Correio Fraterno 491

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CORREIO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA

ISSN 2176-2104

FRATERNO

ENTREVISTA

Ano 52 • Nº 491 • Janeiro - Fevereiro 2020

100 anos de Herminio Ana Maria fala com detalhes sobre a vida em família com seu pai “Herminio Miranda” e relembra passagens emocionantes do escritor entre nós. Leia nas páginas 4 e 5.

Coronavírus

É

A lição das epidemias

para a China, na cidade de Wuhan, que os olhos do mundo estão voltados para acompanhar os desdobramentos da epidemia pelo coronavírus, enquanto cada país providencia a melhor forma de frear a proliferação do vírus em seu território. Mas, independentemente das medidas urgentes a serem adotadas, há algumas questões sobre as quais precisamos pensar: Por que nem todas as pessoas são contaminadas? Por que umas morrem e outras não? É claro que uma epidemia assusta, mas, antes do pânico, é preciso que se tenha os conceitos espirituais em evidência para se arriscar a fazer qualquer observação, uma vez que Deus, em sua perfeição e misericórdia, atua através de leis também perfeitas e misericordiosas para que o progresso seja atingido em toda sua Criação. Não há acaso. Leia nas páginas 8 e 9.

A última Revista Espírita com Kardec A partida repentina de Allan Kardec, em 31 de março de 1869 gerou um grande impacto. Por onze anos ele havia ficado à frente da Revista Espírita. A edição do mês de abril já estava pronta, com inúmeros casos dando conta dos fenômenos ‘sobrenaturais’, que despertavam aqui e ali a atenção de pessoas por todo o mundo. Leia na página 7.

Sem ar para respirar Aconteceu na cidade de Cristalina. Em pleno alvoroço da ‘febre do cristal’, centenas de pontos de exploração se espalhavam na região. De repente, um imenso aluvião de terra e de cascalho vem abaixo, deixando de fora apenas Fritz Mohn, um rapazinho de vinte e poucos anos. Qual a lição em meio aos escombros e a tanta dor?? Leia na página 14.

Depois da perda, a alegria do sonho realizado

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EDITORIAL

CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2020

Uma vida de

variedades

I

niciamos 2020 cheios de esperanças. As festas de fim de ano, férias e descanso marcam uma nova largada, como se a vida desse uma pausa para retomar o fôlego e encarar com boas energias os novos desafios que virão pela frente. Mal suspiramos, pouco mais relaxados, e aí chegam as enchentes, os desabamentos, a água poluída, os acidentes, a destruição e o que mais assusta: a epidemia de um novo coronavírus. Os olhares se voltam para a China, a fé se abala e o medo se instala com o risco global da doença. É incrível como ainda somos suscetíveis a imaginar uma felicidade ingênua. Queremos que ela seja perene e muitas vezes não nos damos conta de que termina-

do um desafio, inicia-se outro. É que ainda estamos, na nossa condição evolutiva, aprendendo com os erros e sobressaltos que se alternam entre momentos alegres e de angústia. Esta edição é um retrato dessa mistura de fatos e sentimentos que nos convidam à reflexão já neste início de ano. Alegria e gratidão pelo centenário do escritor e pesquisador Herminio Corrêa de Miranda, tristeza e apreensão pelos desdobramentos da nova epidemia, curiosidade pelas últimas informações deixadas por Allan Kardec antes de sua desencarnação em 31 de março de 1869. Vamos saber também sobre o porquê das conturbações sociais, sobre o aproveitamento das experiências de vidas anteriores, sobre a

FALE COM O CORREIO Entrevista com Nena Galves • A entrevista está imperdível (“Os desafios da atualidade na entrada de uma nova década”, edição 490). Excelentes perguntas e as respostas muito bem fundamentadas, de uma pessoa que realmente conhece a doutrina e que vivencia o que nos passa. Abraços. João Felício, Porto Alegre, RS.

• Belas e instigantes reflexões. Há muito o que meditar a respeito de tão rico conteúdo. Obrigado dona Nena e obrigado CF pelo presente. Nazil Canarim Junior, por email. • Só tenho a agradecer por tão preciosas lições de vida. Maria do Carmo Braga, por email.

importância e as ciladas do sucesso na encarnação e muito mais. Também tem Passatempo, Agenda e Mídia do Bem, além das novidades das rodas de conversa para o congresso estadual, em São Paulo, e as experiências inovadoras de estudos em grupo de um clube de leitura de Campos de Goytacazes, RJ. Tudo isso em forma de entrevistas, artigos, notícias e reportagens, abordando assuntos variados, assim como é a vida, repleta de altos e baixos, de dores e amores, de receios e esperanças. Do jeitinho que é, sempre ensinando e nos dando oportunidades de superação. Basta estarmos atentos às lições que ela oferece. Boa leitura! Equipe Correio Fraterno

• A entrevista nos convida a importantes reflexões. Muito obrigado. Donizete Pinheiro, Marília, SP. Grande Nena Galves! Sempre tanto a ensinar! Parabéns pela entrevista. Heloisa Pires, São Paulo, SP Correio Fraterno de dezembro Parabéns pela publicação de artigos, como a “Entrevista com Nena Galves”, “A captação de recursos nas casa espíritas” e o “Entre em 2020 pela porta estreita”. Gostei muito. Valeu! Carlos Villarraga, São José das Campos, SP.

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118

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Uma ética para a imprensa escrita Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


ACONTECE

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São Paulo realiza prévias do Congresso Estadual Da REDAÇÃO

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União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo realiza durante o primeiro semestre de 2020 algumas prévias das Rodas de Conversa que ocorrerão durante o 18º Congresso Estadual de Espiritismo, a ser realizado de 26 a 28 de junho no Tauá Hotel & Convention, em Atibaia, SP. Tendo como tema central “Evolução do ser: consciência e livre-arbítrio”, o evento contará em sua programação com atividades variadas e duas sessões de rodas de conversa sobre os temas: “Inclusão na casa e no movimento espírita”, “O jovem e a casa espírita”, “A postura do espírita diante das mídias sociais”, “Uso equivocado de teorias científicas no espiritismo”, “Práticas estranhas ao centro espírita” e “Espiritismo: religião em seu sentido filosófico”.

“Temas atuais são analisados por pessoas que os estudam e os conhecem em profundidade, permitindo que os congressistas recebam os pontos de vista dos convidados e possam também apresentar suas perguntas para melhor aprofundamentos dos temas”, afirma Aparecido José Orlando, presidente da USE. Segundo ele, as prévias são também oportunidades de divulgação do congresso em diferentes regiões do Estado. No dia 25 de janeiro, na cidade de Campinas, SP, foi realizada uma dessas prévias, no Centro Espírita Allan Kardec, atraindo dirigentes e colaboradores locais e da região que discutiram o tema “Espiritismo: Religião em sentido filosófico”. Com abordagens fundamentadas nas obras de Allan Kardec e servindo-

O

Murilo Viana, ao lado Aryanne Karine. Abaixo, Fernarda Machado e Rafaela Paes

-se de conceitos presentes na literatura científica sobre religião, os debatedores Marco Milani, Silvio Chibeni e Tristan Torriani (foto), docentes da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), elencaram os principais aspectos relacionados à identificação ou não

do espiritismo como uma religião. A próxima prévia ocorrerá na cidade de Serra Negra, em 15 de fevereiro, com o tema “Práticas estranhas nos centros espíritas”. Informações: congressousesp.org

Estudo nas redes sociais

clube de livro Letra Espírita, de Campos dos Goytacazes, RJ, vem realizando um trabalho diferenciado de estudo do espiritismo desde 2015, utilizando a plataforma digital. Somando as redes sociais, o projeto conta com mais de 1 milhão de seguidores. “No início era apenas um blog. Depois, começamos a publicar artigos de colunistas voluntários, com o cuidado de analisar o conteúdo doutrinário e as devidas pesquisas referenciadas”, conta Murilo Viana, um dos jovens à frente, que analisa o rápido desdobramento para a formação de grupos de estudos através das redes sociais. O Letra Espírita surgiu pela iniciativa do ca-

sal Valter Viana e Teresa Santos como um clube de assinatura de livros espíritas há cerca de vinte anos. O projeto tem à frente não apenas jovens da cidade, mas de outras regiões do país, como São Paulo e Santa Catarina. Os estudos contemplam a análise das obras básicas e de literatura complementar, incluindo a discussão do conteúdo doutrinário dos livros adquiridos para os assinantes do clube. Os temas mais pedidos pelos participantes são levados para estudos pelo canal ao vivo. “A gente sabe da enorme responsabilidade que envolve essa tarefa. Mas ficamos felizes em saber que estamos ampliando o acesso ao estudos da doutrina”, analisa Murilo.


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ENTREVISTA

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Meu pai,

Herminio Miranda Por ELIANA HADDAD E CRISTIAN FERNANDES Como é ser filha de Herminio Miranda? Ana Maria Miranda: Como ele diria, ele ‘esteve’ meu pai durante os 70 anos que vivemos juntos. Sinto que fui a filha mais abençoada do mundo. O Senhor me deu, além da vida, a felicidade de ser filha de Herminio Corrêa de Miranda. Porém tenho uma teoria: o Senhor sabia que seria Ele mesmo quem daria muito trabalho para o papai! Não seriam só os filhos! Assim, Ele decidiu que os filhos teriam que entender o ‘velho escriba’. Papai ensinava tudo com seu exemplo. De vez em quando, explicava o porque sim e o porque não das coisas. Mas, na maior parte das vezes, só me olhava e eu já sabia se e o que tinha aprontado... Certa vez, já jovem, ele me viu lendo um best seller na época. Só me disse: “pode ler, filha, mas acho que isto não é literatura pra você”. Eu não continuei. Eu queria ser atriz de teatro, desde os 9 anos. Mas ele só me permitiu no último ano da faculdade. Cheguei a fazer teatro profissional. Certo dia, cheguei em casa e disse: “Pai, encerrei minha ‘carreira’... Ele me olhou assustado, como quem diz ‘por quê?’, mas não disse nada. Eu disse: “entendi agora o que você já tinha previsto”. Ele se levantou da rede e abriu os braços: chorei, mas estava nos braços dele... Na realidade, acho que eu poderia responder a esta pergunta mais sucintamente: “alguém já teve um anjo como pai? Pois, eu tive!” O que mais marcou em seu convívio com Heminio? Papai era pura ‘alma’, um amor, uma ternura, compreensão e humildade sem limites. Era digno, verdadeiro, ético, sincero, sensibilíssimo. Não admitia mentiras, nem palavras de baixo calão. Nunca as pronunciou, nunca levantou um dedo, nem a voz para nós. Não precisava conhecer uma pessoa profundamente; ele a ‘lia’ e já a ‘sabia’... Acho que o papai foi o homem mais

Ana Maria Miranda: muitas lembranças e gratidão

N

este ano, comemora-se o centenário do escritor e pesquisador espírita Herminio Corrêa de Miranda, que nasceu em 5 de janeiro de 1920, em Volta Redonda, RJ. O ‘velho escriba’ desencarnou em 8 de julho de 2013, aos 93 anos, deixando uma obra de inestimável valor, que reúne mais de 40 livros e dezenas de artigos espíritas, em que analisa temas diversos relacionados à espiritualidade: Deus, cristianismo, mediunidade, memória, obsessão, animismo e vidas passadas, entre outros. Para dar início às homenagens ao autor, que tem também vários títulos publicados pela Correio Fraterno, entrevistamos sua filha, Ana Maria Miranda. Ela conta com exclusividade detalhes emocionantes da vida em família e relembra passagens importantes da existência de Herminio entre nós. Acompanhe. cristão, na mais pura acepção da palavra, que conheci. Conviver com ele era viver permanentemente em Deus. Herminio conversava com vocês sobre espiritualidade, religião, Deus? Sim. Fomos criados, tal como ele e mamãe, na religião católica. Estudamos em colégios e faculdades católicos. Conversávamos sobre todas as religiões. As concordâncias e discordâncias eram dirimidas por ele, por alto. Acredito que só eu tinha algum interesse. Com 22 anos e já na faculdade, por vezes eu entrava em discussão com o professor de

direito canônico, e falava com ele. Ele jamais criticou, mas inteligentemente, como que semeava as palavras de Seu Pai em mim, sem que eu percebesse. Falava de Deus, do Cristo que nunca fundara uma religião, do livre- arbítrio, da lei do retorno, do amor isento de discriminação, da compaixão. Vital para ele era a intrínseca ligação amor-caridade. As palavras iam adentrando meu espírito e modus vivendi. Ele levava nossa religião muito a sério e não nos impunha de forma alguma suas crenças. O mesmo ele fez com seus leitores – não quis converter ninguém. Queria apenas expor sua visão das

coisas que pesquisara, os resultados que obtivera, o que sabia e até vivera, concluindo por vezes: “Eu não acho. Eu sei”. De Nova York [onde foi trabalhar pela Companhia Siderúrgica Nacional, de 1950 a 1954], ele já voltou ao Brasil com a cabeça fervilhando com perguntas que o catolicismo não conseguia lhe explicar. Já havia pesquisado muito. Buscou ler e pesquisar ainda mais, arriscando passar suas ideias a revistas especializadas, tais como Reformador, da FEB, cuja aceitação durou mais de 20 anos. Usava pseudônimos, como: Marcos, João Marcus, HCM, João, para não ferir a vovó Helena, sua mãe. Mas isso o perturbava. Na edição da revista de maio de 1961 saiu publicada a carta que escreveu a ela: “Carta à mãe católica”. Começava assim: “Mamãe, esta carta contém uma terrível confissão: tornei-me espírita”. Vovó morreu em janeiro de 1961, antes de a carta ser publicada, mas a resposta dela veio anos depois, sob a forma de duas mensagens mediúnicas. Os leitores podem acessá-la no livro Nossos filhos são Espíritos [ou ler a síntese nesta edição, na página 13]. Os familiares sabiam das suas comentadas reencarnações? Ele chegou a falar sobre isso com vocês? Convivemos com essas conversas toda nossa vida. Acho que foi comigo com quem teve mais abertura para falar de suas ‘coisas’ em épocas diferentes. Me contou sobre sua encarnação como Robert Browning Sr. (pai do poeta Robert Browning). Fora um alto funcionário do Banco da Inglaterra, que inclusive conheceu pessoalmente Kardec). Ele me falou muito antes de sua entrevista ao Globo Repórter sobre a reencarnação, de 13 de dezembro de 1996. Eu tinha lido poucos livros seus. Eu sabia da sua irrecorrível crença e provas incontestes de reencarnação, da regressão de memória, como a usava e para quê. Suas reuniões se davam agora em seu escritório, no novo apartamento, quando ele e seu grupo se reuniam e ele “dialogava


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com as sombras”. Tudo era gravado. Acompanhei na época, do lado de fora, as sessões de regressão de memória com o jornalista e escritor espírita Luciano dos Anjos. A família sabia que não poderia fazer qualquer barulho até que papai abrisse a porta, até que Luciano se fosse. O resultado se desdobrou no livro Eu sou Camille Desmoulins (Lachâtre). Com o passar dos anos, me falou também sobre outras existência, sobre sua ligação com Lutero, e sua insofismável admiração por Paulo, o Apóstolo. Você não é espírita. Chegou a ler as obras de seu pai? Sim, mas falhei flagrantemente. Li Diálogo com as sombras, O pequeno laboratório de Deus, Os procuradores de Deus, Histórias que os espíritos contaram, Eu sou Camille Demoulins, Nossos filhos são espíritos. Estou agora acabando de ler Diversidade dos carismas. O próximo será Autismo, o livro que teve um impacto incrível na mente dos pais de autistas.

ENTREVISTA tão conhecida do Herminio? Eles completavam aniversário de casamento dia 11 de agosto. Todos os anos eu mandava uma carta e flores. Eu trabalhava e trabalhei 48 anos. Mas, dia 22 de agosto, meu aniversário, eu ia sempre almoçar com eles. Almoçamos e papai chegou com meu presente: Nossos filhos, em mais uma edição! Ele pediu para eu ler o capítulo “Diploma de pai”. Sentei e li. Comecei a chorar na primeira linha (reconheci meu texto) e terminamos chorando juntos na última, os três abraçados. Eu virara ‘coautora’! Você chegou a ajudá-lo em algumas pesquisas? Ele dava notícias dos trabalhos que estava realizando, dos livros que pretendia escrever, das suas descobertas? Muito pouco. Mandava vir livros da Amazon, da ABE books, na Inglaterra, da Livraria Barnes & Noble de Nova York. Trazia muitos livros para ele quando viajava. Uma

Sinto que fui a filha mais abençoada do mundo. O Senhor me deu a felicidade de ser filha de Herminio” Saberia destacar as obras mais importantes dele, para você? Para mim, Os Procuradores de Deus, Histórias que os espíritos contaram, Diversidade dos carismas, Eu sou Camille Desmoulins, A memória e o tempo e Nossos filhos são espíritos.

vez, em Nova York, fui consultar um senhor que ia mandar por mim um livro raro para ele, que continha a resposta de uma pesquisa muito importante. Trouxe o livro. Sua última encomenda foi por livros de física quântica. Não deu tempo de comprar...

Como era Herminio escritor e pesquisador? Ele chegava pra nós e dizia sorrindo: “Devo anunciar que estou grávido”! Ele tinha um senso de humor incrível. A gente morria de rir. Pronto, daí já sabíamos que ele iria entrar em estado de hibernação: longas horas de estudos, muita pesquisa, muita leitura, e daí nasceria outra obra digna da doutrina, do conteúdo e dos leitores. Quando do ‘nascimento’ do livro, ele relaxava por algumas horas e já ficava grávido de novo...

Como era a convivência do seu pai com Inez, sua mãe? Se conheceram e casaram em seis meses, na antiga igrejinha de Nossa Senhora Aparecida, em 1942, em Volta Redonda. Eu nasci em agosto de 1943. Marta e Gilberto viriam seis anos depois. O amor deles foi único! Os dois eram um, até um mês antes de completarem 72 anos de casados. Apesar de participar de toda sua vida, mamãe não mudou de religião, e nunca houve qualquer problema quanto a isso. Assim, a família evoluiu com as decisões tomadas por ambos. E acho que deu certo.

No livro Nossos filhos são espíritos, ele começa falando de você e encerra com o seu “Diploma de pai”. Como foi estar presente nessa obra

Conte alguma passagem divertida, alegre, da intimidade de Herminio. Papai precisou fazer duas pontes de safena e

uma mamária em agosto de 2006. Tinha 86 anos. Ficou quatro dias na UTI e depois foi para a unidade coronariana e teve alta para ir para o quarto. Corremos para o hospital e para o quarto esperá-lo. De repente, vejo uma enfermeira empurrando um senhor numa cadeira de rodas: o ‘senhor’, de óculos, caneta esferográfica, cabeça baixa, escrevendo sobre os joelhos. Seria o velho escriba? Quem mais?!! Saí correndo e mamãe, mais devagar. Ele estava assustado! Me perguntou algo zangado: “O que sua mãe e você estão fazendo aqui?” Eu disse: “Ué, viemos receber você, com o sangue correndo livre por suas veias, seu cérebro pululando, suas pesquisas já te perturbando e teus livros esperando”. E, perguntei o por quê do espanto. Ele, chorando e rindo ao mesmo tempo, disse: “Eu achei que tinha morrido e estava no céu e vocês duas também”. Mamãe disse: “Eu estou vivíssima”. E falei: “E eu também”. Foi aquela alegria! Peguei a esferográfica e o guardanapo, e li: eram instruções pra mim sobre seus bancos, contas, senhas, investimentos, etc. Eu já sabia de cor. Depois de deitado e refeito do susto do “encontro coletivo no céu”, ele deu gargalhadas e disse: “Tinha tanta gente (espiritualidade) na sala de cirurgia que não podia dar outra coisa! Acho que fizeram uma lanternagem geral em mim”. Rimos mais ainda e escondi o guardanapo; era relíquia. O velho escriba faria mais sete anos de serão! Você acompanhou bem de perto a partida de seu pai. Qual a lição mais marcante que ficou? A fé, o amor pelo Pai e por seu ‘amigo’, o Cristo! A irrestrita obediência às ‘coisas’ de Deus. Percebi até uma alegria preocupada com a ‘volta pra casa’, na nossa última conversa: quando ele sorriu e me disse: “Tá todo mundo me esperando por lá...” Suas impossibilidades físicas, dada às complicações na saúde e da idade, tinham, de repente, desaparecido. Conversou comigo por duas horas, fluentemente. Qual a lição mais marcante? Acho que não sei responder. Eu ainda ‘estou gente’, esperando o embarque ‘pra casa’. Mas vislumbro-me chegando à Espiritualidade e o encontro: um abraço de amor, só amor... em silêncio. Um entenderia o outro pelo olhar ... Eu pediria apenas uma coisa: “perdão, papai, se te fiz sofrer...” Como filha, você acha que seu pai ainda guardava muitos segredos? Possivelmente. Acho que ele já estava triste por não poder escrever tudo que ainda tinha para contar. O serão acabara e ele apagou as luzes do quarto e voltou pra casa, mas o céu ficou todo iluminado...

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LIVROS & CIA. Editora Lachâtre Telefone: 11 2277-1747 www.lachatre.com.br Arquivos Psíquicos do Egito de Herminio C. Miranda 208 páginas 14x21 cm

InterVidas Editora Telefone: 17 3524-9801 www.intervidas.com Léon Denis fala aos jovens de Adeilson Salles prefácio de André Trigueiro 224 páginas 15,7x22,5 cm

Editora EME / CCDPE-ECM / CPDoc Telefone: 19 3491-7000 www.editoraeme.com.br Os livros dos espíritos de Luís Jorge Lira Neto 144 páginas 14x21 cm

Correio Fraterno Telefone: 11 4109-2939 www.correio.news/livros A feira dos casamentos de J. W. Rochester (espírito) psicografia de Vera Kryzhanovskaia tradução de Herminio C. Miranda 448 páginas 16x23 cm


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QUEM PEGUNTA QUER SABER

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Lembrança do passado Da REDAÇÃO

Como posso aproveitar a experiência de vidas anteriores se não tenho lembrança do passado?

A

llan Kardec destaca em O que é o espiritismo que para se compreender algumas questões, como a do esquecimento do passado, é preciso que se tenha entendimento de pontos que se encadeiam na lógica da doutrina dos espíritos. Explica que é a nossa inferioridade que não permite que isso aconteça, pois nos seria prejudicial. Ele lembra que em mundos superiores, onde o bem reina absoluto, a lembrança do passado não é dolorosa e por isso seus habitantes recordam os sucessos das existências precedentes, como nós as do dia anterior. O codificador destaca que, em nossa atual condição evolutiva, embora o espírito não tenha a lembrança do passado, ele nada perde do que adquiriu em existências anteriores. Seria como um aluno: Pouco lhe importa recordar onde, como e com que professores cursou o quar-

to ano, se ao ingressar no quinto souber o que aprendeu no quarto. “Que lhe importa se foi castigado por sua preguiça ou por insubordinação, se tais castigos o tornaram estudioso e dócil?”, assinala Kardec. Allan Kardec explica que essas memórias permanecem no Espírito, enquanto ser imortal. Ao reencarnar o homem traz intuitivamente, e como ideias inatas, o que adquiriu em cultura e moralidade. Se numa existência evoluiu, se aproveitou as lições da experiência, ao reencarnar será instintivamente melhor. “Seu espírito, enrijecido na escola do sofrimento e do trabalho, terá maior firmeza. Longe de ter de iniciar, possuirá reservas abundantes, nas quais se apoiará para aumentá-las mais e mais”. Ele lembra que, ao desencarnar, o Espírito recobra a lembrança do passado, quando então poderá medir o caminho percorrido e o que ainda resta percorrer. “O esquecimento temporário é um benefício concedido pela Providência, pois o Espírito adquire a experiência por meio de rudes provas e expiações, cuja lembrança seria demasiadamente penosa, e que viria juntar-se às angústias das tribulações da vida presente”. E deduz também que a lembrança do passado perturbaria as relações sociais e se tornaria um entrave ao progresso.


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BAÚ DE MEMÓRIAS

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

A última Revista Espírita com Kardec Por IZABEL VITUSSO

O

mês de março se aproxima e nos faz lembrar de Allan Kardec. Sua partida repentina por um aneurisma, aos 64 anos de idade, quando ainda se mantinha intenso em suas publicações, deixou a todos atônitos. Era o dia 31 de março de 1869. A edição de abril da Revista Espírita, que ele publicava desde 1958, já estava em processo gráfico. Seria o último número que verteria as impressões do Codificador sobre os desdobramentos da realidade do espírito pelo mundo afora. A Revista era o seu principal instrumento de pesquisa. Era através dela que mantinha acesso às diversas reações do público e à própria evolução do entendimento sobre a Terceira Revelação. Tratava-se de um verdadeiro laboratório em que as manifestações mediúnicas, colhidas pelo mundo todo, eram analisadas à luz da codificação e validadas com as experiências na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Nessa edição de abril de 1869 da Revista Espírita, Allan Kardec narra alguns dos tantos casos que sempre recebia de diversos pontos do globo.

A criança elétrica Um deles dá conta de uma criança recém-nascida em Saint-Urbain que estava agitando o povoado. Através dela estavam acontecendo ‘coisas’ que as pessoas atribuíam ao diabo. O menino, filho de agricul-

tores muito simples, tinha a capacidade de ter o seu corpo iluminado e quando dele aproximavam-se objetos, como: colher, faca, xícara, prato, estes eram tomados de um barulho e de uma vibração que ‘nada podia explicar’. Ao comentar no artigo, Allan Kardec não se vangloria de seu conhecimento. Antes o imputa à doutrina espírita: “Nenhum espírita veria nesse fato algo de sobrenatural, sendo um fenômeno puramente físico, uma variante, quanto à forma, do que apresentam as pessoas ditas elétricas”. Também reproduz as instruções dadas pelos espíritos, na Sociedade de Paris, que explicam que aqueles fenômenos se multiplicavam dia a dia para atrair a atenção da ciência. “O menino em questão é, pois, um instrumento, mas não foi escolhido para esse efeito senão em virtude da situação criada em seu passado. Sem dúvida é um assunto de estudo para os que o testemunham. Há, pois, o fato material, que é da alçada da ciência, e a causa moral, que pertence ao espiritismo”. Um cura médium curador Kardec também narra outro caso, enviado por um assinante, sobre um vigário do vale do Queyras, que sem estudos médicos estava curando multidão de pessoas, o que já tinha dado o que falar. E diziam que, mesmo enviado como cura a La Chalpe, na fronteira do Piemonte, ele continuou a ser útil à humanida2 de, aliviando e curando pessoas. Ao comentar o caso, o correspondente dá mostras de seu conhecimento: “Para os espíritas isto nada tem de admirável. Se vos falo do caso é porque no vale do Queyras ele faz muito barulho.

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Como todos os médiuns curadores sérios, nunca aceita nada. Segundo me disseram, S. M., a imperatriz herdeira da Rússia, lhe teria oferecido várias notas de banco, que ele recusou, rogando que as pusesse na caixa de esmolas, caso as quisesse dar para sua Igreja”. O cura acabou sendo denunciado por exercício ilegal da medicina. Dois policiais se apresentaram em sua casa para levá-lo às autoridades, mas o médium pediu que o aguardassem, porque precisava se alimentar. Durante a refeição, ele disse a um dos policiais: “Estais doente”. “Doente? Agora nem tanto; há três meses, nada digo”. “Pois bem! sei o que tendes; e, se quiserdes, posso curar-vos, se fizerdes o que eu disser.” O cura mandou suspender o policial pelos pés, deixando-o tocar as mãos na terra, sustentando-se, e colocou sob sua cabeça uma tigela de leite quente, deixando-o sob o vapor do líquido quente, o que fez com que ele expelisse um enorme parasita.

Lugares de onde Kardec recebeu algumas das cartas que publica na última edição que fez da Revista Espírita: 1. Vale do Queyras, nos alpes franceses. 2. Saint-Urbain antiga

Reconhecido, o policial levou a prova do que lhe acontecera junto ao acusado para as autoridades. Explicado o caso, o cura foi posto em liberdade. O correspondente registra que ele mesmo queria ter ido até o cura, mas a neve das montanhas impossibilitavam os caminhos, mas que quando possível, sempre buscava explicar aos envolvidos que os fatos nada tinham de sobrenatural, nem de diabólico. “Como se têm visto, há milhares de exemplos, desde os tempos mais remotos. E é um modo de manifestação do poder de Deus, sem que haja derrogação de suas leis eternas”, dizia.


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CAPA

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CORONAVÍRUS A lição das epidemias Por ELIANA HADDAD

I

AP PHOTO/KIN CHEUNG

niciamos este ano com a notícia de uma epidemia causada pelo coronavírus, um grupo de vírus já conhecido desde 1960 e que provoca doenças que vão de infecções leves a moderadas até as mais graves, como a pneumonia, e que podem levar à morte. O novo agente do coronavírus foi detectado inicilmente na China em Wuhan. Seu período de incubação é de 2 a 14 dias e apresenta como principais sintomas coriza, dor de garganta, febre, tosse e falta de ar. A transmissão acontece por meio de tosse ou espirro; contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão; e contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos. Desde dezembro do ano passado, quando surgiram os primeiros casos na cidade chinesa, centenas de pessoas morreram e milhares já se infectaram. Cidades são isoladas, aeroportos fiscalizados, mercado financeiro e turismo sofrem as consequências pelo medo do avanço da doença e o mundo, enfim, realmente se assusta, pois vários locais já foram atingidos. A Organização Mundial da Saúde declarou estado de emergência global, advertindo também para a solidariedade entre os países.

N

Para enfrentar sem medo

a Revista de julho de 1867, Kardec descreve a ‘terrível epidemia’ que devastava já há dois anos a Ilha Maurício (antiga Ilha de França). Em outubro1868, assinada pelo Espírito Clélie Duplantier, Kardec publica a seguinte comunicação na Sociedade Espírita de Paris: “Sem dúvida é apavorante pensar em perigos dessa natureza, mas, pelo fato de serem

necessários e não provocarem senão felizes consequências, é preferível, em vez de esperá-los tremendo, preparar-se para enfrentá-los sem medo, sejam quais forem os seus resultados. Para o materialista, é a morte horrível e o nada por consequência; para o espiritualista, e em particular para o espírita, que importa o que acontecer! Se escapar do perigo, a prova o

encontrará sempre inabalável; se morrer, o que conhece da outra vida fá-lo-á encarar a passagem sem empalidecer. Preparai-vos, pois, para tudo, e sejam quais forem a hora e a natureza do perigo, compenetrai-vos desta verdade: A morte não é senão uma palavra vã e não há nenhum sofrimento que as forças humanas não possam dominar.”


CAPA O aspecto espiritual Independentemente de medidas urgentes a serem adotadas, visando estancar a proliferação do vírus, vale refletir sobre alguns aspectos interessantes a serem observados: Por que nem todos são contaminados? Por que uns morrem (2% dos infectados, segundo a OMS) e outros não? Inicialmente, o espiritismo explica que as doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida terrena. “Nos mundos mais adiantados, o organismo humano, mais depurado e menos material, não está sujeito às mesmas enfermidades”. As condições de vida são muito diferentes da Terra. Também, “nos mundos felizes, as relações entre os povos são sempre amigáveis e nunca são perturbadas pela ambição de escravizar o vizinho, nem pela guerra”. Ora, em resumo, o mal ali não se faz presente, não havendo expiações. Isso significa que na Terra ainda vivemos uma infância espiritual de muitos contrários. “Tendes necessidade do mal para sentir o bem. Da noite para admirar a luz, da doença para apreciar a saúde”, nos ensinam os espíritos superiores. Santo Agostinho, em 1862, em Paris, fez uma observação sobre as afinidades e desafios enfrentados pelos espíritos nos mundos expiatórios. A Terra lhes seria fornecida como um dos tipos desses mundos. “As variedades são infinitas, mas têm como caráter comum servir como local de exílio a Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses espíritos aí têm que lutar, de uma só vez contra a perversidade dos homens e a inclemência da natureza. Trabalho duplamente penoso, que desenvolve ao mesmo tempo as qualidades do coração e as da inteligência”, explica em O evangelho segundo espiritismo. Não há acasos É claro que uma epidemia assusta, preocupa, mas é interessante que se tenha esses conceitos espirituais em evidência antes de se arriscar a fazer qualquer observação, pois Deus, em sua perfeição e misericórdia, atua através de leis também perfeitas e misericordiosas para que o progresso seja atingido em toda sua Criação. Por isso não há acasos. O pensamento materialista nos leva a conclusões precipitadas, que incluem percepções errôneas referentes a castigos, desarmonia, confusão, desleixo e fatalidade. A visão espiritualista, porém, nos colocando acima dos males do corpo físico, convida-nos ao trabalho e à confiança no futuro

para superarmos as dificuldades. O aprendizado é lento e contínuo. “Temos, assim, de nos resignar às consequências do meio onde nos coloca a nossa inferioridade, até que mereçamos passar a outro. Isso, no entanto, não é de molde a impedir que, esperando que tal se dê, façamos o que de nós depende para melhorar as nossas condições atuais. Se, porém, malgrado aos nossos esforços, não o conseguirmos, o espiritismo nos ensina a suportar com resignação os nossos passageiros males”. Outro ponto importante a ser observado é a mudança de estado dos Espíritos em evolução, ora encarnados, ora desencarnados. Uns chegam e outros se vão todos os dias por motivos diversos. Alguns regressam ao mundo espiritual em desencarnes coletivos, como no caso das guerras, tragédias e epidemias. (Veja quadro sobre as epidemias). Emigração e imigração dos espíritos Explica a doutrina espírita que, no intervalo de suas existências corporais, os Espíritos se encontram no estado de erraticidade e formam a população espiritual ambiente da Terra. Pelas mortes e pelos nascimentos, as duas populações, terrestre e espiritual, deságuam incessantemente uma na outra. Há, pois, diariamente, emigrações do mundo corpóreo para o mundo espiritual e imigrações

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Algumas epidemias na História Epidemia Mortes

Período

PESTE NEGRA CÓLERA

50 milhões (Europa e Ásia) Centenas de milhares

1333 a 1351 1817 a 1824

TUBERCULOSE

1 bilhão

1850 a 1950

VARÍOLA

300 milhões

1896 a 1980

GRIPE ESPANHOLA

20 milhões

1918 a 1919

TIFO FEBRE AMARELA

3 milhões (Europa Oriental e Rússia) 30 000 (Etiópia)

1918 a 1922 1960 a 1962

SARAMPO

6 milhões

Até 1963

MALÁRIA

3 milhões

Desde 1980

AIDS

22 milhões

Desde 1981

Fontes: Organização Mundial de Saúde (OMS) e Fundação Oswaldo Cruz

deste para aquele: é o estado normal. Em certas épocas, determinadas pela sabedoria divina, essas emigrações e imigrações se operam por massas mais ou menos consideráveis, em virtude das grandes revoluções que lhes ocasionam a partida simultânea em quantidades enormes, logo substituídas por equivalentes quantidades de encarnações. (...) Chegadas e partidas coletivas são meios providenciais de renovar a população corporal do globo. Na destruição de grande número de corpos nada mais há do que rompimento de vestiduras; nenhum Espírito perece; eles apenas mudam de ambiente; em vez de

partirem isoladamente, partem em grupos, essa a única diferença, visto que, ou por uma causa ou por outra, fatalmente têm que partir, cedo ou tarde. As renovações rápidas apressam o progresso social. Sem as emigrações e imigrações que de tempos a tempos lhe vêm dar violento impulso, só com extrema lentidão esse progresso se realizaria. É de notar-se que todas as grandes calamidades que dizimam as populações são sempre seguidas de uma era de progresso de ordem física, intelectual, ou moral e, por conseguinte, no estado social das nações que as experimentam.

A invasão microbiana

o livro Evolução em dois mundos, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira, no capítulo 40, “Invasão microbiana”, pergunta-se: A invasão microbiana está vinculada a causas espirituais? A resposta: “Excetuados os quadros infecciosos pelos quais se responsabiliza a ausência da higiene comum, as depressões criadas em nós por nós mesmos, nos domínios do abuso de nossas forças, seja adulterando as trocas vitais do cosmo orgânico pela rendição ao desequilíbrio, seja estabelecendo perturbações em prejuízo dos outros, plasmam nos tecidos fisiopsicossomáticos que nos constituem o veículo de expressão determinados campos de rutura na harmonia celular”. Isso quer dizer que nossos desajustamentos nos tornam passíveis de invasão microbiana e dificultam a regeneração natural das células, instalando-se assim a doença, pela desarmonia causada por nossas escolhas – conscientes ou não, de agora ou de ontem. E continua a resposta: “Geralmente, quase todos os

processos de doenças surgem como fenômenos secundários sobre as zonas de predisposição enfermiça que formamos em nosso próprio corpo, pelo desequilíbrio de nossas forças mentais a gerarem ruturas ou soluções de continuidade nos pontos de interação entre o corpo espiritual e o veículo físico, pelas quais se insinua o assalto microbiano a que sejamos mais particularmente inclinados”. E aqui entra também, ainda conforme a resposta, a importância da transformação moral para uma vida realmente saudável. “Amparo aos outros cria amparo a nós próprios, motivo por que os princípios de Jesus, desterrando de nós animalidade e orgulho, vaidade e cobiça, crueldade e avareza, e exortando-nos à simplicidade e à humildade, à fraternidade sem limites e ao perdão incondicional, estabelecem, quando observados, a imunologia perfeita em nossa vida interior, fortalecendo-nos o poder da mente na autodefensiva contra todos os elementos destruidores e degradantes que nos cercam e articulando-nos as possibilidades imprescindíveis à evolução para Deus.”


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VOCÊ SABIA?

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A sobrevivência de George Pelham Da REDAÇÃO

G

eorge Pelham, natural de Boston, desencarnou devido a uma queda de cavalo, com 32 anos de idade. Era autor de duas obras filosóficas e descendia de tradicional família norte-americana, da qual fazia parte Benjamim Franklin. Assistira em vida apenas a uma sessão espírita com a reconhecida médium norte-americana Sra. Piper (1859- 1950), mas se mostrara cético quanto à imortalidade. Então, quatro anos antes de desencarnar, disse ao seu amigo Hodgson, que era materialista e obcecado por provar que os fenômenos espíritas eram uma farsa, atribuída à telepatia: “Se eu morrer antes de você e se me achar ainda no gozo da existência, farei tamanhos esforços para revelá-la que a coisa há de fazer barulho.” George Pelham desencarnou em 17 de fevereiro de 1892 e já no dia 12 de março dava sua primeira mensagem escrita através da Sra. Piper, ao mesmo tempo em que o espírito Phinuit conversava com os presen-

Paris, no período de efervecência dos fenômenos espirituais

tes, usando a voz da médium, destruindo, assim, a teoria de que os fenômenos ocorriam graças à telepatia. Pelham referiu-se ao momento de sua morte: “Tudo escurecia para mim; depois voltou-me a consciência, porém, crepuscular, como quando alguém acorda antes da aurora. Ao perceber que eu não estava completamente morto, tive grande alegria.” E pediu que na próxima sessão trouxessem sua madrasta e seu pai – e os amigos,

frisou. Cético, o pai atendeu ao convite, mas solicitou que fosse apresentado com nome falso à médium. A farsa de nada lhe valeu, pois Pelham pegou lápis e papel e escreveu rapidamente: “Olá, meu pai e minha mãe! Eu sou George!” Em outra sessão, George Pelham disse que desejava ver o professor James Howard, com quem mantivera em vida longas discussões filosóficas. E adiantou que custaria ao professor crer que ele estivesse vivo.

Howard veio em companhia de William James, filósofo e psicólogo americano, mas quem teve uma forte comoção foi George Pelham e não respondeu às perguntas do amigo. Na noite seguinte, Howard propôs: “Diga-me alguma coisa de que nós dois sejamos os únicos a conhecer. Tínhamos idênticas maneiras de pensar sobre muitos assuntos.” Imediatamente a mão da sra. Piper começou a movimentar com grande rapidez e os fatos mais íntimos foram escritos, tão íntimos, que Howard não permitiu que fossem divulgados. Em seguida, Pelham escreveu a frase: “Agora, assunto pessoal para William James.” Todos se retiraram da sala. Ao regressarem minutos depois, encontraram William James com lágrimas nos olhos — mas o célebre filósofo jamais contou o que se passara. Apenas disse: “Acabo de obter tudo o que desejava como provas!” Fonte: Kardec, Irmãs Fox e outros. Jorge Rizzini, EME.


ANÁLISE

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A batalha de opiniões e suas consequências Por JOÃO KOSMISKAS

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Terra é abençoada escola em que estagiamos com a finalidade de progresso do espírito eterno. Nela vivemos disciplinas diversas, de acordo com as nossas capacidades e necessidades, porém é indiscutível a possibilidade de tudo aprender em uma única encarnação. Segundo os mentores espirituais, nas experiências educativas, a grande maioria de nós fracassa fragorosamente, alguns alcançam sucesso parcial, e raros obtém a completude do aprendizado, para aquela existência. Por que a grande maioria fracassa nas provas terrenas? A doutrina espírita esclarece que ainda somos espíritos inferiores, ou seja, egoístas, orgulhosos e ignorantes, que manifestamos nossas tendências onde estivermos e no que fizermos. Portanto, nas novas reencarnações mostramos quem somos e repetimos as mesmas tendências, até que a dor, para maioria de nós, induza a mudança de nossos hábitos. Um exemplo disso tudo é a conturbação social que, mais uma vez, toma todos os recantos do planeta, com a intolerância e a polarização levando ao separatismo entre povos, nações e famílias. Pois, mais uma vez, atraídos por ideologias transitórias, fascinados pelos poderosos do momento ou norteados, exclusivamente, pela prosperidade material a qualquer preço, atacam os que consideram, ou imaginam, adversários, na suposição de defenderem ideias concebidas por outros,

que adotam como suas. Agora, nessa ‘guerra de opiniões’, travada nos meios de comunicação usuais e nas redes sociais, a mentira, a maldade, a falsidade, a perversão de valores, das virtudes humanas e cristãs, até a utilização de nomes veneráveis e de textos religiosos para justificarem suas atitudes. O livro Os mensageiros1, do Espírito André Luiz, psicografado pelo médium

Chico Xavier, em 1944, portanto durante a Segunda Guerra, esclarece sobre o alcance do poder destruidor dessas bravatas entre os encarnados. “Nossos aparelhos assinalam aproximação de grande tempestade magnética. Pois, os que não se encontram nas linhas de fogo, permanecem nas linhas da palavra e do pensamento. Quem não luta nas ações bélicas, está no combate das ideias,

comentando a situação. Reduzido número de homens e mulheres continuam cultivando a espiritualidade superior. Portanto, é natural que se intensifiquem, ao longo da crosta, espessas nuvens de resíduos mentais dos encarnados invigilantes, multiplicando as tormentas destruidoras...” André Luiz ainda comenta sobre a interferência de trabalhadores espirituais, encarregados da preservação da saúde humana, “que suportam pesados fardos para que as tormentas magnéticas, invisíveis ao olhar humano, não disseminem vibrações mortíferas, a se traduzirem pela dilatação de penúrias da guerra e por epidemias sem conta”. A orientação de Jesus de “Olhar, vigiar e orar” não estimula a desconfiança. É recomendação de cuidado e responsabilidade para conosco mesmos, com nosso pensar, falar e agir. Vem a Terceira Revelação com a doutrina dos espíritos e realça que pensar, falar e agir impõem manifestação de cunho vibratório, de alcance ainda desconhecido pela ciência humana, porém determinante à saúde física e comportamental da coletividade. Observem as novas epidemias, o ressurgimento de velhas doenças, o número cada vez maior de tumores. Para aqueles que tiverem “olhos de ver e ouvidos de ouvir”, saibam que o pensar é livre, mas não é sem responsabilidade. Capítulo 18: “Informações e esclarecimentos”, FEB.

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AGENDA

CULTURA & LAZER PASSATEMPO DO CORREIO

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Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Encontro Paulista de Evangelizadores MAR Acontece nos dias 14 e 15 de março o 5º Encontro Paulista de Evangelizadores, com o tema central: “Valorização da vida e o suicídio na infância”. O evento se realiza no Instituto Espírita de Educação, à rua Prof. Atílio Innocenti 669, Itaim Bibi, São Paulo, SP. Inscrições: Infancia.usesp.org.br

ENIGMA

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Qual o nome que dá ao fenômeno espiritual em que a escrita aparece no papel sem o uso da mão do médium ou de qualquer objeto material de escrita?

Fraternidade sem Fronteiras Será realizado de 17 a 19 de abril, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, São Paulo, SP, o IV Encontro Fraternidade sem Fronteiras, que contará com a presença de André Trigueiro, Divaldo Franco, Wagner Moura, Rossandro Klinjey e Monja Coen. Inscrições: sympla.com.br/iv-encontro-fraternidade-sem-fronteiras__506708

ABR

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Congresso Espírita FEESP 2020 De 30 de abril a 3 de maio ocorrerá, na sede da ABR Federação Espírita do Estado de São Paulo, Rua Maria Paula, 140, São Paulo, SP, o 10º Congresso Espírita FEESP 2020. O tema do evento será: “Leis divinas: Vivendo desafios com consciência social”. Presenças de Haroldo Dutra, Andrei Moreira, Artur Valadares, Umberto Fabbri, José Carlos de Lucca, Alberto Almeida, dentre outros. Inscrições: feesp.org.br

30

Encontro e Fórum Nacional de Arte Espírita Ocorrerão em Brasília, de 11 a 13 de junho, o JUN 3º Encontro Nacional de Arte Espírita e o 17º Fórum Nacional de Arte Espírita, promovidos pela Associação Brasileira de Artistas Espíritas. Tema: “A Arte na trajetória evolutiva”. Inscrições para apresentações artísticas (música, dança, teatro, artes plásticas, audiovisual, arte sequenciada, fotografia, poesia) até dia 10 de março. Informações: abrarte.org.br/enarte

qualquer hora, em qualquer lugar

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Somente chega a entender a vida quem compreende a dor.

Congresso Estadual de Espiritismo Acontece de 26 a 28 de junho, em Atibaia, SP, o 18º Congresso Estadual de Espiritismo. Com o tema “Evolução do ser: consciência e livre-arbítrio”, o evento é coordenado pela USE-SP e conta com a participação de Alberto Almeida, André Luiz Peixinho, Artur Valadares, Haroldo Dutra Dias, Rossandro Klinjey, Sandra Della Pola, dentre outros. Local: Tauá Hotel & Convention (Rodovia Dom Pedro I, km 86, Atibaia, SP. Inscrições: congressousesp.org.

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JUN

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Solução do Passatempo Veja em: www.correiofraterno.com.br

Resposta do Enigma: Escrita direta ou

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pneumatografia

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Família

Região do ABC Retirada de doações para o Bazar Permanente ligue (11) 4109-8938 Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio


ESPECIAL 100 ANOS

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Como me tornei espírita Por HERMINIO MIRANDA

E

u me vira, de repente, sem uma religião específica, e isso de certa forma me incomodava. O rótulo de católico não me servia mais, e eu não tinha outro para colar por cima. O de protestante não me assentava, não sei por que misteriosas razões... Quanto ao de muçulmano ou budista, deles não cogitara. O de ateu me repugnava liminarmente; o de espírita não me ocorrera ainda considerar, mesmo porque ficara em mim um resíduo de desconfiança, depositado por sermões e prédicas, advertindo quanto aos ‘perigos’ dessa ‘seita’ patrocinada pelo demônio. Enquanto isso, eu percorria regularmente as páginas do Evangelho e voltava a examiná-las nos pontos de meu maior interesse, especialmente as epístolas de Paulo, que mais me atraíam, se bem que muitos aspectos de seus ensinamentos me parecessem obscuros ou mesmo incompreensíveis. Eu entendia que me faltava uma chave qualquer, com a qual pudesse abrir portas e cofres, que certamente guardariam riquezas de sabedoria. Foi somente pelos 35 anos de idade que comecei a examinar com seriedade a doutrina que os espíritos haviam transmitido a Allan Kardec. Não houve dificuldade alguma na aceitação daqueles conceitos. Iam tendo ressonância em minha mente, como coisas que eu conhecia e que estava apenas transplantando de alguma gaveta secreta do inconsciente para a consciência de vigília. Restava um sério problema a resolver. Minha mãe permanecia católica convicta e praticante. Fiel à sua maneira de ser, considerando com sérias reservas tudo quanto se referisse a espíritos e espiritismo. Eu não queria magoá-la. Guardei para mim minhas convicções, pois afinal de contas nosso Deus era o mesmo, como também nosso Evangelho, do mesmo Cristo, que ambos amávamos, cada um a seu jeito. Mas eu queria escrever sobre as coisas que agora circulavam pela minha mente. Queria transmitir um pouco daquelas ideias que vieram dar sentido às minhas aspirações. Em dezembro de 1956, com 36 anos de

Foi somente pelos 35 anos de idade que comecei a examinar com seriedade a doutrina que os espíritos haviam transmitido a Allan Kardec” idade, fiz minha estreia como bisonho e tímido articulista, nas páginas da revista Reformador, que me abrigaria durante 24 anos. Os primeiros trabalhos saíram apenas com as iniciais de meu nome. Contudo, senti-me, no dever de escrever-lhe uma carta aberta, a fim

de explicar-lhe como e por que me tornara espírita, chamada “Carta à mãe católica”. Anos depois de sua partida para o mundo espiritual, Divaldo Pereira Franco, o querido amigo e médium baiano, transmitiu-me um recado que ele não estava entendendo, mas

que reproduziu fielmente. Apresentara-se à sua vidência uma senhora, cuja aparência ele descreveu, que lhe pedia para dizer a João Marcus — e apontou para mim — que lera com muita emoção minha carta e agradecia as palavras de carinho. “Quem é João Marcus? — perguntou ele? Expliquei-lhe, sob o impacto das emoções, o que tudo aquilo queria dizer. Outros recados ela me mandaria. Certa vez, quando eu atravessava um período de grandes aflições, ela comunicou-se pela psicografia. Levou para a vida no além o hábito de escrevê-las, com a mesma beleza e a mesma e naturalidade como quem conversa. E disse: “Um coração de mãe é como uma fonte, donde o amor jorra constantemente, num fluxo ininterrupto que se perde pela eternidade afora. Sabes que jamais me senti à vontade com as letras. De certa forma, elas sempre me intimidaram. Agora sei que era o receio que meu espírito trazia de desviar-se do trabalho que deveria fazer. Agradeço-te, meu filho, seres o que és. O teres prosseguido nas convicções de tua fé, apesar do respeito e amor por mim. Não esmoreça, filho. Se muito não pude dar-te, ao menos dei-te o exemplo da tenacidade e perseverança, confiando na vida e acreditando nos meus deveres. Aqui aprendemos que não existem separações de famílias ou convenções de sociedade. Todos se identificam pelos anseios, esperanças ou dores. Não permita que a adversidade te afaste do caminho de teus deveres para com o Cristo e para com a tua fé. Tu sabes, melhor do que eu, o que ela vale. Prossiga, filho. Teu coração está guardado no meu coração. Agradeço a Jesus a oportunidade e rogo por ti, para que o Senhor te recolha em seu regaço e te embale a cabeça cansada, acalentando-te na sua paz. Todo o amor de meu coração humilde. Helena, tua mãe.” Fonte: Nossos filhos são espíritos, Herminio Miranda, Lachâtre.


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FOI ASSIM

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Um caso trágico Da LAURO CARVALHO DE FREITAS

A

conteceu em Cristalina, GO, cidade famosa pela produção de pedras semipreciosas, exatamente no dia 16 de maio de 1951. Testemunha participante do ocorrido foi o sr. Fritz Mohn, um rapazinho de vinte e poucos anos. Estava em pleno alvoroço a ‘febre do cristal’, com centenas de ‘catas’, locais de exploração manual do cobiçado minério. Na cata onde ele trabalhava havia dez homens. Cavando cada vez mais, sem os cuidados recomendados, separando aqui e ali as pedras que iam encontrando. De repente, desmorona o imenso aluvião de terra e cascalho, e os soterra a todos. O único que ficou de fora foi Fritz Mohn, que tinha ido pegar uma ferramenta. O desastre ocorreu quando ele já estava chegando de volta, tendo assistido a tudo e ficado enterrado até os joelhos. Mal recuperado do susto, saiu correndo pedir socorro. Veio uma porção de gente, que cavou depressa e conseguiu salvar quatro. Faziam parte do tocante episódio os irmãos Domiciano e Joaquim Ribeiro, tios de Fritz. Joaquim ficou numa posição em que sobrou pequeno espaço livre, mal sustentado por torrões e raízes. A sua aflição era indescritível, naquele escurão e sufoco, como que sepultado vivo. Durante alguns segundos, ficou sem poder se mexer, aturdido, suando a cântaros. Ouvia a respiração ofegante do irmão Domiciano, caído bem junto a si. Notou, consternado que a respiração do irmão variava entre desesperos e diminuição. Logo foi parando, parando, até cessar... Percebeu que ele havia morrido. Católico fervoroso, Joaquim elevou sentida prece, rogando que o Senhor lhe desse mais algum tempo de vida, que o livrasse daquela morte horrível. Naquele momento, sentiu alguém junto de si e uma voz amiga lhe dizia ao ouvido: – Respire devagarinho, devagarinho, o mais lentamente que puder, e aguarde quieto. Assim ele fez, contendo a custo a ânsia de tomar um longo fôlego, e esperou minutos que lhe pareceram séculos. Daí a pouco começou a ouvir sons

Ah, se todo mundo compreendesse o valor da vida, se todos meditassem no valor das coisas simples, como o chão firme que se pisa, o ar que se respira... surdos, como de ferramentas na terra. Ele diz que só quem passou por situação semelhante pode avaliar a extensão da ânsia de que se vê possuída a pessoa, um misto de alegria, esperança e uma terrível preocupação de que os possíveis socorredores desistissem de cavar naquele lugar e partissem para outro. Os ruídos foram aumentando, tornando-se mais próximos, até que a primeira réstia de luz do sol surgiu e, com ela, uma lufada de ar fresco. Tentou tomar o ansiado fôlego profundo, quando percebeu que a parte do tronco presa não lhe permitia o movimento suficiente da caixa torácica. Teve uma crise de sufocamento, mas, já visto pelos companheiros, o salvamento foi completado. Joaquim comenta que, se todo mundo compreendesse o valor da vida, se todos meditassem no valor das coisas simples, como o chão firme que se pisa, o ar que se respira... certamente haveria mais respeito e acatamento aos dons divinos da vida. Se todos, finalmente, conhecessem o poder

da fé e o utilizassem, tantos males e desastres seriam evitados! Desde então, sempre que se vê em situação difícil, recobra o ânimo, volta o pensamento para Deus e pensa:

– Isso não é nada. Duro foi quando me vi tão próximo da morte, naquele fatídico dia de 1951 em que, infelizmente, perdi meu irmão e mais quatro companheiros de uma só vez!

Lauro Freitas de Carvalho desencarnou no dia 6 de dezembro de 2019, em Goiânia, GO, aos 83 anos, deixando sua grande contribuição ao movimento espírita no Brasil. Fundou em Brasília, em 1960, o Sanatório Espírita de Brasília e a Livraria Espírita Brasil Central, que se tornaram referências na distribuição dos livros espíritas pelo Brasil, no tratamento de problemas mentais, em conjunto com a obsessão, e também na formação de muitos trabalhadores espíritas.


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DIRETO AO PONTO

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O que é ser bem-sucedido Por UMBERTO FABBRI

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em-se, por vezes, o entendimento do progresso como se ele ficasse restrito apenas à condição do poder, do sucesso financeiro, do reconhecimento da sociedade ou outros aspectos de destaque. É muito natural que a criatura reencarnada tenha aspirações dentro destas realidades materiais que não podemos de fato negar. O Espírito possui o instinto de conservação que o leva a buscar o progresso, sendo natural que do seu íntimo uma força poderosíssima o empurre para frente, para as conquistas de patamares superiores, que em um primeiro momento poderão ser materiais. De fato, é inato o desejo de vivermos mais e melhor em todos os sentidos, visando nosso bem-estar e também o da sociedade, que evolui com o esforço de cada um, na busca das possibilidades de consumo, girando a economia, criando mais empregos e oportunidades. O perigo está no excesso, no consumismo. A conquista no terreno das posses materiais não é tudo. Somos Espíritos, seres cósmicos, voltados para um crescimento integral e não conquistaremos estes resultados de verdadeira ascensão com valores e objetivos materialistas. Foi Jesus quem nos ensinou que os valores reais deveriam ser acumulados nos céus, referindo-se ao nosso interior, onde as conquistas verdadeiras são concentradas. Porém, em momento algum estimulou a busca por uma vida sem interesses, no que tange ao progresso. Ele incentivou que usássemos nossas oportunidades como verdadeiros mecanismos para o cresci-

mento e enriquecimento real. Aquele que estuda, trabalha e se esforça não está apenas buscando ‘ganhar a vida’, como se diz no jargão popular, mas sim, inteligentemente exercitando virtudes, como disciplina, paciência e a caridade, quando tenta melhorar a sua vida e também a do semelhante. O empresário é o missionário do emprego, todavia o que faz com seus recursos financeiros e os de natureza divina, ou seja,

suas qualidades espirituais, seus talentos, são de sua inteira responsabilidade. Não se trata de negligenciar riquezas e oportunidades. A questão é usá-las bem, até porque, somos meros usufrutuários dos recursos divinos, a começar pelo próprio corpo físico que nos serve como instrumento. O esforço e empenho aplicados trarão resultados efetivos no terreno material, mas principalmente nas conquistas espirituais e, para isso, temos o Evangelho do Cristo

como roteiro seguro. Procuremos aplicar o amor naquilo que realizamos, com o respeito adequado para com o semelhante. Dessa forma, certamente, teremos sucesso em nossa caminhada. Se estivermos posicionados na administração do lar ou também em atividades fora dele, entendamos que ser bem-sucedido não passa só pelo caminho de amealhar a riqueza material, mas principalmente amealharmos riquezas com as bênçãos da gentileza e da educação. Diante dos quadros que a vida vier a nos apresentar, sem qualquer conformismo de nossa parte, mas com a serenidade daquele que procura fazer o melhor, lembremos que só estamos posicionados nesta ou naquela função, com mais ou menos sucesso, mas a realidade que importa verdadeiramente é nossa aquisição espiritual. Abençoemos as chances que a vida oferece pelo esforço que estamos fazendo. Que diante do sucesso lembremos que nossa melhor recompensa é a consciência tranquila de termos feito o melhor em todos os momentos. Se a riqueza e o reconhecimento público nos visitar, lembremo-nos de que tudo pertence ao Criador e, devemos render graças pela confiança que Ele teve em depositar essas bênçãos em nossas mãos. Peçamos também a Ele que nos auxilie em administrá-las com sabedoria. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.


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CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2020

MÍDIA DO BEM

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Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Praias inclusivas

Menino de 5 anos convida toda a classe para assistir à sua adoção legal

Aposentado, amante de livros, cria biblioteca móvel

Em Fortaleza, CE, a praia de Iracema conta com a equipe do programa Praia Acessível, que utiliza cadeiras anfíbias e esteiras de acesso para que pessoas com dificuldades de movimentação consigam se banhar no mar. Todo o serviço é gratuito e acompanhado por instrutores e voluntários. Nas praias do Rio de Janeiro, a acessibilidade é oferecida em mais de uma praia. Além da iniciativa de auxílio de locomoção até o banho de mar, a ONG Adaptsurf dá aulas de surf adaptado.

Um garoto de 5 anos convidou toda a sua classe da escola onde estuda, em Michigan EUA, para acompanhar a sessão judicial em que seria adotado legalmente. O menino, identificado como Michael, passou a fazer parte oficialmente de sua nova família após a conclusão do processo na corte do condado de Kent. A foto compartilhada pela Justiça no Facebook, que viralizou nas redes sociais, mostra o garoto relaxando numa cadeira muito maior que ele, próximo aos seus pais adotivos.

Antonio De Cava é um italiano aposentado, amante incondicional da leitura e ex-professor do sul da Itália. No entanto, ele acha que o seu trabalho como educador ainda não terminou, porque sabe que em algumas aldeias italianas as crianças não têm acesso a livros tão facilmente. Foi por isso que resolveu criar uma biblioteca móvel com mais de 700 livros para ir de aldeia em aldeia, distribuindo cultura para esses jovens.

Fonte: Revista IstoÉ

Fonte: BBC News

Fonte: A soma de todos os afetos


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