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SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o

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Pesquisas e experiências sobre TRANSE E MEDIUNIDADE

ISSN 2176-2104

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ENTREVISTA

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À frente de grupos como o Núcleo de Pesquisas da Federação Espírita do Espírito Santo, Raphael Vivacqua Carneiro fala sobre a grande contribuição de L. Palhano Jr. nas pesquisas experimentais do espiritismo no Brasil. Leia nas páginas 4 e 5.

Por que temos medo da

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uitos questionamentos surgem diante da certeza do fim da vida material. Um número muito grande de pessoas sequer querem tocar no assunto. Receio da extinção? Incertezas sobre o futuro? O temor da morte foi capaz de inspirar grandes pensadores da História, como o imortal dramaturgo William Shakespeare, que eternizou esse sentimento na conhecida expressão: “Ser ou não ser, eis a questão”. Nesta edição, o escritor Luís Jorge Lira Neto faz uma análise sobre o que culturalmente contribuiu para a intensidade desse temor e a nova realidade trazida pelos espíritos, que transforma a incerteza do futuro pós-morte em certeza da continuidade da vida. Leia no Especial, nas páginas 8 e 9.

ESPÍRITOS Eles sempre à nossa volta Ao assistir a uma peça teatral, ao tempo de Kardec, um médium com excelentes capacidades de vidência conta tudo o que vê, dando uma noção da realidade espiritual que pode estar à nossa volta. Página 14.

ZILDA GAMA

A médium que encorajou Yvonne Pereira ao trabalho da psicografia “Sua obra e seus exemplos de paciência e dedicação ao trabalho foram o estímulo que nos levou a aceitar o mesmo convite do invisível”. Leia na página 7.

Fazer o bem era tudo o que Gória precisava ter feito como homem público.

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EDITORIAL

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O seu papel na

por exemplo, está a mediunidade em diferentes nuanças. Também, apesar de tantos esclarecimentos do espiritismo, muitos de nós ainda tememos a morte, principalmente em épocas como a atual de desencarnes coletivos. A obra do espiritismo é mesmo gigantesca, um convite à lógica e ao cultivo da fé, como escreve Fernando Porto, na página 11. Para quem não sabe, Herculano Pires se debruçou sobre tudo isso, nos deixando uma vasta obra, que ganha atenção do Instituto Espírita de Estudos Filosófico, reunindo dezenas de participantes num curso online, justamente para melhor conhecê-lo. É o espiritismo ocupando seu papel na sociedade. Lenta ou rapidamente, a depender de todos nós. Boa leitura! Equipe Correio Fraterno

sociedade

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Correio Fraterno chega nesta edição atento aos desafios sociais de tanta seriedade que estão sendo descortinados, todos os dias e de forma escancarada, a quem se proponha a ter olhos de ver. Exaustos, em tempos de observação e muita reflexão, podemos até mesmo desligar a tevê, darmos um tempo nas redes sociais, na tentativa de espairecer nossos pensamentos e cuidar das nossas emoções e da nossa saúde espiritual. Mas não podemos jamais esquecer que não estamos aqui e neste momento por acaso. As oportunidades de aprendizado são grandiosas e, quando analisamos as aflições pelas quais passamos, é mesmo admirável como a obra da Terceira Revelação se mos-

tra como um repositório de respostas de valor moral e cultural imensurável. Ao trazer conceitos novos sobre o homem e sobre tudo o que o cerca, numa visão integrada, vemos que o espiritismo realmente toca em todas as áreas do conhecimento, das atividades e do comportamento humanos, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade, como tão bem avaliou Kardec no século 19. É assim que, nesta edição, o leitor vai encontrar vários temas que tangenciam o ponto principal do espiritismo: o espírito e sua imortalidade. Das pesquisas de L. Palhano, na entrevista com Raphael Vivacqua, à experiência de um leitor sobre os efeitos físicos e à dúvida de outro sobre a utilidade da revelação do passado e futuro,

FALE COM O CORREIO Entrevista com Humberto Schubert • Brilhante entrevista! [“Filosofia Espírita: Uma luz no processo histórico do conhecimento”, edição 497]. Esse é o espiritismo que busco! Longe de religiosismos, personalismos, donos da doutrina, ideias mesquinhas, verdades castradoras, romances pueris, fenômenos espetaculares e da arrogante caridade egoica. Esse é o espiritismo basal, real, profundo, belo e realmente transformador. Esse é o espiritismo que educa e liberta. Parabéns ao entrevistado, à entrevistadora e ao jornal. Alexandre Caldini

• Tem pessoas que entendem que a discussão sobre Deus, a partir da compreensão espírita, remete à “religião”. Será? Kardec destaca que as conclusões morais que o espiritismo traz vem do seu aspecto filosófico (cadê a religião?). Seria bom aprofundar o tema “filosofia” na doutrina espírita. Algumas pessoas podem se surpreender! Curta Espírita A suposta autoria de mensagens mediúnicas Parabenizo o autor do texto [“As mensagens mediúnicas nas redes sociais”, edição 497]. Faltava

essa orientação aos incautos. Milani focou muito bem a falta do crivo, do Controle Universal do Ensino dos espíritos. Abraços e meus parabéns. Ariovaldo Aparições tangíveis Gratidão! Eu não conhecia esses casos do Herculano Pires. [“Casos de aparições que podem ser tocadas”, edição 497]. Elisabete Torres Correia A casa apedrejada por espíritos Que maravilha é saber que estudos e trabalhos mediúnicos ajudam muita gente. [Edição 497]. Gostei muito da história. Prova que a mediunidade é inerente ao ser humano e pode esclarecer os problemas também. Irene Centurion

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118

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Uma ética para a imprensa Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


ACONTECE

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Herculano Pires Em curso especial de filosofia espírita Por ELIANA HADDAD

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urante o primeiro semestre deste ano, o IEEF – Instituto Espírita de Estudos Filosóficos, de São Paulo, está realizando um curso modular online para o estudo do pensamento filosófico de Herculano Pires e de Humberto Mariotti. Ministrado nas tardes de sábado pelo pedagogo e psicanalista Lindemberg Castro, mestrando em filosofia e coordenador do IFEHP – Instituto de Filosofia Espírita Herculano Pires, de Fortaleza, o curso analisa a importante contribuição desses pensadores para o movimento espírita, através de obras, como: O reino, O espírito e o tempo, Introdução à filosofia espírita, Pedagogia espírita e Educação para a morte (de Herculano Pires), e O homem e a sociedade numa nova civilização e Herculano Pires, filósofo e poeta (de Humberto Mariotti). Ambas as instituições vêm desenvolvendo iniciativa de incentivar a pesquisa em filosofia espírita no Brasil, através de práticas reflexivas que resgatem pensadores e suas obras e que ajudem o pensar sobre a realidade a partir do espiritismo, sempre em diálogo com a obra de Kardec. Ressaltando a importância de parcerias como esta, Lindemberg destacou ainda em entrevista ao Correio: A importância de se resgatar as obras de Herculano “A vida de Herculano Pires foi inteiramente dedicada à pesquisa e à divulgação espírita, sempre primando por uma racionalidade, capaz de ajudar a sermos espíritos autônomos e assertivos, no duplo trabalho de autoaperfeiçoamento e de transformação do mundo. Ele é um dos maiores pensadores brasileiros do século 20, não somente como espírita, mas também como filósofo. Pensador diversificado, suas obras

sempre combateu uma visão excessivamente religiosa do espiritismo, assim como Herculano Pires também o fez em diversas obras, como A pedra e o joio (2005), O espírito e o tempo (2005) e O verbo e a carne (1973); que analisam filosoficamente, sociologicamente e historicamente, os motivos pelos quais não se dá espaço para a produção filosófico-espírita. Também, como consequência de um cenário excessivamente religioso, a produção bibliográfica mais valorizada no Brasil, dentre os espíritas, é a produção mediúnica, o que desloca os pesquisadores espíritas autônomos, incluindo o próprio Kardec, para um plano secundário de importância.”

versam sobre temas amplos e multidisciplinares que dialogam com a filosofia: a pedagogia, a antropologia, a história, a parapsicologia, a psicanálise, a sociologia, a teologia, e claro, o próprio espiritismo.”

A divulgação e estudo do espiritismo como filosofia “O espiritismo no Brasil é visto, em grande parte do movimento espírita, como apenas mais uma religião; Kardec

O papel dos centros espíritas hoje “O centro espírita continua tendo papel de destaque na difusão do pensamento espírita, contudo, pensando junto com Herculano Pires, talvez ele ainda não tenha utilizado todo o seu potencial cultural de produção de conhecimentos e de saberes práticos, principalmente considerando os desafios históricos e sociais dos espíritos encarnados. Herculano dizia que se os centros espíritas estivessem plenamente conscientes do seu papel, o espiritismo já seria um dos maiores movimentos culturais, não só no Brasil. Para o centro espírita, é preciso muitas vezes que repensemos as práticas pedagógicas desenvolvidas, que não raro estão bem distantes da proposta de uma pedagogia espírita, elaborada por Herculano Pires.” Saiba mais: institutoherculanopires.blogspot.com Facebook / Instagram: @ifehpfilosofia www.ieef.org.br


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ENTREVISTA

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Os experimentos de

Lamartine Palhano com transe e mediunidade Por IZABEL VITUSSO Como você definiria o pesquisador e escritor Lamartine Palhano Júnior? Raphael Vivacqua Carneiro: Palhano era um cientista de ofício e vocação. Trabalhador espírita, estudioso e divulgador incansável, desde a sua juventude. Em seus trabalhos, procurava manter sempre presentes e coesos os aspectos científico e moral. Pesquisador muito produtivo e organizado, registrava cuidadosamente todos os seus experimentos, formando rico acervo que servia de subsídio às suas publicações. Ele desenvolveu métodos práticos, sempre embasados na teoria consolidada do espiritismo, valorizando o trabalho mediúnico coletivo. Escritor versátil, ele produziu obras de várias temáticas: a científica, relatando as suas pesquisas na área da mediunidade; biográficas, contribuindo para a preservação da memória do espiritismo; infantojuvenil, com textos em linguagem apropriada à faixa etária; religiosa, analisando textos bíblicos à luz do espiritismo. Qual a sua relação com o escritor? Como você o conheceu? Tive a satisfação de conhecê-lo pessoalmente e de participar de algumas atividades espíritas diretamente com ele, nos seus últimos anos de vida, entre 1998 e 2000. Naquela época, o grupo Espiritismo.net, do qual sou um dos fundadores, ainda se chamava IRC-Espiritismo e realizava um trabalho pioneiro de divulgação espírita pela internet, com atividades interativas com o público, por meio de chat de texto. Convidávamos autores e palestrantes espíritas conhecidos para responder perguntas do público de modo online. Hoje isto parece algo trivial, mas 23 anos atrás essa tecnologia era algo quase “sobrenatural”. Esse trabalho era chamado de “palestras virtuais” e ainda se encontra disponível para download no site do Espiritismo.net. Como a maioria dos palestrantes convidados não possuía computador ou não

Este experimento ele publicou como o capítulo “Campo psíquico na internet”, em seu livro Reuniões mediúnicas: teoria e prática (Lachâtre).

Raphael Vivacqua: “Palhano desenvolveu métodos práticos, sempre embasados na teoria consolidada do espiritismo.

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edicado à pesquisa e à divulgação da doutrina espírita, o escritor LAMARTINE PALHANO JÚNIOR (1946-2000) é autor de mais de 40 títulos, em grande parte fruto de suas pesquisas, principalmente sobre temas em torno da mediunidade. Doutor em ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor nas Universidades Estadual e Federal do Estado do Espírito Santo, Palhano é mineiro de nascimento, mas foi no Estado dos capixabas que se radicou e acabou, mais tarde, fundando grupos de pesquisas, como a FESPE – braço de pesquisa da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo, e o CIPES – Círculo de Pesquisa Espírita. Estudioso das obras de Lamartine Palhano, o engenheiro RAPHAEL VIVACQUA CARNEIRO coordena hoje um dos grupos de pesquisa no Espírito Santo que replicam os estudos do autor. Cofundador do grupo Espiritismo. net e também à frente do Núcleo de Pesquisas da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo, ele fala da sua relação com o autor e sobre suas obras.

tinha familiaridade com a plataforma online, nós os trazíamos às nossas residências e eles “ditavam” as respostas para que pudéssemos digitar no computador com a maior rapidez possível. Nós apelidamos esse papel de “médium digitador”. Em 1998, Palhano esteve em minha residência para dar uma palestra virtual sobre o seu livro recém-lançado Viagens psíquicas no tempo (Lachâtre) e, em 2000, ele esteve novamente comigo

para dar uma palestra virtual sobre o seu livro Transe e mediunidade (Lachâtre). Entre esses dois eventos, ele fez uma experiência científica inédita em minha residência, utilizando a plataforma online, conectando seis pessoas de cidades diferentes, constatando a formação de um campo psíquico coletivo mesmo estando à distância, o que hoje, com a necessidade dos trabalhos virtuais, é algo facilmente verificável e utilizável.

Palhano pode ser considerado no Brasil um dos precursores da pesquisa prática sobre o transe e a mediunidade nas reuniões mediúnicas. Como ele desenvolvia essas pesquisas? O estudo do transe foi um dos tópicos que Palhano deu destaque, resgatando também o importante trabalho do médico e escritor espírita Jayme Cerviño, da década de 1960. Em sua obra Transe e mediunidade, ele analisa os diversos tipos de transe, quanto às suas causas, formas, naturezas e graus de intensidade, mostrando que os transes anímicos e mediúnicos possuem uma raiz comum. Nesse livro, Palhano descreve um método por ele desenvolvido, denominado “varredura medianímica”, em que são combinados tanto os recursos anímicos como os mediúnicos, a fim de melhorar o desempenho individual e coletivo dos médiuns. As pesquisas práticas de Palhano sobre transe e mediunidade eram realizadas dentro de reuniões mediúnicas organizadas para esta finalidade, e que também cumpriam o seu papel no trabalho de assistência espiritual ao público. Quais os temas principais desses estudos? Suas obras de temática científica transitam por tópicos importantes do escopo de pesquisa do espiritismo, como transe, mediunidade, obsessão, sonhos, prece, evocação, passe, regressão e progressão de memória, reuniões mediúnicas. Quais os desdobramentos destas pesquisas para os médiuns e para as reuniões mediúnicas em si?


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Palhano propunha métodos e práticas que são pouco comuns até hoje, embora muito eficientes e recomendáveis. Ele os exercitava continuamente com os médiuns dos seus grupos de pesquisa, registrando um volumoso acervo de dados, que depois foram convertidos em várias de suas obras publicadas. Alguns pontos de destaque: ele considerava o trabalho mediúnico como um trabalho de produção coletiva, em que nenhum médium deveria sobressair-se e todos contribuíam coletivamente para o resultado; propunha que todos usassem todo o seu repertório de faculdades psíquicas disponível, não apenas a psicofonia e a psicografia, mas principalmente as percepções extrassensoriais, tanto as mediúnicas como as anímicas; ele desenvolvia uma técnica de transe canalizado, para que os médiuns se concentrassem num objetivo proposto, sem haver dispersão de energias psíquicas; ele desenvolveu o método da varredura medianímica, aplicado a atendimento espiritual à distância, combinando os efeitos da irradiação com as percepções psíquicas coletivas, visando ajudar os atendidos; ele considerava a prece como o recurso mediúnico mais elementar (conexão psíquica com o Alto) e, para isso, desenvolveu uma forma de praticar a prece de modo a amplificar essa característica, fazendo uma preparação antes de orar. Dá pra conciliar pesquisa científica e trabalho de assistência, com atendimento a espíritos necessitados? Sim, a conciliação entre o interesse da investigação científica e, ao mesmo tempo, a necessidade da prática da caridade, era uma premissa de trabalho de Palhano. A curiosidade vã ou desprovida de aplicação prática espírita não lhe interessava. O que o autor considerava essencial para realizar uma reunião mediúnica de qualidade? Vários requisitos são considerados fundamentais para a boa prática mediúnica. Um dos pontos que ele mais destacava era a formação de um “campo psíquico” coletivo e harmônico entre todos os integrantes do grupo. Ele citava a expressão usada por Kardec, “todo coletivo” (O livro dos médiuns, itens 207 e 324), para ressaltar a importância da sintonia na formação do grupo. Outro fator considerado muito importante era o propósito benevolente do trabalho mediúnico. O movimento espírita, de um modo geral, entende a utilidade

ENTREVISTA de trabalhos como estes? O que Palhano diria se ouvisse que Kardec já disse tudo sobre mediunidade em O livro dos médiuns? Creio que ele diria que os que afirmam isso não entenderam muito bem a doutrina espírita, nem o pensamento de Kardec. “A doutrina não foi ditada completa” (A gênese, cap. 1, item 13). “A doutrina tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação” (A gênese, cap. 1, item 55). Qual a importância das demais obras do Palhano, como por exemplo as de teologia espírita, os dicionários e as biografias? Cada gênero traz a sua contribuição em relação a determinados aspectos. Gosto muito do Dicionário de filosofia espírita (Edições Léon Denis), pelo seu poder de síntese, de captação de definições breves acerca de cada verbete. Compila numa só obra aquilo que está espalhado em dezenas; utilizo-o muito para consultas rápidas. As biografias têm a importância de resgatar e documentar a história do espiritismo. Verdadeiras joias do passado encontram-se submersas há muito tempo, aguardando esse resgate. Ainda não tive muito contato com as obras de Palhano com temática religiosa. Penso que o conhecimento espírita pode dar uma contribuição muito relevante, lançando novas luzes sobre os textos bíblicos. Você também faz parte de grupo de pesquisadores em Vitória, inclusive com trabalhos apresentados no Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo. É um projeto semelhante ao que Palhano desenvolvia na FESPE e no CIPES? O grupo de pesquisa Lampejo tem os seus próprios projetos, mas busca inspiração no trabalho de Palhano. Inclusive, um dos integrantes do Lampejo, Walace F. Neves, atuou na FESPE na década de 1990 e foi coautor de algumas obras com ele. Outra integrante do Lampejo, Luana Souza, foi integrante do CIPES nos anos 1990, atuando também como tradutora em algumas de suas obras. O espírito Palhano comunica-se com o grupo Lampejo, em momentos oportunos, por meio de mensagens mediúnicas. O nome do grupo é uma singela homenagem ao pesquisador: “Lam” (de Lamartine), “P” (de Palhano) e “J” (de Júnior) formam “Lampejo”.

As pesquisas que vocês e outros grupos têm realizado confirmam as conclusões das pesquisas iniciadas por Palhano? Sim, as pesquisas que temos realizado sobre varredura medianímica, evocação de espíritos e terapia do passe têm confirmado os conceitos e premissas dos trabalhos publicados por ele, provando que os seus métodos são práticos, eficazes e replicáveis. No século 19 os fenômenos espirituais atraíram pesquisadores de renome, como Ernesto Bozzano, Cesare Lombroso, William Crookes, incluindo Charles Richet, prêmio Nobel de fisiologia. E hoje? Existe interesse em pesquisas acadêmicas com temas relacionados à realidade do espírito? As pesquisas acadêmicas atuais predominam em torno do subtema “espiritualidade e saúde”. O foco principal não é propriamente investigar a realidade da vida extrafísica, comprovando ou negando a teoria espírita, mas sim como os aspectos espirituais afetam a saúde positiva ou negativamente, principalmente a saúde mental, mas também a orgânica. Isso inclui tópicos como mediunidade, possessão, reencarnação, fé, preces, bioenergias. O NUPES – Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora – é exemplo de grupo acadêmico bem-sucedido dedicado a isso. Não temos no presente superstars como Crookes e Richet atuando nessa área. Isto certamente atrairia mais recursos para financiar os avanços científicos na ciência do espírito. Ainda é preciso uma boa dose de bravura para romper as barreiras do preconceito no meio acadêmico. Os pesquisadores de renome do passado também passaram por isso. Qual a importância desses estudos para o espiritismo? Toda pesquisa que aborde a dimensão espiritual interessa muito ao espiritismo. Seja uma pesquisa acadêmica moderna na área de espiritualidade e saúde, seja um trabalho ao estilo dos pesquisadores psíquicos dos séculos 19 e 20, seja uma pesquisa inteiramente alinhada à doutrina espírita, nos moldes que a FESPE e o CIPES realizavam. Essas contribuições vão ao encontro do pensamento kardequiano de que “a doutrina tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação”.

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LIVROS & CIA. Editora EME Telefone: 19 3491-7000 www.editoraeme.com.br Tão longe, tão perto de Théophile Gautier 240 páginas 14x21 cm

Correio Fraterno Telefone: 17 3524-9800 www.correiofraterno.com.br/livros Educação para a morte de J. Herculano Pires 208 páginas 14x21 cm

Editora Lachâtre Telefone: 11 2277-1747 www.lachatre.com.br A noviça e o faraó – a extraordinária história de Omm Sety de Herminio C. Miranda 256 páginas 16x23 cm

Editora SEP Telefone: 32 3029-1095 www.editora.sepjf.org.br Diálogos espíritas de Ivon (espírito) psicografado por Vinícius Lara organizado por Daniel Salomão e Humberto Schubert Coelho 192 páginas 14x21 cm


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FOI ASSIM

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Os fenômenos de efeitos físicos na minha casa Por CAIO SADAYUKI DE MORAES

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doutrina espírita me trouxe um novo e extraordinário olhar sobre mim mesmo e sobre tudo o que me cerca, mas a forma como a descobri foi um tanto perturbadora. O conhecimento sobre o espiritismo veio depois de uma série de fenômenos de efeitos físicos que presenciei quando morava fora do Brasil. Tudo começou quando decidi sentar-me em repouso por alguns minutos diariamente para respirar fundo e silenciar a mente, que estava cheia de estresse e preocupações.

Em certas ocasiões, ao abrir os olhos, via pequenas ‘fumaças’ no ambiente, que começavam a tomar forma, mas que desapareciam na primeira piscada de olhos. Por vezes, acordava com a voz de uma criança pronunciando meu nome e me dando “bom dia”, com músicas instrumentais lindas tocando em minha mente, as quais nunca havia ouvido em lugar algum. Noutras vezes, eram gargalhadas que ecoavam, principalmente quando eu bebia, com destaque para as batidas e os estalos que eu ouvia. No início, comecei a atribuir os estalos ao frio europeu, mas percebi que eram pontuais, em alturas e locais distintos, no calor, no escuro, no claro, com ou sem visitas, e a qualquer hora do dia. Tendo notado essas coisas, comecei a dar-lhes mais e mais atenção.

Essas ocorrências, apesar de não me assustarem, porque cresci numa família esotérica, começaram a me preocupar num certo dia, que acordei às 4 da manhã com crise de ansiedade, tendo que ser levado às pressas a um hospital da Alemanha. Nesse dia, antes de adormecer, senti que havia como um falatório dentro do meu quarto. Essa foi a única vez que isso aconteceu. Foi aí que resolvi então procurar um centro espírita em Hessen, cuja equipe pegou meu endereço e me disse que isso parecia ser mediunidade, e que havia um espírito antigo no ambiente; e que fariam preces por ele. Depois disso, os estalos foram diminuindo, até cessarem. O grupo evangelizador me orientou a iniciar a leitura de O livro dos espíritos,

a primeira obra espírita que li na vida. Logo me apaixonei pelo espiritismo, não só porque explicava os fenômenos ocorridos em casa com tamanha exatidão, mas porque o livro me respondia a grande maioria das perguntas que eu levava comigo nas viagens. As experiências mediúnicas que tive naquela época foram um divisor de águas na minha vida. Se antes tinha alguma dúvida, hoje posso afirmar para mim mesmo que não estamos mesmos sozinhos, e que existem, em verdade, seres inteligentes ao nosso redor, em comunhão conosco, onde quer que estejamos. Escreva para o Correio. Conte também a sua experiência! redacao@correiofraterno.com.br


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BAÚ DE MEMÓRIAS

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

Zilda Gama A médium dos primeiros clássicos brasileiros Por RITA CIRNE

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Os conselhos de Kardec Yvonne se referia à dedicação de Zilda Gama à doutrina espírita e também aos desafios que soube enfrentar em sua vida. Isso porque Zilda, que nasceu em Juiz de Fora, MG, em 11 de março de 1878, ficou órfã dos pais em 1903, quando tinha 24 anos, tendo que assumir a direção da casa e o cuidado dos cinco irmãos menores. Em 1920, com o desencarne de sua irmã Adélia, também ficou responsável por cinco sobrinhos. Desde 1912, ela já era adepta da doutrina espírita e psicografou mensagens de seu pai e de sua irmã. Ainda nesse ano, psicografou a primeira mensagem assinada por Allan Kardec, quando foi avisada da responsabilidade de sua missão espiritual e da ajuda que receberia para se desincumbir dessa tarefa. Segundo seu depoimento no

que a guiaria através de todas as dificuldades, e seria a sua glória ou condenação – conforme o desempenho que desse aos encargos psíquicos. “Cinge-te de coragem, fé, benevolência, cumpre sem desfalecimento, e sem deslizes, todos os teus deveres sociais e divinos, e conseguirás ser triunfante”, aconselhou o codificador. Obras clássicas pela psicografia Em 1916, foi informada por seus benfeitores espirituais de que iria psicografar uma novela. Zilda psicografou a novela Na sombra e na luz e foi surpreendida com a assinatura do autor: Victor Hugo, o escritor francês do século 19. Com esse autor, ela psicografou ainda Do calvário ao infinito, Redenção, Dor suprema, Almas crucificadas, O solar de Apolo, Na seara bendita. Com essa obra, Zilda Gama foi a primeira médium no Brasil a MUNDO ESPÍRITA

movimento espírita brasileiro deve muito a uma mineira muito especial: Zilda Gama, médium, jornalista, escritora, professora, diretora de escola e defensora dos direitos femininos numa época em que as brasileiras não tinham ainda o direito de votar e a doutrina espírita era muito incompreendida. Mas os livros que psicografou estão aí para comprovar a importância de sua obra, que serviu de exemplo aos médiuns que vieram despois dela, segundo o depoimento de outra grande médium brasileira, Yvonne Pereira. Em 1969, em uma palestra feita como tributo à Zilda Gama meses após o seu desencarne, Yvonne afirmou que os livros dessa médium foram bendito refrigério para os conflitos íntimos que a atormentavam. “Graças a tais leituras, nós mesmos conseguimos compreender e aceitar que nós também tínhamos que arrastar a cruz e responsabilidade semelhante, configurada na literatura mediúnica. A obra dela e os seus exemplos de paciência e dedicação ao trabalho foram o estímulo que nos levou a aceitar o mesmo convite do invisível”.

livro Diário dos invisíveis, de 1929, Kardec afirmou na mensagem que sobre a fronte dela estava suspenso um raio luminoso,

obter do mundo espiritual uma vasta literatura espírita. Na sua vida profissional, foi professora e diretora de escola. Venceu em 1929 o concurso estadual promovido pela Secretaria de Educação de Minas Gerais com um trabalho sobre “Aulas modelos”. Escreveu contos e poesias para várias publicações, como o Jornal do Brasil, a Gazeta de Notícias e a Revista da Semana, todos no Rio. Em 1931, quando houve no Brasil um movimento em defesa dos direitos femininos, Zilda foi autora de uma tese aprovada oficialmente no Congresso Nacional. Esse texto influenciou a Constituição de 1932, quando a mulher teve reconhecido o seu direito de votar. Aos 81 anos, após décadas de trabalho na mediunidade, sofreu um derrame cerebral que lhe deixou sequelas, passando a viver em uma cadeira de rodas e sendo assistida pelo sobrinho Mário Ângelo de Pinho. No dia 10 de janeiro de 1969, desencarnou aos 91 anos. Bibliografia: As mulheres médiuns, de Carlos Bernardo Loureiro, FEB. Jornalista, colaboradora do Grupo Espírita Batuíra e do jornal Valor Econômico.

Curiosidades • O escritor francês Victor Hugo, autor de Os miseráveis, afirmou ao médium Divaldo Pereira Franco que Zilda Gama era a reencarnação de sua filha Léopoldine, que desencarnara aos 19 anos, em Paris, vítima de um naufrágio, no rio Sena. Dedicou a ela vários poemas e foi através de manifestações dessa filha em sessões mediúnicas que ele se voltou para as realidades espirituais. Segundo o jornal Mundo Espírita, publicado pela Federação Espírita do Paraná, a primeira obra psicografada por Zilda e assinada pelo escritor francês,

Na sombra e na luz, que se passa na Europa no século 19, tem Victor Hugo como um dos seus personagens. • No link abaixo, pelo YouTube, é possível ouvir a gravação da palestra promovida por Yvonne Pereira e Newton Boechat em memória a Zilda Gama, em 14 de junho de 1969, na sede da União Espírita Suburbana, no Méier, no Rio de Janeiro: https://www.youtube.com/watch?v=EuKyw2P1Zis


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ESPECIAL

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POR LUÍS JORGE LIRA NETO

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temor da morte permeia a existência de todo sobrevivente. Medo da finitude? Receio da extinção? Incertezas sobre o futuro? Crise existencial? Muitos questionamentos surgem diante dessa certeza do fim da vida material, inspirando o mestre das palavras, Shakespeare, que sintetizou esse temor numa frase: “Ser ou não ser, eis a questão”, induzindo à dicotomia entre o existir ou não existir, ou de viver ou morrer, característico do pensamento humano. Assim se pensa a vida, essa unicidade do existir que leva a temer a morte, juntamente com a força instintiva de sobrevivência, que tanto nos une ao mundo animal. Povos de todas as épocas têm-se defrontado com esse fenômeno natural, desenvolvendo ao longo do tempo sistemas de convivência e sobrevivência, surgido assim, no espaço cultural, os mitos, ritos, espaços e palavras sagradas, traduzidos em religiosidade. Manter contato com o sobrenatural é a forma de desmitificar a morte e com ela se vai o temor, transformando os simples mortais em seres superiores, deuses, semideuses e heróis. À frente dessa realidade da imortalidade, surgem as religiões, institucionalizadas, com seus séquitos e cânones sagrados, dominando o espaço cultural, outrora de livre manifestação, em clausuras que de tempos em tempos tem-se suas rupturas, pois estruturas que primem o livre-arbítrio levam a convulsões.

Nasci, logo comecei a morrer. Como recém-nato, me aproximo da morte. No bem-viver, o temor de morrer. Ao fim, segui com a morte. A morte e os pensadores No campo filosófico o tema morte é suporte para o próprio exercício de filosofar. Vejam Sócrates, que definiu a filosofia como “preparação para a morte”: Sem a morte, seria mesmo difícil filosofar. Vários filósofos citaram célebres frases sobre a morte. Epicuro: “A morte é uma quimera: porque enquanto eu existo, ela não existe; e quando ela existe, eu já não existo”; Michel de Montaigne: “Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade”; Arthur Schopenhauer: “A morte é a musa da filosofia”; Sören Kierkegaard: “O morrer à própria morte significa viver”; Friedrich Nietzsche: “Tudo perece, tudo, portanto, merece perecer!”; Martin Heidegger: “O ser do homem é um ser que caminha para a morte”, Paul Sartre: A morte é “nadificação de todas as minhas possibilidades, nadificação essa que já não mais faz parte de minhas possibilidades”. Da visão filosófica otimista, na qual o ser continua numa vida futura, ao niilismo

em que a morte é a extinção do indivíduo, a morte é algo definido como essencial ao ser.

A morte não é o fim Para fazer contraposição a isso, surge na França do século 19 o espiritismo, doutrina elaborada pelo francês Allan Kardec e os espíritos, que tem por finalidade o estudo da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. A publicação de O livro dos espíritos, em 1857, marcou o início da doutrina espírita classificada como uma filosofia espiritualista. Com várias outras obras publicadas, destacamos O céu e o inferno ou A justiça divina segundo o espiritismo, de 1865. Este livro é composto em duas partes, a primeira é um exame comparado das doutrinas sobre o processo da morte, a vida espiritual e a segunda tem exemplos da situação real dos espíritos durante e depois da morte. Portanto, um duplo estudo comparativo, um conceitual entre as doutrinas pagãs, cristãs de matriz católica e o espiritismo, o outro vivencial, tomando como base as entrevistas com os espíritos, seguindo a classificação da Escala Espírita. Kardec inseriu nesse livro um texto sobre temor da morte no capítulo II da 1ª parte, subdividido em dois assuntos: “Causas do temor da morte” e “Por que os espíritas não temem a morte”, que passamos a analisá-los.


ESPECIAL Causas do temor da morte O autor, ao abordar as causas do temor da morte, parte da premissa (Kardec, 2002, p.33) que “o homem, em qualquer situação social, desde o estado de selvageria, tem o pressentimento inato do futuro. Sua intuição lhe diz que a morte não é a última fase da existência e que aqueles que choramos não estão perdidos para sempre”, propondo que é inato na humanidade o sentimento do futuro pós-morte, sendo uma crença intuitiva em que a morte não é o último termo da existência. No entanto, observou que entre os que acreditam na imortalidade da alma, tantos ainda se apegam às coisas terrenas e sentem o temor pela morte. Em busca de uma resposta plausível, Kardec a encontra nessa assertiva (Kardec, 2002, p.33): “A preocupação com a morte é determinada pela sabedoria da Providência e uma consequência do instinto de conservação comum a todos os seres vivos.” Assim, o temor da morte é efeito da Providência Divina e uma consequência do instinto de conservação, e complementa: “É necessária, enquanto o homem não estiver esclarecido a respeito da vida futura”. As dúvidas sobre a vida futura Com isso, é possível perceber duas constatações: a primeira é que esse temor decorre da noção insuficiente sobre as condições da vida futura, a segunda é que o temor surge da necessidade de viver e do receio de que a destruição do corpo seja a destruição total da individualidade. E conclui que é preciso conhecer o mundo espiritual tanto quanto possível através do pensamento, para ter uma ideia mais assertiva possível deste. Mas, pondera que é providencial não o apresentar sob uma perspectiva muito positiva, pois o levaria a negligenciar o presente. A argumentação continua com a apresentação de quatro causas para a existência do temor da morte. • A primeira trata do aspecto sobre o qual se apresenta a vida futura, que não satisfaz às exigências racionais de “homens de reflexão”, verdades absolutas e princípios que subvertem a lógica, e aos dados positivos da ciência, que só poderiam resultar em incredulidade para alguns e em crença duvidosa para muitos. • A segunda, liga-se ao quadro horrendo da vida futura apresentado pela religião, principalmente as denomi-

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O mundo corpóreo e o espiritual identificam-se em perpétuas relações de apoio mútuo” nações judaico-cristãs, com condenados em torturas infindáveis, almas aguardando orações dos humanos para se libertarem e, para os eleitos, um gozo eterno de beatitude contemplativa. • A terceira, diz respeito às cerimônias nos funerais, que mais aterrorizam, infundem desespero e desesperança. Tudo concorre para inspirar o pavor da morte em lugar de despertar a esperança. • Por último, a imposição de barreiras insuperáveis de relacionamento e de comunicação das pessoas com seus entes queridos que já morreram, colocando entre os mortos e os vivos uma distância imensa, que faz considerar a separação como definitiva e eterna. Por isso, nos leva a preferir uma vida de sofrimento, com as pessoas que amamos, do que viver num céu isolado do convívio delas. Por que o espírita não teme a morte O segundo assunto do capítulo demonstra a percepção dos que assimilam a mensagem do espiritismo sobre a vida futura e, portanto, não se preocupam com a morte do corpo físico. Kardec parte do fato de que a doutrina espírita muda completamente a forma de ver o futuro. A vida futura deixa de ser uma hipótese e torna-se uma realidade, ou seja, os princípios espíritas no porvir transformam a incerteza no futuro pós-morte em certeza da continuidade da vida. Modifica um sistema

arraigado em crenças de desesperança em um sistema de observação da vida espiritual. A realidade espiritual O autor, aqui também, faz duas constatações: de início que a situação das almas após a morte não se explica por meio de um sistema de crenças, mas pelo resultado da observação, que permite conhecer a realidade do mundo espiritual, e que esse conhecimento lhe traz confiança baseada (Kardec, 2002, p.45) “nos fatos que testemunharam e na concordância com a lógica, com a justiça e a bondade de Deus e com as aspirações mais profundas do homem”, concluindo que o temor da morte para o espírita perde a razão de ser, porque ele não tem dúvida sobre o futuro. Então encara a morte com tranquilidade, aguarda-a como uma libertação. Mundo corpóreo e espiritual: perpétuas relações de apoio Kardec extrai dessas informações duas causas que levam o espírita a não temer a morte. Primeiro que ele aprendeu que a alma não é uma abstração, tem um corpo que a faz um ser definido, uma forma concreta, seres viventes, que estão à nossa volta e, segundo, que o mundo corpóreo e o espiritual identificam-se em perpétuas relações de apoio mútuo. O espiritismo detém um conhecimento que mitiga medos e fobias, que consola pelo conhecimento e sentimento. Dele pode-se absorver a confiança e atitude altruísta diante das calamidades e problemas humanos, convictos pelas informações que demonstram a justiça e bondade divina a nos cercar de garantias de uma vida futura de paz e harmonia. O espiritismo venceu a morte! Oh morte! Donde estás? Agora cala-te diante dos fatos irrefutáveis. Transformastes em liberdade, porque conhecemos a Verdade! KARDEC, Allan. O céu e o inferno ou A justiça divina segundo o espiritismo. Tradução J. Herculano Pires e João Teixeira de Paula. 10. ed. São Paulo: Lake, 2002. Escritor, pesquisador e colaborador da Associação Espírita Casa dos Humildes, no Recife, e da Associação Brasileira dos Divulgadores do Espiritismo.


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QUEM PERGUNTA QUER SABER

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Revelações sobre o meu passado Da REDAÇÃO

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eus algumas vezes permite que as existências passadas nos sejam reveladas, conforme o objetivo. Se for para nossa edificação e instrução, as revelações serão verdadeiras e, nesse caso, elas acontecem quase sempre espontaneamente e de modo inteiramente imprevisto. Porém, nunca para satisfação de vã curiosidade – nos orientam os espíritos. Allan Kardec1 insistiu nesse assunto com eles, perguntando por que alguns Espíritos nunca se recusam a fazer esta espécie de revelações. A resposta é bem interessante: “São espíritos brincalhões, que se divertem à vossa custa. Em geral, é preciso considerar falsas, ou pelo menos suspeitas, todas as revelações desta natureza, que não tenham um fim sério e útil.” Eles se divertem lisonjeando a vaidade das pessoas com a revelação de seus preten-

Sei que o esquecimento do passado é necessário. Mas por que Deus permite que às vezes ele nos seja revelado, através de comunicações dos espíritos? Amanda Araújo, pelo site sos antecedentes. Há médiuns e crentes que aceitam por verdadeiro o que eles dizem a respeito, sem notarem que o estado atual do seu espírito em nada tem a ver com a posição que pretendem haver ocupado no passado. Essa pequena vaidade serve de divertimento aos espíritos brincalhões, como também fazem os homens. Seria mais lógico e mais de acordo com a evolução dos seres que eles tivessem subido ao invés de descer, o que aliás lhes seria mais honroso. Para se aceitar essas revelações seria ne-

cessário que fossem feitas espontaneamente, por diversos médiuns desconhecidos entre si e também daquele que primeiro a fez. Então haveria razão evidente para se crer, complementam os espíritos. Kardec continua a perguntar: “Como ainda não podemos conhecer a nossa individualidade anterior, nada podemos também saber do gênero de existência que tivemos, da posição social que ocupamos, das virtudes e dos defeitos que em nós predominaram?”

Os espíritos respondem que isso pode sim ser nos revelado, porque pode servir para nos melhorar. Mas, independentemente disso, estudando o nosso presente podemos deduzir o nosso passado. Vida futura E acrescentam que nada pode nos ser revelado sobre as nossas existências futuras, pois ela será o que determinarmos segundo a nossa conduta agora, na Terra, e as resoluções posteriores, como espírito. Uma coisa é certa: Quanto menos tivermos de expiar, mais feliz ela será. Mas saber onde e como será essa existência, isso é impossível. Salvo no caso especial e raro dos espíritos que só estão na Terra para cumprir missão importante, porque então o seu roteiro é de alguma forma traçado com antecedência. O livro dos médiuns, Allan Kardec, questão 290a. FEB.

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ANÁLISE

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Reflexões sobre a fé na visão espírita Por FERNANDO DE OLIVEIRA PORTO

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oda fé deve produzir frutos, do contrário, não seria fé. Em geral, quando as pessoas pensam em fé, logo lhes vem à cabeça a crença, o quanto são capazes de ‘acreditar’ em alguma coisa. Isso se deve a séculos e séculos de dogmas, teologias e doutrinas que influenciaram o nosso modo de pensar, sentir e agir. O espiritismo nos ensina que a fé é um instinto espiritual, um princípio da natureza, presente em todas as pessoas, quer tenham consciência disso ou não. Em O evangelho segundo o espiritismo1, os espíritos superiores nos ensinam que “a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade”. Por sua vez, Emmanuel na obra Pensamento e vida2, ressalta que a fé “é força que nasce com a própria alma, certeza instinti-

va na Sabedoria de Deus que é a Sabedoria da própria vida. Como podemos observar, embora a fé seja uma concessão divina a todos indistintamente, ela depende totalmente do homem para o desenvolvimento das suas próprias potencialidades. O apóstolo Paulo, em sua segunda

O que disse Herculano Pires Fé cega – “O homem que crê sem indagar, sem compreender nem querer compreender, está sujeito às mesmas dolorosas surpresas daquele que não crê”. Fé e razão – “O ato de crer é emotivo e antecede à razão. A fé nascida da crença é sugestiva e, portanto, emocional. Pode levar-nos à paixão e ao fanatismo, gerando os monstros sagrados dos torturadores e assassinos a serviço de Deus.” Fé espírita – “A fé espírita, como dizia Kardec, é iluminada pela razão, mas a razão espírita é iluminada pela fé, de maneira que não pode ser confundida com a razão cética. Enquanto esta é espiritualmente estéril, a razão espírita é espiritualmente fecunda, abrindo para a mente humana perspectivas cada vez mais amplas de compreensão do homem, do mundo e da vida. A fé espírita é uma conquista racional. Porque o espírita não pode crer pela crença, mas deve crer pela compreensão.” (Redação) Do livro O pensamento de Herculano Pires, de Raymundo Espelho (Ed. Correio Fraterno)

epístola aos tessalonicenses, aponta que a fé não é de todos, pois há homens dissolutos e maus, indispostos, portanto, a uma transformação moral. A teologia interpretou equivocadamente, assim como em outras passagens da escritura, que nem todos estão predestinados à redenção espiritual, como se Deus escolhesse previamente aqueles que seriam salvos. Se fosse dessa forma, e esse não foi o propósito do apóstolo, ao homem não poderia ser atribuído o mérito pelas boas obras que faz e, por conseguinte, não teria o demérito pelo caminho tortuoso escolhido. Onde, então, a justiça? Léon Denis nos esclarece em sua obra

Depois da morte3, no seu capítulo “Fé, esperança, consolações”, que “a fé é a confiança da criatura em seus destinos, é o sentimento que a eleva à infinita Potestade, é a certeza de estar no caminho que vai ter à verdade.” Dessa afirmação, constatamos que a fé é algo que nasce no interior para manifestar-se no exterior. Logo, a fé produtiva – pois há aquela da figueira estéril – significa exatamente que os frutos dão testemunho da árvore, ou seja, se há bons frutos é porque a árvore é boa e, se o coração do homem irradia a fé no Criador e em si mesmo, sua vida será um testemunho desta fé. Portanto, cabe a cada um de nós estimular o brotar dessa fé em nossos corações, como uma verdadeira fonte inestancável de água viva, usando do concurso da oração para nos fortalecermos nessa fé, manifestando-a em ações no bem perante o próximo. Somente assim os frutos do espírito prevalecerão sobre os interesses da carne e nossa vida proporcionará uma colheita de bênçãos na vida de todos. Allan Kardec, capítulo 19, FEB. Psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 6, FEB. 3 FEB Editora. 1 2

Psicólogo, diretor do departamento de atendimento espiritual da USE-SP.


CULTURA & LAZER

Capacitação em pedagogia terapêutica Estão abertas as inscrições para o curso de “Capacitação em pedagogia terapêutica: encontros teórico-vivenciais”. Oferecido numa parceria entre a Universidade Livre Pampédia e a Fundação Elisabeth Kübler-Ross, aberto a professores, educadores sociais, profissionais da saúde e interessados em geral. Encontros semanais por 5 meses, no formato online, sob a coordenação da educadora Dora Incontri (coordenadora da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita). Inscrições: ekrbrasil.com/cursos/pedagogia 1º Encontro Amigo Espírita AGO Será realizado dias 21 e 22 de agosto, na cidade de Juiz de Fora, MG, o Primeiro Encontro Amigo Espírita. O evento contará com a participação de oradores como: Décio Iandoli, Rossandro Klinjey, Suely C. Schubert, Haroldo Dutra, Alberto Almeida, dentre outros. Realização: Rede Amigo Espírita. Local: Trade Hotel Eventos. Informações: redeamigoespirita.com.br

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Links com cursos e entrevistas online • Atualização e formação para acolhedores na casa espírita Do Centro Espírita Allan Kardec, Campinas, SP Acesso: ceak.org.br/ceak/acontece/curso-disponivel-no-canal-do-youtube/ • Esquina do Célia Bate-papo com convidados com Jáder Sampaio Do Centro Espírita Célia Xavier, Belo Horizonte, MG Acesso: youtube.com/channel/UCzuoR1eymBsuaR2EW4h3QzQ/search?query=Esquina%20do%20 C%C3%A9lia • Cursos online sobre a doutrina espírita Do Centro Espírita Nosso Lar, São Paulo, SP Acesso: nossolar.org.br/site/curso-on-line

CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO

Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

O LIVRO DOS ESPÍRITOS Em abril de 1857, O livro dos espíritos e Allan Kardec foram apresentados ao público na Galeria de Orléans, em Paris. O livro falava sobre: A imortalidade da alma A natureza dos espíritos A relação dos espíritos com os homens As leis morais A vida presente A vida futura O porvir da humanidade Tudo isso segundo os ensinos, dados por espíritos superiores através de diversos médiuns recebidos e coordenados por Allan Kardec. Sobre sua elaboração, Kardec registrou: “Da comparação e da fusão de todas as respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes retocadas no silêncio da meditação, foi que elaborei a primeira edição de O livro dos espíritos”. – Allan Kardec

ENIGMA

P O I A R S S T G J H O P E A T A L I D A I R I T O E S A N I D E D A S I N O F U P R M O R A I S S S U D I U I O A R I S M E N S H U M D R D E K A D C E R A Ç Ã O T I S T A S M M R M O R T A L T T U R A E K A R D C L K A O S U P D S H O Ç Ã I L A B S R K I R D H O E D S M E D I T T A A R I P A E S P I T O A L H U M H D M E S P P R Ç L K A R L E A N I M O R Ã A S H O M A N I D A Ç Ã O N M O R I A S T U R A Ã O K L L S U P E R I O R E S A R I F H U M K A R A L L R H O M U O E S I U N S M D D I U M T M Ç Ã O R D E E P R E A P U E R E S A D C A N O N T A R N U R A I U K D E I S L A A S I N U S M E U D S I L L N A K N E C O S A A S N P A R I S I A Ç Ã D M T A O E D T A R P R I E A T A L S D A D E R E S P O S T A S A D E J M E D A L N A D E A R D C P O P R E S E N T E K A R

Quais os principais pilares que sustentam a doutrina espírita? qualquer hora, em qualquer lugar

Resposta do Enigma:

Generalidade e concordância no ensino constituem o caráter essencial da doutrina, a própria condição de sua existência.

AGENDA

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Allan Kardec

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- A gênese (1868)

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O médium

• Curso sobre aprendizagem criativa Da Keep Learning School Acesso: keeplearning.school

Região do ABC Retirada de doações para o Bazar Permanente ligue (11) 4109-8938 Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio


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ARTIGO

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Devotos escandalizados Por MARCO MILANI

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doutrina espírita é um corpo teórico estruturado por Allan Kardec mediante as informações obtidas no intercâmbio mediúnico, seguindo-se um método racional baseado na observação e concordância entre si dos ensinamentos recebidos. É evidente o meticuloso trabalho realizado por Allan Kardec, demonstrando sua capacidade intelectual e nobreza de caráter, angariando o devido respeito, até de contraditores de sua época. Não só por uma questão de humildade, mas também por se tratar de ensino coletivo, Kardec atribuiu aos espíritos a origem da doutrina, mas seu protagonismo é inegável e registrou seu nome na História. Passados mais de 160 anos desde o lançamento de O livro dos espíritos, o movimento espírita mundial segue se fortalecendo, com peculiaridades regionais, mas tendo as obras de Kardec como referência fundamental. No Brasil, o espiritismo adentrou em diferentes segmentos sociais e, como era de se esperar em um país predominantemente católico, muitas pessoas aparentam certo apego a essas tradições. Esse traço se manifesta, principalmente, em alguns novos adeptos espíritas, que de certa forma ainda refletem costumes religiosos institucionalizados e pode perdurar em alguns outros adeptos mais antigos, contribuindo para posturas sincréticas. Um desses costumes é a santificação informal de pessoas que sejam consideradas modelos de caridade e moralmente superiores. Santificação informal O adepto sincrético habituado à intermediação de santos nos acontecimentos cotidianos, mesmo sem usar esse termo, considera-se devoto de Bezerra de Menezes, Chico Xavier, Maria de Nazaré, Allan Kardec e outros. Em momentos de dificuldades, apenas retiram o prefixo ‘santo’ do nome do espírito alvo de sua devoção e a eles dirigem súplicas, não raramente, com promessas de ações futuras, mediante o atendimento de pedidos urgentes. Tal postura devocional não impede que o adepto continue estudando e praticando

Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE-SP) e disponibilizou publicamente o respectivo documento1.

o bem a si e ao próximo, entretanto, o fanatismo disfarçado de devoção pode prejudicar o exercício da fé raciocinada, uma das bases do espiritismo. Falibilidade e fé raciocinada Um exemplo recorrente é o devoto que acha uma heresia questionar o conteúdo da mensagem de algum espírito famoso recebida por um médium igualmente popular, pois o médium ‘filtraria’ qualquer mensagem menos edificante e a comunicação sempre seria de elevado teor moral e verdadeira, mesmo que contrariasse o ensino dos Espíritos apresentados nas obras fundamentais. Outro exemplo de fé cega é a atribuição da infalibilidade ‘papal’ à pessoa de Allan Kardec, de maneira oposta ao que o próprio mestre lionês sempre demonstrou. Com sua honestidade intelectual, Kardec em momento algum desejou que os espíritas o vissem como detentor da verdade absoluta. Ele mesmo revisou e desenvolveu conceitos e aspectos doutrinários já publicados e até retificou afirmações que fizera. Um exemplo é o fenômeno da possessão. Demonstrando o compromisso com a verdade, Kardec afirmou: Dissemos que não havia possessos no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Mudamos de opinião sobre essa afirmativa absoluta, porque agora nos é

demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um espírito encarnado por um espírito errante. (Revista Espírita, dez/1863, “Um caso de possessão: Senhorita Júlia”)

Em 2017, após a publicação do livro O legado de Allan Kardec, por Simoni P. Goidanichi, a obra A gênese atraiu a atenção de diversos pesquisadores que se debruçaram sobre as alterações ocorridas na 5ª edição, publicada após a desencarnação de Kardec. Vários grupos de estudos foram formados para se analisar comparativamente as edições, a fim de se verificar eventuais impactos na compreensibilidade do texto e dos conceitos tratados. Um desses grupos, o qual produziu um relatório sintético sobre as alterações, foi organizado pela União das

Conclusões da análise Dentre os capítulos de A gênese, foram identificados alguns itens cuja edição original foi apontada por parcela dos estudiosos como mais adequada para se abordar aspectos doutrinários do que as respectivas alterações ocorridas na 5ª edição. Outros estudiosos não apontaram diferenças significativas e alguns chegaram a apontar melhorias. No relatório final do grupo de estudos da USE-SP, destaca-se a recomendação para que cada adepto compare e verifique por si mesmo as alterações, sem qualquer imposição de preferência. Interessante fato, entretanto, foi notado. Algumas pessoas se mostraram escandalizadas pela realização de análises comparativas entre as edições, pois para elas, isso macularia a memória de Allan Kardec. Podemos supor que os devotos escandalizados consideram a formação de grupos de estudos comparativos de edições um sacrilégio, pois, para eles, questionar as alterações seria duvidar da infalibilidade papal que atribuem a Kardec. Apesar das resistências, o espiritismo progride e continua incentivando a fé raciocinada e a prática do bem. Sigamos! https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/11/Relatorio-Final-GVE-2020.pdf

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Diretor do departamento de doutrina da USE- SP.


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VOCÊ SABIA?

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ESPÍRITOS

Eles sempre à nossa volta Por IZABEL VITUSSO

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ara dar exemplos de médiuns que possuem ampla capacidade de vidência, com facilidade para enxergar os espíritos que estão no ambiente, Allan Kardec narra no O livro dos médiuns, cap. 141 o que um vidente presencia, ao assistir a uma representação da ópera Oberon, do antigo compositor alemão Carl Weber. O médium descreve que nos assentos vagos espíritos se acomodavam aguardando o espetáculo e que alguns deles se aproximavam dos espectadores, com objetivo de ouvir-lhes as conversações. Ele conta que, ao iniciar a peça, por detrás dos atores, espíritos se divertiam em arremedá-los, imitando os gestos de modo grotesco, enquanto outros pareciam inspirar os cantores, fazendo esforços para eles se tornarem mais vibrantes. O médium observou ainda que próximo de uma das cantoras um espírito se conservava extremamente atento, fazendo-o duvidar de suas intenções. Curioso, o médium o evocou para conversar no primeiro intervalo da peça. O espírito o repreendeu por seu julgamento equivocado. Disse ser o guia espiritual da artista e, depois de conversarem, despediu-se, justificando ter que cuidar de sua pupila em seu camarim. Na sequência, o médium vidente evoca o autor da ópera, Carl Weber, e lhe pergunta sobre a avaliação que fazia da apresentação da sua obra. “Não de todo má – diz ele –; porém, frouxa; os atores cantam, eis tudo. Não há inspiração.” Weber avisa que irá tentar dar um pouco do ‘fogo sagrado’ a eles. E então vê-se pairando sobre o palco como um eflúvio se derramando sobre os intérpretes, trazendo grande vigor ao espetáculo.

CARL WEBER Carl Maria von Weber (1786-1826) músico alemão, foi compositor, pianista e regente. Sua obra introduziu a ópera romântica na Alemanha. Oberon foi seu grande sucesso e estreou no mesmo ano em que ele desencarnou. Ainda neste capítulo, abordando a questão da influência dos Espíritos em nossas vidas, Kardec traz outro fato, onde um médium vidente observa um espírito, dado à diversões levianas, entre os espectadores de outro espetáculo. Em conversa, ele ouve do espírito brincalhão: “Vês aquelas duas damas sós, naquele camarote da primeira ordem? Pois bem, estou esforçando-me por fazer que deixem a sala.” O médium então viu o espírito já no camarote, como a falar com as duas. De atentas que estavam à peça, de imediato, as duas se entreolharam e

se levantaram, deixando o local. “O Espírito nos fez então um gesto cômico, querendo significar que cumprira o que dissera. Não o tornamos a ver, para pedir-lhe explicações mais amplas. É assim que muitas vezes fomos testemunhas do papel que os Espíritos desempenham entre os vivos. Observamo-los em diversos lugares de reunião, em bailes, concertos, sermões, funerais, casamentos etc., e por toda parte os encontramos atiçando paixões más, soprando discórdias,

provocando rixas e rejubilando-se com suas proezas.” O médium comenta que outros espíritos, ao contrário, combatiam essas influências perniciosas, porém raramente eram atendidos. Allan Kardec, capítulo 14, itens 169 e 170, FEB.

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DIRETO AO PONTO

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A sociedade desatenta Por UMBERTO FABBRI

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sem data prevista para acabar. Todavia, o contágio mais pernicioso é o da falta de sentido do coletivo, pois quando descumprimos as orientações sanitárias, motivamos que outros sigam nossos passos, agravando o quadro social e pandêmico. Segundo Emmanuel, na lição 76 do livro Fonte viva1, “um pouco de fermento leveda a massa toda”, ou seja, nossos pensamentos, atos, comportamentos, estimulam ações semelhantes com quem convivemos, seja pessoalmente, virtualmente, ou ainda espiritualmente. Todavia, desatentos, fomentamos nos outros a negatividade com atitudes egoístas, precipitadas, irresponsáveis, quando é perfeitamente possível estando vigilantes, estimularmos a positividade da fraternidade, da renúncia, da responsabilidade, da caridade e amor ao próximo.

omos seres sociais e dependemos uns dos outros. Nos últimos tempos, nunca foi tão importante ter consciência deste fato quanto agora. Na questão 767 de O livro dos espíritos, os benfeitores espirituais afirmam que vivemos em sociedade para atingirmos o progresso nos auxiliando mutualmente, e fica claro que esse progresso é conquistado no convívio social, onde aprendemos e ensinamos o tempo todo, uma vez que nenhum homem dispõe de todas as faculdades, e é pela união social que nos completamos para construirmos o desenvolvimento material e espiritual.

A família O primeiro grupo social é a família. É em seu seio que somos recepcionados e obtemos novas oportunidades de aprendizado moral, de educação para a convivência social. Infelizmente, ainda desatenta, uma grande parcela dos pais não compreende que os valores exemplificados e vividos dentro do lar: o respeito às pessoas, às diferenças, ao meio ambiente; o afeto, a fraternidade, o perdão, a aceitação, a disciplina, a humildade, a honestidade, a paciência, a solidariedade e a tolerância impactam diretamente nossas crianças, que tendem a repetir em sociedade o que recebem dentro do lar e que, desprovidos destes valores, perpetuarão os erros da violência, do desrespeito, do egoísmo, da corrupção, da fome, do desamor, não elevando nosso planeta Terra ao tão sonhado mundo de regeneração. Desatentos à realidade de causa e efeito, persistimos no erro, desejando resultados diferentes, esquecendo que um mundo é considerado em regeneração quando a grande maioria de sua população se esforça por regenerar-se. Nas grandes crises, faz-se urgente o

Quando Jesus nos ensina sobre a importância do amor, inclui a necessidade de desenvolver o amor ao próximo para conquistarmos o reino divino”

A ligação com Deus Quando Jesus nos ensina sobre a importância do amor inclui a necessidade de desenvolver o amor ao próximo para conquistarmos o reino divino. Na lição 71, Emmanuel reforça este ensinamento, dizendo que “o próximo é a nossa ponte de ligação a Deus”. Nossa responsabilidade social é urgente! Estejamos atentos a essas responsabilidades, colaborando efetivamente para sermos elementos positivos e eficientes dentro dos meios de nossa atuação, que podem ser de doação material, exemplos positivos, acolhimento e fraternidade. Que Jesus nos ilumine e abençoe. Psicografia Francisco Cândido Xavier, FEB.

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sentido de coletividade, a consciência de que, metaforicamente, a sociedade é um grande organismo, constituído de células, e que quanto mais células adoecem, mais comprometido o todo, o organismo.

Consciência do coletivo Vivendo esta pandemia há mais de um ano, já podemos perceber que o contágio pelo vírus e, por conseguinte, a morte, a fome, a dor, a insegurança, o medo, a ansiedade, ronda nossas vidas

Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.


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CORREIO FRATERNO MARÇO - ABRIL 2021

MÍDIA DO BEM

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Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Caminhada para recolher o lixo

Arqueólogos encontram novos fragmentos dos Manuscritos no Mar Morto

Violoncelista toca para agradecer após tomar 2ª dose da vacina

Billy Adams, 54 anos, tem uma rotina diária que segue já há alguns meses. Ele faz sua caminhada de 19 quilômetros pela manhã até uma cafeteria em Washington, nos Estados Unidos, e vai recolhendo pelo caminho todo tipo de lixo que encontra pelas ruas e parques da cidade. Billy ficou conhecido como “o homem do lixo”, e disse ao Washington Post que o hábito tem sido imensamente satisfatório para ele. “Quando você vê a sujeira, recolhe e, na volta, vê que está tudo limpo, é uma sensação boa”.

Arqueólogos israelenses encontram no último 16 de março novos fragmentos de um texto bíblico que faz parte de uma coleção de manuscritos judeus descobertos há cerca de 60 anos. As dezenas de pergaminhos, escritos em grego com apenas o nome de Deus destacado em hebraico, foram localizadas em cavernas desertas de Israel, juntamente com moedas raras milenares, um esqueleto de uma criança de 6 mil anos e uma grande cesta datada de 10,5 mil anos, que especialistas acreditam ser a mais velha no mundo.

Yo-Yo Ma, um dos mais renomados violoncelistas, tocou por cerca de quinze minutos sentado em uma cadeira de plástico, improvisando um concerto em centro de vacinação nos Estados Unidos. O artista, nascido na França há 65 anos e de pais chineses, surpreendeu outros pacientes e funcionários do Berkshire Community College, em Massachusetts, segundo trechos de sua apresentação publicados nas redes sociais. “Nestes tempos de ansiedade, quero continuar compartilhando a música que me conforta”, explicou Yo-Yo em um post.

Fonte: Portal R7

Fonte: Repórter MT

Fonte: Portal G1


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