Correio Fraterno 500

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CORREIO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o

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J u l h o

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A g o s t o

ISSN 2176-2104

FRATERNO

HERMINIO MIRANDA

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Vida e obra em rara entrevista Uma das poucas entrevistas que o escritor Herminio Miranda concedeu em seus 93 anos de vida foi ao Correio Fraterno. Nesta edição 500, tão especial para nós, é ele quem vem, direto do acervo, nos brindar com sua amorosidade e sabedoria. Páginas 4 e 5.

Manuscritos revelam os bastidores da codificação

A bagagem avariada de Eça de Queiroz O que Eça de Queiroz, um dos maiores escritores portugueses, encontrou do outro lado da vida? Descrente e sempre tratando os fatos relacionados ao espiritismo com grande sarcasmo, o autor do clássico O primo Basílio relata em mensagem, com seu inconfundível estilo literário, tudo o que sentiu e a que conclusão chegou sobre a vida. Na página 11.

O que disse Chico Xavier Em uma série de entrevistas publicadas no Correio Fraterno, o médium mineiro fala sobre cura, doação de órgãos e sobre quem teria sido Chico Xavier. Leia na página 7.

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m minucioso trabalho realizado em documentos históricos do tempo de Allan Kardec começa a revelar como o codificador sistematizava e organizava o material que recebia, dentre eles mensagens, orientações dos espíritos, e que serviu como base para a elaboração das obras da codificação. Essa análise, iniciada por um grupo de pesquisadores, tem como base documentos raros do museu AKOL - Museu AllanKardec.Online, inaugurado há um ano. São manuscritos, correspondências, cadernos de registros, um acervo riquíssimo, preservado por cerca de 160 anos, cujo conteúdo aos poucos se torna do conhecimento do movimento espírita. No Especial desta edição 500, os pesquisadores Adair Ribeiro, Carlos Seth e Luciana Farias nos convidam para uma verdadeira viagem pelos bastidores do trabalho de Allan Kardec. Leia nas página 8 e 9.

Os grandes nomes da literatura mundial e suas incríveis experiências com o além

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500 C hegamos à edição 500 do Correio Fraterno. E não podemos deixar de agradecer e honrar a todos que participaram dessa história nesses mais de 50 anos de divulgação das ideias espíritas. Quando viajamos nos volumes encadernados, cada parada é uma surpresa a mostrar o esforço de tanta gente que se disponibilizou a servir para que o jornal retratasse os principais momentos do espiritismo no Brasil e no mundo, idealistas empenhados em enaltecer a grandiosa obra dos espíritos. Claro que ainda há muito por se fazer – aliás, sempre haverá. E é isso que nos incentiva. Esta edição mostra conteúdos relevantes produzidos por tantos que já passaram por aqui. Herminio Miranda está na entre-

EDITORIAL

EDIÇÕES de informação e entretenimento vista exclusiva que nos concedeu em 1995. Deolindo Amorim faz uma análise sobre a crítica justa como fator de progresso. Resgatamos o que disse Chico Xavier sobre cura, doação de órgãos e sobre quem teria sido em outras vidas. Eça de Queiroz, tema de um Suplemento Literário, conta com seu inconfundível estilo o que encontrou do outro lado da vida. Há também os bastidores descontraídos de uma sessão mediúnica entre os amigos Herculano Pires e Jorge Rizzini. Como passado, presente e futuro se entrelaçam na historiografia do espiritismo, no Especial, estão a pesquisa e as últimas descobertas dos manuscritos de Allan Kardec. Adair Ribeiro, Carlos Seth e Luciana Farias revelam com base nesses documentos o mi-

nucioso trabalho de edição realizado por Allan Kardec para a estruturação do espiritismo, não como simples copista de mensagens recebidas, como muitos ainda imaginam. O sentimento é de imensa gratidão por TODOS que passaram por essas milhares de páginas, defendendo a coerência doutrinária, informando, esclarecendo, divulgando Kardec. Somos realmente eternos aprendizes, formiguinhas cientes da responsabilidade da tarefa e de que bom espírita será sempre aquele que for tocado no coração. Parabéns aos leitores que acompanham essa história! Continuem nos inspirando nessa singela jornada! Boa leitura, Equipe Correio Fraterno

era assinante do jornal. Minha mãe continuou mantendo por muitos anos a assinatura, depois minha irmã e há 17 anos eu assumi o compromisso de dar a continuidade. A partir desde momento, passei a ser também uma leitora assídua. O detalhe é que até hoje mantemos a assinatura em nome do vô Adalberto, que dedicou parte da sua existência aos estudos, às

leituras e às tarefas voltadas ao espiritismo em Pernambuco. Ele educou filhos e netos incentivando-nos à leitura e ao compromisso de continuarmos nossa caminhada com os ensinamentos de O evangelho segundo o espiritismo, como também a ampliarmos o conhecimento, divulgarmos e trabalharmos nessa doutrina. Sony Cléa de Souza Santos, Olinda, PE.

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site correio.news

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118

Presidente: Tania Teles da Mota Vice-presidente: João Sgrignoli Júnior Secretário: Ana Maria Coimbra Tesoureiro: Adão Ribeiro da Cruz Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP

JORNAL CORREIO FRATERNO Fundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel www.laremmanuel.org.br www.facebook.com/correiofraterno Diretor: Raymundo Rodrigues Espelho Editora: Izabel Regina R. Vitusso Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686) Apoio editorial: Cristian Fernandes Editor de arte: Hamilton Dertonio Diagramação: PACK Comunicação Criativa www.packcom.com.br Impressão: Gráfica Tribuna Telefone: (011) 4109-2939 WhatsApp: (011) 95029-2684

Uma ética para a imprensa Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos.

FALE COM O CORREIO O Vô Adalberto e a assinatura do Correio É com muita alegria que compartilho com vocês essa memória em homenagem ao meu avô materno, Adalberto Francisco de Souza. No dia 28 de junho, fiz contato com o Correio Fraterno para renovar a assinatura, exatamente quando se completavam 39 anos da desencarnação do vô Adalberto, que já

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• Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


ACONTECE

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Edição 500 do Correio e o compromisso com a divulgação da ciência, pesquisa e cultura espírita Por ELIANA HADDAD

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empre atento à contextualização do espiritismo e acompanhando o interesse dos leitores, o Correio Fraterno vem há mais de 50 anos acompanhando não somente o movimento espírita, através do registro de informações diversas, mas buscando conteúdos relevantes, que mostrem a presença das ideias espíritas no cotidiano, na vida, na Natureza. Sem proselitismos, numa linguagem atual e liberta, as coberturas de eventos são bons exemplos para se perceber como diversos temas se relacionam e a importância do estudo e da pesquisa nas diversas áreas de conhecimento. Foi assim que nessas 500 edições inúmeros eventos foram registrados, divulgando-se o trabalho de núcleos de estudos que se consolidaram para a divulgação do espiritismo. São passos importantes para que se possa realizar não só o entendimento teórico, mas o incentivo ao progresso, à reforma moral, sabendo-se que essa tão almejada transformação não se dá de forma súbita, mas numa construção de união de esforços e iniciativas, uma vez que o espiritismo não se limita a apenas provar o mundo invisível. Nesta seção Acontece o Correio já abordou também lançamentos de filmes, peças teatrais e novelas com temática espírita, campanhas nacionais importantes, como a da valorização da vida, bienais de livro, e ultimamente pelos impositivos da pandemia, lives, cursos, estudos e outras iniciativas virtuais. Vale ressaltar o acompanhamento do trabalho voltado à pesquisa espírita, tão incentivado nos Encontros Nacionais da Liga de Pesquisadores do Espiritismo. A rede virtual foi criada pelo pesquisador Eduardo Carvalho Monteiro, que desencarnou em 2005, com o objetivo de aproximar estudiosos do espiritismo, dentro ou fora do movimento espírita, para intercâmbio de informações e preservação da memória espírita. O primeiro encontro foi realizado em Goiânia, GO, em 1999, mas a Liga foi, na prática, criada em 2002 com a formação de uma rede virtual que se comunicava por e-mail. Os En-

lihpes inauguraram um novo formato de eventos espíritas, um espaço privilegiado para apresentação e discussão de propostas e trabalhos de investigação científica sobre a temática espírita, atraindo pesquisadores de todo o país. Os trabalhos inscritos, submetidos ao parecer de uma comissão científica, no sistema Double Blind Review, são apresentados pelos autores no evento e, também, reunidos em livro. Já foram publicados 15 livros, em duas coleções, “Espiritismo na Universidade”, seis volumes, com teses e dissertações espíritas, e “Pesquisas Brasileiras sobre o Espiritismo” com os Anais dos encontros. Ao todo, 63 autores já tiveram seus trabalhos apresentados nos Enpihpes, sobre os mais variados temas. Encontro Nacional de 2021 Neste ano, o 16º Enlihpe acontece de forma virtual, em 28 e 29 de agosto, tendo como tema central O livro dos médiuns. Ele contará com uma sessão internacional, apresentada por Julie Beischel (não-espírita) sobre pesquisas com médiuns no Windbridge Research Center, do Arizona, Estados Unidos. As apresentações dos trabalhos poderão ser acompanhadas ao vivo pelos canais do Youtube e do Facebook da USE SP, apoiadora do evento, juntamente com o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa Eduardo Carvalho Monteiro. http://www.lihpe.net

Organizadores e palestrantes do Encontro Nacional de Pesquisadores de 2021

Encontro Nacional de Pesquisadores Veja a programação

Sábado, 28 de agosto 9:00 O livro dos médiuns: origem dos textos e evolução da obra (Luís Jorge Lira e Luciana Farias) 9:40 Mecanismos da mediunidade: Um paralelo entre André Luiz e Kardec (Alexandre Fonseca) 10:40 A loucura sob novo prisma como produção de conhecimento científico (José Daniel Souza) 11:20 Catálogo racional de obras para se formar uma biblioteca espírita: a publicação original comparada a manuscritos e demais versões (Adair Ribeiro Jr., Carlos Seth e Luciana Farias) 14:00 Valorização de Kardec nos trabalhos da LIHPE (Alexandre Fonseca) 14:40 Três conceitos de experiência: o crítico-transcendental, o analítico-pragmático, e o espírita (Humberto Schubert) 15:40 Pesquisas sobre médiuns no Windbridge Research Center (Julie Beischel ) 16:30 A atuação de Amélie Boudet na sucessão de Allan Kardec (Adair Ribeiro Jr., Carlos Seth e Luciana Farias) Domingo, 29 de agosto Painéis 8:10 Alteração da qualidade de vida de integrantes de reuniões mediúnicas após as restrições impostas pela covid-19 (Ricardo A. da Silva, Eliomar Cypriano e Raphael Vivacqua) 8:50 Proposta de pesquisa de mediunidade intervivos (Maurício Mendonça) 9:30 A irradiação mental no tratamento espiritual do transtorno mental (Jaider Rodrigues de Paulo, et al.) 11:00 Uma identificação da causa mortis alegada pelos espíritos comunicantes das cartas psicografadas por Chico Xavier (Carlos Fernandes e Emanuelly Silva)


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ENTREVISTA

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500ª SETEMBRO 1995

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Vida e obra de

Herminio Miranda Por YEDA DA HUNGRIA

Como nasceu seu interesse pela doutrina espírita? Herminio Miranda: Mamãe criou os dez filhos na religião católica. Era uma pessoa de bom senso e inteligente, dotada de razoável formação cultural. Estudou em colégio de freiras. Ela nos ensinava, em casa, a ler e a escrever e, também, um pouco de aritmética. Íamos para o colégio já sabendo um pouco de cada coisa. Dizia-nos que, enquanto estivéssemos sob sua responsabilidade, seríamos católicos, depois disso, que cada um seguiria seu rumo. Comecei a ler na adolescência. Lembro-me da impressão que me causou Schopenhauer, cujas ideias me pareciam brilhantes. Passei a questionar os ensinamentos da Igreja e suas práticas. Um dia, algumas pessoas da família fizeram a clássica reunião mediúnica com o copinho, e me impressionou observar como ele se movimentava, escolhendo as letras e construindo palavras e frases. Por essa época, fui, a trabalho, para os Estados Unidos. Retornei cinco anos depois, decidido a estudar aquele fenômeno. Procurei um amigo que eu sabia espírita, o cel. Euclides Fleury, colega de trabalho na Siderúrgica, que me deu uma pequena lista de livros, a partir das cinco obras básicas da codificação. Ao ler O livro dos espíritos, tive a impressão de que já o conhecia. Anos depois, comentando o assunto com Divaldo Franco, ele me disse que, em encarnação anterior, eu vivera em Paris e até chegara a conhecer Kardec, com o qual estivera pessoalmente, mais de uma vez, propondo-lhe perguntas e trocando ideias com ele. Posteriormente, por certos meios, essa informação me foi confirmada e eu soube que fora um soldado inglês que vivera em Paris entre 1851 e 1866, os quinze anos finais daquela existência. Daí não me ser estranho O livro dos espíritos. O que o levou à produção de livros espíritas? Quando comecei a ler e a estudar a doutrina, senti o impulso de partilhar com os outros as coisas que eu estava aprendendo e que me estavam sendo tão esclarecedoras. Assim, em 1956, arrisquei-me a escrever

fica. O que estou escrevendo, por exemplo, exigirá bastante trabalho. Farei um levantamento detalhado da obra de Fénelon, além de buscar mais amplas informações biográficas a respeito dele, o que não tem sido fácil. O evangelho gnóstico de Tomé foi também obra que consumiu longas horas de estudo e pesquisa. Em Alquimia da mente, foram muitos os apoios de que necessitei para as teorias que nele desenvolvo. Já os livros mais simples, como Nossos filhos são espíritos, dispensam pesquisas de maior vulto, pois tratam de depoimentos mais do que de citações eruditas.

“Gostaria de escrever três ou quatro livros simultaneamente, porque são muitos os temas que me atraem”

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erminio Corrêa Miranda, um dos mais cultos e ilustres escritores espíritas do Brasil, deu ao longo dos seus 93 anos pouquíssimas entrevistas, dentre elas esta, concedida à jornalista Yeda da Hungria, que o Correio Fraterno publicou em setembro de 1995 e agora, resumidamente, trazemos para a 500ª edição do jornal. Herminio Miranda assim se apresenta: Sou uma pessoa sem biografia. Nasci em 1920, em Volta Redonda, RJ, de família modesta. Não tínhamos o supérfluo, mas o essencial nunca nos faltou. Tenho pouca escolaridade formal. Fiz um curso primário muito rápido, compactado em poucos anos. Vim para Minas Gerais porque em Volta Redonda não havia escolas adequadas e muito menos ginásio. Meu padrinho patrocinou-me a instrução em Baependi e, depois, em Caxambu. Em 1933, fui para Barra Mansa, onde cursei o ginásio. Só na década de 1940 cursei contabilidade. Já era casado, com a primeira filha nascida, e trabalhando. Minha escolaridade é apenas essa. O resto é uma curiosidade insaciável de aprender línguas, de ler tudo quanto puder para ampliar conhecimentos. Tornei-me um bom profissional. Entrei para os serviços da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, em 1942, com 22 anos de idade e, de simples auxiliar de escritório cheguei a diretor, em 1967.

um pequeno artigo e o mandei para o Reformador. Publicaram-no. Aquele foi um momento decisivo para mim, porque se a matéria houvesse sido rejeitada, talvez eu me tivesse desencorajado de escrever. De 1958 em diante, durante 22 anos, escrevi para o Reformador. Às vezes, estampavam até três artigos meus no mesmo número. Foi, aliás, por essa época que o dr. Wantuil me sugeriu que adotasse também um pseudônimo. Escolhi o de João Marcus. Em seguida, vieram os livros, que foram tendo boa aceitação1.

Qual o livro que lhe exigiu maior trabalho de pesquisa? Cada livro é uma criança, um filho. Primeiro, a gestação, as dores, o trabalho, as angústias e as alegrias, naturalmente. Um livro que me exigiu muito foi Eu sou Camille Desmoulins, pois decidi confirmar as revelações de Luciano dos Anjos. Eram minúcias, detalhes, problemas miúdos da Revolução Francesa. Foram anos de pesquisas, refletidas na quantidade de notas complementares acrescentadas ao texto básico. Cada livro tem sua pesquisa especí-

Em uma de suas obras são mencionados os manuscritos do Mar Morto, documentos com ensinos dos essênios e que teriam influenciado o pensamento cristão. Em outras, são citados os achados de Nag Hammadi, no Alto Egito, cópias de textos cristãos primitivos. Qual a relação entre esses documentos? Os manuscritos de Nag Hammadi originam-se de uma comunidade reconhecidamente agnóstica. O gnosticismo foi um movimento paralelo ao cristianismo primitivo, ocorrido entre os anos 120 e 240, século 2 e 3, portanto; os do Mar Morto, descobertos em 1947, referem-se a uma seita judaica e seus rituais e procedimentos e, segundo os historiadores, anterior ao cristianismo. Ainda hoje se discute se seus membros eram ou não essênios. Há muito livro bom a respeito disso, como os dos eruditos franceses Charles Guignebert e Maurice Goguel, além de autores mais recentes. Tenho a impressão de haver vivido lá, naquela época; daí porque vagas e imprecisas lembranças me agitam durante a leitura desse material e mexem com minhas emoções. É um tema que me atrai e, como disponho de textos importantes sobre a época, pretendo ainda trabalhá-lo. Não sei, porém, se terei tempo suficiente para escrever um livro a respeito. Anos atrás, eu participava de um grupo mediúnico familiar, no Rio de Janeiro. Numa sessão de regressão de memória, um amigo e eu discutimos a possibilidade de mergu-


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lhar nas lembranças ocultas de cada um de nós, a fim de pesquisar a história do cristianismo primitivo. Esse companheiro me dissera, numa das regressões, que, no primeiro século, eu havia sido judeu e ele, romano. Programamos reunir nossas reminiscências pessoais. Um dos aspectos que eu pretendia estudar era justamente a história dos essênios — quem eram, o que faziam, como pensavam e o que pretendiam. Infelizmente o projeto não foi adiante. A tese, contudo, é válida e espero demonstrá-la um dia, senão desta vez, em alguma existência futura, se isso for permitido. Não creio que o Cristo haja sido um essênio, como especula, entre outros, Édouard Schuré. João Batista, sim, parece tê-lo sido. Os evangelhos canônicos citam superficialmente Tiago e Judas Tadeu como irmãos de Jesus. Determinadas correntes religiosas os consideram primos. O que revelam suas conclusões? Tenho encontrado evidências convincentes de que Jesus teve vários irmãos e irmãs. O assunto é tratado com maior amplitude em meu livro Cristianismo, a mensagem esquecida. Quanto a Judas Tadeu, o problema é complexo, porque os textos gnósticos, escritos em copta [egípcio antigo] colocam Tadeu como irmão gêmeo de Jesus, pois o nome Tomé quer dizer gêmeo, tanto quanto Dídimo (em grego). Em suma, Tadeu, Dídimo, Tomé são nomes aparentemente atribuídos à mesma pessoa. É difícil aceitar, contudo, que Jesus haja tido um irmão gêmeo, a não ser em sentido figurado, como alguém muito ligado a ele, uma espécie de alter-ego. Esse aspecto foi abordado por mim em O evangelho gnóstico de Tomé. Quanto a Tiago Maior, contudo, os textos das Epístolas de Paulo e de Atos dos Apóstolos são claros em colocá-lo como um dos irmãos de Jesus. Quando Paulo e Barnabé foram a Jerusalém, no ano 49, a fim de obter a chamada Carta Apostólica, isto é, a permissão para pregar o cristianismo aos gentios, dispensadas, porém, certas práticas formalistas do judaísmo, a decisão final foi de Tiago, irmão de Jesus, como afirma Paulo, sem rodeios. Ao que tudo indica, trata-se, inquestionavelmente, de irmãos de sangue. As pesquisas nos textos gnósticos originaram o livro O Evangelho de Tomé – título mudado para O evangelho gnóstico de Tomé, na segunda edição. Pretende você escrever sobre os demais textos gnósticos?

ENTREVISTA Sim, existe ainda muito material no volume The Nag Hammadi Library – a tradução em língua inglesa dos textos coptas – que não foi aproveitada em O evangelho gnóstico de Tomé, mas tenho de estabelecer prioridades na ordem dos escritos. Projetos, tenho vários. Gostaria, se possível, de escrever três ou quatro livros simultaneamente, porque são muitos os temas que me atraem, mas há limitações incontornáveis a respeitar. A tradução inglesa oferece material riquíssimo, como os escritos atribuídos a Pedro e a Felipe e a outros trabalhadores da primeira hora. Alguns aspectos podem até ser algo fantasistas, mas precisam ser estudados com vagar, mesmo porque, em muitos pontos relevantes, confirmam passagens evangélicas consagradas nos textos vigentes ou as modificam significativamente. Maria de Magdala, por exemplo, apresenta-se nesses documentos como uma presença muito mais marcante do que a gente poderia supor à vista da relativa descrição dos textos digamos ‘oficiais’ que nos chegaram. Ela era dotada de poderosa mediunidade e exerceu papel preponderante no grupo de pessoas mais chegadas a Jesus. Deveria ser considerada, com todo direito, legítimo apóstolo. É uma figura pelo qual tenho uma grande admiração. Em Cristianismo, a mensagem esquecida escrevi uma página arrancada do fundo do coração, sobre ela. Na sua obra Eu sou Camille Desmoulins, é narrada a regressão de memória com Luciano dos Anjos. Numa das passagens, vamos encontrá-lo em Paris, durante o período da Revolução Francesa. Você lhe solicita uma informação da época e ele, desconhecendo-a, vai a algum lugar buscá-la. Como se explica isso? Recebi, em envelope fechado, uma pergunta, cujo teor Luciano ignorava e que lhe deveria ser feita depois que ele já estivesse em transe. Somente depois de ter ele alcançado esse estado, portanto, abri o envelope e tomei conhecimento do seu conteúdo. Tratava-se de perguntar a Luciano, já regredido à condição de Desmoulins, qual a frase que dissera durante um jantar, com amigos. Ele observou que não se lembrava, pois dissera e escrevera muitas frases de efeito e não sabia a qual delas se referia a pergunta formulada, aliás, por Murillo Alvim, seu amigo pessoal e professor de desenho anatômico. Quis saber, a seguir, se eu julgava importante o atendimento à pergunta. Afirmei-lhe que sim, porque seria um elemento a mais

para conferirmos os dados que ele vinha revelando. Disse-me então: “Espera, que eu vou lá.” Apliquei-lhe mais passes e ele aquietou-se e permaneceu em silêncio por alguns momentos. Em seguida, me disse: “Já estou aqui. O que é mesmo, que você quer saber?”. A partir daquele momento, ele não estava mais se lembrando do ocorrido; ele se encontrava em algum lugar na interseção tempo/espaço, no qual era capaz de resgatar os eventos como se estivessem documentados. Relatou, então, o clima de tensão vivido naquela fase da Revolução, que começava devorar-se a si mesma, destruindo seus próprios líderes. Encontravam-se reunidos num jantar ele, Danton, as respectivas esposas e amigos, todos muito tensos. Dirigindo-se a Danton, lembrou-lhe num versículo da epístola de Paulo: “... comamos e bebamos, que amanhã estaremos todos mortos”. Falou em latim, para que as demais pessoas não percebessem o estado emocional em que se encontravam. Esse é o episódio. Não sei como explicá-lo. Em A memória e o tempo digo que o tempo é também um local. Ambos, tempo e espaço, para mim, têm algo em comum. Para encerrar, gostaria que esclarecesse o conceito de tempo apresentado em seu livro A memória e o tempo. Gostaria muito de poder fazê-lo, mas não me sinto suficiente para isso. Acho que teríamos de sair do contexto de espíritos encarnados em que nos encontramos. Parecem-me conceitos que somente podem ser apreendidos pela intuição; impossível fazê-lo pelo raciocínio lógico, limitador por natureza. Vivemos numa dimensão na qual as coisas são lineares e sequenciais e, pelo que se sabe, no mundo espiritual a visão é substancialmente diversa, como se isso que separamos em momentos – presente, passado e futuro – fossem meros aspectos de uma só realidade atemporal. Reconheço ser muito difícil, para nós, prisioneiros da matéria, entender que não existe passado ou futuro, que tudo isso é uma realidade única, uma espécie de eterno presente de que falam alguns. Seja como for, concordemos ou não, compreendamos ou não, essa é a difícil, mas irrecusável mensagem da profecia, uma sólida realidade que a parapsicologia procurou colocar no nicho classificatório da precognição. Pela Correio Fraterno, Herminio Miranda publicou: A irmã do vizir, O exilado, A dama da noite, As mãos de minha irmã, O que é fenômeno mediúnico?, O que é fenômeno anímico? e Os procuradores de Deus. 1

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LIVROS & CIA. FEAL WhatsApp: 11 99942-7936 www.mundomaior.com.br O céu e o Inferno ou A justiça divina segundo o espiritismo de Allan Kardec traduzido por Emanuel Dutra 448 páginas 16x23 cm

Editora Paideia Telefone: 11 5549-3053 www.editorapaideia.com.br O espírito e o tempo de J. Herculano Pires 400 páginas 16x23 cm

Correio Fraterno Telefone: 17 99736-9800 www.correiofraterno.com.br/livros Mesopotâmia: luz na noite do tempo de Josepho psicografado por Dolores Bacelar 728 páginas 14x21 cm

Casa Editora O Clarim WhatsApp: 16 99270-6575 www.oclarim.com.br A esquina de pedra de Wallace Leal V. Rodrigues 480 páginas 16x23 cm


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LEITURA

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500ª MARÇO 2019

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Quando o escritor nos conduz pela razão e pela emoção Da REDAÇÃO “Estamos cansados de erudição e obscuridade. Pareceu-me chegado o tempo em que problemas vitais devam ser examinados por nós outros, gente como você e eu”

O

s procuradores de Deus, primeiro livro espírita de Herminio C. Miranda (1920-2013), foi lançado em 1967 (edição Calvário). Em 2010, resgatado por Raymundo Espelho em um sebo paulista, a obra mereceu uma edição especial da Editora Correio Fraterno, sendo lançada em junho de 2015. Quando soube do resgate da obra num sebo, Herminio, aos 92 anos, ficou surpreso. Nem ele tinha um exemplar. Ficou feliz com a proposta editorial da Correio Fraterno de relançar o livro, por sua atualidade sobre a história espiritual da Humanidade e a contribuição de Kardec para a vinda do

consolador prometido. Mostrou-se interessado e logo manifestou seu desejo: “Vamos dar uma ‘escovada’ na obra”. Seu pedido fazia sentido quanto à necessidade da atualização da ortografia. Mas o que o autor queria mesmo era reler os conceitos e rever afirmações que fizera como iniciante espírita cinquenta anos antes. Pela coerência que Herminio sempre manteve consigo mesmo, Os procuradores de Deus é obra impecável. Infelizmente, por suas naturais limitações físicas pela idade avançada, o projeto seguiu em ritmo mais lento, não havendo tempo de lançá-lo enquanto ele ainda estava encarnado entre

nós. Mas valeu a pena a espera, sendo uma das obras mais significativas da editora, que tanto se encantou com o conteúdo que o livro mereceu um cuidado visual todo especial, um projeto elaborado mesmo com muito cuidado e com a ‘escovada’ que Herminio tanto queria. Os procuradores de Deus, por seu conteúdo, pelo primor da sua edição, pelo seu significado, é mesmo um presente. Retratando a sadia curiosidade e a incansável busca do homem que não se contenta com simples teorias e dogmas de fé, Os procuradores de Deus consegue abordar numa linguagem simples, como numa conversa informal entre amigos, os temas que tanto afligem o coração, quando se quer respostas precisas para o conhecimento não somente sobre quem somos, mas também como e porque somos. Leitura mesmo imperdível.


BAÚ DE MEMÓRIAS

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

Chico Xavier no arquivo CORREIO

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500ª FEV a DEZ 1997

Da REDAÇÃO

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cia de pouco destaque e nenhum poder ou força. Naturalmente eu era dos menores.”

ntre fevereiro e dezembro de 1997 o Correio Fraterno publicou uma série de artigos e entrevistas realizadas pelo articulista Adésio Alves Machado com Chico Xavier. O médium nunca se esquivava de abordar claramente temas atuais, e relevantes até hoje, baseando-se sempre na doutrina, opinando sozinho ou coadjuvado pelo mentor, Emmanuel. Alguns dos assuntos abordados foram:

PÁTRIA DO EVANGELHO “Chico, como pode o Brasil ostentar esta destinação de ‘coração do mundo, pátria do Evangelho’, quando tem milhares de crianças abandonadas, passando fome, com tanto desemprego, tanta corrupção, tanta miséria física e moral?” Chico Xavier: Meu filho! O fundador do Evangelho foi crucificado; por que vamos esperar privilégio para um país? A verdade é que temos uma visão muito acanhada de evolução e de progresso de uma humanidade. Anelamos e exigimos resultados imediatos, quando eles vão chegando devagar, imperceptíveis, sem a luz do espiritismo. Joanna de Ângelis, na personalidade de Joana de Cusa, no ano 68 da era cristã, deu testemunho de amor ao Cristo, deixando-se imolar e ao filho único para não negar o Filho de Deus. Atitude de uma autêntica mártir. No dia 20 de fevereiro de 1815, na personalidade de abadessa Joana Angélica de Jesus, foi assassinada a golpe de baioneta por soldados que lutaram contra a independência do Brasil. Basta este exemplo para vermos como demora o processo evolutivo.

Chico teria sido Allan Kardec? Sobre a inquirição que vez por outra surgia no movimento espírita (e ainda surge), se ele teria sido Allan Kardec, Chico responde de forma incisiva: “Não, não sou. Não fico bravo, porque digo isso com serenidade. Não sou! Consulto a minha vida psicológica, as minhas tendências. Tudo aquilo que tenho dentro do meu coração, sou eu. Não tenho nenhuma semelhança com aquele homem corajoso e forte que em 12 anos escreveu 18 maravilhosos livros. De maneira que ele exerce sobre mim uma influência muito grande, não por ele, por que não o conheci, mas pelas ideias que deixou gravadas.”

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS Chico, a doação de órgãos não traz sofrimento ao doador? Sempre que a pessoa estiver desapegada das coisas terrenas, de seus interesses, que faz o bem sem aguardar gratidão, se essa pessoa chegou a este grau de evolução, em que a noção da posse não mais preocupa, está em condições de dar, porque seu perispírito não será afetado em coisa alguma.

Não gozassem os doadores da misericórdia de Deus, seria a falência desse processo doativo de órgãos. Quem aventurar-se-ia a doá-los? QUEM FOI CHICO XAVIER Chico, você sabe dizer quem foi em outra existência? Ah... não sei exatamente. Tenho ideias relampejantes, mas não tenho certeza. Devo ter tido uma existên-

A QUESTÃO DA CURA Grande número de enfermos recorre a todos os recursos terrenos e espirituais sem se curarem, o que leva muitos à descrença. O que o Chico poderia dizer a respeito? “Estando a pessoa no merecimento da cura, ela encontrará a cura, tenha fé ou não. Isso em qualquer religião ou em qualquer tempo. O espírito de aceitação é fundamental, tanto para o trabalho do médico da Terra, quanto a trabalho dos benfeitores espirituais. A aflição, a nossa inquietação dificultam a cura. Não esqueçamos que muitas doenças são pedidas por nós antes de nascermos, justamente pra não incidirmos nos mesmos errados do passado. A cura nestes casos é uma ruína para nós, não um benefício”. Chico afirma ainda que estamos sofrendo mais por excesso de conforto do que por excesso de desconforto.


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ESPECIAL

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Manuscritos

Os bastidores do trabalho de Kardec POR ADAIR RIBEIRO JUNIOR, CARLOS SETH BASTOS, LUCIANA FARIAS

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olheando as obras fundamentais do espiritismo e os números da Revista Espírita, encontramos em abundância trechos de mensagens e diálogos com os espíritos. Neles estão contidos exemplos e ensinamentos que fundamentam os princípios da doutrina. A sistematização desse trabalho demandou de Kardec um método e uma organização próprios, percebidos apenas por quem o acompanhava nos bastidores. Desde a sua fundação, há cerca de um ano, o museu AKOL – Museu AllanKardec.Online — atraiu pesquisadores para colaborar em um minucioso trabalho de pesquisa, tendo em mãos documentos raros, ainda desconhecidos do movimento espírita, incluindo manuscritos e correspondências, que nos oferecem acesso a estes bastidores, por serem registros preservados e que dão testemunho deste trabalho. Eles são originários dos arquivos de Kardec, guardados durante décadas. Alguns foram encontrados recentemente na Livraria Leymarie, em Paris, e trazidos para o Brasil. Ao iniciarmos o trabalho nessas fontes, pudemos observar diversos exemplos de como as comunicações dos espíritos eram anotadas, classificadas e trabalhadas por Kardec e como o texto impresso era revisado antes da publicação. Sobre a preparação dos textos para impressão, encontramos ricas informações em uma dessas correspondências. Em uma carta, Kardec descreve a seu amigo Bonnamy alguns dos cuidados que o autor deveria ter ao elaborar os manuscritos a serem enviados para a tipografia e quais os prejuízos de não os observar. Convidamos você agora para uma visita guiada por esses bastidores, em que os itens deste acervo – cadernos de anotações, folhas manuscritas e impressos – descrevem situações reais e, de forma ilustrada, nos auxiliam a contar, de maneira fundamentada, e até mesmo emocionante, um pouco da história do espiritismo.

Capa dos cadernos das sessões da SPEE

Artigo na Revista Espírita - Destaques para o título (acrescentado por Kardec no topo do manuscrito) e o M. X, cujo nome aparece no manuscrito

Como as comunicações eram recebidas e documentadas O aproveitamento das comunicações com o mundo espiritual na composição dos textos era essencial, uma vez que respaldava o método experimental adotado por Kardec. Sua aplicação incluía coletar, selecionar, classificar e analisar as inúmeras mensagens recebidas. Semanalmente, os Espíritos se comunicavam com os encarnados em sessões fechadas, realizadas às sextas-feiras, às 20 horas, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. As perguntas endereçadas a eles e as respostas recebidas eram registradas, assim como as comunicações espontâneas. Comunicações obtidas por médiuns


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texto original e indicar as devidas correções, podendo também efetuar melhorias no texto, se necessário. No exemplo do artigo “Os pobres e os ricos”, da Revista Espírita de outubro de 1861, a folha impressa foi enviada para ser revisada por Kardec antes da publicação no periódico. Nela, ele inseriu o título e assinalou alguns pontos a serem corrigidos, seguindo os códigos para revisão de textos utilizados até hoje. Só após a revisão das provas tipográficas o autor autorizava a impressão de uma quantidade de exemplares para venda. Anotações à esquerda: Sra Lescot. Dezembro 1860. Lido na Sociedade. Copiar para a Revista. A mensagem foi realmente publicada na Revista Espírita de janeiro de 1861 como: “Estudos espontâneos dos espíritos: A garridice”. Na Revista Espírita, através do trabalho de pesquisa, descobriu-se que o nome da médium Lescot sempre aparece escrito como sra. Costel

As padronizações de Kardec As páginas manuscritas ilustram o padrão instituído por Kardec para registrar e classificar essas comunicações: • Do lado esquerdo, há uma margem de cerca de cinco centímetros. • Uma linha horizontal divide os textos das comunicações em uma mesma página. • Dentro desta margem, no alto, são registradas diversas informações, como: o local e a data em que foi realizada a sessão, o nome do médium e se foi uma comunicação lida na sessão. • Em algumas, aparece a indicação da publicação em que será veiculada. Por exemplo: copiar para a Revista Espírita. • Em algumas comunicações, na sequência, consta uma classificação: B (bom), TB (Muito bom) ou TTB (Muito, muito bom), aparentemente para a qualidade do conteúdo dos ensinamentos. • A margem também era utilizada por Kardec para acréscimo de texto na comunicação original. • No corpo da página, aparece no topo um título para a comunicação. • Nas comunicações assinadas, o nome do espírito aparece ao final.

em outros centros também chegavam à Sociedade, por meio de cartas. Todos estes registros eram utilizados como base para o estudo das manifestações, sendo deles extraídos os ensinamentos a serem organizados e divulgados. Um caderno com anotações das sessões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, entre dezembro de 1860 e janeiro de 1861, apresenta as comunicações dos espíritos em ordem crescente de data, e está totalmente preenchido com a caligrafia de Kardec. Ao que tudo indica, ele contém as transcrições das psicografias recebidas pelos médiuns. Nos anos posteriores, folhas soltas com as comunicações, nas caligrafias dos médiuns e de Kardec, foram arquivadas em pastas, cada uma com um tema específico. Mediunidade, educação, manifestações, dissertações espíritas e notas diversas são alguns exemplos de temas usados para

classificação. Há dúvidas se Kardec mantinha a transcrição no caderno e os originais em pastas ou se ele mudou a forma de organização ao longo do tempo. Uma comunicação revisada por Kardec e publicada na Revista Espírita O artigo “Regeneração dos povos do Oriente”1, da Revista Espírita de novembro de 1868, contém a comunicação de Clélie Duplantier, em 18 de setembro, que chegou em decorrência de uma carta recebida de um correspondente da Síria sobre o estado moral dos povos do Oriente e os meios de cooperarem em sua regeneração, descrita na introdução do artigo. O manuscrito, com a caligrafia do médium Desliens, traz também a caligrafia de Kardec, indicando sua revisão, com alterações e inclusão de um título. O texto também foi por ele selecionado para publicação, e sua versão final apresenta todas as alterações realizadas, além de outros ajustes. Sabemos que Kardec costumava omitir nomes e focar mais no conteúdo do que nas palavras das mensagens recebidas. Na transcrição dessa comunicação para a Revista, observa-se que Kardec retira o nome do médium e ainda altera o nome do sr. Constant para sr. X. Preparação dos manuscritos e a revisão das provas de impressão A tecnologia utilizada para impressão no século 19 impunha um maior envolvimento do autor para que o texto final refletisse o que ele havia escrito. Kardec elaborava um manuscrito com o texto final a ser publicado, que deveria ser redigido de maneira legível e correta, do contrário a correção de provas poderia ser difícil e exigir um alto custo de retrabalho. Kardec viveu essa experiência ao ajudar Bonnamy a elaborar os manuscritos finais da obra La raison du spiritisme (A razão do espiritismo, publicada em 1868), fato que ele relembrou em uma carta de 13 de outubro de 1868. Ao receber o manuscrito, o tipógrafo preparava manualmente todas as páginas de impressão, primeiro ordenando em linhas os caracteres móveis que formavam cada palavra, inclusive os espaços entre elas, e em seguida juntando as linhas até obter uma página, atento à diagramação e à numeração de cada uma. Uma prova era, então, impressa em um prelo, folha a folha, para ser revisada pelo autor, que deveria conferir se a montagem feita pelo tipógrafo correspondia ao

Acesso à informação detalhada e segura O século 21 está sendo bastante frutífero para os historiadores. O acesso a uma parte do acervo de cartas, manuscritos e documentos pessoais de Kardec possibilita a eles descrever uma história mais completa e detalhada do espiritismo, fundamentada nos registros dos eventos, fontes documentais seguras e fidedignas. Neste rápido passeio pelos documentos preservados, pudemos conhecer exemplos reais do trabalho de Kardec e sua participação ativa como pesquisador, autor e editor. Sem os recursos tecnológicos da atualidade, ele estruturou não só a doutrina, mas também a ciência espírita, como suporte para melhor aproveitar o diálogo com os seres invisíveis e, em coautoria com os espíritos, instituir e divulgar o espiritismo. Este era Kardec, na busca constante pela excelência do seu trabalho. Referências: 1 Manuscrito inédito de A. Desliens: “Regeneração dos povos do Oriente”, carta de Kardec a Bonnamy. Para mais informações, consulte os sites AllanKardec.Online, obrasdekardec.com.br e a página do Facebook CSI - História do Espiritismo. 2

(Todas as imagens de manuscritos e impressos foram obtidas dos originais, pertencentes ao acervo do museu AKOL)

Prova de impressão do artigo “Os pobres e os ricos” - com correções na letra de Allan Kardec


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FOI ASSIM

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500ª OUTUBRO 1980

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Uma sessão com Herculano Pires Por JORGE RIZZINI

Herculano Pires

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a casa de Herculano Pires, vez por outra, fazíamos sessões íntimas. Eu e ele, apenas. E manifestavam-se espíritos muito queridos, como Cornélio Pires (primo de Herculano), Guerra Junqueiro, Carmen Cinira. Em uma dessas sessões vi os espíritos Pedro Granja, autor do livro Afinal, quem somos, e Carlos Imbassahy, este último grande mestre na arte de escrever e no conhecimento doutrinário. Uma profunda amizade sempre nos uniu. Contei a visão ao Herculano, que logo se mostrou entusiasmado

por poder conversar com ambos. Concentrei-me, mas não conseguia entrar em transe, mesmo pedindo a intervenção do meu mentor espiritual, Manuel de Abreu. – O que está acontecendo? – perguntou-me o Herculano em voz baixa. Respondi: – O Granja está no canto direito da sala e quem vai dar a mensagem é o Imbassahy! Eu prefiro o transe, mas o Imbassahy insiste em fazer uso da telepatia, não sei por quê... Estamos nesse impasse! Prefiro o transe,

porque dá mais segurança. – Mas, se ele prefere a telepatia... Ao final de alguns minutos as respostas às perguntas do Herculano foram transmitidas por via telepática. Dias depois, disse-me o Herculano que havia enviado uma carta ao filho, Carlos de Brito Imbassahy, narrando o fato, e que esse respondera que seu pai, em verdade, costumava dizer que um espírito lúcido, para comunicar-se, não necessitava pôr o médium em transe. Afinal, não existe a telepatia entre mortos e vivos?

Jorge Rizzini


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LITERATURA

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A bagagem avariada de

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500ª SETEMBRO 1980

EÇA DE QUEIROZ Por JÚLIO CÉSAR DE SÁ RORIZ

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m 1906, através da mediunidade do português Fernando de Lacerda1, o escritor Eça de Queiroz (1845 – 1900) faz um balanço sobre o que sentiu ao enfrentar a realidade da vida espiritual, fato que sempre levara com muita ironia e sarcasmo. Ele diz: “Quando atravessamos a ponte de Caronte, ao encontrarmo-nos do outro lado, somos irresistivelmente levados a balancear toda a nossa obra feita na Terra. Ao balanceá-la vi que estava pobre. Encontrei: riso 40 por cento; ironia 50; amargura 5; dor 4; de todos os sentimentos 1. Era um escritor falido. O riso e a ironia são artigos a que por aqui se dá muito pouco apreço”. Quando encarnado, Eça de Queiroz escreveu um artigo chamado “Espiritis-

mo”, publicado no seu livro Notas contemporâneas em que conta que foi à redação da Revista Espírita, em Paris, acompanhado de um amigo brasileiro, sr. E. P. que era, no dizer de Eça, do espiritismo, da teosofia e da magia, mais por diletantismo intelectual do que realmente por convicção ou prática. Eça estranhou muito a aparência dos livros, pois esperava encontrá-los sóbrios e temerosos. Eram livros graciosos e leves, simples como tudo ali. E enquanto o brasileiro fazia duas assinaturas da Revista, Eça exclamava irônico: “Céus, quão prodigiosamente se tem escrito sobre o espiritismo!... Tudo versando sobre nada”! Enquanto o secretário oferecia endereços seguros para se assistir a uma boa sessão das famosas mesas girantes, Eça apreciava o busto de Allan Kardec junto à lareira. Perto dessa, um homem se debruçava aquecendo as mãos, que Eça via-o pelas costas: cabelos brancos, trajando um macfarlane que lhe caía dos ombros até o chão. E.P. e o secretário foram se aproximando, trocando impressões em voz alta: “Experimentaram Madame Ravier?” – Sim, mas ela evoca os espíritos com um extremo e desagradável tom fanhoso e choroso. – Ah! se cá tivéssemos Samperini! – Quem? – Ora essa, é o intermediário italiano! Fez milagres enormes. Todos comprovados, verificados por fisiologistas e por cirurgiões. A Escola de Medicina está espantada... Mas há também o Slade... Ao ser pronunciado o nome de Slade, o homem do macfarlane disse compenetrado:

– Slade saiu ontem de Chicago para Nova Iorque. Dito isto, o estranho homem fixou o olhar no amigo de Eça, que a esta altura demonstrava algum medo, e disse: – Estou reconhecendo em si um médium e um vidente. O senhor pode, se à faculdade juntar a vontade, pressentir o futuro, avistar o invisível. Mas essa força não lhe pertence propriamente, por ser em si inata e imanente: é-lhe comunicada por um espírito que o acompanha. É a irmã de seu pai! Eça de Queiroz, diante de tamanha revelação, solicita, quase infantil, que o médium observe se há algum espírito perto dele. Ante a resposta negativa, gracejou à sua maneira: “Caminho na vida, pois, desacompanhado, sem inspiração transcendente, sem egéria (conselheira), sem voz socrática”. O médium sempre muito sério, respondeu dizendo: – Às vezes, somos seguidos por espíritos e não lhes sentimos a influência. É necessário que a alma se afine, adquira uma tal superacuidade, um tão fino poder de penetrar no invisível, de se consubstanciar com ele, que os Espíritos se lhe tornem visíveis, audíveis e compreensíveis, como as formas são para os sentidos. Depois de ouvirem o roteiro das viagens do médium, que propagando a doutrina espírita pela índia, Rússia, Nova Iorque, Constantinopla, preparava-se para mais uma turnê, gracejam: – A minha alma, disse E.P., segundo afirma aquele homem diabólico, jaz enterrada sob densa camada de materialidade. (...) Mas ela está lá, muito quieta e feliz. É uma coisa perigosa uma alma assim solta pelos ares, em companhia de Espíritos... Não lhe parece, Eça? – Também me parece – respondeu o português risonho. Entretanto o Eça zombador, brincalhão

e irônico enfrentaria a alfândega da Espiritualidade, como todos os mortais. Conta que quando sentiu a morte a rondar-lhe os passos tentou um arremedo de arrependimento: “... Eu procurava levantar as camadas endurecidas que escondiam aquelas curiosas experiências a que havia assistido e queria ver se meu espírito doente, no corpo doente, podia prever a verdade do singular mistério da morte. Mas recuei, mais uma vez, ante a seriedade de uma coisa para que me confessava ser fraco.” Ele relata esse encontro, dizendo que ouviu uma voz que dizia forte: “Vamos, blasé, dize lá o que fizeste. Por onde andaste com esse fenomenal riso de parvo? Que bagagem dás ao manifesto, ao passar pela aduana celeste?” O grande autor desfilou suas obras imortais: O crime da estrada de Cintra, O crime do padre Amaro, O primo Basílio e outras. Mas a aduana espiritual foi inflexível: “Homem, pare lá! Será mais verdadeiro dizer que não traz nada de útil. Bagagem avariada!... Não lhe auguro nada de bom aí mais para diante”. Eis o grande Eça de Queiroz, nos umbrais da Espiritualidade, vazio de obras e cheio de obras. Foi triste seu comentário: “...Eu, grande na minha terra, literato laureado, assim tão rudemente tratado, via serem recebidos com todo carinho e aceitação, bandos sucessivos de miseráveis (...) Companheiros inseparáveis das lágrimas e da fome que passaram todo o tempo como párias pacíficos, louvando ao Deus que lhes mandava as suas privações e os seus tormentos sem um grito de revolta, sem uma blasfêmia de maldição. E passei então a compreender aquelas lindas frases do Evangelho: “Os últimos serão os primeiros” e “Deixai vir a mim os pequeninos e os humildes, porque deles é o reino dos céus”. Bibliografia: 1 Eça de Queiroz, póstumo, Fernando de Lacerda, FEB.


CULTURA & LAZER

AGENDA

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PASSATEMPO DO CORREIO

Estudo sobre o Programa Pinga-Fogo, com Chico Xavier s a ç Em comemoração aos 50 anos de transmissão Ter do Programa Pinga-Fogo, pela TV Tupi, com entrevistas com Chico Xavier, o Centro de Cultura Documentação e Pesquisa Espírita Eduardo Carvalho Monteiro inicia já no início de agosto estudo virtual sobre os temas abordados no evento que marcou a história do espiritismo no Brasil. Às terças-feiras, das 20h às 21:30h, até o mês de dezembro. Inscrições pelo email: ese-grupocx@ccdpe.org.br.

Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

AGO

Semana Espírita de São Bernardo Acontece de 22 a 27 de agosto a 24ª Semana Espírita de São Bernardo, que será realizada no formato online e contará com a presença dos palestrantes: Marcelo Uchôa, Eugenivaldo Fort, Alexandre Melo, dentre outros. Tema: “Conheceis a verdade e a verdade vos libertará”. Realização: USE Intermunicipal de São Bernardo. Acesso pelo canal Youtube USE SBC.

ENIGMA

AGO

TRAS

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Encontro Nacional da Liga de PesquisaAGO dores do Espiritismo Será realizado nos dias 28 e 29 de agosto, no formato online, o 16º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, tendo como tema central os “160 anos de O livro dos médiuns.” (Veja a programação na página 3). Acesso pelo Youtube e Facebook da USE SP, apoiadora do evento.

E

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Jornada pela Valorização da Vida AGO “Os desafios da vida, hoje e sempre”, que contará com a participação de Décio Inadoli (dia 5), João Lourenço (dia 6), Cláudio Lopes (dia 13), Deusa Samu (dia 20), André Trigueiro (dia 26), Pedro Camilo (dia 27) e Aldeniz Leite (4 de outubro). Realização: USE Intermunicipal de São Bernardo. Acesso: Youtube USE SBC.

5...

Simpósio Ciência e Espiritualidade SET Acontece dia 11 de setembro, das 8:30h às 17:30h, em formato online e tradução simultânea, o Simpósio Ciência e Espiritualidade, realizado pelo Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Faculdade de Medicina da UFJF. Coordenação: prof. Alexander Moreira de Almeida e participação dos principais cientistas em experiências espirituais, em espiritualidade e saúde do mundo. Inscrições: www.cienciadaespiritualidade. com.br.

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Região do ABC Retirada de doações para o Bazar Permanente ligue (11) 4109-8938

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Qual foi a última obra publicada por Allan Kardec? qualquer hora, em qualquer lugar

Resposta do Enigma:

Catálogo Racional - Obras para se formar uma biblioteca espírita.

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Impressa em fevereiro de 1869 e divulgada na Revista Espírita de abril de 1869, após sua desencarnação, em 31 de março de 1869, foi o último trabalho feito por Kardec e publicado com ele em vida.

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500º JUNHO 1978

Autor: Paulo José


ANÁLISE

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Apreciação e crítica

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500ª MARÇO 1977

Por DEOLINDO AMORIM

A

crítica é uma necessidade, todos sabem disto. Indo um pouco adiante, podemos dizer que a crítica, em última análise, é um fator de progresso, exatamente porque ajuda a corrigir o erro, em qualquer ponto onde seja descoberto. E é assim que se melhoram os homens e as instituições. Somente os que se julgam donos da verdade não aceitam a crítica. Atribui-se a um político da velha escola a seguinte observação: “Quero que me critiquem, mas não quero que se esqueçam de mim...” Na vida pública, pelo menos, a experiência prova que é melhor a crítica, ainda que seja contundente algumas vezes, do que o silêncio, pois o silêncio deliberado ‘sepulta’ uma pessoa em vida. Criticar não é demolir. A crítica pode e deve ser justa, muitas vezes fria, sem ser demolidora. Para ser útil e honesta, deve ser isenta de paixões ou prevenções, o que é muito difícil, dificílimo no quadro das contradições humanas. Felizmente, porém, se existem críticos demolidores, aqueles que só procuram as brechas, os pontos fracos para atacar de rijo, deixando de lado os pontos positivos, também existem críticos serenos e, portanto, capazes de superar qualquer sentimento pessoal para fazer justiça ao valor alheio. Em qualquer campo de atividade, principalmente no domínio literário, artístico ou científico, a produção intelectual está sujeita a critérios críticos diversos e às vezes antagônicos. Mas é necessário que haja crítica, a despeito de tudo. Bem entendida, a crítica é uma apreciação, e quem aprecia uma obra faz julgamento, favorável ou desfavorável. Nem sempre o julgamento é criterioso, mas é um julgamento. Ao lado da crítica sistemática, que vive à procura do que está errado, temos a crítica construtiva, que sabe ver o que está errado, mas também sabe apontar o que está certo. Por isso mesmo, ela é um dos terrenos mais sensíveis no meio espírita, sobretudo pela responsabilidade espiritual que acarreta. É uma função delicadíssima quando se leva em conta os dois lados da vida e quando se pensa na prestação de contas no futuro. Podemos, por exemplo, combater uma ideia, que nos vem hoje, tanto faz da Terra como do Alto, e ama-

A crítica é um dos terrenos mais sensíveis no meio espírita, sobretudo pela responsabilidade espiritual que acarreta” nhã termos de amargar uma decepção ao verificarmos que a ideia estava certa... São problemas difíceis. A crítica não deve ser demolidora — convém repetir — mas não deve ser demasiadamente condescendente, deixando passar sem reparo tudo quanto se espalhe em nosso meio, ainda que traga o nome de um espírito desencarnado. Nem todos, porém, entendem a função crítica no meio espírita. Quem nos deu o melhor exemplo a este respeito foi o próprio Allan Kardec, que aconselhou, desde cedo, que se passasse tudo pelo crivo da razão. Logo se vê que o codificador da doutrina deu mui-

ta importância à crítica, tanto em relação às opiniões humanas quanto em relação às opiniões de espíritos que nos mandam mensagens do além. Mas o certo é que, na prática, o problema não é tão simples... Se há pessoas que se melindram com qualquer observação, embora com a intenção de colaborar, também há pessoas que não admitem, nem de leve, que se possa tentar ao menos criticar uma obra mediúnica. São posições evidentemente extremadas. Será que ainda se pensa em termos de ‘heresia’, nesta época?... Na crítica, como noutros aspectos do meio espírita, devemos caminhar sempre para o meio-termo. Se é necessário, por um lado, considerar a linguagem, a origem e o pensamento de uma obra em apreciação, também se faz necessário, por outro lado, levar em conta que as obras espíritas não têm objetivos materiais e, por isso mesmo, este aspecto deve influir na apreciação, até certo ponto. Em suma, a crítica é necessária, indiscutivelmente, tanto faz que se trate de livro elaborado por inteligência humana, como de livro ditado por espírito desencarnado. Não nos esqueçamos de que os espíritos têm as suas ideias, têm opiniões próprias. Ora, criticar a opinião de um escritor espírita ou fazer restrição à opinião de um espírito não é criticar a doutrina. Então, é indispensável pensar no sentido de meio-termo para evitar o radicalismo: nem fechar o campo da crítica, como se houvesse alguma opinião ‘intocável’, nem fazer da crítica um instrumento de pura demolição.


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500ª ABRIL 2001

VOCÊ SABIA?

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Um fenômeno de transporte Da REDAÇÃO

A

sra. Guppy chegara à Florença. Fez amizade com a condessa Enrichetta Bartolomei, esposa do conde Tomaso Passarini, e como ambos espíritas, e faziam experiências em suas residências, a sra. Guppy foi convidada por eles a dar provas de suas extraordinárias faculdades mediúnicas. A primeira sessão ocorreu na noite de 23 de dezembro de 1868. Os convidados, em número de 14 ou 15, eram todos espíritas e, em volta de uma mesa redonda, de cerca de um metro de diâmetro, se sentaram os cônjuges Guppy e alguns assistentes. A médium pediu que se ligassem as mãos e que a dona da casa as prendesse entre as suas e assim se fez. Dr. Wilson, um dos convidados, segurou as mãos do

sr. Guppy. As demais pessoas sentaram em torno da mesa, formando uma segunda linha em cadeia. Após alguns minutos, a médium, sempre com as mãos seguras pela sra. Passarini, mandou apagar a luz. Com a sala em

profunda escuridão, ouviu-se pancadas na mesa como se alguém, com os nós dos dedos, batesse sobre ela. Então, por meio da tiptologia, houve um diálogo entre o sr. Guppy e o espírito que se manifestava. A sra. Bulli, médium vidente, disse que

estava vendo uma grande quantidade de flores, entre as quais distinguia, claramente, uma belíssima rosa vermelha, muito grande e com três folhas. Alguns minutos após, foi por todos sentido um suave perfume de flores e depois como que uma chuva que caísse em cima da mesa. Cessado o rumor ouvido e acesa a luz, ficaram todos maravilhados ao verem a mesa inteiramente coberta de flores fresquíssimas. As flores eram junquilhos, violetas, gerânios, magnólias, cravos e uma belíssima camélia vermelha com três folhas, que a médium vidente já vislumbrava na escuridão e que, pela sua semelhança, julgara ser uma rosa. Fenômenos de Transportes, Ernesto Bozzano, Feesp, 1982.


DIRETO AO PONTO

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O que te move? Por UMBERTO FABBRI

N

o livro Estude e viva, ditado pelos espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira, na lição intitulada “Socorro oportuno”, encontramos a mensagem: “(...) Lembra-te deles, os quase loucos de sofrimento, e trabalha para que a doutrina espírita lhes estenda socorro oportuno. Para isso, estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação”. Esta belíssima lição nos lembra da importância de levar aos que sofrem o refrigério, o consolo, a esperança e o conhecimento que liberta, pois isto representa uma forma legítima de praticarmos a caridade. Todavia, nem todos se empenham em divulgar a doutrina espírita com objetivos nobres e caridosos. Infelizmente, muitos dela se utilizam como uma forma de divulgar a si mesmos, de forma orgulhosa, vaidosa, cheia de interesses próprios e se perdem do objetivo da legítima caridade. É preciso que nos apaguemos para que Jesus brilhe nas mentes e corações dos necessitados, pois é ele o verdadeiro sol de nossas almas. Somos o vaso; a água que mata a sede é Jesus. Divulgar esta doutrina de amor requer de nós um trabalho constante de autoeducação, autocontrole, disciplina e profundo desejo de retribuir ao Mestre e a Deus todas as bênçãos que recebemos. O vaso precisa estar preparado para transportar o líquido precioso.

Divulgar a doutrina do mestre Jesus é mais do que falar; é agir, é exemplificar, é ter caridade no coração para com todos” Por muitos anos trabalhamos na formação de novos oradores, expositores e educadores espíritas e logo de início perguntamos aos alunos: “O que te move”? Pergunta interessante esta, pois tem o poder de clarear nossa visão quanto ao que realmente desejamos, quanto ao combustível que nos movimenta. E são várias as respostas. Em sua maioria, os alunos dizem: quero aprender, quero contribuir na casa espírita,

quero divulgar a doutrina espírita e assim por diante. Poucos dizem: quero ajudar os que sofrem, quero levar esperança aos que pensam ter perdido um ente querido, desejo do fundo do coração secar as lágrimas da tristeza, do desencanto, aspiro auxiliar aos que se perderam no mundo da dependência química, almejo ensinar aos meus irmãos o quanto eles são amados por Deus e tão especiais que não devem duvidar de seu valor, que a culpa de nada

serve e que recomeçar é sempre possível. É evidente que todos temos boas intenções, mas para sermos divulgadores fiéis desta doutrina libertadora é preciso mais que boa vontade. É necessário um desejo ardente de fazer o bem, de oferecer sempre que possível, o socorro oportuno, como nos diz a lição, e para tal precisamos estar dispostos a servir e não buscar que nos sirvam. É vital não esquecermos que Jesus é o modelo, e não nós. Sendo assim, devemos estudar com afinco para levarmos a verdadeira doutrina de amor, respeito e acolhimento que Jesus traz em seu Evangelho de luz, sem o peso de nossa opinião limitada. Divulgar a doutrina espírita é preciso! E o modo mais eficaz é o nosso próprio exemplo, a forma como nos comportamos nas crises, superamos nossas dificuldades, reconhecemos nossos erros, somos gentis e respeitosos com todos, principalmente com os que pensam diferente de nós, reconhecemos nossas limitações e mesmo assim nos dispomos a praticar o bem, como perdoamos a quem nos fere e a nós mesmos. Divulgar a doutrina do mestre Jesus é mais do que falar; é agir, é exemplificar, é ter caridade no coração para com todos. E deixamos aqui uma pergunta ao leitor amigo: o que te move? Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.


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MÍDIA DO BEM

CORREIO FRATERNO JULHO - AGOSTO 2021

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Noivos distribuem marmitas após casamento

Ginasta de 46 anos chega à sua 8ª Olimpíada

Avô e neto escrevem livro infantil na quarentena

Uma cerimônia de casamento em Araci, na Bahia, foi marcada por felicidade e boas ações. Após a festa, boa parte da ceia servida aos convidados sobrou. Os noivos decidiram então aproveitar os alimentos e montaram dezenas de marmitas que foram servidas a pessoas com fome pela cidade. “Quando fizemos as entregas percebemos o quanto as pessoas estão necessitadas”, contou o noivo. As marmitas foram distribuídas na segunda-feira (19), nos bairros de Casinhas e Tiracolo.

Ginastas, técnicos e jornalistas ovacionaram, pela última vez, Oksana Chusovitina. Aos 46 anos, ela disputou as Olimpíadas pela oitava vez, despedindo-se do esporte após 33 anos. Ela adiou a aposentadoria para ajudar o filho com leucemia. A atleta do Uzbequistão quebrou o próprio recorde, estabelecido há quatro anos no Rio de Janeiro, de ginasta de maior idade da história das Olimpíadas. “Minhas lágrimas foram de felicidade. Estou muito orgulhosa e feliz.”

Criar histórias sempre foi um dos passatempos favoritos do Matheus, 10 anos, e de seu avô, Mário Sérgio, 69, professor, e desde que Matheus tinha 4 anos, estimula sua imaginação, criando historinhas com o neto. O personagem principal do livro se chama Garganta, e tem o objetivo de chegar ao número dez em tudo. A obra será publicada por uma editora e se chamará Tudo acaba em 10. A própria pandemia é abordada ao final do livro. Spoiler: sem poder ir à escola, devido ao isolamento, Garganta diz que, sozinhos, viramos o zero; juntos, somos sempre 10!

Fonte: A voz do campo

Fonte: Razões para acreditar

Fonte: R7

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL / BRUNO LUIZ


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