CORREIO
SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA
ISSN 2176-2104
FRATERNO
Entrevista
Ano 52 • Nº 490 • Novembro - Dezembro 2019
Menos queixas. Mais visão de realidade Nena Galves fala sobre o nosso comportamento como espíritas na virada de mais uma década. Leia nas páginas 4 e 5.
O que fazem as casas espíritas para captar recursos
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m levantamento realizado pela USE do Estado de São Paulo ajudou a traçar um perfil, por amostragem, sobre o que pensam e o que estão fazendo as casas espíritas para levantar recursos que ajudem a manter as atividades que realizam. O estudo foi realizado pelo economista Marco Milani, diretor do Departamento de Doutrina da USE-SP, e contou com a participação de 204 pessoas, que responderam a sete perguntas. Além dos resultados sobre as principais práticas adotadas, Marco Milani traz as recomendações de Allan Kardec e suas considerações sobre a necessidade da adoção de práticas que sejam plenamente aderentes aos princípios e valores espíritas. Leia mais nas páginas 8 e 9.
Como entrar em 2020 pela porta estreita Todo hábito fica gravado como um caminho automático e nossa tendência é repeti-lo. Transformar comportamentos, vícios e rotinas negativas não é tarefa fácil. Mas podemos potencializar o nosso desempenho evolutivo. Leia na página 15.
Humberto de Campos entrevista Yvonne Pereira na espiritualidade Ao saírem de uma conferência, dois ícones da literatura espírita se encontram no plano espiritual. Humberto de Campos aproveita para saber o que Yvonne Pereira tem a dizer sobre mediunidade. Leia na página 7.
Para a leitura de férias Um clássico da literatura espírita.
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EDITORIAL
O valor da F
impermanência
echávamos esta edição, quando o Brasil se comovia, acompanhando pela tv o corpo do apresentador e empresário Gugu Liberato sendo enterrado no cemitério Gethsêmani, no bairro do Morumbi, em São Paulo. Resumidamente, todos estavam surpresos com a ‘fatalidade’: um acidente que tivera em sua casa em Orlando, nos Estados Unidos, quando havia resolvido simplesmente verificar no sótão um problema com o ar-condicionado. Um teto de gesso, a queda, o coma, a morte, a doação de órgãos, as homenagens. E assim se foi Gugu, ‘de repente’, aos 60 anos. A morte não deveria ser motivo de tanta surpresa. Afinal, faz parte da natureza: tudo o que vive morre. Nada é eterno. Só Deus. Mas é incrível como acontecimentos
assim, de gente famosa ou não, nos leva à reflexão sobre a impermanência, como já nos alertara o filósofo pré-socrático Demócrito de Abdera: “Tudo muda, tudo passa, ninguém se banha duas vezes nas águas do mesmo rio”. Queiramos ou não, estamos mergulhados nesse processo de mudança, apesar da estabilidade aparente que nos cerca, onde nada permanece igual. Entre a indiferença, a ansiedade ou a curiosidade sobre o assunto, é bom lembrar a bênção do tempo. Como espíritas, então, talvez mais ainda, porque sabemos que a imortalidade do espírito nos concede inúmeras oportunidades de acertos. Mas como estamos aproveitando o momento atual? Que valor temos dado aos nossos senti-
mentos, pensamentos e ações de agora? Fechamos mais uma década no calendário terreno e é sobre isso que Nena Galves, aos 92 anos e à frente ainda de muito trabalho, nos convida também a refletir. Quantos ensinamentos já temos sobre o valor do presente, mas, como diz Umberto Fabbri nesta edição, é preciso entrar pela porta estreita no novo ano, para que possamos fazer de todos seus desafios oportunidades de crescimento espiritual. Há tantas ações que podemos fazer agora, sem esperar a próxima encarnação! Quando folheamos a edição, percebemos que a vida é um sopro, que o presente deve ser valorizado, que vivemos novos tempos, sim, e que exigem cuidado. As oportunidades são imensas. Cabe a nós saber escolhê-las da melhor forma para a nossa evolução para não atrasarmos a caminhada. Feliz Natal e um Ano Novo repleto de boas decisões! Boa leitura. Equipe Correio Fraterno
sempre será bem-vindo. João Felício, Porto Alegre-RS, por email. Fenômenos extraordinários Fantástica a história da médium Eusapia Palladino. Não foi fácil o que ela passou, mas mesmo assim não desistiu. Dedicou sua vida em favor da pesquisa sobre a mediunidade, ainda tão desconhecida na épo-
ca. (“A médium que agitou o mundo da pesquisa no século 19”, edição 498). Loreni Biriteli, São Paulo.
Ops...
A fotografia da página 11 da edição anterior (n. 489) refere-se ao evento realizado pela USE Regional de SP e não ao Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, em Fortaleza, CE.
Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br
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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118
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JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Administração/financeiro: Raquel Motta Comercial: Magali Pinheiro Auxiliar geral: Ana Oliete Lima Apoio de expedição: Osmar Tringílio Impressão: LTJ Editora Gráfica
Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos.
FALE COM O CORREIO Espíritos: gente como a gente Muito útil para quem gosta de estudar o assunto abordado (“Reunião mediúnica Em busca do melhor atendimento aos espíritos”, edição 489). O que conhecemos na área da mediunidade é apenas uma gota sobre o vasto oceano. Todo e qualquer material que venha a nos proporcionar oportunidade de aprendizado
Uma ética para a imprensa escrita
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• Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.
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ACONTECE
Conversa filosófica sobre as parábolas de Jesus Da CARLOS SIMÕES E ELIANA HADDAD
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a manhã de 30 de novembro, em São Paulo, o NEF – Núcleo Espírita de Filosofia – encerrou seu ano letivo com a realização de uma conversa filosófica com o professor de história de filosofia contemporânea da Universidade de São Paulo, Franklin Leopoldo e Silva. Franklin abordou o tema “Ética, religião e política: A parábola do Bom Samaritano”, trazendo as considerações do teólogo, pesquisador e escritor alemão, Joachim Jeremias (1900-1979), publicadas em seu livro As parábolas de Jesus.1 Na obra, o autor sustenta a provocação de que é possível se alcançar a essência das lições de Jesus sem os mistérios de que foram investidas posteriormente. Para isso, é imprescindível considerar a fala de Jesus e a audição do seu público sem os atavios de que a revestiram na transposição para o grego, língua ‘oficial’ dos evangelhos. O professor explicou que a cultura hebraica transposta para a língua grega se viu objeto de uma gama de enviesamentos e distorções compreensíveis e possíveis a qualquer tradução. “Jesus se fazia entender implicando imagens e vivências pertinentes ao universo dos seus interlocutores, levando-os a um mundo singelo, próximo e familiar, plenamente ajustado ao modo simples do entendimento que possuíam”.
Por isso, como todo mestre sensível às necessidades do seu público, Jesus soube ajustar toda a sua fala ao gênero didático das parábolas, utilizando-se de figuras e lugares pertinentes ao domínio do seu público — pessoas, no geral, simples, cotidianas. Destacando que a época de Jesus se caracterizava também pela presença de uma casta sacerdotal judaica, que convivia em conivência com os romanos, Franklin comentou que esses sacerdotes se diferenciavam do povo por uma linguagem desenvolta e empolada, numa erudição de discursos distanciados e estranhos, que em nada se ajustavam ao procedimento translúcido do pensamento de Jesus. “Por séculos afora estendeu-se um véu espesso sobre o sentido das parábolas, como se uma alegoria profunda ali se escondesse, estranha ou diferente ao que ele objetivamente quis dizer”, explicou. Tal tentativa de simplificação, no entanto, carregaria consigo um trabalho exaustivo e complexo para reaproximação do nosso entendimento àquele universo cultural.
O professor também explicou as atitudes e os personagens da Parábola do Samaritano para o contexto da época, concluindo que essa tentativa de análise talvez explique mais objetivamente por que Jesus, avesso a todo e qualquer formalismo, tenha incomodado a tantos, por sua mensagem revolucionária e sem amarras, que veio ao encontro de uma massa de necessitados de toda ordem, sequiosos de pão e luz, assistência e direção. “Reflexões como essa nos ajudam a entender melhor a fala de Jesus, que ensinava o povo de sua época em uma linguagem simples, ao nível de entendimento deles. Depois os homens a rebuscaram com in-
terpretações sofisticadas, o que causou dificuldades e alterações na compreensão”, avalia Miriam Zillo, presidente do NEF. 1 Joachim Jeremias, As parábolas de Jesus, trad. João R. Costa. Paulus, 1986.
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ENTREVISTA
Nena Galves
fala sobre os grandes desafios da atualidade na entrada de uma nova década Por ELIANA HADDAD acolher e esclarecer os que sofrem. E espiritismo sem centro espírita é o mesmo que doente sem pronto-socorro. Sem muitas casas espíritas não vão adiantar tantos congressos, encontros, simpósios, viagens ao exterior para palestras, porque a dor, a emergência, não espera. A casa espírita é a representação do verdadeiro legado de Jesus. Você tem que estar lá, pronto para dar o consolo, o seu principal papel. É isso que Kardec nos pedia.
Nena Gaves: “Há muitas queixas e precisamos treinar a ser fortes”
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os 92 anos de idade, Nena Galves já assistiu muita coisa em matéria de movimento espírita. Ao lado de Chico Xavier, Nena e Francisco Galves conviveram por décadas pelos estreitos laços de amizade, testemunhando momentos marcantes da história do espiritismo no Brasil, como o programa Pinga-Fogo, na TV Tupi em1971. Convidada a fazer um balanço sobre mais uma década de movimento espírita, Nena Galves nos concedeu esta entrevista, com toda sua franqueza e transparência. Mais uma década se vai. Como a senhora analisa esse tempo que passou e o que espera da nova década que se inicia? Nena Galves: Perante o mundo espiritual uma década são frações segundos, porque somos imortais. Não mantenho expectativas de grandes mudanças, porque o progresso é lento. Nós nos perdemos nos atalhos da existência e o tempo passa sem que percebamos que a oportunidade da encarnação muitas vezes está sendo mal aproveitada, no meio da comunicação rápida, do momento que se esvai, das coisas descartáveis. Quanto ainda malbaratamos o tempo, que é um tesouro para a transformação espiritual! Quantas mudanças deixamos de fazer por estarmos apegados a problemas do passado ou a preocupações com o futuro e deixamos de investir no nosso aprendizado de agora. www.correiofraterno.com.br
Qual o papel do legado de Jesus na passagem do tempo? Jesus viveu 33 anos. Não tinha os meios de comunicação que temos hoje. Desses 33, teve 3, 4 anos de pregação e fez tanto! E nós, nesse tempo que vivemos, quanto fizemos? O legado de Jesus estava baseado na humanidade e a nossa comunicação atual, no desafio do mundo moderno, não está voltada ao homem, mas às coisas, ao material. E a gente se perde muito mais querendo ter do que ser. Como a senhora vê a atuação do movimento espírita frente às atuais dores humanas? O espírita está fazendo o que pode, mas como todos, está também muito apegado com as conquistas materiais. Veja que quase não fundamos mais casas espíritas para
Estamos conseguindo levar adiante o Consolador Prometido? Estamos fazendo muita força, mas ainda temos tanto a aprender e a oferecer! O tempo passa e precisa ser bem aproveitado. Também se exige muito de quem muito recebeu e o Consolador Prometido veio para quê? É claro que se deve esclarecer. Mas, se você não consola, não esclarece. Quando se tem muita dor, o raciocínio falta. Temos que primeiro ajudar a resolver o sofrimento para que se tenha coragem de continuar a vida e compreender os seus vários aspectos. Kardec nos mostrou que muito mais do que o fenômeno, importa o raciocínio lógico, o aprendizado do Cristo. Não o milagre. O aprendizado do amor é o nosso maior crescimento espiritual. A senhora atende as mais variadas pessoas há mais de 50 anos, em entrevistas fraternas no Centro Espírita União. Vê mudança nas dores de hoje? Antigamente as pessoas eram mais sofridas para a dor humana – a dor de perder um filho, a dor de perder o dinheiro, algo querido, a saúde. Hoje o sofrimento é outro. Os jovens aportam desesperados porque fracassaram nas profissões, porque erraram nas escolhas, porque não têm um meio de atendimento como eles esperam. Tanta comunicação e as pessoas se sentem sozinhas com seus sofrimentos! E muitas vezes tam-
bém não sabemos o que dizer. Temos apenas que escutar. Os jovens não encontram o apoio para suas dores na família, porque os pais estão ocupados em ganhar dinheiro para lhes dar cada vez mais. Muitas vezes só vão perceber o sofrimento do filho depois que ele já foi adotado pelo traficante, já tentou o suicídio, entrou em depressão. Como podemos enfrentar melhor os desafios da vida? Há muitas queixas e precisamos treinar a ser fortes. Acreditar na vida, sabendo que ela tem, sim, suas amarguras, mas também momentos de alegria. É a nossa condição atual. Os desafios do mundo moderno chegaram muito depressa. Intelectualmente, o homem cresceu, o mundo tornou-se pequeno e nos foram escancaradas as portas do saber, da comunicação, da rapidez. O desafio é que o homem se comunica cada vez mais e melhor com a máquina, mas não está sabendo se comunicar verdadeiramente com a essência humana, que sofre com tantas carências. A família não se comunica, os amigos pensam que estão juntos. Há um afastamento do ser humano e isso prejudica a nossa evolução moral. O espiritismo ensina que precisamos estar, até mesmo em confronto, de braços dados com o ser humano, transmitindo energia, conhecimento, trocando experiências, errando e acertando, exercendo a escuta fraterna, discutindo-se valores. O que fazer? Parar e pensar. Sair dessas atitudes mecânicas, ouvir o coração, prestar atenção nos sentimentos. Não é o mundo moderno que está errado. Nós é que não estamos sabendo conviver com ele. Há depressão, suicídio, ansiedade, medo e desespero quando perdemos os valores materiais que tanto investimos e amealhamos. Não estávamos preparados para esse mundo consumista e não nos conformamos de ficar de fora.
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Criamos a necessidade desses valores para viver. O que a senhora orienta quando chega alguém se queixando de depressão? Escuto com muita atenção para compreender como a parte espiritual pode ajudar. Isso depois da doença já haver sido diagnosticada, e a pessoa já estiver sendo tratada. Mas sempre pergunto: o que você perdeu? E logo se percebe o fio do novelo – ou perdeu alguém que amava, ou o emprego, o dinheiro, a saúde, a vida que tinha antes... enfim nosso orgulho se ressente quando nos sentimos perdedores. Como se tivéssemos apenas que ganhar em tudo, esquecendo-nos de que não viemos aqui a passeio, mas para aprendizados. A senhora acha que as pessoas estão muito pessimistas? Precisamos prestar melhor atenção às queixas e tentar descobrir as causas. O espírita
ria das vezes fazendo shows. E a doutrina, brilha? Não é só a ideia, é o exemplo. A casa espírita tem que funcionar lado a lado com o sofrimento, porque ela tem condições de ser o consolador prometido. Quando vou a um lugar e pago, me sinto desobrigada e ainda exijo, mas, se eu recebo de graça eu me doo, eu trabalho, eu agradeço, eu cresço espiritualmente. A doutrina espírita está avançando muito lentamente, porque está fugindo da ideia principal a que veio. Mas a senhora não acha que todos esses eventos, em áreas tão diversas, estão levando as ideias espíritas? Levam a ideia, mas se ficam só na ideia, sem a ação, e não compreendem as dores, não vão consolar o coração. A ideia se perde. Você pode ter a ideia de um projeto, mas se não entrar a ação do trabalhador, você não levanta a casa.
O mundo moderno não está errado. Nós é que não estamos sabendo conviver com ele” ainda acha que para auxiliar é preciso fazer assistências, mas está esquecendo de priorizar o amparo espiritual. Está interpretando o legado de Jesus de maneira ingênua, sem perceber que pode aplicar melhor esse conhecimento tão grande que Kardec nos deu. Ele soube também enfrentar isso tudo na sua época. Foi um desafio a vida dele! A senhora está dizendo que estamos acomodados, distraídos? Por que isso estaria acontecendo? Porque o prazer e a glória falam mais alto que o conhecimento. O espiritismo é claro. Nós é que estamos obscurecidos por esses prazeres, pela nossa vaidade e incompreensão. É preciso pensar no tempo que já perdemos. Jesus atuou direto com o ser humano e nós estamos fugindo disto. Está faltando essa aproximação, porque se você prestar atenção nas grandes assembleias, nos vídeos, nos eventos, o ser humano é o último. Quem brilha é o orador, na maio-
As casas espíritas estão buscando especialistas para palestras sobre depressão, ansiedade. Que instrumentos de consolo teríamos dentro do espiritismo para os que nos procuram? O espiritismo não faz milagres. É a mudança do ser humano que faz com que ele melhore. E é isso que devemos incentivar: a conscientização sobre a existência do lado espiritual da vida, o imenso valor do trabalho do autoconhecimento e a esperança de dias melhores. A psicologia é o estudo da alma. O espiritismo tem a obrigação de estudar e compreender a alma para poder levar o socorro a quem sofre. Se o psicólogo, o psiquiatra, o médico ou o especialista, sem cobrar, tiver a postura de olhar olho no olho das pessoas que o assistem em uma palestra no centro e sentir que estão sofrendo, ele estará preparado para falar sobre as dores humanas em seu sentido espiritual. No consultório, o especialista leva o conhe-
cimento acadêmico; na casa espírita, ele deve levar o coração, o sentimento. O que a senhora diria aos jovens, que têm se afastado das casas espíritas? A linguagem do amor é uma só: acolhimento e exemplo. Também existe a questão de maturidade espiritual; muitas vezes uma criança entende muito mais uma mensagem do que um adulto que não sai das primeiras fileiras das palestras na casa. A vida se resume em 50, 60, 70 anos. O jovem tem que realmente lutar, trabalhar, fazer. E não facilmente vai alcançar o sucesso só porque saiu da faculdade. Mas ele hoje é apressado; não quer esperar. Quer rapidamente ter muito dinheiro, viajar todo ano, ter o melhor carro, ser influente. A vida não é assim. Acabam não vivendo as etapas necessárias para o amadurecimento e realização. Precipitam-se, tendo como meta a conquista material, que acaba e não preenche o vazio. Nunca houve tão cedo a prática do sexo, porque é angustiante demais para o jovem esperar. E amar é também esperar. O jovem precisa da experiência do mais velho. Estamos dando a ele essa experiência, estamos sendo humildes o suficiente para perceber que também precisamos aprender com o jovem? Estamos vivendo numa sociedade repartida, sem aproveitarmos as experiências uns dos outros. Assim, não se criam laços fortes de confiança, de respeito. O que fazer para se manter atualizado, a senhora que tem 92 anos... O trabalho. Eu vou ao centro quatro vezes por semana. E, quando me sento à mesa, enquanto o palestrante fala, eu olho no olho de cada um na plateia para ver como as pessoas estão. Eu conheço os problemas de todos. Se você se afasta da casa espírita, você não cresce no contato. Fica longe dos que te ouvem e não fala a mesma língua. Qual a mensagem para 2020? Que possamos ser mais fraternos com os companheiros. Brigar menos, atacar menos, falar menos e trabalhar mais. Que possamos estar atentos à capacidade que temos de desenvolver e multiplicar nossos talentos. Que o tempo não se perca em coisas bobas e que tenhamos sempre Jesus como o maior exemplo de investimento. Ele foi um bom investidor nas ideias do Pai.
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LIVROS & CIA. CCDPE-ECM / LIHPE / USE Telefone: 11 5072-2211 www.ccdpe.org.br/livraria O espiritismo da França ao Brasil (Série “Pesquisas Brasileiras sobre o Espiritismo”) organizado por Jáder Sampaio e Marco Milani 128 páginas 16x22,5 cm
Allan Kardec Editora Telefone: 19 3242-5990 www.allankardec.org.br Comportamento suicida na infância e na adolescência de Clara Lila Gonzales Araújo 320 páginas 16x23 cm
Editora EME Telefone: 19 3491-7000 www.editoraeme.com.br Educação para um mundo melhor de Lucia Moysés 208 páginas 14x21 cm
Letra Mais Telefone: 11 2369-5377 www.letramais.com Meditação – a arte da serenidade: como lidar com o estresse, a ansiedade e a depressão de Haroldo Dutra Dias 80 páginas 14x21 cm
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QUEM PEGUNTA QUER SABER
A visão espírita sobre doação de órgãos Quais as consequências espirituais da doação de órgãos? Gilvania Silveira – Itapevi, SP
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transplante de órgãos e tecidos, seja entre vivos ou proveniente de cadáver, é uma das mais importantes conquistas científicas da atualidade. O ato de doar parte do corpo é um exemplo de desapego à matéria, expressando a sublimidade do amor incondicional em benefício do próximo. São poucos os que deixam registrada a intenção de doar. E as famílias também se sentem inseguras em relação ao procedimento. Por outro lado, pacientes morrem na fila dos transplantes. Mas, e quais as consequências espirituais dos transplantes? “Esta atitude, sendo voluntária e consciente, reveste-se de alto teor moral, o que gera inúmeros benefícios espirituais para aquele que doa, enriquecendo-o de bênçãos, bem como renova as esperanças de vida naquele que recebe, permitindo-lhe continuar na existência física, e passar a agir
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com segurança e respeito, a fim de corresponder à misericórdia divina. A doutrina espírita, fundamentada numa bioética do amor, amplia o debate e oferece relevante contribuição ao tema”, declara o médico anestesiologista Carlos Roberto de Souza, presidente da Associação Médico-Espírita de Campina Grande, PB. A doação deve ser voluntária e consciente. Para o doador, é uma atitude de desapego à matéria e de amor ao próximo, que lhe traz benefícios espirituais. Para o receptor, é um exemplo da misericórdia divina que permite, por moratória, a continuidade da existência física. Na literatura mediúnica espírita, há a descrição feita pelo espírito doador sobre o transplante efetuado – uma mensagem de Roberto Igor Porto da Silva, sobre a doação do seu coração para transplante, e outra de Wladimir César Ranieri, referente à doação de suas córneas, ambas psicografadas por Chico Xavier. Eles relatam que, apesar de a doação ter sido involuntária, foram beneficiados com o ato e fariam tudo novamente. Fonte: Folha Espírita.
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NOVEMBRO - DEZEMBRO 2019 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
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BAÚ DE MEMÓRIAS
Humberto de Campos entrevista Yvonne Pereira na espiritualidade Por IZABEL VITUSSO
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epois de assistir à palestra do instrutor Gúbio, no plano espiritual, Humberto de Campos avistou a médium Yvonne Pereira na saída em animada conversa, num dos grupos que se formavam espontaneamente para comentar o tema abordado há pouco. Ele a vê rejuvenescida, um pouco mais alta e esguia, o olhar firme como de costume, a traduzir um ânimo infatigável e decidido. Antes, porém, que pudesse abordá-la, foi ela quem, apercebendo-se de sua presença, disse com entusiasmo: – Mas, se não é o Irmão X! Jamais recebi uma página que fosse vinda de sua apreciada pena. Eis, por fim, a chance, encontrando-o aqui pelo Além. – Fico muito feliz em vê-la – respondeu ele. – Mas... como devo chamá-la? Ruth-Carolina?, Andrea1 ou... – ao que Yvonne respondeu de maneira afável: – Ora, por favor!... Chame-me simplesmente Yvonne. Esse instigante encontro entre os dois expoentes da literatura espírita é narrado no livro Yvonne do Amaral Pereira, o voo de uma alma, de Augusto Marques de Freitas, publicado pela editora Celd em 1999. O autor narra que, aproveitando aquela incrível oportunidade, ávido por ouvir da própria médium o que teria a falar sobre mediunidade, Humberto de Campos acaba fazendo uma verdadeira entrevista, que resumidamente reproduzimos. Você foi médium. Diga-me aqui, como é que, lá no fundo, se sente o medianeiro, no exercício dessa poderosa faculdade? A questão da mediunidade é muito séria e complexa, sem dizer que, não raro, os homens a tornam complicada. Se as pessoas se dispusessem a falar menos sobre aquilo que desconhecem, ouvindo, interpretando e aprendendo – em silêncio e com dedicação –, creio que veríamos menos desastres mediúnicos.
Explique sua observação, por favor. – Do médium, meu amigo, se exige tudo, e nele tudo se critica, com extrema e irresponsável facilidade. Aliás, isso ocorre com toda e qualquer criatura que ganhe evidência. Se, por exemplo, psicografa mensagens mais longas, já a voz dos fanfarrões anuncia tratar-se de pessoa prolixa, desprovida de poder de síntese. Se as páginas são curtas, isso é porque, além de lhe falecerem as informações básicas, seu poder psíquico não se acha suficientemente desenvolvido. Poucos se recordam de sua eventual condição física e psicológica menos hígida, em natural oscilação das próprias aptidões, por problemas triviais na índole humana. Todos podem se justificar com o rótulo ‘personalidade oscilante’... Menos os médiuns. Enfim, meu amigo, vi-me de certo ângulo (e, antes por deficiências de minha própria alma, não por méritos, que não possuo), na posição semelhante à do apóstolo a que se referiu São Paulo: feito espetáculo para os anjos e para os homens. Em meu caso, concluo ter sido essa a forma de dar testemunho da Verdade, suportando a voragem das mais disparatadas opiniões. Tudo isso me despertou a fé, terreno em que tantas vezes fracassei. Qual seria o principal conselho aos médiuns? Que aceitem suas lutas sem estranhá-las, porque são elas que, com base em seus deveres, lhes sancionam alguns direitos, ao mesmo tempo em que lhes promovem o crescimento. Correspondem ao exercício que fortalece a alma. É claro que isso pede boa dose de renúncia... Sobre a espontaneidade mediúnica, Humberto pergunta: Que pensa você das escolas de médiuns? Assunto muito sério, meu irmão, envolvendo o equilíbrio e o bem-estar psíquico de um notório contingente de almas. Não comporta imediatismo, nem palavras finais.
Sem querer arrombar a porta das construções intelectuais de tantos confrades portadores de indiscutível idealismo, o máximo que consigo admitir como útil é sua feição teórica, na medida em que se proponham a uma reciclagem, mas sem nenhum tipo de obrigatoriedade. Quanto à parte prática, pelo que tenho observado, não lhes rende a menor valia, podendo erguer-se como estorvo às realizações que o Alto lhe pede. Isso porque os instrumentos dessa categoria contam com mentores espirituais dedicados a instruí-los e ampará-los, principalmente em aspectos práticos que não se acham nem em livros, nem em apostilas. O fundamental é o suporte da caridade, o esteio da renúncia a si mesmo, que precisam o verdadeiro grau de evangelização do ser humano, determinando-lhe, num quadro muito amplo, a sintonia mediúnica. Sobre o animismo: Nenhuma escola de médiuns, ou seja lá o que for, sabe tratar do problema do animismo, tão arraigado se encontra em
nosso psiquismo... Ele é produto de nossa realidade de Espíritos, de individualidades eternas. Tanto que Alexandre Aksakof, o notável metapsiquista russo, sitou-o como uma espécie de degrau conducente ao fenômeno mediúnico. Não haverá nenhuma regra, uma conduta, que obedeça aos nossos justos anseios de validade universal? Regras definitivas de mediunidade, não o creio... Faculdade mediúnica é feito impressão digital... Cada uma é uma, e nenhuma se repete. Não obstante, não confunda isso com deseducação mediúnica, indisciplina, falta de noção de conjunto, de equipe. Maravilhado com tamanha honestidade da médium, Humberto de Campos se despede, “a contemplar o vulto da operosa batalhadora, que o amor de Maria resgatara para o redil do Filho Amado.” 1 Nomes de Yvonne Pereira em vidas passadas, retratadas nos livros O cavaleiro de Lumiers e O drama de Bretanha, FEB.
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ESPECIAL
A captação de recursos nas casas espíritas Da REDAÇÃO
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Departamento de Doutrina da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo realizou, em agosto, junto aos dirigentes de centros e órgãos representativos paulistas um estudo sobre a captação de recursos em centros espíritas, visando identificar entre eles as principais práticas adotadas e as consideradas inapropriadas. O levantamento foi coordenado pelo economista Marco Milani com a participação de 204 respondentes, os quais acessaram um questionário eletrônico com sete perguntas. “Considerando-se tratar de amostra não probabilística, os resultados serão utilizados apenas para registro de ocorrências e motivação para argumentação conceitual, sem a pretensão de generalização”, explica Milani. A manutenção e o desenvolvimento das suas atividades, com seus respectivos recursos de diferentes naturezas, inclusive financeiros, constituem-se em uns dos principais desafios de dirigentes de centro espírita. “Já no século 19, Allan Kardec, conhecedor da necessidade do planejamento financeiro baseado na prudência, ao discorrer sobre as características da Comissão Central do Espiritismo (Obras póstumas – 2ª parte), sabiamente alerta para não se tentar cobrir despesas fixas com recursos
eventuais, pois no longo prazo essa medida prejudicaria a sustentabilidade da organização”, explica Milani. “Kardec sinalizou que as despesas deveriam ser compatíveis com o volume de receitas recebidas, ou seja, primeiro verifica-se o volume de recursos disponíveis para somente depois se assumir compromissos com gastos, preservando a continuidade operacional das atividades. A estrutura da organização seria proporcional à sua capacidade de geração de renda”, lembra o pesquisador, que é
Principais fontes de captação de recursos
Telemarketing
71%
Ao menos uma vez por ano
1%
Solicitação de doações Livraria e/ou clube do livro
Raramente
34% 43%
Realiza, mas raramente
23%
Lanchonete Serviços de estacionamento
3% 61%
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Outro
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Nunca realizou
5%
Convênios
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Já realizou no passado
Bazar
Outro
Práticas envolvendo jogos e sorteios
83%
Associados Eventos específicos
diretor do Departamento de Doutrina da USE. No Brasil, constatam-se diferentes práticas nas instituições espíritas para a captação de recursos, tanto aquelas que geram rendas de maneira mais perene, assim como as decorrentes de eventos pontuais. “Muitas dessas práticas são bastante disseminadas e plenamente aderentes aos princípios e valores espíritas. Algumas, entretanto, ainda que estejam em conformidade legal, despertam controvérsias com relação aos seus aspectos éticos e doutrinários, como a realização de bingos, loterias, rifas e outras formas de arrecadação que se assemelhem a jogos de azar e que têm a sua legitimidade questionada como prática em uma organização espírita”, argumenta Milani. Também a venda de bebidas alcoólicas, ainda que controlada para maiores de idade em eventos e atividades festivas, é questionada. A comercialização de pinturas e de outras formas de manifestação artísticas mediúnicas recebem, também, questionamentos sobre sua pertinência. Milani observa que, em documento publicado em 2007 pelo Conselho Federativo Nacional, entidade que reúne as federativas espíritas de todos os estados brasileiros, recomenda-se “evitar o uso de tômbolas, bingos, rifas... ou outros meios desaconselháveis ante a doutrina espírita” (Orientação ao centro espírita – Cap. 9, i. 6).
Marco Milani: “Algumas práticas despertam controvérsias com relação aos seus aspectos éticos e doutrinários”
70%
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Comercialização de bebidas alcoólicas em eventos Sim
O planejamento financeiro é uma ação crítica e exige conhecimento administrativo lastreado em aspectos éticos”
14,14% 76,77%
Não
4,04%
Parcialmente
5,05%
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Solicitação de doações nas palestras públicas 32,65%
Sim
45,92%
Não
Parcialmente
14,29%
Outro
0%
7,14%
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Venda de telas ou quadros mediúnicos Sim
21,21% 65,66%
Não
Não sei
Outro
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9,09% 4,04%
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20%
30%
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Conflitos éticos A autonomia administrativa inerente a cada instituição espírita permite a análise de posturas ora convergentes, ora divergentes do entendimento geral das práticas mais comuns e consideradas apropriadas para a necessária captação de recursos. A postura de alguns dirigentes, ainda que minoria, conflita eticamente com a maioria, com relação às práticas de comercialização de bebidas alcoólicas e promoção de jogos e sorteios, dentre outros procedimentos para captação de recursos financeiros que contrariam princípios e valores espíritas. Alguns respondentes deste levantamento sinalizaram que se a comercialização de tais produtos, considerados drogas lícitas (cerveja, vinho etc.), ocorrerem em eventos fora da instituição espírita, mas promovidos por ela, então poderiam ser aceitos. Os fins justificariam os meios. “Essa postura carrega uma contradição
ética ao incentivar o consumo de drogas lícitas em eventos organizados ou apoiados pela casa espírita, a qual deveria, supostamente, cuidar do corpo e do Espírito”, comenta Milani. Para o pesquisador, é compreensível a existência de diferentes níveis de maturidade moral e doutrinária entre os adeptos, gerando posicionamentos antagônicos em algumas situações, porém cabe aos dirigentes de instituições espíritas e às entidades federativas a orientação segura e formação de ambientes adequados para a reflexão crítica sobre quais práticas estariam coerentemente alinhadas aos ensinamentos dos Espíritos apresentados por Allan Kardec. “Se, por um lado, é de responsabilidade da própria casa espírita a adoção de práticas, ainda que lamentavelmente estranhas ao espiritismo, é fundamental que a USE e seus órgãos administrativos prezem pelo esclarecimento fraterno, mais claro e objetivo, sobre práticas adequadas e inadequadas às instituições espíritas”.
Orientações oportunas Bebidas alcóolicas – Não há como considerar apropriada a comercialização, ainda que consideradas drogas lícitas, em qualquer evento organizado ou apoiado por entidades espíritas. Jogos e sorteios – Deve-se desincentivar a arrecadação por meio de jogos de azar e sorteios de qualquer espécie sob a justificativa financeira. Produtos mediúnicos – A obtenção de recursos mediante a venda de produtos mediúnicos, como pinturas e desenhos, não encontra uma aceitação plena, havendo divisão de opiniões nesse sentido. A intenção é meritória, porém os cuidados envolvidos nesse processo devem ser atentados. Inicialmente, não se pode ter certeza de que se trata de manifestação mediúnica e a comercialização de algo que não corresponderia às expectativas do cliente pode ter implicações jurídicas. Mesmo que fosse mediúnico, quando assinado por suposto artista famoso, também poderiam ocorrer problemas legais. Livros – A comercialização de livros com conteúdo doutrinário distorcido também contou com a reprovação da maioria dos dirigentes. Os desafios financeiros podem fazer com que a casa espírita torne-se mais permissiva quanto à qualidade das obras comercializadas em suas respectivas livrarias, mas novamente evoca-se a responsabilidade inerente ao cargo que todos os dirigentes deveriam ter com relação à divulgação sincera e coerente dos princípios espíritas. www.correiofraterno.com.br
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FOI ASSIM
Minha cirurgia espiritual E
u estava com 30 anos. Meu estado de saúde era precário, sempre muito magra, sentindo dores que o médico dizia ser começo de uma úlcera gástrica. Embora deslumbrando-me com os novos ensinamentos espíritas e recebendo medicação naturalista, meu mal-estar e o emagrecimento continuavam. No meio espírita falava-se a respeito da vinda a São Paulo de um médium de cura que chegaria do Rio de Janeiro em poucos dias. Seria hospedado na casa da família Andreucci. Era segunda-feira. Ele estaria em são Paulo na quarta. A notícia se espalhou, enchendo de esperanças as pessoas adoentadas e eu era uma das escaladas para receber o tratamento. Na noite da segunda-feira, sentindo-me mais debilitada ainda, deitei-me cedo. Foi a primeira vez que tive a nítida lembrança dos detalhes de um sonho. Percebi-me levada para uma sala es-
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Por MARIA AUGUSTA FERREIRA PUHLMANN
Maria Augusta F. Puhlmann [1902 – 1983] é referência na história do espiritismo de São Paulo. Fundadora da Instituição Beneficente Nosso Lar, iniciou um dos trabalhos pioneiros para acolher bebês órfãos e abandonados, em 1946.
paçosa onde, em meio a algumas pessoas, estava um homem magro, com cabelos curtos e grisalhos, sobrancelhas cerradas e pretas, sentado diante de uma pequena mesa consultando fichas e escrevendo nelas. Várias pessoas aguardavam. Quando ouvi o meu nome, fui ao encontro daquele homem, que me colocou deitada em um divã, cobrindo-me com um lençol. Depois, olhando-me firmemente, pediu que eu escolhesse um dos médicos presentes e eu apontei para o que achava mais à minha frente. Ele sorriu-me, aproximou-se e colocou suas mãos levemente sobre meu estômago. Pediu-me que eu olhasse. Erguendo um pouco a cabeça, observei-me, vendo com espanto um buraco completamente aber-
to na região do alto ventre, deixando os órgãos internos a descoberto. Ele os tocou sem que eu nada sentisse e retirou de dentro um corpo estranho, escuro, com cerca de três centímetros por dez de comprimento. Levou ao alto, mostrando-o aos seus colegas, que sacudiram a cabeça positivamente. Depois, vi que a peça se desintegrou no ar, enquanto as mãos do médico eram colocadas sobre a parte operada. Observei novamente. O buraco havia desaparecido, deixando a pele intacta. Eu assisti a tudo. Ao despertar, estava certa de que ele havia me operado espiritualmente. Desde aquele dia eu me senti completamente curada. Dois dias depois fui apresentada pelo casal Andreucci a Anésio Siqueira [1883-1943], o médium que viera do Rio, e o reconheci como o homem que me conduzira à mesa operatória. Fonte: Olhai as aves do céu, ed. Batuíra.
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FIQUE POR DENTRO
O Congresso Mundial e as bases históricas do
México Por PAULO SÉRGIO M. PEIXOTO
Congressistas visitam lugares onde viveu Juana de La Cruz
O
Conselho Espírita Internacional promove a cada três anos o Congresso Espírita Mundial, alternadamente, na Europa e na América. Em 2016, o Congresso aconteceu em Portugal, e neste ano, entre os dias 5 e 6 de outubro, o evento foi realizado na capital mexicana, pelo Conselho Espírita do México. De origem que remonta a vários milênios, a cultura mexicana é muito diversificada e rica, tendo sofrido a influência de vários povos, destacando-se os pré-colombianos, maias e astecas que viveram em território mexicano e construíram sociedades de muita riqueza cultural e de alta complexidade. Os espanhóis colonizaram o país e impuseram suas tradições ao país da América Latina que mais recebe turistas. O espiritismo no México A chegada do espiritismo no México não é tão recente como se pode pensar. Antes de 1870, o espiritismo já movimentava o país, surgindo, em 1868, em Guadalajara, o primeiro jornal espírita do país, sob o nome O Iluminismo Espírita. Na década de 1870 foram traduzidos todos os cinco livros da codificação, escritos por Allan Kardec. Vale destacar a preocupação dos precursores do espiritismo no México quanto
a práticas dissociadas das orientações de Kardec. Nas décadas seguintes surgiram várias sociedades e periódicos espíritas. O movimento espírita mexicano teve significativas relações com o espiritismo no exterior, tendo-se registradas cartas com a Revista Espírita e com Amália Domingo Soler, além da presença de representantes mexicanos nos Congressos Internacionais de Barcelona e de Paris, realizados em 1888 e 1889, respectivamente. Conquanto as dificuldades de se organizarem em nível nacional no final do século 19 e início do século 20, os espíritas do México conseguiram realizar o Primeiro Congresso Espírita, em 1906. O movimento espírita mexicano atualmente é forte no norte e nordeste do país, porém, na capital, hoje com 20 milhões de habitantes, existe um único grupo, embora seja possível que existam muitos grupos espiritualistas, a lidarem com a mediunidade com a influência dos descendentes indígenas. O presidente da República e o espiritismo Fato significativo é a história de Francisco Indalecio Madero, que foi presidente da República de 1911 a 1913. Ele conheceu o espiritismo em 1891 por meio da
Revue Spirite e aprofundou seus conhecimentos espíritas durante seus estudos em Paris, em 1892. De volta ao México, fundou a Sociedade de Estudos Psíquicos São Pedro. Trabalhou com sua mediunidade, tendo psicografado cartas, que mais tarde foram compiladas. Francisco Madero manteve intensa relação com os espíritas espanhóis, tendo registros de que também se correspondia com León Denis, do qual conseguiu autorização para publicar o livro Depois da morte, em 1906. No ano de 1907, Madero escreveu o livro Manual espírita, dedicado aos jovens de seu tempo. Após este período, privilegiou suas ações na política. Por tudo isso foi muito importante a realização do 9º Congresso Espírita Mundial no México, levando muitos reflexos positivos para o movimento espírita daquele país, que começa a ser demonstrado pelo próprio fato de que, pela primeira vez na história dos congressos espíritas mundiais, os nativos foram maioria no evento, com a participação de 55,6% de mexicanos, seguidos dos brasileiros, com 36%. Logo depois, em terceiro lugar, outra surpresa, ficaram os canadenses, seguidos dos americanos, ingleses e suíços. Foram mais de 1.800 participantes, com caravanas do Brasil (São Paulo,
Rio de Janeiro, Goiás, Bahia, Amazonas e Paraíba, dentre outros estados). Ao finalizar o evento, o conferencista brasileiro Divaldo Pereira Franco falou sobre uma das experiências reencarnatórias de sua mentora espiritual, Joanna de Ângelis, naquele país entre 1651 e 1695 como Juana de La Cruz. Excursões Foi possível a muitos congressistas participar de excursões às pirâmides de Teotihuacán e aos curiosos locais onde Juana de La Cruz nasceu e viveu a primeira infância. Juana de La Cruz estudou na fazenda de seu avô, em Panoaya, e no antigo Convento de San Jerónimo (de Praga), onde fica a Universidade do Claustro, local em que viveu e desenvolveu sua obra, por 27 anos, como religiosa, produzindo importantes obras literárias e consagrando-se como grande poeta da vida e do amor. Os dois próximos congressos mundiais acontecerão em Paris, na França em 2022, e em Mar del Plata, no Uruguai, em 2025. Ricas oportunidades para a confraternização e a integração dos espíritas de todo o mundo. Paulo Sérgio M. Peixoto é dirigente do Grupo Espírita Paz Amor e Renovação, Niterói, RJ. www.correiofraterno.com.br
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CULTURA & LAZER
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Fórum sobre atendimento fraterno JAN A Federação Espírita do Paraná realiza, no dia 23 de janeiro, um fórum de discussão sobre o tema: “Atendimento fraterno pelo diálogo”. O evento acontece na Alameda Cabral, 300 Curitiba, PR, das 19:30 às 21:30h. Para trabalhadores do centro espírita, colaboradores da área de atendimento espiritual. Com conteúdo teórico e prático. Fone: (41) 3223-6174. www.feparana.com.br
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Congresso Espírita de Uberlândia JAN Será realizado de 24 a 26 de janeiro de 2020 o 5º Congresso Espírita de Uberlândia, MG. Com o tema “O sermão da montanha: As bem-aventuranças”, o evento acontece no Center Convention (Av. João Naves de Ávila, 1331) e contará com a presença de oradores como: André Trigueiro, Anete Guimarães, Haroldo Dutra, José Carlos de Lucca, Rossandro Klinjey, dentre outros. Realização: Web Rádio Fraternidade. Inscrições: www.radiofraternidade.com.br.
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Congresso Estadual de Espiritismo em São Paulo De 26 a 28 de junho de 2020, será realizado pela USE do Estado de São Paulo o 18º Congresso Estadual de Espiritismo. O evento acontece no Tauá Hotel e Convention, em Atibaia-SP, e terá como tema: “Evolução do ser: consciência e livre-arbítrio”. Contará com a participação de Alberto Almeida, André Luiz Peixinho, Artur Valadares, Haroldo Dutra, dentre outros. Inscrições: congressousesp.org
JUN
Ao lançar O Evangelho segundo o espiritismo, Allan firmou o princípio de que os fatos históricos, e outras partes dos relatos estranhos ao seu conteúdo de morais, pouco importam para a doutrina. O que interessa ao espiritismo não é a exatidão
Para símbolos iguais, letras iguais.
mas a realidade da vida de e a legitimidade dos seus ensinos O que importa aos no Natal, não é a celebração de um fato
cronologicamente assentado, mas a evocação de um acontecimento da mais alta significação espiritual para a terrena. Importa que Jesus tenha
ENIGMA
De quem é a frase: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar. Esta é a Lei”? qualquer hora, em qualquer lugar
Solução do Passatempo Veja em: www.correiofraterno.com.br
vivido e pregado entre os mas, principalmente que nos tenha deixado uma
Resposta do Enigma:
capaz de
o mundo, como realmente o reformou e continuará reformando.
Herculano Pires, O mistério do bem e do mal, Correio Fraterno.
Johann Goethe (1749-
Congresso Espírita na Paraíba De 10 a 12 de janeiro de 2020 ocorrerá o 9º Congresso Espírita Paraibano, com o tema “O Cristo vive em mim”, no Teatro Pedra do Reino, em João Pessoa (PB). Dentre os palestrantes estarão: Arthur Valadares, Divaldo Franco, Frederico Menezes, Haroldo Dutra, Jorge Godinho, Rossandro Klinjey, Sandra Borba e Severino Celestino. Inscrições: www.9conespb.fepb.org.br
JAN
O momento em que Jesus nasceu entre os homens
1832), escritor alemão. A
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Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
frase adorna o túmulo de
Campanha Janeiro Branco No decorrer de todo o mês de janeiro serão realizados eventos de mobilização em diversas cidades do Brasil, com objetivo da mobilização da sociedade para a importância da saúde mental e emocional. O evento que se iniciou em Uberlândia, MG ganhou dimensão internacional. Fique por dentro da programação: Acesse janeirobranco.com.br
JAN
PASSATEMPO DO CORREIO
Allan Kardec, em Paris.
AGENDA
Susto!
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Região do ABC Retirada de doações para o Bazar Permanente ligue (11) 4109-8938 www.correiofraterno.com.br
Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio
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ARTIGO
A reencarnação e o determinismo Por RICHARD SIMONETTI
Q
ualquer pessoa medianamente informada conhece o complexo de Édipo, consagrado por Sigmund Freud (1856-1939) como a tendência de se ligarem os filhos às suas mães, em oposição aos pais. Freud inspirou-se numa tragédia grega: Édipo Rei, de Sófocles (495-406 a.C.). Édipo, segundo os oráculos, mataria seu pai e se casaria com a mãe, o que efetivamente aconteceu, numa fantasia recheada de lances dramáticos e mirabolantes, bem ao gosto da mitologia grega. A tese de Freud, porém, não resiste aos fatos. Há filhos ‘vidrados’ na figura paterna. Além disso, a afinidade ou animosidade entre pais e filhos decorre muito mais de ligações harmônicas ou conflituosas de vidas anteriores. Se alguém reencontra no pai um rival do passado, quando disputavam o amor de uma mulher, hoje possivelmente ligada a ambos como mãe e esposa, enfrentará conflitos em seu relacionamento. Em contrapartida, dar-se-á muito bem com o genitor que foi amigo ou familiar ligado ao seu coração. E há que se considerar o comportamento. Se não cultivarmos valores elementares de convivência civilizada – compreensão, atenção, respeito, tolerância, cooperação, solidariedade... –, os melhores amigos do pretérito nos parecerão figadais inimigos a nos aborrecerem no ambiente doméstico. O aspecto mais interessante da famosa obra teatral de Sófocles diz respeito à fatalidade. É possível alguém nascer com a trágica sina de matar o pai e casar com a mãe ou destinado a cometer atrocidades? Negativo. Não há o determinismo para o mal. Ninguém reencarna para ser suicida, alcoólatra, fumante, toxicômano, adúltero, traficante, ladrão, assassino, terrorista… Comportamentos dessa natureza configuram um desatino. Jamais um destino!
O futuro não está escrito.
O ‘texto definitivo’ está sendo grafado por nossas ações.” Dirá o leitor que o oráculo não teria acertado o sinistro vaticínio, se não fosse esse o fado de Édipo. Oportuno não esquecer, porém, que estamos diante de uma ficção, uma história da carochinha para adultos. E quanto aos oráculos de hoje, represen-
tados por médiuns, pais de santo, cartomantes, quiromantes, astrólogos e quejandos? Não antecipam, efetivamente, o futuro? Consideremos, em princípio, que eles falam de generalidades. Assim fica fácil. Se eu fizer dez previsões superficiais sobre seu futuro, envolvendo saúde, negócios, vida
afetiva, família, viagens, pelo menos metade se cumprirá. Você ficará admirado de meus poderes premonitórios, tão entusiasmado com os acertos que não reparará nos desacertos. E há um detalhe: se o ‘oráculo’ revela que terei um dia muito difícil, cheio de contratempos, e acredito firmemente nisso, assim tenderá a acontecer. Estarei predisposto a encontrar ‘chifre em cabeça de cavalo’. Obviamente, há indivíduos dotados de grande sensibilidade que podem ‘ler’ em nosso psiquismo algo do que nos espera. Nele podem estar registrados alguns compromissos que teríamos assumido ao reencarnar, conjugando família, profissão, trabalho, ideal… Mesmo assim, não poderá fazer afirmações taxativas, porquanto nem sempre cumprimos na Terra o que nos propusemos a realizar, no Além. Há, também, desajustes no perispírito, nosso corpo espiritual, decorrentes de faltas desta existência ou precedente, tendentes a se refletirem no corpo físico, dando origem a males variados. Um sensitivo poderá identificá-los e nos falar a respeito. Não obstante, esses males não são inevitáveis. É possível, com o empenho de renovação e a prática do Bem, ‘depurar’ o perispírito, favorecendo uma existência saudável. O ideal é viver o hoje, procurando fazer o melhor, sem nos preocuparmos com o que virá. O futuro não está escrito. Há apenas esboços. O ‘texto definitivo’ está sendo grafado por nossas ações. Jesus sabiamente ensina, no Sermão da Montanha, que a cada dia basta o seu labor. Cuidemos de buscar o Reino de Deus em primeiro lugar, com o empenho do Bem, e tudo o mais, acentua o Senhor, virá por acréscimo da misericórdia divina. Bibliografia: Luzes no caminho, cap. “Determinismo”, CEAC. www.correiofraterno.com.br
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VOCÊ SABIA?
A grandeza do encontro de Pedro II com Victor Hugo Da REDAÇÃO
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m dos maiores desejos do Imperador D. Pedro II (1825 – 1891) era conhecer pessoalmente Victor Hugo (1802 -1885), que se encontrava no auge da sua fama como romancista e poeta. D. Pedro estava em viagem pela Europa e manifestou o seu empenho em receber a visita do grande poeta. Mas sem conhecer o calibre espiritual do monarca – que segundo a obra Brasil coração mundo, Pátria do Evangelho foi convidado por Jesus para direcionar o futuro do Brasil para valores e virtudes morais –, Victor Hugo disse que não visitava imperadores. D. Pedro não se agastou e com sua humildade habitual respondeu: – Não faz mal. Eu lhe farei a primeira. Victor Hugo tem sobre mim o triste privilégio da idade e também a superioridade do gênio. O imperador era leitor contumaz não só de romances, poesias, onde encontrava o alívio para a sobrecarga de suas responsabilidades, como de tudo o que lhe falasse sobre as ciências
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e as principais áreas do conhecimento humano. Às 9 horas da manhã de 22 de maio de 1877, eis que o imperador se dirige à casa de Victor Hugo. Recebendo-o, o poeta o fez sentar-se ao seu lado e as primeiras palavras de D. Pedro foram: – Sentando-me ao lado de Victor Hugo, cuido pela primeira vez que estou num trono! O poeta riu do bom humor do que ouvira. Em seguida, pediu que seus netinhos viessem cumprimentar o monarca. – Jeanne – disse – apresento-te o Imperador do Brasil. – Quer me dar um beijo, minha menina? – disse D. Pedro. Jeanne aproximou-se para receber um beijo na testa e D. Pedro continuou: – Dê-me também um abraço. Passando-lhe os bracinhos em torno do pescoço, a menina apertou-o com tanta força que o avô achou melhor intervir: – Basta... Queres dar-te ao luxo de estrangular um imperador?
D. Pedro II, imperador do Brasil entre 1831 e 1889,
e o escritor Victor Hugo, autor de Os miseráveis e de Notre-Dame de Paris
Todos riram! Em seguida, Victor Hugo foi buscar e trouxe pela mão o seu neto, dizendo: – Senhor, tenho a honra de apresentar o meu neto Jorge à vossa Majestade. O imperador abraçou a criança e falou, alisando-lhe os cabelos: – Meu filho, aqui não há mais que uma majestade. E indicando o grande poeta disse: – Ei-la! Os dois conversaram animadamente sobre diversos assuntos e ao se manifestar
sobre a riqueza literária das obras do escritor ao seu lado, que tantas vezes fulminava a figura dos que levavam na cabeça uma coroa, D. Pedro fez uma observação: – Não queira mal aos meus ‘colegas’. Eles vivem tão rodeados, tão enganados, que não podem ter as ‘nossas ideias’. E Victor Hugo, com tristeza, disse então: – Sois o único, senhor, infelizmente... Referência: Chico Xavier, D. Pedro II e o Brasil. Walter José Faé. Correio Fraterno.
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DIRETO AO PONTO
Entre em 2020 pela porta estreita Por UMBERTO FABBRI
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inal de ano é tempo de novos projetos, de refletir sobre acertos e erros e, ante às reflexões, tomar decisões de mudanças, de transformar o que não nos faz bem ou feliz. Na teoria é algo simples, pois racionalmente sabemos o que é certo ou errado, entretanto na prática a questão é bem mais complexa que uma simples deliberação. Caminhamos por nossa imortalidade construindo hábitos que ficam registrados em nosso perispírito, mais especificamente na região cerebral. No livro O poder do hábito, Charles Duhigg, repórter investigativo, pesquisou sobre a força do hábito em nossas vidas e em suas pesquisas descobriu que “os neurônios formam uma rede em nosso cérebro, ligados uns aos outros. As informações transitam através de estímulos elétricos e químicos por esta rede. Quando aprendemos alguma coisa, um caminho é gravado nestes neurônios e todas as vezes que pensamos ou fazemos alguma coisa que já fizemos antes, o mesmo caminho neural é estimulado”. Ou seja, todo hábito fica gravado em nosso cérebro como um caminho automático. Por isso encontramos tanta dificuldade em mudar e transformar comportamentos, vícios e rotinas negativas, tais como alcoolismo, fumo, drogas, jogos, compulsões por sexo, compras, alimentação, inveja, falar da vida alheia, baixa autoestima, procrastinação, preguiça, mania de perseguição, hipocondrismo, agressividade, indiferença, arrogância, ciúmes, etc. Mesmo
sabendo que todas estas alternativas nos prejudicam, elas estão “gravadas” em nosso cérebro e nossa tendência é repeti-las meio inconscientemente. São as portas largas pelas quais entramos quase sem pensar, pois estamos habituados. Romper este ciclo pede muita determinação, disciplina e vigilância. Escolher a porta estreita e entrar por ela exige muito, mas nos liberta e abre novos caminhos, e não é isto que desejamos? Evoluir não é fácil, pois precisamos superar nosso passado, vencer a nós mesmos, melhorar sempre que possível. Sempre me lembro da lenda egípcia do peixinho vermelho, contada por Emmanuel no livro Libertação, psicografado por nosso querido Chico Xavier. Nesta
história, um peixinho valoroso, que não se intimidava com as dificuldades e, inconformado com a rotina do pequeno lago, se dispõem a encontrar novas experiências. Depois de muitas buscas se depara com diminutas grades e pensa: “Não será melhor pesquisar a vida e conhecer novos rumos? Optou pela mudança”. E apesar de já magérrimo, precisou perder ainda mais peso para passar pela pequena grade. Todo o esforço o levou ao oceano, onde descobriu uma nova e maravilhosa forma de viver. Nosso peixinho decidiu mudar, optou pela porta estreita, superou-se, modificou seus hábitos e encontrou um novo endereço. Não mudaremos nossa vida fazendo tudo da mesma forma. Resultados diferen-
tes só ocorrerão com novas atitudes. Sem dúvida, uma bela história para nos inspirar e motivar a seguir as orientações de nosso mestre Jesus, que nos apresentou novas formas de viver, de reagir frente às dificuldades, de construir uma nova realidade fundamentada no amor. Desejo um ano de novas escolhas, de muitas portas estreitas transpostas, que nos levem a novos horizontes, novos hábitos, novos pensamentos e muitas realizações. Feliz 2020! Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.
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MÍDIA DO BEM Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!
Aumenta a expectativa de vida do brasileiro
Tetraplégico se movimenta com equipamento controlado pela mente
Casal espalha casinhas de abelhas por São Paulo
A expectativa de vida de uma pessoa nascida no Brasil registrou em 2018 um aumento de três meses e 4 dias em relação ao ano anterior e passou a ser, em média, 76,3 anos. A expectativa para os homens subiu de 72,5 anos em 2017 para 72,8 anos em 2018. Já as mulheres saíram de 79,6 para 79,9 anos, segundo dados divulgados em novembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Um sofisticado programa de computador já consegue ler as ondas cerebrais e transformá-las em instruções para controlar o exoesqueleto. O experimentador Thibault, 30, disse que seus primeiros passos no equipamento o fizeram se sentir como o “primeiro homem na Lua”. Seus movimentos estão longe da perfeição e a tecnologia só tem sido usada em laboratório. Mas o grupo de pesquisadores franceses responsável pelo avanço científico acredita na melhora da qualidade de vida de pacientes.
Um casal de apicultores vem tralhando para mostrar a importância das abelhas, que vem diminuindo em quantidade. Mais de 75% das plantas com flores no mundo são polinizadas por abelhas. Sem elas, muitos alimentos podem deixar de existir. Eugênio e Márcia Basile só no ano passado já instalaram 50 caixinhas com milhares de abelhas cada, pelas ruas de São Paulo. Uma das metas é acabar com a ideia de que abelhas são perigosas. Só no Brasil, há mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão.
Fonte: Jornal de boas notícias
Fonte: Portal G1
Fonte: Jornal da Record
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