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SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o
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ISSN 2176-2104
FRATERNO
ENTREVISTA
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O impacto emocional no fechamento das casas espíritas O psicólogo Fernando Porto fala sobre a atenção dos dirigentes espíritas no retorno das atividades e os aspectos emocionais envolvidos no distanciamento do trabalhador e do frequentador da casa espírita. Leia nas páginas 4 e 5.
Olhar para dentro. Mexer com as estruturas
O caso Miller nava a plateia dos congressos espi-
O primeiro romance espírita reconhecido por Allan Kardec
ritualistas ao falar sobre o espiritis-
Um romance de nome Espírita,
mo. Mas os ataques começavam
lançado em Paris poucos anos
O escritor Léon Denis impressio-
e uma polêmica se fez, envolvendo mistificação. Era preciso agir. Leia na página 7.
depois de O livro dos espíritos, atiça
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nxergando o canteiro de oportunidades de transformação que o momento atual nos oferece, Paula Guimarães nos convida a uma reflexão tecida a partir da letra de uma música, e vai costurando sua ideia recorrendo a Carlos Drummond, a Carl Jung, ao ilustre Kardec, ao mestre Jesus. Propõe que o nosso olhar seja para o interior, neste momento em que a vida nos leva para dentro de nossas casas, a fim de nos organizarmos, retirando os excessos de pensamentos deletérios e modelos mentais encrustados em nós, sem receio de nos avaliarmos e detectarmos o que nos dificulta para que os nossos passos de progresso sejam largos. “Entra na minha casa. Entra na minha vida. Mexe com minha estrutura. Sara todas as minhas feridas.” “Gosto de pensar que a casa a que a música se refere somos nós seres humanos, a casa de nossas consciências, nosso mundo íntimo tão peculiar e particular, tão delicado e sensível, tão imperscrutável e misterioso ainda para nós.” Acompanhe nas páginas 8 e 9
Os grandes nomes da literatura mundial e suas incríveis experiências com o além
a curiosidade de Allan Kardec. Ele o lê e escreve sobre suas impressões na Revista Espírita. Vale a pena saber o que ele pensa. Leia na página 11.
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EDITORIAL
CORREIO FRATERNO MAIO - JUNHO 2020
Tempos de se
reinventar
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e tempos em tempos, somos desafiados a mudar. E não há dúvida de que o momento é mais uma experiência de extrema importância na nossa longa existência como espíritos imortais. Ele exige mudanças. E, tentando realizá-las, refletimos, revemos valores, aprendemos a nos reinventar. Nem sempre são situações boas ou fáceis de se enfrentar e que muitas vezes também não trazem respostas imediatas como gostaríamos. Esta edição traz conteúdos importantes ligados a tudo isso que estamos vivendo. Além de um convite no Especial para um mergulho para o interior, no Acontece, você vai ficar sabendo da recente criação do Grupo Espírita Paulista, que reúne três
órgãos de representações espíritas de São Paulo e o que eles já estão fazendo. Na Entrevista, o psicólogo Fernando Porto analisa a adaptação de frequentadores e colaboradores à experiência do fechamento das casas espíritas nesse período e as perspectivas do movimento espírita para o retorno pós-pandemia. O Baú de Memórias traz a coragem de Léon Denis na divulgação das ideias espíritas em congressos espiritualistas. Allan Kardec está no Você Sabia. Com sua análise do primeiro romance espírita, de Théophile Gautier, lançado em Paris, em 1866, mostra que espiritismo não se prende apenas às manifestações fenomênicas, mas ao aspecto filosófico, moral. E tem muito mais!
FALE COM O CORREIO Quanta coisa boa nesta edição Que alegria poder ler todo este jornal! E tomar conhecimento de tantos feitos de nossos companheiros (edição 492). Muito obrigada. Jacira Cruz, São Paulo. Meu convívio com Ranieri e João Cabete Gratidão pela partilha das memórias. Eu
não tenho memórias para partilhar. Aqui em Portugal o espiritismo ainda não é conhecido como no Brasil. Muita luz. Alzira Rosete, Portugal. Os textos bíblicos e a revelação espírita Parabéns pela entrevista. O professor Celestino merece essa homenagem. Nazir Rocha, por email.
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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118
Presidente: Tania Teles da Mota Vice-presidente: João Sgrignoli Júnior Secretário: Ana Maria Coimbra Tesoureiro: Adão Ribeiro da Cruz Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP
Uma ética para a imprensa escrita Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.
Esperamos que esta edição chegue até você em forma de amor e de luz. Também estamos nas vibrações de equilíbrio e sabedoria para termos força, coragem e muita união nesse momento. Que cada um de nós possa fazer da melhor forma a sua parte. Boa Leitura Equipe Correio Fraterno
Herculano Pires e a hora do aprendizado Gostei muito do texto biográfico sobre Herculano Pires de autoria da própria filha Heloisa. Como não privamos de conhecê-lo, para os mais distantes de São Paulo não foi possível alcançar a dimensão da sua personalidade e tamanha fidelidade a Jesus e a Kardec. Repassava sim o seu espírito combatente, ardoroso e de vasta cultura. Que bom, hoje, o Movimento Espírita reconhecê-lo e me alegro de estar entre os admiradores da sua trajetória. Alan Célio Kardec de Oliveira (Coordenação Geral da Oscal), Belo Horizonte.
Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site correio.news
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• Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.
ACONTECE
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Necessidade de mudanças e novos projetos em São Paulo Por ELIANA HADDAD
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m função da Covid-19, os centros espíritas em São Paulo continuam fechados. Porém, o afastamento físico não impediu que dirigentes do movimento espírita paulista se reunissem de forma virtual, buscando ações conjuntas e planejando atividades pela internet, como cursos, palestras e lives, de forma a substituir de algum modo a falta que sentem os milhares de frequentadores, alunos e colaboradores dos encontros presenciais nas casas espíritas. Foi assim que nasceu o GEP - Grupo Espírita Paulista, formado pela Aliança Espírita Evangélica, Federação Espírita do Estado de São Paulo e União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, que já programa para maio de 2021 um grande evento, no Palácio das Convenções do Anhembi, para comemorar os 160 anos do lançamento, em Paris, de O livro dos médiuns. O tema central do evento será “Mediunidade na transição planetária”, cujos tópicos serão abordados previamente em onze encontros virtuais, transmitidos ao vivo, preferencialmente no último sábado do mês, às 15 horas, através de lives com palestrantes e debatedores no canal Grupo Espírita Paulista-GEP, no Youtube. A primeira live – “Mediunidade no isolamento social”, com Eulália Bueno – aconteceu em 30 de maio e está disponível para acesso. A próxima live será no último domingo, dia 28 de junho, às 17 horas. (veja a programação na Agenda, na página 12). Planejamento e orientações A USE do Estado do Estado de São Paulo também acaba de lançar o documento Orientações aos centros espíritas – Retorno às atividades presenciais, com protocolos e procedimentos, visando à prevenção ao contágio pelo coronavírus,
e que pode ser acessado no site da USE (www.usesp.org.br). “Nesse período de isolamento estão ocorrendo não somente mudanças externas, como a utilização mais intensa da tecnologia para levar a mensagem da doutrina espírita, mas um reposicionamento no aspecto interior. O ser humano está tendo a oportunidade de se analisar, de refletir mais, de aprender a valorizar as coisas mais simples e ver o próximo mais próximo”, enfatiza o presidente da USE estadual, José Aparecido Orlando. Atividades virtuais na FEESP Roberto Watanabe, presidente da FEESP, explica que as atividades presenciais foram suspensas, com exceção das atividades de assistência social, como o Lar Batuíra, que abriga cerca de 20 idosos, e a doação de cestas básicas, produtos de higiene, roupas e agasalhos às famílias em situação de vulnerabilidade. A FEESP instituiu tarefas como Vibrações à distância, realizadas diariamente às 21:30h, com a participação de colaboradores e alunos, cada um em sua residência, e foi disponibilizado um número de WhatsApp (11 95950-9542) e um e-mail (vibracoes@feesp.org.br) para solicitação de vibrações em favor de familiares e amigos. Está realizando também o projeto Evangelho à Distância, onde expositores da FEESP realizam reflexões sobre o Evangelho, com duração de 7 a 10 minutos, e que são colocadas no site www.feesp.org.br, a cada três dias. Além disso, e está dando continuidade aos cursos que oferece por meio de ensino à distância, promovido pela área de ensino. A diretoria executiva e os diretores de departamentos das áreas administrativas
USE, Aliança e FEESP se unem para realizar projetos em parcerias
continuam se reunindo, virtualmente, visando organizar e planejar as atividades dentro desta nova realidade. A tarefa dos médiuns Os médiuns também estão se reunindo no dia e horário de suas tarefas à distância e fazendo como um Evangelho no Lar. “Há casos em que os expositores da tarefa gravam um áudio ou vídeo com o comentário do trecho escolhido, repassando para os médiuns. Não há a parte da desobsessão, que se encontra suspensa, dada a inconveniência de exercê-la no lar do médium”, explica Watanabe. Sintonia no Bem “Recomendamos que alunos e colaboradores procurem focar na manutenção de sua conexão mental com a espiritualidade superior. Todos possuem este recurso, que não depende de acesso a equipamentos ou aplicativos”, lembra Eduardo Miyashiro, presidente da Aliança Espírita Evangélica,
alertando para a necessidade de se manter a serenidade e a clareza de pensamentos para compreender a situação e encontrar recursos para superar a ausência temporária do trabalho voluntário. “Seria ainda melhor se os trabalhadores se esforçassem para aderir a plataformas de comunicação virtual, que ofereçam recursos para continuidade dos programas de aulas para adultos, jovens e crianças. Sem dúvida, estamos num período de intensas mudanças, mas também se aprende pela ausência. Pela falta que sentimos do ambiente espiritual, passamos a valorizar a força da elevação vibratória desses ambientes, desafiando-nos a transformar nossos lares em extensões deles.” Miyashiro lembra que talvez não tenhamos oportunidade mais rica de crescimento espiritual, “para nós e todos os que solicitamos reencarnar nesta época de transição planetária, em busca de um nível superior da existência”.
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ENTREVISTA
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O impacto emocional no fechamento das
casas espíritas Por ELIANA HADDAD
Como você analisa essa experiência do fechamento dos centros espíritas? Fernando Porto: Essa questão nos permite uma inadiável reflexão sobre o verdadeiro papel do centro espírita perante a sua comunidade e a sociedade. O saudoso filósofo Herculano Pires já havia nos alertado que “se os espíritas soubessem o que é o centro espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra”. A convivência autêntica se estabelece pela comunhão de pensamentos guiados a um propósito comum. A quantidade de pessoas não garante conexão com a espiritualidade superior, mas a ‘afinidade e sintonia’ no verdadeiro bem. Será que nós temos valorizado e aproveitado nosso tempo de convivência no centro espírita, ou buscado frequentá-lo apenas em benefício próprio? Ele tem sido um espaço para estudo e reforma íntima ou para uma atitude passiva, conforme hábitos religiosos antigos? Em relação ao fechamento das instituições, é preciso considerar a necessidade de respeitar as autoridades sanitárias perante a pandemia, e considerar a situação de cada região, para que não nos tornemos agentes de perturbação. Muitas atividades realizadas antes presencialmente estão sendo substituídas por lives, estudos online, encontros virtuais. Isso é bom ou ruim para nossa evolução? O benfeitor Emmanuel na obra Paulo e Estevão nos ensina que “o valor da tarefa não está na presença pessoal do missionário, mas no conteúdo espiritual do seu verbo, da sua exemplificação e da sua vida”. Assim como o ‘pastor conhece suas ovelhas’, o dirigente espírita precisa estar conectado às necessidades do público frequentador do centro espírita e, se os dispositivos tecnológicos são as ferramentas disponíveis no momento, cabe aos res-
Fernando Porto: “É difícil prever qual realidade encontraremos no pós-pandemia”.
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tuando como diretor do Departamento de Atendimento Espiritual no Centro Espírita da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, o psicólogo Fernando Porto analisa este momento desafiador da história da humanidade. Ele destaca a importância da atenção dos dirigentes e lideranças espíritas sobre os impactos que sofrerão a participação e frequência nas casas espíritas e fala sobre as mudanças dos hábitos e os problemas emocionais e espirituais ocasionados pela crise. Acompanhe a entrevista.
ponsáveis se inteirarem de seu funcionamento e disponibilizarem alternativas para o público espírita. Nem a tecnologia ou a atividade presencial são os fatores determinantes para nossa evolução. Se não houver a internalização dos princípios espíritas e a sua aplicação na vida prática, de nada adianta o uso da tecnologia mais avançada disponível, pois esta apenas representa um recurso ou instrumento, dependendo a nossa evolução do seu bom uso ou não.
O que traz mais danos emocionais? Este isolamento ou vivermos afastados de nós mesmos, voltados mais para os aspectos exteriores da vida? Existem duas atitudes possíveis por parte do ser humano diante do sofrimento. Enquanto uma parte das pessoas aproveitará a situação de isolamento social para uma reflexão sobre seu estilo de vida, suas prioridades e seus relacionamentos, outros, por já carregarem em seu íntimo conflitos
e transtornos psicológicos, se encontrarão em uma condição de maior vulnerabilidade. Há uma crescente preocupação que fatores como decréscimo do poder aquisitivo, isolamento social, as restrições no acesso aos tratamentos de transtornos mentais e suporte religioso agravem os índices de depressão e suicídio. É difícil prever qual realidade encontraremos no pós-pandemia. Em um cenário otimista, as pessoas terão se adaptado a um novo modo de vida, no qual a realidade virtual suprirá as necessidades mais imediatas; no cenário pessimista, haverá um comprometimento físico e mental em parte da população, e precisaremos estar preparados para o acolhimento fraterno dos nossos irmãos mais necessitados de auxílio. A fé no futuro e a confiança em Deus são condições indispensáveis, em quaisquer circunstâncias para a superação desses transtornos. Como o centro espírita influencia no equilíbrio emocional de seus frequentadores e trabalhadores? Chegará um dia em que reconheceremos em toda a parte a presença de Deus. Que não se atribua ao dirigente espírita ou ao médium, pessoas falíveis, aquilo que nos compete realizar, afinal o reino dos céus nasce de fato nos corações. O centro espírita tem por missão atender à necessidade geral dos indivíduos, particularmente aos espíritos combalidos pelas angústias do mundo, aos pobres em espírito destituídos do esclarecimento superior e ainda aos necessitados do pão material e espiritual. E é para esses que ele se faz mais necessário. O afastamento temporário das casas espíritas nos faz pensar o quanto podemos desenvolver relações de dependência emocional com elas. Como podemos avaliar isso? O papel essencial do centro espírita deveria ser o de preparar os espíritas para não dependerem dele. Em outras palavras, em vez
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de simplesmente enxugarmos as lágrimas, precisamos ensinar o nosso semelhante a sorrir, reconhecer-se como ser imortal, estimular o desenvolvimento de suas potencialidades. A instituição espírita, como qualquer outra, é um meio e não um fim em si mesma. Você acha que podemos acabar enxergando como desnecessárias as atividades presenciais do centro espírita? O homem é um ser social e tem necessidade de afeto, de demonstrá-lo por meio de gestos e de receber o calor humano da mesma forma. O centro espírita não somente é a nossa escola e oficina de trabalho, como é um espaço que oferece uma atmosfera espiritual saneada para a realização de determinadas atividades específicas. Lembremos da reunião mediúnica na assistência aos desencarnados, das crianças ávidas de afeto e
ENTREVISTA do espiritismo são o combate à incredulidade e ao fanatismo, a superação das chagas humanas, o egoísmo e o orgulho. Será que o modelo atual vigente, baseado no método catequético no qual o frequentador é colocado em uma postura passiva e cômoda tem nos levado aos resultados que buscamos? Logo, o tempo de que dispomos para a convivência no centro espírita precisa ser suficientemente significativo, marcante e enriquecedor, fundado em relações autênticas, no estudo e na prática legitimamente espíritas. O nosso compromisso exige de nós ir ao encontro do sofrimento do outro, praticar a caridade, estimular os jovens para que se envolvam com centro espírita, compartilhando responsabilidades. A sabedoria diz que não se aplicam velhas soluções para problemas novos. Em outras palavras, o centro espírita necessita se transformar em ‘universidade do espírito’ para formar o cidadão
O papel essencial do centro deveria ser o de preparar os espíritas para não dependerem dele. A instituição é um meio e não um fim em si mesma” educação, dos idosos reféns da própria solidão, das pessoas que estão em desespero, ou em busca de um lugar onde encontrem paz, pois vivem o conflito constante em seus lares. Alguns podem até pensar que o centro espírita é totalmente desnecessário, pelo menos até o momento em que os problemas baterem em sua porta. Em sua opinião o que deveriam fazer os dirigentes espíritas ao retornarem as atividades do centro espírita? Deveríamos inicialmente refletir se é conveniente abrir de imediato, mesmo com a autorização das autoridades e pensar de que modo isso será feito e em quais condições as atividades serão desenvolvidas e as novas ações a serem implementadas. Há um ponto essencial a ser debatido no movimento espírita, um aspecto ‘positivo’ da crise que vivemos. Os objetivos principais
do futuro sintonizado com a regeneração a ser instaurada no mundo. Sendo a religiosidade uma das caraterísticas do ser humano, você acredita que estamos passando por alguma mudança nessa relação de transcendência? Para que a religiosidade caminhe na direção da verdadeira espiritualidade, é fundamental a mudança de paradigma em relação à nossa compreensão sobre religião, entendendo-a como moralidade e comunhão de pensamentos, sem submissão aos aspectos exteriores. A religiosidade se baseia essencialmente no serviço ao próximo e na consciência reta do dever cumprido. Portanto, para que haja a mudança nessa relação de transcendência, precisamos abrir nossos corações para o amor, estabelecermos uma conexão autêntica com o Criador e nos tornarmos instrumentos de sua
vontade pelo bem de todos. Somente assim se cumprirá a promessa do Cristo de que “haverá um só rebanho e um só pastor”. Quais os nossos maiores desafios emocionais e espirituais no momento? Quando as emoções se desestruturam, ocorrem as ‘perturbações neuróticas’, base de muitos transtornos mentais. As emoções negativas se ‘apoderam’ de nós de uma maneira involuntária. Infelizmente, a maioria das pessoas tem uma falsa impressão de que somos vítimas e não temos responsabilidade alguma sobre o processo. Acreditamos que a culpa pelo que sentimos se deve a fatores externos, aos acontecimentos da vida, ou aos atos e palavras das outras pessoas com as quais convivemos. Por outro lado, em um outro extremo, há aqueles que se culpabilizam e se martirizam, em um processo autodestrutivo, pelos acontecimentos considerados ‘negativos’, segundo seus pontos de vista. O primeiro cuidado a ser tomado é aprender a se responsabilizar pelos próprios sentimentos, combater a rebeldia que nos impede de aceitar a ordem natural das coisas. Faz-se necessário a autoaceitação, porque podemos estabelecer exigências excessivas além da nossa capacidade. O autoconhecimento é o nosso maior desafio, pois ele possibilita a compreensão da exata dimensão de nossos compromissos, da nossa missão aqui na Terra. E, a partir de então, adotar a postura do equilíbrio, na emotividade e no pensamento, na palavra e na ação. Eduquemos nossa vida mental, evitando os fatores causadores de desequilíbrio e buscando a sustentação na meditação, na oração, na leitura edificante e, principalmente, cultivando pensamentos positivos e sentimentos elevados para obtenção de uma saúde mais plena e duradoura. O que diria para os que estão aflitos, querendo voltar à rotina das palestras, passes e estudos nos centros espíritas? É preciso que sobesem os prós e contras, tenham consciência dos riscos, procurem se informar em fontes fidedignas e sigam os procedimentos de segurança indicados. Pensamos que, se o frequentador pertencer aos grupos de risco, ele deve evitar se expor de modo desnecessário. Quanto aos demais, caso se sintam equilibrados, ponderem a pertinência ou não da participação presencial. O espiritismo é uma doutrina que promove a autonomia, a autoconsciência e a responsabilidade dos atos de cada um a partir de sua livre escolha.
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LIVROS & CIA. IDE Editora Telefone: 19 3543-2400 www.idelivraria.com.br Allan Kardec – valiosos textos da Revista Espírita de Allan Kardec 288 páginas 14x21 cm
AME Brasil Telefone: 11 2574-8696 www.lojaamebrasil.org.br Da alma ao corpo físico de Décio Iandoli Júnior 472 páginas 16x23 cm
Casa Editora O Clarim Telefone: 16 3382-1066/1471 www.oclarim.com.br Novos casos de Jerônimo Mendonça de Nicola José Frattari Neto 256 páginas 14x21 cm
Intelítera Editora Telefone: 11 2369-5377 www.intelitera.com.br Recomeçar de Adeilson Salles 192 páginas 10x15 cm
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QUEM PERGUNTA QUER SABER
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Os bons e os maus
na Terra Da REDAÇÃO
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preciso, antes, fazer uma distinção entre a alma e o homem. A alma é criada nem boa nem má, porém suscetível, em razão do caminho que ela pode escolher: Pode seguir o bom ou o mau caminho, observar ou infringir as leis de Deus. O homem, portanto, nasce bom ou mau, dependendo ser ele a encarnação de um Espírito adiantado ou atrasado. A causa dos tormentos que afligem a humanidade terrena está na imperfeição dos Espíritos que aqui encarnam e isso é o que determina a origem do mal na Terra. Sua predominância provém da inferioridade do planeta, já que seus habitantes são, na maioria, Espíritos inferiores ou que pouco têm progredido. Em mundos mais adiantados, onde só encarnam Espíritos depurados, o mal não existe ou está em minoria.
Quando a gente nasce, já estamos predestinados a ser pessoa boa ou má? Ser mau é um traço da personalidade? Maria Anita Okabe, Cotia-SP A Terra pode ser considerada como escola de Espíritos pouco adiantados e também cárcere de Espíritos criminosos. O mal que ainda sobressai na humanidade é a consequência da inferioridade moral da
maioria dos Espíritos que a formam. Pelo contato de seus vícios, eles se infelicitam reciprocamente e punem-se uns aos outros. Deus não criou o mal. Ele estabeleceu leis, e estas são sempre boas, porque Ele é
soberanamente bom. Se as observássemos fielmente, seríamos perfeitamente felizes. Porém, os Espíritos, tendo seu livre-arbítrio, nem sempre as observam, e é dessa infração que provém o mal. Para quem acredita ser essa vida a única, isto deve parecer injustiça. Não se dá, porém, o mesmo com quem admite a pluralidade das existências e pensa na brevidade de cada uma delas, em relação à eternidade. O estudo do espiritismo elucida que a prosperidade do mau tem terríveis consequências em suas existências seguintes, e que as aflições do homem de bem são, pelo contrário, seguidas de uma felicidade, tanto maior e duradoura quanto mais resignadamente ele soube suportá-las. Bibliografia O que é o espiritismo, Allan Kardec, FEB.
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BAÚ DE MEMÓRIAS
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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
Léon Denis, a expressão da Verdade e a palavra Por IZABEL VITUSSO
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mem cuidado! Há um grande perigo para nossa crença e para todos nós.”
fama do orador e escritor Léon Denis (1846 - 1927) já era grande nos anos 1880. Ele começava a publicar os seus primeiros livros. Ainda nem havia escrito um dos seus grandes clássicos: O problema do ser, do destino e da dor, mas seus discursos já impressionavam, desde as primeiras assembleias mundiais de espiritualismo, como a de 1889, em Paris. Lá estavam adeptos de Swedenborg, espíritas, teosofistas, cabalistas e, diante da plateia com inúmeras celebridades, Léon Denis chamava a atenção e arrancava aplausos, com a sua fala ardorosa e sua intensa convicção. A resistência Porém, nestes grandes encontros de ecletismo de pensadores surgiam inúmeras indisposições, por falta de maior entendimento da doutrina e grande preconceito. Enfrentavam-se críticas da corrente positivista, materialista, dos ateístas e da grande massa dos católicos. Mas Denis não se agastava. Pedia a palavra, aclarava conceitos, mesmo sabendo que ali não poderia desenvolver todo o seu pensamento, reconhecendo a falta de preparo para o livre pensar. E deixava o recado: “Que importa o que o futuro pense de nós. Que pereçam nossos nomes, nossas personalidades, nossas memórias, até mesmo nossa honra, contanto que a Verdade triunfe e se eleve acima das armadilhas, iluminando com suas luzes até os que a negam e insultam.” Os ataques Nesse panorama, os ataques dos encarnados e desencarnados eram frequentes. Um fato de grande repercussão aconteceu, envolvendo um francês chamado Miller, que vivia em São Francisco, nos Estados Unidos, e frequentava Paris, sempre a negócios. Médium de efeitos físicos de excepcio-
nal capacidade, Miller começou a realizar sessões de materializações atraindo inúmeros espiritistas, ganhando com isso fama e deixando suas sessões cada vez mais concorridas entre os franceses. No início, ao assistirem às suas manifestações, Léon Denis e outros pesquisadores de renome atestaram a seriedade dos fenômenos, mas sofreram um grande baque logo depois, quando rumores deram notícias de que ele estava se deixando levar pela mistificação. Descuidado da seriedade de seu compromisso com a espiritualidade, sr. Miller passou a usar a mediunidade como um palco de espetáculos, introduzindo práticas ilusionistas nas sessões, inclusive pagas, tornando-se um joguete nas mãos dos que desejavam comprometer o espiritismo e a reputação dos pesquisadores que haviam validado inicialmente o trabalho do médium.
Senhor Miller representava uma farsa, justamente num momento em que as pessoas começavam a refletir sobre a realidade do espírito e a possibilidade de eles se comunicarem. Para quê? Mas qual seria o objetivo desse médium? Denis faz essa pergunta e, em resposta, Miller nada diz, negando a mistificação. O escritor, então, volta a escrever, desta vez um artigo, obedecendo às orientações de seus guias, que sinalizam: “O silêncio é uma falta. Não é permitida qualquer vacilação. É preciso publicar a verdade.” Denis então diz: “Se quarenta anos de trabalho, de devotamento, de sacrifícios pela causa do espiritismo deram à minha palavra um pouco de autoridade e de crédito perto de meus irmãos, dir-lhes-ei: To-
A favor ou contra O escritor recebeu severas críticas, dos que torciam pelo médium e os que repudiavam o seu intento de misturar a realidade do espírito com a fraude que armava com o ilusionismo. O escritor acompanhava a polêmica que tomava conta das revistas espiritistas de Paris. Mas sofria calado. Preferia sacrificar tudo a mudar qualquer ponto sobre o que considerava fundamental para o futuro da causa: “Por mais de trinta anos eu e alguns companheiros consagramos nossos esforços, nosso tempo, nosso sossego, para divulgar e defender o espiritismo. E agora iríamos comprometer toda a nossa obra com imperdoáveis desculpas?”— registra no artigo. Exemplo de prudência e vigilância, teve sempre suficiente coragem para se posicionar como representante à altura da tarefa, como um dos pilares continuadores da obra, depois da desencarnação de Kardec. O toque pela palavra Sua amorosidade e coerência também se revelavam nos instantes de recolhimento, em seu lar, diante de tantas correspondências que ele recebia: cartas admiráveis, algumas tocantes pela expressão sincera de estados d’alma. Outras com relatos fastidiosos e algumas de uma ingenuidade incrível. Para ele, não havia problema. Respondia a todas, absolutamente convicto: “Não se recusa um pedaço de pão ao mendigo que nos vem bater à porta. Como recusar uma palavra, que pode, de alguma forma, tornar-se benfazeja, desde que toque uma alma atingida por uma verdadeira dor? Certamente responderei. Convém sempre responder!” Bibliografia: Léon Denis, o apóstolo do espiritismo, sua vida e sua obra, Gaston Luce, Celd, 1989.
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Olhar para dentro. Me Por PAULA GUIMARÃES
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cantor e compositor Regis Danese foi extremamente inspirado quando escreveu a música Faz um milagre em mim. E é com sua primeira estrofe que gostaria de começar este texto-reflexão: “Entra na minha casa. Entra na minha vida. Mexe com minha estrutura. Sara todas as minhas feridas. Me ensina a ter santidade. Quero amar somente a ti. Porque o Senhor é meu bem maior. Faz um milagre em mim.” Gosto muito de pensar que a casa a que a música se refere somos nós seres humanos, a casa de nossas consciências, nosso mundo íntimo tão peculiar e particular, tão delicado e sensível, tão imperscrutável e misterioso ainda para nós, contudo, que, no correr das reencarnações, deve ser visitado, observado, pensado e desnudo para que possamos de fato corrigir nossas arestas e fazer escolhas melhores, que não comprometam nossos passos nem nossa felicidade futura. Vida externa e sedutora E, movida por esta analogia, me deparei com um post de Marlon Reikdal, psicólogo e palestrante espírita, em rede social. Marlon postou uma foto de uma casa rústica como quem olha de dentro para fora e vê um céu azul límpido, onde fulgura plena uma lua cheia, com a legenda – intrigante e provocativa: “(...) É uma pandemia, ou seja, o mundo está doente... Nós estamos doentes e precisamos nos curar dessa vida tão pra fora
que construímos! (...) Nesses dias tão eufóricos que estávamos vivendo, aproveitar o tempo em casa para enxergar, sentir e viver novas experiências pode facilitar a transformação que precisamos viver para nos curarmos dessa pandemia.” Veja que Marlon fala da vida pra fora, externa e sedutora, com voz melíflua de sereia que canta e encanta e amortece os sentidos e, supostamente, cura as dores, sendo que, na verdade, nos afasta da real cura que está em olharmos para dentro sem tanta euforia, qual rojão que explode no céu deixando múltiplo em cores, porém cores tão passageiras que se dispersam ao vento, que as dilui diante de nossos olhos. A coragem para Drummond É preciso centrar para que possamos olhar para dentro de nós, de maneira encorajada, como escreveu Drummond, no poema “Ano Novo”: “Tente, experimente, consciente”. Isto mesmo. Olhar para dentro é uma tentativa ora frustrada ora exitosa, ora infeliz ora radiante, e em todas elas reside a necessidade, pois que vamos nos aprofundando e nos descobrindo verdadeiramente para que possamos organizar nossa casa, retirando os excessos de pensamentos deletérios e modelos mentais, encrustados em nós, como as crenças que nos salvam, mas nos limitam e nos enclausuram em muitas outras, impossibilitando que nossos passos de progresso sejam largos.
Se nestes tempos em isolamento já tivemos inúmeros ‘surtos’, é porque fugimos desta ‘reforma’ obrigatória a todo espírito em evolução: surto de masterchef, cozinhar o que nunca vimos como possibilidade; limpar tudo que podíamos, testando produtos antivirais; ler os livros que nos prometemos há anos; nos matricularmos em cursos e formações online para preencher nossas agendas vazias da produtividade, antiga e velha conhecida. Eis provas contumazes da fuga, fuga da introspecção que nos devassa, nos liberta; mas que requer coragem, filha da fé, segundo Joanna de Ângelis. Coragem para vivermos plenamente, como diz o psiquiatra Roberto Assagioli, onde é preciso experimentar e aceitar tanto a luz quanto a escuridão, tanto a alegria quanto a tristeza e a dor. O receio do desconhecido E, nesses dias de olhar para dentro de casa, possivelmente tivemos medo do que iríamos encontrar nos nossos cantos e recônditos e ainda fugimos para o fazer externo, até encontrarmos boa dose de coragem e nos olharmos nos ‘olhos da alma’ para aninhá-la com carinho e lhe dizer que esta jornada não fazemos sozinhos, mas com Jesus. Somente ele, através de seus exemplos, pode nos auxiliar a mexer em nossas estruturas tão sedimentadas em vidas pretéritas e curar nossas feridas tão antigas quanto estes pilares necessários e urgentes
CAPA
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exer com as estruturas de serem movidos, para que se possa fazer sua luz entrar e em nós residir para que possamos ter, um dia, sua ‘santidade’. Afinal, esta é nossa jornada, do átomo ao arcanjo, conforme nos assegura a questão 540 de O livro dos espíritos, de unicelulares a espíritos angelicais, em suas escolhas mais nobres e excelsas, daqueles que venceram a si mesmos. O olhar para dentro Não é sem motivo que o psiquiatra e psicoterapeuta Carl Jung escreveu que “quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta.” Desperta porque, nesta busca íntima, se depara com o que é imprescindível mudar em si para que não volte aos erros tão conhecidos, mas, de modo antecipado e precavido, os evite, uma vez que conseguiu identificar seu padrão de comportamento diante dos fatos, não mais reagindo instintivamente, mas desperto diante dos convites experienciais de Deus para seu acordar do sono cataléptico, como de Lázaro. Sim, sabemos que nossos espíritos protetores e amigos não invadem nossas consciências nem abrem nosso véu de memórias para que façamos uma evolução a fórceps; contudo, se não escolhermos por nossos próprios passos, o progresso se dará à nossa revelia, enquanto
podemos ser dele seu contribuinte, não apenas um anteparo que este leva de roldão. É o que nos assegura inconteste O livro dos espíritos, na questão 783: “Segue sempre marcha progressiva e lenta o aperfeiçoamento da Humanidade? R. Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas. Quando, porém, um povo não progride tão depressa quanto deveria, Deus o sujeita, de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma.” O despertar Sobre isso, o poeta Carlos Drummond, em seu poema, traz uma reflexão: “Para você ganhar belíssimo Ano Novo, cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, (...) para você ganhar um ano, não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. (...) Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” Enfim, o novo O nosso ano novo começa com o plantio de sementes do vir-a-ser, do homem novo que seremos um dia e, para isso, a lista amarelecida nas gavetas dos muitos 31 de dezembro de anos incontáveis se faz inútil, tanto quanto o olhar para o passado do que não se realizou; tão pouco o olhar para o futuro infantil e ilusório. Apenas o que nos conduzirá a esta sólida construção é nosso merecimento, que nasce dentro de nós próprios e está à nossa espera desde que fomos criados por Deus e, como centelha divina que é, nos impulsiona para nosso, o vir-a-ser, o homem real e novo. Para todo este jornadear, o início dormita no conhece-te a ti mesmo, tão convidativo de nossos mentores e, para nós, ainda tão agigantado que nos parece apequenar diante de tamanha empreitada. Oradora espírita, Paula Guimarães é coach e professora da Fundação Getúlio Vargas, nas áreas de comunicação e gestão de pessoas.
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FOI ASSIM
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O fenômeno da voz direta Da REDAÇÃO
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r. Neville Whymant era professor adjunto de Línguas Orientais da Universidade de Oxford e conhecido erudito em assuntos orientais. Ao traduzir um livro bastante antigo de sonetos chineses, se deparou com uma séria dificuldade – escapou-lhe o significado de um soneto. Na ocasião, um amigo se ofereceu para levá-lo a uma sessão realizada com um médium naturalista, desconhecido do dr. Whymant. Foi a primeira sessão a que ele compareceu, nada conhecendo sobre o espiritismo. Durante a reunião, que foi realizada em Nova Iorque, uma voz claramente audível, falando uma língua desconhecida, dirigiu-se ao dr. Whymant. Este, todavia, reconhe-
ceu a língua como chinês, e chinês arcaico. O espírito comunicante apresentou-se como conhecido filósofo chinês da era de Confúcio, ao que dr. Whymant respondeu dizendo que estava empenhado numa tradução de alguns sonetos da época e que fora bem sucedido na tradução de todos, exceto um. Sobre isso, sem qualquer sugestão, a entidade chinesa citou exatamente o soneto referido pelo dr. Whymant, e depois prosseguiu fornecendo-lhe explicações precisas e detalhadas de seu significado. A informação foi tão clara que todas as dificuldades do professor foram sanadas, podendo ele completar seu livro com perfeita tradução. Fonte: Anuário Espírita de 1971, IDE.
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VOCÊ SABIA?
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O primeiro romance espírita
reconhecido por Allan Kardec Por ELIANA HADDAD
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m 1866, Allan Kardec identificava em Paris o primeiro romance que se utilizava de ideias espíritas como fio condutor de uma intrigante história de amor. O escritor Théophile Gautier (18111872) escrevia um romance-folhetim, intitulado Espírita, publicando-o em pequenos capítulos, no influente jornal Le Moniteur Universel, que durante muito tempo foi o diário oficial do governo francês. Como novela, a história era acompanhada por leitores não só da França, fazendo enorme sucesso e provocando curiosidade sobre as ideias espíritas que fervilhavam na sociedade europeia, desde o lançamento de O livro dos espíritos (1857). O enredo, contado pelo famoso poeta, jornalista e crítico literário francês, também atiçou a curiosidade de Allan Kardec, dele merecendo vários comentários sobre esse gênero literário na divulgação das ideias espíritas, como se pode ler na Revista Espírita de dezembro de 1865. “É da própria essência do romance representar um assunto fictício, quanto aos fatos e personagens. Mas nesse mesmo gênero de produções há regras de que o bom senso não permite afastar-se. Se os detalhes não forem verdadeiros em si mesmos, ao menos devem ser verossímeis e de perfeito acordo com o meio onde se passa a ação”, escreveu Kardec. Ele escreve que se pode fazer romances sobre o espiritismo, assim como sobre todas as coisas. “Dizemos mesmo que o espiritismo, quando for conhecido e compreendido em toda a sua essência, fornecerá às letras e às artes fontes inesgotáveis de poesias encantadoras. (...)Como nos romances históricos ou de costumes, é indispensável conhecer a fundo a tela sobre a qual se quer bordar, a fim de não se cometer disparates, que seriam outras tantas provas de ignorância. Aquele, pois, que não estudou a fundo o espiritismo, em seu espírito, em suas tendências, em suas máximas, tanto quanto
O escritor Théophile Gautier escreveu um romance espírita, cujos capítulos foram publicados em forma de folhetim no Moniteur Universel, o influente jornal que por muitos anos foi o diário oficial do governo francês
em suas formas materiais, é ‘inapto’ para fazer um romance espírita. (...) É preciso que, lendo um romance espírita, os espíritas possam reconhecer-se e poder dizer: é isto”. A história de Espírita Espírita, lançado no Brasil como O ignorado amor (O Clarim, 1977), conta a história de um rapaz galanteador que é influenciado por uma moça de nome Espírita. Ela se apaixonara por ele quando encarnada e, por desilusão, por não ter sido notada e correspondida, acabou por se en-
tregar à reclusão, em um convento. Sem jamais esquecê-lo, lá desencarnou ainda jovem com as dolorosas lembranças deste ignorado amor. Depois de muitas aparições e fenômenos recheados de incrível sintonia, ele, encarnado ainda, também acaba por se apaixonar por Espírita. Confessa Kardec na Revista Espírita de 1866 que não conhecia pessoalmente Théophile Gautier e nem sabia quais eram as suas convicções ou seus conhecimentos a respeito do espiritismo. “Sua obra ainda está debutando(...). Diremos apenas que se
ele não encarasse o seu assunto senão sob um único ponto de vista – o das manifestações – desprezando o lado filosófico e moral da doutrina, não corresponderia à ideia geral e complexa que o seu título abarca, muito embora o nome Espírita seja o de um de seus personagens. Se os fatos que ele imagina, para a necessidade da ação, não se encerrassem nos limites traçados pela experiência; se os apresentasse como se passando em condições inadmissíveis, sua obra faltaria com a verdade e faria supor que os espíritas creem nas maravilhas dos contos das Mil e uma noites. Se atribuísse aos espíritas práticas e crenças que estes desaprovam, ela não seria imparcial e, sob esse ponto de vista, não seria uma obra literária séria. A doutrina espírita não é secreta, não tem mistérios (...); diz claramente o que admite e o que não admite; os fenômenos cuja possibilidade reconhece não são sobrenaturais nem maravilhosos, mas fundados nas leis da Natureza, de sorte que nem faz milagres, nem prodígios. Aquele, pois, que não a conhece, ou que se engana quanto às suas tendências, é porque não quer dar-se ao trabalho de a conhecer”, adverte. Quando este romance-folhetim foi lançado em forma de livro, em 1867, Kardec voltou a tecer comentários à obra de Gautier. “É preciso não tomar os fatos ao pé da letra; há de se considerar que o livro não é um tratado de espiritismo. A verdade está no fundo das ideias e pensamentos, que são essencialmente espíritas e apresentados com uma delicadeza e uma graça encantadoras, muito mais que nos fatos, cuja possibilidade, por vezes, é contestável.” Kardec ainda comenta sobre a importância do romance: por ser Gautier um escritor de expressão, pela obra ter sido publicada antes em jornal de grande circulação, onde a ideia espírita foi afirmada e apresentada e conclui que “a forma de romance tem sua utilidade; graças a uma leveza aparente, penetrou em toda a parte e com ela a ideia”.
Antes das destruições que hoje atribulam a humanidade, outras destruições ocorreram ontem, mas Deus plantou, em silêncio, novas cidades e novos campos onde a ventania da transformação instalara o deserto. Se os profetas da calamidade e da negação anunciarem o fim do mundo, traçando quadros de aflição e de terror, crê em Deus primeiro, recordando que ainda mesmo da cova pequenina, em que a semente minúscula é sepultada, o Senhor faz nascer a graça do perfume e a beleza da cor, a abastança da seiva e a alegria do pão.
ENIGMA
Que nome se dá aos médiuns que mudam de caligrafia de acordo com o espírito que se comunica? qualquer hora, em qualquer lugar
Resposta do Enigma:
Caminho Espírita, Emmanuel, CEC.
Médiuns
Links onde você pode encontrar boa programação de conteúdo espírita online Rede Amigo Espírita Palestras espíritas transmitidas ao vivo diariamente: www.youtube.com/redeamigoespiritainternacional. Mais de 8 mil vídeos gravados: www.youtube.com/redeamigoespiritaTv Canal Coaching Espírita Com Julio Sena Videos novos toda semana www.youtube.com/coachingespirita Canal Amigos da Luz Vídeos novos todos os sábados, além de filmes completos e lives frequentes: www.youtube.com/user/CiaAmigosDaLuz Documentário - Roteiro Histórico Espírita em Paris Uma viagem pelos pontos históricos relacionados ao Espiritismo em Paris, no século 19. Os lugares onde Allan Kardec desenvolveu suas descobertas espíritas e a codificação. Produção: Luz Espírita (2017) http://www.luzespirita.org.br https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=Y GPKVCM5GzY&feature=emb_logo
Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
polígrafos.
Encontros virtuais sobre Mediunidade O Grupo Espírita Paulista – GEP está realizando lives com palestrantes e debatedores no canal Grupo Espírita Paulista-GEP. Transmitido ao vivo, pelo Youtube, no canal GEP - Grupo Espírita Paulista, preferencialmente todo último sábado do mês, às 15 horas. Temas: Aspectos gerais da mediunidade Junho: Mediunidade e suas modalidades Julho: Influência moral do médium e influência do meio Agosto: Animismo Setembro: Processos obsessivos Temas específicos da mediunidade Outubro: Física e mediunidade Novembro: Saúde e mediunidade Janeiro: Mente e mediunidade Mediunidade e atualidade Fevereiro: Mediunidade e predições Março: Papel do médium na transição planetária Abril: Mediunidade no mundo de regeneração falecomgep@gmail.com
DOMINOX DO CORREIO
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O livro dos médiuns,
AGENDA
CULTURA & LAZER
2ª Parte,
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cap. 17, item 191.
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Em tempos de quarentena...
O Correio Fraterno nas mídias sociais Editora Correio Fraterno @CorreioFraterno @correio.news
Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio
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ESPECIAL 100 ANOS
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Realidade ignorada Por HERMINIO MIRANDA
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ivemos uma época de perplexidade e, por conseguinte, de transição. Dependerá de nós, criaturas deste século, se o futuro trará no seu bojo a tão sonhada e adiada felicidade coletiva ou se continuaremos a tatear na escuridão dos descaminhos. Se estamos insatisfeitos com os modelos civilizadores até agora experimentados, é porque ansiamos por propostas e, obviamente, soluções mais inteligentes, menos traumáticas e tão definitivas quanto o permite a mutabilidade da própria vida. Um exame retrospectivo, mesmo superficial, mas honesto, informa que ainda estamos tentando corrigir disfunções do processo civilizador trabalhando mais com as instituições do que com o ser humano que nelas se integra. Insistem pensadores, filósofos, sociólogos, governantes e líderes de toda espécie em traçar programas estruturais destinados, teoricamente, a melhorar a condição humana, mas – novo paradoxo! – ignorando o principal componente da equação da vida, ou seja, o ser humano, por mais que a demagogia ou a incúria estejam a trombetear que é tudo imaginado em proveito da sociedade. Não é. Nossos desacertos são gerados, antes de qualquer outra consideração, por problemas humanos. Mas como equacioná-los corretamente e gerir com um mínimo de competência os esquemas propostos, se ainda não acrescentamos às fórmulas ditas salvadoras o indispensável ingrediente da realidade espiritual? As leis, os decretos, os códigos jurídicos, os programas sociais, os planos econômicos, as disciplinas científicas, os sistemas políticos não estão ainda informados de que somos todos espíritos imortais, sobreviventes e reencarnantes, responsáveis perante a lei maior que regula o cosmos
Herminio C. Miranda: “Não há fórmulas mágicas para solução das crises sociais, políticas, econômicas e religiosas. Elas não se resolvem no âmbito acanhado das leis humanas, nem com lideranças desinformadas da realidade espiritual” que as criaturas que o povoam. Os aflitivos atritos entre árabes e judeus, por exemplo, se deslocariam prontamente para outra perspectiva se uns e outros se tornassem conscientes de que o árabe de hoje pode ter sido o judeu de ontem, em vidas anteriores, ou vir a ser o de amanhã, em vidas subsequentes. Aquele que busca o enriquecimento a qualquer custo social ou ético precisa
saber que estará sujeito a severo ajuste perante as leis divinas quando retornar ao mundo, em existência de privações e carências. A crescente preocupação com as condições ecológicas constitui evidência do desconforto que estão experimentando as novas gerações de encontrarem aviltado, a caminho de total destruição, aquele mundo em que viveram há umas poucas gerações, limpo e harmonioso no
funcionamento de seus mecanismos de equilíbrio ambiental. Ainda trazem aqueles, na memória inconsciente, lembrança de um mundo no qual se podia beber a água cristalina dos rios, ouvir o canto dos pássaros, saborear a fruta e o legume sem tóxicos, respirar o ar incontaminado, contemplar o céu despoluído, caminhar sobre as paisagens sem as feias cicatrizes das minerações mutiladoras. “Après moi, le déluge” (“Depois de mim, o dilúvio”), teria dito um soberano francês, num impulso arrogante de que-me-importismo egoísta. É difícil imaginar onde e como estaria hoje esse pobre espírito, mas não resta dúvida de que armou contra si mesmo o mecanismo infalível da correção, dado que todos os nossos atos e até pensamentos constituem atitudes responsáveis, pelas quais temos de responder de alguma forma, algum dia, em algum ponto do universo. Não há, pois, fórmulas mágicas nem modelos competentes para equacionamento e solução das assustadoras crises sociais, políticas, econômicas e religiosas que marcaram, com a sua presença, a tônica deste final de século. Os desajustes são profundos, antigos e resistentes. Não se resolvem no âmbito acanhado das leis humanas, nem com lideranças desinformadas da realidade espiritual. Enquanto esse componente básico e vital não for incorporado às estruturas do pensamento, seremos todos reféns da insatisfação em vez de hóspedes da felicidade. Curioso, contudo, que, por mais dramáticas que sejam as consequências e amplitudes desse conceito revolucionário, ele começa com a singela e tão ignorada verdade de que o ser humano é, antes e acima de tudo, um espírito imortal. Do livro A reinvenção da morte, Herminio C. Miranda, Lachatre,1997.
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REFLEXÃO
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Progresso
em tempos de pandemia Por ALESSANDRA SIMÕES
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e tempos em tempos somos desafiados a mudar, a nos reinventar e também a nos adaptar às mudanças impostas por condições adversas. Nem sempre essas mudanças acontecem a partir de situações boas ou fáceis de enfrentar. São catástrofes, guerras ou pandemias, consequências naturais ou da ação do homem. Vivemos novamente uma pandemia, que é uma enfermidade causada de rápida disseminação e que atingiu todas as nações, provocada pela COVID-19. Ela chegou sem avisar e sem uma receita de como interrompê-lo ou vencê-lo rapidamente, e não nos deu tempo para nos preparar. De repente nos vimos isolados em nossas casas, sem o convívio dos nossos familiares e amigos, sem abraços e distantes do mais velhos, que estão no chamado grupo de risco. Do dia para a noite, tivemos que nos adaptar e nos colocar em progresso. Sim, progredir e crescer diante de uma situação nova, fora do nosso habitual e que nos põe sob diversas dificuldades. Sobre a Lei do Progresso, no livro dos espíritos, Allan Kardec cita que os Espíritos definem o progresso como “uma condição da natureza humana e ninguém tem o poder de se opor a ele. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não asfixiar.” E graças aos grandes avanços nos foram permitidos nas áreas das tecnologias da informação e comunicação, que tiveram suas origens em tempos difíceis de guerra, temos hoje aliados que nos ajudam a enfrentar este momento de isolamento, encurtando as distâncias e transpondo as barreiras físicas que nos são impostas. As visitas agora acontecem de maneira virtual; ligamos nossos notebooks ou smartphones e através de aplicativos nos conectamos por videochamadas e tentamos acalentar nossos corações. Porém,
Tudo é sinal de crescimento e progresso, como ensina a doutrina espírita. As propostas de evolução surgem por meio das dificuldades e dos desafios que nos cercam” nem todos estão familiarizados com essas tecnologias. Os computadores chegaram ao uso comum somente em meados da década
de 1990 e a internet nos anos 2000, mas o acesso foi se dando aos poucos. Assim, muitos ainda hoje têm dificuldades em manusear e tirar proveito de todas as faci-
lidades que essa tecnologia pode proporcionar, até porque muitos nunca precisaram usar. Mas tudo é sinal de crescimento e progresso, como ensina a doutrina espírita. A necessidade gerada pela pandemia está nos levando a aprender rapidamente a lidar com o desconhecido para nos adaptar, transformando tudo aquilo que era feito fisicamente em novas possibilidades computacionais, incluindo o manuseio desses aparelhos, para estar junto de quem amamos, mesmo que de maneira virtual. O livro dos espíritos aborda esse tema com maestria, quando diz que “nem todos progridem ao mesmo tempo ou da mesma maneira”, mas que os mais adiantados ajudam os outros pelo contato social. Todos os dias podemos ouvir relatos de pessoas que estão auxiliando seus pais e avós para poderem se ver, de professores adequando suas aulas para o formato à distância, de filhos preocupados com a compra de alimentos para os que estão em maior grupo de risco. De dirigentes dos centros espíritas inovando, apoiados pelos mais novos, apresentando palestras ao vivo por meio dos smartphones. As propostas de evolução surgem por meio das dificuldades e dos desafios que nos cercam, e nos movimentar em busca da superação abre novas oportunidades de conquistas e progresso, nos faz crescer. Afinal, “o homem não pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao fim determinado pela Providência; ele se esclarece pela própria força das circunstâncias.” Apoiados fortemente nos ensinamentos de Jesus, é preciso seguirmos firmes na Lei do Progresso em quaisquer circunstâncias. Mestra em Comunicação Social, especialista em Segurança da Informação e professora na área de Tecnologia.
DIRETO AO PONTO
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As consequências de nossas escolhas Por UMBERTO FABBRI “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz, e muitos são os que por ela entram.” Mateus 7:13,14
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ste trecho do Evangelho nos leva a refletir sobre nossas escolhas. Por muito tempo em nosso processo evolutivo somos guiados basicamente por nossos instintos, mas, aos poucos, nossa inteligência emocional se desenvolve e por meio de nossas vivências aprendemos que determinadas atitudes nos trazem sofrimento, angústia, medo; ou alegria, paz, realizações. Passamos então a observar e a direcionar nosso comportamento para o que nos faz bem, nos traz felicidade, apesar de custar grande esforço e disciplina em um primeiro momento, para trabalharmos nossos hábitos desenvolvidos lá atrás, no princípio de nossas existências, quando esta consciência sobre o Bem e do Mal engatinhava. “Muitos os chamados e poucos os escolhidos”, nos fala sobre as oportunidades de crescimento e convites para adentrarmos o reino de Deus, que não está fora, mas precisa ser construído dentro de nós, que não é um lugar específico, mas um estado de espírito, uma conquista íntima do ser que aprende a bem direcionar sua vida, usando basicamente o amor como guia.
A grande jornada que nos conduz a este ‘reino’ nos apresenta estradas e portas que temos por direito escolher, mas também somos imputados a arcar com as consequências de nossas escolhas. A grande dificuldade, entretanto, é aprender a eleger qual o melhor caminho, qual porta de-
vemos transpor para chegarmos de forma mais rápida ao nosso almejado destino, nos poupando de sofrimentos desnecessários. A vida é assim, Deus nos oferta as oportunidades, ‘as portas estreitas’, que exigem de nós grandes doses de dedicação, mas ao cruzá-las estaremos mais fortes, experien-
tes, melhores pessoas e poderemos gozar destas conquistas, ou podemos escolher as ‘portas largas’, que não exigem esforços e que nos mantêm estacionados, ou ainda pior, agravam nossos débitos frente às leis divinas, cometendo os mesmos erros, por continuarmos a manter nossas escolhas equivocadas, por preguiça, rebeldia, medo, rancor, mágoa, etc... Não seria esta a proposta divina para todos os seus filhos amados? De que por nosso esforço e dedicação encontrássemos a paz? Sem dúvida, este estado íntimo de plenitude e felicidade é objeto de aspiração de todos, todavia nos perdemos abrindo portas erradas, fazendo escolhas incorretas e inapropriadas, que quase sempre nos afastam do nosso intento. Com certeza Deus nos auxilia por meio das dificuldades, criando novas oportunidades, nos motivando a optar pela porta certa. Muitos estão sendo chamados, convocados a servir o exército do Bem, mas nem todos serão escolhidos por bem servir ao Senhor. A cada um de nós cabe escolher a porta que deseja atravessar. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.
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MÍDIA DO BEM
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Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!
Orquestra Criança Cidadã é reconhecida como patrimônio
Estudante cria site que mostra área de risco de Covid-19
A Orquestra Criança Cidadã, que desde 2006 realiza formação musical de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social em Pernambuco, é reconhecida como patrimônio imaterial do Estado. O projeto atende 405 jovens no Coque, um dos bairros mais violentos do Recife, e nas cidades de Ipojuca e Igarassu. “A outorga representa muito para a orquestra”, agradece o idealizador do projeto, João Targino. Como forma de celebrar a conquista, o grupo promoveu recital online, que pode ser acessado pelo Instagram (@criancacidada).
O pequeno Callaghan McLaughlin, de 6 anos, teve uma ideia bem criativa para ajudar as pessoas a passarem pela quarentena: um ‘drive thru’ de piadas’. O posto foi montado em frente à sua casa na cidade de Saanich, no Canadá. Seguindo um distanciamento seguro, o garoto oferece o serviço gratuito a quem passar pelo local. “Há muito estresse no mundo, quero ver um sorriso no rosto das pessoas”, disse. De acordo com a mãe, o estande recebe bastante pessoas. Quando questionado sobre a gratuidade do serviço, Callaghan dá uma lição de maturidade e empatia: “Quero que as pessoas economizem seu dinheiro.”
O estudante de medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Faissal Nemer, de 21 anos, teve a ideia de criar um site para mapear casos do novo coronavírus no Brasil. “Eu percebi que não tinha nenhuma plataforma desse tipo ainda para a Covid-19 e que eu poderia fazer uma”, diz Faissal à BBC, que aprendeu sozinho a programar. A ideia inicial de reunir esses dados se transformou no Juntos Contra o Covid, um site colaborativo que mapeia os casos no País e permite que uma pessoa saiba qual é o risco de infecção na região onde ela mora.
Fonte: Diário de Pernambuco
Fonte: Tribuna de Jundiaí
Fonte: Portal IG
LEANDRO LIMA/DIVULGAÇÃO
‘Drive thru’ para alegrar a vizinhança