Correio Fraterno 497

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CORREIO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA

ISSN 2176-2104

FRATERNO

ENTREVISTA

Ano 53 • Nº 497 • Janeiro - Fevereiro 2021

A essência do espiritismo Pós-doutorado em filosofia pela Universidade de Oxford, Humberto Schubert está à frente do Grupo de Estudo Filosófico Espírita, com a participação virtual de espíritas de diversos países. Ele fala nesta edição sobre a grande contribuição da filosofia para o correto entendimento da doutrina. Páginas 4 e 5.

A estranha missão de

Eliazar

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ara comemorar os 160 anos de publicação de O livro dos médiuns, o Especial desta edição traz um exemplo dessa incrível e ao mesmo tempo tão natural experiência chamada mediunidade. O texto foi psicografado pela médium Dolores Bacelar setenta anos atrás. Discreta em sua tarefa mediúnica, assim como os espíritos que através dela se comunicavam, Dolores nos apresenta um conteúdo literário e histórico de inestimável valor e mostra o quanto o intercâmbio, entre encarnados e desencarnados, se faz ainda mais presente em momentos impactantes para o progresso espiritual da humanidade. E revela que mesmo quando tudo parece estar perdido, há sempre um chamado para o amor e a paz. Páginas 8 e 9.

A casa que vivia apedrejada Volta e meia, torrões de terra cortavam o ar e iam estilhaçar as vidraças do casarão da avenida Cesário Alvim, em cidade de Minas Gerais. Quadros, enfeites atingiam o chão, virando cacos sem utilidades. Até que um fato novo aconteceu e fez mudar a vida de encarnados e desencarnado. Leia na página 10.

A suposta autoria de mensagens mediúnicas

A fantástica história do rei assírio que fala 3 mil anos depois sobre enganos e arrependimentos. Dolores Bacelar pelo espírito

Josepho

Tantas mensagens nas redes sociais, como saber se é mesmo o espírito que assina que a enviou? Página 14.

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EDITORIAL

CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2021

A serviço da

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nossa, mas não podemos esquecer que o amparo espiritual também é grande, sempre respeitando a lei divina que tem o livre-arbítrio como condição irretocável. Para se compreender melhor os postulados básicos da doutrina espírita está aí a filosofia, que nos ensina a buscar as respostas, as causas primeiras de tudo o que existe. Um pouco do que ela oferece pode ser conferido na entrevista de Humberto Schubert Coelho, que está imperdível. Para completar a reflexão, ainda tem nesta edição a análise doutrinária de Marco Milani sobre o momento atual. Também, Sonia Hoffman, Umberto Fabbri e Jáder Sampaio assinam artigos sobre temas que empolgam, como o mutismo, a pandemia e a mediunidade de Gabriel Delanne. Uma edição, enfim, realmente de peso. Boa leitura!

humanidade

o lançar O livro dos médiuns, em janeiro de 1861 em Paris, Allan Kardec alertava logo na introdução da obra que as dificuldades e os enganos encontrados na prática do espiritismo tinham sua origem na ignorância dos princípios dessa ciência. “Esta obra é destinada a facilitar o caminho (...) e indicar os meios para desenvolver a faculdade mediúnica conforme as condições de cada um, e sobretudo dirigir seu emprego de uma maneira útil, quando a faculdade existir”, assinala Kardec, lembrando ainda a necessidade de um guia seguro para a humanidade, não somente para observar as manifestações espíritas como também para conhecer os obstáculos que podiam ser encontrados.

Ao ver O livro dos médiuns completar 160 anos, ainda constatamos o quanto esse verdadeiro tratado da parte fenomênica do espiritismo está a ser conhecido, pesquisado e enaltecido pelo estudo e prática. Esta edição traz um exemplo dessa incrível e ao mesmo tempo natural experiência chamada de mediunidade. As páginas centrais trazem um texto psicografado pela médium Dolores Bacelar, nos anos 1950 com conteúdo literário e histórico de inestimável valor e mostra o quanto o intercâmbio entre encarnados e desencarnados se faz ainda mais presente em momentos decisivos do progresso espiritual da humanidade. Sabemos estar a Terra a caminho da regeneração. A travessia é responsabilidade

Equipe Correio Fraterno

Unidos pelo Natal Este Natal foi diferente, porque a convivência e aproximação, familiares, não são recomendáveis pelas ciências... Não obstante, em casa e com os familiares distantes, unimos nossas orações e votos de paz mundial. Jesus conceda a todos energias positivas, a nortearem as atividades doutrinárias, sempre de par com a

fraternidade. Abraços (virtuais), Eurípedes Kuhl, por email. Saúde a quem não pode Maravilhoso! As mãos em ação, como Cristo espera. Parabéns! (“Médicos do bem. Uma rede solidária que deu certo”, edição 494) Neilo Marden Cabral Marden, por email.

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site correio.news

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118

Presidente: Tania Teles da Mota Vice-presidente: João Sgrignoli Júnior Secretário: Ana Maria Coimbra Tesoureiro: Adão Ribeiro da Cruz Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP

JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Impressão: LTJ Editora Gráfica Telefone: (011) 4109-2939 Whatsapp: (011) 95029-2684

Uma ética para a imprensa Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos.

FALE COM O CORREIO Acessibilidade nas casas espíritas Adorei a entrevista sobre inclusão social [“Ser espírita é ser inclusivo”, edição 496]. Acho que nós, os ditos “saudáveis” aumentamos as dificuldades dos ditos “deficientes”! Mas com mais conscientização, quem sabe não melhoramos! Abraços! Isis Elaine Avelar, Uberlândia, MG.

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• Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


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ACONTECE

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A arte ao acesso de todos Da REDAÇÃO

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esde 2017 crianças e jovens da cidade de Araguari, MG, que dificilmente teriam acesso à formação musical através de instrumento para orquestra, passaram a contar com essa possibilidade de desenvolvimento através do PIC - Programa de Iniciação Cultural, um dos projetos sociais do Centro Espírita Caridade, uma das casas espíritas mais antigas da região do Triângulo Mineiro, com quase 100 anos. Há um ano, o programa passou a ter como parceiro cultural a Sementear – Cultura, Arte e Educação, associação sem fins lucrativos, criada por um grupo de voluntários. O programa tem como foco iniciar na arte da música crianças de 9 a 11 anos através do violoncelo, instrumento escolhido pela sua versatilidade sonora, pelo alto grau de complexidade e pela empatia com o público: para aprender o aluno precisa estar realmente engajado, ter disciplina e perseverança. “A grande possibilidade de projetos sociais como esse é propiciar o desenvolvimento das potencialidades não só intelectuais do jovem, mas oferecer condições

para que ele alcance crescimento psicológico, afetivo e espiritual” avalia Públio Carísio de Paula, idealizador do PIC e da Sementear e vice-presidente do Centro Espírita Caridade. A base da formação é na música erudita, mas o repertório tem variações desde o pop internacional até manifestações populares. “É gratificante, depois de quase quatro anos, ver nossas primeiras crianças, que chegaram do universo do funk, tocando Beethoven, Mozart, Schumann” – explica o idealizador. Empenhados, nem a pandemia fez o grupo parar os estudos. Uma campanha de arrecadação de celulares usados garantiu a continuidade das aulas remotas e no final do ano passado os alunos puderam realizar a live Concerto Estudantil em homenagem aos 250 anos de Beethoven. O grupo de alunos compõe a orquestra mirim de violoncelos, a Araguari Cellos, juntamente com os professores. Uma nova campanha para a ampliação do número de alunos está sendo realizada

este ano. A meta é conseguir se instituir uma escola de artes. O projeto, lembra Públio, é mantido por campanhas, doações de iniciativas

privadas, empresas parceiras, por amigos e simpatizantes. Saiba mais: www.sementear.com.br

São Paulo realiza pesquisa sobre ciência entre os espíritas

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União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USESP) está realizando uma pesquisa de opinião sobre ciência, ciência espírita e as relações entre ciência e espiritismo. O objetivo é coletar informações sobre as concepções dos espíritas a respeito de vários temas ligados à compreensão sobre a ciência e sobre o aspecto científico do espiritismo, a fim de que a Assessoria de Ciência e Pesquisa Espírita da USE possa preparar futuramente material de estudo, cursos e divulgação. O questionário está dividido em quatro blocos, que abordam desde a confirmação do interesse dos espíritas pelos temas científicos ligados à doutrina e nível de conhecimento sobre o que é ciência até os benefícios que ela traz para a sociedade e seu papel no avanço do conhecimento da humanidade. Para participar basta acessar e preencher o formulário através do link https://forms.gle/hAJZrpaEUKyVVuH17. Não é necessário se identificar.


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ENTREVISTA

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Filosofia Espírita Uma luz no processo histórico do conhecimento Por ELIANA HADDAD Como vê o espiritismo atualmente? Acredita que seja a vez do seu aspecto filosófico? Humberto Schubert Coelho: Precisamos ter cuidado com as ondas frequentes de pessimismo e de entusiasmo idólatra. Ambas ocorrem em qualquer movimento de ideias, mas como o espiritismo carece de uma barreira institucional, por não ser igreja ou seguir decretos e estatutos fixos, somos mais acometidos por modismos. O fato de não sermos um corpo institucional dogmático e autoritário é uma de nossas maiores vantagens, mas é natural que essa estrutura também crie dificuldades. Vejo o espiritismo envolvido na típica crise propiciada pela proliferação de agentes, vozes, plataformas e segmentos. A maioria dessas vozes dissonantes brota do puro personalismo e da fascinação com novidades. Mas também há crescimento, enriquecimento, diversificação e maturação do movimento espírita nesse processo. Entre outras transformações positivas, parece haver uma tendência ao resgate da natureza filosófica do espiritismo. Os adeptos e praticantes do espiritismo têm se mostrado mais abertos à filosofia, e também a um embate com os clássicos, fora da visão catequética de uma “formação espírita pura”, a partir exclusivamente da literatura espírita. Você se especializou na academia em filosofia da religião. Como a filosofia pode auxiliar na compreensão do espiritismo? Optei por estudar filosofia da religião pela análise racional dos elementos da vida religiosa e pela necessidade de compreender a fusão entre filosofia e religiosidade operada pelo espiritismo. Hoje, encontro-me satisfeito com essa escolha de percurso formativo, pois avalio que ela me ajudou nessas que eram grandes demandas do meu espírito. A primeira contribuição concreta da filosofia para o espiritismo é a possibilidade de aclaramento conceitual, particularmente

A filosofia contribui para o melhor entendimento da ética, da metafísica e da própria religião no mundo contemporâneo

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raduado em filosofia, com especialização em Filosofia da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, Humberto Schubert Coelho concluiu em agosto de 2020 seu pós-doutorado em filosofia no Centro para Ciências e Religião Ian Ramsey da Universidade de Oxford, Reino Unido, sobre os temas Deus, espírito e liberdade. Nascido em berço espírita (ele é neto da escritora Suely Caldas Schubert), Humberto é palestrante internacional, autor espírita com artigos, ensaios e livros espíritas, sobretudo com enfoque filosófico e histórico. Também está à frente do Grupo de Estudo Filosófico Espírita, que se reúne virtualmente todas as semanas, arregimentando espíritas de vários países, atualmente estudando sob sua batuta a obra de Léon Denis. Acompanhe-o na entrevista. necessário em uma doutrina que está suspensa a meio do caminho entre filosofia, ciência e religião, cuja falta vem causando, desde o seu surgimento, problemas facilmente solúveis, pelo correto emprego das palavras e o discernimento entre temáticas, tipos de discurso e perspectivas. Também, a filosofia contribui fortemente para o melhor entendimento da ética, da metafísica e da própria religião no seio do mundo contemporâneo. Grande parte dos espíritas mais instruídos são levados a um estado de confusão a respeito desse “lugar” de Deus, da alma e da moralidade, em face de teorias que as reduzem a funções culturais, psicológicas ou sociais.

O que é, afinal, a filosofia espírita? A filosofia espírita e o espiritismo são a mesma coisa. Diante da emergência dos fenômenos espetaculares que marcaram um renascimento espiritualista no século 19, o espiritismo foi a resposta propriamente filosófica de que careceram inúmeros outros pesquisadores que, apesar de sua indiscutível competência e valor, não extraíram dos fenômenos conclusões morais, deixando-se paralisar diante do pórtico do esclarecimento, talvez por medo das consequências negativas que certamente teriam de enfrentar. Aceitando com abnegação cristã a destruição de sua carreira, seu nome, sua vida profissional e sustento, Allan Kardec cru-

zou o pórtico, e retornou com lições profundamente consoladoras, que não haviam sido oferecidas pelos seus contemporâneos dedicados à pesquisa psíquica e ao espiritualismo. Sem idealizações idólatras, que suponham ser Kardec autoridade infalível e incapaz de errar, a razão deve ceder a ele o laurel de organizador da filosofia espiritualista, para a qual ele cunhou o nome de espiritismo. Distinta das demais escolas filosóficas por condição e natureza bem peculiares, o espiritismo não é facilmente reconhecível pela sociedade como projeto filosófico que é, uma vez que assenta sobre o estudo de fenômenos ainda radicalmente negados pela comunidade científica. Este o principal motivo pelo qual desenvolveu-se, enquanto movimento e até certo ponto enquanto doutrina, como religião e não como escola filosófica. Você reúne um grupo online de espíritas espalhados pelo mundo todo para estudos filosóficos espíritas. Como surgiu esse projeto, como pode ser acessado? O projeto foi idealizado pelo amigo Fabrício Assunção, fundador da Sociedade Espírita de Bournemouth, na Inglaterra, após um evento que organizamos naquela cidade, focando o aspecto filosófico do espiritismo. Muitos outros membros do movimento espírita na Europa já me haviam relatado que o discurso evangelista é fortemente repudiado naquelas culturas, e que o espiritismo encontra ouvidos mais receptivos quando é apresentado como visão moderna, liberal, científica e filosófica. Rapidamente, contudo, residentes no Brasil, com os quais comentamos sobre a iniciativa, também se interessaram pela proposta. O grupo ainda está em gestação, mas já cresceu para além da Europa, com participantes inclusive da África. Os vídeos estão hospedados nos canais de Youtube de nossas respectivas sociedades espíritas:


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Spiritist Society Bournemouth e Sociedade Espírita Primavera, à qual pertenço, em Juiz de Fora. Você acredita que a formação de grupos virtuais para estudos espíritas seja uma tendência que veio para ficar? Já acreditava no potencial e importância de tais tecnologias desde que surgiram, mas a atual pandemia consolidou e provou que são muito benéficas e ilimitadas. Embora os encontros presenciais sejam fundamentais, e melhores sob muitos aspectos, a liberdade e a radical equalização das oportunidades marcam o encontro virtual como meio de divulgação por excelência. Trata-se de avanço que evidencia a verdadeira primazia do intelecto, do espírito sobre a matéria, pois podemos nos comunicar, compartilhar vivências e estabelecer profundas sintonias estando a milhares de quilômetros uns dos outros.

ENTREVISTA da aplicação da filosofia espírita à arte, ele realmente expandiu o escopo do próprio espiritismo. Espírita por excelência, Denis refletiu a essência da proposta de Kardec e dos espíritos da Codificação porque soube absorvê-la e pensar de acordo com ela, em vez de a repetir apenas na letra. Qual sua opinião sobre o espiritismo como proposta de autoconhecimento? Quando não encarado como seita religiosa, e sim como ferramenta civilizatória acrescentada a um conjunto de outras, o espiritismo contribui extraordinariamente para o autoconhecimento, exatamente em razão das peculiaridades de sua natureza, que incentivam o seu praticante a intensificar ao mesmo tempo a fé e a crítica, a empatia e o bom senso, a disposição caritativa e o entendimento filosófico da perfeita justiça de Deus. Como o movimento espírita pode

Precisamos pensar na valorização do aspecto filosófico da cultura espírita” Atualmente, você está analisando com o grupo a obra O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis? Ele pode ser considerado mesmo um filósofo? Os estudos e publicações sobre Léon Denis, como sobre outros pensadores espíritas, são ainda lamentavelmente incipientes e aquém do que mereceriam. Na falta total de condições materiais e educacionais, Denis foi capaz de elaborar uma obra monumental e de erudição assombrosa. E ele pode, sim, ser considerado um filósofo. Denis pôde integrar o espiritismo ao todo do saber humano porque pensava como filósofo, filosofava, e não recebeu os textos de Kardec como catequese ou manifestos para serem repetidos mecanicamente. Pensou como espírita, e por isso foi de fato espírita. A obra de Denis oferece uma contribuição grandiosa ao pensamento espírita. Em alguns aspectos ele reforçou ou contextualizou o pensamento kardequiano em face das novas realidades de sua geração. Em outros, como no caso da estética e

aprofundar esse conhecimento sobre o aspecto filosófico da doutrina? Há muitas décadas esse aspecto basilar da doutrina espírita não tem sido suficientemente enfatizado pelos esforços de divulgação. Acredito que os divulgadores de até meados do século 20 sabiam compreendê-lo melhor. Isso ocorre porque o nível cultural do adepto e do trabalhador espírita hoje está aquém da complexidade e profundidade da proposta. O excesso de romances de fraco propósito, livros de mensagens mais subconscientes do que psicográficas, ao lado de obras outras de baixíssimo nível intelectual e moral exerceram um papel. A construção cultural do palestrante como figura encantadora, cativante e capaz de entreter, sem necessariamente esclarecer e instigar ao despertamento, também exerceu indubitavelmente papel deletério. O remédio, contudo, está à nossa disposição. Basta comparar a literatura espírita dos primeiros oitenta ou cem anos com a mais recente para percebermos que, na média,

algo de errado aconteceu. Em sua natureza, a filosofia espírita é filosofia enquanto tal, evoca nas consciências a urgência da meditação filosófica sobre as mais graves questões humanas, provoca o autoexame, e não se pode dissimular essa natureza para aqueles que conhecem os clássicos e buscam leituras comparativas, como recomendaram e fizeram Kardec e Denis, por exemplo. Em seu livro Genealogia do espírito (Feb) você afirma que o exercício da intuição seria um grande passo para a mudança da mentalidade atual que tudo divide em extremos. A intuição seria o caminho do meio. Como desenvolvê-la? Para fugir dos clichês e vocabulário místico que também têm sido prejudiciais, poderíamos identificar a intuição com a lucidez do espírito maduro. Não se trata, portanto, de técnica esotérica, como alguns procuram desenvolver com grande esforço e pouco resultado, nem ocorrência espetaculosa, e sim um “senso” da verdade, do bem e do belo que brota naturalmente na alma dos que conheceram a verdade, o bem e o belo. Esta lucidez do espírito, portanto, desenvolve-se inevitavelmente como somatório dos progressos intelecto-morais do espírito, mas, por isso mesmo, será aquisição lenta e gradual. Como você analisa o desenvolvimento da mediunidade nos dias atuais e como a enxerga no futuro? Eu a enxergo muito na esteira da resposta anterior. Para desmistificarmos a mediunidade e integrarmos ao conhecimento espírita o que vem sendo desenvolvido pelas neurociências, pela psicologia e, principalmente, pelas atuais pesquisas em espiritualidade, precisamos nos abrir para novas possibilidades de interpretação de nuanças ainda não percebidas ou pouco exploradas desse que não é um fenômeno, mas todo um campo fenomênico. Nossos maiores especialistas em mediunidade reconhecem que, se temos o roteiro prático e a experiência, a ciência profunda do mediunismo e do psiquismo em geral é realização futura ainda distante. Suas considerações finais Precisamos pensar na valorização do aspecto filosófico da cultura espírita. Essa nova luz se caracterizará, certamente, como uma onda de estudos, textos e reflexões sobre o que o espiritismo realmente é, o que representa e como pode e deve ser praticado.

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LIVROS & CIA. Editora Paideia Telefone: 11 5549-3053 www.editorapaideia.com.br Introdução à filosofia espírita de J. Herculano Pires 130 páginas 11x15 cm

Editora Fráter Telefone: 21 2717-8235 www.editorafrater.com.br Somos pequenos deuses na Terra de Camille Flammarion, Gabriel Delanne e Léon Denis organizado por Thiago Barbosa da Silva 388 páginas 16x23 cm

Correio Fraterno Telefone: 17 3524-9800 www.correiofraterno.com.br/livros Amor e resgate de Jean Lucca (espírito) psicografado por Janaína Farias 320 páginas 16x23 cm

Mundo Cristão Telefone: 11 2127-4147 www.mundocristao.com.br As 5 linguagens do amor de Gary Chapman 216 páginas 13,7x20,5 cm


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VOCÊ SABIA?

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Casos de aparições que podem ser tocadas Por IZABEL VITUSSO

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mbora sejam mais difíceis de ser investigadas, as aparições tangíveis fazem parte de um fenômeno natural, cujo princípio é o mesmo de todas as manifestações espirituais: acontecem graças às propriedades do perispírito, que pode sofrer diversas modificações, de acordo com a vontade do espírito. Não se trata de materialização através de médium, mas de um processo direto em que o espírito adensa a constituição periférica de seu corpo, tornando visível e tangível a forma exata do corpo físico. Ao falar sobre o assunto, Herculano Pires cita pelo menos dois casos em seu livro Relação espírito-corpo (Paideia), enfatizando que nesse fenômeno, o espírito aparece a amigos e familiares, conversa naturalmente com eles, despede-se abraçando-os e se comporta como se estivesse vivo. Ele conta o caso ocorrido em São Paulo com o conhecido jornalista Oswaldo Mariano, que não sabia da

morte de seu colega Frederico Poggi, e o encontrou, na porta do Palácio Mauá, abraçou-o, bateu-lhe nas costas, indicou-lhe médico, uma vez que ele queixava-se de estar

doente, e dias depois ficou sabendo de sua morte em data anterior ao encontro. Caso semelhante aconteceu na redação da Folha de São Paulo, às vésperas de uma edição de finados, onde uma poetisa entrou, pedindo à jornalista a publicação de um soneto. Atendida, com a promessa de publicação, a visitante se despediu e desapareceu. Dias depois apareceram na redação duas irmãs da autora, perguntando como surgira aquele soneto. Ante a resposta de que fora a poetisa que o levara para a edição de finados, disseram da impossibilidade, uma vez que a irmã havia falecido dois anos antes. O fato é que todos a viram na redação e testemunharam o seu aparecimento. As aparições tangíveis de Jesus depois da morte incluem-se nessa linha de fenômenos. Ele apareceu no Cenáculo, na Estrada de Emaús, acompanhando dois de seus apóstolos.


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BAÚ DE MEMÓRIAS

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

As bases científicas do espiritismo por

Delanne Por JÁDER SAMPAIO

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década de 1870 pode ser considerada como o grande período de transição do espiritismo na França. Allan Kardec, o mestre, havia desencarnado ainda relativamente jovem. Com sua liderança, um número substantivo de livros havia sido escrito, uma revista circulava regularmente, distribuída na França e no exterior e diversos grupos haviam sido fundados em diversos lugares, a partir das orientações oriundas do trabalho da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. A sede estava em mudança, um livro sobre magnetismo e espiritismo estava sendo escrito e a Sociedade estava fundando sua própria livraria. Uma vez desencarnado, diversos problemas começaram a surgir, como a realização de seu inventário, a dificuldade na escolha de lideranças sucessórias, a guerra franco-prussiana (1870-1871), a comuna de Paris e a “semana sangrenta”, na qual 20 mil pessoas foram mortas. A Revista Espírita, que tinha 1.100 assinantes1 passou a ser um luxo para muitos espíritas, afetados pelas convulsões da sociedade francesa. Nesta mesma década, o presidente da Sociedade Continuadora das Obras de Allan Kardec seria preso em 1875 e depois solto após a anulação da sentença, no episódio que ficou conhecido como o “processo dos espíritas”. Não bastassem esses incidentes, Leymarie e os dirigentes da Revue Spirite pareceram entender como avanços dois grandes movimentos espiritualistas que tinham pontos de conflito com o pensamento kardequiano: o roustanismo e a teosofia. Duas grandes lideranças, discípulos “à distância” de Allan Kardec, vão surgir e se consolidar nos anos 1880: Léon Denis e Gabriel Delanne. Delanne, talvez fosse o mais próximo do mestre. Filho de Alexandre Delanne e Marie Alexandrine Didelot, que optaram pelo espiritismo após lerem O livro dos espíritos, eles se tornaram próximos de Allan Kardec, ao ponto de Alexandre ter tentado reanimá-lo com fricções

Gabriel Delanne trabalhou intensamente para mostrar a proximidade das verdades espirituais com a ciência na época. Foi presidente da União Espírita Francesa, da Sociedade dos Estudos dos Fenômenos Psíquicos e fundador da Revista Científica e Moral do Espiritismo

Livros publicados por Gabriel Delanne

e magnetizações no dia da sua desencarnação. Delanne nasceu em 1857 e estudou até 1877, quando cursava a Escola Central de Artes e Manufaturas, em decorrência da situação financeira dos pais. Conseguiu trabalho na Companhia de Ar Comprimido e Eletricidade Popp, como engenheiro, onde exerceu sua profissão por cinco anos. Depois trabalhou ainda como representante comercial até 1896. Em 1880, aos 23 anos, foi convidado a fazer o discurso no túmulo de Allan Kardec, no cemitério Père Lachaise, em Paris. Ele assim afirma, como o jovem Flammarion, doze anos antes:

O espiritismo perante a ciência (1885) O fenômeno espírita (1896) A evolução anímica (1897) Pesquisas sobre a mediunidade (1898) A alma é imortal (1899) As aparições materializadas dos vivos e dos mortos (1909-1911) A reencarnação (1927) A ideoplastia e o poder do pensamento (Delanne fez o plano da obra, mas desencarnou)4 “Até aqui, só temos analisado o lado moral de sua doutrina, porém, seu estudo mais aprofundado nos mostra que, seguindo seus ensinamentos, pode-se chegar às mais belas descobertas científicas.”2

Aos poucos, Delanne vai delineando sua participação no movimento espírita, a partir da razão e da ciência. Além de escritor, ele incentivou professores e pesquisadores, como Charles Richet (prêmio Nobel), a realizar estudos de observação e experimentais com médiuns e chegou a apresentar trabalho no 4º Congresso Internacional de Psicologia, em 1900, na

capital da França, mas os trabalhos de espíritas e espiritualistas não foram bem recebidos, sendo vistos como não científicos. Outro problema que Delanne enfrentou foi a grande produção de trabalhos sobre mediunidade e outros fenômenos espirituais a partir de estudos de pacientes internados, o que gerou uma associação entre psicopatologia e mediunidade3. Em seus livros, Gabriel Delanne debateu com os pesquisadores da época sempre em busca de clarear as evidências sobre a mediunidade e a insuficiência das explicações de cunho patológico ou puramente psicológico para os fenômenos espirituais. Ele também fez hipóteses com base no pensamento kardequiano e nas descobertas científicas de sua época, explicando o que havia observado e experimentado. Os pais de Delanne desencarnaram na década de 1890, e ele adotou a pequena Suzanne Rabotin, que foi sua filha do coração e o acompanhou até a desencarnação. Delanne desencarnou em 1926, e foi homenageado por Léon Chevreuil em um artigo da Revista Científica e Moral do Espiritismo: “... Gabriel Delanne caminhou sempre em frente, apoiado por uma profunda convicção e um amor sincero pela verdade. Apesar dos obstáculos, das desilusões e dos infortúnios com que a vida o afligia, a sua atividade nunca se abrandou, a sua constância e a sua coragem igualaram a todos os seus infortúnios.” 1 Calsone, Adriano. Madame Kardec. Atibaia-SP: Vivaluz, 2016. p. 107. 2 Bodier, Paul; Regnault, Henri. Gabriel Delanne: sua vida, seu apostolado, sua obra. (2 ed.) Rio de Janeiro, CELD, 1990. p. 18-19. [Tradução de José Jorge]

Lachapelle, Sophie. Pathologies of the supernatural. In: Investigating the supernatural: from spiritism & occultism to psychical research & metapsychics in France, 1853-1931. Baltimore, Johns Hopkins, 2011. 3

4 Andry-Bourgeois. L’Oeuvre de Gabriel Delanne, Revue scientifique et morale du spiritisme. 1926, p. 68-74 Escritor e editor do blog Espiritismo Comentado.


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ESPECIAL

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A estranha missão de

ELIAZAR

ALFREDO (ESPÍRITO), POR DOLORES BACELAR

De uma sensibilidade marcante, este texto do espírito Alfredo, recebido pela médium Dolores Bacelar na década de 1950, fala das nossas dificuldades, como civilização, em nossa trajetória evolutiva. Ele nos acalenta quando descreve toda assistência e o acompanhamento dos espíritos superiores, diante de decisões sociais impactantes para a história humana. Mesmo quando parece que tudo está perdido, há sempre um chamado para o amor e a paz.

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esde que os homens, impelidos por orgulho e ambição, dispersaram-se pelo orbe, criando os usos e expressões mais estranhos, dificultando, assim, a confraternização além das fronteiras onde estavam situados, Eliazar – o protegido de Deus – fora encarregado de unificar os homens separados pela Babel das línguas. Batalha ele, em conjunto com outros espíritos em missões idênticas à sua, pelo armamento ético da humanidade. Mas passemos ao nosso relato...

Lembranças Recordo aqui aqueles nebulosos dias, quando vimos, com inquietação nos espíritos, que nuvens de discórdia cobriam os horizontes das nações terrestres prenunciando tempestade… O fantasma da guerra agigantara-se em meio às trevas da confusão reinante, assombrando-a... Do infinito, sentíamos nós, discípulos e mestres, a angústia que perturbava a humanidade encarnada, receosa de nova hecatombe quando mal se solevantava de uma guerra, fruto de sonhos loucos de imperialismo e ambição de certos espíritos que, esquecidos do inigualável sentimento que é o Amor – força geradora de paz e harmonia desde os lares até às pátrias – seguiam um só objetivo: manter equilibrado o fiel da balança de suas vidas, indiferentes a que seus atos modificassem o equilíbrio da paz planetária. Ângelo, um dos mentores dos planos evangelizados, que batalhava também na Terra pela implantação da paz neste orbe, com Eliazar, acompanhados por todos nós, seus discípulos, foram convocados para socorrer aqueles irmãos aflitos. A caminho do socorro Recebidas as instruções necessárias, seguimos para a cidade europeia onde se reuniam em congresso, naquela tarde, os líderes de quase todas as nações do planeta. Discutiam, em plenário, a razão de ser daquele con-

clave: a paz mundial. Soubemos, assim, que um dos inúmeros territórios africanos, protetorado de um país europeu, fora invadido por uma potência estrangeira, que faltara, deste modo, aos postulados do Direito Internacional, que consideravam invioláveis e sagradas as fronteiras de qualquer Estado. Aquele abuso de força e poder revoltara, aparentemente, os países civilizados, líderes dos destinos do globo. Unindo-se em sociedade, juraram solucionar o caso em questão e ali estavam ouvindo as partes em litígio, para depois, guiados pela justiça e solidariedade humanas, deliberarem o caminho a seguir. Enquanto os oradores discursavam em línguas estranhas à maioria dos presentes, as suas palavras iam sendo traduzidas à compreensão de todos; mas em virtude das inúmeras dificuldades a serem vencidas pelos intérpretes, as traduções para tão diversas línguas chegavam deturpadas aos ouvidos, criando assim situações embaraçosas, por vezes cômicas, outras trágicas. Interesses escusos e lei de sintonia Aproximei-me de Eliazar, que projetava sobre a assembleia fluidos magnéticos plenos de vibrações de paz e, respeitosamente, perguntei ao esclarecido espírito: – Por que as discussões destes homens são tumultuosas, se todos visam ao mesmo fim: a paz? – Por dois motivos fundamentalmente contrários à boa harmonia entre os homens. Primeiro: muitos destes irmãos estão dominados por um autointeresse. As suas palavras não condizem com os pensamentos íntimos. Por isso, estão imantados às influências espirituais mais negativas. – Mas, por que, então, as forças do Bem não lhes interceptam as ações? – inquiri. – Por que o Bem não vai de encontro a nenhuma lei divina. E isto seria ferir o livre-arbítrio das criaturas, violentá-las em seus sentimentos.

Ansioso de esclarecimento, continuei inquirindo: – Falastes de um motivo: do íntimo interesse que os domina. Mas qual o outro motivo essencial que lhes dificulta a fraterna compreensão? – A falta de uma língua comum a todos os povos. Uma língua internacional. – Não compreendo… – Logo compreendereis… Se os homens discutissem os assuntos de interesse geral em linguagem conhecida de todos, chegariam mais facilmente a um acordo, economizando tempo e trabalho. – Sim, tendes razão. Porém eles não possuem já uma língua internacional – o esperanto? – Já a possuem – respondeu Eliazar. – Mas não oficialmente aceita pelos povos… Há países até em que o estudo do esperanto é proibido por seus governos. – Por que, se essa língua conduz à paz? – Por isso mesmo. É que ainda há almas que somente sabem respirar numa atmosfera de terror e destruição. Luzes para os representantes das nações Aproximando-se ainda mais da assembleia, Eliazar pediu que nos concentrássemos em silêncio. Fitei Eliazar. Ele orava e o seu belo rosto resplandecia de paz interior.


ESPECIAL Aos poucos uma luz banhou todo o ambiente, iluminando-o… Hordas de espíritos abnegados circulavam em torno da assembleia, neutralizando as correntes negativas que tentavam envolver as mentes de todos os delegados em conferência. O próprio orador que discursava naquele momento foi perdendo a exaltação de que estava possuído. Suas palavras desceram a um diapasão mais harmônico e comedido. Foi dada a palavra, pela ordem, ao líder do país invasor.

– Coletivamente, sim. Depende de todos nós essa feliz plenitude... Depende de nossa capacidade de amar. Quando a humanidade vibrar em uníssono com as leis divinas, justo será, e lógico que o seu mundo se eleve à condição de céu, porque o mundo em que vivemos reflete as nossas ações e sentimentos. – Mas essa parte da humanidade terrestre que soube, individualmente, elevar-se acima das fraquezas de seus semelhantes, tem que ficar sujeita ao atraso espiritual da maioria que a compõe? – Não; cada uma dessas partes ascende aos planos a que faz jus. A árvore que vence o emaranhado da floresta e se eleva além dele, vê o céu. Assim o homem. Nada estaciona no universo! Atingido um plano evolutivo, o ser não se paralisa... Inicia nova escalada até chegar à última ascensão: Deus. – Nesta assembleia – ousei perguntar ainda, – sentimos que muitos destes homens desejam a guerra. Será justo que os poucos que aspiram à paz sofram as consequências de um conflito entre nações? – Todo sofrimento presente tem suas raízes no pretérito... Ninguém sofre inocente. Certamente as ações de agora destes irmãos e daqueles a quem representam, serão medidas e pesadas e servirão de contrapeso na balança da justiça divina, quando forem avaliados os seus méritos. Mas – exortou-nos Eliazar –, vibremos para que estes homens, nossos irmãos, que estão abusando do livre-arbítrio, não se deixem vencer por suas paixões… A escolha pela paz e não pelas paixões O resultado do pleito era de interesse geral. Aproximei-me de delegado em delegado. Sempre a mesma coisa. A maioria votava impelida por suas próprias vantagens; grande parte já trazia o seu voto de antemão

O seu discurso foi um repto à guerra. Defendeu uma tese sobre a necessidade de orientar os povos bárbaros, de guiá-los. Falaram mais alguns delegados e, depois, os trabalhos e debates daquela tarde foram encerrados. Nós velamos em prece até que a assembleia abriu as suas portas para nova reunião. Ia processar-se a votação… Ousadamente (a ousadia é própria dos ignorantes), perguntei a Eliazar: – Não percebo por que os homens não preferem seguir o bem em vez do mal. Por que assim acontece? – Porque não estão aptos ainda para o bem. Cada humanidade tem o mundo que merece; cada homem a vida correspondente aos seus sentimentos. O meio onde estamos situados reflete a nossa alma. Quando vemos um campo cultivado, sentimos que é habitado por homens operosos; se presa de ervas daninhas, que ali imperam a negligência e a inatividade… O homem laborioso é o Bem; o preguiçoso, o Mal. O mal não existiria se o homem não o criasse com as suas próprias mãos... Como, também, o bem só existe em função do homem. O mal desaparecerá, quando cessarem as causas e os efeitos por ele provocados... – Quer dizer que o homem terrestre ainda está longe de uma plena felicidade?

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determinado pelas imposições políticas de seus governos, e para estes a assembleia fora, mais uma vez, o cenário de uma representação destinada a consolidar posições sempre radicais; a minoria votava sem perceber bem o que fazia... Somente um pequeno número votou conscientemente em prol da paz. Logo soubemos o resultado do pleito: as nações, em maioria, votaram pró-neutralidade. Que a potência europeia defendesse o seu protetorado... As demais nações não se envolveriam no conflito, nem pró nem contra. A guerra continuaria esmagando a Terra com seu rude tacão!… Fitei em Eliazar meu olhar inquiridor… Com doçura nos disse ele: – O conflito vai ferir apenas uma pequena parte do globo. Mas, creiam: o mundo se aproxima da sonhada paz. Os caminhos que levarão o homem até a ela vêm sendo delineados pelos séculos afora... Citaremos três desses muitos caminhos que, se trilhados, conduzirão à paz, à felicidade, ao céu: Evangelho, espiritismo, esperanto. Fitei respeitosamente Eliazar. Quando atingiria o seu objetivo? Porém que importa uma fração de tempo aos missionários de Deus? Mil anos, na Terra, é um minuto na eternidade... O sol da paz fulgirá! Hoje?... Amanhã?... Que importa o tempo? Aos olhos de Deus não existe tempo nem espaço: tudo é Infinito. Estranha missão a de Eliazar. *Do livro A canção do destino, publicado pela Correio Fraterno em 1982, com contos de espíritos diversos, psicografados por Dolores Bacelar.

A dedicação de

Dolores Bacelar A médium Dolores Bacelar dedicou grande parte da vida em prol da doutrina espírita. Psicografou diversos títulos, auxiliou instituições de caridade. Médium psicógrafa, seguiu à risca a orientação que recebera de Alfredo, um dos espíritos responsáveis pela orientação da médium: que se mantivesse na discrição. Dolores permaneceu quase no anonimato. Nascida em 10 de novembro de 1914, era sobrinha de tio com fortes vínculos com a Igreja. Sua mediunidade começou a dar seus primeiros sinais na década de 1940. Assustar-se e gritar com pedestres nas vias públicas, por achar que estavam prestes a ser atropelados, era fato corriqueiro para a médium. Na verdade, eram os espíritos transitando. Quando ficou viúva, em 1988, Dolores estava com 74 anos; era já avó de oito netos, mas se sentia em forma para assumir mais trabalho. Há anos realizando atividades com crianças órfãs no Lar Amigo,

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ela ainda aceitou a presidência da Sociedade Espírita Seara dos Servos de Deus. Ao conhecer o trabalho do Lar da Criança Emmanuel, em São Bernardo do Campo, Dolores manifestou interesse imediato em ceder àquelas crianças os direitos autorais das obras psicografadas: A mansão Renoir, A canção do destino, Novos cânticos, A rosa imortal e À sombra do olmeiro, e a série Às margens do Eufrates da qual faziam parte O alvorecer da espiritualidade, Guardiães da verdade, Veladores da luz, O voo do pássaro azul (todos reunidos recentemente, em 2018, em um único volume intitulado Mesopotâmia, luz na noite do tempo) e o último, Jonathan, o pastor. Todos assinados por Espíritos com perfil semelhante ao da médium, que preferem se revelar pelas obras, e não pelo nome. Assinam simplesmente como: Um Jardineiro, Josepho ou Alfredo. (Redação)


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FOI ASSIM

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A casa apedrejada por espírito Por MIGUEL DOMINGOS DE OLIVEIRA

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a década de 1950 presenciei um fato interessante, acontecido em uma casa que até hoje existe, na avenida Cesário Alvim, em Uberlândia, MG, ao lado de um depósito de brita, pertencente a uma casa de material de construção. Sem que ninguém explicasse o porquê, a casa começava a ser alvejada por torrões de terra, que volta e meia estilhaçavam as vidraças. Os donos da casa, muito assustados com aquilo, chamaram o padre para expulsar o que eles acreditavam ser o demônio. Na sala da casa, o sacerdote ergueu um pequeno altar e com muita boa vontade iniciou suas orações. De repente, um torrão vindo de um dos cômodos interiores passou rente aos seus óculos. Assustado, o pároco viu o segundo torrão ser lançado em direção ao quadro de jogadores de futebol, afixado na parede atrás. Desesperado, o padre saiu a gritar que ali não ficava, que aquilo era coisa do demônio. Naquele mesmo dia, nosso vizinho foi até em casa narrar o fato e revelou que gostaria de ver de perto aqueles fenômenos, embora o medo não o deixasse ir. – Você já foi lá, Miguel? – perguntou-me ele. – Eu não – lhe respondi. – Ah! Então vamos todos ver isso de perto – falou, taxativa, minha esposa. Nossa visita Assim o fizemos. Maria, o vizinho e eu fomos recebidos pelo dono da casa, que nos contou o fato que já sabíamos, porém com mais detalhes. De repente, a cena se repetiu. Um torrão passou à nossa frente e foi se espatifar num quadro na parede, que caiu desfeito ao chão. Meu vizinho, surpreso e contendo o temor, indignou-se: – Oh, o negócio é verdade mesmo! E os torrões continuaram vindo, um a um, destruindo quadros e enfeites da casa. Assustado, meu vizinho que acompanhava tudo muito atento, interrogou apavorado: – Oh! Mas o que que é isso, Miguel? – Isso não é nada, não. Esse fenôme-

fenômeno de efeitos físicos se realizasse. Através das faculdades mediúnicas da criança, ele interferia nas atividades da casa, na fazenda, nos lugares onde a criança convivia. Dizia ele que quando o menino estava na fazenda, não se conseguir tirar leite das vacas, pois que elas, enfurecidas, davam coices para todo lado.

no não deve mais continuar. Enquanto Maria conversava com os donos da casa, fui andando pelos cômodos, fazendo uma prece mental, conversando com o amigo desencarnado, dizendo que ele estava trabalhando muito bem para a divulgação da mediunidade, mas que aquilo não era certo, pois que estava assustando muita gente, tomando o tempo das pessoas que ali moravam e que tinham os seus compromissos, porquanto o dia todo eram curiosos e repórteres que chegavam, querendo informações. – Peço-lhe – continuei minha conversa mental – que se puder, me acompanhe aos trabalhos que mais à noite acontecerá no Centro Espírita Joana d’Arc, e lá poderemos conversar. Despedimo-nos dos moradores e saímos para a nossa casa. Trazendo à consciência O dia transcorreu normalmente e, chegada a hora dos trabalhos mediúnicos, eis que o nosso amigo é o primeiro a nos falar, através de um dos médiuns presentes na reunião. Ele ria, ria muito, dando altas gargalhadas. Eu, então, perguntei-lhe: – Meu amigo, do que é que você está

achando tanta graça? – Você não assistiu lá as pedradas? Viu que boa acertada eu dei no quadro dos jogadores de futebol que estava na parede acima da janela? Eu deixei-o rir bastante para depois tornar a falar do benefício que ele prestava às pessoas, despertando-as para as coisas além da matéria, mas a maneira com que fazia não era correta, pois trazia muitos transtornos. – Eu faço isso há muito anos. Na fazenda, eu era mestre em pregar sustos nas pessoas. Eu pegava uma saia de mulher, amarrava uma peneira e pendurava-a no pescoço. Transfigurado na sombra da vela acesa que eu carregava, eu saía à noite assustando todo mundo. – Ouvindo sua narrativa, eu perguntei de onde ele retirava os torrões de terra que atirava na casa, e porque não jogava britas, já que no terreno pegado a casa havia um enorme depósito. – Ah, os torrões eu só consigo tirar debaixo dos pés daquele menino – referindo-se à criança de 12 anos que lá morava. Tratava-se do neto do dono da casa, que mesmo sem ter consciência do fato, oferecia das condições necessárias para o que o

O convite para o despertar – Olha, meu amigo – continuei –, o tempo de brincar assim já se foi. Nós vamos juntos fazer uma prece e você vai observar que muita coisa mudou. Observe. E com muito cuidado, estimulando aquele irmão para que percebesse que já havia deixado o corpo material para trás através da desencarnação, falei à certa altura da nossa conversa: – O que pensaria se eu lhe dissesse que a vida não acaba com a morte e que continuamos a viver em outro plano? Muitos irmãos nossos desencarnam e nem percebem que já não pertencem a este plano! – Não, mas não é meu caso, não. Eu tô vendo tudo o que se passa. Conheço todos que vão em casa. Ei joguei pedra no padre que eu sei quem é. Eu até ri demais com o jeito dele falar, que eu era o satanás. Ainda pensei: Que ignorância. Eu não sou o satanás, não. – Pois é, meu amigo, é que seus atos estão mesmo parecendo de uma pessoa errada. Deixe disso. Acompanhe essa equipe que lhe convida para estudar e se preparar para que possa usar toda essa energia que você tem para fazer muita coisa boa. Finalizamos o nosso diálogo sentindo que aquele irmão havia se sensibilizado com a conversa e que aceitara o nosso convite ao preparo para o seu aprimoramento e o trabalho no bem. Depois daquele dia, não mais tivemos notícias sobre fenômenos sobrenaturais na casa, sobrenaturais não, mais do que naturais, pois se Deus é o criador de natureza, existir algo sobrenatural significaria estar fora do controle Daquele que tudo sabe, tudo ouve, tudo vê. Do livro Atos de amor, Miguel Domingos de Oliveira, Izabel Vitusso. Lírio Editora, MG, 1997.


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ANÁLISE

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As dificuldades do

dia a dia Por ÓGUI LOURENÇO MAURI

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ara todos nós, seres humanos e imperfeitos do planeta Terra, a vida é um suceder de intensos desafios e de dificuldades de toda ordem. Mas, por outro lado, é sempre num desses momentos de safanões do cotidiano que temos as melhores oportunidades de crescer moral e espiritualmente, a par de alcançar a reabilitação de erros cometidos nesta e noutras existências. Estamos num mundo de provas e expiações por conta de ajustes e reajustes decorrentes de nossos excessos e de nossas omissões do pretérito. Além disso, nunca é demais atentar para o detalhe de que as pedras do caminho de agora foram escolhidas por nosso próprio espírito ainda na erraticidade, então na antessala da atual reencarnação, como forma de recuperação do “tempo perdido” em anteriores passagens físicas mal aproveitadas.

É estrabismo puro enxergar como “dificuldades” esses desafios da estrada da vida, posto que eles nada mais são do que molas propulsoras de nosso avanço espiritual, proporcionadas pela Justiça Divina, que dá oportunidade a todas as criaturas, a ponto de todas elas, bem mais à frente – cada qual a seu devido tempo – alcançarem a perfeição, no estágio da felicidade, na vida espiritual; a vida verdadeira, da imortalidade da alma. Todas essas dificuldades são propostas que precisam ser encaradas como desafios para nosso crescimento espiritual. Ao invés de maldizer a sorte, precisamos agradecer a Providência Divina por todas as oportunidades do dia a dia. E temos que nos desdobrar para aproveitá-las bem e, com isso, não corrermos o risco de a atual passagem pelo mundo físico resultar numa etapa terrena perdida. Os obstáculos de agora se caracterizam como lições vivas e caminhos

de aprendizado; são, antes de tudo, ferramentas para nossa transformação. A dor, as deficiências de toda ordem, a ingratidão sofrida, a agrura financeira, o desenlace amoroso, o abandono; todas es-

sas dificuldades de hoje decorrem das más escolhas que fizemos no passado ao usar nosso livre-arbítrio. Estamos aqui e agora para reparar essas más condutas; daí todo este sacrifício dos dias presentes. Não é difícil entender que, na atual existência, Deus nos dá a oportunidade do retorno ao melhor caminho. Cabe-nos aproveitar o ensejo fazendo nossa parte. Em termos práticos, toda reencarnação se presta também a reconquistas. Que as consigamos colocando o amor à frente de nossa conduta como um todo, que o espaço usado para reclamações da vida seja ocupado pelo amor. Este, por si só, já traz a compreensão das dificuldades. O amor se enquadra e está à frente de tudo. Até porque, com o amor na posição de vanguarda, todas as dificuldades passam. Quando colocamos o amor em primeiro lugar, exercemos o “amor à causa” e é sabido que “amor à causa” não comporta reclamar da vida e tampouco maldizer da sorte. Assim, não há “dificuldades” para quem tem o amor como escudo. Dificuldades? “Elas passam... Tudo passa, exceto Deus!”, disse Chico Xavier. Funcionário aposentado do Banco do Brasil. Trabalhador do Centro Espírita Bezerra de Menezes, de Catanduva - SP.


Chamada para trabalhos de pesquisas espíritas Termina dia 30 de abril o prazo para submissão de trabalhos a serem avaliados para participação do Encontro Nacional de Pesquisadores do Espiritismo, que acontece dias 28 e 29 de agosto de 2021, em São Paulo. Tema: “160 anos de O livro dos médiuns”. O Encontro tem sido ao longo dos anos um espaço privilegiado no contexto brasileiro para apresentação e discussão de trabalhos de investigação científica sobre a temática espírita, cujo sucesso tem atraído pesquisadores de todo o Brasil, interessados na divulgação e discussão de seus estudos. Os trabalhos devem ser, prioritariamente, relacionados à temática central do evento, em forma de artigo científico. Local do evento: União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. Rua Dr. Gabriel Piza, 433, São Paulo, SP. Informações adicionais: email: 16enlihpe@lihpe.net

ABR

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Todos os fenômenos espíritas têm por princípio a sua existência. Condição dos espíritos que se comprazem com o mal. Espírito com grande participação na elaboração de A maior garantia da autenticidade do fenômeno mediúnico. Escrita dos espíritos pela mão do médium. Fenômenos espíritas mais suscetíveis a fraudes. Comunicação oral dos espíritos sem o concurso da voz humana.

qualquer hora, em qualquer lugar

Resposta do Enigma:

Um dos atributos dos espíritos depurados.

Simplicidade,

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Responda às perguntas considerando letras iguais para símbolos iguais e saiba mais sobre o livro da codificação que trata da teoria das manifestações espirituais, sobre a mediunidade, seus desafios e muito mais.

Quais as três características das preces espíritas?

clareza e

Peça teatral Chico, além da alegria FEV Acontece no dia 24 de fevereiro, às 20:30, no Teatro Liberdade By Infinitus, em São Paulo, o espetáculo “Chico, além da alegria”. A peça conta a trajetória do médium mineiro, desde sua infância, em Pedro Leopoldo, MG, até os seus maiores desafios, em sua vida toda dedicada ao próximo. O espetáculo traz inúmeros fatos e personagens marcantes, principalmente do universo de sua psicografia. Realização: Luz no Palco Produções. Teatro: Rua São Joaquim, 129, Liberdade. (Com protocolos de proteção estabelecidos). Classificação: 10 anos. Bilheteria: de terça a sexta, a partir das 13:00h.

160 anos de O livro dos médiuns

ENIGMA

concisão

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Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Ref. O evangelho

Congresso Espírita de Goiás A Federação Espírita do Estado de Goiás realiza de 13 a 15 de fevereiro o 37º Congresso Espírita de Goiás, evento que será realizado em caráter virtual e terá como tema: “Espiritismo e Jesus: Luz para humanidade”. A programação atenderá desde bebês a adultos, com abordagens e temas específicos. O evento contará com a presença de palestrantes como: Divaldo Franco, Haroldo Dutra, Alberto Almeida, Simão Pedro, Orson Carrara, Jorge Godinho, Ana Tereza Camasmie e realizará a tradicional Feira virtual de livros, com promoções especiais, através de parcerias com as editoras. Inscrições gratuitas: https://congresso.feego.org.br/

FEV

CRIPTOGRAMA DO CORREIO

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segundo o

AGENDA

CULTURA & LAZER

espiritismo, cap.:

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“Preces espíritas”.

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A vacina

Região do ABC Retirada de doações para o Bazar Permanente ligue (11) 4109-8938 Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio


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ARTIGO

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O caso do mutismo na Revista Espírita Por SONIA HOFFMANN

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iariamente, alguns acontecimentos nem sempre são elucidados pela ciência, mas explicáveis pelas informações doutrinárias contidas no espiritismo. Por isso, a importância de o estudar atenta e sistematicamente. Exemplo trazido por Allan Kardec em publicação na Revista Espírita de fevereiro de 1865 narra um episódio de mutismo infantil e esclarece determinado fato de origem desconhecida até então. Uma criança francesa de três anos tinha durante o dia apenas linguagem de sons debilmente articulados e incompreensíveis, além de somente pronunciar ‘papá’ e ‘mamã’. Após tentativas sem sucesso para a criança melhorar sua comunicação e falar palavras mais usuais, a mãe foi despertada em uma noite pela voz do filho adormecido, articulando distintamente, em voz alta e repetidamente, como em exercício vocal, as letras A, B, C, D, jamais pronunciadas quando despertado. Como hipótese, Kardec destaca a possibilidade do espírito, não tendo aprendido em vigília e naquela vida o que dizia durante o sono, ter forçosamente aprendido em outra existência e em reencarnação na qual falava francês, porque sua pronúncia era nesse idioma. A Revista narra que, em mensagem, um amigo espiritual vem elucidar o caso, explicando que a inteligência da criança poderia ficar velada por algum tempo, pelo sofrimento material da reencarnação, à qual esse espírito teve muita dificuldade em submeter-se, e que momentaneamente lhe afetara as faculdades. Seu guia espiritual, durante o sono do corpo físico, o auxiliava para que pudesse sair daquele estado, pelos conselhos, encorajamento e com exercícios. Disse que quando a fase de embotamento passasse, ele retornaria à normalidade. O torpor teria seu fim determinado por um choque violento ou extrema emoção

confirmaram o princípio desse gênero de mediunidade infantil. Na fase da infância no berço, o papel e a disposição do espírito sobre a matéria são pouco sensíveis. Nesse momento, os guias espirituais aproveitam para o encorajamento em suas boas resoluções. No sono, o espírito compreende e se lembra dos compromissos contraídos para o seu adiantamento moral, recebendo assistência e ajuda com salutares instruções. Em vigília, as instruções podem ser inspiradas. Com nesta narrativa, fica evidenciado o quanto, ao menos em germe, todos possuem o dom da mediunidade e como a infância propriamente dita é uma longa série de efeitos mediúnicos. Nesta fase, constatamos também a realidade da inclusão no intercâmbio comunicativo entre espíritos encarnados e desencarnados. O que nos leva a considerar igualmente a importância do estudo mais profundo sobre as abordagens inclusivas e a agilização da prática includente nas diversas estruturas do Movimento Espírita, visto que as diferenças precisam ser entendidas sempre como um aprendizado. vivenciada pelo menino. A publicação destaca dois ensinamentos bastante relevantes: a possibilidade de um espírito desencarnado, no caso o seu guia espiritual, atuar dando a primeira educação para um espírito encarnado, e atribui a um efeito mediúnico o fato de o garoto articular as letras durante o sono, uma vez que resultava do exercício indicado por seu protetor. Em carta posterior, houve informação de que o menino realmente sofrera um choque, quando sua avó caiu e quase o esmagou. Desde aquele trauma, a criança surpreendia a todos, e nas mais diversas situações, com a pronúncia compreensível de frases inteiras.

Em sessão da Sociedade Espírita Parisiense, na época, outros esclarecimentos

Educadora especializada em deficiência visual, fundadora do Projeto Acessibilidades Jerônimo Mendonça.


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QUEM PERGUNTA QUER SABER

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As mensagens mediúnicas nas

redes sociais Por MARCO MILANI

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m um período no qual pululam nas redes sociais inúmeras mensagens tidas como mediúnicas, muitas relacionadas à pandemia, é natural o questionamento sobre a autenticidade do fenômeno, sobre a qualidade doutrinária das comunicações e sobre a sua autoria. Um dos pilares do espiritismo é a fé raciocinada e espera-se que esta seja uma característica de todos os adeptos. Os diferentes graus de maturidade doutrinária, entretanto, fazem com que não se tenha uma postura homogênea sobre a análise dessas mensagens. Inicialmente, destaca-se o fato que não existe qualquer critério de seleção ou obstáculo para a publicação de textos nas redes sociais. Qualquer um, com diferentes motivações, pode publicar conteúdo alegando se tratar de produto mediúnico. Agrava-se a situação quando quem publica é alguém que se autodenomina médium. Não há, portanto, qualquer garantia de que tais comunicações sejam, de fato, de desencarnados ou se foram produzidas pela própria pessoa que tenta disseminar esse conteúdo. Logo, pode ser uma fraude ou uma brincadeira de mau gosto. Independentemente da origem mediúnica, mais importante é a qualidade da própria mensagem. Se houver informações alarmistas, com previsões ou justificativas sem qualquer possibilidade de confirmação perante fatos, a prudência exige que não seja considerada inicialmente válida. Recentemente, alguns médiuns famosos e muitos outros desconhecidos que talvez ambicionem a fama, têm se aventurado a publicar esclarecimentos sob a perspectiva espiritual da origem e direcionamento da atual pandemia, sem qualquer conexão lógica entre elas e com afirmações altamente questionáveis. Apenas a superstição e a crendice, derivadas da fé cega, fazem com que tais comunicações sejam levadas a sério. Para exemplificar tal situação, basta apontar que algumas dessas mensagens tomam a Co-

Tantas mensagens nas redes agora, na pandemia. Como saber se é mesmo aquele espírito que as assina? Meire Silveira, São Paulo, SP

vid-19 como símbolo da transição planetária para uma era de regeneração, porém essa afirmação é descabida. Conforme o ensino dos Espíritos apresentados no ca-

pítulo 18 da obra A Gênese, o período de regeneração da humanidade é paulatino e já havia se iniciado quando assim se expressaram no século 19.

Certamente, a pandemia atual é um desafio a ser enfrentado, porém não se trata de fenômeno que fuja às leis naturais e, muito menos, não é um acontecimento isolado na história da humanidade. A Peste Negra dizimou mais de 75 milhões de pessoas entre os anos 1347 e 1350, o que significou mais de 30% da população mundial da época. A gripe espanhola ceifou a vida de milhões de pessoas, após a Primeira Guerra Mundial. Além disso, surtos causados por coronavírus não são acontecimentos raros. Nas últimas duas décadas, tivemos o SARS-CoV, na China, em 2002 e o MERSCoV, síndrome respiratória do Oriente Médio, em 2012. Ainda que os esclarecimentos sejam claros e versem sobre a naturalidade do flagelo enfrentado, conforme comentado nas questões 737 a 740 em O livro dos espíritos, alguns adeptos não muito afeitos ao estudo doutrinário aprofundado ainda deixam-se levar por informações sensacionalistas e de caráter supersticioso. Quaisquer interpretações dos fatos sem fundamento, considerando a limitação de nossa percepção espiritual, é prematura, assim como a aquiescência perante supostas revelações extravagantes, segundo as orientações que o próprio Kardec nos ofertou, em O livro dos médiuns, sobre a natureza das comunicações (2ª parte, cap. 10). Em síntese, qualquer suposta comunicação mediúnica, principalmente as disseminadas em redes sociais, deve ser analisada racionalmente, independentemente da autoria espiritual (geralmente algum nome bem conhecido para influenciar a relevância que se vai atribuir ao conteúdo) e de quem seja o médium (pois são pessoas comuns, sujeitas a erros e mistificações). Superaremos os desafios atuais como fizemos com os outros flagelos registrados na história, com coragem, fé raciocinada, confiança nas próprias forças e na justiça divina. Diretor do departamento de doutrina da USE- SP.


DIRETO AO PONTO

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Agradecer, amar, retribuir Por UMBERTO FABBRI

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niciamos com uma pequena história sobre a vida de um casal na pandemia. O marido seguia insatisfeito com a vida e reclamava de tudo; do trabalho que passou a ser feito em casa, da falta que sentia dos amigos, das festas, viagens, da convivência mais presencial com a família, de sentir-se cerceado em sua liberdade, etc. A lista aumentava a cada dia, pois sua atitude costumeira era a de se lamentar, queixando-se de tudo o que podia. No caso de nosso irmão, as lamentações tornaram-se automáticas, uma vez que ele não vigiava o rumo dos seus pensamentos egoístas. Sua esposa enxergava a vida por outro ângulo. As lentes pelas quais percebia a vida eram mais nítidas, mais cristalinas. Não deixava de observar as dificuldades, mas apesar dos problemas conseguia visualizar as inúmeras conquistas e benesses que também faziam parte de sua existência e em número muito maior. Em uma conversa, seu companheiro, de modo habitual, começou a tecer suas reclamações. Ao final, sua esposa contra-argumentou, apresentando a ele seu ponto de vista: – Sobre o trabalho, agradeça, pois você, ao contrário de muitos, o possui. As separações que hoje nos desagradam são temporárias e precisamos agradecer sempre a Deus pela vida que não se finda, mas se transforma visando sempre o nosso bem, progresso e felicidade. Quem ama, nunca se separa. Cada particularidade de nossas vidas pode trazer um fator de crescimento e aprendizado, se soubermos aproveitar, em vez de ficarmos nos queixando e vitimizando. Olhe ao seu redor! Veja a natureza tão rica e generosa! Temos uma fartura em recursos naturais em nosso planeta que muito provavelmente não existe em outros orbes e que tornam nossa experiência terrestre tão especial. O ar que respiramos, nosso corpo, a água fonte da vida, as flores, o céu, nossos irmãos meno-

Para alcançarmos a verdadeira caridade, precisamos ser gratos e conscientes de como a própria caridade atuou em nossas vidas, nos transformando” res, os animais... Tudo tão perfeito! Como é possível não agradecer por todas estas maravilhas? Assim como nosso irmão, quanto tempo perdemos em posições negativas que nos prejudicam e nos infelicitam por puro automatismo comportamental e imaturidade espiritual? A gratidão é sem sombra de dúvida uma postura que muda nossas vidas, pois ao agradecer, vislumbramos os inúmeros motivos que temos para fazê-lo. Voltamos nosso olhar para o muito que temos, caminho contrário das lamentações e queixas que só enumeram o que nos falta. Agradecer é um hábito que deve ser incorporado urgentemente em nosso dia a dia, pois a gratidão nos coloca em uma

faixa vibratória elevada, nos ligando com o Bem e o Amor, facilitando inclusive o auxílio que vem do Alto. Quando agradecemos, nos preenche-

mos de amor e o passo seguinte é tentar de alguma forma retribuir a Deus, por meio da caridade ao nosso próximo, e é incrível como uma coisa leva a outra! “Deus é caridade; e quem está em caridade está em Deus e Deus nele.”1 Para alcançarmos a verdadeira caridade, precisamos ser gratos e conscientes de como a própria caridade atuou em nossas vidas, nos transformando. Somos frutos da caridade, primeiramente de Deus e depois de tantas outras almas que nos amaram, socorreram e ensinaram. E para confirmar minhas observações, proponho aos amigos um exercício simples: enumerar dez itens que merecem sua gratidão. Você vai se surpreender, pois este número será em muito ultrapassado. Agradecer, amar e retribuir são engrenagens poderosas que movimentam nossa evolução e que podem, por nossa vontade e livre-arbítrio, ser utilizadas de forma mais consciente e habitual. 1

1 João, 4:16.

Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.

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CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2021

MÍDIA DO BEM

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Enfermeiro abraça paciente com Down para dar oxigênio

Mulher perde memória e marido a reconquista todos os dias

Soneca à tarde pode melhorar cognição e memória de idosos

Sem saber bem o que estava acontecendo, o paciente Émerson Junior, 30 anos, não queria usar a máscara com oxigênio. Em um lindo gesto, o enfermeiro Raimundo Nogueira Matos se aproximou e abraçou o paciente com síndrome de Down em um hospital de campanha em Caapiranga, no interior do Amazonas, e conseguiu realizar o procedimento. “É um paciente especial, ele não entende a importância do tratamento. Ele estava muito ansioso”, disse o profissional da saúde.

Em 1994, Michelle Philpots perdeu a memória de curto prazo após sofrer dois acidentes de trânsito. Seu marido Ian precisa reconquistá-la todos os dias e vem de fato fazendo isso há 23 anos. Quando ela tem alguma dúvida de quem é seu marido, ele mostra o álbum de fotos do casamento e tudo fica bem! Para Ian, o segredo do sucesso do casamento é a paciência. “Tenho que manter a calma porque a amo”, afirma.

Sabe aquela vontade de tirar um cochilo depois do almoço apenas para descansar um pouco? Segundo pesquisadores chineses, esse “soninho” da tarde melhora o desempenho cognitivo, a fluência verbal e até a memória de pessoas idosas. “Este estudo destacou um desempenho cognitivo superior em cochilos em idosos, apoiando estudos observacionais anteriores”, disseram os pesquisadores. O resultado dessa pesquisa foi publicado no periódico General Psychiatry, do BMJ (British Medical Journal), em 25 de janeiro de 2021.

Fonte: Blog Razões para acreditar

Fonte: Repórter MT

Fonte: Portal UOL

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