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SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o

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ISSN 2176-2104

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Entrevista O senador Luís Eduardo Girão fala sobre seus desafios como espírita e defensor das causas que valorizam a vida desde a concepção. Leia nas páginas 4 e 5.

Kardec C

vive

om o recém-lançado filme Kardec, o espiritismo acabou por ocupar espaço especial na mídia. Jornais, portais, blogs, rádio e televisão abordaram a cinebiografia, dirigida por Wagner de Assis e baseada no livro de Marcel Souto Maior, sobre o pedagogo Rivail e, depois, Allan Kardec, codificador da doutrina espírita. Entrevistas, palestras e críticas não ficaram apenas no meio espírita, mas romperam barreiras de comunicação, originando vários conteúdos e trazendo de volta os comentários, por conta do filme, sobre encarnação, vida depois da morte, mediunidade e comunicação com os espíritos. Veja nesta edição os bastidores, as repercussões e também as críticas da imprensa em geral a respeito do filme que logo na segunda semana depois da estreia já liderava as bilheterias entre as estreias nacionais e se posicionava em quarto lugar no quadro geral de lançamentos. Leia nas páginas 8 e 9.

O imortal Cairbar Schutel Aquele jovem que no ano de 1885, no Rio de Janeiro, observava o mapa da estrada de ferro para escolher seu destino no estado de São Paulo por certo não imaginava que ainda hoje, em 2019, seu nome seria citado como O Imortal. Amado e respeitado por seus companheiros, ele sabia como ninguém que o líder é o primeiro a dar o exemplo e o último a descansar a enxada. Leia mais na página 7.

Victor Hugo no teatro Primeira peça adaptada de uma obra psicografada por Divaldo Franco, o romance Do abismo às estrelas, de Victor Hugo, está em cartaz em São Paulo, aos domingos, 18 horas, no Teatro Santo Agostinho. Leia na página 3.

Vem aí: Somente a renúncia é capaz de transformar uma louca paixão numa linda história de amor.

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EDITORIAL

Kardec vive M

aio de 2019 será lembrado pelo espiritismo por muito tempo. Já faz parte da história como o mês em que nos aproximamos mais de Kardec, conhecendo um pouco mais do seu lado corajoso, bem-humorado e de pesquisador sério, incansável, que não mediu esforços para trazer à humanidade o que descobriu com tanta seriedade e fidelidade: o mundo dos espíritos. Assistindo ao filme Kardec, baseado na biografia do jornalista Marcel Souto Maior, ficamos a imaginar os desafios enfrentados por toda equipe de filmagem, sob a direção do também jornalista Wagner de Assis, para encontrar a medida certa do homem Kardec. Não o do retrato. A voz, a postura, os gestos, o andar, o olhar...

Independentemente das críticas e opiniões, sobre o filme, uma coisa é certa: Kardec ficou muito mais pertinho de nós. Os atores Leonardo Medeiros e Sandra Corveloni nos transportaram com maestria para a Paris do século 19, e adentramos a sua casa, sem pedir licença, para torcer por eles, encorajá-los em seus esforços, suas descobertas, suas dúvidas, dificuldades e alegrias. Como era um Kardec para todos, resolvemos bisbilhotar também a imprensa não espírita para saber dos comentários. Alguns deles, trouxemos para as páginas centrais desta edição, num exercício de compreensão e respeito pelo olhar de outro universo, isento da admiração que já cultuamos pela vida e obra do pedagogo francês. Afinal, são registros importantes esses também.

FALE COM O CORREIO A vida de Kardec nos cinemas Será uma grande alegria ver e divulgar esse filme, que trará muitos esclarecimentos a respeito de Kardec e de nossa maravilhosa doutrina!!! Sonia Mausa, por email. O filme já é uma realidade nas telonas! E os comentários são muitos!!!! Tudo isso deve levar mais pessoas a entenderem a história do espiritismo e também a refletirem sobre essa grande obra.

Promoção de assinatura Correio Acabei de receber o jornal tão bem feito por vocês. E, de brinde, veio o livro do Herminio Miranda, Adorei. Muito bem editado, acabamento primoroso. Desejo saúde, paz, sucesso e alegrias mil. Jeferson Betarello. Curitiba, PR. Obrigada, Jeferson, por seu reconhecimento e retorno. O trabalho gráfico do Os procura-

Uma ética para a imprensa escrita Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:

Que através de Kardec a divulgação do espiritismo, por tabela, chegue como esperança de um mundo melhor, onde o conhecimento da existência espiritual possa levar a refletir sobre os problemas atuais que atravessamos, em função do nível evolutivo em que ainda nos encontramos. Que, como Kardec, possamos ter muita coragem, discernimento e amor, seguindo seus exemplos de trabalho e fé raciocinada. Já se vão 150 anos de sua desencarnação e suas ideias continuam tão palpitantes e desafiadoras. Kardec vive. Boa leitura! Equipe Correio Fraterno

dores de Deus é muito especial. E o conteúdo no nosso escriba Herminio Miranda é sem comentários. Abraços! Espiritismo para chineses Venho agradecer a notícia fantástica da tradução de O livro dos espíritos para o chinês. Graças a Deus que assim aconteceu, para que milhões de pessoas do outro hemisfério possam também ter conhecimento da nobre mensagem dos Espíritos. Parabéns a quantos trabalharam para que este acontecimento viesse a luz do dia. Julieta Marques. Por email.

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118

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• A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


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ACONTECE

Peça teatral faz sucesso com romance de Victor Hugo Por ELIANA HADDAD

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Victor Hugo (1802-1885) é interpretado pelo ator Vandir Pereira. Uma das maiores personalidades do século 19, grande nome da literatura francesa, escreveu livros de poesias, romances, dentre os quais os memoráveis Os Miseráveis e O Corcunda de Notre Dame, peças de teatro, ensaios, dentre outros. Teve seu contato inicial com fenômenos mediúnicos em 1853, antes mesmo de Allan Kardec, quando, durante um exílio em Jersey com sua família, conheceu as chamadas ‘mesas girantes’ nas reuniões de Madame Emile de Girardin.

rimeira peça adaptada de uma obra psicografada por Divaldo Franco, o romance Do abismo às estrelas, de Victor Hugo, está em cartaz em São Paulo, aos domingos, 18 horas, no Teatro Santo Agostinho1. Fazendo um convite à reflexão sobre a prática do aborto e a eutanásia, a história se passa durante a Primeira Guerra Mundial, tendo a montagem da dramaturga Lurimar Vianna, da Companhia Áquila Prisca, e direção de Renato Scarpin. O espetáculo retrata a França entre anos 1920 e 1940 e “desperta meditações profundas em torno dos problemas da vida, como relacionamentos humanos e profissionais, medicina, ciência, espiritualismo e valores”, explica Lurimar. Washington Luiz Nogueira Fernandes, biógrafo de Divaldo Franco, é o consultor literário do espetáculo, que traz inclusive a interpretação à capela da canção I dreamed a dream, do musical Lés Misérables. Ele conta que estudou durante 21 anos as obras completas e características literárias de Victor Hugo e desejava vê-lo nos palcos. “O teatro tem a função de fazer o público pensar sobre diversos assuntos, que podem ser práticos, ideológicos ou existenciais, mas que precisam tocar fundo o coração e as ideias das pessoas. Com o teatro espírita, além de divulgar a doutrina, pode-se causar essa modificação, esses questionamentos, e ampliar a visão das pessoas trazendo ensinamentos, mensagens de luz, de esperança e de responsabilidade, através da identificação, da catarse”, explica. Para ele, ainda há bastante preconceito nos veículos de comunicação não espíritas com a abordagem de temas espíritas, mesmo que o conteúdo seja repleto de assuntos

de interesse do ser humano, independente de religião. “Às vezes, também enfrenta-se o preconceito entre os próprios espíritas, pois um espetáculo precisa ser comercializado para se sustentar. Não há como manter uma peça de teatro sem algum tipo de patrocínio e venda de ingressos. E esse pensamento pode acabar por impossibilitar a arte espírita”, adverte o consultor2. 1 Teatro Santo Agostinho. R. Apeninos, 118. Liberdade, São Paulo. Fone: 11 3209-4858. 2 Informações: amaliapereira@terra.com.br. Fones: 11 3159-1822 - 9 9762-5340

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ENTREVISTA

Para que o mal triunfe, basta que os bons cruzem os braços Por ELIANA HADDAD foi poupada e estava bem próxima de tudo. Para mim, ali, foi o chamamento. Por gratidão a Deus, cresceu em mim a vontade de retribuir, trabalhando para o meu semelhante. E senti que a política era algo que não poderia deixar de tentar.

Eduardo Girão: “A vida foi me convidando para o serviço”

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leito como senador pelo Ceará na últimas eleições, o empresário e espírita Luís Eduardo Girão fala sobre o momento delicado por que passa o país e sobre a importância das ações e da disposição daqueles que acreditam no bem. Há mais de 10 anos, engajou-se nos bastidores da política, posicionando-se a favor da vida, no momento em que a tentativa de se descriminalizar o aborto tomava fôlego no país. À frente da Estação Luz Filmes, produtora que trouxe ao Brasil o documentário Blood Money – Aborto legalizado, e produziu longas como As mães de Chico Xavier e O filme dos espíritos, Eduardo Girão conta o que o motivou logo na primeira semana de trabalhos no Senado a desarquivar a Proposta de Emenda à Constituição da Vida para adicionar ao texto a questão da vida ser inviolável desde o momento da sua concepção. Empresário, ex-presidente do Fortaleza Esporte Clube, produtor de cinema e teatro, o que o levou a entrar também para a política? Luís Eduardo: A vida foi me convidando para o serviço. Mal sabia que a espiritualidade estava me reservando a entrada na política, por mais que relutasse a minha vida inteira, embora atuasse em seus bastidores pela preservação de causas humanas, na dewww.correiofraterno.com.br

fesa da vida, contra o aborto, contra as drogas, contra a jogatina e as armas de fogo. Sempre fui muito tímido e nunca passou pela minha cabeça um dia me candidatar a nada, apesar de muitos convites. Até que em 14 de fevereiro de 2018, passei por uma situação familiar, no exterior, muito dramática. Um garoto entrou na escola da minha filha com uma arma de fogo, disparou, matando 17 adolescentes e professores. Ela

Como foi a preparação para ser senador da República com mais de um milhão de votos? Inesperado. Penso que Deus usou as pessoas de bem, de bom coração, que queriam mudança e que queriam renovação. Não tenho dúvida de que houve aí algo muito transcendental, o que aumenta a minha responsabilidade de fazer o que é certo e me dedicar no limite das minhas forças, como ensina a questão 642, de O livro dos espíritos. Nunca tinha sido candidato a nada, nem a síndico de prédio, e acabei senador eleito pelo Estado do Ceará, terra de doutor Bezerra de Menezes, o grande político humanista, em quem muito me espelho e longe do qual estou a anos-luz. Estou entusiasmado, com muita vontade de acertar.

do nas suas atitudes as verdades que conhece da relação entre os mundos espiritual e material, da vida após a morte. Tudo com paciência, respeito, compreendendo cada um como sendo um filho de Deus, um irmão em Cristo. Por mais que tenham um passado de erros, temos que acreditar no ser humano e não julgar. Meu objetivo é servir, mas também me melhorar. Saber ouvir, tentar tocar o coração dessas pessoas sobre algumas pautas, que pensamos diferente, tentando levar outro olhar sobre algumas questões e lembrando que estamos plantando algo do qual depois iremos sofrer suas consequências. É preciso tentar fazer a diferença, posicionando-se com coragem e não abrir mão de certos princípios. A guerra é espiritual, ela não é entre os homens, não é material. No Congresso Nacional, a energia é densa, de muitos interesses. Conto com as vibrações positivas de todos, para que tenhamos cada vez mais próxima a Regeneração e que o Brasil se torne o coração do mundo, a Pátria do Evangelho.

Como espírita, em que o senhor se diferenciou na sua campanha? Combatemos o bom combate, dentro da ética, dentro dos nossos princípios e valores durante a campanha. Apesar de ter visto os que queriam ganhar a todo custo, e mesmo sabendo da dificuldade que seria uma eleição dessa, em que todos diziam que eu deveria mostrar as falhas do outro lado, ser mais agressivo, eu disse: se for para ganhar assim, prefiro não ganhar. Vamos trabalhar com a nossas armas, com ética, serenidade. Se tivesse que acontecer, a espiritualidade colocaria a mão.

Como o senhor avalia a participação dos espíritas na política? Já tivemos grandes parlamentares espíritas no Brasil: Eurípedes Barsanulfo, Freitas Nobre, Cairbar Schutel, Bezerra de Menezes, muitos nomes que são referências e que foram também passíveis de erros, como todos nós. É uma grande prova e a gente procura se espelhar nesses grandes homens de bem que por aqui passaram, tentando enfrentar nossas limitações e imperfeições, refletindo sobre o que Jesus faria em algumas situações. Vivemos um momento muito importante, tempos realmente de grande renovação.

Que diferença pode fazer um espírita no Senado? Colocar em prática aquilo que já sabe e acredita, sem querer doutrinar ninguém. Sem querer ser dono da verdade, retratan-

Como conciliar ideais políticos pessoais com as direções partidárias? Vejo isso de forma muito tranquila, porque é bom ouvir um grupo partidário, estar numa agremiação, mas jamais vou abrir mão da


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minha liberdade, dos valores, dos princípios que me norteiam. Acredito também que é importante ter candidaturas avulsas, independentes. Você não precisa entrar em partido para disputar uma eleição. Isso é muito democrático, já acontece em outros países, um avanço no meu ponto de vista. Já tentei fundar com um grupo de pessoas de São Paulo, do Nordeste e de outros estados um partido político, o PAZ, dedicado a ativistas da paz, pela vida. Quem sabe esse partido possa ocorrer nos próximos anos. Como a bancada do Senado tem visto o senhor, como espírita? As pessoas me respeitam muito. Não sou de ficar me rotulando ou rotulando algum colega porque é evangélico ou católico. Procuro colocar na prática o que a gente acredita, e alguns deduzem, perguntam qual a minha religião e aí eu digo. Muitos

Logo nas primeiras sessões do Senado deste ano, o senhor conseguiu paralisar a pauta de aprovação do aborto no Brasil. Quais os próximos passos? Tivemos a bênção de resgatar a Proposta de Emenda à Constituição da Vida (nº29, de 2015), que coloca como cláusula pétrea que o direito à vida é inviolável ‘desde a concepção’. Esse complemento acaba judicialmente com as tentativas de se legalizar o aborto. O povo brasileiro já disse que os valores dele são contra o aborto. E nós estamos aqui para legislar. Será uma grande conquista para que o Brasil não manche a sua linda bandeira com o sangue de inocentes, e de mulheres, porque no aborto não é apenas a criança que é vítima, que é assassinada, mas também a mulher, que fica com traumas, de ordem mental, psicológica, emocional e física. Com propensão a crises de depressão,

Estamos vivendo um problema grave de crise política, econômica e social, mas a mãe de todas crises é a crise moral” até acham que sou de outra corrente religiosa, porque falo muito em Deus e em Jesus e essa ousadia está mais marcada de uma forma pública pelos evangélicos. É muito interessante esse relacionamento e acho que temos que andar juntos, católicos, evangélicos, espíritas, budistas. Temos que ver o que nos une, ampliar as nossas convergências. O aborto não foi legalizado no Brasil graças a essa união. Como se tornou um ativista a favor da vida? O assunto do aborto e das armas de fogo me tocaram profundamente a alma em 2003, depois de contatos com parlamentares, pela curiosidade de saber como poderia ser essa defesa da vida. Então me senti chamado para servir. É muito bacana isso, a oportunidade de aprendizado, de participar de marchas, de fazer filmes, de fazer documentários, peças de teatro, palestras, seminários. Isso foi me trazendo muita luz, conhecimento, motivação para levar para as pessoas um outro olhar.

ansiedade, a maior envolvimento com álcool e drogas e até o suicídio. Qual sua análise sobre o momento atual do Brasil? Houve uma grande transformação no Congresso, especialmente no Senado. É um momento riquíssimo. Mas ao mesmo tempo muito delicado, porque não podemos transformar Brasília em uma ‘Bastilha’. Os poderes estão sendo investigados. Há uma demanda da sociedade brasileira. São denúncias robustas. E o único poder que tem a prerrogativa para fazer isso é o legislativo através do senado. Estamos vivendo um problema grave de crise política, econômica e social, com 13 milhões de desempregados. Mas a mãe de todas crises é a crise moral e essa deve ser debelada prioritariamente. Como os espíritas podem participar mais ativamente na condução das pautas político-sociais e econômicas do Brasil?

Pelos conhecimentos que possui da encarnação, da comunicação com os Espíritos, da pluralidade das existências, dessa relação do mundo espiritual e material, causa e efeito. Os espíritas têm papel fundamental na condução do país. Acho que nós tivemos algum problema em outras vidas por utilização equivocada no poder e do dinheiro e hoje a gente fica muito receoso de errar de novo. Penso que o espírita tem que participar da política. Não podemos nos omitir. O estadista, Edmundo Burke (1729-1797) tem uma frase bastante interessante: “Para que o mal triunfe, basta que os bons cruzem os braços”. Platão, antes de Cristo, também disse que “o destino das pessoas boas e justas que não gostam de política é serem governadas por pessoas não tão boas e não tão justas que gostam de política”. É um convite ao serviço, a fazer a caridade em maior escala através da política humana, uma grande oportunidade. A gente sabe do trabalho que os espíritas têm desenvolvido nas outras áreas sociais, no terceiro setor. Chegou a hora de entrar na política, com coragem e responsabilidade, não focando em nichos espíritas para se eleger, mas em colocar as ideias aos diversos públicos. Num exercício de visão de futuro, o que o senhor pretende ter realizado ao final do seu mandato? Peço a Deus que depois desses oito anos eu possa ter cumprido tudo que eu puder fazer no limite das minhas forças. Tudo o que você planta, você colhe. Que eu possa entregar uma sociedade mais justa, mais fraterna para nossos filhos e netos, mais espiritualizada, com menor desigualdade, com princípios, valores definidos, as pessoas com maior despertar de consciência nesses debates, com novas leis. Espero corresponder a toda essa generosidade da espiritualidade e à confiança em mim depositada. Que tenhamos sabedoria, saúde, discernimento e vontade de fazer o que tem de ser feito. E, daqui a oito anos, que eu possa voltar para minha família, para uma atividade de bastidores, dentro do meu tempo, com liberdade. Mas até lá, quero entrar de cabeça, me dedicar nesses anos importantes da minha vida. Tenho 46 anos. Se Deus permitir, com 54 anos poderei fazer outras reflexões da vida, outros trabalhos também. O Brasil precisa de muitas orações a seus governantes e ministros. Com amor, trabalho e fé, vamos chegar lá. Assim espero.

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LIVROS & CIA. IDE Editora Telefone: 19 3543-2400 www.idelivraria.com.br Eurípedes, o homem e a missão de Corina Novelino 320 páginas 14x21 cm

Edições Léon Denis Telefone: 21 2452-1846 www.edicoesleondenis.com.br Liberdade e renovação de Léon Denis 128 páginas 13,5x19 cm

Independa Editora Telefone: 19 2146-1672 www.independa.com.br Um elefante na sala – família e dependência química de Paulo Campos Dias 184 páginas 14x21 cm

Correio Fraterno Telefone: 11 4109-2939 www.correiofraterno.com.br/loja O exílio de J. W. Rochester (espírito) psicografia de Arandi Gomes Teixeira 496 páginas 16x23 cm

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LEITURA

Uma percepção da vida no plano espiritual Por SÔNIA KASSE

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livro No vale das paixões, de José Evaristo (espírito) e psicografia de Helerides Loesch Rojas, publicado pela editora Correio Fraterno, transita entre a vida terrena e a vida no plano espiritual, em que trabalhadores espirituais amorosos acompanham incansavelmente a trajetória de pessoas que necessitam da ajuda e intervenção de tão valorosos benfeitores espirituais. Neste cenário encontram-se os casais Madalena e Otaviano, Pedro e Violeta personagens de uma trama desastrosa e ardilosa, cujo desenrolar caminha para trágicos acontecimentos. Viajando entre o mundo terreno e o espiritual, vamos encontrar espíritos empenhados em resgatar os desencarnados que se encontram ofuscados pelo sofrimento e sentimentos de ódio, vingança, hostilidade, orgulho e tantos outros que dificultam sua reabilitação no plano espiritual. No vale das paixões, lugar onde o clima é tenso, a escuridão e a desolação dominam, os espíritos que lá estão ainda são subjugados por paixões terrenas que os aprisionam e os impedem de soltar as algemas que os mantém enclausurados nesse lugar. Pouso Alegre, lugar destinado a primeiros socorros de espíritos equilibrados, aptos à reabilitação e prontos a assumirem as

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tarefas que lhes serão destinadas. A Mansão Azul, casa de repouso espiritual, localizada próxima à zona hospitalar da Terra e que também acolhe espíritos resgatados que são atendidos com muito amor. O local tem lindos jardins, com flores que diariamente são acariciadas pelo sol que as mantém sempre belas e radiantes. A Colônia Irmão Agostinho abriga espíritos que buscam ampliar seus conhecimentos e aumentar seu entendimento sobre tantos outros assuntos, revertendo esse aprendizado em benefício do próximo. Circulando entre as diversas moradas, o enredo vai sendo construído,. Espíritos de luz se unem em oração e prece para irradiarem energias positivas tanto aos encarnados quanto aos desencarnados. E, nesse movimento, todos os segredos da vida dos personagens vão se revelando, passado e presente se manifestam e a verdade dos fatos surge como bálsamo reconfortante. Leitura interessante, que facilita a compreensão das diversas atividades exercidas no plano espiritual e a incessante luta dos irmãos que lá estão em auxílio dos que precisam.

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BAÚ DE MEMÓRIAS

O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br. DO LIVRO O IMORTAL CAIRBAR SCHUTEL, DE DAVID LIESENBERG

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O imortal

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Cairbar Schutel Por SONIA L. BERGMAN 3 2

1 - Farmácia Schutel. Cairbar, na foto, ladeado por dois companheiros 2 - Ao túmulo de Cairbar, a sua conviccão: “Vivi, vivo e viverei, porque sou imortal” 3 - Cairbar com 9 anos de idade (Acervo O Clarim)

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quele jovem que no ano de 1885, na então Capital do Brasil, o Rio de Janeiro, observava o mapa da estrada de ferro para escolher seu destino no estado de São Paulo por certo não imaginava que ainda hoje, em 2019, seu nome seria citado como O Imortal! O Bandeirante do Espiritismo, O Apóstolo de Matão, O Pai da Pobreza, muitos foram os nomes dados a Cairbar de Souza Schutel e muitas são as instituições que levam o seu nome. Mas quem é Cairbar e por que O Imortal? Órfão aos nove anos de idade, desde cedo ele mostrou-se à frente do seu tempo. Inteligente, não se adequou ao sistema de ensino da escola. Aprendeu francês com o avô, foi

aprendiz de farmácia e exerceu a profissão por toda a vida. Talvez ele pressentisse que a vida lhe exigiria, bem rápido, cuidasse de si próprio. Com a mãe, aprendeu a orar; católico, só encontrou respostas para as questões que o instigavam na doutrina dos espíritos, que passou a estudar e a divulgar. Na pequena cidade de Matão, interior de São Paulo, ele se estabeleceu como farmacêutico respeitado, vindo a ser eleito entre os seus vereadores como o primeiro intendente. Lá enfrentou a ira dos padres que não queriam que as ideias espíritas proliferassem. Diante das portas fechadas dos jornais, resolveu lançar seu próprio meio de comunicação, o jornal O Clarim, que neste ano completa 114 anos, ainda em atividade.

Amado e respeitado por seus companheiros, Cairbar sabia como ninguém que o líder é o primeiro a dar o exemplo e o último a descansar a enxada. Ainda hoje, aqueles que conviveram com ele se apressam em dizer o quanto era nobre e gentil e como impunha respeito e admiração. Até mesmo os padres acabavam por se render à sua irresistível integridade. Além de farmacêutico que atendia a todos – os que podiam e os que não podiam pagar –, Cairbar visitava as famílias nas localidades rurais, os presidiários. Além de editar e distribuir O Clarim, dirigia o grupo espírita, escrevia livros, mantinha comunicação com estudiosos no exterior, fazia palestras e sonhava com a edição de uma revista para abordar temas da ciência espírita veiculados pelos periódicos europeus e americanos. Foi assim que ele iniciou a Revista Internacional do Espiritismo, em 15 de fevereiro de 1925. Mais tarde, ainda vê no rádio um bom veículo para a divulgação do seu tema favorito: a imortalidade da alma! Muitos eram os sinais de sua inquestionável humanidade, mas talvez o respeito e o amor com que tratava os animais, numa época em que nem bem as crianças eram valorizadas, seja o mais doce de todos eles. Antes de ele próprio se alimentar, garantia que seus irmãos menores estivessem alimentados. Chegou a comprar um cavalo velho e cansado apenas para aposentá-lo.

Em 30 de janeiro de 1938, depois de curto prazo de enfermidade, Cairbar retorna à Pátria Espiritual para dar continuidade às suas intensas atividades, não sem antes deixar o testemunho da sobrevivência do Espírito para os companheiros de lutas. Manifestando-se através do médium Urbano de Assis Xavier, durante o velório de suas vestes materiais, consola e anima os amigos e sugere simplicidade para a última morada do corpo físico, onde pede conste do seu epitáfio: “Vivi, vivo e viverei, porque sou imortal.” Hoje o espiritismo é amplamente conhecido e raro é o lugarejo no Brasil que não tenha um centro espírita. Talvez, por isso, seja tão importante lembrarmos a história e os atores deste direito que a duras penas e grandes embates se conquistou. O espiritismo que nasceu na França floresceu no Brasil com o trabalho árduo de dedicadas mãos, que sob fortes intempéries souberam vencer dificuldades e de maneira determinada abriram as picadas mata adentro. O Bandeirante do Espiritismo é um desses, cuja história acaba de ser tão bem retratada pelo jornalista e historiador David Liesenberg, em seu livro O Imortal Cairbar Schutel1. Uma história rica, de uma vida bem vivida e dedicada ao bem, que inspira pelos seus exemplos e faz crescer a esperança no coração de quem o lê. Editora IDE, 2018.

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ESPECIAL

Kardec no cinema

Os bastidores, as críticas e as repercussões

O

mês de maio foi marcado pela estreia, no dia 16, do filme Kardec, a história por trás do nome nos cinemas do país. Sob o comando da Sony Pictures e da Conspiração Filmes, a produção de R$ 9 milhões levou nas primeiras duas semanas de lançamento mais de meio milhão de pessoas para assistir à história do educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (18041869), reconhecido depois como Allan Kardec. Protagonizado pelo ator Leonardo Medeiros (Allan Kardec) ao lado de Sandra Corveloni (Amélie Boudet), o roteiro de Wagner de Assis e L.G. Bayão optou por um recorte na trajetória de Kardec, do período em que atuava como educador, passando pela investigação dos fenômenos, pelo processo de codificação da doutrina espírita, até a publicação e repercussão de O livro dos espíritos. A divulgação contou com a exibição prévia em cabines para grupos, espíritas e não-espíritas, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. O filme mereceu destaque em di-

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Por ELIANA HADDAD versos órgãos de imprensa, cujos articulistas demonstraram o que há de melhor na apreciação de qualquer arte, dentre as quais o cinema: a liberdade da crítica. (veja quadro). Até o fechamento desta edição (30/5), o filme estava sendo exibido em 433 salas e já havia arrecadado cerca de 7 milhões de reais, liderava o ranking das estreias nacionais e se posicionava em quarto lugar no quadro geral de lançamentos. Kardec chamou a atenção, surpreendeu, emocionou, gerou curiosidade, incentivou leituras, despertou estudos e pesquisas sobre o universo espírita. O assunto pautou a mídia digital e comentários não faltaram nos órgãos de imprensa de todo o país e até do exterior. Segundo Wagner de Assis, um dos maiores desafios para se retratar Kardec nas telas foi mostrar um homem comum de seu tempo, com suas dúvidas e inseguranças, coragem e decepções. “A humanidade de Kardec é uma vacina contra o fanatismo”, observa. Uma das cenas interessantes do filme e que causou surpresa foi a passagem de Kardec por uma detenção na

delegacia. Segundo Assis, há fontes seguras que confirmam a existência de documentos que comprovam essa e outras passagens, envolvendo fatos até então desconhecidos. Para a produtora Eliana Soarez, da Sony, todo o processo foi uma grande surpresa. “Tivemos muitos desafios, o filme é de época, em uma Paris que já não existe mais, o elenco e equipe foram uma escolha muito acertada, está tudo na tela. A atuação dos atores impecável, os figurinos de época, a arte e fotografia lindas, efeitos especiais irretocáveis. É um filme para se ver com calma, apreciar, se envolver, se divertir e se emocionar”, observa. Depois de adaptar a trajetória de Kardec para o cinema, Wagner de Assis e Marcel Souto Maior lançam o livro Kardec: a história por trás do filme (Record), relatando os desafios e emoções do processo de produção da cinebiografia. “Todo o processo foi muito emocionante e precisa ser registrado”, revela Marcel. “Nunca vou me esquecer do dia em que vi “Kardec” pela primeira vez, já na pele


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do ator Leonardo Medeiros. Foi no dia das filmagens do lançamento de O livro dos espíritos. Eu estava de pé, em um salão típico da França do século 19, quando ele se aproximou de mim, me encarou sério e estendeu a mão. – “Como vai?”, perguntou e eu mal consegui responder. Dias depois, já mais relaxado, brinquei: “Eu deveria ter aproveitado o encontrado para perguntar o que ele achou

da biografia e se queria que eu fizesse alguma mudança. A sensação que tive foi a de que Kardec estava mesmo vivo, 150 anos depois de sua morte’, conta Marcel. Wagner de Assis compartilha na primeira parte do livro crônicas escritas no dia a dia das filmagens, e Marcel Souto aborda na segunda parte o processo de desvendar Kardec. Ao final, uma conversa entre os dois sobre espi-

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ritualidade, cinema e projetos futuros. A obra conta ainda com um catálogo de imagens dos bastidores do longa. Sabe-se que muitos documentos sobre Kardec ainda virão ao conhecimento público, depois de várias pesquisas que já estão sendo realizadas sobre acervos inéditos. O jeito é aguardar. A história de Kardec e do espiritismo continua.

O que disse a imprensa Destaque na atuação É notável ver a atuação consistente de Leonardo Medeiros no papel de Rivail/Kardec e como sua postura séria combina com a trajetória de evolução de seu personagem (...). Kardec é uma biografia que exprime bem o tom da época em que a história aconteceu e entrega de fato todas as informações para entendermos quem foi o homem que criou a doutrina espírita. Barbara Demerov – AdoroCinema Tom solene A Paris do século 19 é reconstituída de modo cuidadoso e requintado na recriação da trajetória do professor, escritor e tradutor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), conhecido como Allan Kardec. Mas a dimensão humana buscada sai arranhada pelo tom solene de muitas situações. Sérgio Rizzo – O Globo Manifesto atual Comparativamente, Kardec é uma obra-prima – pelo menos de produção. Visual apurado, certa fluidez do relato. Certa porque Assis não evita um tanto de solenidade. Kardec tem diálogos que beiram o pronunciamento. (...) O importante é que o espectador não precisa ser espírita para assistir ao filme. O filme pode ser visto como um manifesto em defesa da liberdade – de expressão e investigação. Um manifesto em defesa da caridade. Numa França devastada pela miséria, Rivail/Kardec ousou defender a solidariedade com o próximo desvalido, outro ponto de contato com o Brasil atual. Luiz Carlos Merten – O Estado de S. Paulo

Estado laico Das recentes produções sobre espiritismo no cinema nacional, Kardec talvez seja a mais palatável a leigos e religiosos. A história é uma bela amostra de que é possível falar de Estado laico ao mesmo tempo em que se mostra, de maneira poética, uma religião. Clara Campoli - Metrópoles Sob o olhar de Amélie “Ter coragem para mudar o mundo ou aceitar as coisas como elas são”. Foi assim que o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail pediu dispensa da escola em que trabalhava na França dos anos 1800 por não aceitar as imposições da Igreja Católica no sistema educacional da época. Um dos destaques da obra é para a representação da esposa de Kardec, Amélie Gabrielle Boudet, interpretada pela atriz Sandra Corveloni. O perfil dela ganha espaço no longa com detalhes sobre a influência dela no olhar do protagonista. Marília Sena – Jornal de Brasília Filmaço para todos Kardec é um filmaço e deve ser assistido por todos, independente da religião. Obviamente, Kardec é impulsionando como ‘filme religioso’, um filão cada vez mais pulsante ao redor do mundo. E aqui temos como figura central a imagem de um homem responsável pela fé e espiritualidade de milhões de pessoas pelo planeta. Allan Kardec, independentemente de qualquer outro fator, é uma personalidade icônica, e retratá-lo da forma correta era imprescindível. Jonas Laskouski – Se liga! Discurso altruísta e amoroso O filme tem todos os atributos de um longa fictí-

cio imponente: fotografia, direção de arte, figurinos e locações, todos cuidadíssimos, além do uso de efeitos visuais eficientes. O roteiro multifuncional de L.G. Bayão é a liga certa, ao construir a jornada do questionador que se vê dono das respostas; o homem comum que encara a fúria do povo de peito aberto, rebatendo fake news do século retrasado. Kardec tem o coração e a alma no lugar certo, e garante com honestidade um discurso altruísta e amoroso, muito necessário – cada vez mais – atualmente. Pablo Mazarello – Cinepop Didatismo O espiritismo ganhou a forma que conhecemos hoje porque o professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail decidiu investigar o fenômeno das ‘mesas girantes’, que tomava conta de Paris no século 19. (...) A tática que Kardec criou para provar que estava falando com os espíritos é apresentada no filme como uma prova científica irrefutável.O filme também não deixa de fora a importância que a sua mulher, Amélie-Gabrielle Boudet, teve para a sua vida. (...) O roteiro é demasiado didático, há vários momentos piegas (como quando um mendigo se suicida), além de uma trilha sonora dramática. Há pontos positivos, como as locações feitas em Paris e a reconstituição de época, com figurinos e cenários convincentes. Felipe Branco Cruz – UOL Informações: Para ver as salas disponíveis, acesso em https://movieid.ingresso.com/ kardecfilme e https://bit.ly/2McYJqD. Para solicitar exibição em cidades ainda fora do circuito ou obter condições especiais para grupos: e-mail grupos@kardecfilme.com.br ou whatsApp (11)98912-9798 (Magali Bischoff /Zook Comunicação)

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VOCÊ SABIA?

O reverendo e o desligamento do espírito Da REDAÇÃO

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ão inúmeros os relatos de videntes que assistem ao desprendimento do perispírito na hora da morte. O Reverendo Willian Staiton Moses, ministro da Igreja Anglicana e médium psicógrafo inglês, viu esse fenômeno algumas vezes. Dias antes do desenlace de um parente ele se dedicou a observá-lo. Isso se deu no ano de 1887. Dizia que era a terceira vez que tinha o ensejo de estudar o processo de transição do espírito, e que se sentia feliz de poder ser útil, narrando o que via. O senhor estava com 80 anos e, embora não estivesse bem, não era portador de nenhuma doença em especial. Moses narra que auxiliado pelos seus sentidos espirituais, viu que ao seu redor e sobre ele uma aura luminosa, que aumentava rapidamente de volume e densidade, apresentando variações de acordo com as oscilações que experimentava a vitalidade do doente.

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Narra que “às vezes, um simples alimento ingerido ou mesmo o influxo magnético desprendido por alguém que se aproximava era o bastante para animar momentaneamente o corpo, parecendo determinar um revigoramento dos laços que prendiam o Espírito a ele, o que se refletia na aura, imprimindo-lhe movimento semelhante ao de fluxo e refluxo”.

Diz o reverendo que observou o fenômeno durante doze dias, embora ao sétimo dia percebesse sinais da partida iminente do espírito. A flutuação de vitalidade espiritual, em via de se exteriorizar persistia. A cor da aura, pelo contrário, havia se modificado, além de ir tomando forma mais ou menos definida, à medida que se aproximava o momento da libertação do espírito.

Somente 24 horas antes do falecimento, quando já o corpo jazia inerte, foi que ele viu aparecerem os espíritos-guias, que se aproximaram e sem qualquer esforço ajudaram o espírito a se desprender do corpo esgotado. Ao mesmo tempo que isso se dava, os assistentes ali presentes constatavam a morte do corpo físico. O pulso e o coração não davam mais sinal de vida. A respiração não mais embaçava o espelho, mas os cordões magnéticos ligavam ainda o espírito ao corpo, e, assim, permaneceram durante 86 horas. Os cordões afinal se romperam e os traços do corpo físico que ali jazia, nos quais até então se liam os sofrimentos curtidos, serenaram completamente, tomando uma expressão inefável de paz e de descanso.” Baseado no livro Metapsíquica humana. Ernesto Bozzano, 1980, FEB.


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ENSAIO

Yvonne Pereira De Portugal do século 19 a Pedro Leopoldo Por JÁDER SAMPAIO

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o perder o trem para Pedro Leopoldo, MG, por volta de 1950, o médium Peixotinho acabou parando na casa de Elvira Soares (a conhecida Irmã Ló do movimento espírita mineiro)1, pedindo pernoite. Sem antes saber que ela estava doente, Peixotinho permaneceu alguns dias e a curou de um câncer de pulmão, depois de algumas sessões de efeitos físicos, o que marcou o casal e fez com que dessem sua própria residência, após a morte para criar um centro espírita. Fico imaginando também como teria sido uma outra viagem de trem, que aconteceu nos anos de 1955-1956. Narrada por Pedro Camilo2, o percurso entre a capital mineira a Pedro Leopoldo era geralmente percorrido por trem de passageiros. A estação ainda está preservada, na cidadezinha próxima de Belo Horizonte, mas só recebe trens de carga. O de passageiros parou de circular entre as duas cidades em 1980. Eram tempos diferentes, em que a lentidão dos deslocamentos e o alto custo dos meios instantâneos de comunicação exigiam que os visitantes de fora fossem recebidos na sala de estar e que, entre cafés e quitandas, pudessem se dar ao diálogo e participar de algum modo da intimidade do anfitrião. E é na sala de estar de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, que vamos encontrar Yvonne Pereira e Esmeralda Bittencourt, amiga do médium mineiro “que havia perdido dois filhos em circunstâncias trágicas”. O pequeno trecho sobre essa visita narrada por Pedro Camilo não diz como, mas Chico recebe duas comunicações mediúnicas, uma para dona Esmeralda e outra para sua recém-conhecida Yvonne. Teria se recolhido ao interior da casa para escrever os ditados espirituais? Haveria alguma reunião doméstica, das que foram sendo substituídas com o tempo e com as recomendações dos órgãos federativos, pelas reuniões mediúnicas nas sedes dos centros espíritas?

FONTE: EXPOSIÇÃO 100 ANOS DE CHICO XAVIER. DO ARTISTA PLÁSTICO NAPOLEÃO FIGUEIREDO.

Yvonne Pereira e Chico Xavier: o encontro de dois grande médiuns Também não sei dizer. O fato é que os papéis de dona Esmeralda davam notícias de um de seus filhos desencarnados. Yvonne, a nova amiga, recebeu também uma comunicação. Era um soneto de Antero de Quental, poeta português. Antero de Quental (1842-1891) era um dos escritores portugueses do século

19 que também procurou a pena de outros médiuns, como Fernando de Lacerda, para falar do além-túmulo aos vivos. Quental é mais um dos filhos do século 19, cuja falta de sentido na vida e talvez uma psicose severa, agravadas pelo “mal do século”3 levaram-no ao suicídio. O poeta diz a Yvonne que “quando se deu seu suicídio [da médium] em Lisboa,

ele era mocinho e recorda muito dos comentários da sociedade, a esse respeito.”4 A médium fluminense reconheceu como verdadeira a comunicação, após verificar o período em que viveu Antero de Quental. Após essa narrativa, fiquei pensando sobre os livros que trazem as biografias de Yvonne. No livro O drama da Bretanha, ela, encarnada como Andrea de Guzman, desencarna na França, possivelmente na primeira década do século 19, data em que Antero ainda não havia reencarnado. Na obra Leila – a filha de Charles, ditada pelo espírito Arnold de Numiers, ela desencarnaria em Portugal, jogando-se no Tejo, alguns anos depois da data de 1879, citada pelo autor como o início da trama5. Alguma data está equivocada nos livros, porque Antero teria mais de quarenta anos, se seguirmos a cronologia de Arnold de Numiers, e não poderia ser considerado tão ‘mocinho’. Isso não diminui, no entanto, o valor do livro Leila – a filha de Charles como bela homenagem a toda a literatura escrita por Yvonne Pereira sobre suas vidas passadas ao longo de sua última encarnação. Importante recuperação, também, realizada por Pedro Camilo sobre o encontro dos dois grandes médiuns brasileiros do século 20, tendo a revelação mediúnica de Antero de Quental como marca importante desse momento especial. 1 Para conhecer essa história, leia em: https://espiritismocomentado.blogspot.com/2008/11/grupo-da-fraternidade-irm-l.html 2 Pedro Camilo. Yvonne Pereira, a heroína silenciosa. Lachâtre, 2010. 3 Crise de crenças e valores desencadeada na Europa do século 19. 4 Pedro Camilo. Yvonne Pereira, a heroína silenciosa. Lachâtre, 2010. 5 Cf. Arnold Numiers. Leila – a filha de Charles. Psicografado por Denise Corrêa de Macedo. EME, 2018.

Jáder Sampaio é escritor e editor do blog Espiritismo Comentado e membro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo. www.correiofraterno.com.br


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CULTURA & LAZER

Ciclo de Palestras em Araçatuba Começa no dia 7 e vai até 28 de junho o ciclo de palestras a ser realizado na cidade de Araçatuba, SP, que comemora os 70 anos de fundação da Aliança Espírita Varas da Videira. Participação de Pedro Bonilha, Luiz Carlos Barros, Ismael Gobbo, Tatto Savi e Jane Maiolo. Locais: Varas da Videira: Rua Bernardino de Campos, 363 e Casa da Caridade, Rua Péricles Pimentel Salgado, 1010, Umuarama. Apoio: USE Intermunicipal Araçatuba. www.facebook.com/pages/ Alianca-Espirita-Varas-da-Videira/1608017746190276.

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Jornada Espírita em Mato Grosso JUN Será realizado em Sinop, MT, de 14 a 16 de junho, a Jornada Espírita do Norte do Mato Grosso, com o tema: “Libertação pelo amor”. Local: Centro de Eventos Dante Martins de Oliveira. Cidade Jardim, Sinop, MT. Participação de: Divaldo Franco, Raul Teixeira, Geraldo Campetti, Jacobson Trovão, Jorge Elarrat, Juan Danilo. Realização: Federação Espírita do Estado de Mato Grosso. www. mtespirita.com.br/eventos/ jornada-espirita-do-norte-sinop.

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Mednesp em Terezina De 19 a 22 de junho será realizado em Terezina, PI, o Congresso da Associação Médico-Espírita do Brasil - MEDNESP 2019, com o tema “A evolução da espiritualidade na prática médica: ampliando conceitos e vencendo paradigmas”. Cinco auditórios receberão simultaneamente 135 palestrantes e contará com mais de 350 palestras. O evento conta também com o Seminário Internacional, que tem por finalidade a ênfase na pesquisa de Ciência e Espiritualidade. Local: Centro de Convenções Atlantic City Eventos. Av. dos Expedicionários, 940. São João, Teresina, PI. www. mednesp2019.com.br.

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Simpósio FEESP 2019 Dia 29 de junho, das 9:00 às 17:30h, acontece no auditório Bezerra de Menezes da Federação Espírita do Estado de São Paulo o 1º Simpósio FEESP de 2019, com o tema: “Família, Encontros e Reencontros”. Local: Rua Maria Paula, 140, Bela Vista, São Paulo. Participação: Alberto Almeida, Mayse Braga, Vilson Disposti. www. feesp.com.br/primeiro-simposio-2019.

PASSATEMPO DO CORREIO

Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Faça a correspondência entre os dados das duas colunas e descubra os enigmas Que pioneiro espírita é até hoje conhecido como o Médico dos Pobres? Em que ano Allan Kardec desencarnou? Do que desencarnou o médium de Sacramento, MG, Eurípedes Barsanulfo? Em que ano nasceu o médium Chico Xavier? Que médium psicografou uma série de livros de autoria de Joanna de Ângelis, que faz uma ponte entre a doutrina espírita e correntes modernas da psicologia? Que médium passou por estado de catalepsia e chegou a ser velado(a) quando bebê? Ele é considerado um dos escritores mais críticos e preocupados com os desvios e as mistificações na divulgação do espiritismo. Que médium sofreu problemas na visão e foi aprender a linguagem Braille para prosseguir com o trabalho na divulgação do espiritismo? Em que ano foi lançado O livro dos médiuns? Que mal acometeu o médium Jésus Gonçalves, levando a desencarnar em 1947?

Divaldo Franco

1861 Bezerra de Menezes Yvonne Pereira 1910

1869

Léon Denis

Hanseníase Gripe espanhola Herculano Pires

ENIGMA

Nas manifestações, como reconhecemos a qualidade dos Espíritos? qualquer hora, em qualquer lugar

Solução do Passatempo Veja em: www.correiofraterno.com.br

Resposta do Enigma: Pela linguagem. A dos espíritos superiores é sempre digna, nobre, lógica, concisa e isenta de contradição. Entre os Espíritos inferiores, o vazio das ideias é quase sempre compensado pela abundância das palavras. Má vontade, presunção e arrogância são sinais incontestáveis da inferioridade num Espírito. Allan Kardec, Introdução ao espiritismo - item 37

AGENDA

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Congresso Espírita em Uberlândia Acontece de 13 a 14 de julho, na cidade mineira de Uberlândia, o Congresso Espírita Léon Denis, sob o tema: “O problema do ser, do destino e da dor”. Local: Casa Garcia Eventos. Com a participação de: Adeílson Salles, André Trigueiro, Cosme Massi, Quincas Veloso, Simão Pedro, dentre outros. Realização: Grupo Espírita Léon Denis. www. sympla.com.br/congresso-espirita-leon-denis-de-uberlandia---mg__307993.

Relatório psicografado

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Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio


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ARTIGO

A cautela contra o

preconceito Por MIRIAM ZILLO

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reconceito é um comportamento que cria vários problemas práticos para o ser humano. Segundo Norberto Bobbio, filósofo e jurista italiano, “preconceito consiste em uma opinião errônea que é aceita passivamente, sem passar pelo crivo do raciocínio, da razão”. A precipitação e a prevenção também podem causar preconceito, uma vez que podemos fazer juízos apressados que não representam uma ideia distinta e clara do objeto em questão, e aí então, através de estereótipos, formamos opiniões e não verdades sobre pessoas, assuntos ou situações, tais como: “a filosofia é só para eruditos ou pessoas inteligentes” ou “os filósofos vivem divagando e sonhando”. Muitas vezes para romper as barreiras do preconceito é necessário abandonar a própria zona de conforto, trabalhando-se a tolerância e a aceitação em contraposição com orgulho e pseudoperfeição ou, ainda claro, a ilusão de superioridade. A opressão, assim como a inimizade entre grupos pode alimentar um sentimento preconceituoso, resultando em fanatismo. Daí resultando vários desastres sociais com funestas consequências. Na questão da filosofia, é importante lembrar que cada um de nós tem um testemunho individual no caminho da vida. E ela pode nos ajudar no entendimento nessa direção, ajudando-nos a pensar de forma liberta. O filósofo busca sempre um maior rigor lógico, a coerência dos raciocínios. E, ao conhecer com mais profundidade a história e o desenvolvimento do pensamento humano, acaba também por ser auxiliado para um melhor conhecimento de si mesmo e do universo que o rodeia. A filosofia também aprimora a arte de perguntar. Segundo Aristóteles, o homem tem mesmo necessidade de conhecer. Portanto, ela vai nascer desta necessidade, do espanto que o homem sentiu ao admirar

a natureza. Foi justamente através da observação sistemática que os filósofos da antiguidade grega deram início à construção do pensamento filosófico, estruturando um conhecimento metódico, racional e de investigação científica, eliminando as explicações mitológicas, fantasiosas e ilusórias. Mas as dúvidas continuavam e as perguntas também: É possível conhecer tudo? O conhecimento tem limite? O que o limita? A filosofia tradicional irá responder a esses questionamentos através de inúmeros filósofos desde o século VI a.C. Se nos reportarmos a O livro dos espíritos, na resposta da pergunta 10, leremos

que “a inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender (....), mas à medida que o seu senso moral se desenvolve, seu pensamento penetra melhor o fundo das coisas e ele faz, então (...) uma ideia mais justa e mais conforme com a razão, embora sempre incompleta”. E nós desenvolvemos o senso moral através de raciocínios lógicos, conhecimento e de uma vontade firme de aprender, combinada com a grande cautela quanto ao que se julga saber. A modéstia e a humildade são qualidades importantes naquele que escolhe o caminho da filosofia, ao estilo Sócrates: “Só sei que nada sei”.

Podemos afirmar que todos são capazes de filosofar, têm potencial para avançar em um conhecimento mais elaborado, rigoroso e metódico, deixando para trás a informação assistemática, restrita e popular do senso comum. Se O evangelho segundo o espiritismo nos orienta para nos amarmos e nos instruirmos, o caminho da filosofia nos permitirá chegar a esse objetivo, através do conhecimento e das reflexões que irão nos conduzir à Verdade, ao Amor, à Vida. A autora é Presidente do NEF - Núcleo de Espírita de Filosofia, São Paulo. www.correiofraterno.com.br


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FOI ASSIM

O corpo rejeitado Por LAURO F. CARVALHO

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ste caso se deu em Palmelo, GO, e foi pela década de 1950, quando as curas mediúnicas ali estavam no auge. Entre as centenas de pessoas que lá aportavam semanalmente, em busca do alívio para as doenças do corpo e da mente, chega a jovenzinha negra, Jozilda. Os familiares já estavam extenuados de tanto labutarem com o mal inexplicável. Sua doença? Desmaiava frequentemente, permanecendo inconsciente por dias. E foi assim que ela chegou ao centro, na sessão da tarde: conduzida nos braços. Acomodando-se a paciente inerte, concentraram-se os médiuns, sob a segura direção do sr. Jerônimo Candinho, presidente do centro. O quadro espiritual foi se revelando: um palácio imperial. Um casal de jovens e garbosos mandatários em estreito idílio. Poder, vaidades... e os abusos de uma sociedade prepotente e escravagista.

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Voa o tempo, mudam-se os quadros. Um dia, a morte, a separação. Padecimentos nas furnas astrais. Por fim, o reajuste indispensável, no instituto da reencarnação. Ela volta primeiro. Porém, agora não mais nas pompas palacianas. Não mais o físico exuberante; nada do que possa por em risco o programa retificador. Simplesmente uma donzela negra, sem atrativos nem riquezas, submetida à dureza da vida desde cedo. Mas o espírito soberbo não se conforma com tão brusca mudança. E o comparsa de outrora, acenando-lhe dos ouropéis estruturados nas telas mentais de ambos, arrebata-lhe o espírito, deixando desfalecido o corpo. Dá-se o tratamento espiritual, requerendo algumas sessões. O suposto príncipe incorpora-se primeiro, exaltado, exigindo explicações. É doutrinado e entregue aos mentores espirituais, a fim de ser encami-

nhado aos institutos retificadores do Espaço. A seguir, convocam a presença do espírito fugitivo da paciente. À custa de muita firmeza, ela é finalmente trazida, manifestando-se num dos médiuns de incorporação. E o diálogo surge, veemente. – Jozilda, você está me ouvindo? – interroga o dirigente. – Jozilda, não! – retruca asperamente o espírito incorporado. – Veja lá com quem está falando! Eu sou a alteza... – e anuncia os sonoros títulos que um dia ostentara. – Jozilda, sim... Deixe de petulância. Aceite a vida que tem e assuma suas responsabilidades! – Eu?! Viver nesse corpo aí? Nunca! Sou dama da nobreza! – Qual nobreza? Tola vaidade!... Não despreze o abençoado corpo que Deus lhe concede para aprender as lições da humildade e do trabalho digno! Submeta-se sem

demora e tome logo o seu corpo, vamos! Ante o imperativo da ordem e a vibração da corrente mediúnica, a médium estremece, ao mesmo tempo em que o corpo inerte à frente começa a dar sinal de vida. Mais um pouco e a mocinha é despertada. A doutrinação prossegue, no estado consciente dela, e o intricado problema dos desmaios inexplicados desaparece. É mais uma ‘rainha’ que perde sua coroa, e mais uma alma que se matricula na academia do Amor divino... Este caso foi narrado por Lauro F. Carvalho, que viveu muitos anos em Palmelo, GO. Em Brasília, em 1960, ele fundou o Sanatório Espírita de Brasília, e a Livraria e Distribuidora de Livros Espíritas Brasil Central.


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DIRETO AO PONTO

O gato e o passarinho Por UMBERTO FABBRI

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ogo de manhãzinha, Chico Xavier tomava o seu café e com as migalhas do pão alimentava alguns passarinhos que apareciam no jardim da sua casa. Não demorou, os pássaros se acostumaram à comida fácil e passaram a voltar rotineiramente. Um deles, particularmente, começou a se aproximar mais do médium, pousando inicialmente no batente da janela e, depois de certo tempo, passou a comer as migalhas em suas próprias mãos. Chico tinha muitos gatos, e um deles particularmente passou a observar mais atentamente a cena, que se repetia todos os dias. O passarinho foi ficando gordo e o gato observando. Em uma manhã de sábado, o passarinho estava próximo do Chico e o seu gato saltou e abocanhou o pobrezinho. Chico correndo de um lado, o gato de outro, e todas as tentativas de apanhar o gato foram infrutíferas. A natureza venceu. O médium ficou desolado e abatido com a situação. Recolheu-se em seu quarto e quando chamado para o almoço, desculpou-se e disse que não estava com apetite. Para o lanche da tarde, ele também se esquivou e quando perguntado se ia ao

centro, disse que talvez não fosse, porque estava se sentindo muito abatido. Com muita insistência, acabou aceitando um prato de canja de galinha. Quando terminou a refeição, Emmanuel apareceu. E perguntou: – Posso saber o que está acontecendo por aqui? Como se não soubesse! Espíritos evoluídos sabem do que se passa conosco, porém, mostram a sua humildade até nesses

momentos, fazendo uma pergunta simples, demonstrando desconhecimento, até mesmo para não nos ferir. – O senhor não sabe? – perguntou Chico. – Não! Se soubesse, não estaria perguntando. – Um dos meus gatos matou e comeu um passarinho que vinha comer em minhas mãos todos os dias, pela manhã. Isso me deixou muito abatido e triste. – Interessante Chico, como é a natureza.

Eu acabei de ver alguém tomar canja de galinha e até chupar ossinhos de frango, sem nenhum constrangimento, e no entanto, o seu gato não pode comer um passarinho? – Levante-se. Vamos trabalhar! Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor dos livros O traficante, Amor e traição e Pecado e castigo, (ditados por Jair dos Santos) e O político (por Adalberto Gória), ed. Correio Fraterno.

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MÍDIA DO BEM

Idosa faz sucesso na internet ao oferecer mudas de acerola em sua varanda

Artista plástica cria robôs com resto de material descartado

Como inserir poucos (mas bons) hábitos em sua rotina

A partir de um gesto simples – a doação de mudas de acerola –, dona Maria de 86 anos, moradora de João Monlevade, MG, tem transformado a sua vida e a rotina de quem passa pela sua varanda no bairro. Acomodadas em caixinhas de leite ou suco, as plantinhas ficam dispostas no local acompanhadas de um recadinho convidativo: “Mudas de acerola, pode pegar! Presente de D. Maria”. Quem tiver sorte pode encontrar ainda a própria Maria Linhares na varanda e ser convidado para uma prosa. Bárbara Linhares publicou a cena em seu Instagram e a postagem rapidamente atingiu quase 14 mil curtidas e mais de 1.500 comentários.

A artista plástica Mônica Turato encontrou um jeito diferente de ajudar o planeta, transformando restos de material em peças únicas e carismáticas. O resultado deu vida ao projeto “Robôs Adoráveis”, que recebeu exposição em Balneário Camboriú. A ideia de recolher o material descartado na construção civil surgiu há três anos, quando veio de São Paulo para Itapema-SC. “Passei a guardar tudo que via pela frente: separador de ferro, pedaço de madeira de telhado, mangueira, serra, ferro, pregos, mangueiras de água, entre outros”, explica. Materiais resistentes como metal e plástico, que chegam a demorar mais de meio milhão de anos para se decompor na natureza, ganham um novo destino com menores consequências ao meio ambiente.

Pequenas atitudes são capazes de transformar um hábito, um pouco por dia. Por isso, reunimos algumas dicas simples de como inserir boas práticas em sua rotina e deixar o cotidiano – dentro e fora de sala de aula – mais leve. Pense nos benefícios de ter um tempo para si mesmo, criar uma agenda de autocuidado para garantir prazer e saúde. Ou seja, primeiro você deve querer mudar os hábitos não saudáveis presentes em seu dia a dia, ter disciplina para tornar a nova rotina realidade e persistir para descobrir o que há além da zona de conforto. Podemos começar assim: 1) Seja grato, 2) Beba água, 3) Coma saudável, 4) Pratique meditação 5) Ouça música, 6) Respire fundo e pense positivo e 7) Cuide do corpo.

Fonte: Folha do Litoral

Fonte: Novaescola

Fonte: Hoje em dia

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