CORREIO
SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o
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ISSN 2176-2104
FRATERNO
ENTREVISTA
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A Bíblia e Allan Kardec Estudioso de línguas antigas e conhecedor profundo da Bíblia, Severino Celestino faz uma análise entre a doutrina espírita e os textos bíblicos. Páginas 4 e 5
O que esta quarentena forçada quer nos ensinar?
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á escreveu Cecília Meireles: “Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve...”. Desta maneira gentil, talvez Cecília tenha desejado nos dizer que o simples pode ser o suficiente para aquecer e unir duas pessoas, dois corações. Hoje, estamos recebendo o convite do simples. Sem presentes caros, sem viagens ostentadoras, sem roupas de marca, sem games irados, sem a materialidade sedutora que faz apelos aos nossos instintos; e não se dirige ao amor verdadeiro de Jesus. E foi o doce Rabi da Galileia que nos ensinou que esta mesma materialidade seria corroída pela ferrugem, comida pela traça; porém, imperecível e verdadeiro era o seu amor. Páginas 8 e 9.
Maria, a alegria que faltava Uma das fantásticas experiências vividas por Nancy Puhlmann, que por déacadas esteve à frente da Instituição Nosso Lar, em São Paulo, mostra que a vida sempre nos oferece o melhor. Página 11
Herculano Pires e a hora do aprendizado Heloisa Pires lembra o pai, Herculano Pires, para falar do momento de crescimento moral por que passa a humanidade, momento de se colocar o bem coletivo acima dos nossos desejos. Leia na página 14.
Educar-se para a morte é ajustar-se à realidade da vida
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EDITORIAL
Confiemos! É
incrível como o entendimento da lei divina, pelo menos em sua teoria, nos dá respostas para as perguntas mais embaraçosas. Nesta nossa existência, nas anteriores e nas posteriores, ela é realmente a base para os caminhos seguros, os pensamentos claros e os sentimentos serenos. Não é fácil a prova coletiva com que a humanidade se depara. As opiniões são muitas, as mensagens variadas, conflitos políticos, sociais e econômicos, tantas vertentes de inseguranças que estão, todas, dentro do mesmo pacote da harmonia, justiça e beleza da Criação, ainda que por vezes não o entendamos em sua plenitude. O Correio Fraterno chega até você, leitor, também em quarentena. Mas quando estamos sintonizados no traba-
lho do bem e no esforço pela fé robusta não há isolamento. Podemos estar distantes fisicamente, mas sabemos que para o espírito não há barreiras, porque o pensamento é livre. E foi pensando nesta edição que substituímos as angústias geradas pelas intermitentes notícias da pandemia do coronavírus por TRABALHO, para que o nosso compromisso não se perdesse em meio a tantas mudanças, necessárias para que se preserve o que há de mais importante: a vida. Esperamos que esta edição possa auxiliar você na reflexão, no conhecimento e também no lazer útil de sua leitura. Tem entrevista com Severino Celestino, ex-seminarista e hoje especialista na análise da Bíblia na visão espírita, assim como um
FALE COM O CORREIO Entrevista com Nena Galves • Maravilhosa entrevista. (“Menos queixas. Mais visão de realidade”, edição 490). Grandes ensinamentos. Vou levar para a nossa Casa Espírita. Muito obrigada. Aracy, Itu, SP. Quero parabenizar pelo excelente trabalho de divulgação doutrinária realizado através do Correio Fraterno. Formato, conteúdo e apre-
sentação da melhor qualidade, além de uma inteligente maneira de compartilhamento através da comunicação digital. Salomão Jacob Benchaya, Presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. A lição das epidemias Muito esclarecedora a matéria sobre o coronavírus (edição 491). Me fez ampliar a visão acerca da epidemia. Que Deus sempre os
Uma ética para a imprensa escrita
texto especial de Paula Guimarães sobre a importância do calor humano. Tem os bastidores dos tempos de Ranieri e João Cabete nas sessões de materialização, a lembrança de Heloisa Pires sobre seu pai, Herculano, que há 41 anos partiu para o plano espiritual e cujas obras ainda continuam tão presentes e necessárias para o movimento espírita. Não podíamos esquecer também de Herminio C. Miranda, que é relembrado nesta edição com seu texto especial sobre O livro dos espíritos. Tudo isso e muito mais! Fé, coragem, esperança! Que isso nunca nos falte! Boa leitura! Equipe Correio Fraterno
abençoe para escreverem tão positivamente para nós. Lucilena, São Paulo, SP. Meu pai, Herminio Miranda • Creio ter quase toda a obra de Herminio Miranda. Sou admiradora convicta. Livros preciosos de ensinos múltiplos. Além do excelente conteúdo, ensinam-nos a refletir, expressam bem o ser maravilhoso que é. Maria Helena Correia, por email. • Um homem que escreveu mais de 40 livros, sobre diversos assuntos, realmente foi um gênio! Ele ficará sempre em nossa mente! Viva os “100 anos” de Herminio! Adriano Henrique, Caruaru, PE.
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Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.
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ACONTECE
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A história de
O ator Danton Mello, no papel do médium que se tornou a esperança de cura para milhões de pessoas entre 1950 e 1970
Zé Arigó nos cinemas Da REDAÇÃO
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strelado por Danton Mello e Juliana Paes, chega aos cinemas ainda este ano o filme Predestinado – Arigó e o espírito do Dr. Fritz. Com estreia inicialmente marcada para o mês de junho, mas suspensa em virtude do novo coronavírus, o filme conta a história do médium mineiro, José Pedro de Freitas, o Zé Arigó, que se tornou a esperança de cura para milhões de pessoas do final da década de 1950 até 1970. Com direção de Gustavo Fernandez e roteiro de Jaqueline Vargas, o filme é produzido pela Moonshot Pictures, FJ Produções, The Calling Production. Como coprodutores estão a Paramount Pictures e a Camisa Listrada BH. A história de Arigó emociona. Ele recebeu orientações de Chico Xavier para o exercício da sua mediunidade e acabou atraindo a atenção do mundo todo, como o primeiro médium a fa-
zer cirurgias espirituais. Sua dedicada vida e trabalho foram bastante pesquisadas e registradas em documentários, programas de TV, revistas e trabalhos de pesquisadores internacionais. O escritor, jornalista e filósofo J. Herculano Pires dedicou-se à defesa do médium que, incompreendido, sofria inúmeras perseguições, escrevendo o livro Arigó, vida mediunidade e martírio (Paideia) dando relevância ao aspecto científico do fenômeno mediúnico. “Com esse filme vamos poder deixar registrado o grande trabalho que ele fez, sua vida simples, difícil e o bem que fez para tanta gente”, conta Danton Mello, que faz o papel do médium. Rodado em Congonhas, cidade natal do médium, Cataguases e Rio Novo, Minas Gerais, o longa conta a vida de José Arigó, desde os pequenos sinais de me-
diunidade precoce na infância, sua adolescência de descobertas, até adulto, quando as visões e vozes do mundo espiritual o fizeram aceitar seus dons e dar vazão às fantásticas cirurgias espirituais e processos de cura do espírito Dr. Fritz, médico alemão, falecido durante a Primeira Guerra Mundial. Mesmo atacado violentamente por céticos e incrédulos da época, Arigó tudo superou com o apoio de sua esposa Arlete (Juliana Paes). Juntos, amparados pelo amor e pelo plano espiritual, conseguiram salvar milhares de vidas através das impressionantes cirurgias espirituais. O mineiro simples foi combatido por muitos e amado por milhões. Fazem parte do elenco também: Mar-
cos Caruso, Alexandre Borges, Marco Ricca, Cássio Gabus Mendes, João Signorelli e James Faulkner. Trailer: https://youtu.be/51LaCnu-xNg
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ENTREVISTA
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Os textos bíblicos e a
Revelação Espírita Por ELIANA HADDAD Por que a mensagem de Jesus tem tantas versões? Severino Celestino da Silva: Em princípio, a mensagem de Jesus é universal. Ela veio para todos, religiosos e não religiosos. O objetivo foi sempre nos assistir, através do seu amor. No entanto, os homens sempre tiveram dificuldade de entendê-la por vários motivos. Inicialmente, pelo fato de que Jesus falava hebraico e aramaico e sua mensagem foi escrita pelos discípulos em grego. Nem todos entendem estes idiomas e ficam na dependência de tradutores, às vezes não confiáveis e fiéis ao que está escrito nos textos originais. Também, as religiões cristãs traduziram e têm traduzido a mensagem de Jesus com intenções de atender, às vezes, a sua visão religiosa. Que importância tem o estudo da Bíblia para o espiritismo? Tem grande importância. A doutrina espírita tem bases e um grande suporte nos textos bíblicos. Não existe espiritismo sem Evangelho. A Bíblia, em seus textos originais, representa um repositório de fenômenos e registros de histórias mediúnicas de todos os tipos. Em O livro dos médiuns, vamos encontrar explicações científicas para estes fenômenos produzidos pelos profetas que, na verdade, foram grandes médiuns. A Bíblia também apresenta ensinamentos que foram adotados na codificação da doutrina espírita, como a reencarnação (as vidas sucessivas) que se encontra em muitas passagens do Velho Testamento e Evangelhos. A que o senhor atribui as guerras religiosas? A guerra, de qualquer natureza, está sempre relacionada com interesses pessoais e materiais, além do egoísmo e do orgulho que estão sempre presentes nestes casos. As religiosas são ainda muito mais surpreendentes, porque não se consegue entender como alguém ligado à espiritualidade e ao amor pode promover uma guerra. A guerra
Severino Celestino: A doutrina espírita tem bases e um grande suporte nos textos bíblicos
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rofessor, pesquisador e escritor, Severino Celestino da Silva é estudioso de línguas antigas e profundo conhecedor da Bíblia. Doutor em odontologia pela Fundação de Ensino Superior de Pernambuco, é professor-titular no curso de odontologia da Universidade Federal da Paraíba e espírita há mais de 40 anos. Tem pós-doutorado em ciências das religiões pela Pontifícia Universidade Católica de Goiânia-GO, e é fundador e professor do curso de ciências das religiões da Universidade Federal da Paraíba, onde lecionou judaísmo e cristianismo primitivo por 15 anos. Durante este período, Severino se debruçou intensamente sobre as obras de Kardec, relacionando o espiritismo com a Bíblia, em hebraico, sua língua original. Sobre o tema, o professor possui diversas obras publicadas, dentre elas: Analisando as traduções bíblicas, O sermão do monte e Analisando as traduções bíblicas. Leia a esclarecedora entrevista que Severino concedeu ao Correio Fraterno. religiosa é um contrassenso, e maior ainda, quando religiosos de qualquer corrente procuram justificá-la como se fosse uma vontade do ser superior espiritual a quem eles seguem. Como entender que Alá, Buda, Krishna e Jesus possam concordar com as guerras que seus seguidores têm feito em nome de Deus? Como melhor compreender os Evangelhos? Como estudá-los? Os Evangelhos são as melhores mensagens sobre os ensinamentos de Jesus. Eles contêm o seu ensino moral, seus atos, pa-
rábolas e predições. Podem ser estudados partindo-se do conhecimento de que Jesus era um judeu, que teve sua história escrita por judeus e para os judeus. E devem ser estudados seguindo-se a ordem dos ministérios de Jesus, sem esquecer a importância de conhecermos o idioma em que foram escritos. Também seguir sua sequência, separando-se os itens: o ensino moral de Jesus, depois os seus atos, suas parábolas e, por último, suas predições. O apego à letra não prejudica a compreensão da essência da mensagem?
Claro! Prejudica não só a mensagem de Jesus como também toda a mensagem bíblica. Os estudiosos orientais afirmam que quem utiliza o sentido interpretativo literal da Bíblia se perde no entendimento de sua compreensão. Por isso, devemos buscar estudar a Bíblia didaticamente, separando a mensagem da Primeira Revelação e Segunda ou Novo Testamento, até chegar a mensagem de Jesus, analisando e procurando conhecer todos os fatores que envolveram a sua origem. A Bíblia é uma biblioteca com 73 livros com autores diferentes e escritos em épocas diferentes. Por isso, necessitamos conhecer a origem de cada livro, sua história e suas mensagens. Separar cada livro pelo nome e, antes de explorá-lo, ter respostas para as questões: Quando ele foi escrito? Por quem foi escrito? Para quem foi escrito? Qual o objetivo do livro? O nosso canal com Deus é feito pela mente e pelo coração. Por isso, aconselhamos o estudo do livro A gênese, de Alan Kardec. E, depois de cada leitura, criar o hábito de reflexão, procurando sintonia espiritual e um coração voltado para o Cristo. Ele irá nos assistir sempre. Como o senhor vê as interpretações dos castigos nos textos sagrados? Deus é infinitamente misericordioso, justo e bom. Ele não premia nem castiga. Nós somos submetidos à lei de “causa e efeito” que a tudo rege. Jesus nos fala em Mateus 16:27 “que o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará, a cada um, segundo as suas obras”. Existem inúmeras passagens bíblicas que se referem à colheita daquilo que plantamos, desde o Levítico 5:17: “E, se alguma pessoa pecar e fizer contra algum de todos os mandamentos do Senhor o que se não deve fazer, ainda que o não soubesse, contudo, será ela culpada e levará a sua iniquidade”. No Deuteronômio 8:5, que fala: “Confessa, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o
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Senhor, teu Deus”. Passando pelo livro de Jó 5:17: “Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus castiga; não desprezes, pois, o castigo do Todo-Poderoso”. Estes princípios de causa e efeito se encontram em muitas passagens da Bíblia. Considerar e entender estas passagens dos textos bíblicos como castigos de Deus são interpretações dos que não entenderam ainda a lei de causa e efeito, de que todos nós colhemos o que plantamos. Podemos dizer que as verdades trazidas, por exemplo, no Velho Testamento já estariam superadas com o advento do espiritismo? Nunca. As verdades trazidas pela Primeira Aliança ou Velho Testamento ainda estão perfeitamente vigentes, aplicáveis à realidade de hoje. Acrescente-se que os Dez Mandamentos são ensinos morais e não religiosos, são ensinos universais. Se a humanidade houvesse praticado e ain-
ENTREVISTA caráter divino. Também dedica ainda o capítulo 14 ao tema “Honrai vosso pai e vossa mãe”, que é uma recomendação que se encontra no Êxodo 20:12. E, no capítulo 6, item 12, ainda recorre ao ensino do profeta Isaías e do Livro de Jó. O Espírito da Verdade, na questão 275 de O livro dos espíritos, nos aconselha a ler os Salmos e, na questão 560, se refere ao Eclesiastes. São livros do Velho Testamento. Como o senhor concilia em seus estudos: a mística dos textos bíblicos e a razão enaltecida na obra de Kardec? O Espírito da Verdade nos traz uma informação que auxilia a entender tudo isso. Na questão 627 de O livro dos espíritos, Kardec solicita ao Espírito da Verdade esclarecimentos sobre a necessidade da Revelação Espírita, uma vez que já existia as revelações de Moisés e de Jesus. O Espírito da Verdade esclarece que as revelações
Para se estudar a Bíblia, é preciso separar cada livro pelo nome e saber quando ele foi escrito, por quem, para quem, e com qual objetivo” da praticasse os ensinamentos de Moisés, contidos nos Dez Mandamentos, provavelmente não teria havido necessidade da vinda de Jesus entre nós, pois já estaríamos redimidos. Lamentamos quando ouvimos alguns irmãos da doutrina espírita afirmarem que da Bíblia só devemos considerar o Novo Testamento. Esta afirmativa nega o que afirmam Jesus, Kardec e o Espírito da Verdade. Jesus jurou fidelidade à Torá e aos profetas (Mateus 5:17-19), afirmando que não passará nada da Torá sem que tudo seja cumprido, e ainda lamenta os que alteram o seu significado. Allan Kardec fala nos comentários da questão 59 de O livro dos espíritos que a Bíblia não contém erros, nós que nos equivocamos ao interpretá-la. No primeiro capítulo de O evangelho segundo o espiritismo, “Eu não vim destruir a Lei”, enumera todo o conteúdo dos Dez Mandamentos e acrescenta que eles representam a lei de todos os tempos e de todos os países e que têm por isso mesmo um
anteriores possuíam sentido figurado e parabólico, enquanto a doutrina espírita vinha levantar o véu e tornar compreensível o que até então possuía caráter obscuro e figurado. Acho perfeitamente conciliáveis os textos bíblicos e a razão que envolve a revelação espírita. As três revelações enviadas por Deus representam etapas distintas da mensagem do Cristo. Cada uma delas tem seu conteúdo específico e compatível com a evolução dos povos da época para quem elas vieram. Elas se completam e não apresentam antagonismos entre si como pensam alguns estudiosos. Esta conciliação está perfeitamente evidenciada na mensagem do espírito Israelita, encerrando o item 9 do primeiro capítulo de O evangelho segundo o espiritismo, quando afirma: “Foi Moisés quem abriu o caminho; Jesus continuou a obra, e o espiritismo a arrematará”. O que nós, espíritas, podemos fazer para que essa fonte não se esgote e
continue na sua pureza inicial? Devemos procurar reviver os ensinamentos do Evangelho de Jesus em sua cristalinidade e pureza inicial, como eram vividos pelos apóstolos e seguidores cristãos dos primeiros três séculos. Temos uma responsabilidade muito grande de fazer reviver, com gestos e atitudes, o verdadeiro significado do grande legado que existe nos Evangelhos de Jesus. Analisando racionalmente seus postulados, podemos afirmar que a doutrina espírita nos torna próximos da realidade espiritual dos Evangelhos do Cristo, como a caridade, a fraternidade, as curas, o perdão e demais princípios e ensinamentos do Cristo. Em nossos ombros, repousa a responsabilidade de praticá-los. O que o senhor gostaria de ver no movimento espírita com relação a esse aspecto? A reflexão é sempre muito necessária, diante da história que conhecemos, sobre as traduções da Bíblia, para não nos deixarmos levar por princípios e ensinamentos bíblicos sem base e sem racionalidade. Não acreditem em tudo que lhes disserem. Existem muitos falsos líderes que se colocam na condição de donos da verdade e arrastam muitos. Jesus nos adverte no capítulo 24 do Evangelho de Mateus, quando afirma: “Atenção para que ninguém vos engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘ O Cristo sou eu’, e enganarão a muitos”. Está em Mateus 24:4 e 5. Façamos como nos aconselha Paulo aos Tessalonicenses 5:21: “Discerni tudo e ficai com o que é bom”. E pra finalizar: em que esse discernimento pode nos auxiliar na evolução espiritual? O discernimento passa por uma série de fatores que necessitam de algumas análises e reflexões. Não importa a religião. Todas elas possuem um código moral que orienta os seus seguidores para a transformação e para serem melhores. A prática do bem está acima da questão religiosa, é algo que está no interior do campo espiritual de cada ser humano. Todo ser humano tem dentro de si a semente do bem. A religião pode ser um grande auxiliar, mas não é o único. Os não religiosos também praticam o bem, a caridade e o amor. O religioso limita e o espiritual liberta. Assim, o amar, o servir e o perdoar fazem mais parte do ser humano do que da religião. Independentemente de qual seja a sua religião, busque sempre a sua transformação moral.
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LIVROS & CIA. Editora Paideia Telefone: 17 3524 9800 www.candeia.com O espírito e o tempo – introdução antropológica ao espiritismo de J. Herculano Pires 416 páginas 14x21 cm
Correio Fraterno Telefone: 11 4109-2939 www.correio.news/livros Os procuradores de Deus de Herminio C. Miranda 242 páginas 16x23 cm
FEB Editora Telefone: 61 2101-6161 www.febeditora.com.br Transtornos psiquiátricos – um olhar médico-espírita de Leonardo Machado 192 páginas 14x21 cm
Editora Objetiva Telefone: 11 3707-3500 www.companhiadasletras.com.br Rápido e devagar – duas formas de pensar de Daniel Kahneman 608 páginas 16x23 cm
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LEITURA
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A Divina Providência Por ANDRÉ TRIGUEIRO
É
interessante imaginar quantos buscam no suicídio uma saída para um problema considerado insolúvel na Terra. São pessoas pressionadas pelas mais diversas circunstâncias: os endividados acuados por credores; os doentes que perdem a saúde e, com ela, a esperança; os desempregados que se abatem por não conseguir trabalho; os que perdem o filho ou a filha e se rebelam contra o mundo. Há também a dor sem motivo aparente, uma angústia que sufoca e oprime, sem que nenhum exame médico revele a causa. Quando não se tem a menor noção da origem desse desconforto, abre-se espaço para o desespero e a aflição. Em todas essas situações, onde nos sentimos no limite das forças, desafiados a buscar a coragem onde não imaginamos ter, nos esquecemos de que a Providência Divina jamais nos abandona. Nossos guias e mentores estão sempre por perto nos amparando, encorajando a seguir em frente, inspirando novas possibi-
lidades e outras saídas. Envidarão os esforços possíveis, incansáveis e vigilantes, mas, em respeito a nós e ao nosso projeto evolutivo, jamais tomarão qualquer decisão em nosso lugar. Para que haja mérito, é preciso haver também a responsabilidade da escolha.
Para isso estamos aqui. A vida é para ser vivida, e por mais difícil que seja a experiência, ela sempre será compatível com a nossa capacidade de lidar – não sem esforço, sofrimento e eventual sacrifício – com o que aparece pela frente. “Porque o meu jugo é suave, e o meu
fardo é leve”, nos disse Jesus, assinalando que, por mais difícil que seja uma determinada situação, temos todas as condições de enfrentá-la e superá-la. O importante é seguir em frente, haja o que houver. Cada encarnação na Terra é um projeto único. Há um trabalho consistente, meticulosamente planejado por numerosa equipe no plano espiritual antes de cada encarnação. A torcida por nós é grande, especialmente nos momentos difíceis. O arsenal de que dispomos para “sacudir a poeira e dar a volta por cima” é generoso e encontra-se acessível para quem o deseje. O mais importante é perceber que nenhum sofrimento dura para sempre. Por mais assustadora que seja a tempestade, ela sempre passa. Se o hoje te parece desagradável e angustiante, espera e confia. A melhor saída é a vida. Extraído do livro Viver é a melhor opção, a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo, de André Trigueiro. Correio Fraterno.
BAÚ DE MEMÓRIAS
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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
Meu convívio com Ranieri e João Cabete Por GRATUS SERVO
E
ra noite de setembro, por volta de 1975, quando o calor era suavizado pela brisa da chegada da primavera. O salão do centro espírita estava todo enfeitado e, as pessoas se acomodando entusiasmadas, aguardavam a palestra do orador da noite. Eu era um iniciante na doutrina espírita, mas já tinha conhecimento suficiente para participar do trabalho mediúnico no Centro Espírita Vicente de Paulo, na cidade de Cruzeiro, SP, onde seria realizada a palestra da noite. Era tempo em que o movimento espírita da região realizava, o “Mês Espírita”, e o orador da noite seria João Cabete [1919 – 1987], que traria suas canções que falavam da natureza, de Deus em sua grandeza, e suas melodias que balsamizavam e beneficiavam a todos. Não demoraria muito para ele entrar, rodeado de amigos espíritas, sorridente, trazendo um violão debaixo do braço. Aquele foi o nosso primeiro encontro, embora já o conhecesse do cartório da cidade, onde residíamos, e onde ele era o tabelião. Tempos depois, numa visita ao Grupo da Fraternidade Carmen Cinira, instituição fundada por ele, alguns companheiros de ideal e familiares, na cidade, acabamos nos aproximando, o que nos deu oportunidade de gozar do seu convívio familiar. Conheci muitas histórias de como nasceram algumas músicas, da presença dos Espíritos que vinham visitá-lo e inspirá-lo nas composições. Foi nessa época que conheci muitos espíritas, ligados ao Movimento da Fraternidade, como Jair Soares (esposo da saudosa Irmã Ló), Ênio Wendling, ambos de Belo Horizonte e Rafael A. Ranieri [1920
Cidade de Cruzeiro, no Vale do Paraíba, SP
– 1989], autor de vários livros psicografados, como Jerusalém libertada, pelo espírito Humberto de Campos, cujos originais, não se sabe por que, ficaram desaparecidos por 42 anos, até serem publicados. Tive o prazer de conviver com Ranieri, quase semanalmente, na sua residência (na chácara Ovo Azul), em Guaratinguetá, SP. Ele era muito disciplinado. Um verdadeiro romano. Como médium vidente, falava muito pouco sobre o que via. Como tudo tem uma razão de ser, as nossas amizades se consolidaram e comecei a participar das reuniões de efeitos físicos, realizadas na residência de João Cabete, tendo como médium a sua esposa, dona Ady. Era uma reunião reservada, formada por familiares, convidados e algumas pessoas que necessitavam de tratamento. Os participantes giravam em torno de 15 pessoas. Os espíritos que se faziam presentes eram Scheilla, José Grosso, Palminha, Joseph Gleber, dentre outros. Tratamentos diversos eram realizados sob a orientação dos amigos espirituais, tanto presenciais como à distância. Scheilla sempre trazia a fragrância de rosas e de éter que inundava o ambiente e a água dos vasos com flores, que enfeitavam o local. O cheiro permanecia ali por horas. Se colocássemos um pouco da água em um recipiente e tampássemos, o cheiro permanecia por dias. Os presentes ajudavam a preparar o ambiente cantando no início e no final da reunião as melodias de Cabete, e músicas instrumentais e cantadas pelo Coral Irmã Scheilla gravadas também ajudavam na harmonização. A sala era sempre rigorosamente preparada, inclusive para que não
entrasse nenhum facho de luz. O silêncio dos participantes era também atentamente respeitado. Durante a reunião, os espíritos se faziam presentes e administravam todo o tratamento a ser realizado. Através da materialização, luzes cruzavam de um lado para o outro, como uma bolinha de pingue-pongue, iluminada e colorida, alternando entre o azul, verde claro e branco fosco. Após a reunião, um chá era servido, no ambiente muito alegre e festivo. Se deixassem, virávamos a madrugada, falando de espiritismo e fazendo comentários sobre a
reunião e os aprendizados da noite. Tudo isso é parte de um passado muito prazeroso! João Cabete foi reconhecido por seu talento musical. Compôs mais de 200 canções espíritas, dentre elas: Alma das andorinhas, Além das grandes estrelas, Fim dos tempos, Gratidão a Deus, interpretadas até hoje por inúmeros grupos musicais. Rafael A. Ranieri deixou registrado em seu livro Materializações luminosas (Lake) o que viu, ao participar de reuniões de efeitos físicos em torno de 1950, na presença do médium Peixotinho, que marcou a história do espiritismo no Brasil com sua expressiva capacidade para fenômenos de materialização.
Meu primeiro contato com a materialização Rafael A. Ranieri
O
médium Peixotinho tornara-se meu conhecido em Belo Horizonte dois ou três dias antes da reunião; não conhecia minha família nem sabia se eu possuía ou não filhos. Não viu nenhum retrato de filhos meus. No entanto, entre os espíritos que se materializaram em forma luminosa, apresentou-se o espírito de minha filha Heleninha, que com dois anos de idade “morrera”, no ano de 1945. Na mesma estatura, em voz semelhante, dirigiu-se a mim dizendo algumas palavras de saudação. Deixou-me uma flor como lembrança, ainda fresca e cheia de orvalho. Embora pareça inconcebível, não me emocionei com a presença dela e pude dirigir-lhe calmamente a palavra. Era realmente ela, sem deixar dúvida alguma. José Grosso, outro espírito que se materializou, atirou numerosas pedras sobre os assistentes alegremente, em
plena escuridão. Atirava-as e gritava o nome do destinatário. A pedra caía aos pés da pessoa indicada sem contudo atingi-la ou molestá-la. É quase certo que nenhum homem seria capaz de atirar dez ou doze pedras no escuro, sobre uma assistência numerosa para o tamanho do recinto, e com a violência com que foram atiradas sem ferir alguém. Além disso, os espíritos materializados improvisaram “quadras” e pronunciaram discursos sérios de convocação ao homem do mundo atual. Coisa maravilhosa era ver como os espíritos se dirigiam com imenso carinho ao Chico Xavier, dando-lhe a importância que deve ter perante o mundo invisível. Esse foi o primeiro contato que tivemos com fenômenos de materialização. Materializações luminosas, depoimento de um delegado de polícia, R.A. Ranieri, FEESP.
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CAPA
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Por mais calor humano
Por PAULA GUIMARÃES
J
á escreveu Cecília Meireles: “Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve...”. Desta maneira gentil, talvez Cecília tenha desejado nos dizer que o simples pode ser o suficiente para aquecer e unir duas pessoas, dois corações. Hoje, estamos recebendo o convite do simples. Sem presentes caros, sem viagens ostentadoras, sem roupas de marca, sem games irados, sem a materialidade sedutora que faz apelos aos nossos instintos; e não se dirige ao amor verdadeiro de Jesus. E foi o doce Rabi da Galileia que nos ensinou que esta mesma materialidade seria corroída pela ferrugem, comida pela traça; porém, imperecível e verdadeiro era o seu amor. Amor este que O evangelho segundo o espiritismo1 nos adverte ser o sentimento sublime, capaz de nos conectar ao Criador
e às criaturas de modo genuíno. Este mesmo amor não está relacionado às compras desnecessárias ou aos incontáveis supérfluos hoje produzidos como itens de primeira necessidade e comprados pelo homem incauto que quer aplacar a dor de sua consciência com as parcelas de um cartão de crédito. A realidade hoje E o que temos hoje diante de nossos olhos? Não, não me refiro ao vírus; mas sim à oportunidade que este mesmo ser vivo nos convida: viver o simples. A retomada da essência humana, eis a chance do momento presente. Dentre os posts que estamos recebendo hoje, retomarei um de delicada sinceridade através de uma paráfrase livre que agora segue: Estamos tendo a chance de conviver com nossos pequenos filhos com muito
mais proximidade. Sim, pode ser que, em um primeiro momento, os tablets e os muitos games ainda vençam o diálogo, porém, com o tempo, o convívio será resgatado e com ele os abraços, os olhares profundos e os silêncios carinhosos que antecedem um riso solto que vem sem explicação, mas com o amor de quem se entende sem precisar expressar palavra. E mais, com os filhos, aqueles já adolescentes, forma-se a chance de os conhecer melhor, saber de suas angústias e medos, bem como de seus sonhos reais, que podem ser não entrar para a medicina, como pregam muitos cursinhos pré-vestibulares como o bilhete premiado da felicidade, enquanto, de fato, ele ou ela gostaria de cursar engenharia de materiais ou letras, por exemplo; mas isto, em tempos sem isolamento, não lhe garantia estar no ranking
das profissões mais concorridas e supostamente mais bem-sucedidas da atualidade. É tempo de ouvir o que faz sentido e não o que se pode pagar. Vou além: eis o tempo de cuidar de nossos velhinhos que nos colocam face a face com nossa fragilidade, com nossa impotência de agir frente ao hoje; apenas cuidar, zelar, amparar e, se não podemos estar em proximidade, fazer um vídeo, ligar com mais frequência, chamar pelo ‘zap’ para um papo demorado, pedindo que permaneçam em segurança. Ainda, é tempo de olhar para aquela pessoa amada com quem decidimos dividir a vida, os ideais, e dizer ‘eu te amo’, e resgatar as mãos dadas e a esperança do caminhar juntos, no amparo do ombro sempre presente que acolhe, protege, suporta e convive. Nosso Cirineu tão próximo que, muitas vezes, menosprezamos seu valor.
CAPA E nossos amigos? Os queridos irmãos de alma que já dividiram tantos momentos conosco, que podem contar nossas histórias como se nós próprios fôssemos, ou ainda podem sentir o que sentimos sem que precisemos descrever o que nos vai no imo da alma! Preciso mencionar os alunos queridos, que tanto me ensinaram a repetir um conceito, a dar de novo a mesma explicação, a recorrigir um texto em suas entranhas para que pudessem alçar seus voos de crescimento e evolução; mal sabiam eles que me auxiliavam a cultivar a paciência, como muitos já me ouviram dizer, meu desafio desta reencarnação. A paciência de cultivar o amor, este amor crístico e sublime que palmilhamos a edificar na atualidade através do burilamento pela dor, pois que tudo o que acabamos de ler, vive a dor imposta pelos tantos descuidos humanos com ele próprio, com sua evolução. A grande lição Reside em O livro dos espíritos um grande ensinamento que nos esclarece este cenário a duras penas, a questão 737: “Com que fim fere Deus a humanidade por meio de flagelos destruidores? R.: Para fazê-la progredir mais depressa…”. Somente esta frase já nos traria esclarecimento suficiente para compreendermos o momento atual. Cabe ressaltar que poderíamos evoluir tão depressa quanto se tivéssemos escolhido trilhar os caminho da benevolência, da indulgência e do perdão, o ‘BIP’ de Jesus, como usualmente nos referimos a esta tríade, uma das bases da caridade. Entretanto, esquecemos de carregar a pilha do BIP, pois a azáfama para ganhar mais, para comprar mais, para ter mais bens materiais nos tomou o tempo da evolução que agora nos clama novos destinos por meio de um impulso que nos leve ao convívio mais próximo conosco mesmos e com os nossos, nos provando que sem Deus e Jesus não somos nada: a carteira
cheia torna-se vazia, os planos inúmeros se desfazem aos poucos descuidados e tímidos, ou ainda se adiam, o orgulho e o egoísmo cingem seus joelhos ao chão indefesos frente à inevitável verdade: somos pequenos na materialidade. Mas podemos ser grandes com Deus. A quarentena com Jesus E agora necessário se faz que retomemos
Sirvo-me deste trecho em que reside a primeira tentação para refletir sobre a simbologia que segue na palavra ‘pão’. Poderíamos lê-la como o real alimento material substancioso; também o poderíamos compreender como tudo aquilo que nos sacia a fome, ou ainda como tudo o que rodeia a vida humana, ou seja, seus utensílios de sobrevivência: casas, carros, cartões de crédito, roupas, sapatos, joias, perfumes. Estes
O que, amigos, esta quarentena forçada nos quer ensinar? a quarentena de Jesus. Leiamos Mateus 4: 1 – 4: “1 Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2 E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; 3 E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. 4 Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus (...)”.
itens garantem ao homem afeto verdadeiro? Respeito de fato por suas conquistas e lutas? Dignidade de valores? Ou representam crenças que fazem da persona que os possui um ser mais relevante nos ambientes sociais em que circula? Sim, sabemos ainda que existem duas espécies de progresso conforme O livro dos espíritos: o material e o moral. O primeiro é aquele que se vê em todos os avanços tecno-
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lógicos fruto da intelectualidade; o segundo é aquele através do qual encontraremos o caminho para ampliarmos nossa consciência quanto à importância de nos autodesenvolvermos como espíritos imortais. A questão somada a todas as outras acima é: de que servem hoje as casas, se estas não pagam a despedida dos que se vão tragados pelo vírus em sua saga destrutiva? E os carros, que não podem ser trocados pela cura? E os cartões de crédito, que não se liquefazem em proteção? E as roupas e sapatos e joias e perfumes, que não se podem trocar pelo abraço dos que se quer ter por perto, mas, hoje, devem estar em isolamento? O que, amigos, esta quarentena forçada nos quer ensinar? Aquilo que não escolhemos fazer enquanto livres estávamos: a amar indistintamente, a ter os nossos próximos do afago que queremos dar, da humanidade que estamos reaprendendo a ser. Frustrando nossas pequenezes, é também uma grande oportunidade de evoluirmos, crescermos, pois que podemos, tal qual a Fênix, renascermos em nós mesmos como pessoas melhores. Afinal, já nos ensinou Paulo de Tarso na primeira carta aos Coríntios 13: 11 – 12: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.” Que saiamos desta pandemia mais homens e menos meninos, vendo o todo, o coletivo; não somente a parte, a nossa parte individualista! Que o calor humano que estamos resgatando agora nos conduza ao amor de Jesus, pois sem este nós nada seríamos! Capítulo 11.
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Oradora espírita, Paula Guimarães é coach e professora da Fundação Getúlio Vargas, nas áreas de comunicação e gestão de pessoas.
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VOCÊ SABIA?
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Marcos Caruso
e sua relação com o espiritismo Da REDAÇÃO
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ocê sabia que o ator e diretor Marcos Caruso é espírita há mais de trinta anos? Em entrevista ele contou que um dia
entrou por curiosidade no Centro Espírita A Luz Divina, próximo a sua casa, no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo. “Entrei e me empolguei com o ambiente. Percebi que as pessoas olhavam nos olhos umas das outras, se abraçavam... Existia uma alegria naquele ambiente, apesar das dores interiores que ali havia. Havia fraternidade”, conta Caruso. Caruso traz a filosofia espírita em sua vida prática. “Tenho absoluta certeza de que minha passagem aqui na Terra vem de vidas anteriores e vai para mais duas mil posteriores. E quanto melhor eu for aqui, melhor será meu futuro e melhor entenderei o meu passado. Não tenho medo de morrer. Tenho medo de ficar doente, de sofrer. Mas tenho tanta certeza que um dia eu vou voltar para continuar esse processo!...”.
“Não sou aquele que vai toda semana no centro espírita, não sou de ler muito literatura espírita, mas tenho O evangelho próximo à minha cama e tenho os ensinamentos que ficaram em mim e que eu pratico. Porque frequentar, você vai uma vez por semana, e diz: ah, eu fiz minha parte. Não, a sua parte tem que ser feita durante as 24 horas do dia. À noite, quando coloco a cabeça no travesseiro, sempre pergunto: o que eu fiz hoje? Somos plenos de defeitos, mas temos que ter consciência deles e nos esforçarmos para não mais praticá-los”. Caruso teve uma formação inicialmente católica e passou a ter uma relação muito forte com a “filosofia kardecista” a partir dos 27, 28 anos. “Peguei alguns pontos da filosofia kardecista e levei para a minha vida, como
a fraternidade, a humanidade, saber pedir perdão, fazer com que o sucesso aumente minha responsabilidade e não a minha vaidade. Sei que evoluí pela filosofia espírita. Acredito nas responsabilidades pelo que fazemos, que voltamos numa vida futura e eu posso voltar melhor ou pior, dependendo de como me comporto aqui. Assim, encaro melhor a minha presença nesta vida”, destaca. Referências: Tv Mundo Maior. Revista Quem, ed. 322 - Ed. Globo. Confira a entrevista de Marcos Caruso falando sobre espiritualidade, vaidade e intolerância. Além de nos mostrar sua visão de mundo sobre esses temas, o ator ainda comenta sobre o papel da generosidade e bondade aplicadas na prática. https://www.youtube.com/watch?v=J-S7H7tc65I
FOI ASSIM
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A vida sempre nos dá o melhor Por NANCY PUHLMANN DI GIROLAMO
N
o admirável casarão branco de tradicional alameda paulistana havia, naquela manhã, um ambiente de alegria expectante. O casal idoso, de ilustre nome e vultosos bens, aguardava o nascimento do primeiro neto. Seu único filho finalmente ia ser pai! A nora, moça de fina educação, sensível e alegre, já estava na maternidade. – Certamente seria um menino, pensava o pai, andando pelos corredores do grande hospital. Haveria de expandir os altos negócios iniciados há mais de meio século pelos tetravós. Nascera uma menina. Três horas depois, a mãe já estava repousada e as primeiras visitas, as primeiras flores e cartões finalmente decorados começaram a chegar. Só então o pai ficou sabendo que sua filha era uma criança excepcional. Nascera com síndrome de Down. Cresceria diferente das outras crianças. Talvez viesse a falar, a andar, a entender as coisas, mas sempre com dificuldades. – Não! Não! – gritava o pai. Minha filha, não. Não há nenhum caso na família. O médico, experimentado e condoído, procurou explicar: – Não se trata de síndrome hereditária. É apenas genética. Pode acontecer com qualquer um. — Mas, por que justamente eu? Responda-me, doutor. Foi o começo de um grande drama. Na verdade, o primeiro sofrimento íntimo daquele homem, para quem as mínimas vontades tinham sido sempre satisfeitas. O médico lhe aconselhou a dar o quanto antes a notícia à mãe e aos familiares. – Não. Nunca! Ninguém irá saber. Essa criança nem sairá conosco da maternidade. Direi que morreu. É isso! Nasceu morta! Doutor! O senhor vai dar essa criança para quem quiser! Pagarei quanto for preciso... – Vamos agir com calma. Primeiro, essa criança precisa ser registrada...
– Jamais com meu nome! Apesar de muita relutância, o pai concordou em explicar a situação à mãe da criança – só a ela –, desde que o médico providenciasse a internação definitiva num credenciado estabelecimento na Suíça. Ele pagaria os custos. Quanto ao nome... – Já sei, respondeu o médico. Vamos chamá-la... Maria de Jesus. – Sim, sim... Filha de pais desconhecidos. Na mente da infeliz mãe, o quadro fixo da imagem, tal como exposta pelo marido. Para ela, tinha dado à luz um monstro! – Sim. A Suíça é a nossa solução. Seis anos se passaram. O casal não teve outros filhos. Sua riqueza material crescera, mas também haviam adquirido ricas experiências com os sofrimentos. Uma doença
inexplicável debilitava a saúde da esposa, que passava seus dias entre clínicas, farmácias e psicanalistas. Em vão, viagens pelo estrangeiro, sempre se evitando a Europa. O lar era agora um triste casarão. O ano de 1974, notícias sobre a reabilitação de crianças excepcionais eram assuntos frequentes nos jornais. As campanhas das associações e as promoções da Instituição Beneficente Nosso Lar [que trabalha com reabilitação para pessoas com deficiências] chegaram até o casarão da tradicional alameda, com farto material de divulgação. Envolvidos por amizades sociais, viram-se forçados, de certo modo, a colaborar. Na verdade, já não eram os mesmos. Preconceitos antigos tinham se quebrado.
As consciências se comprimiam dentro do peito. No sentimento, imensas saudades vagas. Tomaram um dia uma solene resolução. Voltam ao hospital e procuram pelo conceituado pediatra. Três dias depois, estavam na Suíça. No pátio destinado à recreação, várias crianças brincam. Correm. Pulam corda. Falam. Riem. – Onde está Maria de Jesus? Viemos adotá-la. – Meu Deus! Que linda menina! O casal estava chorando, ao impacto da surpresa. Realmente, a menina era extremamente graciosa. Pele delicada, sorriso cativante, olhos amendoados, nariz bem feito, orelhas um pouco pequenas entre longos cabelos claros. Gestos afetuosos. Dedos ágeis. – Mas é linda! Repetia entre soluços a mãe que não se desfizera do quadro pintado pelo marido na maternidade. A menininha graciosa não entendia o que eles falavam em língua estranha. Abraçou-os como se já os esperasse, e observou-os curiosa. Era a primeira vez que via gente grande chorando. O casal ficou duas semanas naquela instituição, aprendendo tudo o que havia de mais atualizado sobre habilitação. Quando regressaram a São Paulo com a filha adotiva, houve regozijo de todos. Parentes e amigos se reuniram. Elogios se multiplicavam. – Que bondade. Adotarem uma criança excepcional! Darem-lhe o próprio nome! O casarão da tradicional alameda paulistana se tornou um centro de encontros afetuosos. Velocípedes e cavalinhos de pau, bonecas e joguinhos se espalham por todos os cômodos, junto aos risos infantis de Maria de Jesus. Referência: As aves feridas na Terra voam, Nancy Puhlmann Di Girolamo. Ed. Lake.
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ENIGMA
Sejam quais forem as aflições e problemas que te agitem a estrada, confia em Deus, amando e construindo, perdoando e amparando sempre, porque Deus, acima de todas as calamidades e de todas as lágrimas, far-te-á sobreviver, abençoando-te a vida e sustentandote o coração.
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ANOS
Antologia da esperança, Meimei, por Francisco Xavier.
P A R E I H R T V A N D O A S M O E S T R A D A S E L O M C D N Ç Ã M S M O R A Ç Õ E L A E V A J P C A L M D A D E S C N L A S T C O N S E U S R D R R N D O G R I M S A L O I A E R T R A D A S E P R O N A N I N D O D O A N D O D N A C A L A Ç Õ E S I L O A S M P R E Q U E P O N R A C S O M I N D O D A D E S A E T R A D O D C D E S A L C I M A D A S O I D A C A S U S T D E R N A N D O M I D A D E S G S I M A P I B R S V A R V T S O T R D C O O A Ç F E R P O V O A O O B A D E L U O A N B D A D R U I N D I B R V L E D A E A L E O N Ç O E E S D E V F Ç Ã O D U Õ E M A A R I N D Ã O O R A E A O B L V M A S O S O B R S I V E E G U O Q U I A N D O P E R D O A N D O E O D N S E G E R A D O V I D A S S A M I R G D E U S L A G F L A G R I M A S B I O R S A B U I N D O C L A M D
Qual a causa dos males que afligem a humanidade? qualquer hora, em qualquer lugar
Resposta do Enigma:
Inferioridade
Rede Amigo Espírita Palestras espíritas transmitidas ao vivo diariamente: www.youtube.com/redeamigoespiritainternacional. Mais de 8 mil vídeos gravados: www.youtube.com/redeamigoespiritaTv Canal Coaching Espírita Com Julio Sena Videos novos toda semana www.youtube.com/channel/UCfgEWRpiRztDXdI5I_AtYFA Canal Amigos da Luz Vídeos novos todos os sábados, além de filmes completos e lives frequentes: www.youtube.com/user/CiaAmigosDaLuz Feesp Online Espiritismo a distância 21 aulas disponíveis, baseadas no livro O que é o Espiritismo, de Allan Kardec. feesp.com.br/curso-o-que-e-o-espiritismo-a-distancia
Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
moral da maior
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parte dos homens
AGENDA
CULTURA & LAZER
que a constitui.
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O principiante espírita (Allan Kardec), item 132
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Café de outras vidas...
Dia 30 de março, o Lar da Criança Emmanuel completou 60 anos de fundação. A data foi intensamente comemorada nos corações de todos os que sabem da importância do trabalho do Lar na vila Alves Dias, em São Bernardo do Campo. SP. A instituição, que assiste hoje cerca de 300 crianças e jovens, começou como orfanato, em 1960. Hoje trabalha em regime de creche e através do projeto social Jornada Complementar. O Novo Mundo se faz com espíritos do bem, moral e eticamente bem formados. Isto é o que move todos os trabalhadores, parceiros, amigos, apoiadores do Lar da Criança Emmanuel, para que continue promovendo oportunidades, alavancando o futuro de crianças e jovens da região. www.laremmanuel.org.br Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio
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ESPECIAL 100 ANOS
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O livro para os que sonham com um mundo melhor Por HERMINIO MIRANDA
É
muito difícil reconhecer, num livro que surge, a marca da Verdade. Não foram poucos, no entanto, os que identificaram, logo de início, essa virtude em O livro dos espíritos, quando publicado pela primeira vez em 1857. Extraordinário livro esse, cuja sabedoria jamais se esgota, por mais estudado, analisado e pesquisado que seja. É constante, por exemplo, a advertência dos instrutores acerca do mistério que envolve a origem dos Espíritos e das coisas. Em resposta à pergunta número 239 (Os Espíritos conhecem os princípios das coisas?), informam os comunicantes: “Isso é conforme à sua elevação e à sua pureza. Os Espíritos inferiores não sabem mais do que os homens.” Também o Cristo várias vezes advertiu que, nos seus ensinamentos, não poderia ir além de certo ponto, obviamente para não ultrapassar com eles o conhecimento ainda muito precário dos homens de seu tempo. Vemos então que, embora contenha um resumo de todas as grandes ideias e um maravilhoso roteiro para a pesquisa científica, para o desenvolvimento filosófico e o aperfeiçoamento moral, O livro dos espíritos encerra uma demonstração de bom senso da parte dos seus autores desencarnados, que tiveram o cuidado de não avançar além do que a nossa mentalidade pode absorver. Evitou-se, dessa forma, que as realidades do mundo superior – mesmo admitindo-
-se possível sua tradução em linguagem humana – fossem ridicularizadas e tidas por fantasiosas por toda a esmagadora maioria daqueles de nós que ainda não estão em condições de aceitá-las. O bom senso de Kardec deve ter oferecido aos seus elevados amigos da Espiritualidade as condições de que precisavam para lançar entre os homens um livro tão avançado para a época. O problema que então se colocou diante dos Espíritos foi, ao que parece, dos mais complexos. Era preciso trazer uma mensa-
gem válida àquela multidão de encarnados que não tinham ‘ainda’ uma doutrina racional e aceitável e não tinham ‘mais’ a antiga crença que exigia a aceitação do absurdo. Muitos desses já haviam passado, em sucessivas encarnações, pela fé dogmática – não podiam mais admiti-la; era uma experiência superada na história da evolução individual. Como, porém, converter em palavras, ao nível do entendimento humano, todo o maravilhoso mecanismo do universo físico, do mundo espiritual, das
leis morais e das responsabilidades e deveres de cada um? Era um trabalho realmente gigantesco e teria de ser confiado não a um só Espírito, mas a uma equipe de seres já muito experimentados ao longo de muitas e muitas vidas. Isso daria à doutrina um caráter essencialmente universalista, sem identificá-la com nenhum pregador, filósofo, profeta ou moralista em particular e, ao mesmo tempo, traria para o seu arcabouço filosófico a contribuição de uma variada, extensa e profunda experiência de muitos seres superiores, um mundo ainda possível de realizações de paz e equilíbrio. Vinham ensinar que toda a sabedoria humana está na obediência consciente às Leis divinas. Vieram advertir de que convidamos a dor sempre que tentamos teimosamente atritar-nos com a imutável sabedoria dessas leis. Vieram, enfim, trazer aos homens o ‘livro da esperança’. (...) Um dia a ciência oficial há de desembaraçar-se dos ouropéis da vaidade acadêmica e buscar ali inspiração para as suas pesquisas, o ponto de partida para novas descobertas. O universo inteiro está à nossa disposição, mas é preciso que nos aproximemos dos seus segredos com verdadeiro espírito de humildade intelectual. Candeias na noite escura, FEB, 2014. (Coleção de textos publicados na revista Reformador, quando Herminio escrevia sob o pseudônimo de João Marcus.)
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ARTIGO
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Herculano Pires e a hora do aprendizado Por HELOISA PIRES
A
lguns espíritas analisam com propriedade, como Jorge Rizzini e Raymundo Espelho, o pensamento de José Herculano Pires. Eu penso quão interessante seria refletir também sobre o Herculano pai, professor de filosofia, avô. Ah! E ainda o Herculano marido, filho e irmão. Seja qual for o ângulo, seu comportamento nos encanta. Comportamento espírita. O pai era firme e doce ao mesmo tempo; educava pelo exemplo e amor e nós, seus quatro filhos, o respeitamos e amamos tanto que não queremos aborrecê-lo. Ele fez tudo dentro das leis do amor e disciplina para nos tornar felizes a longo prazo. Afinal, a felicidade a curto prazo é ilusória, manchada pelo consumismo, pela falta de liberdade exemplificada por Jesus. É pela educação das emoções e desenvolvimento da espiritualidade que se produzem o amor e respeito ao próximo. Herculano demonstrava amor e respeito à esposa, igualmente espírito especial e que também sempre exemplificou. Lembro das reuniões da família, dos eventos especiais, em que não faltava a Herculano o agradecimento a Deus pelo casamento com Virgínia; a delicadeza do presente à esposa e mãe dos seus filhos; o respeito e amor ao sogro, por ele convidado a vir morar conosco quando ficou viúvo – e veio com os seis filhos, tios queridos, tios-irmãos, porque a tia Amélia e o tio João eram ainda muito jovens. Herculano tinha bom humor, alegria, mesmo em momentos difíceis, que só depois do seu desencarne aparecem nos seus diários. Também demonstrou muita compreensão sobre a importância, exemplificação e defesa dos ensinamentos de Jesus e Kardec. Várias confusões doutrinárias surgiram e Herculano sempre colocou o respeito à doutrina espírita em primeiro lugar. Coragem, idealismo, amor ao próximo, humildade, inteligência e conhecimento formam síntese, não completa, na compre-
José Herculano Pires era forte espiritualmente, sempre a favor da Verdade, respeitando e amando o Criador, Jesus e Kardec” ensão desse querido espírito, com tal desprendimento dos bens terrenos, que colocava o respeito à doutrina acima de possíveis ganhos de dinheiro ou poder, mesmo quando tiravam seus livros das livrarias das grandes instituições, criticadas por deturparem
os ensinamentos de Jesus e Kardec. Não confundia, enfim, interesses imediatos, ilusórios, passageiros, com a compreensão de que, como dizia Jesus: “Somos deuses e luzes, somos o sal da Terra”. Deixou cem livros escritos, inspirados
pela espiritualidade superior, para que melhor compreendêssemos as lições que nos libertariam dos nossos maiores obsessores, nós mesmos. Vale lembrar que Emmanuel, Chico e Herculano eram amigos. Há séculos. Havia grande respeito entre eles, a ponto de juntos escreverem quatro livros: Chico Xavier pede licença, Na era do espírito, Astronautas do além e Diálogo com os vivos, pedido de Emmanuel que foi recebido com muita alegria por Chico e Herculano. Aliás, foi Emmanuel quem falou através de Chico, encarnado, que Herculano “era o metro que melhor mediu Kardec”, referência destacada por Nena Galves, em seu livro Para sempre, Chico Xavier. Outro trabalho muito importante do pai foi o Curso básico de espiritismo, tendo como fontes as obras de Kardec e dos espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografados por Chico Xavier. O material era enviado gratuitamente aos participantes, com o auxílio de voluntários do grupo de Herculano, para divulgar a doutrina espírita. O curso era por correspondência. O pai era realmente um homem de fé. “A fé do seu pai faz com que ele se torne uma rocha, que nada abala... Fé absoluta no auxílio sempre presente de Deus (Fé Divina) e fé em nós mesmos, porque ele diz que somos filhos de Deus e o Pai nos ama incondicionalmente...”, dizia minha querida mãe, Virgínia. José Herculano Pires era forte espiritualmente, sempre a favor da Verdade, respeitando e amando o Criador, Jesus e Kardec, e lembrando sempre que “o sentido da vida é amar o próximo como a si mesmo”. Fazer o Bem nos torna felizes... A hora da verdade já chegou para muitos, e chegará a todos, para que a lição nos faça crescer moralmente, evoluir, aprender a colocar o bem coletivo acima dos nossos desejos. Herculano aproveitou muito bem esse aprendizado.
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DIRETO AO PONTO
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Enfrentando a tempestade Por UMBERTO FABBRI
A
lguns momentos de nossas vidas nos trazem surpresas avassaladoras. E sentimos nossas estruturas íntimas se abalarem, como se uma grande tempestade em escalas altíssimas chegasse de surpresa, sem avisar. Um fato alheio à nossa vontade, não programado, insuspeitável, vira nossa vida de cabeça para baixo e nos falta o chão... De chofre, ficamos anestesiados, perdidos, sem reação, mas Deus em sua grande sabedoria nos dotou do instinto de sobrevivência que nos leva a buscar saídas, a nos manter em alerta. Todavia, este mesmo instinto de conservação precisa ser controlado por nossa razão e inteligência, elementos aliás que só conquistamos depois de um bom tempo e lutas enormes em nossos estágios como princípio inteligente, e posteriormente adentrando ao reino hominal, sendo chamados a novas e grandes experiências, a fim de desenvolvê-las. Em um primeiro momento, nossos instintos têm a prerrogativa de nos manter vivos, todavia é a inteligência que deve tomar o comando; bem alinhada com as Leis Divinas nos poupam de muitos erros. Howard Gardner elabora a teoria das múltiplas inteligências, como que dividindo as várias facetas da sabedoria e expertise de nossas capacidades, motoras, criativas, de relacionamentos, etc. Sabedores de que aqui estamos para o perfeito desenvolvimento de várias inteligências, precisamos acionar nossa razão para compreendermos a qual delas neste momento estamos sendo chamados a exercitar, a obter, a conhecer. As dores e dificuldades, pertinentes ao
nosso mundo de expiação e provas, dão o start para utilizarmos ou desenvolvermos as múltiplas inteligências. Algumas já desenvolvemos, mas para a grande maioria de nós uma delas ainda está em pleno desenvolvimento, que é a emocional. A inteligência emocional, muito bem descrita por Daniel Goleman, na verdade foi muito antes sintetizada por Jesus, no “fazer ao outro o que gostaríamos que nos fosse feito”. Para nós, que ainda a estamos construindo, este preceito nos dá um norte seguro para nossas ações. O grande problema é que temos a bússola guardada no bolso e não a utilizamos, nos perdendo sempre que deixamos o medo, a maledicência, a
falta de caridade, a desesperança guiar nossos pensamentos e atitudes. Mas ela pode ser retirada do bolso e passar a nos guiar pelos caminhos das incertezas, ansiedades, instabilidades, mesmo porque precisamos, para crescer, sair da zona de conforto, caminhar, seguir viagem, resignificando nossos valores e potencialidades. “É necessário que tudo se destrua, para renascer e se regenerar; porque a isso que chamais de destruição não é mais do que a transformação.” Esta questão de O livro dos espíritos1 nos mostra racionalmente, que tudo na vida é impermanente, tudo, absolutamente tudo que nos cerca se transforma sempre, sob a égide
divina e nela devemos confiar. Não podemos esquecer que estamos todos no mesmo barco, enfrentando uma grande tempestade. Confiar de forma absoluta no condutor do barco, mesmo no meio da tempestade, é o que chamamos de fé. Para fazer o melhor e auxiliar os outros companheiros, que enfrentam conosco a tempestade, precisamos desenvolver a caridade; para aceitar que a tempestade não pode ser controlada por nós, é necessária a resignação; para utilizar de todos os meios, aliando nossa inteligência a outras inteligências, e mantermos a integridade física e emocional de todos no barco, se faz indispensável a união; para tratar com simpatia, mesmos aqueles que divergem de nossas opiniões de como enfrentar a tempestade, é imperativo o respeito. Nenhuma tempestade dura para sempre, mas os efeitos de nosso comportamento enquanto a enfrentávamos se refletirão em nossa consciência e na Lei de Ação e Reação. Portanto, seja um bom marinheiro e faça o melhor com os recursos que você tem, lembrando que o barco não está à deriva, mas nos tirando de nossa zona de conforto, provando as virtudes que pensamos já possuir. Allan Kardec, questão 728.
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Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.
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MÍDIA DO BEM
CORREIO FRATERNO MARÇO - ABRIL 2020
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Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!
Arco-íris da esperança: crianças espalham cartazes com mensagens pelo mundo
Pacientes recuperados podem ajudar a proteger outras pessoas
Disney doa comida de parques fechados a pessoas carentes
Pelas fachadas, as casas do Porto, no norte de Portugal, parecem tão abandonadas quanto as ruas, exceto por um detalhe: janelas e sacadas enfeitadas por desenhos de arco-íris acompanhados pela frase “vai ficar tudo bem”. Os traços são inconfundivelmente infantis e as letras tremidas, de tamanhos diferentes, como costuma ser a caligrafia de quem só há pouco aprendeu a escrever. O movimento começou na cidade de Bari, no sul da Itália, e já se espalhou pelo mundo.
Pesquisadores estão utilizando anticorpos presentes no plasma do sangue de pacientes que se recuperaram da infecção causada pela Covid-19. A atitude está sendo realizada por um imunologista da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore, nos Estados Unidos, e utilizada para aumentar a imunidade de pacientes recém-infectados e, também, em pessoas que possuem risco de contrair a doença.
Como os parques temáticos da Disney estão fechados, por causa da pandemia do coronavírus, o excesso de estoque de comida será doado para alimentar pessoas carentes. Os alimentos do Disneyland Resort, em Anaheim, Los Angeles, na Califórnia, e do Walt Disney World Resort, em Bay Lake, Flórida, vão para o Second Harvest Food Bank. Trata-se de banco de alimentos que já tem parceria com o parque. No total, os resorts doam mais de 1,2 milhão de refeições para o Second Harvest Food Bank todo ano.
Fonte: Portal UOL
Fonte: O Povo
Fonte: SóNotíciaBoa
Em tempos de quarentena!
Coisas que você pode fazer para se sentir melhor
Tenha cuidado com seu corpo. Respire fundo, alongue-se ou medite. Faça refeições saudáveis, exercite-se em casa, se possível. Durma bem.
Arranje tempo para relaxar. Procure fazer outras atividades que você goste. Mantenha-se conectado com as pessoas em casa.
Evite mídias alarmistas e busque fontes confiáveis. Conhecimento errado pode gerar mais estresse e desinformação.
Faça pausas ao assistir, ler ou ouvir notícias. Ouvir sobre a pandemia repetidamente pode ser perturbador.
Leia bons livros, assista a bons filmes. Conecte-se com o Alto. Alimente a sua confiança, na certeza de que nunca estamos sós.
CORREIO
FRATERNO
Psiquiatra Dr. Bruno Trevisan (Unifesp)