Correio Fraterno 496

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CORREIO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA Ano 53 • Nº 496 • Novembro - Dezembro 2020

ISSN 2176-2104

FRATERNO

ENTREVISTA Ser espírita é ser inclusivo A educadora especializada em deficiência visual Sonia Hoffmann fala sobre o Projeto de Acessibilidades nas casas espíritas que vem chamando a atenção para diminuir as barreiras arquitetônicas e afetivas. Leia nas páginas 4 e 5.

Como lidar com pesquisas e documentos inéditos de Kardec

O

acesso a documentos históricos que têm sido disponibilizados com informações que possam enriquecer a história de origem do espiritismo, e mesmo ser base para novas pesquisas, coloca em pauta a grande questão de como deve ser a nossa atitude, diante do que possa ser trazido como novo para o contexto do espiritismo. O físico e pesquisador Alexandre Fonseca faz a sua análise e recorre aos procedimentos que Allan Kardec adotou nas inúmeras situações que viveu ao estruturar as obras da codificação. Vale a pena colocar em prática os pontos fundamentais destacados por Allan Kardec. São conceitos e procedimentos básicos que continuarão a dar ao espiritismo a devida autoridade como ciência de observação e doutrina filosófica com consequências morais. Leia nas páginas 8 e 9.

A lucidez sonambúlica da senhora G.

O desafio do movimento espírita para a Nova Era Nena Galves responde quais os maiores desafios e o papel do espiritismo em tempos crise. “É preciso despertar a capacidade de discernimento junto do estudo, desenvolver-se realmente a fé raciocinada.” Página 14.

A senhora G., médium sonambúlica e vidente ao tempo de Allan Kardec, tratava-se com um médico espírita muito querido. Mas dr. Demeure veio a desencarnar e eis que a senhora G. descobre o que todos demoravamlhe a contar. Página 7.

Perdoar ou levar até as últimas consequências o seu desejo de vingança? Janaína Farias pelo espírito

Jean Lucca

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EDITORIAL

Convite à

É

Uma ética para a imprensa

esperança

inacreditável, mas chegamos ao final de 2020, um ano que vai ficar na história da Humanidade, que nos obrigou a olhar para dentro de nós e a conviver com os mais próximos, proporcionando-nos a oportunidade de observarmos o tempo, o convívio, a paciência, a resiliência. Chegamos também à última edição do ano com a consciência de que, quando o sapato aperta, aprendemos a encolher os dedos e caminhar assim mesmo, porque não podemos parar. Exemplos de boas ações não nos faltam, convidando-nos realmente à esperança de dias melhores e mais conscientes, onde certamente cada conquista terá ainda maior valor. É essa força de quem enfrenta os desafios que está presente na Entrevista

com Sonia Hoffmann sobre inclusão, no Especial sobre o cuidado com as bases doutrinárias do espiritismo, nas Reflexões sobre a vontade de que o Natal seja de amor, na singela homenagem aos nossos leitores, com os corações cheios de gratidão. É muito bom ver a edição pronta. Mais um ano de trabalho concluído com tantos desafios. Perceber que todos nós, leitores, editores, articulistas, colaboradores e entrevistados, não deixamos que a tristeza e as aflições fossem maiores que a nossa fé e as nossas perspectivas de que o Bem prevaleça. Sempre. Que venha 2021! Estamos de braços abertos para o que der e vier. As lições foram lindas e 2020 foi um presente que fortaleceu nossos corações na fé raciocina-

FALE COM O CORREIO Estudos do espiritismo na UNICAMP Fiquei encantado por saber que na UNICAMP, há cerca de 40 anos, estuda-se o espiritismo. A entrevista [com Silvio Chibeni, edição 495] evidencia a seriedade do grupo. Chama a atenção, porque são pessoas dedicadas às ciências, paralelamente com dedicação à doutrina dos espíritos, o que, convenhamos, não é de rotina nessa área. Kardec, no meu entendimento, pode ser

considerado um dos precursores dessa forma de estudo, do que resultou serem complementares conhecimentos físicos conhecidos e a posteriori, pesquisas, explicação e comprovação da origem espiritual dos fenômenos desconhecidos até então. Eurípedes Kuhl, por email Há bastante tempo sinto falta de algo que traga inovação dentro dos Centros Espíritas. Procurei, então, abrir meus horizontes através de palestras que assisto no Youtube,

Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.

da que não se ilude, mas se ilumina a cada ventania. Feliz Natal e um Ano Novo repleto de amor, paz e gratidão. Equipe Correio Fraterno o que tanto têm me enriquecidos. Essas palestras deveriam ser transmitidas e estudadas nas casas espíritas para variar os estudos do Evangelho, O livro dos espíritos e dos Médiuns. Eles seriam enormemente enriquecido. Um abraço fraternal. Mônica Maria, por email A qualidade das edições do Correio Minha apreciação não se contém na matéria “Álcool: mitos e verdades em tempos de coronavírus” (edição 495), posto que ela alcança toda a edição desse querido e sempre tão aguardado veículo divulgador da doutrina espírita. Meus aplausos! Fraterno abraço! Ógui L. Mauri, Catanduva, SP

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• A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


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ACONTECE

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Maratona das Casas André Luiz reúne famosos em grande festa Por ALEXANDRE CALDINI

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omingo, dia 20 de dezembro, a partir do meio-dia, acontecerá a Maratona Fest das Casas André Luiz. Serão 12 horas ininterruptas de conversas instigantes, músicas de qualidade, teatro, poesia e humor. Pelas redes sociais das Casas André Luiz, Facebook e Youtube passarão personalidades como: Ana Maria Braga, Fábio Porchat, Heródoto Barbeiro, Renata Lo Prete, Claude Troisgros, Antônio Fagundes, Bruna Lombardi, Paulo Betti, Tiago Abravanel, Toquinho, Zizi Possi, MPB4, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Fernanda Takai, maestro João Carlos Martins, Rodrigo Faro, Raí, Domenico De Masi, Leandro Karnal, Djamila Ribeiro, Cortella, Max Gehringer, Amyr Klink, Monja Coen, Maria Paula, Horácio Lafer Piva, Luiza Trajano, Alexandre Costa e outros.

A presença dessa gente talentosa na virada do ano trará boas discussões sobre nossas vidas, nossos desafios atuais e sobre as perspectivas para o nosso futuro. Tudo isso entremeado por muitos momentos artísticos. Com mais de 70 anos de fundação, todo ano as Casas André Luiz realiza atendimento especializado e gratuito a pelos menos 1.700 pessoas com deficiências. O evento terá caráter ecumênico e contará com a participação de representantes de diversos segmentos religiosos. O representante do espiritismo nessa fala ecumênica e fraterna será o jornalista André Trigueiro, autor do livro Viver é a melhor opção (Correio Fraterno). Anote na agenda de seu celular para não perder e, se puder, por favor ajude a divulgar essa bela iniciativa:

MARATONA FEST, Domingo, 20/12, às 12 horas Facebook e Youtube das CASAS ANDRÉ LUIZ

USE apresenta série de lives introdutórias ao espiritismo Da REDAÇÃO

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Departamento de Doutrina da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo encerra dia 17 de dezembro mais um ciclo de lives realizadas sobre temas básicos do espiritismo. História do espiritismo, Deus, Elementos gerais do universo e Reencarnação e Justiça divina foram alguns dos temas já abordados. Nos dias 10 e 17 dezembro, às 20 horas, as lives trarão assuntos como: Mediunidade (Todos somos médiuns, tipos e mediunidade, Análise das Comunicações e Mistificações) e Aspectos filosóficos e morais (Método do espiritismo, Filosofia espiritualista, Leis da natureza e Consequências morais). A iniciativa conta com os pesquisadores e oradores: Alexandre Fonseca, Marco Milani, Andrea Laporte, Silvio Costa, Humberto Coelho, João Nascimento e Marlene Gonçalves. Na primeira série de lives, sob o título “Conversas doutrinárias” os temas discutidos foram: Ciência e espiritismo, Conversa com Ivan Franzolim sobre a Pesquisa Nacional para os Espíritas, Programa e Métodos de Estudo sobre o Espiritismo, Filosofia e Espiritismo e A relevância das lives para a divulgação espírita. As lives são transmitidas pela página da USE no Facebook, e as gravações permanecem disponíveis na página Educador Espírita, no Youtube. Saiba mais: www.usesp.org.br


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ENTREVISTA

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Ser espírita é ser

inclusivo Por ELIANA HADDAD

O tema acessibilidades e inclusão é novo na casa espírita? Sonia Hoffman: Não deveria ser, mas para a grande maioria das instituições espíritas não é somente uma abordagem nova como também estranha e difícil como o entendimento da moral trazida por Jesus. Muitos não compreenderam a essência do ensinamento oferecido por Jesus em suas palavras e ações, tanto quanto não perceberam os aprofundamentos inclusivos contidos no ensinamento doutrinário do espiritismo. Como o espiritismo pode auxiliar a sociedade na compreensão das nossas diferenças? No momento que nos é esclarecido que todos fomos criados simples e ignorantes, mas que ao longo de sucessivas reencarnações fomos nos diferenciando nas aptidões, experiências e convicções devido ao livre-arbítrio, amadurecimento moral e intelectual e uma diversidade de conquistas evolutivas pelo estagiamento em vicissitudes, gêneros, sexos, faixas etárias e vivências sociais, acadêmicas, culturais e ambientais, em um processo ecológico do mundo externo e interno, possibilitado pelo autoconhecimento. Há preconceito na afirmação de que a pessoa com deficiência está em processo de resgate nesta encarnação? Não necessariamente preconceito, mas a ideia de que alguém com deficiência esteja sempre em resgate pode ser limitante e a demonstração de desconhecimentos quanto à justiça divina, que nos oferece também provas para que possamos testar, ampliar e organizar nossas possibilidades como espírito imortal. É possível da mesma forma ser entendido que talvez a pessoa que traga uma limitação, deficiência ou diferença esteja contribuindo para o despertamento de atitudes mais solidárias, fraternas, conscientes e que promovam

Sonia Hoffmann: queremos ser entendidos, visualizados, acolhidos como pessoas que estão vivenciando uma etapa reencarnatória importante

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ducadora, fisioterapeuta, doutora em educação física, a gaúcha Sônia Hoffmann encontrou a deficiência visual logo na adolescência. Mas o baque desta realidade só a fortaleceu e a preparou para que hoje ela pudesse estar à frente de projetos expressivos, focados nas acessibilidades voltadas ao movimento espírita. A proposta é sensibilizar as casas espíritas e qualificá-las para a inclusão de pessoas com deficiências/diferenças, aprimorando, para isso, os acessos físicos e afetivos. O Projeto Acessibilidades Jerônimo Mendonça, encabeçado por ela desde 2014, é que ancora as iniciativas, que vão desde a realização de oficinas, seminários, vídeos, publicação de cartilhas e livro1, até o apoio a eventos como o Primeiro Encontro Nacional de Surdos e Ouvintes Espíritas, realizado no Rio de Janeiro em 2015. Acompanhe a entrevista de Sonia Hoffmann nesta última edição do ano. a inteligência interativa naqueles com quem compartilha direta ou indiretamente estas situações mais duradoras (como as deficiências congênitas e adquiridas, sensoriais, motoras, intelectuais, neurológicas e psíquicas) ou temporárias (como as diferenças comportamentais oferecidas pelas crianças, convívio com idosos, gestantes, obesos). As diferenças raciais, sociais, financeiras exemplificam também oportunidades muito ricas para aprendizagens, quanto à generosidade, justiça e acolhimento de todos como criação de Deus. Em termos práticos, o que pode fazer o movimento espírita para o

acesso a todos, nas palestras, reuniões mediúnicas, nos projetos de divulgação? Há algum programa de sensibilização sobre o assunto aos dirigentes espíritas? Olhar para o outro com a sua deficiência e sua diferença, acolhendo-o como um ser de possibilidades, mesmo que por vias alternativas, e que se encontra em um processo evolutivo tanto quanto as demais pessoas neste planeta. É preciso aproveitar estas oportunidades vivenciais e construir ou tecer uma rede inclusiva, que não dissocia deficiência de diferença porque alguém com sua deficiência não é somente a sua deficiência, mas traz atributos de diferen-

ciação significativos. Por isso, o princípio filosófico de inclusão é a equidade, porque não podemos exigir que todos façam a mesma coisa da mesma forma, e isto nem seria saudável e útil, pois nos manteria estagnados ou limitados no desenvolvimento de nossos talentos. É preciso muito mais do que acolher: precisamos nos disponibilizar, possibilitar que alguém se sinta pertencente dentro deste processo dinâmico, libertador, ‘participAtivo’ e consolador que é a vida inclusiva pela aplicação de recursos de acessibilidades. Por este motivo, eu e meu companheiro Eduardo F. Paes desenvolvemos o Projeto Acessibilidades Jerônimo Mendonça (PAJEM), presencial e virtualmente no canal do YouTube, não só com o objetivo de sensibilização, porque todos já sabem que a deficiência/diferença existe, mas que é necessário pensar e utilizar estratégias de acessibilidades que consolidem a inclusão com mais efetividade, eficiência e correção. Por que Jerônimo Mendonça e como funciona este projeto? Jerônimo Mendonça, o Gigante Deitado, não permitiu que sua deficiência corporal causada pela artrite reumatoide severa deixando-o sem os movimentos de braços e membros inferiores, assim como a cegueira e questões cardiológicas, o impedissem de ser um divulgador do Evangelho e da doutrina espírita. Mais ainda, não aceitou que estas deficiências negassem a bondade divina, que oferece sempre possibilidades evolutivas para quem se reconhece como seu filho. Assim como ele, levamos para diferentes instituições espíritas no Brasil os fundamentos doutrinários inclusivos e a apresentação de estratégias e recursos de acessibilidades por meio de palestras, oficinas, seminários, curadorias e tantos outros eventos que precisam ser contextualizados e organizados a partir da demanda, da realidade e da possibilidade apresentada. Acreditamos que ainda o tema inclusão e acessibilidades será abordado com maior


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ENTREVISTA

Oficinas realizadas em casas espíritas: reconhecimento tátil através de maquete de instituição e o uso da bengala branca como instrumento de orientação.

visibilidade e profundidade, em um futuro próximo, nos congressos espíritas.

de superproteção que mais aparenta rejeição do que cuidado.

Não há como não lhe perguntar: como devemos agir com o cego? O que o deixa à vontade e o que o constrange? Como proceder com outras deficiências? Como alguém que neste momento vivencia a experiência da cegueira, além de outras alterações sindrômicas e funcionais, posso afirmar que nós queremos ser entendidos, visualizados, acolhidos como pessoas que estão vivenciando uma etapa reencarnatória importante, que temos defeitos e qualidades tanto quanto quem não apresenta experiências limitantes de deficiência, que desejamos ardentemente ser entendidos como pessoas ávidas pelo sentimento de pertencimento e de participação efetiva nas diversas interações entre as pessoas e na estrutura da sociedade e do movimento espírita. Dialoguem conosco, nos questionem, acreditem ser possível, exercitem a coragem e a humildade de saírem de seus pedestais ou de suas redomas que estão muitas vezes vinculados a mecanismos de autodefesa. Deixem que nossas mãos e almas se toquem fraternalmente.

Por que há essa dificuldade velada nessa inter-relação? Como o autoconhecimento pode auxiliar nas acessibilidades, na inclusão de todos? Nem sempre a dificuldade interativa é tão velada assim. Ela fica evidente tanto nos comportamentos e atitudes de grande complexidade quanto nas sutilezas que, devido à repetição, são facilmente detectados pelas pessoas que vivenciam há muito tempo a deficiência, a diferença ou ambas. Se as pessoas fizessem uma visitação ao seu mundo interno com mais frequência, talvez encontrassem sentimentos e conflitos que se traduzem em emoções e distanciamentos que trazem muito mais entraves, conflitos e engessamentos do que libertação, alegria e a felicidade de um convívio desafiante nesta aventura do viver. No entanto, no interior de cada um, existe um tesouro pouco explorado e até mesmo desconhecido ou ignorado. O autoconhecimento cada vez mais se faz urgente e precisamos nos esforçar. Seja aquele com a deficiência em seu corpo físico, como aquele com a deficiência em sua atitude, afinal de contas, reconhece-se o verdadeiro espírita, e mais do que isto, o cristão, pelos seus esforços em sua transformação moral e na educação das más tendências, como o marginalizar, como o magoar, como o negligenciar, como o imobilismo e a permissividade, porque não é somente roubar e matar uma inclinação a ser modificada. De certa maneira, talvez uma atitude deficiente esteja roubando e matando em todos os envolvidos a chance de progresso e de conquista do prazer de conviver.

De uma maneira geral, como se sentem nas programações, nos eventos espíritas? Sentem-se acolhidos? Infelizmente, em algumas atividades do Movimento Espírita e intercâmbios sociais com as pessoas, ainda prepondera o sentimento de invisibilidade, de descrédito, de um bloqueamento na fluidez do relacionamento normal, onde se evidencia o pânico, o medo e a dúvida causada provavelmente pelo desconhecimento de como proceder ou, então, por um excesso

Como romper as barreiras das acessibilidades e inclusão na casa espírita? Como podemos aprimorar a nossa empatia nos relacionamentos no sentido de se promover igualdade de oportunidades? Barreiras de diversas maneiras existem, mas a principal delas está na barreira atitudinal. A mudança para uma atitude mais empática (não apenas cognitiva, afetiva, mas que se traduz na preocupação empática com o outro pela compaixão), a alteridade e o reconhecimento de que podemos a qualquer momento estagiar em qualquer situação, rompe todas as demais barreiras, porque passamos a perceber a nós e ao outro com um olhar sensível e uma ação inteligente. Assim, as barreiras arquitetônicas, comunicativas, informativas, tecnológicas e tantas outras podem ser reduzidas e mesmo eliminadas se as barreiras atitudinais forem trabalhadas e vencidas. Como você analisa a justiça divina? Acredita que existam deturpações no próprio meio espírita sobre o entendimento dos nossos ajustes morais? A justiça divina se expressa em toda a sabedoria pouco entendida na sua essência e nas suas intenções, porque o egocentrismo, o orgulho e os instintos de selvageria ainda rugem em muitos corações e na alma. Bendita a possibilidade de aprendizagem que a Paternidade Divina concede a cada um de seus filhos. Precisamos agir de modo mais inteligente, com paciência e resignação ativa por existirem ainda algumas relações nebulosas na instituição espírita em suas diferentes estruturas. Os desafios e os alertas estão cada vez mais presentes e soando mais altos; que tenhamos olhos de ver e ouvidos de ouvir. Gostaria de comentar sobre algum tema que não tenha sido abordado aqui? Agradeço a oportunidade em iniciar este processo de conversação e de dialogação inclusiva com todos os leitores diretos e indiretos desta publicação. Muito existe para ser dito e feito, mas algumas vezes o remédio precisa ser ministrado em doses diferenciadas. O importante é que a medicação da inclusão seja ingerida. Compartilhem conosco a rede inclusiva. Site: www.pajem.net Inclusão e acessibilidades. Sonia Hoffmann, ed. Solidum, 2018. 1

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LIVROS & CIA. Editora EME Telefone: 19 3491-7000 www.editoraeme.com.br A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo de Allan Kardec tradução de Cristina Florez 288 páginas 15,5x22,5 cm

Editora Solidum Telefone: 14 99883-6392 www.lojasolidum.com.br Inclusão e acessibilidades de Sonia B. Hoffmann 138 páginas 14x21 cm

Correio Fraterno Telefone: 17 3524-9800 www.correiofraterno.com.br/livros Castelita de Victor Hugo (espírito) psicografia de Arandi Gomes Teixeira 320 páginas 14x21 cm

O Artífice Editorial Telefone: 11 97439-6657 www.editoraoartifice.com.br Jardineiro da alma (coleção “Mensagens de fé”, volume 1) de Valter Máz Borges inspirado por Eric Vincent 118 páginas 14x21 cm

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FOI ASSIM

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Flores antigas fora do vaso Por IZABEL VITUSSO

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aquela manhã eu havia me programado para entrevistar os candidatos para a vaga que havia sido aberta em nossa empresa. A terceira candidata adentrou a sala. Sorriso largo, esbanjando simpatia. A conversa seguiu leve, principalmente para uma situação como essa, em que as atenções de ambas as partes estão muito presentes. Importantes decisões são tomadas nesse momento: aceitar ou não o que se revela como oportunidade para os dois lados envolvidos. Entrando no terreno mais emocional da conversa, sobre os anseios profissionais, perguntei a ela o que a motivava a retornar ao mercado de trabalho, depois de mais de trinta anos se dedicando no lar, envolvida mais com filhos e marido. Percebi um brilho no olho, um engasgo e a emoção trouxe-me um novo panorama. Vi um apelo silencioso, um pedido de oportunidade para que ela pudesse resgatar a sua autoestima, redescobrir o seu potencial e ter novamente em suas mãos sua autonomia. O casamento havia acabado há cerca de um ano e

no lugar do amor, a mágoa em seu coração. Senti desejo de consolá-la em sua dor, mas o que falar num momento ainda tão doído! Foi quando senti no ar, na sala fechada, um cheiro forte de flores envelhecidas em vaso. Ainda perguntei se ela também assim sentia. – Não! Mas a clara mensagem brotou em mim instantaneamente, em forma de um convite que eu na hora externei: – Marli, para colher as flores novas é preciso retirar as antigas do vaso. Esqueça a mágoa, entregue-se para essa oportunidade e venha trabalhar conosco. Ao contar essa história, lembro-me de Jesus, que dizia:

“Ninguém coloca remendo novo em roupa velha”. Era preciso deixar o que não servia mais para trás e recomeçar.


BAÚ DE MEMÓRIAS

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

A lucidez sonambúlica da senhora G. Por IZABEL VITUSSO

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senhora G. era médium sonambúlica e vidente muito lúcida, no tempo de Allan Kardec. Por sua extrema sensibilidade, o grupo de amigos espíritas que se reuniam na cidade do sul da França, Montauban, nada falou a ela sobre a morte do querido dr. Demeure, médico muito devotado que abraçou a doutrina dos espíritos e era muito conhecido por suas ações beneméritas. Naquele dia, porém, reuniram-se a convite dos amigos espirituais que orientaram sobre o socorro que dariam à senhora G., que sofria com as fortes dores no pé, por conta de um grave entorse. Sobre isso, o grupo nada mais sabia. Foi assim que deram início à reunião. Ao entrar em transe, a senhora G. começou a soltar gritos lancinantes, mostrando o pé e descrevendo que um Espírito que mantinha a fisionomia oculta lhe fazia fricções e massagens, exercendo tração longitudinal sobre a parte lesada, exatamente como faria qualquer médico. Mas a crise durou pouco e minutos depois desapareciam a inflamação e os traços da luxação. Porém, o espírito que a socorria, e havia desencarnado há tão poucos dias, continuava sem se identificar. Ele foi em vida o médico da médium e, conhecendo a sua extrema sensibilidade, procurava poupar-lhe como se fora à própria filha. Quando dr. Demeure se preparava para se retirar, a senhora, que momentos antes colocaria o pé no chão, deu um salto e se pôs ao centro da sala para apertar-lhe a mão. Foi quando ela deu um grito e caiu desfalecida ao chão, ao reconhecer o dr. Demeure no espírito que a operara. Durante a síncope ressurgiu sua lucidez sonambúlica e a médium passou a conversar com os espíritos, a trocar felicitações, principalmente com o dr. Demeure, que lhe correspondeu aos testemunhos de afeição. Esse fato aconteceu cerca de quatro anos antes de Allan Kardec desencarnar. Ele encontrava-se profundamente envolvido em sua missão de estabelecer junto aos es-

Montauban, cidade do sul da França onde o grupo de espíritas, incluindo a senhora G., se reunia.

Antoine Demeure, médico homeopata muito respeitado por seus valores morais, com quem Kardec se correspondia quando em vida.

Sonambulismo O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio espírito; é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. Em geral, suas ideias são mais justas do que no estado normal, seus conhecimentos mais dilatados, porque tem livre a alma. Muitos sonâmbulos veem perfeitamente os espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes. Podem confabular com eles e transmitir-nos seus pensamentos. (O livro dos médiuns, cap. 14, item 172) píritos as bases da doutrina. Como sempre o fazia, aproveitou para narrar este fato na edição da Revista Espírita, onde destacou a condição espiritual do amigo médico, com quem se correspondia há algum tempo e por quem nutria profunda simpatia. Atento a tudo o que podia apreender e registrar como novos conhecimentos, Kardec pontua: “A situação espiritual do dr.

Demeure é justamente a que se poderia antever na sua vida tão digna quão utilmente empregada. Mas, dessas comunicações, resulta outro fato não menos instrutivo – o da atividade que ele emprega quase imediatamente após a morte, no sentido de tornar-se prestimoso. Por sua alta inteligência e qualidades morais, ele pertence à categoria dos espíritos adiantados. A sua felicida-

de não é, porém, a da inação. Ainda há poucos dias tratava doentes como médico e mal apenas se desprende da matéria, ei-lo a tratá-los como espírito”. Allan Kardec, Revista Espírita, março de 1865.


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ESPECIAL

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Pesquisas e documentos inéditos de Allan Kardec

Como vamos lidar com isso? Por ALEXANDRE FONTES DA FONSECA

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entusiasmo é sempre natural em quem faz novas descobertas. Mas é preciso amadurecer a forma como elas são apresentadas à comunidade espírita, pois temos responsabilidades em trabalhar o avanço do espiritismo de modo sério e de acordo com o exemplo de Kardec, que agiu conforme a ciência. Isso não é desrespeito aos que apresentam descobertas, mas uma forma madura e científica de validá-las se forem corretas, e esclarecê-las se estiverem equivocadas, limitadas ou incompletas. Afinal, esse é o sentido da fé raciocinada. É verdade que parte do movimento espírita vem clamando por atuar com menos excessos no caráter religioso e mais presença dos aspectos filosófico e científico, mas aceitar descobertas sem analisá-las de modo científico é semelhante a aceitar também a infalibilidade do conteúdo oriundo de médiuns ou Espíritos.

A forma segura, madura e séria de desenvolver o caráter progressivo do espiritismo é trabalhar de modo similar ao científico e com respaldo doutrinário. Assim, vale lembrar e colocar em prática os pontos fundamentais destacados por Allan Kardec. Eles são conceitos e procedimentos básicos que continuarão a dar ao espiritismo a devida autoridade como “ciência de observação” e “doutrina filosófica com consequências morais”1. Sabemos que por sua própria natureza, o espiritismo é progressivo. Esse progresso, porém, não ocorrerá sem critérios. Afirma Kardec em A Gênese (capítulo 1, item 55) que “uma última característica da revelação espírita é que ela é essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. (...) O espiritismo, assim, só estabelece como princípio absoluto o que está demonstrado com evidência, ou o que resulta logicamente da observação.”. Destaca também Kardec no item 14 da obra como se

As regras da ciência para as descobertas Os pesquisadores, ao fazerem uma descoberta, adotam os quatro passos seguintes. Embora haja diferenças nesse esquema em algumas áreas do conhecimento, essa sequência é bem geral e traduz a forma como, na atualidade, as ciências desenvolvem seu conhecimento. 1) Preparam um artigo, reportando a descoberta, os métodos utilizados, e suas consequências e aplicações. 2) Submetem o artigo para publicação em um periódico que realiza análise dos artigos por pares. Isto é, outros pesquisadores conhecedores da área, recebem anonimamente o artigo para analisá-lo quanto a critérios de qualidade teórica e metodológica, bem como coerência entre conclusões, argumentos e dados. Eles preparam um relatório recomendando: rejeição, aceitação desde que façam correções e melhorias, ou aceitação na forma como está.


ESPECIAL dá a elaboração do espiritismo: “O espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, quer dizer, aplica o método experimental”. Esclarece ainda que sem a experiência de avanço do conhecimento da ciência, o espiritismo não teria forças para se justificar: “o espiritismo sem a ciência careceria de apoio e de controle e poderia equivocar-se. Se o espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas, teria fracassado, como tudo quanto surge antes do tempo”, comenta no item 16. Na Revista Espírita de dezembro de 1868, sobre a questão da interpretação e aplicação dos princípios da doutrina espírita, Kardec diz que “essa autoridade será, em matéria de espiritismo, o que é a de uma academia em matéria de ciência”.

O laboratório Não se deve esquecer, aliás, que a Revista Espírita foi criada por Kardec justamente para a apresentação de novas ideias e princípios, antes que esses viessem a ser considerados como partes da Doutrina. No prefácio de A gênese, Kardec explica o trabalho realizado. “(...) A Revista é, frequentemente, para nós, um campo de experiência, destinado a sondar a opinião dos homens e dos Espíritos sobre certos princípios, antes de admiti-los como partes constituintes da Doutrina”. E destaca na edição de julho de 1868: “Sendo a Revista um terreno de estudo e de elaboração dos princípios, e nela dando sem rodeios a nossa opinião, não tememos empenhar a responsabilidade da Doutrina, porque a Doutrina a adotará, se for justa, e a rejeitará, se for falsa.” Se seguirmos, portanto, as orientações deixadas por Allan Kardec, não haverá dificuldade para a compreensão sobre a forma correta de como devemos agir com relação ao caráter progressivo do espiritismo. Por exemplo:

As propostas e descobertas Não devemos aceitar, ainda, como verdades ou princípios espíritas, as recentes

3) Se o artigo é aceito e publicado, a comunidade da área lê e utiliza seus resultados em futuras descobertas. Quanto mais um artigo é citado por ter sido usado como base de novas descobertas, mais é valorizado como contribuição ao avanço do conhecimento. Por outro lado, se o artigo é questionado e/ou refutado através de outras pesquisas que resultam em conclusões diferentes, a comunidade o rejeita. No final, o artigo cujos resultados e conclusões foram confirmados por outros artigos e pesquisas, recebe da comunidade da área, a chancela de “conhecimento” ou “avanço”. 4) Somente após receber chancela de conhecimento é que o conteúdo de um artigo ou de uma série deles é escrito na forma de livro e apresentado à comunidade da área, como parte de sua doutrina ou teoria. Somente depois disso, as descobertas são ensinadas aos neófitos da área.

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Esquema lógico Afirmação/Suposição Fundamentar os achados e apresentar à comunidade científica/espírita para validação do método e novo SIM conhecimento

Contradiz a Codificação? SIM Há evidência objetiva? NÃO

Validado?

NÃO

NÃO

Aceitar

Refutar

SIM Aceitar

Reformular o corpo teóricodoutrinário

Manter o corpo teóricodoutrinário Marco Milani - U.S.E.

propostas de descobertas de adulteração de obras básicas, a pretendida recuperação do sentido original do espiritismo, a adoção de novas interpretações de conceitos espíritas, etc. O movimento espírita, seguindo o exemplo de Kardec, deverá observar, portanto, os critérios por ele adotados para o trabalho do espiritismo, a fim de trazer os conhecimentos de forma similar à ciência no tocante à validação, divulgação, acolhimento e desenvolvimento das descobertas. Seria interessante também que as descobertas espíritas, portanto, não fossem apresentadas no primeiro momento na forma de livros, mas publicadas em artigos ou relatórios de pesquisa (veja quadro), de preferência em periódicos que adotam o método de análise por pares, ou seja, revisão e avaliação por especialistas das diversas áreas do conhecimento e que, no nosso caso, sejam também estudiosos do espiritismo. Além de ser o método adotado por Kardec, o quadro (abaixo) mostra como isso se alinha com a forma pela qual a ciência, na atualidade, lida com as descobertas.

Coerência e trabalho coletivo Para a realização de análises sobre qualquer descoberta é preciso ter como bases fundamentais a doutrina espírita e a ciência, a elas submetendo todas as evidências e argumentos apresentados (Veja esquema lógico). Deve-se analisar todos os ângulos e consequências, questionando-se sua coerência com o conteúdo das principais obras de Kardec, não e esquecendo, obviamente, de analisar a qualidade das premissas científicas e filosóficas. Seria extremamente interessante, inclusive, se o movimento espírita se interessasse e valorizasse as contribuições menores e até mesmo as mais simples para o avanço do co-

nhecimento espírita, uma vez que indivíduos ou grupos podem e devem realizar estudos e, também, publicá-los na forma de artigos. Isso aproximaria o movimento espírita do aspecto democrático da ciência que incentiva o trabalho coletivo de construção do conhecimento. Afinal, foi de modo coletivo e democrático que o espiritismo se formou. Allan Kardec, O que é o espiritismo, FEB.

1

Alexandre Fontes da Fonseca é responsábel pela Assessoria de Ciências e Pesquisa Espírita da USE-SP.

O caráter solidário e democrático da revelação espírita Não há nenhuma ciência que tenha saído pronta do cérebro humano. Todas, sem exceção, são fruto de observações sucessivas, apoiadas em observações precedentes, como de um ponto conhecido para chegar ao desconhecido. (...) Não confiou Deus a um único Espírito a responsabilidade de promulgar a doutrina, quis Deus, também, que o mais pequenino, como o maior, tanto entre os Espíritos, como entre os homens, trouxesse sua pedra para o edifício, a fim de estabelecer entre eles um elo de solidariedade cooperativa, que faltou a todas as doutrinas decorrentes de uma única fonte. (...) Essa ainda é uma razão por que, em cumprimento dos desígnios do Criador, não podia a doutrina ser obra nem de um Espírito só, nem de um só médium. Tinha que emergir da coletividade dos trabalhos, comprovados uns pelos outros.” (Allan Kardec em A gênese, cap. 1, item 54).


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FOI ASSIM

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Feliz novo Natal Por JULIANA FEREZIN HECK

2020

foi um ano desafiador! Foi, não; ainda é! Ele exigiu calma, pediu prudência, ensinou que é preciso parar! Mostrou que conviver com as pessoas mais amadas requer paciência. E quantas vezes acreditamos ser pacientes sem o ser de verdade? Quantas vezes julgamos ser amor o que, na verdade, era apenas costume! Pois que 2020 veio arregalar os nossos olhos e expor nossas dificuldades de tal forma que, ou saímos transformados, ou perdemos a grande oportunidade que Deus nos coloca de sermos seres humanos melhores! E agora o Natal se aproxima. Época reflexiva, em que somos convidados a relembrar a história de Jesus e seus ensinamentos, em que nos reunimos em uma noite festiva para trocar abraços e presentes.

Mas 2020 está diferente. Ele ainda nos pede prudência. Abraços não são permitidos; tampouco reuniões! Como então homenagearmos Jesus? Como oferecermos nossos mimos às pessoas que tanto amamos? Eis que 2020 veio nos reforçar o grande ensinamento de Jesus nos deixou:

– Ame o próximo: cuide do outro como você cuida de si mesmo! Preserve-o, proteja-se e pense em todos os que você estará protegendo! – Valorize a família e honre-a. Perceba a grandiosa oportunidade de crescimento e de exercício do amor que você tem dentro da sua casa!

– Deus está em você! Com os templos fechados, só nos resta buscar a fé cultivada em solo fértil: no coração! Fé raciocinada e lúcida, capaz de enxergar justiça no meio de tanta dor e conflitos. Jesus se alegra com aqueles que, resignados, buscaram, ou ainda buscam, a compreensão deste momento vivenciado pela humanidade, e, em meio a esta busca, acabam encontrando a misericórdia de Deus, que acolhe os aflitos e nunca abandona um filho seu. Que sejamos luz neste Natal, ao nosso próximo mais próximo. Porque, neste momento, esta é a vontade soberana do Pai: que estejamos juntos e unidos às pessoas responsáveis pela nossa grande transformação! FELIZ NOVO NATAL! Autora dos livros O perfume de Helena e As cores de Alice, Correio Fraterno.

2020 foi um ano de muitos desafios, mas eles fortaleceram nossos corações, na fé que não se ilude e se ilumina a cada ventania.

QUE VENHA...

Um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de gratidão, paz e esperança.


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ANÁLISE

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Os benefícios do esquecimento do passado Por ANDRÉA LAPORTE

M

uitas pessoas questionam não somente quando e como ocorre o esquecimento das lembranças das nossas existências anteriores, mas também a justiça desse esquecimento e o real objetivo da reencarnação sem o conhecimento evidente desse passado. Como a doutrina espírita explica que somos seres imortais, criados simples e ignorantes, e passamos por diversas experiências nem sempre agradáveis, podemos começar a esclarecer a questão já partindo da informação trazida em O livro dos espíritos, item 257, sobre o perispírito: “liame que une o Espírito à matéria do corpo, princípio da vida orgânica, mas não o da vida intelectual”. Aprende-se também no espiritismo que “o perispírito é apenas um agente de transmissão, pois é o Espírito que possui a consciência...”, o que nos permite perceber que nossas memórias ficam gravadas, portanto, no Espírito, ainda que nunca se veja separado do seu envoltório fluídico. Como a sabedoria e a misericórdia divinas são incontestáveis, Deus em sua perfeição considerou mais adequado que ao reencarnar o Espírito tivesse o esquecimento do passado, pois nos seria extremamente constrangedor ter todas as lembranças de nossas experiências passadas na vida corpórea. Afinal, não podemos esquecer que em nosso atual grau evolutivo ainda oscilamos entre as boas e as más ações nos nossos caminhos de tantos aprendizados. Saber quem fomos, o que fizemos, a quem prejudicamos e por quem fomos prejudicados certamente nos causaria desequilíbrios. Longe, porém, de acharmos que fomos “jogados” na roda da vida, pois o esquecimento, plenamente ao nosso favor, é apenas temporário. Na erraticidade, de acordo com seu estágio evolutivo, o Espírito é capaz de verificar sua trajetória, avaliar suas faltas e conquistas, para poder repensar novas oportunidades que possam melhor solidificar seu aprendizado, preparando-o para novas ten-

tativas antes do retorno à vida material. Na reencarnação, o processo de ligação entre o Espírito e a matéria propriamente dita se inicia no momento da concepção com a ligação fluídica entre seu perispírito e o novo corpo, sendo ele submetido a certa perturbação. Quando nasce, o ser reencarnante vai recobrando as suas faculdades, retomando a consciência, mas com o esquecimento do que se passou. Durante a vida material, enquanto o corpo descansa, dorme, a alma se desprende. Ao despertar, podem inclusive ocorrer algumas recordações dessas vivências e certas lembranças surgirem em forma de intuições, pois “as nossas tendências instintivas são uma reminiscência do nosso passado” (LE-393). A cada nova experiencia corpórea, o ser também está mais e melhor desenvolvido em seu aspecto intelectual, o que vai também lhe permitindo maior compreensão do bem e do mal, para melhor resistir às tendências de suas imperfeições, passando a compreender e a analisar mais adequa-

damente a sua situação atual, como um verdadeiro estímulo para o despertar e aprimoramento de suas virtudes. Se o Espírito se lembrasse de todas os acontecimentos de sua trajetória, certamente suas escolhas pretéritas influenciariam diretamente em suas atitudes no presente, retirando-lhe o mérito de suas conquistas, pois as vívidas lembranças de seus atos e, principalmente, de pessoas de sua relação envolvidas em situações conflituosas seriam obstáculos a serem superados. E é assim que cada nova existência é sempre um novo recomeçar, com aptidões e capacidades em nós permanecendo de maneira latente. Vale lembrar que algumas pessoas podem ter fortes lembranças de vidas anteriores, o que serve para convencimento e reflexão a respeito da pluralidade das existências. Há também quem tenha apenas ilusões a respeito. Todos nós, entretanto, somos intuídos pelas lembranças das nossas consciências e, para saber o que fomos, sugere-se analisar as nossas

boas e más tendências na vida atual. Pela perfeição de suas leis, Deus nos concede de forma justa e benevolente o que nos é necessário e suficiente para o nosso aprimoramento, cabendo a nós aproveitar da melhor maneira as infinitas oportunidades de recomeço, fortalecidos na determinação de vencermos a nós mesmos e, também, de aproveitarmos o próprio desafio da nova experiência para a reparação de questões anteriores, através do reencontro com aqueles que prejudicamos ou que nos prejudicaram em existências precedentes. O segredo da certeza do dever cumprido está justamente em aproveitar da melhor forma essa encarnação, utilizando-se as conquistas intelectuais para análise de nossos pensamentos, sentimentos e ações, que visem ao autoconhecimento para que se promova um esforço contínuo para domar paixões e tendências inferiores, nos adequando à prática e vivência cristã. Andréa Laporte é assessora do Departamento de Doutrina da USE Estadual e secretária da USE Regional de Campinas.


E, vendo eles a estrela, alegraram-se muito com grande júbilo. E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra. As dádivas dos magos originaram as tradições de presentes no Natal.

Direção: Cristiane Natale Data: 13 de dezembro de 2020 Horário: 18h30 Classificação: 10 Anos Duração: 70 min Cidade: São Paulo Local: Teatro Liberdade - Rua São Joaquim, 129 INGRESSOS: https://www.eventim.com.br/artist/vendedor-sonhos/

qualquer hora, em qualquer lugar

Resposta do Enigma:

Combinando uma

Mateus, 2

Como um espírito pode mover um corpo sólido?

parte do fluido

No dia 13 de dezembro, a peça teatral O vendedor de sonhos fará a sua última apresentação do ano. O espetáculo, que é baseado no best-seller do escritor Augusto Cury, acontece no Teatro Liberdade, em São Paulo. Em 150 apresentações, a peça já foi assistida por mais de 100 mil pessoas em todo o Brasil.

Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.

T B U I P M N V B O P L A M E G R E A S Ã O P L B E R S M B E A R I O U V E O L O U N I V D A S D E D A S U O R E I V A S I O N A L R E R N O P N F U E I O C O L A S S O R E E J E S E S T U I M N F G B E R O M A P O A E R C A A S U I M B N U I O P E R U U V A O P I L E M A L N T S R R G O S A M O R I T E E B O J U B C S A S A H T R E S M U S R O O O U T E R L A C I N V J E R U S A L E M I R R A M Q U I R O P M O M I R R E T U P E L M N B E A S T A O R I N N E C A S A C O U R O E R O T M T E L J T N A N I N O M E M L U U O P M A G O S V N V T U B I A P A A E R B I E T O I U N A Q R E R T N N I N L O N C E M I N B O R L O O A M R A P O A U A A R I I N C E N S O L U I N A E R A O U B C A E B U L P O Z T R U I T A Z X R E C R E A O I T U N M A S S I R R L C V U O P O A R R

universal com

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E, tendo nascido Jesus em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém, e perguntaram:

ENIGMA

o fluido que se

DEZ

O vendedor de sonhos encerra temporada

A VISITA DOS MAGOS

desprende do

Os desafios da pandemia e do pós-pandemia A USE Intermunicipal Espírita de São Bernardo do Campo está realizando aos sábados, das 7h às 8:30h, reuniões com temas direcionados a dirigentes e trabalhadores espíritas sobre os desafios da casa espírita na pandemia e no pós-pandemia. Grupo de acesso pelo Whatsapp: https://bit.ly/centroEspirita.

Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

médium, apropriado

Feira do Livro Espírita em Campinas A Editora Allan Kardec promoverá durante os meses novembro e dezembro a Feira do Livro Espírita, oferecendo descontos de até 70% em obras de autores, como Therezinha Oliveira, Regis de Morais, Zalmino Zimmermann, Hebe Laghi, Daisy Jurgensen, dentre outros. O evento acontece na Av. Dr. Theodureto de Almeida Camargo, 750. Vila Nova, Campinas, SP. Informações sobre retirada dos livros ou recebimento pelos Correios: www. ceak.org.br

CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO

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a produzir esse efeito

AGENDA

CULTURA & LAZER

(O livro dos médiuns –

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cap. 4 item 8)

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Presente de Natal

Região do ABC Retirada de doações para o Bazar Permanente ligue (11) 4109-8938 Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio


ESPECIAL 100 ANOS

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O príncipe da paz M

esmo agora, dois mil anos de distância do seu nascimento na Palestina, ainda há muita controvérsia a respeito da figura ímpar de Jesus e do seu legado doutrinário. As posições variam desde a deificação até o aviltamento mais grosseiro. De certa forma, é compreensível que a personalidade do Cristo tenha levantado tanta celeuma. De tal maneira esteve ele adiantado em relação ao seu tempo que ainda hoje não alcançamos toda a profundidade dos seus ensinamentos e toda a extraordinária força e limpidez do seu caráter. Podendo nascer entre os poderosos para pregar de cima para baixo a sua mensagem, decidiu, ao contrário, nascer e viver na pobreza para pregá-la entre os humildes. Numa época tumultuada pelas paixões políticas e religiosas, prosseguiu imperturbável e com dignidade inexcedível a espalhar a sua palavra redentora. Para demonstrar que a morte era um simples episódio, não recuou diante da mais rude e mesquinha forma de punição e, ainda mais, por crime que não cometera. Interessado em demonstrar o mecanismo de leis desconhecidas dos homens, realizou inúmeros fenômenos insólitos, prontamente classificados como milagres. Esse espírito majestoso, que mudou o curso da História, nasceu no anonimato, viveu na pobreza e morreu na infâmia. A história oficial da época mal registra a sua passagem num ou noutro documento tido por muitos como suspeito. É que o impacto vigoroso da sua influência começa com a sua morte e cresce e se agiganta com o passar dos séculos. Seu vulto imenso é daqueles que a nossa pobre visão espiritual somente pode contemplar a distância: de perto, é grande demais. A História, quando começou realmente a se interessar pela figura do Mestre, encontrou-a já mutilada e recoberta de lendas e de mitos. Até mesmo seu ensinamento continha deformações difíceis de eliminar. Em muitos casos, a imaginação dos historiadores supriu a falta de dados concretos e novas paixões se desataram em torno dele. Alguns para exaltá-lo mais do que ele próprio desejaria; outros, no extremo oposto, tentaram reduzi-lo a um ser mesquinho,

Por HERMINIO MIRANDA segundo o espiritismo, de Allan Kardec. O que recomenda o espiritismo é que ponhamos em prática a moral pregada pelo Mestre e resumida por ele ao cabo dos seus três anos incompletos de pregação: “Amai a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a vós mesmos”. Nisso está o espírito de toda a lei e de todos os profetas. Era o que tínhamos a lembrar, quando, mais uma vez, nosso pensamento repousa, neste Natal, na imagem daquele que está sempre presente no coração e no espírito dos que sonham com um mundo de paz, harmonia e de amor. Do livro Estudos e crônicas, que reúne artigos do autor para o Reformador, com o pseudônimo João Marcos, FEB, 2013.

Lugar de Jesus na história do mundo

Jesus, Maria e José (1507), pintura de Rafael, Museu do Prado, Espanha

igual a muitos, ou perturbado pelos desequilíbrios mentais catalogados pela ciência moderna; houve também quem procurasse demonstrar que ele nunca existiu, senão na imaginação de um povo que buscava a grandeza histórica a qualquer preço. No século passado verificaram-se as primeiras tentativas sérias a que hoje se chama desmitificação da imagem do Cristo. Não é outro o sentido das obras mais famosas dessa escola: a de Strauss e a de Renan. Ambos procuram explicar o Mestre em termos humanos, o que, até certo ponto, se admite. Procuram aplicar os métodos moder-

nos da historiografia, algo de diferente em confronto com as antigas ‘vidas’ de Jesus, elaboradas numa atmosfera de misticismo exagerado. Uma preocupação, no entanto, lhes era constante: reduzir o impacto emocional dos chamados milagres, procurando retirar deles as características sobrenaturais que a teologia clássica lhes atribuíra. A tarefa de esclarecimento, porém, estava reservada ao espiritismo, que não apenas reinterpretou os Evangelhos, como colocou os fenômenos psíquicos operados pelo Cristo na sua exata posição e perspectiva. Veja-se, nesse sentido, principalmente, O evangelho

O acontecimento mais importante da história do mundo foi a revolução que permitiu às camadas mais privilegiadas da humanidade passarem de antigas religiões, reunidas sob o vago nome de paganismo para uma religião fundamentada na unidade divina, na trindade, e na encarnação do filho de Deus. Essa conversão, a fim de que pudesse ser concretizada, levou quase mil anos. Para a formação dessa nova religião foram precisos pelos menos trezentos anos. Foi nessa época que viveu uma pessoa incomum que, por sua iniciativa ousada e pelo amor que soube inspirar, criou as bases e marcou o início da futura fé da humanidade. (A vida de Jesus, de Ernest Renan. Redação)


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QUEM PERGUNTA QUER SABER

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O papel do

Consolador Prometido Por NENA GALVES

É

preciso ter cuidado. O espiritismo no Brasil cresceu ligado à parte assistencial e devemos continuar a fazer a caridade material. Porém é a caridade moral que nos chama. A fome maior dos grandes centros é a falta de sentido na vida, a droga, o desespero, o suicídio, as depressões, e o Consolador Prometido que não consola a parte espiritual da vida não é consolador, é alimentador de enganos. É papel do espiritismo adaptar-se à modernidade, mas não para satisfazer o nosso ego. O maior desafio dos espíritas é manter o foco e não se perder em ilusões. Pensar: como consolar? Consolar é esclarecer, não é convencer, porque ninguém convence ninguém em termos espirituais. O espírito precisa ser esclarecido, ter discernimento para que possa se direcionar por si mesmo, fazer melhor suas escolhas. Chico Xavier nos deixou um grande exemplo. Recebeu e distribuiu sua obra magnífica que corre o mundo, quase 500 livros, sem nunca ter se afastado do contato com o ser humano. Para ele, em primeiro lugar, estavam as necessidades humanas. A maior divulgação do espiritismo se faz no olho no olho, esse é o Consolador Prometido. Todo mundo quer falar, mas poucos se propõem a escutar. As pessoas ainda buscam na casa espírita o fenômeno. Querem mensagem,

Diante de tantas dificuldades sociais, econômicas e políticas que o mundo enfrenta, qual o maior desafio e o principal papel do espiritismo hoje? Maria Lícia Fontes, Alfenas, MG

querem falar com os espíritos, mas aos poucos vão tomando conhecimento que o espiritismo é muito mais que isso, é um trabalho que exige esforço pessoal.

Seguindo esse processo é que vão aprendendo a não entrar em depressão, a não pensar no suicídio. Vão, enfim, se responsabilizando por si mesmas. Por isso

é na casa espírita que o trabalhador deve estar preparado para oferecer o livro bom, o passe amigo, o abraço fraterno. Precisamos preparar jovens com essa maturidade para poderem enfrentar com segurança esse desafio do mundo atual, pois a maioria dos palestrantes tem mais idade, e os jovens querem uma linguagem rápida, porque têm raciocínio rápido e acesso imediato à informação para respostas também rápidas que, no entanto, nem sempre acalmam seu coração. Há que se falar sobre suas dificuldades, tão necessitados que estão de orientação sobre o amor, o perdão, a humildade, a esperança, a fé. Fala-se no movimento espírita em se voltar às bases. Estuda-se Kardec. Tem casas que têm cursos de seis anos, são quase uma universidade. Mas é preciso despertar a capacidade de discernimento junto do estudo, desenvolver-se realmente a fé raciocinada. Há um desafio enorme a ser enfrentado também nos meios de comunicação. O mundo ficou pequeno, o acesso à informação é muito fácil, a maneira de escrever mudou, a maneira de falar mudou, a maneira de agir mudou. Acordemos. É preciso saber pensar. Ensinar a discernir é consolar. Nena Galves é dirigente do Centro Espírita União, em São Paulo.


DIRETO AO PONTO

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Unidos no NATAL Por UMBERTO FABBRI

E

ste sem dúvida será um Natal atípico e inesquecível por conta da pandemia que nos visita desde fevereiro deste ano e não temos certeza de quando poderemos retornar a nos relacionarmos com segurança. Aliás, este está sendo um período em que as certezas, pelo menos quanto a este vírus, não existem. Esta crise que assola o mundo e modificou a vida de todos nos mais diversos setores nos trará uma realidade diferente para este Natal. Nos aconselham os especialistas a mantermos o isolamento, o uso de máscara, de álcool gel e principalmente o uso do bom senso, e este último item é o que nos leva a refletir sobre o primeiro: o isolamento. Renunciar a estar ao lado de quem amamos em nome da sua segurança não é uma decisão fácil de ser implementada, uma vez que nossos hábitos e sentimentos nos induzem ao contrário, a estarmos reunidos em torno de amigos e familiares. Nossa inteligência nos diferencia dos outros seres da Criação. Ao adentrarmos ao reino hominal, já conquistamos a capacidade de amar, criar, passando a ter consciência de nós mesmos e de Deus. Não é à toa que somos os cocriadores do Universo e, graças a esta capacidade, temos plenas condições de buscarmos saídas para os problemas que se apresentam, de modo a superá-los. O que pudemos observar de forma contundente nesta pandemia foi o desenvolvimento de novas formas para não deixarmos de nos comunicar, de nos relacionarmos, mesmo que de modo diferente do qual estávamos acostumados. A tecnologia nos permitiu continuarmos a participar da sociedade, da família, a trabalharmos, aprendermos e até a estarmos mais perto de quem amamos, não como gostaríamos, mas da forma possível e segura. Neste Natal precisamos aprender a diferença entre estarmos reunidos e unidos. A reunião é física, a união é espiritual. É evidente que os abraços, beijos, refeições e estar presente fisicamente nos fazem falta, mas cuidar da saúde de quem

Neste Natal, precisamos aprender a diferença entre estarmos reunidos e unidos” amamos é essencial neste momento. Precisamos entender que nem a distância provocada pela morte física nos separa de quem amamos, uma vez que nos unimos pelo pensamento. Os ensinamentos da doutrina espírita nos prepararam para este momento em que somos provados em nossa fé, resiliência, empatia, capacidade de renúncia, de amor. A questão 893 de O livro dos espíritos nos diz que a mais meritória de todas as virtudes é a do sacrifício, do interesse pessoal para o bem do próximo, sem segundas intenções e é necessário combater a causa deste interesse pessoal que se chama egoísmo, que segundo nossos irmãos espirituais é a maior chaga da Humanidade. E como é verdadeira esta afirmação! Neste momento tão delicado, o egoísmo tem se apresentado de diferentes formas, mas no fundo é o interesse pessoal falando mais alto. Todavia vemos também

grandes exemplos de sacrifício, de renúncia, de profundo desinteresse pessoal dos que agem pelo bem coletivo e podemos escolher qual postura iremos abraçar, sempre nos lembrando que junto do livre-arbítrio está a colheita do que semeamos. E como nada acontece sem a permissão de Deus, há sem sombra de dúvida, nesta experiência pandêmica um aprendizado,

uma utilidade, mesmo sendo tão indesejada e destrutiva. Em O livro dos espíritos, encontramos na questão 728, a explicação de que, por vezes, a destruição é necessária para que tudo possa renascer e se regenerar e que aquilo que chamamos de destruição não é senão uma transformação, e vai diminuindo na medida em que o homem supera a matéria. Em contrapartida, nestes estados de crises, o lado intelectual e moral tende a crescer, uma vez que precisamos nos adaptar, refletindo sobre nossos valores e objetivos. Os flagelos possibilitam à humanidade ocasião de exercitar a inteligência, a paciência e sua resignação, frente a vontade de Deus, que surgem não como castigo, mas sim como novas oportunidades. Não deixemos que este minuto de nossa existência possa obscurecer a alegria da união que pode ser fortalecida nos momentos de crise, uma vez que estarmos unidos é muito mais importante do que estarmos reunidos. Ao comemorarmos o nascimento de Jesus, lembremos de seus ensinamentos de amor e para homenageá-lo verdadeiramente nos unamos em torno do bem. Desejamos a todos um Natal e um novo ano repleto de amor e união!!! Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.

Contabilidade – Abertura e encerramento de empresa – Certidões

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MÍDIA DO BEM

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Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Jovem assintomático para Covid-19 se interna para ficar com o tio

Troca de alimentos não perecíveis por mudas de hortaliças

Piloto interrompe decolagem para buscar senhora que perdeu o voo e iria visitar mãe na UTI

Paolo testou positivo para a Covid-19 e, devido problemas que teve há alguns anos no pulmão, o seu quadro se agravou muito para a doença. Matteo, seu sobrinho, também testou positivo para a Covid-19, mas foi totalmente assintomático. Quando soube que o tio estava no hospital e em estado grave, Matteo optou por se internar, somente para ficar junto de Paolo, que tem Síndrome de Down. “Eu não poderia deixá-lo sozinho”, disse Matteo

Na Zona Sul do Rio, o floricultor Fernando Antônio de Jesus, 58 anos, tem motivos de sobra para justificar o projeto de solidariedade. Aos 12 anos ele foi morar em um orfanato e desde então, dá muito valor a doações. A iniciativa também conquistou moradores da região de Botafogo. Uma vez por mês, eles vão até a floricultura para ajudar nas doações, que vão para seis instituições diferentes. O floricultor compra cerca de 200 mudas por semana para trocar por alimentos não perecíveis. No final do mês, cerca de 800 quilos de comida podem chegar a quem não tem alimento.

No dia 23 de outubro, em Minas Gerais, um avião que estava saindo de Governador Valadares com destino a Confins já estava na pista se encaminhando para decolar quando o piloto Julio Grizze e o copiloto André Christofoli decidiram interromper o processo. Prontos para levantar voo, a estação de rádio chamou os pilotos para saber se poderiam retornar com a aeronave para pegar uma senhora que chorava muito, pois estava com sua mãe na UTI e precisava chegar a Confins para cuidar dela. Mesmo sabendo dos possíveis transtornos que isso poderia causar ao restante da tripulação, o comandante não hesitou. Anunciou pelo sistema de rádio que a aeronave estava voltando para ajudar uma pessoa com um caso grave de doença na família e assim que terminou sua fala, ouviu uma chuva de aplausos.

Fonte: Razões para acreditar

Fonte: Band News FM

Fonte: Revista Glamour


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