50 anos
Hรก muito o que
contar...
U
ma história que perdura por 50 anos coleciona incontáveis acontecimentos. Passou pela vida de velhinhos, de crianças que se tornaram adultas e é ouvida hoje por outras, que montam na imaginação os quadros de um passado muito diferente da realidade atual. Ela tem início poucos anos antes de 1959, quando um sonho começou a fazer parte dos anseios de um grupo batalhador, que aprendeu a buscar a concretização de seus nobres ideais. Um dos fundadores, Raymundo Rodrigues Espelho, 73 anos, é quem conta: “Quando cheguei em São Bernardo do Campo, em 1959, vindo de Catanduva, interior de São Paulo, praticamente na mesma época em que veio meu amigo do movimento espírita, Ismael Sgrignolli, fomos participar do Centro Espírita Emmanuel, em São Bernardo, o único existente até então, na cidade. Lá conhecemos Manoel Martins Romero, Alberto D’Angeli, Milton Tenório Cavalcante, Andrés Garcia Guerrero, Manoel Guarini, José Corrêa Gomes, Álvaro Moreira e Expedito Teófilo da Silva. Nesse 3
Termo de abertura da assembleia de fundação.
grupo, já existiam estudos para se fundar um lar para crianças órfãs. Mas não tínhamos dinheiro e tampouco o terreno. “O grupo tomou então conhecimento de que havia uma família espírita que possuía terras na zona rural da cidade, na antiga Linha Camargo, que mais tarde teve sua denominação mudada para Estrada Jurubatuba e depois para a atual Avenida Humberto Alencar Castelo Branco. Era uma trilha para pedestres e carroças. Não havia ônibus e os veículos eram raros. Ladeando essa trilha, apenas a grama e capim eram fartos. Não havia asfalto ou mesmo sarjeta.” O casal Felipe e dona Leonor de Freitas Audi foi quem doou parte de suas terras – cerca de 6.000 metros quadrados – onde se inicia a história da instituição. No dia 30 de março de 1960, em As4
sembleia Geral realizada no Centro Espírita Emmanuel, o projeto de um lar para crianças órfãs passa oficialmente a existir, tendo assim sido aprovado seu estatuto, eleitos os 33 primeiros membros do Conselho Deliberativo, Conselho Administrativo e primeira Diretoria. Assinaram o livro de presença na Assembleia como conselheiros fundadores: Ismael Sgrignolli, Expedito Teófilo da Silva, Manoel Guarini, Raymundo R. Espelho, Alberto D’Angeli; Manoel Martin Romero, José Corrêa Gomes. Ismael e os três últimos (todos já desencarnados) se sucederam na Presidência da Casa. Outros que participaram da fundação da instituição foram: Ernesto e João Domingues Tavares, Antonio Carlos de Carvalho, Maria Aparecida de Carvalho, Aluisio Parajara, Milton Tenório Cavalcante, Rolando Coppini, Leonor
Assinaturas dos presentes – conselheiro e fundadores – na assembleia de fundação.
de Freitas Audi e seu filho Ari de Freitas Audi (da família que doou a primeira metade do terreno e depois vendeu, a preço acessível, a outra metade), Antonio Lopes Raposo, Vanderlei Rodrigues Es-
pelho e Aurelino Pereira Lima. Na tarde de 31 de julho de 1960, o lançamento da pedra fundamental do Lar da Criança Emmanuel levou muitos amigos e simpatizantes para a clareira aber-
Pedra fundamental, assentada com mensagem de Emmanuel, ata de fundação assinada pelos presentes e um jornal do dia. 5
D. Leonor Audi, doadora do terreno. 6
Vista do terreno.
Preparação para a obra.
ta meses antes na mata. Logo depois, um pequeno lanche foi servido com muita alegria, na casa de dona Leonor, selando o importante acontecimento. Mãos à obra – e literalmente na enxada –, aos poucos o terreno é nivelado pelos próprios diretores da casa, grande parte deles sem o talho para tal função. Mas a necessidade era maior... “Lembro-me de que, carregando baldes de concreto para encher as lajes do Lar, tive cãibras nos dois braços ao mesmo tempo. Larguei tudo e enfiei-os em um latão cheio de água que esta-
va perto. Eu tinha então 21 anos”, conta José Perez Perez, que trabalhou na Casa desde o início e fez parte da Diretoria. Tendo sido por muitos anos seu contador, mora hoje no interior do estado. Antigos trabalhadores recordam do dinamismo de seu Alberto D’Angeli, dizendo que ele incentivava a equipe, com frases que resumiam a grande verdade: “temos que pegar e fazer”. Assim que o Lar foi fundado, uma coleta entre amigos foi realizada, mas não chegou a somar mais que 90 cruzeiros. Não era nada perto do que seria neces-
sário. Foi quando se começou a fazer campanha para arrecadar sucatas em domicílio – papel, garrafa e ferro, pois plástico nem existia. Seu Corrêa, que era maçom, conseguiu entre seus contatos que a indústria automobilística Volkswagen doasse as sucatas – hoje recicláveis. Logo depois, seu Alberto D’Angeli teve sucesso, ao pedir em outra montadora, a Willys, para que os resíduos também viessem para o Lar. Por esse motivo, caminhões passaram a entrar e sair do terreno, até mesmo depois do primeiro pavilhão estar de pé.
Sucatas doadas pelas indústrias automobilísticas. 7
No canteiro de obras, a promoção de eventos beneficentes.
Foi realizando a campanha da sucata que outros novos trabalhadores se somaram e marcaram a história da Casa, como a família Tonetto (Belmiro, Carlos, Pedro e Oripes e seus familiares). Muitos deles até hoje são dedicados tarefeiros. Um ano rapidamente se passa e as paredes do Lar Emmanuel vão ganhando dimensão. A conclusão da laje do primeiro pavilhão inspira uma grande ideia: fazer uma peixada beneficente. A comunidade se mobiliza. Até mesmo ônibus grátis para o bairro, que ainda nem era servido pelo benefício, foi conseguido. Finalmente o Lar pôde abrir as suas portas. No 8
dia 18 de outubro de 1964. Amigos, simpatizantes e autoridades do município compareceram à cerimônia e festividades. Cheirando a novo, naquela noite mesmo, a casa abrigaria as primeiras quatro crianças, que já estavam abrigadas nas casas de alguns membros do grupo. Para recebê-las, faltava apenas a ligação dos serviços de água e esgoto, providência que o prefeito Higino Batista de Lima assumiria, em seu discurso pela manhã, e que realmente se cumpriria na semana seguinte. “A primeira criança – lembra seu Belmiro – foi o Roberto, que chamávamos de Xerife, por ser um menino bem grande. Tinha meses. Depois, vieram
Fachada do primeiro pavilhão concluído.
João e Marcos. O pai era motorista de ônibus e levava as crianças junto, por não ter com quem deixá-las. Também chegou a Wilma, cuja mãe morreu e o pai ficou sozinho. Veio junto com seu irmão, Osmarzinho, que por sinal continua vindo sempre aqui. A Wilma, criança, via a mãe (em espírito) na janela. Tia Ruth, que cuidou das crianças do Lar por mais de vinte anos, e que não era espírita, arrepiava-se.”
Os bercinhos, que aos poucos iam sendo ocupados, tinham diversas procedências. Alguns doados pela indústria moveleira na cidade, e outros, usados, doados pela comunidade. Os colchõezinhos, porém, foram feitos com as espumas e os retalhos de tecidos doados como sucatas. Maria Aparecida Montoro Toneto, dona Cida, esposa de seu Belmiro Toneto, conta que as flanelas usadas para a limpe-
za das peças nas indústrias eram clareadas e delas saíram muitos pijaminhas para as crianças. “Fazíamos no Lar mesmo as costuras. Enquanto uma cortava, a outra ia costurando.” Essa tarefa teve a grande dedicação de outras companheiras, como dona Janette Rodrigues Sgrignolli, Célia Guimarães, Clarice Tonetto, Maria Elena S. Rodrigues e de outras voluntárias, em sua maioria esposas dos diretores. 9
Ambulat贸rio m茅dico, farmac锚utico e odontol贸gico. 10
Vista da cozinha central.
Autoridades visitam o Lar. Atrás, o trabalho de seleção de sucatas. 11
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“Como não existia linha de ônibus para o Lar, a gente vinha com o seu Corrêa [José Corrêa Gomes], presidente na época. Os homens vinham a pé, ele trazia só as mulheres e as crianças. Normalmente de sábado e domingo. Vínhamos com os filhos pequenos, eu com a Márcia e o Márcio. Tinha o Raymundo com a família (a Izabel e o André), o seu Corrêa com uma funcionária dele, o Clóvis com a mulher e duas crianças, e às vezes a dona Maria, esposa do seu Manoel Romero. A diretoria vinha toda para trabalhar. Lembro-me do Ismael [Sgrignolli], advogado, um homem estudado, o Raymundo, todo mundo ajudava no concreto” – recorda dona Cida. Esposa de Ismael Sgrignolli (desencarnado na década de 1980), Janette Rodrigues Sgrignolli compara o trabalho desses anos todos como o do passarinho, que leva água no bico para apagar um incêndio. “É pouco, mas ele faz a sua parte. Pelo menos essas crianças tiveram um futuro diferente. Muitas teriam apenas a rua”, assinala. Foram muitos momentos de alegria, de conquistas, e alguns poucos, mas marcantes, de dor. Como o incêndio no galpão, ainda na década de 1960. Era o local onde se separava e se armazenava todo o material reciclável, fardos de papel; tecidos e outros materiais. “O fogo devorou tudo o que havia no recinto, inclusive
três caminhões que trabalhavam no transporte desse material. O incêndio finalizou as atividades com as sucatas e fez a Diretoria e amigos chorarem sentidos, o dia todo”, lembra Cida. Mas, no dia seguinte, já começaram a chegar caminhões de material de construção para “reconstruir” o salão. Muitas empresas da cidade ajudaram com doações. Dona Odete Tavares Bellinghausen, por exemplo, já doava em outra instituição roupas para os necessitados, um projeto especialmente desenvolvido para tal função, que não havia ainda na cidade. A doação de material foi uma alavanca para uma nova fase de captação de recursos para manter a obra. Algumas semanas depois tinha início uma nova fase do Lar – almoços e jantares beneficentes, servidos com alegria renovada pela equipe, agora reforçada de colaboradores. “Por muitos anos, no galpão reconstruído, esses almoços se constituíram numa das realizações que mais deixaram saudades, tanto para os trabalhadores da linha de frente, como para nós, na época crianças. Foi a cartilha onde muitos espíritas, filhos dos trabalhadores da casa, entenderam o significado da expressão solidariedade. A gente se testava como ‘gente grande’ nos serviços. A sensação que tenho é que o nosso trabalho, apesar de crianças, fazia a diferença.
Picar legumes, servir o pão, retirar pratos, tudo isso fazia parte do trabalho... Tempos de boas recordações e sólidas amizades!”, recorda Izabel Rodrigues Vitusso, hoje vice-presidente do Lar e editora do jornal Correio Fraterno, que surgiu logo depois, em 1967, como o primeiro produto da Editora Correio Fraterno, com o objetivo de divulgar o Espiritismo, o trabalho social e as atividades do Lar. São muitas as recordações. Gente disposta, que atendeu ao chamado de ajuda em uma obra que crescia e ampliava o número de seus assistidos, necessitando sempre de novos colaboradores. “Cheguei aqui em São Bernardo, vindo do interior, em 1945. Frequentava um centro espírita na Vila Maria, em São Paulo. Foi quando soubemos do Lar, que ia receber crianças e estava precisando de ajuda. Pegamos o trabalho com amor. A gente trabalhava com prazer mesmo, que rendia. Seu Manoel [Romero] tinha um coração enorme. Levava todo mundo de caminhão, tempos depois de irmos de perua com o seu Corrêa” – recorda seu Pedrinho, 79 anos, o irmão mais velho da família Tonetto. “Na época dos almoços, no sábado eu chegava às seis da manhã. Ia até acabar o almoço de domingo à tarde, todos os terceiros domingos do mês. Todos trabalhavam. Tinha vez de atender quinhentas pessoas no dia. 13
Acolhimento e carinho dedicado às crianças.
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Lançamento da pedra fundamental do segundo pavilhão. 15
D. Ruth Manzini: um trabalho de décadas. 16
E dava tudo certo. Um ajudava, o outro ajudava... Era uma festa.” Segundo sua esposa, dona Clarice Tonetto, as histórias pessoais e a do Lar muitas vezes acabam se misturando. “O Lar foi muito importante para nossa vida. Aumentou nosso amor ao próximo. Eu adorei trabalhar assim, no que eu fiz. A história dessa Casa faz parte de nossa vida”, completa. Daí para frente, também vieram as Noites da Pizza e o Chá e Bazar. Graças a isso, o segundo prédio foi erguido com o que era arrecadado. Os depoimentos são unânimes em admitir que os eventos beneficentes tinham múltiplas funções. Dentre elas a de propiciar que muitos passassem pela Casa e conhecessem a qualidade do trabalho que ali era realizado, o que tornava o Lar uma referência. Como profissionais ou voluntárias, diversas pessoas passaram pelo Lar, prestando seus serviços e exemplificando o verdadeiro amor desinteressado, nas mais diversas atividades. Para administrar as funcionárias, tarefeiros e as crianças, contratou-se primeiramente um casal e, só depois, dona Ruth Manzini chegou para ajudar na administração dos serviços e pessoas, tarefa que desenvolveu por muitos anos, tratando a todos, crianças, pais e colaboradores com muito carinho e conhecimento de causa. Ela permaneceu por décadas no Lar, até a sua desencarnação. “Tia Ruth veio para cá com recomendações para trabalhar com crianças, tinha problemas no coração. Dentre as restrições, ela não poderia descer escadas. Passou décadas aqui, subindo e descendo. Envolveu-se tanto com as crianças que nunca mais lembrou do coração. Ela morreu de outra coisa” – relembra Belmiro Toneto. Também Leonor Antoniassi (Tia Lolô), uma das mais antigas trabalhadoras da Casa, chegou em 1972. Veio do interior à procura de emprego. Hoje, aos 75 anos de idade, ainda na ativa, lembra que, quando veio para o Lar, havia em torno de 60 crianças. Dormia no emprego. Lavava e passava. Com a morte de dona Inácia, assumiu as tarefas da cozinha, sendo uma das responsáveis atualmente pela elaboração das mais de 25 mil
refeições mensais servidas. Ela conta: “Sempre gostei daqui. Nunca faltou comida nessa dispensa. Sempre aproveitamos tudo, inventando cardápios que as crianças gostam. Meu dia até hoje começa cedo. Levanto às cinco, às seis já estou fazendo o café. Às oito já começamos o almoço”. Tia Lolô lembra muito bem das crianças. “Eles eram danados, o mais levado era o Manoel. Sempre me apeguei muito a eles. Só
Deus sabe. Quase morria quando as crianças iam embora. Era sofrido, mas se tivesse que mudar alguma coisa na minha vida, não mudaria nada”, conclui. Maria Geni Francisco, uma das crianças acolhidas, hoje diretora da Creche, conta que um dos maiores apegos de Tia Lolô no Lar foi justamente com seu irmão, Gilmar. “Ele veio para cá doentinho e foi quem colocou o apelido nela de Tia Lolô, a mesma forma carinhosa com que hoje minha fi-
lha, Laís, que também frequenta a creche, a chama. “Esta é minha verdadeira família”, diz tia Lolô, que deixou casamento e família consanguínea para depois. Há fatos curiosos, claro, nesses 50 anos de Lar da Criança Emmanuel, por onde já passaram ao todo mais de 2.500 crianças. Raymundo Espelho recorda com muita emoção: “Na época do internato, num domingo por mês, as mães vi-
Residência de D. Leonor de Freitas Audi, à frente do Lar da Criança Emmanuel. 17
Diretores e voluntรกrios do Lar da Crianรงa Emmanuel:
Raymundo R. Espelho e Maria Elena Rodrigues
Pedro Raymundo dos Santos 18
Pedro e Clarice Tonetto
Belmiro Toneto
Aparecida Toneto
Janette Rodrigues Sgrignolli
Ad達o Ribeiro da Cruz 19
nham visitar os filhos. Em um deles, uma mãe sequestrou o filho. Ela já estava entrando no ônibus, quando eu vi e dei um grito, pulando também para dentro do ônibus. No caminho, fui tentando convencer a mãe a retornar com a criança. O ônibus seguiu até próximo à Polícia Rodoviária, na via Anchieta, já em São Paulo. Na polícia, esclareci a história. De lá seguimos para a delegacia, em São Bernardo, onde o delegado, Dr. Arimateia, um amigo da Casa, ajudou na solução do caso. Nem me lembro se fomos na viatura policial. Naquele tempo 20
não havia condução fácil. Essa história nos marcou muito, porque a mãe não tinha saúde mental para ficar com a criança; se tivesse, a criança não estaria no Lar. Mas ela fazia promessas ao filho de que o pai voltaria, que iria comprar carro, o que deixava o menino fixado na ideia! Muito triste!” Em meio século, o Lar teve um progresso gigantesco. Até os anos 1980, talvez em virtude de ser um internato, as crianças chegavam subnutridas e enfermas. As preocupações dos dirigentes eram muitas nesse sentido. A impressão que fica, olhan-
do-se para trás, é que não havia progresso. A mudança para o sistema de creche, com as crianças convivendo com seus familiares, trouxe vida nova para a Casa e uma integração maior com a comunidade, compartilhando-se maiores responsabilidades. O atual presidente do Lar, Adão Ribeiro da Cruz, lembra que as conquistas alcançadas acabaram envolvendo até parceiros, como o governo do Japão, que possibilitou a instalação de uma nova unidade para ampliar o atendimento à comunidade, em dezembro de 2008. “Ago-
ra as crianças podem ficar até os 14 anos. Elas vêm nos horários alternativos aos da escola, como complementação dos programas educativos. Temos reforço escolar, atividades de arte, em moderno ateliê, biblioteca, capoeira, artes marciais, atividade com violão e música, e estamos planejando também aulas de educação física”, explica. “Quando chegamos ao Lar com a esposa, Rosa Maria, em maio de 1980, começamos a participar dos eventos sociais. Nesta época, a instituição estava justamente passando seu
atendimento de orfanato para creche. Passados quase trinta anos, é com muita alegria que participamos de todas essas conquistas”, revela. Ao saber da inauguração do novo pavilhão, em dezembro de 2008, Miltes Bonna, presidente do CEOS (Centro Espírita Obreiros do Senhor) e da IAM (Instituição Assistencial Meimei), ambos também de São Bernardo do Campo, manifestou seu carinho pelo grupo e pela tarefa realizada: “Sei da imensa emoção que envolve a todos nesse dia e sei também das abençoadas lutas
Lar da Criança Emmanuel recebe visita do então Cônsul Geral do Japão em São Paulo. 21
para levar adiante o compromisso assumido na Espiritualidade. Transformar esse recanto abençoado em um ponto de luz onde a esperança renasça em cada dia, é tarefa que se realiza tendo Jesus como lema. E vocês conseguiram! “Emocionada, recordo o dia da inauguração da pedra fundamental. Todos nós, muito jovens, integrantes da Mocidade Espírita de São Bernardo do Campo, tão cheios de sonhos e entusiasmo também, de ver um dia a obra 22
realizada. Hoje, está comprovado como o Amor faz a diferença. É esse amor que alimenta vibratoriamente todos nós, contextualizado no respeito ao outro, no carinho expresso em cada olhar. Por mais simples que aparentemente seja a tarefa executada, podemos deixar marcas de luz pelo exemplo. Quando crianças e adolescentes recebem de nós um gesto de carinho e de atenção, multiplicarão, no dia a dia, essa forma de ser. A construção de um mundo melhor come-
ça nas pequeninas mudanças.” Ela é uma das contemporâneas, vinda da mesma cidade de origem de muitos pioneiros do Lar, Catanduva. E as histórias não acabam. Experiências inesquecíveis de todos aqueles que vieram para ajudar, como a de seu Pedro Raimundo dos Santos, 66 anos, de Paraisópolis, Minas Gerais, que chegou na instituição em 1980, com poucos conhecimentos. “Vim por causa do Centro [Centro Espírita Pátria do Evangelho,
ligado à Casa]. Ganhei um livro de um amigo sobre a Doutrina. Comecei a ler e a me entusiasmar cada vez mais. Depois conheci o Lar. Achei bonito seu objetivo e então alguma coisa me despertou. A primeira atividade minha e da Vanny [esposa] foi o evento da FEDES, Federação das Entidades Sociais, realizado anualmente com objetivo de arrecadar fundos para depois dividir entre as entidades. Mas foi a partir das Noites da Pizza, um evento que nós iniciamos, que passei a trabalhar pra valer. “O Lar me deu um sentido na vida diferente. Onde a gente se valoriza e se acha valorizado, como ser humano. E esse valor é o Bem Maior, que leva a gente a não parar.” Há também histórias daqueles que vieram dar sentido a outras vidas, como a da própria diretora e pedagoga Maria Geni Francisco. Emocionada, ela relata: “Com cinco anos, em 1972, quando eu vim para cá, eu era a mais velha de meus irmãos que puderam ser aceitos, pelo limite da idade: éramos eu, o Gilmar, a Gisleine e a Cida. Eu pensava: vou ficar aqui para cuidar dos meus irmãos. Tudo o que sei hoje aprendi com a Tia Ruth. No começo, tive dificuldades. Talvez por medo de me apegar novamente a alguém e voltar a perder, como foi com a perda da minha mãe. Foi Tia Ruth quem me ensinou a conversar, sem gritar. Ela tinha uma fala mansa, mas firme. Era bem rígida. Quando ela morreu, eu tinha 16 anos e foi uma perda muito difícil para mim. Lembro que o Lar era muito bonito, bem cuidado. O chão era um ‘brinco’ e hoje, eu procuro fazer a mesma coisa. Quem chegar na creche, vai ver que as crianças são bem cuidadas. Não posso dizer que minha vida foi ruim. Foi de aprendizado. Aqui eu tive só que dividir o amor com um montão de crianças. O que eu recebi no Lar, tento dar para essas crianças hoje. Olhando para trás, eu gostaria de ter tido mais entendimento, ter aceitado melhor algumas coisas, porque, se eu perdi minha mãe aos cinco anos, eu cresci e tive meus irmãos próximos de mim. Se não tive um pai presente, tive uma outra estrutura que me acolheu. Eu só tenho a agradecer. Tudo veio a seu tempo. Amadurecer é assim”. Geni permaneceu no Lar até os 23 anos. “Saí da23
Público presente durante o lançamento da nova unidade de atendimento, em parceria com o governo do Japão. 24
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Ana Paula Verçoza, mãe do aluno Matheus Verçoza.
qui casada. Aí fiz faculdade de pedagogia”, conta, recordando com emoção suas dificuldades de infância. “As pessoas vinham nos visitar e eu adorava mostrar a ‘minha’ casa, mas eu não gostava quando elas vinham para olhar as crianças, fazia cara feia mesmo, principalmente se demonstravam desejo de levar alguma criança; e eu já ficava de olho nos meus irmãos para ver se não iriam levá-los.” Para ela, lembrança boa mesmo é recordar quando seus irmãos retornaram, depois de tentarem uma experiência morando, distantes, com o pai. Outro momento feliz foi sua volta para o Lar, como profissional. “Foi o momento de eu falar: agora vou fazer a minha parte, tudo o que fizeram por mim eu vou retribuir. Na verdade, eu nunca saí daqui”, confessa sorrindo. São histórias assim, de superação, esperança e muita coragem 26
que acabam impulsionando diretores, colaboradores, funcionários e assistidos. É preciso fazer bem e sempre mais. Valorizam sim o passado, mas não perdem o foco do desafio do presente, com olhos de futuro, sempre pleno de sonhos, projetos e realizações. É o que explica o presidente Adão Ribeiro: “Há três anos, quando assumimos a presidência, assumimos o desafio de ampliar a casa. Ela já estava no máximo, na época com 180 crianças. A partir daí, colocamos os projetos para serem executados. Um deles era a ampliação da creche, para que pudéssemos aumentar o número de crianças; outro seria a cobertura da quadra, também uma necessidade na época; o terceiro, a ampliação do salão de eventos; e o quarto, um prédio para o centro espírita. Alguns projetos já estão aprovados pela Prefeitura, outros em andamento, aguar-
dando parcerias e recursos financeiros para que novos sonhos se tornem realidades. É o Lar sempre atento, tentando se adequar às necessidades da comunidade, que também tem se empenhado em fazer a sua parte, compartilhando conosco tantos trabalhos. Sozinho, ninguém faz nada. Acho que ainda vão ficar algumas coisas para a outra Diretoria dar sequência. Mas o importante é que temos projetos. Sonhamos e trabalhamos.” A participação dos pais também é fundamental no trabalho desenvolvido, o que pode ser percebido nas palavras de Ana Paula Verçoza, coordenadora da Comissão de Pais do Lar Emmanuel, mãe de Matheus Verçoza, de quatro anos: “Aqui é uma escola de verdade. A educação é completa, tem apoio e orientação aos pais, tem tudo o que uma criança precisa. É claro que precisamos melhorar sempre, precisamos
reformar a quadra, mas a escola precisa de mais parceiros. Tem que ter ajuda de novos parceiros para poder crescer, porque tem criança doida para entrar aqui. Ninguém quer perder a vaga”. Os depoimentos de tantas outras pessoas importantes nessa história não param aqui. Quantas Marias, Josés e Mários estão ligados à casa e guar-
dam recordações valiosas, que precisam ser resgatadas. O desafio continua grande, mas conta com muita coragem, disciplina e bom-ânimo de todos que se doam a esse projeto, que celebram com gratidão e alegria cada conquista. E o que é melhor de tudo é que essa história é viva e não pode ter um capítulo final tão cedo. Conti-
nuemos, pois a história do Lar não vai parar. Aliás, pode ser até que esteja apenas começando. Depende de cada um de nós. Sigamos em frente, pois, com a gratidão no coração, o trabalho nas mãos e a fé em Deus, na certeza de que apoio nunca nos faltará. O melhor motivo de tudo isso há de sempre permanecer em todos que por aqui passarem: AMOR.
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DIRETOR DE ARTE E PRODUTOR Bruno Tonel www.brunotonel.com.br EDITORA CORREIO FRATERNO Presidente: Izabel Regina R. Vitusso Vice-presidente: Belmiro Tonetto Tesoureiro: Adão Ribeiro da Cruz Secretário: Vladimir Gutierrez Lopes
CONSELHO DO PROJETO Adão Ribeiro da Cruz, Cristian Fernandes, Eliana Haddad, Izabel Vitusso e Tânia Teles EDITOR Cristian Fernandes JORNALISTAS Izabel Vitusso Eliana Haddad PESQUISA Izabel Vitusso FOTOS Acervo do Lar da Criança Emmanuel e Regina Rodrigues
COLABORADORES Gení Silva Francisco George De Marco Priscila Bernardo Pescara Raymundo Rodrigues Espelho Rosângela Bernardo Pescara Sérgio Serkys Tânia Teles FALE COM A GENTE Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 – Vila Alves Dias CEP 09851-000 – São Bernardo do Campo – SP Telefone/Fax: 11 4109-2939 editora@correiofraterno.com.br www.correiofraterno.com.br www.twitter.com/CorreioFraterno 50 Anos – Lar da Criança Emmanuel é uma publicação especial da Editora Correio Fraterno, exclusivamente para distribuição virtual.
LAR DA CRIANÇA EMMANUEL Presidente: Adão Ribeiro da Cruz – 1º Vice-presidente: João Sgrignoli Júnior – 2ª Vice-presidente: Izabel R. Rodrigues Vitusso – 1º Tesoureiro: Pedro Raymundo dos Santos – 2ª Tesoureira: Tânia S. Teles da Mota – 3º Tesoureiro: José Natal Inácio – 1º Secretário: Vladimir Gutierrez Lopes – 2º Secretário: Vicente Rodrigues da Silva – 3º Secretário: Sérgio Sukis – Procurador: Raymundo Rodrigues Espelho – Bibliotecária: Rosa Maria Scucel da Cruz – Diretora Administrativa: Gení Silva Francisco Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 – Vila Alves Dias CEP 09851-000 – São Bernardo do Campo – SP Telefone/Fax: 11 4109-8938 | contato@laremmanuel.org.br | www.laremmanuel.org.br AGRADECIMENTOS Criação e produção do folder institucional: Fred Aguiar (fred.aguiares@gmail.com); Fotolitos e impressão do folder institucional e do convite do evento: Master’s Gráfica e Editora (www. mastersgrafica.com.br); Roteiro do vídeo institucional: Érica Sandrini (ericasandrini@gmail.com); Criação e produção do vídeo institucional: Tori Produções (tori@netabc.com.br); Roteiro e desenhos de As aventuras de Fraterninho especial: Hamilton Dertonio (www.packcom.com.br); Website: Celso Rodrigues e Eduardo Tani (eduardo.tani@gmail.com); Comunica-T (www. comunica-t.com.br); Escritório Brasil – Contabilidade e Serviços ( jdcontabil@terra.com.br); Fundação Salvador Arena (www.fundacaosalvadorarena.org.br); Joyce Stefana da Silva; Maria Helena Rossi; Medical Systems (www.medicalsystems.com.br); Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo; Silvio Luis Francisco; ZF Sachs (www.sachs.com.br); e a todos os demais que apoiaram e colaboraram na realização do Projeto 50 Anos do Lar da Criança Emmanuel.