ENTREVISTA
ISSN 2176-2104
Bezerra de Menezes ganha nova biografia
Ano 54 • Nº 502 • Novembro - Dezembro 2021
O pesquisador e escritor Luciano Klein tem muita história pra contar e acaba de lançar um livro com quase 1.200 páginas sobre Bezerra de Menezes. Ele traz textos, fotos e inúmeras passagens ainda não contadas sobre uma das personalidades mais conhecidas da história do espiritismo no Brasil. Leia nas páginas 4 e 5.
Força e fé no que virá
O
s espíritos superiores sempre nos falam sobre a importância do autoconhecimento, da revisão das nossas ações e emoções, da atenção aos nossos pensamentos. É assim que logo
de início podemos detectar uma má influência espiritual e temos tempo de cortar a obsessão pela raiz. Ao final de mais um ano, para fortalecer a fé e ter força moral nos dias futuros, encontramos
A música dos Beatles inspirada em sonho Paul McCartney, um dos maiores nomes da história do rock, compôs uma de suas músicas em um sonho. Ela é considerada a canção mais tocada nas rádios em todo o mundo. Leia na página 14.
Brasileiros são premiados em concurso mundial sobre vida após a morte Três pesquisadores brasileiros estão entre os ganhadores do concurso promovido por grande empresário americano que tem investido em estudos sobre fenômenos paranormais. De 1.300 proponentes, apenas 29 ensaios foram premiados. Sobre o que escreveram os três pesquisadores brasileiros? Leia na página 3.
curiosas dicas que poderão nos ajudar a desenvolver mecanismos de melhor auto-observação e de defesa contra influências espirituais negativas. Leia nas páginas 8 e 9.
Um atropelamento e a vida de Conrad e Justine nunca mais será a mesma.
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EDITORIAL
CORREIO FRATERNO NOVEMBRO - DEZEMBRO 2021
A alegria do
G
dever cumprido
ratidão é a palavra. Mais um ano termina e não podemos nos lamentar do que passou, mas fortalecer a nossa fé e a nossa coragem para as atividades que o futuro nos guarda. Aqui no Correio estivemos unidos no mesmo propósito de aprendizado e auxílio através da comunicação para que o Bem pudesse chegar a todos os corações com maior facilidade, contextualizado, com tantos desafios e conquistas a que todos estivemos, estamos e estaremos submetidos. É da lei divina que se faça o progresso e ele não se faz sem trabalho, sintonia
espiritual e dedicação. É por isso que essa edição chega até você com a alegria do dever cumprido. Desde a matéria de capa, que nos convida a prestarmos atenção aos detalhes dos nossos desequilíbrios para que evitemos perturbações maiores, que nos envolvam num emaranhado de queixumes e acomodações, levando-nos a processos obsessivos, à entrevista com Luciano Klein, que nos traz uma nova biografia de Bezerra de Menezes que tantos exemplo nos ofereceu sobre a importância da caridade e da saúde mental. Carlos Imbassahy é homenageado
FALE COM O CORREIO Eça de Queiroz Obrigada pela publicação (“A bagagem avariada de Eça de Queiroz”). Que os guias espirituais continuem inspirando este trabalho lindo e que venham mais conteúdos excelentes. [Edição 500, jul. ago, 2021] Isis Avelar, Uberlândia, MG. Herminio Obrigado pela publicação, e gratidão ao Herminio C. Miranda, que se lançou a
procurar informações e pesquisar a realidade espiritual para ajudar os adeptos da doutrina a conhecer, colocar em prática e evoluir. Alcançar depende da dedicação de cada aprendiz. [Edição 500] Vanderlei Abreu da Silva. Documentário sobre Chico Xavier Sensacional! Tudo que se puder fazer para enobrecer a missão de Chico é muito bemvindo!!! Parabéns a todos os envolvidos
no Baú de memórias e, no Acontece, três jovens pesquisadores espíritas nos dão muita alegria, ao serem contemplados num concurso mundial sobre as provas da sobrevivência da alma. No Foi assim, uma história linda de Arnaldo Rocha nos mostra a alma sensível de Chico Xavier, capaz de doar um presente sem deixar de valorizá-lo, num ato de singeleza e amor. Tudo isso e muito mais chega com os nossos votos de um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de fé e de muita luz. Boa leitura e até 2022. Equipe Correio Fraterno
nesse projeto! [Edição 501, set. out, 2021] Fabiano de Moraes Claudiano. “Trojan em grupos espíritas” Excelente a matéria, abordada com clareza, demonstrando e alertando para uma situação muito preocupante. Marco Milani foi muito eficaz em suas palavras. [Edição 501] Osmar Trigilio. “Espiritismo bem-humorado para a sua criança” Com a dica da série (Tem espíritos no banheiro?), lembrei do As aventuras do Fraterninho. Minha caçula adorava ler. Abraço afetuoso. [Edição 501] Sony Cleia, Olinda, PE.
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Uma ética para a imprensa Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
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ACONTECE
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Pesquisadores brasileiros são premiados em concurso mundial sobre vida após a morte Por ELIANA HADDAD
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om um ensaio sobre a obra psicográfica de Chico Xavier, os pesquisadores Alexandre Caroli Rocha, Marina Weiler e Raphael Fernandes Casseb foram premiados no concurso promovido por Robert Bigelow, magnata norte-americano, sobre as melhores evidências que comprovariam a existência da vida após a morte. Nos últimos 30 anos, o empresário tem investido em pesquisas sobre fenômenos paranormais, buscas por vida extraterrestre e em projetos espaciais. Para esse concurso, Bigelow destinou aproximadamente dois milhões de dólares em prêmios. Os três primeiros lugares ficaram, respectivamente, com Jeffrey Mishlove: “A sobrevivência da consciência humana após a morte corporal permanente”; Pim van Lommel: “A continuidade da consciência: um conceito baseado em pesquisas científicas sobre experiências de quase-morte durante parada cardíaca” e Leo Ruickbie: “O fantasma na máquina do tempo”. No segundo grupo, foram escolhidos mais onze ensaios, e houve também menções honrosas a um terceiro grupo, com 15 ensaios. Cerca de 1.300 pessoas se propuseram a participar, das quais pouco mais de 200 foram aceitas, de acordo com critérios do concurso, e enviaram ensaios. Havia concorrentes de 38 países. No final, 29 trabalhos foram premiados. A comissão julgadora O concurso demostrou que há uma grande variedade de fenômenos que pesam em favor da sobrevivência da consciência humana após a morte corporal. A comissão julgadora foi formada por profissionais renomados: o psiquiatra Christopher C. Green, neurocientista do Detroit Medical Center; Jeffrey J. Kripal, professor de filosofia na Rice University; a jornalista investigativa Leslie Kean, autora do livro Sobrevivendo à morte: um jornalista investiga evidências para uma vida após a morte, obra em que foi baseada a série Vida após
a morte (Netflix); o escritor e psiquiatra Brian Weiss (autor de Muitas vidas, muitos mestres); Jessica Utts, professora de estatística da Universidade da Califórnia; e o engenheiro Harold Puthoff, diretor do Institute for Advanced Studies at Austin. Análise de psicografias Os três brasileiros apresentaram um ensaio sobre a psicografia de Chico Xavier, intitulado “A mediunidade como a melhor evidência para a vida após a morte: Francisco Cândido Xavier, um corvo branco”, que foi premiado no segundo grupo. Foi o único a centrar seus argumentos na análise de psicografias. “Dividimos os livros do Chico Xavier em três grupos: primeiro, aqueles que ele atribuiu a autores como Emmanuel e André Luiz, nomes que não nos remetem a pessoas conhecidas; segundo, os atribuídos a escritores bem identificados, com obra publicada em vida, como Humberto de Campos, Olavo Bilac e dezenas de outros; terceiro, os das cartas familiares, atribuídas a pessoas bem identificadas, mas sem obra publicada em vida. Esses três grupos têm diferentes estratégias para justificar suas alegadas autorias. Levamos em conta os registros biográficos do médium e a maneira como ele produzia os textos”, explica Alexandre Caroli, doutor em teoria e história literária, que desenvolveu na Unicamp trabalhos sobre livros do médium mineiro (“O caso Humberto de Campos: autoria literária e mediunidade e A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo”). Para a neurocientista Marina Weiler, que reside atualmente nos Estados Unidos, “a obra psicográfica de Chico Xavier apresenta informações muito detalhadas e específicas dos autores aos quais as obras são atribuídas, muitas vezes de conhecimento apenas do falecido autor. No nosso ensaio, tentamos mostrar exemplos dessas informações inacessíveis a Chico Xavier para fortalecer a hipótese de uma existência de vida após a morte”.
Alexandre Caroli Rocha
Raphael Fernandes Casseb
Marina Weiler
Alexandre Caroli desenvolveu pesquisas na Unicamp; Raphael Casseb e Marina Weiler fazem atualmente pós-doutorado em neurociência. Ele na Unicamp, ela na Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles
Tema controverso para a ciência Segundo Raphael Casseb, também neurocientista, “o concurso permitiu chamar a atenção para um tema que é normalmente ignorado na grande maioria dos centros de pesquisa. Ao promover o concurso, o empresário americano ligou os holofotes sobre um tema controverso para a ciência, mas de um interesse imensurável para a sociedade, que é a continuidade (ou não) de alguma forma da personalidade humana”. Os autores acrescentam que a obra de Chico Xavier “fornece fenômenos tão intrigantes que muitos cientistas preferem ignorar, porque lhes causam desconforto. Entretanto, com esse ensaio, não pretendemos achar provas definitivas de vida após
a morte, tampouco achamos que estamos lidando com uma verdade inquestionável. Nosso objetivo foi convidar os leitores, principalmente os cientistas, a estudarem o tema de mente aberta, uma vez que esses fenômenos desafiam as visões tradicionais do meio acadêmico”. Os prêmios serão entregues em cerimônia em Las Vegas, em 4 de dezembro, e os 29 ensaios serão reunidos em série especial de livros, que serão doados internacionalmente para universidades e hospitais, para que o tema seja divulgado de forma mais ampla. Acesso aos textos dos ensaios em: www.bigelowinstitute.org/contest_winners3.php).
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ENTREVISTA
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Bezerra de Menezes ganha nova biografia Por ELIANA HADDAD E IZABEL VITUSSO dos Pobres” ao mundo espiritual, em 1900, estavam encarnados apenas sete: Ernestina, Otávio, José Rodrigues, Francisco, Hilda, Maria da Conceição e Antônia.
Bezerra de Menezes: o homem, seu tempo e sua missão, o livro que você acaba de lançar, pela Federação Espírita do Estado do Ceará, envolve muitos anos de pesquisa. De onde vem esse interesse pela vida de Bezerra de Menezes? Luciano Klein: Desde os tempos de juventude espírita, quando travamos contato pela primeira vez com a trajetória existencial de nosso ilustre conterrâneo. Ficamos vivamente impressionados, ao mesmo tempo apaixonados, por sua extrema dedicação ao próximo. Foi alguém que realmente pregava o que vivia e vivia, cotidianamente, aquilo que pregava. E por isso ele simboliza para mim o protótipo genuíno daquele “Homem de Bem”, preconizado por Allan Kardec no capítulo 17 de O evangelho segundo o espiritismo. Qual o diferencial do livro com relação às biografias já publicadas sobre ele? As biografias pioneiras foram grandemente importantes, ensejando-nos informações primordiais à perpetuação da memória de Bezerra. No primeiro capítulo, intitulado “Bezerra de Menezes, vários olhares”, comentamos sobre as principais biografias publicadas até a década de 1950, ressaltando o valor de todas elas, inclusive a esquecida e pioneira, da lavra de Prezalindo Lery Santos, escrita em 1880. Nosso trabalho, contudo, apresenta a visão do historiador que, embora espírita, analisa Bezerra como homem de seu tempo – o Brasil oitocentista – em meio às grandes transformações pelas quais o país e o mundo passavam. Durante a realização de nossas buscas, em noites ‘perdidas’ de vigílias fecundas, colhemos farto material, em sua maioria inéditos, acerca do nosso biografado, agora distribuídos em 1.192 páginas ao longo de dezessete capítulos. O que você descobriu de mais interessante sobre Bezerra de Menezes? Muitas, muitas coisas... por exemplo, a relação completa de seus filhos dos dois ma-
A que você atribui o grande destaque que Bezerra de Menezes encontra ainda hoje entre os espíritas? Por ter sido alguém que, diferentemente da maioria de nós, punha em prática o pensamento do filósofo e romancista franco-argelino Albert Camus (1913-1960): “Só conheço uma obrigação: a de amar”. Foi essa (e continua sendo!) a tônica recorrente de sua jornada em suas diversas áreas de atuação, como médico, político, abolicionista, cientista, empresário, romancista, jornalista e espírita.
trimônios. Dois deles, Adolfo e Antônio, com Maria Cândida, a primeira companheira desencarnada prematuramente aos 19 anos, em 1863. E do segundo casamento, com Cândida Augusta de Lacerda (na intimidade familiar chamada de Dodoca), mais 14 filhos: Maria Cândida, Ernestina, Carolina, Otávio, Emmanuel, Cândida
Augusta, Cristiana, José Rodrigues, Francisco da Cruz, Hilda, João, Maria da Conceição, Consuelo e Antônia. Esta última, Antônia Bezerra de Menezes, foi adotada por Bezerra e Dodoca e era escrava alforriada pelo sogro de Bezerra, em 1867, logo após o seu nascimento. Destes filhos todos, porém, quando do retorno do “Médico
Trinta anos de pesquisa e nas mãos um livro de quase 1.200 páginas. Dá pra falar sobre sua emoção? Algo indescritível. Uma imensa alegria por contribuir, como historiador, às gerações porvindouras legando informações preciosas sobre aquele que foi, com justiça, cognominado de o “Kardec Brasileiro”. Essa alegria experimentada vem, sobretudo, pelo fato de resgatarmos inúmeros nomes que gravitaram em torno da vida do bondoso Esculápio e que ficariam em completo esquecimento. Aliás, o jornalista e amigo Tarcísio Matos, um dos revisores da obra, chegou a dizer que acreditava ser o livro um pedido do próprio Bezerra, ante o desafio proposital de informar sobre o meio em que nasceu e cresceu, contando menos de si e mais dos outros, entre familiares (pais, irmãos, esposas, filhos, agregados) e amigos à margem da história oficial, como forma de repor verdades históricas, dar crédito às pequenas coisas que fazem muita diferença. O que vamos encontrar nesta obra? Dezessete capítulos bem documentados. Um substancioso dossiê que nos mostra uma alma multifacetada com atuação em vários ramos do conhecimento e do saber humanos. Um dos mais versáteis escritores
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nacionais de seu tempo. De sua lavra encontramos, além de textos eminentemente científicos da área médica ou correlatas, escritos históricos, geográficos e geológicos, bem como análises econômicas e antropossociológicas do Brasil. A filosofia permeou tanto seus artigos de cunho político, publicados em grande número nas principais gazetas cariocas, na sua incansável peleja jornalística, como também – e principalmente – em seus escritos espiritistas, sobretudo nas páginas do Reformador ou na popularíssima coluna “Estudos Filosóficos”, do jornal O Paiz, editado no Rio de Janeiro. Nesse ecletismo, seus romances proporcionavam ao leitor um passeio pelos mais diversos saberes. Das atividades desenvolvidas por Bezerra em sua existência na Terra, qual delas, em sua opinião, melhor o representa. Por quê?
A de médico humanitário, porquanto constatamos, pela lupa do historiador, ter sido ele muito maior, muito mais extraordinário, muito mais incrível do que aquele “Médico dos Pobres” que hoje conhecemos. O livro vai mudar algum referencial do que representa Bezerra, principalmente para nós, espíritas? Sim, principalmente por mostrarmos a maneira como ele via o espiritismo, uma doutrina tríplice como Kardec nos deixou. Embora sua predileção pelo aspecto moral, nunca foi um ‘místico’, expressão contra ele pejorativamente empregada por alguns adversários, e sim o mais científico dos espíritas brasileiros oitocentistas, assunto, aliás, tratado em um capítulo específico do nosso livro. Quais documentos raros sobre Bezerra você encontrou?
ENTREVISTA Fotografias inéditas, como a que ilustra a capa do livro (inclusive uma delas sem barbas aos 23 anos), caricaturas, documentos pessoais, diplomas, certidões, condecorações, atas, inúmeras imagens da família (mãe, irmãos, esposas e filhos), etc. Há tantos casos de curas atribuídas ao espírito Bezerra de Menezes. Você teve acesso a algum relato especial e ainda inédito sobre isso? Cito algo que foi devidamente documentado. O jornal carioca Gazeta de Notícias, em 27 de fevereiro de 1889, sob o título “Gratidão”, publicou uma nota em que o casal Domingos Manuel Ferreira e Maria Florência Ferreira agradeciam a Bezerra de Menezes por salvar a vida da filha Maria da Glória. A menina havia engolido, no dia 19 daquele mês, uma agulha, que não foi possível ser extraída na Santa Casa de
Misericórdia. Talvez como último recurso, o desesperado casal resolveu procurar o dr. Bezerra para a extração do objeto engolido e para que atenuasse a dolorosa inflamação na garganta da criança. Diz o periódico que, utilizando-se de medicação homeopática, ele não só debelou a inflamação, como também fez com que a agulha e toda a linha engolida fossem expelidas, ficando a garotinha curada e fora de perigo. Os pais, profundamente agradecidos, concluem a nota dirigindo as palavras ao médico benfeitor: “Que Deus lhe pague o muito que lhe devemos, perdoando-nos se ofendemos sua bem reconhecida modéstia e caridade”. Na prática, qual o principal legado que Bezerra deixou no campo da medicina, psiquiatria? Em nossa opinião, uma de suas maiores contribuições: A loucura sob um novo prisma, sua pesquisa lançada postumamente, em 1920, foi, verdadeiramente, a obra de
sua predileção. Por meio deste trabalho pretendia, como cientista e espírita, legar à humanidade o seu contributo. Desde 1886, ano de sua adesão pública ao espiritismo, passou a trabalhar com mais afã a questão da loucura. Concorreu para tanto o agravamento da saúde de seu filho mais velho, Adolfo Júnior, diagnosticado pela medicina convencional como portador de uma enfermidade psiquiátrica. Adolfo mobilizou especial atenção do pai, que se debruçou sobre tudo quanto existia de mais atual na esfera das ciências perscrutadoras dos transtornos da alma humana. Adolfo Júnior, rapaz de temperamento afável, frequentador de reuniões espíritas, tornou-se agressivo e arredio. A pesquisa de Bezerra passaria por seguidas adaptações à medida que aprofundava seus estudos relativamente às ciências psicológicas e intensificava seus experimentos na área mediúnica. Pretendia, talvez, homenagear o filho que desencarnaria a 22 de janeiro de 1899, oferecendo ao mundo os resultados de suas buscas, através das explicações acerca da problemática de Adolfo, vista por um prisma diferente daquele apresentado pelos alienistas oitocentistas. Bezerra aguardava ansiosamente a publicação em livro dessa pesquisa, fato que infelizmente não ocorreu, devido a sua desencarnação, em 11 de abril de 1900. A pesquisa demorou por mais de um decênio. Acreditamos que a razão do retardamento de sua edição deveu-se à intenção do médico cearense de apresentá-la no Congresso Espírita e Espiritualista Internacional de Paris, em 1900. Esse congresso ocorreu entre os dias 15 e 27, na capital francesa e foi presidido por Léon Denis. Bezerra aspirava apresentar sua pesquisa naquela histórica convenção que contou com a presença de nomes como Victorien Sardou, Alfred Russel Wallace, Gabriel Delanne e Alexandre Aksakof. Teria sido algo deveras interessante à história do espiritismo, caso Bezerra de Menezes, a maior expressão do espiritismo na época, houvesse participado do solene encontro, com os maiores estudiosos dos fenômenos psíquicos de seu tempo. Muito provavelmente ele faria alguma preleção apresentando sua pesquisa em francês, idioma que falava fluentemente. Lamentavelmente, em face de seu desenlace ocorrido cinco meses antes da abertura do evento, ele não pôde, pelo menos fisicamente, comparecer. Livraria Sinal Verde: 85 98129-3415 98813-3022.
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LIVROS & CIA. IDE Editora WhatsApp: 11 99791-8779 www.idelivraria.com.br A casa assombrada de Bezerra de Menezes 352 páginas 16x23 cm
Correio Fraterno WhatsApp: 17 99736-9800 www.correiofraterno.com.br/livros Escritores e fantasmas de Jorge Rizzini 352 páginas 16x23 cm
Vivaluz Editora Telefone: 11 4412-1209 www.vivaluz.com.br
Viva Livros Telefone: 21 2585-2000 www.vivalivros.com.br
Conexão Galileia – o amor continua entre nós de Lucius psicografado por Sandra Carneiro 400 páginas 16x23 cm
QS: inteligência espiritual de Danah Zohar e Ian Marshall 336 páginas 12x18 cm
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LEITURA
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Jonathan, o pastor e o espírito do Natal Da REDAÇÃO
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onathan, o pastor é o último livro da série Às margens do Eufrates, um clássico da literatura espírita, ditado pelo espírito Josepho para a médium Dolores Bacelar (1914-2006), cujos trabalhos de notável qualidade mediúnica passaram a ser publicados pela editora Correio Fraterno a partir da década de 1980. Em cada livro da série, que se inicia com O alvorecer da espiritualidade, o autor espiritual retrata de forma romanceada os primeiros tempos da civilização em torno de um dos rios historicamente mais importantes da Ásia Ocidental. Os três volumes seguintes, Os guardiães da verdade, Os veladores da luz e O voo do pássaro azul foram reunidos em um só volume e relançados, em 2017 pela Correio
Fraterno, recebendo como nome Mesopotâmia, luz na noite do tempo. Nele, Josepho descreve a saga vivida, como um dos personagens e autêntico representante de um dos povos mais poderosos da Antiguidade. Reencarnado como filho de imperador assírio, Salmanasar, ele conta toda a fúria envolvida ao levantar o maior império de sua época. Sintetiza a história do rei que, como espírito, volta 3.000 anos depois para falar sobre seus enganos e arrependimentos, pelas portas da mediunidade. Jonathan, o pastor encerra a série Séculos mais tarde, reencarnado como Jonathan, o pastor de Belém de Judá, Josepho se vê determinado a encontrar Jesus, anunciado por Yokanaan – João, na
tradução evangélica. No decorrer de toda a série, o autor espiritual releva profundos conhecimentos históricos. É marcante o seu domínio sobre os costumes hebraicos e sobre a genealogia do livro do Gênesis. Em Jonathan, o pastor, encontros e cenários dos personagens que imortalizaram a história do cristianismo vão aos poucos se achegando, com detalhes históricos, assim como citações do Evangelho. A leitura da obra propõe, sobretudo, que as vibrações trazidas da simplicidade dos campos verdes das oliveiras e das pastagens do Oriente antigo, dos encontros com João Batista e com o meigo Nazareno, cheguem também ao leitor, fortalecendo verdadeiramente o espírito do Natal em cada coração.
BAÚ DE MEMÓRIAS
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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
Carlos Imbassahy:
Espiritismo com lógica e senso de humor Por LÚCIA LOUREIRO
E
m meu livro recentemente lançado, Memórias históricas do movimento espírita no estado da Bahia*, dediquei um capítulo a perfis de personalidades que dedicaram parte de suas vidas à divulgação da doutrina espírita no Brasil, especialmente na Bahia. Dentre elas, cito Carlos Imbassahy, advogado, jornalista e escritor que nasceu em Salvador, BA, em 1883, indo posteriormente residir em Niterói, RJ. Mais tarde, depois de bacharelar-se em direito, retornou à Bahia, onde passou a exercer o cargo de promotor na cidade de Andaraí. De formação no catolicismo, dizia que, mesmo fiel àquela religião, seus pensamentos oscilavam em acreditar ou não na existência do inferno, onde as almas dos pecadores abrasariam pela eternidade. Considerava o fato uma iniquidade, que o fazia descrer da bondade divina, motivo que o fez se afastar definitivamente da religião considerada a oficial do Brasil. Mesmo antes de se tornar espírita, o escritor dedicava-se à leitura de obras filosóficas, religiosas e científicas, relacionando-as posteriormente com os ensinamentos absorvidos através das obras doutrinárias organizadas e escritas por Allan Kardec. Autor de quase vinte obras e tradutor de uma dezena delas, o considerado “Ernesto Bozzano Brasileiro”, por seu grau de conhecimento e estudo, dizia que a aceitação dos princípios espíritas veio aos poucos. Sua iniciação nos estudos ocorreu quando lhe chegou ao conhecimento o livro Depois da morte, de autoria do escritor e pesquisador Léon Denis, importante obra da bibliografia espírita, que
acabou influenciando sua decisão, por confirmar as ideias que possuía sobre a imortalidade da alma. “Imbassahy era um filósofo por excelência, pouco afeito ao evangelismo bíblico que, à sua época, infestava o meio espírita, causado, segundo ele, pelo número de adeptos que haviam se convertido de seitas protestantes, da igreja católica e outras”, comenta Carmem Barreto, nora do escritor, em seu livro As melhores respostas de Imbassahy (Petit). Reconhecido por sua inteligência e acurado senso de humor, Imbassahy dedicou-se também à pesquisa em memoráveis reuniões de efeitos
físicos, todas às sextas-feiras, na intimidade do lar, das quais participavam amigos e familiares. Curiosamente, seu dom da oratória só se manifestou após o seu ingresso no movimento espírita. Constrangia-lhe falar em público. Tanto que não se dedicou à advocacia forense. Sua primeira palestra aconteceu de maneira arbitrária, quando, ao chegar numa instituição que visitava com o amigo Amaral Ornelas, foi por ele apresentado como sendo o orador da noite. Julgando que mal pronunciaria algumas palavras gaguejadas, Imbassahy discorreu admiravelmente sobre assuntos da doutrina que ele mesmo julgava desconhecer. Em sua vasta produção literária estão romances profanos até as obras filosóficas, científicas e, sobretudo, de conteúdo moral. Polemista de longa atuação, combatia adversários, defendia pontos de vista e ideias sem perder seu estilo próprio e elegante, por mais acirrada que se tornasse a demanda. Sua grande cultura filosófica e de filólogo era largamente conhecida no meio espírita brasileiro. Conhecedor da língua francesa com profundidade, traduziu autores clássicos, como César Lombroso, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano, Justinus Kerner, George Vale Owen, dentre outros. Carlos Imbassahy desencarnou em Niterói, em 1969, aos 86 anos de idade, deixando sua marca e sua grande contribuição para o espiritismo, sendo considerado um dos grandes divulgadores e defensores das obras de Allan Kardec. Articulista e escritora, Lúcia Loureiro é também grande incentivadora da arte espírita, sendo uma das fundadoras do Teatro Espírita Leopoldo Machado, em 1984, em Salvador, BA.
Niterói, Estação das Barcas, 1940
*Memórias históricas do movimento espírita no estado da Bahia – a saga dos pioneiros e a repercussão no Brasil. LL Editora, 2021.
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ais um ano se vai e junto com ele tantas experiências, de amor e de dor, em nossas vidas. Embora possa parecer que tenha sido ele um tempo perdido, por conta de tanta incerteza que nos assombrou em função da pandemia da Covid-19, muitas conquistas devem ser celebradas. Estamos vivos e, em meio a esse turbilhão, muitas vezes não percebemos o quanto fizemos. Quando nos demos conta, chegou dezembro. De uma forma ou de outra, como o mundo todo foi realmente sacudido nos últimos dois anos, fomos treinados na resiliência e na superação, como se tivéssemos sido obrigados a dar uma pausa para olhar para dentro, avaliar e começar de novo. Isso gerou muita ansiedade e outros inúmeros desconfortos emocionais, que se refletiram na nossa saúde física, no nosso sono, no convívio familiar tão restrito e tão cheio de descobertas. Nenhuma mudança é tranquila e este não foi mesmo um ano fácil em todos os sentidos, não cabendo aqui relembrar tantas aflições. Aliás, muitas delas ainda tão pre-
ESPECIAL
sentes, trazendo tropeços sociais, econômicos e políticos, marcando com certeza essa nossa etapa reencarnatória na Terra. Tivemos que suportar perdas, aprender várias coisas rapidamente e a nos adaptar dentro das nossas possibilidades à nova forma de tocar os nossos dias. Nossa saúde mental pediu socorro. O lado espiritual Toda essa situação acaba por aglutinar pensamentos e sentimentos negativos, que, dependendo da nossa sintonia, influenciam até mesmo o ar que respiramos, com tantos fluidos densos de tristeza e desesperança. Como espíritas, estamos sendo chamados a dar o testemunho do nosso conhecimento, fazendo valer na pele o aprendizado da fé raciocinada, nosso cajado inseparável que tanto nos auxilia nos momentos de dificuldades, mas que também, nos consola e nos refrigera a alma com momentos de alegria e gratidão em meio aos infortúnios. Tudo realmente passa. Cada vez mais, o isolamento social e as mudanças no trabalho, na escola e nas rotinas familiares nos convidam
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a prestar atenção em quem somos, como estamos e o que nos cerca. Diante de tantos questionamentos e pressão emocional, estivemos expostos a situações embaraçosas, que nos levaram a desequilíbrios. Não nos esqueçamos de que a própria condição de existirmos, estejamos encarnados ou não, sempre será desafiadora com suas várias circunstâncias sempre a nos conclamar a mudanças. É da lei divina que tudo progrida e, muitas vezes, como espíritos em evolução que estamos, somos submetidos a algum teste mais trabalhoso para avaliar o que já julgamos ter aprendido. Invigilantes e ingênuos que somos, assustamo-nos com algumas pedras no caminho, percebendo que ainda nos falta colocar muita teoria em prática. A sintonia no Bem Com as tarefas das casas espíritas suspensas, arrumamos neste ano milhões de coisas novas para fazer e aprender em casa, substituindo até mesmo o tempo que dedicávamos às atividades espirituais por outros compromissos. Devemos
ESPECIAL nos perguntar, agora, como está o cuidado com a nossa espiritualidade, se não perdemos a boa sintonia que já havíamos estabelecido e que, por desleixo ou simples esquecimento, acabamos deixando de lado nesses tempos de pandemia. Os espíritos superiores nos ensinam sobre a observação constante ao nosso autoconhecimento, à revisão diária das nossas ações e emoções, à atenção aos nossos pensamentos, a prece. Assim agindo, será mais fácil percebermos, por exemplo, o início de uma má influência espiritual e teremos tempo e condições de cortar a obsessão pela raiz, numa virada de chave que permita tanto a nós como a nossos companheiros espirituais a recomposição fluídica adequada, o esclarecimento, a busca da luz. Já temos esse conhecimento, mas ainda temos muita dificuldade na prática de criar o hábito de pensar e fazer o bem, pois mudar atitudes muitas vezes milenares não acontece de forma rápida, exigindo disciplina e esforço contínuo. Qualquer espírita sabe que não precisa (e nem pode) ser perfeito, mas deve lembrar em primeiro lugar que não deve desanimar no esforço de sempre para suas conquistas morais para atingir seu melhor possível. Os desequilíbrios Por que então nos desequilibramos? A primeira resposta pode estar na falta de atenção. Aliás, qualquer espírita
sabe muito bem que é preciso orar e vigiar. A segunda, está na falta de persistência em querer vencer as imperfeições Este ano chega ao seu final, cedendo espaço para 2022, que novamente exigirá que cuidemos do nosso equilíbrio, valendo fazer aquele balanço de todos os anos e o traçar de
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novos planos. O que fiz? O que deixei de fazer? O que posso fazer agora? A pandemia paralisou o mundo físico, mas nós, espíritos imortais, não estamos parados. Estamos na caminhada, ainda que se tenha a impressão de um tempo perdido. Não. Quanto aprendizado nessa pausa — de resiliência, coragem e paciência, diante de um cenário tão estarrecedor! Vimos o quanto queremos ter saúde e que a vida é o nosso bem maior. Só não aprendeu quem não percebeu a chacoalhada a que a humanidade foi submetida. Aferição de valores? Talvez. E é assim que chega também o novo Natal, o novo Ano Novo, mas desta vez realmente diferentes, com carência de muito acolhimento. Que se valorize, então, o simples, o ar que se respira, a consciência tranquila de uma boa noite de sono. O sol que aparece e se põe todos os dias nos anuncia que a vida é mesmo movimento e que os contrários não significam desarmonia, mas lições diferentes que se complementam; que noite e dia, dor e alegria, fé e desespero, esperança e desânimo fazem parte dessa nossa providencial jornada. A vida é um presente e só por ela já devemos ser gratos todos os instantes pelas valorosas oportunidades de crescimento que ela nos oferece. Precisamos nos cuidar com responsabilidade e compromisso. E para não cairmos no esquecimento, seguem algumas dicas preciosas.
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FOI ASSIM
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O presente que Chico doou Por ARNALDO ROCHA
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a tela das minhas doces memórias, tenho gravada uma grande lição de verdadeiro amor fraterno e de desprendimento das coisas materiais, que a alma simples e caridosa da cidade de Pedro Leopoldo me exemplificou. Verificou-se por ocasião do Natal, quando de minha primeira visita ao amigo Chico Xavier. Havia levado pequena cesta, com frutas e guloseimas natalinas. Uma cesta de carinho, com a qual pretendia presenteá-lo. Logo que cheguei, fui recepcionado com calor e estima, sendo apresentado aos donos da casa, Lindolfo e Luíza, e a suas filhas — Maria Alice, a Pingo e Lúcia. De pronto, entreguei-lhe o singelo presente, o qual muito me agradeceu. Após conversarmos rapidamente, Chico convidou-me a fazer visitas. Em todos os lugares visitados, mostrava a tal cesta, deixando-me um tanto quando acanhado.
mos, oramos, ministramos-lhe passes. E nestes instantes de doação sincera, parecia que milhares e milhões de lamparinas iluminavam o modesto aposento. Ao final da visita, Chico falou à pobre mulher, olhando para mim: — Nosso companheiro quis conhecê-la e trouxe estas coisas gostosas. Permite que eu prove de uma uva ?!? Fonte: Chico Xavier, mandato de amor, Arnaldo Rocha, UEM.
Nos dirigimos especialmente a uma casa de extrema pobreza, iluminada por lamparina a querosene. No quarto humilde, uma velhinha lastimosa jazia no leito. Seus olhos tristes, cansados e remelentos
iluminaram-se de inenarrável contentamento, ao reconhecer Chico Xavier como seu visitante. Estávamos ali na tentativa de aliviar o sofrimento daquela senhora. Conversa-
Arnaldo Rocha foi marido de Meimei, conhecida no meio espírita por ditar, depois de seu falecimento (em Belo Horizonte, em 1946), inúmeras mensagens e livros ao médium Chico Xavier. Arnaldo procurou o espiritismo ao enviuvar-se dois anos depois de casados.
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A
pergunta remete-nos às classificações mais sutis do espectro que divide a filosofia (tarefa sistemática, crítica, analítica) da religião (tarefa prática e existencial de promoção de sentido para a vida). Para não cair na ingenuidade de conceitos de uma filosofia ou uma religião ‘puras’, é preciso lembrar que cada filosofia e cada religião sempre possuirão relações com outras artes, ciências e vivências humanas. Há portanto, religiões mais ou menos filosóficas; filosofias espiritualistas ou materialistas mais religiosas, menos religiosas, e antirreligiosas. Uma religião filosófica inclui em si espaço para reflexão e discussão de conceitos; não se supõe na posse exclusiva da verdade, ao contrário de expressões religiosas
QUEM PERGUNTA QUER SABER
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não filosóficas, isto é, não raciocinadas. A religião raciocinada e amadurecida é entendida como expressão típica da consciência humana em formas materializadas e estruturadas da cultura (uma crença, um culto, certos procedimentos, rituais etc). Na contramão dessa religião ‘à luz da razão’, estão as expressões menos conscientes da religiosidade como fenômeno humano, e que incluem noções mágicas, simplórias, fatalistas ou arbitrárias, que denunciam sempre a limitação da concepção filosófica da vida e claros traços de antropomorfismo, ou seja, projetando características humanas em Deus. Humberto Schubert Coelho é filósofo e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Saúde e Espiritualidade e professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG.
ACONTECE
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resença assegurada na agenda anual de pesquisadores espíritas de todo o país, o Enlihpe – Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo – começa a ser preparado para a edição 2022. Será o 17º Encontro, que acontece dias 27 e 28 de agosto na cidade de São Paulo. O evento representa um espaço privilegiado no movimento espírita brasileiro, onde são apresentados e discutidos trabalhos e também propostas de investigação científica sobre a temática espírita. Criada em 2002 no formato virtual pelo historiador e pesquisador Eduardo Carvalho Monteiro, a Liga de Pesquisadores passou ao longo dos anos a aglutinar inúmeros estudiosos interessados no desenvolvimento de estudos na área.
Coerência doutrinária na pesquisa espírita A proposta do Enlihpe 2022 é receber trabalhos que fundamentem a questão da coerência doutrinária e seus diversos aspectos na pesquisa espírita. Segundo um dos organizadores do evento, Alexandre Fonseca, a ideia é propor um olhar para a fidelidade ao corpo da doutrina, muitas vezes descaracterizada, dadas as interferências de aspectos conceituais de outras religiões, filosofias ou ciências dos fenômenos espirituais. “O objetivo é perguntar se é possível estabelecer uma identidade clara, a partir da qual seja possível averiguar minimamente a consistência e a coerência de cada proposta, em face
de um paradigma ou de uma identidade espírita. “Pesquisas Brasileiras sobre o Espiritismo” Os melhores trabalhos selecionados ao longo dos 20 anos de Encontros foram organizados em livros-coletâneas e publicados sob o nome “Pesquisas Brasileiras sobre o Espiritismo”, contando ao todo com sete volumes, dentre eles: O espiritismo visto pelas áreas do conhecimento atuais, Novos estudos sobre a reencarnação, A sobrevivência da alma em
4º Encontro da Liga, no ano de 2008: membros da comissão organizadora
foco, O espiritismo da França ao Brasil. (Livraria Candeia: www.candeia.com) Informações sobre como participar: www.lihpe.net
Pedidos de vibrações à distância Federação Espírita do Estado de São Paulo. Acesso pelo WhatsApp: (11) 95950-9542 e e-mail: vibracoes@feesp.org.br (enviar nome e endereço). Para assistência espiritual virtual: acessar www.feesp.org.br Congresso Espírita Paraibano Acontece de 7 a 9 de janeiro de 2022 o 10º Congresso Espírita Paraibano, no Teatro Pedra do Reino, em João Pessoa, PB. O evento contará com palestrantes de destaque do meio espírita brasileiro e terá como tema: “Sem caridade, o que sou?” Haverá atividades também para crianças (2 a 12 anos) e jovens (13 a 25 anos) Inscrições: 10conespb.inscricao.fepb.org.br.
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Congresso Espírita de Uberlândia Será realizado de 28 a 30 de janeiro de 2022 o 2º Congresso Espírita de Uberlândia Virtual. Contará com a participação de expositores como: Alberto Almeida, Ana Tereza Camasmie, Eulália Bueno, Haroldo Dutra Dias, Irvênia Prada, Jorge Elarrat, José Carlos De Lucca, Rossandro Klinjey, Simão Pedro de Lima e também com participações artísticas. Informações: congresso@radiofraternidade.com.br
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Congresso Estadual de Espiritismo Será realizado de 24 a 26 de junho de 2022 o 18º Congresso Estadual de Espiritismo, de São Paulo. O evento terá como tema a “Evolução do ser: consciência e livre-arbítrio” e será realizado no Tauá Resort & Convention Atibaia, em Atibaia, SP. Contará com palestras de convidados, como Rossandro Klinjey, Alberto Almeida, Humberto Schubert, Haroldo Dutra, André Trigueiro, dentre outros. Contará também com momentos artísticos, rodas de conversa e feira do livro. Inscrições: congressousesp.org. Contato: 11 95698-2779.
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CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO
Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
ENIGMA
O retrato de Jesus Existe na Biblioteca do Vaticano uma carta dirigida ao Senado Romano por Públio Lentulus, contemporâneo de Jesus Cristo, com a bela descrição do Mestre:
“Apareceu e ainda vive entre nós um homem de virtude superior, que cura os enfermos e ressuscita os mortos. É de estatura elevada, belo na pessoa, de um aspecto que inspira ao mesmo tempo amor e temor. Seus longos cabelos louros, caindo em cachos, são repartidos ao meio da testa, conforme o costume dos nazarenos. Seu rosto liso é levemente colorido de encarnado. Tem o nariz e a boca bem proporcionados. Traz a barba longa, da cor de avelã madura; seu olhar revela inteligência e candura e tem olhos azuis, com lampejos de cores diversas. Este homem, que, de ordinário é calmo e amável, na sua conversação, torna-se enérgico quando é induzido a fazer alguma censura; mas ainda assim transpira dele um domínio sereno. Ninguém jamais o viu rir; ao contrário: foi visto muitas vezes chorar. O tom de sua voz é grave e modestamente comedido. É belo, quanto o pode ser um homem. Chama-se Jesus, filho de Maria.” Antologia popular espírita, Antonio F. Rodrigues, EME.
A P S C A B E L O S S E R E N O Z O I L V C P N A B A E B R
G E U A M R D Ã O E U I O B E R O L T O O O O A Z U C D E B
B R P C A I U V F D S A I R A A T H A P L E Z R I O O I L A
I G O H L M R E T I E M E T A R P S S A D C M E S P M D O O
P U O O E O A V O O A A A I O C B O U S E O O Z E N E O S L
M I I S V A N V P M V I A U R H V A O P R L Ã E S I D D V H
B P R O B E A L E E L R O N E R O H A O E O L N T E I U L O
R L E P R Q C Ã E L C A N D U R A O P M O R V O A A D R Ã S
E M P D A U L O M D O M I E O V C A L A P I I S T S O A E A
V N T N B T H C O D S E O R S E O E M R C D O O U T O T B Z
E D U A A O O H A V E L Ã N E L M P Q E E O P R R O C U A U
R E R Z U I B O O D N E L D C A E C H O R A R V A P O R A I
O R A A I P O R P O O O E I H V L H E P S N A Z A R E N O S
Como um espírito pode mover um corpo sólido? qualquer hora, em qualquer lugar
Resposta do Enigma:
Combinando uma parte do fluido universal com o fluido que se desprende do médium, apropriado para produzir o efeito.
AGENDA
CULTURA & LAZER
Allan Kardec.
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O livro dos médiuns,
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Resultados
Bazar Beneficente
Agora com amplas instalações Av. Humberto Alencar Castelo Branco, 2955 São Bernardo, SP
Ligue (11) 94454-7048
Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio
ANÁLISE
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Reencarnação: uma fonte de esperança Por DEOLINDO AMORIM
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mbora já se saiba que a doutrina espírita é reencarnacionista, nem todos quantos batem às portas de sociedades espíritas, em situações graves ou para “chorar as suas mágoas”, estão em condições de compreender prontamente certos problemas à luz da reencarnação. Em determinados casos, o esclarecimento deve ser muito prudente, mas sempre compreensivo, pois é inútil, e às vezes contraproducente, começar falando logo em “resgate de dúvidas do passado”, “situações cármicas” etc, se a pessoa aflita está inteiramente fora do assunto e vem de um ambiente todo estranho ao meio espírita. Quem está nessa situação, sem saber o que fazer nem que rumo tomar, procura o meio espírita justamente para receber uma palavra de conforto, uma prova de solidariedade humana, o apoio espiritual de que necessita, mas não pode apreender logo umas tantas elucidações, justamente porque a mente ainda está muito tumultuada. É um problema psicológico. Adequação do diálogo e acolhimento Há explicações que até desorientam, embora sejam bem intencionadas. Figuremos, como simples ilustração, o caso de uma senhora que, na condição de mãe sofredora, profundamente deprimida porque o filho “morreu afogado”, sem nenhuma noção do que seja doutrina espírita, sem jamais haver pensado em reencarnações, recorra a um centro espírita como ponto de apoio e conte o seu caso, “banhada em lágrimas” inconsoláveis. Situação dificílima, evidentemente. E exige muito tato, muita paciência. Imagine-se, agora, se alguém, com a intenção caridosa de esclarecer e ajudar, comece logo dizendo: É assim mesmo. É a lei de causa e efeito. Conforme-se com a realidade. É a sua prova, porque a senhora já deve ter afogado alguém noutra existência!... Francamente, parece mais crueldade do que caridade. Certas maneiras de interpre-
anula totalmente o livre-arbítrio, não significa o puro fatalismo. A reencarnação deve ser entendida como lei geral. Sob a lei, que é inevitável, mas não é somente punitiva, porque proporciona meios de reparação perante a justiça divina, assim como oferece campo para o desempenho de missões nobres e grandiosas na Terra, sob a lei repita-se – cada qual pode fazer as suas opções, ajustar-se a esta ou aquela conjuntura. Ninguém foge à lei, é certo. Quem causa prejuízo aos outros terá de responder pelos seus atos, mas justamente aí é que se nota a inconveniência de certas explicações muito restritivas e prejudiciais ao entendimento da suprema justiça, que fica parecendo rígida demais, senão até desumana!
tar a reencarnação podem até comprometer a própria lógica da doutrina. É preciso aguardar o momento psicológico para entrar no assunto. Não se deve usar a mesma linguagem para todas as pessoas, como não se deve apresentar o mesmo fio de argumentos em todos os casos, em todas as circunstâncias, a propósito de todas as situações. Ainda assim, é bom frisar, há ocasiões em que o modo de encarar os problemas pelo prisma reencarnacionista, ao invés de esclarecer, lançam ainda mais confusão. A
experiência que o diga. Rigidez no entendimento sobre reencarnação Quem estuda a doutrina espírita já sabe muito bem que a reencarnação é um princípio universal, válido no tempo e no espaço. É o caminho lógico da compreensão da Justiça divina, a resposta filosófica aos chamados desafios da natureza. Mas acontece que, às vezes, se leva a reencarnação para um terreno muito rígido e casuístico, esquecendo-se de que a reencarnação não
Questão de lógica A pessoa que causou afogamento não poderá voltar à Terra com a incumbência, de trabalhar como salva-vidas, uma profissão humanitária, a fim de reparar o que fez? E não será muito mais útil do que voltar para ser afogado?... É questão lógica. O espírito reencarnado pode interferir no carma, ainda que não possa desviar o curso da lei. Há várias maneiras de saldar dívidas do passado e reparar os danos causados ao próximo. É a perspectiva da reencarnação. Algumas interpretações da reencarnação, muito ao pé da letra, entretanto, levam certas pessoas a uma confusão ainda maior, quando não saem dos centros dizendo que o ensino espírita é um absurdo. Infelizmente. No entanto, a reencarnação, quando bem compreendida, abre uma janela nova ao espírito para que compreenda seguramente a grandeza e a perfeição da obra divina. A tese da reencarnação é também uma fonte de esperança. Do acervo do jornal Correio Fraterno, edição de dezembro de 1980.
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A música dos Beatles inspirada em um sonho Da REDAÇÃO
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aul McCartney, um dos maiores nomes da história do rock, compôs a melodia completa da música Yesterday em um sonho, enquanto estava na casa de sua noiva, Jane Asher, em Londres. Gravada em 1965 para o álbum Help!, Yesterday hoje é considerada, segundo o Guinness, a canção com mais transmissões nas rádios em todo o mundo. Ao despertar, o vocalista e guitarrista da banda The Beatles foi rapidamente até o piano e, ligando o gravador, começou a tocá-la para não esquecer. Diante do fato inusitado, McCartney
inicialmente temeu ter plagiado uma composição já existente. “Por cerca de um mês visitei pessoas do ambiente musical, perguntando se conheciam essa melodia. Foi como se eu tivesse encontrado algo que deveria ser entregue para a polícia. Pensei que se ninguém reclamasse em algumas semanas, então seria minha” – explica o vocalista. Em suas buscas por respostas, para saber se alguém conhecia o possível autor, ele apenas ouvia: “Não. É adorável! Estou seguro que ela é toda sua”. McCartney então compôs a letra para a melodia, que fala sobre uma história de amor que, ao acabar, deixou um sentimento de se ser menos do que era antes. Lembrar do ontem amenizava a saudade.
A inspiração através do sonho • Ao falar sobre arte e inspiração, que no caso do artista se deu durante a emancipação da alma pelo sono, o escritor Léon Denis elucida que “quando, no espaço, o espírito de um artista decidiu reencarnar, leva com ele as amizades de seres queridos que (...), por intuição, enviarão a esse ser, aprisionado na carne, fluidos provenientes do seu meio e ideias que darão novo impulso à parcela de talento que existe nele”. • Léon Denis cita também que “uma onda de ideias, de formas, de imagens, derrama-se incessantemente do mundo invisível sobre a humanidade. A maior parte dos escritores, dos artistas, dos poetas, dos inventores, conhece essas correntes poderosas que vêm fecundar seu cérebro, ampliar o círculo das suas concepções.” (O espiritismo na arte, Lachâtre)
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DIRETO AO PONTO
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Sinais do Céu A
fé é uma conquista íntima, que se desenvolve à medida que evoluímos e conseguimos penetrar no conhecimento e percepção das leis que regem a vida; é a fé verdadeira e raciocinada ensinada pelo mestre Kardec. Nossa visão de Deus e de como ele rege o universo reflete nossa fé. Muitos ainda veem a Deus de forma imperfeita, o que se justifica pelo estágio evolutivo em que se encontram. Trazemos gravada em nosso inconsciente a ideia da existência de algo maior, superior, entretanto esta relação com o divino se realiza dentro de nossas limitadas, mas crescentes possibilidades de com ele nos conectarmos, tentando assimilar sua lei de amor. É fato que o mundo evoluiu, que a tecnologia mostra seus avanços que nos trazem mais conforto e desenvolvimento. De um modo geral, ampliamos o intelecto, a inteligência emocional e também a espiritual; porém, temos ainda um bom caminho a percorrer. Já não fazemos oferendas aos vulcões, já não adoramos as pedras, tampouco imaginamos que Deus seja um homem como nós, mas tentamos ainda de forma velada barganhar com o Criador, com o antigo e velho hábito praticado por tanto tempo. Mesmo nós, que hoje professamos nossa fé de maneira mais efetiva, dedicando parte de nosso tempo na divulgação e aplicação do Evangelho de Jesus, temos nossos deslizes, uma vez que somos aprendizes e ainda não nos formamos na escola da sabedoria e do amor. Basta que a dor, a necessidade, a enfermidade ou a desilusão nos visite para
Por UMBERTO FABBRI
Basta que a dor, a necessidade, a enfermidade ou a desilusão nos visite para colocarmos em cheque o amor do Pai” colocarmos em cheque o amor do Pai. Por que sofro, se faço tudo corretamente? Esquecemos que temos um passado que herdamos de nós mesmos e que necessita de ser reconstruído, reescrito, ou ainda provas que solicitamos para testar nossas forças e desempenho. E nos colocamos, como antigamente, a pedir de Deus, não a ajuda que nunca nos faltará, mas a solução imediata de nossas dificuldades e quando
ela não vem, da forma que desejamos, surge então à incerteza, a dúvida, a desesperança ou a revolta. Evidente que não encorajamos a inércia, ou comodismo, tampouco a fé cega e desprovida de reflexões. Mas, aquele que caminha com Deus, entregando a ele sua vida, confiando que ele suprirá todas as nossas necessidades, desde que façamos nossa parte, vive a confiança e a certeza dos que tem a fé inabalável, pois é construída pelo entendimento de que Aquele que nos
ama incondicionalmente, jamais nos deixará entregues a má sorte, jamais nos abandonará, pois somos parte dele mesmo. Para que possamos compreender melhor este pensamento, lembremos agora da pessoa que tem nossa confiança absoluta, aquela com quem sabemos que podemos contar, aconteça o que acontecer, aquela que não nos abandonará, pois nutre por nós afeto profundo e verdadeiro. Pois bem, não desmerecendo nossas amizades e afetos, recordemos que esta pessoa é, muito provavelmente, ainda imperfeita. Se temos junto a nós, aqui na Terra, uma demonstração deste porte, o que não devemos esperar do Pai, que é perfeito e nos ama de forma incondicional? Se hoje sofremos, busquemos aprender com a dor, pois ela é também caminho de crescimento espiritual. Se hoje passamos por dificuldades, há aí a justiça divina atuando, mesmo que não a compreendamos no momento. Trabalhemos nossa fé na aceitação do que não podemos modificar, mas também na coragem e determinação para enfrentar e transformar o que nos compete. Pedimos sinais do Céu que demonstrem a existência e atuação de Deus em nossas vidas esquecendo que ele é o Criador e que nossa existência é prova irrefutável de seu amor, que nos nutre, alimenta e sustenta, ontem, hoje e pela eternidade. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.
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MÍDIA DO BEM
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Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!
Modelo com Down dribla preconceitos e conquista carreira internacional
Professor aposentado vende fusca, mas o recebe de volta
Gari faz campanha de Natal para doar doces e brinquedos
Desde criança, Maria Júlia de Araújo, 19 anos, enfrentou muitos desafios. Há três anos, foi descoberta por um grupo composto por empresas que atuam no segmento artístico e de moda. Recentemente, brilhou como a primeira brasileira com síndrome de Down a desfilar na Fashion Week, em Milão. “É um misto de sentimentos, alegria, empolgação, um pouquinho de nervoso, paixão... Meu coração transborda gratidão! O que mais amo fazer é estar nas passarelas!”, disse.
O ex-professor Marcelo Siqueira, 87 anos, era inseparável de seu fusca 1972. Há um tempo, ele precisou colocar o carro à venda. Mas, recentemente, seus ex-alunos o surpreenderam dando-lhe o carro de volta, depois de fazerem uma vaquinha no grupo de WhatsApp. Como professor de História e Geografia de uma escola estadual, em Curitiba, seu Marcelo sempre foi mestre e inspiração dentro da sala de aula, mas, fora dela, era conhecido por sua simpatia e, claro, pelo fusca verde que chamava a atenção por onde passava!
Betinho é gari há mais de 16 anos e trabalha no segmento com muito orgulho! Mesmo vivendo com tão pouco, ele fundou a ONG Amigos do Reino para ajudar famílias, realizando várias ações com as crianças das comunidades. Através de doações e apoio de amigos e vizinhos, Betinho agora está em campanha para distribuir dois mil brinquedos e doces para as crianças de presente de Natal.
Fonte: Revista Vogue
Fonte: RPC
Fonte: Razões para acreditar