passou”). Vera Leão Basílio, por email.
Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Administração/financeiro: Raquel Motta Comercial: Magali Pinheiro Auxiliar geral: Ana Oliete Lima Apoio de expedição: Osmar Tringílio Impressão: LTJ Editora Gráfica
em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências.
CORREIO DO CORREIO Remando contra a maré Agradeço de coração a toda a equipe do Correio Fraterno pelo admirável trabalho. Toda edição está excelente, muito esclarecedor e instrutivo doutrinariamente. Gostei muito, não apenas das matérias, mas também do editorial “Remando contra a maré” (edição 480). Desejo-lhes muitos êxitos. Simoni Privato, por email
Uma ética para a imprensa escrita
Telefone: (011) 4109-2939 Whatsapp: (011) 97334-5866 E-mail: correiofraterno@correiofraterno.com.br Site: www.correiofraterno.com.br Twitter: www.twitter.com/correiofraterno Atendimento ao leitor: sal@correiofraterno.com.br Assinaturas: entre no site, ligue para a editora ou, se preferir, envie depósito para Banco Itaú, agência 0092, c/c 19644-3 e informe a editora. Assinatura anual (6 exemplares): R$ 48,00 Mantenedor: acima de R$ 48,00 Exterior: U$ 34.00 Periodicidade bimestral Permitida a reprodução parcial de textos, desde que citada a fonte. As colaborações assinadas não representam necessariamente a opinião do jornal.
• confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.
CORREIO FRATERNO
MAIO - Junho 2018
3
Acontece
Suicídio é abordado na tevê em rede nacional Da redação
Programa Conversa com Bial (Rede Globo). A cantora Claudia Bossle, o psiquiatra Neury Botega e o jornalista André Trigueiro: Não se pode esconder o problema
O
programa Conversa com Bial (Rede Globo), que foi ao ar dia 26 de abril, trouxe o tema suicídio, reunindo especialistas que falaram em rede nacional sobre um assunto considerado tabu e até bem pouco tempo de inadmissível abordagem na mídia. Já na abertura, Pedro Bial alertou para “números impossíveis de serem ignorados”: Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida no mundo. É mais do que as vítimas de homicídios e guerras somadas. No Brasil, são 32 suicídios por dia. Pelo tabu, “é um assunto evitado em qualquer roda de conversa. Um esforço vão: silenciar sobre o suicídio não ajuda. E tão importante quanto falar, é saber ouvir. Saber ouvir os que estão em áreas de risco e os parentes daqueles que se mataram”, adiantou. Um dos participantes do programa, o jornalista André Trigueiro, autor do livro
Um dos principais motivos que me animaram a escrever foi essa lacuna enorme que existe em torno do tema. É um tabu gigante” Gabriel de S. Cunha Viver é a melhor opção (Correio Fraterno em edição ampliada e também digital www.amazon.com.br), alertou que “prevenção se faz com informação e há um jeito certo para se falar de suicídio”. “Não sou psicólogo, não sou psiquiatra, não tive até hoje nenhum episódio diagnosticado como depressão, nunca atentei contra a minha vida, mas sou jornalista no século 21 e entendo que no exercício dessa função
é impossível do ponto de vista ético não abordar um problema de saúde pública dessa gravidade e de tamanha importância, que é a proteção da vida”. Enfrentando o tema com coragem e sensibilidade, o programa reuniu também para esse esclarecedor bate-papo o psiquiatra Neury Botega, fundador da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio, a psicóloga Karin Scavacini, cofundadora do Ins-
tituto Vita Alere, um núcleo de atendimentos, pesquisa, informação e divulgação sobre suicídio, e a cantora Claudia Bossle, viúva do Champignon, baixista da banda Charlie Brown Junior, que se matou em 2013. Convidado a dar seu depoimento, o estudante de direito, Gabriel de Souza Cunha, emocionou os presentes. Sobrevivente, ele tentou se matar há quatro anos. Ele leu alguns trechos de seu texto premiado em um concurso literário sobre suicídio*. “Não mandei sinal algum, não pedi ajuda à família por causa de medo, nem aos meus amigos, porque me senti culpado; pensei que não queria atrapalhar ninguém. Tinha 19 anos.” O programa abordou também o luto pelo suicídio, com a psicóloga Karin Scavacini, que trouxe ao Brasil o conceito de pósvenção do suicídio. “É um luto que se diferencia por ter uma carga maior de culpa, vergonha e busca incessante de porquês”. Na programação, um minidocumentário chamou a atenção sobre o trabalho de Diógenes Martins Munhoz, capitão do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, que desenvolveu um curso de técnicas de prevenção do suicídio. Além da teoria, o curso oferece simulações práticas, criadas a partir de experiências dos próprios bombeiros, o que ele chama de “abordagem humanizada”, contrapondo a uma antiga tradição de “distrair para pegar”. Tudo indica que está no ar uma nova forma de olhar para o suicídio, onde prevalece a necessidade, urgência, do treinamento da escuta e da solidariedade, um trabalho realizado há décadas pelo CVV (agora com ligação direta pelo 188), que estima para este ano cerca de 3 milhões de atendimentos. Segundo os especialistas convidados, não se pode esconder o problema, sendo preciso capacitar instituições a falarem mais sobre o assunto, preparando médicos e população em geral. Como disse Neury Botega, “estamos em uma rede”. *Promovido pelo Instituto Vita Alere. Leia o texto premiado no site do Correio Fraterno. www.correiofraterno.com.br
4
CORREIO FRATERNO
MAIO - JUNHO 2018
ENTREVISTA
A horta autossustentável e os recursos para a instituição Por eliana haddad e izabel vitusso seriguela, banana, amora, caqui-chocolate, que as crianças experimentam e adoram.
Carlos Orlando Villarraga com alunos da Obra Social Célio Lemos: Sustentabilidade na prática
A
lmoços beneficentes, noites da pizza, confecções de artesanatos, bazares são algumas das iniciativas que se multiplicaram ao longo dos anos no movimento espírita como forma de manutenção dos projetos sociais e do próprio funcionamento da instituição. E foi pensando em estruturar um projeto aliando uma educação ambiental diferenciada e a produção de alimentos orgânicos junto à Obra Social Célio Lemos, em São José dos Campos, SP, que o engenheiro aposentado Carlos Orlando Villarraga, autor do livro Planeta vida, pôs em prática a sua ideia de uma horta autossustentável. O projeto deu tão certo que não só expandiu, como se tornou uma referência no assunto que, multiplicada, já tem beneficiado outras instituições. Como surgiu esse projeto? Carlos Villarraga: Veio depois de eu ter escrito em 2005 o livro Planeta vida (Minas Editora), sobre a conservação do meio ambiente físico e espiritual, e em 2013 o livro Espiritismo e desenvolvimento sustentável (FEB). Queria colocar em prática o que escrevi, baseado nas leis morais de Allan Kardec, principalmente a lei de conservação, a lei de reprodução, a lei do trabalho e a lei da sociedade. A ideia era começar com uma horta orgânica, que fosse um recurso prático para a educação ambiental, e que todo o projeto fosse autossustentável. O nome do projeto é Projeto SEMEAR. Começamos em julho de 2015. Hoje temos www.correiofraterno.com.br
quatro voluntários e um funcionário, mantido com os próprios recursos do projeto. O que vocês plantam? Cultivamos nos 400 metros quadrados de canteiros na própria instituição pelo menos 25 variedades de hortaliças e frutas: diversos tipos de alface, beterraba, cenoura, rúcula, couve, espinafre, salsinha, cebolinha. E trouxemos de volta as PANCs (plantas alimentícias não convencionais), muito consumidas no passado e bastante nutritivas: azedinha, peixinho, ora-pro-nóbis, etc. Temos também um pomar com diversas espécies de frutas, várias delas nativas do bioma da Mata Atlântica: uvaia, cambuci,
Você já tinha alguma experiência? Não. Nossa filosofia de trabalho é uma colaboração conjunta e construção coletiva. Vamos aprendendo por demanda e com a chegada de novos voluntários que vão trazendo novas ideias. Fizemos alguns treinamentos com agricultores orgânicos da região. Também contamos com o nosso consultor, o “doutor Google”, que nos ajuda bastante. A produção é para nosso consumo interno: os 60 funcionários, 290 crianças e cerca de 30 voluntários. O excedente nós vendemos para arrecadar fundos para a obra social. Começamos anunciando para o pessoal que vem para a Obra Social. Os contatos foram se expandindo, no boca a boca, e hoje a demanda é maior do que conseguimos produzir. São cerca de 800 pés ou maços vendidos por mês, que rende de 2 a 3 mil reais para a Obra Social. Como fazem para ter sempre o que colher, sem desperdício? É uma sequência de produção, porque os ciclos das plantas são diferentes. Há plantas que em 25 dias estão prontas e outras demoram 120 dias. Planejamos para sempre termos espaço disponível para cultivo e produtos para venda e consumo, que vão abrindo espaço para plantarmos novamente. Não usamos nenhum fertilizante químico nem agrotóxicos. Com o resíduo orgânico (folhas e cascas) que vem do refeitório produzimos nosso próprio adubo fazendo a compostagem. Só no ano passado compostamos 5.300 quilos de resíduos orgânicos, que são usado na horta. Produzimos também o nosso próprio adubo orgânico fermentado tipo bokashi, de origem japonesa, que usamos na horta e o excedente é vendido. Como as casas espíritas poderiam
implementar esse trabalho? Qualquer pessoa em sua casa, até mesmo em apartamento, pode fazer uma horta. Na instituição, se não tiverem espaço, podem fazer hortas verticais. Também, num pequeno espaço, de 3 ou 4 metros quadrados conseguem plantar e oportunizar a experiência para as crianças de cultivar alimento orgânico e fresco. Na Obra Social Célio Lemos as crianças entre 3 e 6 anos participam do projeto de educação ambiental. A professora, em sala de aula, decide com elas sobre o que gostariam de plantar, desdobrando-se daí a semeadura nas bandejas. Elas acompanham todo o desenvolvimento e quando a muda atinge o tamanho ideal, elas transplantam para os canteiros. Cada sala possui o seu. Vão acompanhando, observando o desenvolvimento das plantas, regando, retirando os matinhos. No dia da colheita fazemos uma refeição especial com o que plantaram e colheram e ainda levam para casa, envolvendo também as famílias nesta experiência, mudando hábitos, enriquecendo conhecimentos. O que é mais importante a seu ver no projeto: a alimentação e a fonte de recursos para a instituição ou a conscientização sobre os recursos naturais do planeta? A sustentabilidade. Através destes princípios, a horta é um meio de conscientização, porque numa horta orgânica natural, respeitamos os ciclos da natureza. Empregamos, por exemplo, várias flores que atraem os insetos que nos ajudam no controle biológico. Tudo isso ensinamos para as crianças, assim como o processo de compostagem, conscientizando-as de que o que muitas vezes consideramos “lixo” é, na verdade, riquíssima matéria-prima. Temos os minhocários para fazer a compostagem de uma forma lúdica, para que elas entendam e acompanhem o processo. Iniciamos tam-
CORREIO FRATERNO
MAIo - Junho 2018
bém a reciclagem de esponjas utilizadas na cozinha, em parceria com uma ONG, que as processa e do material são feitos baldes e potes para plantas. E o que vocês perceberam de mudança nessas crianças com esse trabalho? Vimos dois resultados muito interessantes. Várias mães vieram conversar conosco, sobre a mudança dos hábitos alimentares. Muitas crianças não gostavam de hortaliças e agora estão comendo. Também algumas crianças já trouxeram pés de alface, maços de couve que plantaram nas suas casas, estimuladas com o que vivenciam na Obra Social, como um presente para nós. A educação ambiental é ao mesmo tempo uma educação espiritual de
pal causa do desmatamento no mundo é a criação de gado. Analisando-se isso sob a visão espírita, a que conclusão poderíamos chegar? Allan Kardec, quando se referiu à lei de conservação e perguntou aos espíritos se haveria recursos suficientes para alimentar toda a população do planeta, eles responderam que sim. O problema nosso é a imperícia e a imprevisão, a falta de conhecimento e de ver as consequências do modelo atual de cultivo. À medida que vamos conhecendo mais sobre as leis da natureza e entendendo a interdependência que existe entre todos os seres que habitamos neste planeta, teremos mais argumentos para aplicarmos a lei de conservação que nos permita receber o planeta em melhores condições quando
À medida que vamos conhecendo mais a natureza, a interdependência que existe, temos mais argumentos para aplicarmos a lei de conservação” preparo do planeta para nossas vindas futuras. Hoje se fala muito em falta de alimentação para o crescimento da população do planeta. Como você vê essa questão? Atualmente, a maioria dos alimentos são produzidos com bastante agroquímicos, porque existe um falso paradigma de que se não os utilizarmos, não vamos ter alimento suficiente. O que temos visto na horta, e através da informação e prática de vários agricultores orgânicos, é que bem cultivada a terra, bem cuidada, ela produz bastante. Tem que haver o conhecimento e o cuidado para acompanhar e produzir. O problema é que temos que mudar um pouco o tipo de alimentação, que é ainda muito baseada na carne vermelha e o gado ocupa muito espaço, que poderia ser usado para as plantas. Para se ter uma ideia, 37% dos grãos produzidos no mundo são utilizados para alimentar o gado. A princi-
reencarnarmos novamente aqui. Hoje há tanta tecnologia, em sua opinião, ela não está favorecendo a construção de um planeta melhor? Sim, mas é preciso saber utilizá-la. Acabamos de instalar na obra social seis painéis fotovoltaicos para gerar a energia que consumimos na horta, para a bomba de irrigação e para o triturador de resíduos orgânicos. Também instalamos aquecedores solares que usamos para esquentar a água usada para dar banho aos bebês. Trocamos todas as lâmpadas fluorescentes por lâmpadas LED, muito mais eficientes no uso da energia. Instalamos a coleta de água de chuva para uso na irrigação da horta e outro sistema para fornecer a água dos banheiros das crianças e a água para lavar o chão da obra social. Como tudo, a tecnologia pode ser utiliza-
da para o lado bom ou mau. No caso da energia solar, é uma tecnologia bastante eficiente, é uma excelente opção de fonte de energia renovável. Em vez de usar energia de uma hidroelétrica ou uma termoelétrica que tem severos impactos ambientais. O que você aconselharia a quem desejasse fazer esse tipo de trabalho? Por onde começar? Eu recomendaria começar pequeno e ir aprendendo, procurando a colaboração e o conhecimento das pessoas e das organizações que já estejam trabalhando nessa linha. Porque essas pessoas estão bem-dispostas a ajudar. Começamos com uma ideia e boa vontade e tivemos a orientação da Secretaria do Meio Ambiente da cidade, inclusive participando de curso sobre hortas urbanas, oferecido por eles. Aos poucos apareceram pessoas com conhecimento, o dono de uma empresa de paisagismo, que inclusive já havia apresentado o projeto de uma horta em várias escolas, mas sem sucesso. Nós o acolhemos e ele, com seu pessoal, fez os primeiros canteiros como a Secretaria do Meio Ambiente tinha indicado. No projeto da compostagem, fizemos uma parceria com a Faculdade de Engenharia Ambiental da UNESP. Alunos e professores nos ensinaram e fizemos um projeto em conjunto. O importante é ter a vontade de fazer e alguém de liderança para conduzir o projeto. Sabemos que a espiritualidade está atenta, nos ajudando e aproximando pessoas para nos auxiliarem. Assim o trabalho pelo Bem vai crescendo e se instalando entre nós. Quem se interessar pode fazer contato? Nós já somos multiplicadores. Aqui em São José dos Campos, recebemos o selo de Compromisso da Secretaria do Meio Ambiente e da Prefeitura de São José dos Campos. A Secretaria de Educação tem a Obra Social Célio Lemos como referência na questão da Educação Ambiental. Vários professores da rede municipal têm vindo à Obra Social para aprender conosco. Iniciamos o projeto da horta em mais duas escolas. Quem se interessar sobre o nosso projeto pode entrar em contato conosco pelo email secretaria@oscl.org.br, no website www.oscl.org.br ou pelo telefone (12) 3921-6191. É para nós motivo de muita alegria poder colaborar com outras instituições sobre alguns dos cuidados que podemos e deveríamos ter com o nosso planeta. Nosso desejo é servir!
5
LIVROS & CIA. Instituto Lachâtre Telefone: 11 3181-6676 www.lachatre.com.br Kardec e os espíritos – Tomo 1: O livro dos espíritos de Guillermo Luis 128 páginas coloridas 18,5x26 cm
Editora Três Estrelas Telefone: 11 3224-2165/3368 www.editora3estrelas.folha.uol.com.br O livro das mesas de Victor Hugo tradução de André Telles 632 páginas 16x23 cm
Allan Kardec Editora Telefone: 19 3242-5990 www.allankardec.org.br Apelo aos pais de Clara Lila Gonzales Araújo 280 páginas 16x23 cm
Kardec Books | Nobilità Telefone: 41 3076-5111 www.kardecbooks.com Kardec para mulheres de Rosana Voigt Silveira 380 páginas 13,5x20 cm
www.correiofraterno.com.br
6
CORREIO FRATERNO
JAneIro - FeVereIro 2018
LeIturA
Quando o orgulho dá vez ao aprendizado Por SÔnIA KASSe
V
erdadeira obra-prima da literatura espírita, A Mansão Renoir, psicografado por Dolores Bacelar e Alfredo (espírito) que já está na sua 19ª edição pela Editora Correio Fraterno. Um clássico de época que retrata a vida do nobre francês Frances Renoir, senhor com alto poder aquisitivo, dono de um verdadeiro império e dos seus empregados, que se submetem à tirania e insensatez desse poderoso patrão que não demonstra nenhuma piedade pelos seus subordinados e nem mesmo para com os membros de sua própria família, que são tratados com desprezo e antipatia, em especial, sua filha Joceline, que nasceu feia e com deformidades físicas, condição inaceitável para seu pai, Frances, e sua mãe, Rosa Renoir. Agravando ainda mais essa questão, Frances Renoir não entende por que Ana Maria, filha do jardineiro Macário e de dona Júlia, era uma linda moça, de fino trato e inteligência e, pasmem, cópia fiel
www.correiofraterno.com.br
do retrato de sua avó francesa, o que deixava Frances muito aborrecido, motivo pelo qual não aceitava ter em sua casa Joceline, uma filha tão feia que para ele era a vergonha dos Renoir. Além de Joceline, ele tinha seu filho Arthur Renoir, moço bom, educado, que se preocupava com o próximo e suas necessidades, suprindo-as sempre que podia: atitude que irritava demais seu orgulhoso pai. O romance se desenvolve de tal maneira que os fatos acima descritos sofrerão grandes mudanças, graças à interferência de um misterioso personagem chamado tio Nicolau, o ermitão da montanha. Além dos relatos sobre a mansão, seus donos e empregados, detalhes de fatos históricos da época enriquecem a obra, principalmente o poder manipulador de alguns representantes da igreja católica, que fazem da Igreja o ‘seu castelo’, com cargos de alta mordomia e acúmulo de riquezas.
Por garantirem consideráveis quantias para a igreja, ricos e poderosos eram tratados com todas as honras e glórias, enquanto aos pobres restava apenas incutir-lhes a cega obediência aos dogmas impostos pelo padre, sob pena de queimarem no fogo do inferno. A história se enriquece na figura de tio Nicolau, que prima pela divulgação do conhecimento da espiritualidade a todos que o procuram e, dessa maneira, a aceitação de que aqui estamos para uma nova oportunidade de viver em harmonia com Deus e com o próximo nos ajuda no resgate e aprimoramento espiritual. É uma obra notável que merece ser lida!
CORREIO FRATERNO
JAneIro - FeVereIro 2018 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
7
bAÚ De MeMÓrIAS
Manuscritos de Victor Hugo e as sessões espíritas Por eLIAnA hADDAD
N
em sempre disposta a reconhecer uma inspiração do mundo invisível, a crítica literária se vê agora diante da publicação dos registros das sessões espíritas realizadas pelo poeta, escritor e dramaturgo Victor Hugo (1802-1885). Romancista consagrado, político atuante, o autor de obras memoráveis como Os miseráveis e de O corcunda de Notre-Dame costumava reunir a família e os amigos para conversar, através das manifestações em mesas girantes. Descobria, perguntava e anotava as experiências. Conversavam, por exemplo, com Moliére, Shakespeare, Rousseau, Mozart, Galileu, Lutero, Rafael e Maomé, dentre outros. Pela primeira vez, estão sendo trazidas agora a público as transcrições desse rico material histórico (O livro das mesas, as sessões espíritas da Ilha de Jersey, Ed. Três Estrelas), reunido em quatro cadernos manuscritos pelo próprio Victor Hugo e que descrevem em detalhes diálogos e observações das sessões espíritas realizadas em sua casa, na ilha de Jersey, entre 1853 e 1855, onde ficou exilado, após o golpe de Estado de Luís Napoleão Bonaparte. Na mesma época, em Paris, Allan Kardec também começava a se interessar pelo mesmo fenômeno das mesas falantes, que tanto o intrigou, a ponto de levá-lo a pesquisar incansavelmente o que havia por trás do que era considerado até então simples passatempo, uma fútil curiosidade da sociedade da época. Do fenômeno às causas inteligentes, assim nasceria pouco mais tarde, em 1857, a doutrina espírita, com a publicação de O livro dos espíritos, seguido por outras obras que descortinariam uma nova visão de mundo, um estudo sério que ao longo de 12 anos revelaria os segredos além da matéria. É notável perceber como o espiritismo influenciou a obra de Victor Hugo, ao se constatar em seus famosos textos temas transcendentais, sempre buscando analisar o homem e o mundo sob uma visão diferente do materialismo da época. Tudo isso pode ser atestado nesse material agora vindo a público, que mostra, inclusive, sua
versos anteriores? – não. – continua. – Vivos nos chamamos Shakespeare e ele Moliére. Fabricamos estrelas com paixões, e nossa obra, criando mundos etéreos, enche o espírito humano de constelações. Mortos, nos afastamos, humildes, sob as estrelas; escondemo-nos, pensativos, atrás de nossos túmulos; e então olhamos. (Interrupção) – Procuras o fim do teu verso e desejas que esperemos um instante? – Sim. (relemos, a mesa recomeça.) Victor Hugo entre Sheakspeare e Moliére
troca de ideias com os espíritos, que opinam, criticam e sugerem mudanças na sua produção intelectual, sem contar as produções compartilhadas em interessantes parcerias além-túmulo. Não foi à toa também o cuidado de Victor Hugo em registrar e guardar essas informações. Ele pretendia deixar uma publicação póstuma com esse conteúdo. Adquiridos em 1962 e 1972, os cadernos hoje fazem parte do Catálogo da Biblioteca Nacional da França, e o pesquisador e editor Patrice Boivin ainda descobriu no acervo da Maison de Victor Hugo atas e cartas inéditas que atestam a veracidade da vivência espírita do grande escritor. Boivin assinala a influência que as sessões espíritas exerceram no campo literário, tendo assim contribuído para o complexo processo da criação poética. “Com efeito, as mesas constituem uma etapa importante na obra de Victor Hugo, cuja influência será duradoura”. “Elas deram corpo a obras latentes, a uma nova escrita”, conclui.
Parceria com Shakespeare Quarta-feira, 25 de janeiro de 1854 9h30 da noite. Sra. Victor Hugo e o sr. Guérin conduzem a mesa (Ata da sessão espírita, registrada por Victor Hugo)
– Quem está aqui? – Shakespeare. – Podes continuar teus versos por intermédio da mesa, tal como ela está sendo conduzida neste momento? – Sim. – Desejas outro para conduzir a mesa? – Sim. – Quem? – charles. (charles assume a mesa com o sr. Guérin.) – continua os versos começados. escutamos. – Minha obra desceu, mas minh’Alma sobranceia. – Queres mudar alguma coisa nos
– ... a imensidão sem peias Sobre nossas frontes e (Interrupção. A mesa se agita.) – É um “t” em seguida? * (Sem resposta) – Alguma coisa te incomoda? – não. – Desejas recomeçar o último verso? – Sim. – Vai. Mais um silêncio, então a mesa recomeça – termina a estrofe. – É a mim, Victor hugo, que dizes para terminar a estrofe? – Sim. – eis o que proponho: O astro eterno apaga as terrenas luzes. – Diz-nos o teu. – Em nossos astros apagados acenderem-se suas luzes. – tens alguma observação a fazer? — Prefiro o teu verso. *Um “t” para completar a conjunção “et” (“e” em francês) Fonte: o livro das mesas, as sessões espíritas da Ilha de Jersey, Victor Hugo (Ed. Três Estrelas)
www.correiofraterno.com.br
8
CORREIO FRATERNO
ANÁLISE
Lisboa e Voltaire: Tudo está bem? Por Marco Milani
N
a manhã do dia 1º de novembro de 1755, parte da população de Lisboa ocupava as ruas e igrejas celebrando o Dia de Todos os Santos. No mesmo momento, a algumas centenas de quilômetros dali, no oceano Atlântico, um forte abalo sísmico dava início a uma série de eventos que marcaria dolorosamente essa data. Um tremor atingiu a costa portuguesa com violência. Os desmoronamentos foram o prelúdio do que ainda estava por vir. Após o brusco recuo do mar, as enormes ondas devastaram a parte baixa da cidade. Finalmente, um incêndio de grandes proporções demorou dias a ser debelado, consumindo vidas e bens, estimando-se 60 mil fatalidades. Cerca de vinte dias depois desse trágico acontecimento, o filósofo iluminista francês François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, publicava um provoca-
tivo texto intitulado Poema sobre o desastre de Lisboa: ou o exame do axioma “tudo está bem”, questionando o argumento ontológico do filósofo alemão Leibniz sobre a Providência divina, dizendo: “Filósofos que em vão gritais: “Tudo está bem”; Vinde pois, contemplai ruínas desoladas, restos, farrapos só, cinzas desventuradas…” Como explicar a existência de um Deus bom e justo que permita ou promova desgraças humanas? Quais teriam sido os crimes cometidos pelas crianças portuguesas esmagadas sob escombros junto com suas mães? Esses questionamentos, entretanto, refletem um incômodo que sempre pairou no ambiente filosófico sobre o dogmatismo teísta (preceito indiscutível da existência de Deus). O Paradoxo de Epicuro, formulado cerca de 300 anos antes de Cristo, já apresentava um dilema lógico sobre a existência do mal e as qualidades de Deus. Tal paradoxo parte
do pressuposto que Deus poderia apresentar, simultaneamente, apenas duas das três características: onisciência, onipotência e benevolência. Se fosse onisciente e onipotente, teria conhecimento do mal e poderia extingui-lo, mas não seria benevolente, ao permitir que o mal existisse. Se fosse onipotente e benevolente, então poderia extinguir o mal e, sendo bom, desejaria eliminá-lo, mas não o fazia por desconhecer onde todo o mal estaria; logo ele não seria onisciente. Se fosse onisciente e benevolente, saberia onde todo o mal se encontrava e desejaria extingui-lo, mas como o mal aflige os homens, então ele não seria onipotente, pois não consegue extinguir o mal, mesmo desejando fazê-lo. O paradoxo não discute a
subjetividade presente nas definições de bem e mal, mas reflete a incompreensão, frente a atributos divinos baseados na experiência humana. Diferentes pensadores, em épocas variadas, propuseram respostas a essas questões, como Tomás de Aquino, no século 13, que afirmou que o Homem seria incapaz de atingir os mistérios divinos servindo-se da
Os flagelos humanos e a justiça divina Com que fim Deus castiga a Humanidade com flagelos destruidores?
P
ara fazê-la avançar mais depressa. Não dissemos que a destruição é necessária para a regeneração moral dos Espíritos, que adquirem em cada nova existência um novo grau de perfeição? E necessário ver o fim para apreciaras resultados. Só julgais essas coisas do vosso ponto de vista pessoal, e as chamais de flagelos por causa dos prejuízos que vos causam; mas esses transtornos são frequentemente necessários para fazer com que as coisas cheguem mais prontamente a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos séculos. (O livro dos espíritos, perg. 737) www.correiofraterno.com.br
Comentário de Kardec: Entre os flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocados em primeira linha a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais à produção da terra. Mas o homem não achou na Ciência, nos trabalhos de arte, no aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas, os meios de neutralizar ou pelo menos de atenuar tantos desastres? Algumas regiões antigamente devastadas por terríveis flagelos não estão hoje resguardadas? Que não fará o homem, portanto, pelo seu bem-estar material,
quando souber aproveitar todos os recursos da sua inteligência e quando, ao cuidado da sua preservação pessoal, souber aliar o sentimento de uma verdadeira caridade para com os semelhantes? (Comentário de Allan Kardec à pergunta 741, em O livro dos espíritos)
CORREIO FRATERNO
MAIo - Junho 2018
razão. Somente pela fé o conseguiria. O poema de Voltaire sobre o desastre de Lisboa também não ficou sem resposta. Seu conterrâneo, Jean-Jacques Rousseau, escreveu em 1756 uma carta rebatendo o ceticismo e a indignação expressos pelo iluminista. Além da defesa sobre a perfeição da Providência e da ordem natural das coisas que escapa à compreensão humana, Rousseau ainda apontou que o próprio Homem pode agir contra si mesmo, ao citar, no caso português, as perigosas construções erguidas de maneira imprudente para abrigar muitas famílias, que agravaram os efeitos dos desmoronamentos. Não satisfeito, Voltaire retomaria o assunto em 1759, publicando uma de suas obras mais conhecidas: Cândido ou O otimismo. Nesse conto filosófico, tendo como pano de fundo o terremoto de Lisboa, o personagem principal que dá título ao livro é caracterizado como um jovem
ingênuo que recebe ensinamentos sobre o otimismo de Leibniz, mas diversos acontecimentos trágicos fazem com que sua visão de mundo seja questionada. Voltaire desencarnou em 1778, deixando um legado de críticas e escárnios às crenças religiosas e àqueles que propagavam a ideia de ordem natural divina. A herança cultural de Voltaire, entretanto, não se resume a esses ataques destrutivos, mas também a adequadas contribuições à reflexão, nos campos políticos, sociais e econômicos. Ao combater o absolutismo e o fanatismo dogmático, ele enalteceu a liberdade de pensamento, as liberdades civis e o livre comércio, posicionando-se contra a interferência do Estado na vida das pessoas e na economia. No século seguinte, Allan Kardec indagaria aos Espíritos a respeito da mesma problemática do bem e do mal e, dentre outros tópicos, sobre os flagelos humanos e a justiça divina. As respostas mediúnicas obtidas nas questões 737 a 741 de O livro dos espíritos lembram alguns dos argumentos de Leibniz e Rousseau, porém sustentadas no esclarecimento sobre o processo evolutivo do ser espiritual, em detrimento da matéria transitória. Resumidamente, o que parece ser um castigo é, na verdade, uma oportunidade de aprimoramento moral e intelectual,
individual e coletivo, reflexo natural da marcha evolutiva em que se encontra o Homem e de suas necessidades correlatas. Essa ordem só faz sentido abandonando-se as explicações materialistas ou aquelas que desembocam nos mistérios igrejeiros e abraçando-se o princípio da pluralidade das existências humanas guiadas por leis naturais imutáveis, fundamentadas na justiça e no amor divinos para a realização da perfeição espiritual de que os seres são suscetíveis. Evocado por Kardec em 1859 e em comunicações posteriores (ver Revista Espírita ago-set/1859, mai/1862), Voltaire, em espírito, manifesta-se amargurado pelo rumo que tomou enquanto encarnado. Confessa ter deixado o orgulho e o sarcasmo conduzirem suas ações e que sofria pelas consequências danosas que promoveu, influenciando muitas pessoas, especificamente sobre o aspecto religioso. Em vez de iluminar mentes, combatendo os defeitos e os vícios das religiões constituídas, enaltecendo a verdade perene contida na mensagem cristã, ne-
9
gou a bondade e a justiça divinas e fez-se vítima de sua própria arrogância cética. A perspectiva espiritual fez Voltaire rever suas concepções sobre Deus e reconhecer a excelência do modelo de virtude que a humanidade possui em Jesus. Hoje nos beneficiamos das luzes que o espiritismo oferece, aliando a razão que Voltaire tanto prezava com a fé baseada em evidências, capaz de transportar montanhas mediante a liberdade e responsabilidade individuais. Tudo está bem. Marco Milani é diretor do Departamento do Livro e Doutrina da USE-SP.
O pensador Voltaire: revisão da concepção sobre Deus e o reconhecimento da excelência de Jesus
A confissão de Voltaire
“M
eus caros amigos! Quando eu estava entre vossos pais, tinha opiniões, e para sustentá-las e fazê-las prevalecer entre os contemporâneos, muitas vezes simulei uma convicção que realmente não possuía. Foi assim que, que-
rendo atacar os defeitos e os vícios em que caía a religião, sustentei uma tese que hoje estou condenado a refutar. Ataquei muitas coisas puras e santas, que a minha mão profana deveria ter respeitado. Assim, ataquei o próprio cristo, esse modelo de virtudes sobre-humanas. Sim, pobres homens! nós nos assemelharemos talvez um pouco com a nosso modelo, mas nunca teremos a dedicação e a santidade que ele demonstrou. ele estará sempre acima de nós, porque ele foi
melhor antes de nós. Ainda estávamos mergulhados no vício da corrupção, e ele já estava sentado à direita de Deus. Aqui, diante de vós, eu me retrato de tudo quanto minha pena traçou contra o cristo, porque o amo, sim, eu o amo. Sentia não ter podido fazê-lo ainda.” (Trecho da comunicação de Voltarie, em reunião mediúnica, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, publicada na revista espírita em setembro de 1859.) Redação.
www.correiofraterno.com.br
10
CORREIO FRATERNO
MAIO - JUNHO 2018
FOI ASSIM
Boa inspiração para fazer o bem Da VERIDIANA RIZZINI
Q
uando iniciei os trabalhos voluntários na Casa da Criança Irmã Angela, no ano de 2002, na Zona Norte de São Paulo, não imaginei que eu ficasse tanto tempo lá. Foram quase dezoito anos. Muito menos que eu teria tantas histórias para contar. Lembro-me de uma das meninas que adorava estudar. Tinha uma letra linda! Sempre que dava, eu levava frutas para lavarmos e comermos todas juntas. Mas Elaine não. Preferia ficar mergulhada nos livros… Assim foi durante anos: cantando, dançando, assistindo televisão com as meninas, e Elaine lá, entregue aos livros. Um dia de grande felicidade chegou para nós: a notícia de que um dos voluntários da casa iria custear os seus estudos em escola particular. Seria uma oportunidade incrível para ela aprimorar os seus estudos! Saímos então em busca da escola ideal. De largada, fomos na mais conhecida do
www.correiofraterno.com.br
bairro, mas logo percebermos que o ambiente não combinava com nosso modo de ser e viver. Partimos para outras opções, sempre com o ideal de oferecer muito mais que conteúdo, mas experiências ricas de vida, de convívios, de valores. Entendemos... Não estava nada fácil encontrar esta escola. Fomos a algumas mais distantes, mas havia o problema da condução. Os dias rapidamente foram passando, até que numa tarde, ao sair da casa Irmã Angela, resolvi mudar o caminho e seguir pela rua de cima. Acreditem! Lá havia uma escola que eu nunca havia notado! Assim como que meio guiada, estacionei o carro e entrei. Tudo me parecia muito familiar. Não demorou para eu ser encaminhada até a sala da diretoria. Foi onde eu vi rapidamente uma pessoa se levantar da cadeira, atrás
da mesa em que se encontrava e dizer: — Veridiana, você não se lembra de mim? Nós estudamos juntas! Eu me arrepiei. Olhei bem para ela e a reconheci de anos atrás. Contei-lhe tudo sobre os nossos projetos e sobre os sonhos da nossa menina dedicada para aprimorar os seus estudos. Sentia uma imensa alegria dentro de mim. Lembrei-me naquele instante do quanto somos ajudados, do quanto a espiritualidade amiga nos guia e nos inspira, quando o nosso propósito é fazer o bem. Elaine precisou fazer uma prova avaliativa, que revelou que talvez sentisse dificuldade para acompanhar a turma. Mas aceitou o desafio. E foi um orgulho geral quanto ao seu desempenho, tornando-se uma das melhores alunas da turma. A história da menina dedicada segue, mas deixarei para contar numa outra vez, aqui mesmo no “Foi Assim”.
Este fato foi narrado pela psicanalista Veridiana Rizzini, neta do reconhecido escritor Jorge Rizzini. Envie também sua história! Ela poderá ser publicada aqui na seção “Foi Assim”.
CORREIO FRATERNO
MAIO - Junho 2018
11
ARTIGO
Fake news
Um novo termo para o antigo hábito Por Alessandra Lourenço Simões
O
termo fake news tem circulado com grande frequência nas mídias e gerado grandes controvérsias, envolvendo questões políticas, religiosas, econômicas e demais áreas do conhecimento e das relações humanas. A nova expressão nada mais é que uma repaginada da antiga ‘mentira’. Ela agora circula através da internet, levando notícias falsas, causando transtornos, quase sempre com intenção de humilhar pessoas, difamar negócios ou obter vantagens através de manchetes sensacionalistas. As consequências da mentira, da infâmia, hoje se acentuam pela rapidez com que alcança o grande público globalizado, permitindo que uma falsa notícia tenha sua divulgação em tempo real e em escala mundial, utilizando-se os mais variados recursos: ilustrações, mensagens, fotos e vídeos. Algumas pessoas justificam que fake news (notícias falsas) aparecem com o objetivo de apenas entreter, divertir. Mas o que vemos quase sempre é que elas se enquadram em brincadeiras mascaradas de desrespeito, podendo ser facilmente enquadradas como crimes de calúnia e difamação, de pessoas comuns ou mesmo figuras públicas. Quando não, levam em seu bojo informações manipuladas com o objetivo de distorcer orientações no âmbito da saúde, da política, da ciência e da religião, entre outros. Emmanuel, no livro O consolador1 psicografado por Chico Xavier, trata na questão 192 o retardamento da evolução dos espíritos que se identificam com tal atitu-
de. “Mentira é a ação capciosa que visa o proveito imediato de si mesmo, em detrimento dos interesses alheios em sua feição legítima e sagrada; e essa atitude mental da criatura é das que mais humilham a personalidade humana, retardando, por todos os modos, a evolução divina do Espírito”. Joanna de Ângelis, através de Divaldo Franco2, salienta que “a mentira dever ser rechaçada sob qualquer forma em que se apresente, em face dos prejuízos morais que provoca, levando à maledicência, à calúnia e a todo um séquito de terríveis distonias psicológicas e éticas no com-
portamento social.” Vale lembrar que devemos estar atentos ao que recebemos em nossas redes sociais, e usar o bom-senso antes de passar adiante. Uma boa dica é verificar a fonte que veicula a informação, e se a notícia também está sendo anunciada nos grandes canais de comunicação. O evangelho segundo o espiritismo3 nos alerta para nossa obrigação frente à mentira: “Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever, pois mais vale caia um homem, do que virem muitos a ser suas vítimas. Em
tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes. - São Luís. (Paris, 1860.)” Jesus também nos deixou, através de seu Evangelho, passagens que soam como norte em relação ao assunto. Que elas possam nos inspirar e ajudar a trazer um novo tempo, o tempo da nossa verdadeira transformação moral. • “O Senhor odeia os lábios mentirosos, mas se deleita com os que falam a verdade.” (Provérbios 12:22) • “Quem pratica a fraude não habitará no meu santuário; o mentiroso não permanecerá na minha presença.” (Salmos 101:7) • “Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo.” (Efésios 4:25). E um dos que considero mais importante... fomos feitos a imagem do Criador, assim não nos cabe faltar com a verdade... • “Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador.” (Colossenses 3:9-10) Bibliografia: 1 Emmanuel. FEB, 2006. 2 Desafios e soluções. LEAL, 2013. 3 Capítulo X, item 21. Mestra em Comunicação Social, especialista em Segurança da Informação e professora na área de Tecnologia. www.correiofraterno.com.br
12
CORREIO FRATERNO
MAIo - Junho 2018
cuLturA & LAzer
I Fórum Espírita Léon Denis Será realizado dia 8 de julho, das 8h às 19 horas, o I Fórum Espírita Léon Denis, na cidade de Uberlândia, MG, contando com a presença de palestrantes como Suely Caldas Schubert, William Jacob, Artur Valadares, Quincas Veloso, Saulo Monteiro e Simão Pedro. Inscrições: www.sympla.com.br/1-forum-espirita-leon-denis---uberlandiamg__240417. Local: Casa Garcia, av. Maria Silva Garcia, 402. Granja Marileusa, Uberlândia, MG.
JUL
8
Simpósio de Estudos e Práticas Espíritas de Pernambuco Dias 3 a 5 de agosto acontece no Teatro Guararapes, no Centro de Convenções, Olinda, PE o 13º Simpósio de Estudos e Práticas Espíritas de Pernambuco. Participação de Aleílson Salles, Allan Vilches, Alberto Almeida, André Trigueiro, Divaldo Franco, Haroldo Dutra, Rossandro Klinjey e Sérgio Lopes. Local: Av. Professor Andrade Bezerra, S/N, Salgadinho. Olinda, PE. Realização: Grupo Espírita Seara de Deus. www.sympla.com.br/simespe.
AGO
3
Palestras sobre a prevenção do suicídio Com o jornalista André Trigueiro CAMPINAS AGO 11 Dia 11 de agosto, às 15:30h. No Centro de Estudos Espíritas Nosso Lar. Rua da Abolição, 1.553, Ponte Preta, Campinas, SP. Fone: (19) 3233-5596, 3037-4144. SÃO PAULO Dia 12 de agosto, às 11 horas. No Centro Espírita Perseverança. Rua Padre Maurício, 350, Vila Diva, São Paulo, SP Fone: (11) 2672-8200. Feira do Livro Espírita em São José dos Campos AGO A USE Intermunicipal de São José dos Campos realiza de 17 a 26 de agosto a 47ª Feira do Livro Espírita, com mais de 15.000 livros e 1.400 títulos disponíveis para o público, no Largo São Benedito, no centro da cidade. Os descontos chegam até 70%. No mesmo local, acontece também a Feira do Livro Espírita Infantil. Informações: Departamento de Comunicação Social da USE: (12) 98196-6878.
17
Congresso Comemorativo 50 anos da AME-SP Será realizado em 18 e 19 de agosto, no auditório do Hospital do Servidor Público Estadual, o Congresso Comemorativo dos 50 anos de fundação da Associação Médico-Espírita de São Paulo. O evento contará com a presença de Alejandro Vera, Andrei Moreira, Decio Iandoli, Gilson Luis Roberto, Irvênia Prada, Luis Gustavo Mariotti, Marcelo Saad, Mário Peres, Rafael Latorraca, Roberto Lucio de Souza, Rodrigo Bassi, e muitos outros. Local: Av. Ibirapuera, 1215, São Paulo. Inscrições: www.amesaopaulo.org.br/50anos
PASSATEMPO DO CORREIO
Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
ENIGMA
Faça a correlação seguindo o exemplo e descubra as propriedades que nosso perispírito possui:
1 Adapta-se automaticamente às ordens mentais que emitimos. 2 Possui matéria. 3 Possui peso. 4 Possui luz. Quanto menor a densidade do perispírito, menor o seu peso e maior a sua luminosidade. 5 Entra em ambientes fechados. 6 Visível para os espíritos, mas invisível para os olhos físicos. 7 Pode-se tocar total ou parcialmente. 8 Vê, sente, ouve com o corpo espiritual inteiro, uma vez que as sedes dos sentidos não encontram localização como no corpo carnal.
Visibilidade Bicorporeidade 10 Expansibilidade Penetrabilidade Odor Perenidade Densidade Sensibilidade magnética
9 Capacidade de emitir e absorver magnetismo.
Capacidade refletora
10 Expande-se, aumentando o campo de percepção.
Ponderabilidade
11 Pode apresentar-se com um outro corpo de forma igual ao do corpo físico.
Temperatura
12 Não há perispíritos exatamente iguais, como não existem almas idênticas. 13 Indestrutível como o próprio espírito. 14 Pode-se modificar a sua forma e sua estrutura, mas não a sua essência.
Plasticidade
qualquer hora, em qualquer lugar
Solução do Passatempo
Tangibilidade
Veja em: www.correiofraterno.com.br
Luminosidade
Resposta do Enigma:
15 Reflete os estados mentais.
Sensibilidade global
16 Possui cheiro.
Mutabilidade
17 Temperatura própria, relacionada ao grau de evolução do espírito.
Unicidade
Fonte: FEB
Quantas edições da Revista Espírita foram editadas por Kardec?
137 revistas De janeiro de 1858 a abril de 1869. Allan Kardec desencarnou em 31 de março de 1869, mas deixara a edição de abril redigida e em fase de preparação gráfica.
AGENDA
Passe
AGO
18
www.correiofraterno.com.br
Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio
CORREIO FRATERNO
MAIO - Junho 2018
13
ARTIGO
As trilhas e o
caminho Por Luiz Guimarães Gomes de Sá
A
doutrina espírita evidencia para o homem sua individualidade espiritual atrelada à responsabilidade que lhe cabe perante os seus atos. Nossos espíritos estão envoltos pelo perispírito que se liga a um corpo físico, enquanto perdure nossa encarnação. O livre-arbítrio, que é uma dádiva divina, faculta-nos deliberarmos sobre qual estrada devemos caminhar. Esse ato constante, enquanto encarnados, propicia-nos adquirir experiências edificantes ou não, dependendo do nosso discernimento para a prática do bem. Sabemos que não existe o mal, e sim a falta do bem, como não há trevas, e sim ausência de luz... Nós é que delineamos a trajetória que devemos trilhar e, por conta da nossa individualidade, temos pretensões próprias já cristalizadas em vidas pretéritas. A diversidade de pendores e índoles que possuímos contempla o estado evolutivo em que nos encontramos no orbe terrestre. Com esse raciocínio inferimos que para atingirmos o verdadeiro caminho preconizado por Jesus necessitaremos passar por experiências, as mais diversas, para o aprimoramento do Espírito, até atingirmos um dia aquela estrada de Luz deixada por Jesus,
Somos os únicos semeadores nos campos das nossas existências para a posterior colheita” segundo João 14:5-6“(...) Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”. A nossa chegada sublime demandará tempo e sacrifício. Haverá os que buscam os atalhos ou trilhas mais fáceis, contudo a perseverança é que irá consolidar a chegada no destino colimado. Tenhamos em mente que as opor-
tunidades são iguais para todos, já que o Pai com sua misericórdia e infinita justiça jamais faria diferente. Todavia, as decisões de cada um, valendo-se do livre-arbítrio, é que resultarão no processo evolutivo breve ou longo. Por enquanto, estamos todos navegando no mesmo oceano de provas e expiações, cabendo-nos buscar as virtudes para
as nossas práticas diárias. O Criador não nos pune. Somos os únicos semeadores nos campos das nossas existências para a posterior colheita, que é obrigatória. Assim como nossa herança genética nos reporta aos caracteres paternos da vida corpórea, podemos dizer também que herdamos do Criador a centelha de luz consoante à ‘genética’ celestial. Quando Jesus disse, segundo Mateus 5:16: “Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus”, deixou evidente a existência desse vínculo sublime que mantemos com Ele. Procuremos, enquanto de passagem, ajustar nossos passos e enveredar por aquele caminho auspicioso que nos aguarda. Outras alternativas aparecerão devendo ser rechaçadas mediante o uso da razão, para que não adentremos as estradas pedregosas, evitando as agruras do caminho. As lágrimas vertidas na dor e aceitas com resignação servirão de lenitivo para as caminhadas futuras. Luiz Guimarães Gomes de Sá é médico, escritor e trabalhador do Centro Espírita Caminhando Para Jesus, Fortaleza, CE.
Contabilidade – Abertura e encerramento de empresa – Certidões
Tel. (11) 4126-3300 Av. Paulista, 777 I Conj. 72 I Bela Vista I São Paulo - SP Rua Tomé de Souza, 200 I Centro I São Bernardo do Campo - SP brasilcontadores.com.br www.correiofraterno.com.br
14
CORREIO FRATERNO
MAIO - JUNHO 2018
VOCÊ SABIA?
Os conselhos espirituais à rainha Vitória Da REDAÇÃO Casamento da rainha Vitória com o Príncipe Alberto
N
um conselho privado, onde estavam sendo discutidas questões políticas internacionais que envolviam ameaça à paz, a rainha Vitória (Inglaterra, 18191901) declarou que não tomaria nenhuma decisão sobre o assunto sem antes consultar o príncipe Alberto, seu principal conselheiro em assuntos de Estado, com quem fora
www.correiofraterno.com.br
casada por 21 anos, cuja morte deixou-a profundamente abatida. Depois de ter-se recolhido por alguns instantes em seu gabinete, a rainha Vitória voltou dizendo que o príncipe se pronunciava contra a guerra. A notícia, reproduzida em vários jornais na época, entre outros o Opinion Natianale e o Siècle (22/02/1864), foi analisada por Allan Kardec na Revista Espírita de março daquele ano. Sob o título “Uma rainha médium”, Kardec lembra que o homem não deve abster-se de seu livre-arbítrio. Mas pontua: “O príncipe não é Deus, é verdade, mas, como ela é piedosa, é provável que te-
nha pedido a Deus que inspirasse a resposta do príncipe. Ela o fez agir como intermediário, em razão da afeição que lhe tem”, acrescenta o codificador. “Se enquanto o príncipe estava vivo a rainha costumava nada fazer sem consultá-lo, morto ele, ela pede a sua opinião, não porque seja um Espírito, porquanto, para ela, ele não morreu. Ele está sempre ao seu lado, como seu guia e conselheiro oficioso”, completou. Em 3 de junho de 1866, o jornal Le Salut Public, de Lyon, retomaria o assunto: “Lord Granville, durante sua curta estada em Paris, dizia a alguns amigos que a rainha Vitória se mostrava mais preocupada do que jamais se viu em qualquer época de sua vida, por causa do conflito austro-prussiano. Acrescentava o nobre lorde, presidente do conselho privado de sua majestade britânica, que a rainha acreditava obedecer à voz do defunto príncipe Alberto, nada poupando para evitar uma guerra que poria na fogueira a Alemanha inteira. Foi sob essa impressão que ela es-
creveu várias vezes ao rei da Prússia, bem como ao imperador da Áustria, suplicando-lhes unir seus esforços aos dela em favor da paz.” Kardec se referiu novamente ao fato em agosto, dizendo que a rainha Vitória não é a única cabeça coroada que simpatiza com as ideias espíritas, mas que nem sempre os soberanos, convictos da verdade e da existência desta doutrina consideravam um dever apoiá-la abertamente, porque comumente são os homens menos livres, submetidos às exigências do mundo e obrigados, por razões de Estado, a certas manobras. Afirma que não citaria a rainha Vitória, a propósito do espiritismo, se outros jornais não houvessem citado o fato, que não foi desmentido. “Dia virá em que os soberanos poderão confessar-se espíritas, como se confessam protestantes, católicos gregos ou romanos”, completa Allan Kardec. Allan Kardec, Revista Espírita, março de 1864 e agosto de 1866.
CORREIO FRATERNO
MAIO - Junho 2018
15
DIRETO AO PONTO
Por que não se apaixonar? Por UMBERTO FABBRI
E
m O livro dos espíritos localizamos uma analogia bastante interessante que diz: “As paixões são como um cavalo que é útil quando governado e perigoso quando governa. Reconhecei, pois, que uma paixão se torna perniciosa no momento em que a deixais de governar, e quando resulta num prejuízo qualquer para vós ou para outro.” A paixão não é negativa. É uma alavanca que pode conduzir a humanidade a grandes conquistas. Por isso a importância de estarmos no controle, conduzindo esta manifestação da alma em nosso benefício. E continua Allan Kardec em seu comentário: “Todas as paixões têm seu princípio num sentimento ou numa necessidade da Natureza. Não é, portanto, um mal, pois repousa sobre uma das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é o exagero de uma necessidade ou de um sentimento.” Está ligada, portanto, aos nossos instintos, que garantem nossa sobrevivência. Entretanto, dentro de tantos aprendizados ofertado, em nossa jornada evolutiva, está o de modificar a paixão que pode destruir em elemento motivador para nosso progresso. Estar apaixonado não denigre quem quer que seja. Se a paixão não ocorresse, nossa existência estaria seriamente comprometida no planeta, pois que tem papel importante, frente à perpetuação da espécie humana, como mecanismo de aproximação das criaturas. Mas, como emoção,
Apaixonar-se é dar oportunidade de construirmos uma ponte para o amor pode e deve ser controlada. Não devemos simplesmente reagir, tentando muitas vezes consertar os danos de ações impensadas, mas sermos proativos, na racionalização da paixão, e para isto o homem já desenvolveu potenciais. É grande ainda, porém, o número de
indivíduos que insistem em repetir comportamentos, de forma geralmente inconsciente, porque se cria o vício da automatização de equívocos diante da paixão. Em seu lado positivo, a paixão se apresenta na busca pelas conquistas de nossos sonhos, em nossa profissão, na luta por
ideais sociais, em nossos relacionamentos, proporcionando as possibilidades para o futuro amor. Mas, se a paixão é o fermento do amor, precisamos diante dela, para que a beleza da vida continue em expansão em todos os sentidos, construirmos sentimentos sólidos, porque apaixonar-se é dar oportunidade de construirmos uma ponte para o amor. E a partir do momento que tratamos com critério e controle essas sensações começamos a conhecer a liberdade pelo amor. Se a paixão nos prende por força das circunstâncias, é o amor o verdadeiro libertador de almas. Com o amor, construímos as vias de continuidade, onde o poder de observação está presente, não para o apontamento do equívoco, mas para o trabalho da modificação, tão necessário em nós e posteriormente de exemplificação para o semelhante. Apaixonar-se é bom. Desperta a essência do ser humano nos aspectos mais simples e belos, porém só a construção do amor faz com que nos diferenciemos evolutivamente do irracional para o racional, como Espíritos que somos nas conquistas que já realizamos em nós mesmos. Baseado no livro Nascer de novo, capítulo 23, de Umberto Fabbri. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando na Flórida, EUA. Autor dos livros O traficante, Amor e traição e Pecado e castigo (pelo espírito Jair dos Santos) e O político (por Adalbero Gória), pela editora Correio Fraterno.
www.correiofraterno.com.br
16
CORREIO FRATERNO
MAIO - JUNHO 2018
MÍDIA DO BEM Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!
Empresário imprime currículos de graça
Alunos arrecadam dinheiro e presenteiam professor há dois meses sem salário
Aos 11 anos, menino ensina a mãe a ler
O empresário Edson Cramolish Palomba decidiu tomar a atitude para ajudar os desempregados da cidade. Ele começou a imprimir currículos de graça no Cyber da 7, em Campo Grande, MS. “Vi uma reportagem na revista Exame em que um rapaz fez isso e eu pensei, por que não ajudar também?”, disse. Para Edson, a despesa para o seu negócio não significa muito em relação ao bem que pode gerar. “Pra mim, não faz diferença imprimir mil folhas a mais ou a menos, enquanto que eu sei que para muitas dessas pessoas qualquer moedinha faz falta”, justificou.
Em Brejo Santo, CE, o professor de artes Bruno Rafael Paiva foi surpreendido por seus alunos com um gesto de carinho e solidariedade na sala de aula. O momento foi filmado e o vídeo viralizou. Com os salários atrasados por conta de trâmites burocráticos e alojado na escola, sem condições de se manter, os estudantes realizaram uma rifa, juntaram o valor de R$ 400,00 e organizaram uma surpresa para presenteá-lo. “Fiquei travado, espantado mesmo, são alunos como eles que me fazem ainda acreditar na educação do país, no amor ao próximo, e no respeito e amor do aluno para com o professor de sua escola”, disse.
Damião Andrade, 11 anos, ainda não tem muita desenvoltura na leitura, mas já conseguiu um grande feito: ensinou a mãe — que nunca frequentou uma escola — a escrever o próprio nome. “Todo mundo rejeitando ela e eu resolvi ajudar. Eu ajudei. Ela tá sabendo as letras, já aprendeu o nome”, conta o garoto. Em cada letrinha que aprende dona Sandra de Andrade descobre um mundo novo. “Ele lê e explica. Vai lendo e explicando o que significa”, diz. E quando questionado por que gosta tanto de ler, Damião tem a resposta na ponta da língua: “A imaginação vai mais longe”.
Fonte: Catracalivre
Fonte: Portal G1
Fonte: Fantástico (TV Globo)
Nos bastidores da sociedade imperial russa, intrigas e traições delineiam a história de sedução e interesse dos casamentos aristocráticos. Em sua genialidade, Rochester constrói um verdadeiro painel de emoções, onde cada personagem irá revelar o seu verdadeiro caráter. ISBN 978-85-5455-006-6
www.correiofraterno.com.br