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SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o

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O impacto dos documentos inéditos de Kardec

ISSN 2176-2104

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ENTREVISTA

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Curador do museu virtual Allan Kardec.online, Adair Ribeiro Jr. fala sobre o projeto que reúne cartas, documentos, fotos e obras raras relativos à história do espiritismo e sobre os seus desdobramentos. Leia nas páginas 4 e 5.

Conversa com os espíritos Na teoria e na prática

A

comemoração dos 160 de lançamento de O livro dos médiuns convida a todos nós revermos a questão da nossa relação com os espíritos, já que essa segunda obra da codificação, através de Allan Kardec, sintetiza a teoria e a parte experimental relativa

aos gêneros de manifestações dos espíritos, ao desenvolvimento da mediunidade, e às inúmeras dificuldades que podemos encontrar na prática do espiritismo. Dentre os assuntos que mais nos desafiam nesta interlocução entre encarnados e desencarnados está

Homenagem a Suely Caldas Schubert A reconhecida oradora que retornou à pátria espiritual no mês passado, vitimada pela Covid-19, recebe nossa homenagem e também a de seu neto, o filósofo Humberto Schubert, que fala sobre o que aprendeu com Suely Caldas Schubert. Leia na página 11.

Eurípedes Barsanulfo O médium que também enfrentou uma pandemia e mesmo doente não parou

a atenção e o uso de critérios para sabermos da real seriedade e da coerência entre o que nos é trazido pelos espíritos, em forma de mensagens, estudo, livros, e o conhecimento do espiritismo já consolidado. Leia mais sobre o assunto nas página 8 e 9.

A experiência de um grupo circense rumo ao amadurecimento espiritual.

de atender as vítimas da gripe espanhola, que em 1918 causou a morte de mais de 50 milhões em todos o mundo. Leia na página 7.

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EDITORIAL

CORREIO FRATERNO MAIO - JUNHO 2021

A comunicação com os

C

Uma ética para a imprensa

espíritos

omemorando-se 160 anos do lançamento de O livro dos médiuns, o Especial desta edição traz um tema amplamente abordado por Kardec, a conversa com os espíritos. A comunicação entre encarnados e desencarnados é uma realidade indiscutível para os espíritas, que sabem que o espírito é o mesmo, no corpo físico ou fora dele. Uma das médiuns que muito vivenciou esse intercâmbio foi Suely Caldas Schubert, que desencarnou recentemente. Ela é homenageada nesta edição, inclusive com um depoimento exclusivo de seu neto, Humberto Schubert Coelho. Também entrevistamos nesta edição o curador do Museu Allan Kardec.online, que nos esclarece como estão sendo anali-

sadas as recentes descobertas de documentos e textos da época de Kardec. Como nesses tempos de pandemia todos nós precisamos nos reinventar, as lives invadiram o universo da comunicação nesse período de isolamento social. Assim começou o Papo das 9, com André Trigueiro, que reúne todas as manhãs cerca de 15 mil pessoas, que o acompanham não só pelas informações, mas pela rede de solidariedade que se formou com a iniciativa. Nessa contextualização de pandemia também, trazemos no Baú de memórias a emocionante história de Eurípedes Barsanulfo, que foi também vítima da pandemia da gripe espanhola, que em 1918 causou a morte de 50 milhões de pessoas em todo o mundo.

FALE COM O CORREIO Reflexões sobre a fé Muito boa a matéria sobre a fé. Parabéns ao articulista e ao Correio Fraterno. [“Reflexões sobre a fé na visão espírita”, de Fernando Porto, edição 498]. Célio Alan, Belo Horizonte, MG.

estudar a fundo as obras básicas, pois elas representam a verdadeira filosofia espírita na prática. [“As mensagens mediúnicas nas redes sociais”, de Marco Milani, edição 497]. Sidney Saturnino Silva.

Estudo e discernimento Temos mesmo de ser um tanto críticos diante de algumas mensagens que se intitulam psicografadas. É preciso respeitar e

Tenho visto algumas declarações dando a entender que todos que desencarnam pela Covid estão sendo recebidos com banda de músicas etc, o que é muito diferente do “a

Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências.

Em Quem pergunta quer saber, resgatamos do nosso acervo uma resposta atualíssima do jornalista Deolindo Amorim sobre qual a melhor caridade: a educação ou a cesta básica? No Você sabia, um texto de Kardec sobre a viúva que quase foi despejada não fosse a interferência do ex-marido. Esperamos que você goste desta edição. Como sempre, ela chega até você, leitor, com todo nosso carinho. Boa leitura! Equipe Correio Fraterno

cada um segundo as suas obras”. É preciso estudar para saber discernir os horrores espalhados nas mídias. Mônica Fabbri. Casa apedrejada Em Itaguaí, RJ, em casa de meu pai, aconteceu algo parecido em 1982. [A casa apedrejada por espíritos, edição 497]. Alguém atirava pedrinhas sobre as vidraças e portas durante a noite e não havia ninguém do lado de fora. Após muitas preces de um pastor, ouviu-se um grito estarrecedor e em seguida um silêncio total. Nunca mais ouviram-se pedras sobre as janelas. Emmanuel Lima.

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site correio.news

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118

Presidente: Tania Teles da Mota Vice-presidente: João Sgrignoli Júnior Secretário: Ana Maria Coimbra Tesoureiro: Adão Ribeiro da Cruz Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP

JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Impressão: LTJ Editora Gráfica Telefone: (011) 4109-2939 WhatsApp: (011) 95029-2684

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• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


ACONTECE

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Boa conversa, muito abraço e solidariedade Por ELIANA HADDAD

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empre conectado com as diversas demandas sociais, desde o ano passado o jornalista e escritor André Trigueiro vem realizando um bate-papo descontraído pelo Instagram e pelo YouTube e atraindo um grande público, com uma comunicação leve, solta e interativa, onde aborda temas atuais, num viés ético e acolhedor, permeando muita informação, esperança e proximidade. “O Papo das 9 surgiu sem pretensões, no embalo da pandemia, quando as medidas restritivas viraram realidade e não se imaginava por quanto tempo ainda ficaríamos privados do contato mais próximo com as pessoas queridas e nos adaptaríamos a novas rotinas de trabalho”, explica o jornalista. “Percebi com base nos estudos de prevenção ao suicídio que teríamos o desafio de enfrentar uma pressão psicológica e que era importante promover uma resistência psíquica para suportar o medo da morte e a eventual perda de entes queridos e tantas dúvidas em relação ao que se apresentava tão novo e assustador”, conta Trigueiro. “As coisas foram acontecendo, fluindo espontaneamente, e não demorei muito pra chegar num formato que desde então vem se repetindo todos os dias, sempre às 9 da manhã, refere-se o jornalista, autor pela Correio Fraterno do livro sobre prevenção do suicídio, Viver é a melhor opção, sucesso editorial com mais de sessenta mil exemplares vendidos. Leitura e doações O programa começa com o jornalista abrindo uma página do livro Minutos de sabedoria. Depois da leitura e comentários, é feita a indicação de um livro, uma boa dica de leitura. Também há indicação de instituições que, segundo o autor, mereçam ser apoiadas, com recursos materiais, doações de comida, roupas, doação de sangue, de leite materno, medula... “São muitas instituições que a gente já sugeriu doação e isso

Jornalista André Trigueiro no Papo das 9: informação e rede solidária

é muito bacana, porque as pessoas respondem”, ele explica. Trigueiro lembra também que, por ocasião de um incêndio no pantanal de Mato Grosso, foi realizada no Papo das 9 uma campanha de arrecadação de recursos por meio de compra de livros de sua autoria. O total da venda, cerca de 30 mil reais, foi repassado a duas organizações não governamentais que estavam resgatando animais silvestres acuados pelo fogo naquele bioma. O jornalista acabou formando uma grande rede solidária. No sábado (28/5), por exemplo, indicou um orfanato, em Fortaleza, em situação difícil para pagar as contas. Nas duas primeiras horas após o pedido de doação, a entidade arrecadou 8 mil reais. “É muito legal essa rede de solidariedade do Papo das 9”, comenta, informando que, ao completar um ano de

lives, ficou sabendo que tinha uma rede de WhatsApp chamada Papo das 9. “Ela existe apenas para ajudar instituições indicadas por nós e propagar mensagens edificantes”. A divulgação espírita Faz parte também do formato o jornalista responder perguntas enviadas pelos que o acompanham. “A maior parte diz respeito a questões transcendentais e eu respondo como espírita. O que não me impede de já ter indicado livros de budismo, judaísmo, umbanda, catolicismo. Existe um respeito enorme por todas as manifestações de fé, um grande apreço pelo estado laico, pelo direito de cada um acreditar no que bem entender, ou não acreditar em nada. E tem sido muito interessante a forma como as pessoas me retornam, muitas dizendo que voltaram a se interessar pelo

espiritismo a partir do Papo das 9, que estavam afastadas, por vezes desapontadas ou desiludidas... E eu fico muito feliz de ter esse retorno”, explica o jornalista. Aos domingos, o Papo das 9 é diferente, um espaço de tema especial, escolhido por Trigueiro, através do qual o assunto é abordado em formato de palestra. Neste um ano e meio, os temas abordados foram bem diferenciados: prece, Jesus, Kardec, reencarnação, tristeza, fé, pandemia, desigualdade social, orientação sexual, mediunidade, consumismo. Também foram realizadas jornadas, abordando sequencialmente os livros Viver é a melhor opção, A força do um e Espiritismo e ecologia, de sua autoria. Papo das 9: Instagram (andre_trigueiro) ou YouTube (Andre Trigueiro)


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ENTREVISTA

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O impacto dos

documentos inéditos de Kardec Por ELIANA HADDAD Quantos acervos existem hoje no Brasil sobre Kardec e como estão sendo tratados? Adair Ribeiro Jr.: Há três grandes acervos, compostos basicamente por cartas, manuscritos e documentos. Grande parte deste material veio dos arquivos que Kardec guardou para a posteridade, como relatado em várias oportunidades na Revista Espírita. O primeiro acervo é do Museu AKOL1, que possui dezenas de cartas de diversos períodos da vida de Denisard Hippolyte Léon Rivail (Allan Kardec) e de sua esposa Amélie Boudet; centenas de páginas de manuscritos das sessões espíritas realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas – SPEE; atas de presença dos participantes das reuniões; caderno de sessões espíritas realizadas durante a denominada Viagem espírita em 1862; manuscritos de comunicações de diversos grupos espíritas; documentos da SPEE; fotos de Allan Kardec, Amélie Boudet, P. G. Leymarie e outros; documentos da Sociedade Anônima; provas das gráficas com correções efetuadas por Kardec de várias páginas da Revista Espírita; etc. O segundo acervo encontra-se na França, sob a curadoria de Charles Kempf, presidente da Fédération Spirite Française. O terceiro pertence à família de Silvino Canuto Abreu e está sob a guarda da FEAL – Fundação Espírita André Luiz – no Centro de Documentação e Obras Raras. Através de uma iniciativa conjunta, entre os curadores dos respectivos acervos e a Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, foi criado um portal multilíngue, denominado Projeto Allan Kardec2, inaugurado em setembro de 2020, com o objetivo de divulgar estes acervos, permitindo pesquisas sobre Allan Kardec e suas obras. Os documentos e manuscritos são digitalizados pelos detentores de cada acervo e enviados para a universidade, que efetua a transcrição e tradução,

Adair Ribeiro: A importância da historiografia para a pesquisa e o estudo do espiritismo

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ngenheiro naval, pós-graduado em direito tributário, conselheiro do Instituto Espírita de Educação de São Paulo, pesquisador e curador do museu virtual AKOL – Allan Kardec.online, Adair Ribeiro Jr. conversou com o Correio Fraterno sobre o projeto que reúne cartas, documentos, fotos, manuscritos, além de obras raras relativos à doutrina espírita. através de um grupo de voluntários. Qual a importância da historiografia para a doutrina espírita? A história pode ser entendida como o conjunto de acontecimentos, situações e fatos ocorridos no passado, que existe independentemente do trabalho dos historiadores. Já a historiografia é o produto primário da atividade dos historiadores, constituída essencialmente por textos escritos, trazendo luz sobre acontecimentos históricos, procurando desvendar seus diversos aspectos.

A historiografia se dedica à pesquisa histórica em si e aos critérios de escolha e de coleta de dados, fazendo uso de aspectos metodológicos próprios. Embora o termo historiografia seja recente, Kardec já destacava sua importância, ao reforçar a necessidade de se contar a história do espiritismo. Qual a maior contribuição dos acervos para a história do espiritismo? Os pesquisadores poderão efetuar análises da personalidade dos vários personagens que atuaram no movimento es-

pírita nascente na França, levantar seus perfis psicológicos, verificar e construir os contextos em que se encontravam inseridos nos anos iniciais da codificação. Também, acompanhar a evolução do pensamento de Allan Kardec ao longo da elaboração de toda a codificação, conhecendo melhor a ambiência, pressões e intrigas a que ele foi submetido. A análise dos documentos ajudará a verificar a metodologia utilizada por ele, bem como sua influência no tratamento dos ensinamentos recebidos através das comunicações na Sociedade Parisisense de Estudos Espíritas. Com novas fontes primárias, as interpretações serão mais completas e precisas para a história do espiritismo, reafirmando-a ou fazendo complementações, ou mesmo corrigindo-a. O que revelaram as últimas pesquisas sobre Kardec e o espiritismo? Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas desde 2018, em especial por Carlos Seth. Por exemplo, o levantamento meticuloso sobre os vários médiuns que atuaram na Sociedade Parisiense e na codificação, que propiciou a identificação de muitos destes personagens3. Outra referência é sobre a pesquisa das irmãs Baudin, que culminou com a publicação de um artigo no Jornal de Estudos Espíritas – JEE: A verdadeira identidade das primeiras médiuns utilizadas por Kardec4. Desde 2020, com a criação do museu AKOL, nos aproximamos de Carlos Seth, e através de uma pesquisa colaborativa – juntamente com Luciana Farias do portal obrasdekardec.com.br – ocorreu uma dedicação quase que exclusiva à polêmica hipótese da adulteração da 5ª edição de A gênese. Após diversos posts no Facebook, com as informações que foram sendo encontradas, abrindo a oportunidade para o debate e a contribuição daqueles que nos acompanham, estamos publican-


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do nossas conclusões em uma série de artigos no JEE: “Uma revisão na história da 5ª edição de A gênese”5. Esta pesquisa sugere Allan Kardec como o autor das alterações efetuadas na 5ª edição de A gênese como hipótese mais provável, à partir de uma série de fontes primárias e da localização de um exemplar de uma 5ª edição de A gênese de 1869, na biblioteca da Universidade de Neuchâtel na Suíça. Outra pesquisa conjunta se refere à autoria da 4ª edição da obra O céu e o inferno, publicada após o desencarne de Kardec, cuja hipótese também caminha colocando-o como o autor das alterações encontradas na edição6. Como foram encontrados esses documentos? O acervo do AKOL foi adquirido de Philippe Chigot em 2018, proprietário da centenária Livraria Leymarie, estabelecimento historicamente ligado ao espiritismo no século 19. O da FEAL foi obtido por Canuto Abreu, em Paris, em meados do século 20. O acervo gerido por Charles Kempf, denominado Acervo Forestier, veio através da família de Hubert Forestier, um dos continuadores do espiritismo francês, juntamente com Jean Meyer. Acreditamos que ainda possam existir documentos relativos ao arquivo pessoal de Kardec espalhados em coleções ao redor do mundo. Muito material impresso da época, jornais ou obras publicadas relativas ao espiritismo, está sendo encontrado e disponibilizado a todo momento, através também do trabalho de divulgação de Wanderlei Santos (Autores Espíritas Clássicos), Ery Lopes (portal luzespirita.org.br) e Charles Kampf (spiritisme.net). Avaliam como serão assimiladas essas novas informações? Todo este material propiciará que ocorra uma descrição mais detalhada de muitos acontecimentos durante a elaboração da codificação e do pós-desencarne de Kardec. A mudança de pensamento dos estudiosos, pesquisadores e do movimento espírita em geral não é algo tão simples e natural. A escrita dessa atualização na história e sua disseminação não garantem a rápida assimilação por todos. Por exemplo: mesmo depois de demonstrado que as irmãs Baudin (as médiuns participantes do início da codificação) tinham cerca de 30 anos quando trabalharam em O livro dos espíritos, e que seus nomes eram, na verdade, Caroline e Pélagie, muitos continuam afirmando que elas eram adolescentes e se chamavam Caroline

ENTREVISTA e Julie. Novos fatos devem ser assimilados de forma gradativa. Esta é uma das importantes contribuições que os órgãos de comunicação podem dar. Em termos éticos, como você analisa a revelação de assuntos pessoais de Kardec? O interesse pela biografia de Rivail e demais personagens deve ser pautado sempre por elevados sentimentos morais que devem estar presentes em todos os adeptos do espiritismo, um princípio de nossa própria doutrina. Não verificamos nos documentos que tivemos acesso nada que possa ferir a integridade de ninguém, segundo os costumes da época, ou que possa ser suscetível de violar qualquer regra de conduta ética na sua divulgação. Kardec defendia a necessidade de as gerações futuras terem acesso à memória de pioneiros para que não houvesse “glórias usurpadas.” (Revista Espírita, maio/ 1864). Qual a importância desses documentos para o estudo comparado das obras de Kardec? Contribuir para o estudo comparado foi uma das motivações para a criação do site obrasdekardec.com.br, que compartilha ebooks gratuitos com os textos lado a lado de diferentes edições, em francês e em português. Mas, isoladamente, ele não permite a determinação da autoria de uma obra, que tende a ficar restrita a simples interpretação dos textos, ainda que esta comparação inclua a análise de coerência com as demais obras da codificação, visto que há, no movimento espírita, diferentes entendimentos a respeito de textos de edições sabidamente de Kardec. Por outro lado, a determinação de autoria de uma obra tem um grande espaço e pertinência com a historiografia. Fisicamente, com quem estão esses materiais de acervo histórico? Não se corre o risco de ficarem com acesso restrito? Estão de posse dos respectivos curadores. O que posso informar é que existe, por parte do museu AKOL, a disposição de divulgar todos os documentos de forma gratuita e universal. Isso será feito na medida e na capacidade de transcrição e tradução dos voluntários do Projeto Allan Kardec. Em sua opinião, o que há ainda de mais importante para se revelar? Ainda é muito cedo para dizer. A grande maioria dos manuscritos não foi transcrita nem traduzida.

Esses documentos de acervos diferentes se complementam ou são contraditórios? Excelente pergunta! Esta era uma curiosidade de vários pesquisadores. Do que verificamos, os acervos se complementam. Muitas cartas que se encontram em um acervo possuem suas respectivas respostas em cartas localizadas em outro. Quais pesquisas estão em andamento? Recentemente, terminamos duas pesquisas que serão publicadas em artigos no 16º Enlihpe – Encontro da Liga dos Pesquisadores do Espiritismo (acontece online em agosto). Um artigo trata da versão original e inédita do Catálogo Racional, enquanto o outro aborda o papel de Amélie Boudet na continuidade do movimento espírita pós-desencarne de Kardec. Estamos focados agora no levantamento de dados sobre os fatos ocorridos no movimento espírita francês de 1869 até o final daquele século, com especial atenção à atuação de Amélie Boudet e Pierre Gaëtan Leymarie. Acredita que possa haver maior interesse acadêmico em relação a pesquisas com temáticas espíritas? Assim como Kardec, tenho convicção disso. O que vemos acontecer na Universidade Federal de Juiz de Fora, que possui um trabalho com relação à espiritualidade através do NUPES (Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde), é um caminho que deveria ser seguido por outras instituições. A porta de entrada para a divulgação da doutrina espírita, como já nos ensinava Kardec, passa pelo entendimento da espiritualidade: “Não sendo os espíritos senão as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é a existência da alma…”. É o caminho natural a ser seguido. Pesquisas sobre a comprovação de uma ‘alma’, algo que há em nós além do material, contribuem para este primeiro passo na aceitação do espiritismo também no meio acadêmico. AllanKardec.online e https://www.facebook.com/ allankardec.online 1

http://projetokardec.ufjf.br/

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Estas pesquisas podem ser encontradas no site do AKOL – AllanKardec.online. 3

4 https://drive.google.com/file/d/1ynWEb7JOF_ XFRb3b_6sP5O5M-iLvjenX/view. 5 https://drive.google.com/file/d/1UxW8ihfuXYZg3wc5 k4urKEYeTs5wiDtU/view 6 https://www.facebook.com/allankardec.online/ posts/191193512494540.

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Correio Fraterno Telefone: 17 3524-9800 www.correiofraterno.com.br/livros O pensamento de Herculano Pires de Raymundo Rodrigues Espelho 112 páginas 14x21 cm

Editora Record Telefone: 21 2585-2000 www.record.com.br O cavaleiro preso na armadura de Robert Fisher 112 páginas 13,4x20,4 cm


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FOI ASSIM

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Pedi, se fosse o momento, que ela partisse Por VALQUÉCIA COSTA

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o final de 2012, os meus pensamentos estavam envoltos em um só objetivo: estudar espiritismo. Na época eu não tinha noção de onde vinha aquele desejo iminente de estudá-lo, já que eu não era espírita, não frequentava centro, no entanto, sempre acreditei na existência do plano espiritual e em Jesus. Resolvi dar ouvidos à intuição e comecei a buscar alguma coisa na minha cidade, pela internet. Passei uma semana procurando e nada. Na época, eu estava na faculdade. Naquela mesma semana, quando olhei para um mural de informações no intervalo, vi um panfleto escrito: “ESDE Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, início em fevereiro de 2013”. Tirei uma foto do panfleto, custando a acreditar naquela ‘coincidência’ e fui parar na casa espírita do estudo, onde estou até hoje. Em 2015

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eclodiu minha mediunidade e eu agradeci muito por já estar estudando, o que me ajudou a entender melhor todo o processo. Digo que fui empurrada aos estudos pelos espíritos benfeitores, já que desde a infância tive sinais, como ‘chamamentos’ para isso, mas não dei importância. Lembro-me de certa vez, que eu fazia estágio como técnica de enfermagem em

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um hospital. Cheguei e, antes de subir para minha atividade, passei na capela e orei a Deus, para que comandasse as minhas mãos com carinho para que o atendimento aos pacientes fosse o melhor possível. A minha primeira paciente tinha câncer no estômago e sofria muito. Estava em cuidados paliativos. Eu ainda não era espírita, mas naquele momento, me veio o pensamento

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que os familiares estavam segurando ela na Terra, não a libertavam para que ela partisse. Quando os parentes saíram, coloquei a minha mão na sua testa e fiz uma prece, pedindo a Deus que, se fosse o momento, que ela partisse. Quando terminei a prece, seu tórax parou de subir e descer, médicos tentaram reanimá-la, mas ela partiu. Eu me emocionei muito. Fiquei meio assustada com tudo aquilo, principalmente porque eu havia pedido a Deus para cuidar das minhas mãos. Entendi mais tarde que tinha chegado a hora dela. Que naquele momento, fui utilizada como instrumento para que pudesse auxiliar no seu desligamento. Nesses anos todos, não tem me faltado histórias maravilhosas em minha vivência como espírita, histórias de amor, de superação, de fé e principalmente de transformação interior.

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Adeilson Salles

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

Eurípedes Barsanulfo

também enfrentou pandemia Por RITA CIRNE

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mediúnicos especiais, como na vez em que, após ficar em transe por uns minutos, avisou aos seus alunos que, em desdobramento, acabara de fazer um parto e o marido da senhora a quem ajudara estava chegando para pedir que fosse atender a sua esposa.

Primeira escola espírita do Brasil, fundada por Eurípedes Barsanulfo, em Sacramento, MG, em 1907

ISMAEL TOSTA

á pessoas capazes de gerar mudanças profundas no mundo à sua volta. O mineiro Eurípedes Barsanulfo, também conhecido como o Apóstolo da Caridade, foi um desses homens. E o seu nome vem à nossa mente nos dias atuais quando vivemos as inseguranças e medos causados pela pandemia do coronavírus. Nessa hora, voltamos nosso olhar para o passado e encontramos o testemunho desse espírita, médium incomparável, que foi também vítima da pandemia da gripe espanhola, que em 1918 causou a morte de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Barsanulfo morreu em 1° de novembro de 1918, aos 38 anos de idade, após ser infectado por essa gripe. A sua vida foi um exemplo de coragem, destemor não só contra a pandemia da época, mas contra a ignorância, a perseguição ao espiritismo e na defesa de uma educação alicerçada nos ensinamentos de Jesus. A sua coragem no enfrentamento da gripe espanhola foi um reflexo do que fez ao longo de toda a sua vida: a dedicação ao próximo, que sempre esteve à frente dos seus próprios interesses. Por isso, assim que foi atingido pelo vírus não quis parar de trabalhar no atendimento aos doentes em sua farmácia ou nas visitas aos enfermos em suas casas. Como poderia parar, se a divulgação de suas curas trazia doentes de outras cidades e estados à procura de sua ajuda em Sacramento, onde nasceu e viveu? Mesmo depois de contaminado, com febre alta, cansado, ele continuou receitando através da inspiração do dr. Bezerra de Menezes e orientando o serviço da farmácia até o limite de suas forças. A sua luta contra a perseguição ao espiritismo não foi diferente. Ele cresceu numa família extremamente católica e fundou, por volta de 1900, a Irmandade São Vicente de Paulo. Era autodidata, dava aulas e ajudou a fundar o jornal semanal, Gazeta de Sacramento. Acabou co-

nhecendo o espiritismo através de seu tio Mariano da Cunha, que vivia na fazenda de Santa Maria, onde vários fenômenos, sem explicações aparentes, o levaram ao estudo da doutrina e à criação do Centro Espírita Fé e Amor. Foi em Santa Maria que Barsanulfo recebeu uma mensagem de São Vicente de Paulo, identificando-se como seu protetor e orientando-o a fazer a caridade e a trabalhar na cura, com a ajuda do dr. Bezerra de Menezes. Essa renovação espiritual exigiu de Barsanulfo uma mudança radical. Abandonou a Irmandade São Vicente de Paulo e comu-

nicou a todos que estava abraçando o espiritismo. Foi considerado louco, sendo obrigado a fechar o Liceu Sacramento, colégio que fundou em 1902, onde lecionava. Chegou a ser acusado por exercício ilegal da medicina, mas o processo acabou sendo arquivado, e consequentemente prescrito. Assim, ele continuou curando, fazendo cirurgias, partos, tendo premonições, tratando de pessoas que sofriam de obsessão. Mas se a Igreja o perseguia, Eurípedes tinha a seu lado a força da espiritualidade superior. Além de São Vicente de Paulo, teve uma mensagem de Maria de Nazaré orientando-o a criar uma escola onde, além das matérias tradicionais, daria aulas de Evangelho, à luz da doutrina espírita. Nascia assim, em 1907 o Colégio Allan Kardec, que até hoje é tido como exemplo de educação diferenciada. Essa proteção espiritual aliada à sua vasta e rara capacidade mediúnica – que incluía a faculdade de desdobramento – fizeram dele um homem amado e respeitado pelas curas que fazia de graça. Os seus alunos foram testemunhas de momentos

A família Além da proteção espiritual, o médium contou com o apoio de sua família, principalmente de sua mãe, dona Meca, que extremamente católica, acabou tornando-se também espírita, curando-se das crises e dos desmaios que sofria desde que sua primeira filha nasceu, dada a atuação de um espírito. Junto de seu pai, sr. Mogico, encontrou apoio para realizar sua missão, tanto na criação do colégio, como da farmácia que funcionava ao lado da casa comercial paterna. O pai o incentivou também a atuar na política, e ele, como vereador, ajudou a concretizar os projetos que trouxeram para a cidade a instalação de uma linha de bonde e a construção da Usina Hidrelétrica Cajuru. Por tanto trabalho e merecimento, Barsanulfo foi avisado da proximidade do seu desencarne. Em 25 de abril de 2018, meses antes de se contaminar pela gripe espanhola, o médium, em transe, narrou à sua secretária, dona Amália, um encontro que teve com o seu mentor. Ele lhe mostrou uma estrada longa, que ia da Terra ao infinito e lhe disse: “Meu filho, está terminada a nossa missão na Terra. Estamos atingindo outra esfera”. Bibliografia Eurípedes Barsanulfo o Apóstolo da Caridade, Jorge Rizzini, Correio Fraterno. Eurípedes, o homem e a missão, Corina Novelino, Ide Editora. Dica para saber mais: documentário Eurípedes Barsanulfo – educador e médium (produção de Oceano Vieira de Melo), pelo YouTube. https://www.youtube. com/watch?v=Iz0pdNNYrnM


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ESPECIAL

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Conversa com os

espíritos

Na teoria e na prática com Kardec POR IZABEL VITUSSO

N

este ano, em janeiro, O livro dos médiuns completou 160 anos, lançado por Allan Kardec, em Paris, como complemento de O livro dos espíritos. Segunda obra da codificação espírita, seu conteúdo está voltado ao ensino dos espíritos sobre a teoria e a parte experimental de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do espiritismo. Kardec se referiu à obra como um “repositório de instrução prática”, alertando não se destinar exclusivamente aos médiuns, mas a todos os que estivessem em condições de ver e observar os fenômenos espíritas. O codificador não cansou de chamar a atenção para o fato de a prática do espiritismo ser um ‘campo vasto’, rodeada de dificuldades, nem sempre isenta de inconvenientes a que só o estudo comprometido e completo poderia auxiliar, não se admitindo experiências levianas ou divertimento. “Dirigimo-nos aos que veem no espiritismo um objetivo sério, que lhe compreendem toda a gravidade

e não fazem das comunicações com o mundo invisível um passatempo”, advertiu. Passados 160 anos e o alerta continua fundamental, uma lição inesquecível, como um código de conduta para quem tem compromisso com o trabalho da divulgação do espiritismo, considerando a interação com os espíritos e a responsabilidade na análise e na publicação do material que deles possa vir, em nome da propagação correta da doutrina espírita.

Já no Brasil, nas primeiras décadas do século 20, a produção literária espírita contou com o grande apoio das obras psicografadas, que revelaram nomes de médiuns, como Zilda Gama, Dolores Bacelar, Yvonne do Amaral Pereira, Divaldo Franco, tendo o médium Francisco Cândido Xavier, nesse período, dado grande contribuição, com o legado de mais de 400 obras ditadas pelos espíritos, em grande parte romances históricos, crônicas, coleção de estudos e reflexões sobre mensagens do Evangelho.

Expansão da literatura Pelo crivo da razão é que passaram as incontáveis obras que enriqueceram as bases do espiritismo e auxiliaram no maior entendimento da nova realidade trazida pelos espíritos. Muitos deles, clássicos escritores, como Léon Denis, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano, Camille Flammarion, Albert de Rochas, Amalia Domingos Soler, Cesare Lombroso, Gustave Geley, para citar muito poucos, deixaram sua marca na literatura que se seguiram às obras da codificação.

Ampliando o diálogo Numa dessas publicações, de 1941, Chico Xavier psicografa uma obra até então genuína, com respostas de Emmanuel sobre temas propostos, ideia acatada pelo espírito numa das reuniões do Grupo Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, MG, quando os participantes buscavam ampliar o entendimento sobre os três aspectos do espiritismo. A obra, O consolador, tornou-se uma das referências na literatura espírita, com mais de 400 perguntas sobre temas


ESPECIAL doutrinários. Antes de respondê-las, o mentor espiritual precaveu o grupo de que não seria dele a última palavra sobre os assuntos, e com modéstia colocava-se à disposição para cooperar da melhor forma. Também esclareceu Emmanuel que não se deteria em exames técnicos de questões científicas, ou no objeto das polêmicas da filosofia e das religiões, intensamente movimentados “nos bastidores da opinião”. Sobre o fato de se inquirir os espíritos, Allan Kardec elucida em O livro dos médiuns (questões 286 a 296) que é preciso se ter um fim útil para o intercâmbio e que se deve atentar sempre para “a forma e o fundo”, devendo as perguntas ser redigidas com clareza e precisão, evitando-se questões complexas. Lembrou sabiamente que “é a natureza da pergunta que provoca uma resposta correta ou falsa.” O codificador também disse que as perguntas, longe de serem um inconveniente, são de grande utilidade, do ponto de vista da instrução, “quando se sabe encerrá-las nos limites desejados”.

rumo do próprio movimento espírita, os embates ideológicos e culturais, a mediunidade aplicada ao trabalho em suas mais amplas acepções, temas filosóficos sobre os postulados espíritas à luz da atualidade, e tantos outros, cuidadosamente pensados e apresentados, seguindo a orientação de que fossem bem trabalhadas, pouco ambíguas e compatíveis com a experiência e competência individuais do espírito. Leitura crítica Conscientes da tarefa e com o senso crítico apurado, ao disponibilizar o resultado do trabalho de anos em formato de livro, o grupo faz o convite para que o leitor também exercite a recomendação de uma leitura criteriosa, com o uso do bom senso e da atenção ao ‘método do controle universal do ensino dos espíritos’, que coloca toda informação frente a frente com o conhecimento já consolidado. Ao falar sobre a necessidade da leitura crítica de qual-

É a natureza da pergunta que provoca uma resposta correta ou falsa” Saber questionar Sobre o fato de se organizar em forma de perguntas uma interação mais direta com os espíritos, a Sociedade Espírita Primavera, de Juiz de Fora, MG, lançou em 2019 um livro – Diálogos espíritas – fruto de um trabalho semelhante ao citado e que teve início através do contato, por muito tempo, com o espírito Ivon, em reuniões espíritas. Ele se revelou, durante o extenso convívio, um grande defensor dos princípios filosóficos espíritas, e um expressivo trabalhador, na instrução e no amadurecimento dos grupos em que se fazia presente. O grupo, que tem à frente os organizadores Daniel Salomão, Humberto Schubert Coelho e o médium Vinícius Lara – todos com sólido conhecimento, vivência doutrinária e apurada formação acadêmica –, propôs à entidade questões e problemas atuais da reflexão espírita, como o

quer obra, Daniel Salomão lembra também que, se por um lado há os que aceitam indiscriminadamente tudo o que é admitido como mediúnico, há no outro extremo os que rejeitam todo trabalho psicográfico. “Para alguns, tudo estaria pronto em Kardec”, ressalta o pesquisador, complementando ser esse pensamento contrário à proposta do codificador, que nunca se colocou como único apto, nem pretendeu ter em sua obra o esgotamento do assunto. Salienta também que não há como haver ‘controle universal do ensino dos espíritos’ se textos e possíveis ensinos não forem publicados! “Não é possível encontrar concordância em mensagens que não são lidas e divulgadas responsavelmente. Não devemos temer a mediunidade nos dias de hoje, pois nunca tivemos tanto à disposição para acolhê-la com segurança”, conclui.

Controle universal do ensino dos espíritos

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stava nos planos superiores a nova revelação chegar aos homens por um meio mais rápido e autêntico. Eis porque os espíritos manifestaram-se por toda parte, sem dar a ninguém a exclusividade de ouvir a sua palavra, porque um homem poderia ser enganado, mas não aconteceria assim se milhões deles ouvissem a mesma coisa, o que é uma garantia para cada um e para todos. Os espíritos, comunicando-se por toda parte, seriam aceitos por todos, sem nacionalidade exclusiva e independe de todos os cultos particulares. Esta universalidade do ensino dos espíritos faz a força do espiritismo e também encerra uma garantia contra dissidências que poderiam ser suscitadas, quer pela ambição de alguns, quer pelas contradições de certos espíritos. (Baseado na introdução de O evangelho segundo o espiritismo.)

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Algumas abordagens do livro Poder-se-ia dirigir mais frequentemente questões de caráter científico e problemático aos espíritos de modo ainda mais específico do que se tem praticado? Compreendemos que o desenvolvimento da ciência humana é atribuição dos encarnados, pois que se ancora ao tempo e ao espaço em que se desenvolve, não cabendo aos desencarnados maiores intervenções do que a sugestão intuitiva daquilo que poderia ser mais útil neste ou naquele campo de saber, em relação com o amadurecimento coletivo das populações. Foi assim inclusive, que grandes projetos artísticos e científicos se desenvolveram ao longo da história, mas sempre reservando aos homens a função de protagonistas na evolução do planeta. De que forma devemos aplicar hoje o princípio do ‘controle universal do ensino dos espíritos’? Exatamente da mesma maneira que Allan Kardec, Léon Denis e outros pioneiros do espiritismo o faziam. Inicialmente, entre as atividades mediúnicas da própria instituição, para, em seguida, através do contato salutar com as demais agremiações irmãs, expandir o controle das informações espíritas às raias do que chamamos movimento organizado. Para tanto, todavia, cumpre que a mediunidade seja encarada novamente como parte do corpo de práticas e pesquisas, saindo do campo do tabu religioso e adentrando novamente no espaço da ciência natural de consequências morais. Estando a lei moral escrita na consciência, é da falta de meditação ou da malícia que decorrem os erros dos homens? Os erros decorrem da inércia reencarnatória. Por séculos a mente acumula camadas e mais camadas de hábitos iludidos ao longo das encarnações sucessivas. O ego, que deve ser entendido enquanto estrutura mental consolidada, aprendeu no tempo quais os meios mais eficazes para supostamente fugir do sofrimento, sendo esta a origem das especificidades psicológicas e psíquicas assumidas por cada indivíduo, em busca da manutenção de sua visão de mundo. Diálogos espíritas, org. Daniel Salomão e Humberto Schubert Coelho, Editora Sociedade Espirita Primeira, 2019.


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QUEM PERGUNTA QUER SABER

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Evangelho ou cesta básica? Da REDAÇÃO

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ara responder a essa dúvida, vamos resgatar no nosso acervo uma resposta dada pelo escritor Deolindo Amorim em uma entrevista para o Correio Fraterno em 1979, que mostra a coerência dos princípios espíritas para todas as épocas. “Os dois trabalhos são concomitantes. Assistência social, quando praticada com amor e, portanto, com desinteresse, é uma forma prática de aplicar o que se aprende no Evangelho. É em consequência do ensino evangélico que muita gente parte, de corpo e alma, para o campo assistencial. Evangelizar, à luz do espiritismo, é esclarecer, educar, reerguer moralmente a criatura humana, procurando libertá-la do vício e dos maus sentimentos. Não podemos separar evangelização e assistência social. Claro que se pode dar o ensino evangélico sem fazer assistência social, tanto quanto se pode realizar assistência social sem elucidação evangélica. Mas a pergunta envolve os dois termos. A assistência social – digamos assim – mata a fome do corpo; a evangelização mata a fome do espírito. As duas necessidades coexistem no ser humano. Se é verdade que ninguém resolve o problema de um faminto, há dois dias sem comer, apenas com

Fico sempre me perguntando: O que é mais importante: a evangelização dos corações aflitos ou a assistência social, material? Márcia Nogueira, Tatuapé, São Paulo, SP

uma página evangélica, pois o momento é realmente de alimento material, também é verdade que a alimentação do corpo sem uma lição, sem elucidação evangélica, sem orientação espiritual, termina por transformar-se em rotina, sem a mínima influência na renovação íntima da criatura beneficiada. Não é caso de saber ou dizer qual seja a mais importante realização: evangelizar ou dar assistência social. A evangelização deve vir antes de tudo, a fim de preparar a criatura humana, mas a assistência social se impõe como decorrência daquilo que se ensina, isto é, o amor, a caridade, a solidaridade, enfim.

São áreas de ação consequente, em dois momentos decisivos da vida, isto é, o momento de receber a luz do conhecimento e o momento de receber o alimento que o corpo reclama. Por outras palavras, isto significa simplesmente evangelizar a assistência social, tirando-lhe o caráter de esmola e dando-lhe o sentido certo de solidariedade humana.”

A caridade como princípio universal A máxima “Fora da caridade não há salvação” se assenta num princípio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à suprema felicidade. (...) Consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de consciência. Tendo-a por norma, todos os homens são irmãos e, qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros. Na caridade estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; (...) nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. (Allan Kardec em O evangelho segundo o espiritismo).


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HOMENAGEM

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Até mais, querida Suely Por ELIANA HADDAD nossa gratidão, com vibrações de amor e de luz para a sua nova jornada. Para homenageá-la, convidamos seu neto, o filósofo Humberto Schubert, que

Suely Caldas e a jornalista Eliana Haddad, do Correio Fraterno: carinho e gratidão

melhor que nós saberá expressar todo o amor, exemplos e ensinamentos recebidos durante essa sua existência, numa vida de convívio familiar tão próximo.

O que aprendi com Suely Caldas Schubert

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N

a tarde da quarta-feira (12 de maio), a médium e escritora brasileira Suely Caldas Schubert desencarnou em Juiz de Fora, MG, cidade em que residia, em decorrência da Covid-19, após permanecer dez dias internada, com sintomas de uma pequena gripe. Durante o tratamento, a médium foi diagnosticada com problema cardíaco grave, que acabou se complicando, levando-a a óbito. Natural de Carangola, MG, ela dedicou-se desde muito jovem às atividades espíritas, especialmente no âmbito da mediunidade e da divulgação do espiritismo, sendo uma das fundadoras da Sociedade Espírita Joanna de Ângelis. Desde 1971 atuava ativamente na Aliança Municipal Espírita, exercendo diversos cargos, dirigindo especificamente o departamento de assuntos da mediunidade. Palestrante renomada, tendo realizado palestras e participado de seminários no Brasil e no exterior, Suely é autora de livros como Transtornos mentais, Os poderes da mente, Obsessão e desobsessão: profilaxia e terapêutica espíritas, Testemunhos de Chico Xavier e Entrevistando Allan Kardec, dentre outros. “Suely Caldas Schubert palmilhou

a estrada dos que nesse esforço de elucidação espiritual a precederam, em várias épocas, oferecendo-nos obras clarificadoras do conhecimento mediúnico”, escreveu em 1981 o editor Francisco Thiesen, presidente da Federação Espírita Brasileira, enaltecendo seus livros sobre a obsessão e desobsessão. Suely sempre enfatizava que as obsessões sempre existiram. “Não nos admiramos que isso aconteça e que sua incidência seja cada vez maior, pois sabemos que estamos eivados de sombras, porque ainda trazemos germens da inferioridade, que nos predispõem aos que se erigem em cobradores”. Sempre com um sorriso fraterno, a médium a todos acolhia, mas sua alegria não deixava obscurecer a sua disciplina e seriedade quando o assunto era espiritualidade. Suely também foi articulista do Correio Fraterno e nos concedeu para uma de nossas edições uma entrevista (https:// correio.news/entrevista/espiritismo-com-a-profundidade-que-merece), justamente para falar sobre obsessões e sobre a seriedade que o espiritismo merece. Aqui registramos o nosso carinho e a

m uma vida de convivência com Suely, como parente e como espírita, aprendi a valorizar a constância no trabalho e o senso do dever. É nobre assumir qualquer tarefa sem restrições, mesmo na falta das melhores condições íntimas para executá-la com excelência. O centro espírita é escola, não empresa na competição por resultados, e, embora a eficiência e a ordem sejam fundamentais, não devemos deixar de nos lançar ao trabalho por fazer a pretexto de gostos e disposições. O senso do dever do praticante do espiritismo, de outra parte, é um senso do dever para consigo e para com Deus, e não se confunde com os deveres civis ou expectativas sociais. Com a escritora Suely aprendi a rever exaustivamente um texto, jamais me permitindo satisfazer com minha impressão inicial. Aprendi também a contar com a opinião e visão de muitos, não temendo ou me intimidando com as opiniões contrárias. Escrever é uma arte que ela dominava como poucos, sabendo ser simples, delicada e profunda. Tais características não se aprendem no período de apenas uma vida, mas era belo e muito frutífero observar sua ética de trabalho, sua postura diante do texto, da responsabilidade que ele implica. A médium Suely era das mais sóbrias, das mais controladas e educadas, e com ela aprendi muito sobre a naturalidade do fenômeno, que a mediunidade não é palco ou altar, e que o médium deve diminuir-se para dar lugar aos espíritos comunicantes. Completamente avessa a mistificações e glamorização da mediunidade, entendia o fenômeno como transmissão de comunicação, ainda que dependente das leis de afinidades morais e fluídicas. Não supervalorizava os médiuns e não os distinguia dos desprovidos de mediunidade ostensiva, antes preocupando-se com o empenho e a contribuição que cada tarefeiro em sua esfera de ação ofertava. Do coração de Suely também se podia tirar lições valiosas. A grande valorização da família e dos amigos foi uma lição que tentei aprender. Essa valorização não se traduz como agrados artificiais e festejos, e pode muitas vezes se manifestar como preocupação e firmeza diante do erro ou do vício, pois amar é não ter medo de recomendar o bem e repudiar o mal. De suas biografias e de sua estima pelos muitos amigos e confrades do movimento espírita observava-se facilmente o encantamento com que contemplava as coisas nobres e dignas. Similarmente, o seu coração não tinha lugar para o mesquinho, a baixeza e a intriga. Sem ser ou pretender ser modelo de virtudes ou de ausência de defeitos, ela lutou contra suas más tendências com todos os recursos de que dispunha, e se não superou muitas, ao menos conseguia abafá-las, para que delas não resultasse dano à obra da qual era entusiasmada operária. Humberto Schubert Coelho


CULTURA & LAZER

AGENDA 3º Congresso Internacional – USFF A União Spirite Française et Francophone realizará dias 12 e 13 de junho o 3º Congresso Internacional, com o tema “Oração”, que reunirá 8 oradores e 20 convidados, a participarem de conversas, depoimentos e mesas redondas. Todas as conferências serão traduzidas para francês, português e algumas para espanhol. O congresso será online. Informações: https://cei-spiritistcouncil.com/events/o-3o-congresso-da-usff/

CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO

AGO

Todos os seres e coisas se preparam, considerando as crises que virão. É a crise que decide o futuro. A terra aguarda a charrua.

CVV – Curso para novos voluntários Dia 10 de julho será realizado em formato online o curso para novos voluntários do CVV. Horário: Das 08:00h às 12:00h, Local: PSV Remoto - Google Meet. Whatsapp (21) 96569-7593 ou novaiguacu@cvv.org.

O minério será remetido ao cadinho.

Curso de filosofia espírita Novas turmas para o curso regular de filosofia espírita: “O espiritismo e os filósofos”. Início: dia 3 de agosto. Aulas às terças-feiras, às 9:00 horas, através da plataforma GoogleMeet. Duração: 4 anos. www.ieef.org.br: (11) 4324-1846.

A ave defrontará com a tormenta.

Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo Será realizado nos dias 28 e 29 de agosto, no formato online, o 16º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, tendo como tema central os “160 anos de O livro dos médiuns. Nos encontros, realizados anualmente, são sempre apresentados e discutidos trabalhos de investigação científica sobre a temática espírita, o que tem atraído pesquisadores de todo o Brasil. Realização: USE SP. Informações: usesp.org.br. Email: 16enlihpe@lihpe.net.

O cristão conhecerá testemunhos sucessivos.

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Cursos contínuos e online da FEESP Novo Testamento à luz da doutrina espírita: Terças-feiras: 16:15h ou às 20h.

Inscrições: https://pt.surveymonkey.com/r/estudo-do-novo-testamento-inscricao-2021

O evangelho segundo o espiritismo. Terças-feiras: 18h; e quintas-feiras às 10:45h. https://pt.surveymonkey.com/r/estudo-do-evangelho-segundo-o-espiritismo-inscricao-2021

Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

ENIGMA

CRISES

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A árvore sofrerá a poda. O verme será submetido à luz solar.

A ovelha esperará a tosquia. O homem será conduzido à luta.

Quando pois te encontrares em luta imensa, recorda que o Senhor te conduziu a semelhante posição de sacrifício, considerando a probabilidade de tua exaltação, e não te esqueças de que toda crise é fonte sublime de espírito renovador para os que sabem ter esperança. Emmanuel, Vinha de luz, da lição “Crises”. FEB.

C H R R E R O P L P O M U P O A E R R A S Ã O P I A E R M U E R R S T U M O A T O R E T A V M E N C R I F I C I O V O E E L H A P R R U A C H R T R R A D S T A Ç Ã O T E R I M T Ã I Ç A P E R N A E S P E M E H O M E M E R N E R I O P S A C R A F C R I S E R O E X A O P M V R E X A L R M I N R I S F U I E L H A O V E X A L P I T S E A O N V O Ç Ã O T A X A T O R C C E O E X A L T A Ç Ã O A Ç Ã L T A X P X F U T O T U R F H Ç Ã O Ç Ã O T S E S P E R A N Ç A T O R S O P F U U R T O Ç Ã R X A S A C U F C C O C R E T C E X A T T Ç H O S A N R R O V E H O U A R I V O R I E C R I R R R M E L V A F M E N N M A R O O C A O I T A V A E O U A N Ç D C C P O P E N A A A Ç A O E I C R I V T R M I N E R I O R U A R A N O V A Ç Ã P E P O R T O M E S A P L A M E R A S I H O A M T O L N

Que nome se dá ao grau máximo de emancipação da alma? qualquer hora, em qualquer lugar

Resposta do Enigma:

Êxtase

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No êxtase, a alma penetra num mundo desconhecido, o dos espíritos etéreos (...) Já não resta senão a vida orgânica e percebese que a alma está presa ao corpo por um pequeno fio. (O livro dos espíritos, p. 455)

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Concentração

O livro dos espíritos: Terças-feiras: 16h, quartas-feiras: 20h, quintas-feiras: 9h; sábados: 18h.

https://pt.surveymonkey.com/r/estudo-do-livro-dos-espiritos-inscricao-2021

O interessando poderá iniciar a qualquer momento, marcando 24 horas antes.

Região do ABC Retirada de doações para o Bazar Permanente ligue (11) 4109-8938

Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio


ANÁLISE

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A filosofia espírita no processo de autoconhecimento Por MARIA JOSÉ MARCOS

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esde o início da pandemia, todos estão sendo convidados à reflexão, e escuta-se muito o termo ‘o novo normal’. Neste processo, surpreendem-se pensando sobre quem são, de onde vêm, para onde vão, questões que nos acompanham desde sempre. O processo de autoconhecimento demanda disciplina, estudo, reflexão, e a filosofia espírita propicia isso. Mas, é importante que se diga: nesta caminhada é necessário munir-se de coragem. Um bom exemplo a ser lembrado é Santo Agostinho, que ao decidir pelo processo de autoconhecimento, partiu para dentro de si, se deparando com todas as suas torpezas e mazelas, conforme manifesta em sua obra Confissões. Nessa mesma medida, a grande maioria das pessoas, espíritos milenares, fazendo uso do livre-arbítrio, escolhem uma caminhada calcada em desejos incontidos; desrespeito de toda ordem às leis divinas, afastam-se da origem, que é o Pai. Allan Kardec perguntou (questão 115), em O livro dos espíritos, se os espíritos teriam sido criados alguns bons e outros maus. E obteve como resposta que Deus criou a todos simples e ignorantes, tendo como finalidade chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade. “Os espíritos adquirem esses conhecimentos ao passarem pelas provas que Deus lhes impõe. Alguns aceitam essas provas com submissão e chegam mais prontamente ao seu destino. Outros não conseguem superá-las sem queixas e destarte permanecem, por sua própria iniciativa, distanciados da perfeição e da felicidade prometida.” A resposta dos espíritos à questão 630 de O livro dos espíritos orienta em como distinguir o bem do mal, ao afirmar que “o bem é tudo o que está conforme à lei de Deus, e

o mal tudo que dela se afasta. Assim, fazer o bem é conformar-se com a lei de Deus; fazer o mal é infringir essa lei.” Desse modo, o mal é a privação ou ausência do bem. A perfeição, que enseja a beleza manifestada por meio da inteligência elevada e vasto acervo de valores morais, é conquistada, paulatinamente, a partir das escolhas corretas. O processo de autoconhecimento, no modelo socrático de “Conhece-te a ti mesmo”, assim como na filosofia espírita, passa pela identificação dos defeitos, erros

e limitações aos quais o espírito precisa renunciar para continuar seu processo de ascensão e libertar-se das amarras que o impedem de aprender a amar-se para que possa amar ao próximo como a si mesmo. Afinal, é assim que desenvolve a empatia, a capacidade de identificar no outro algo de si. A doutrina espírita, sob a batuta de Jesus, fornece esse itinerário, na medida em que delineia os passos para se atingir o autoconhecimento. O evangelho segundo o espiritismo ofere-

ce roteiro seguro, podendo-se citar a título de exemplo, seu capítulo 11, “Amar ao próximo como a si mesmo”, o principal mandamento e o maior desafio para os espíritos que fazem parte da comunidade terrestre na atualidade. Mas, como é possível amar o outro se não se ama nem a si? O autoamor é a primeira coisa que o ser humano precisa alcançar para em seguida amar ao seu semelhante. Esse autoamor será conquistado à medida que o ser humano conseguir libertar-se de doenças da alma: orgulho, vaidade, inveja, ciúmes, etc, curando-se para que consigam manifestar sua essência divina e terem condições de amar a si e aos outros. No capítulo 25 do Evangelho, “Buscai e achareis”, ao tratar do tema “Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará”, há uma relação direta com a Lei do Trabalho e Lei do Progresso, explicando-se que o autoconhecimento se processa por meio de um trabalho árduo, diuturno, que não se esgota numa única encarnação. O crescimento é lento, mas constante e ilimitado. Apesar das nossas limitações, é preciso lembrar sempre que não estamos sozinhos nessa abençoada casa planetária. No capítulo 6 do Evangelho, com seu amor infinito, Jesus reiteradamente convida: “Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo”. Seu jugo é a observância da lei de Deus; mas, esse jugo é leve e a lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade. Advogada e estudiosa da filosofia espírita.


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VOCÊ SABIA?

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Marido revela herança à viúva prestes a ser despejada Da REDAÇÃO

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questão dos tesouros ocultos está na mesma categoria da das heranças desconhecidas. Bem louco seria aquele que conteste com as pretendidas revelações, que lhe possam fazer os gaiatos do mundo invisível. Já tivemos ocasião de dizer que, quando os Espíritos querem ou podem fazer semelhantes revelações, eles as fazem espontaneamente, sem precisarem de médiuns para isso. Aqui está um exemplo: Uma senhora acabava de perder o marido, depois de trinta anos de vida conjugal, e se encontrava prestes a ser despejada do seu domicílio, sem nenhum recurso, pelos enteados, para com os quais desempenhara o papel de mãe. Chegara ao cúmulo o seu desespero, quando, uma noite, o marido lhe apareceu e disse

que ela o acompanhasse ao seu gabinete. Lá lhe mostrou a secretária, que ainda estava selada com os selos judiciais, e, por um efeito de dupla vista, lhe fez ver o interior, indicando-lhe uma gaveta secreta que ela não conhecia e cujo mecanismo lhe explica, acrescentando: Previ o que está acontecendo e quis assegurar a tua sorte; nessa gaveta estão as minhas últimas disposições. Deixei-te o usufruto desta casa e uma renda de... Depois, desapareceu. No dia em que foram levantados os selos, ninguém pôde abrir a gaveta. A senhora, então, narrou o que lhe sucedera. Abriu-a, de acordo com as indicações de seu marido, e lá estava o testamento, conforme ao que ele lhe anunciara. O livro dos médiuns, questão 295.

Tesouros escondidos Podem os Espíritos fazer que se descubram a verdadeira riqueza? “Os Espíritos superiores não se ocupam com essas coisas; mas, os zombeteiros frequentemente indicam tesouros que não existem, ou se comprazem em apontá-los num lugar, quando se acham em lugar oposto. Isso tem a sua utilidade, para mostrar que a verdadeira riqueza está no trabalho. Se a Providência destina tesouros ocultos a alguém, esse os achará naturalmente; de outra forma, não.” Que pensar da crença nos Espíritos guardiães de tesouros ocultos? “Os Espíritos que ainda não estão desmaterializados se apegam às coisas. Avarentos, que ocultaram seus tesouros, podem, depois de mortos, vigiá-los e guardá-los; e o temor em que vivem, de que alguém os venha arrebatar, constitui um de seus castigos, até que compreendam a inutilidade dessa atitude. Também há os Espíritos da Terra, incumbidos de lhe dirigirem as transformações interiores, dos quais, por alegoria, hão feito guardas das riquezas naturais.”


DIRETO AO PONTO

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CORREIO FRATERNO MAIO - JUNHO 2021

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O trabalhador do Cristo Por UMBERTO FABBRI

A

quele que trabalha para Jesus muitas vezes não tem ideia da amplitude de sua colaboração, de como sua postura e exemplos podem influenciar e transformar a vida do semelhante. Quando o Mestre nos orienta a pagar o mal com o bem, a fazer ao próximo o que desejaríamos receber, sem dúvida prega o amor, a boa vontade, a tolerância, que são indispensáveis para a harmonia e a boa convivência. Mas, como em todos os grandes ensinamentos, existem desdobramentos que nem sempre conseguimos alcançar. Fazer o bem, auxiliar os que sofrem ou agem de maneira equivocada é trazer a estes corações a possibilidade de progresso pelo aprendizado de outras formas de viver, de enfrentar os problemas, de reagir frente às contrariedades e desafios. Como uma pessoa violenta, que só receba a violência, poderá conhecer outra forma de comportamento? Somente convivendo com os que não têm a violência como norma de conduta poderá aprender a trilhar outros caminhos, por exemplos diferentes. Observando a paciência e a compreensão, aos poucos imprimirá em seu espírito nova realidade que antes não conhecia. Quando pagamos o mal com o bem, da maneira que nos for possível, às vezes

Praticar o bem é grande compromisso que assumimos quando decidimos servir a Jesus” basta não retribuí-lo, podemos influenciar de maneira positiva os que não têm noção de que o bem existe. Praticar o bem é grande compromisso que assumimos quando decidimos servir a Jesus, de maneira a inspirar os que conosco convivem a buscarem desenvolver outras atitudes, mais saudáveis, que lhes tragam benefícios e outro futuro que não seja o do sofrimento. Ensinando por atos, e não só

por palavras, que o amor existe e que somos todos merecedores, dele e da felicidade que encontramos quando o praticamos. Muitos acreditam não terem condições de auxiliar, por se acharem imperfeitos. Entretanto, como poderemos aprender sem praticar? Teriam os espíritos superiores pulado esta etapa de sua evolução? Não foram eles tão ignorantes e simples como fomos ou somos hoje? E como progrediram?

Como conquistaram maior capacidade de amar e de sapiência se não pelo próprio esforço e maior dedicação, apesar de suas limitações? Deus manifesta seu amor também através de nossas mãos, quando, tocados pela necessidade de nossos semelhantes, nos colocamos a ajudar, e a nos preparar para cada vez fazer mais e melhor. Somos os trabalhadores da última hora, aqueles que receberam o chamado há pouco, mas assim como na parábola, se nos dedicarmos com afinco, receberemos o mesmo pagamento, a mesma moeda; nosso progresso e de nosso semelhante. Não só dentro da seara espírita, como em todos os campos de atuação de nossas vidas, podemos ser a personificação do amor de Deus na Terra, realizando o bem que nos seja possível, de boa vontade, com desejo sincero de contribuir para a paz e a edificação do Reino de Deus, primeiro em nós e depois nos corações com quem dividimos a existência. Não foi isto o que nos exemplificou o próprio Cristo? Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.


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CORREIO FRATERNO MAIO - JUNHO 2021

MÍDIA DO BEM

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Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Sargento restaura e doa bicicletas para crianças

Estudantes criam kit e ensinam como montar uma horta

Casal faz bonecas para amenizar solidão de idosas

O sargento da Polícia Militar de Birigui, SP, André Souza, de 41 anos, conserta bicicletas velhas ou paradas e doa para crianças em situação de vulnerabilidade social. De origem humilde, o sargento foi além. Com a ajuda de outras pessoas, ele também doa cestas básicas e roupas para as famílias. Nos primeiros anos do Projeto Minha Bike, André investia todo o seu 13º salário nas reformas, realizava as doações no Dia das Crianças e no Natal. Mas, com tantos pedidos, o projeto tornou-se anual, e conta com doações da vizinhança.

Alunos de Escola Técnica Estadual de Limeira, SP, criaram um kit para estimular a produção sustentável de alimentos e ensinar a fazer um quintal produtivo em casa. O Kit Eco-Nutri, idealizado por Felipe Milk, Fernando Cyrillo e Gustavo Kühl, estudantes do curso de Nutrição, inclui sementes, ferramentas e mudas. O material é acompanhado por um guia de instruções: o Manual acessível da alimentação saudável e sustentável. “Tentamos ensinar mais às pessoas sobre a alimentação”, afirma Milk.

Casados há cinco anos, Caroline Borsato, 29, e Wancler Borsato, 36 mudaram para os Estados Unidos em 2018. Ele trabalha em empresa que presta serviço de reformas nos asilos e, enquanto trabalha, vive arrumando um jeito de alegrar as velhinhas do asilo. Fazer as bonecas costuradas a mão foi a maneira que encontrou de levar alegria para elas. “Deu pra ver no rostinho delas o quanto elas ficaram felizes”, explica o pintor. Antes de se casar, Wancler havia sempre morado com a sua avó Maria, com 96 anos.

Fonte: Portal G1

Fonte: Revista Globo Rural

Fonte: Razões para acreditar


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