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www.correiodecaracas.net

O jornal da comunidade luso-venezuelana

ANO 06 -

UNEFA sem sucesso

N.º 119 - DEPÓSITO LEGAL: 199901DF222 - PUBLICAÇÃO SEMANAL

Universidade não encontra professores de português. PÁGINA 8

CARACAS, 11 DE AGOSTO DE 2005 - VENEZUELA: BS.: 1.000,00 / PORTUGAL:

Festival da Juventude

15 mil jovens de todo o mundo estão na Venezuela. PÁGINA 10

Portugal prepara Fórum para os luso-eleitos Anúncio para 2006 foi feito ao CORREIO pelo secretário de Estado das Comunidades PÁGINA 3

Tony Rodrigues dirige nova telenovela da RCTV. PÁGINA 15 António Braga traz comitiva de empresários por altura do “Encontro de Gerações”. PÁGINA 4

Na Madeira, a Festa da Venezuela reuniu mais de 700 pessoas para ver, ouvir e rir com o “El Conde del Guácharo”, numa festa para matar saudades do “pabéllon crioullo” e “plato navideño” PÁGINAS 28 A 31

Novo delegado da TAP promete mais atenção ao interior. PÁGINA 25

0,75


2 EDITORIAL

CORREIO DE CARACAS - 11 DE AGOSTO DE 2005

Toca a unir! Director: Aleixo Vieira Subdirector Agostinho Silva Coordenação em Caracas Délia Meneses Coordenação na Madeira Sónia Gonçalves Jornalistas: António da Silva, Carlos Orellana Jean Carlos de Abreu, Liliana da Silva Nathali Gómez e Noélia de Abreu Correspondentes: Ana Pita Andrade (Maracay) Bernardete de Quintal (Curaçau) Briceida Yepez (Valencia) Carlos Balaguera (Maracay e Valencia) Carlos Marques (Mérida) Sandra Rodriguez (La Victoria) Trinidad Macedo (Barquisimeto) Colaborações: António de Abreu, Arelys Gonçalves Janette Da Silva, Luís Barreira e Miguel Rodrigues Publicidade e Marketing: Carla Vieira Preparação Gráfica: Olga de Canha (DN-Madeira) Produção: Franklin Lares Fotografia: Paco Garret, Fartih Useche Distribuição: Enrique Figueroa Impressão: Editorial Melvin C. A Calle el rio con Av. Las Palmas Boleita Sur - Caracas Venezuela

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"força do associativismo" foi o lema que marcou o III Encontro de Gerações, o ano passado. E na comunidade portuguesa e nas suas instituições, temos visto algumas provas de que a união funciona. Alguns governantes que têm passado pela Venezuela têm feito um apelo à comunidade portuguesa para que se organize melhor. Associar-se e concentrar esforços é a ú nica maneira de ganhar melhor presença na sociedade e de obter o respeito das autoridades venezuelanas. Em Barquisimeto, Estado de Lara, está latente a ideia de unir os dois clubes sociais portugueses existentes na região: o Centro Luso Larense e o Centro Atlâ ntico Madeira. Até agora,

têm-se realizado encontros para sondar as opiniões. Para a primeira reunião, foram convocados dez só cios e, para a segunda, trinta. A ideia é analisar o tema com um grupo reduzido de pessoas e discutir os pró s e os contras de uma futura união. A terceira reunião pretende reunir 50 convidar só cios de ambos os clubes. Os primeiros resultados dão conta de que cerca de 80% dos elementos que participaram nestes encontros se mostraram receptivos à união. A importante comunidade portuguesa que habita no estado Lara -quase 10 mil - nos ú ltimos anos, tem se mostrado apática. Talvez esta união seja a maneira de revitalizar ambas as instituições e de conseguir que os seus só cios participem mais.

O CARTOOn DA seMAnA Saramago queixou-se a Chávez da incorrecta utilização do seu livro na Venezuela...

E em Portugal? Será que se queixou a Sampaio das críticas que lhe fizeram?

A seMAnA MUITO BOM

Solidariedade entre clubes

A iniciativa conjunta do Centro Português e do Centro Luso de Caracas, que vão fazer uma festa para angariação de fundos no clube de Macaracuay, é de louvar. É que o evento serve para ajudar a reconstrução das instalações do Centro de Turumo. Este tipo de acções evidencia o espírito de solidariedade e união entre os centros sociais portugueses. Algo que deve voltar a acontecer entre outros clubes portugueses, pois eis uma boa forma de fortalecer este tipo de instituições.

BOM

Predisposição de Albuquerque

A boa vontade do presidente da Câmara Municipal do Funchal semeou esperanças na comunidade lusa que está há mais de dois anos a trabalhar em torno de um projecto que ficou paralisado por falta de verbas. Albuquerque ofereceu a sua ajuda para construir o Lar de Maracay, uma predisposição que, esperamos, se mantenha até depois das eleições autárquicas que se realizam na Madeira em Outubro.

MAU

Falta de professores de português

A universidade experimental da Força Armada Nacional ainda não encontrou professores para leccionar o português. Os estudantes continuam interessados em aprender a língua, mas não há docentes qualificados e com equivalências que possam prestar este serviço à escola. Desde que começou a funcionar, o departamento de línguas tem conseguido abrir os cursos de francês e italiano sem grandes obstáculos, mas não aconteceu o mesmo com a língua de Camões. Pena!

Endereço: Av. Los Jabillos 905, com Av. Francisco Solano, Edif. Torre Tepuy, piso 2-2C, Sabana Grande - 1050 Caracas. Endereço Postal: Editorial Correio C.A. Sabana Grande Caracas - Venezuela Telefones: (0212) 761.41.45 Telefax: (0212) 761.12.69 E-mail: correio@cantv.net URL: www.correiodecaracas.net Tiragem deste número: 10.000 exemplares

MUITO MAU

Fontes de Informação: DIÁRIO de Notícias da Madeira Jornal de Notícias Agência de Notícias LUSA

Medo de se expressar

É uma constante. Muitos emigrantes que vivem longe de Caracas continuam a queixar-se de isolamento e até de esquecimento por parte das autoridades. Não se compreende que, quando têm a oportunidade de se expressar através de um meio de comunicação social, tenham medo de o fazer por causa das eventuais consequências das suas declarações. É preciso ser coerente e assumir posturas nos momentos próprios, aproveitando as oportunidades que se apresentam. A crítica isolada ou a que se esconde não é construtiva.

O Correio de Caracas não se responsabiliza por qualquer opinião manifestada pelos colaboradores ou assinantes nos artigos publicados, garantindo-se, de acordo com a lei do jornalismo, o direito à resposta, sempre que a mesma seja recebida dentro de 60 dias. El Correio de Caracas, no se hace responsable por las opiniones manifestadas por los colaboradores o firmantes, garantizando, de acuerdo a la Ley, el derecho a respuesta, siempre que la misma sea recibida dentro de 60 días.

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I Fórum Mundial dos Luso-eleitos Sónia Gonçalves

ëÖçåÅ~äîÉë]ÇåçíáÅá~ëKéí

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m 2006, os emigrantes e os lusodescendentes que desempenham cargos de eleição por esse Mundo fora vão reunir-se no I Fórum Mundial dos Luso-eleitos.

A notícia foi avançada, ao DIÁRIO, pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que define como principal objectivo da organização deste encontro a criação de uma "rede de conhecimentos triangular". António Braga explica-nos que, neste momento, está a ser feito o levantamento do número de emigrantes e lusodescendentes que desempenham cargos de eleição em diferentes países e informanos que, depois, todos os luso-eleitos serão contactados para que possam participar no fórum que se realiza em Portugal. O fórum não só vai permitir criar uma rede de conhecimentos triangular como também visa fazer com que o Governo português "possa ter um canal directo para troca de experiências e evidências cuja vitalidade é reconhecível pela forma como estes lusodescendentes se inserem nas comunidades de acolhimento". É que há emigrantes e descendentes de portugueses que se destacaram de tal forma que "se fazem eleger para lugares de representação aos mais diferentes níveis, desde o nível local ao nível nacio-

Portugal organiza encontro de lusodescendentes que desempenham cargos de eleição pelo Mundo nal, em diferentes países do Mundo", evidencia o governante. "Acreditamos que esta rede de conhecimentos se pode constituir como uma importante motivação para outro tipo de relacionamentos", nomeadamente na área das parcerias em investimentos públicos entre empresas portuguesas e das comunidades. CONTRIBUTO PARA O PAÍS O fórum, que deverá depois ser feito de forma regular, "é justamente uma demonstração das potencialidades das comunidades portuguesas, que felizmente na sua grande maioria estão muito bem inseridas nos países de acolhimento", descreve António Braga. Do encontro, pode-se "fazer emergir uma parceria estratégica que favoreça o crescimento económico de Portugal", que é hoje "um país com novas oportunidades", destaca o governante da República. António Braga espera muito sucesso do fórum mundial e sublinha que, depois de constituída a rede, vai ser mais fácil Portugal estar constantemente ao corrente das principais preocupações e problemas das comunidades portuguesas.

Ensino à distância a partir de Outubro Sónia Gonçalves

ëÖçåÅ~äîÉë]ÇåçíáÅá~ëKéí

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comunidade portuguesa vai poder, a partir de Outubro, aprender português à distância, através de livros, pela televisão e pela Internet. Inicialmente previsto para Setembro, o ensino do português à distância avança no mês de Outubro, conforme nos confirmou o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. A aprendizagem e a divulgação da língua portuguesa junto dos portugueses residentes no estrangeiro são os principais objectivos do programa, que resulta de um protocolo assinado entre o Ministério dos Negócios Estrangei-

ros, a Caixa Geral de Negócios, a Porto Editora, a Universidade Aberta, a Fundação Minerva e a Rádio e Televisão de Portugal. O acordo define a importância de "promover a língua e cultura portuguesas no mundo e proporcionar o acesso a recursos de auto-aprendizagem assentes numa plataforma de ensino à distância, através da Internet e suporte físico". Em declarações ao DIÁRIO, António Braga refere-nos que o Governo fez uma aposta grande "no reforço de vínculos de pertença que se insere sobretudo no domínio da língua portuguesa". "O objectivo desta plataforma é atingir os jovens e as camadas mais jovens, que são os lusodescendentes", sublinha.

A par da possibilidade dos lusodescendentes aprenderem português através de livros, Internet e televisão, o Governo da República vai renovar um programa denominado "Estagiário em Portugal". Como nos explica António Braga, este programa é dirigido a jovens lusodescendentes e pretende cativar os filhos dos português, pois "Portugal é um país diferente, cheio de oportunidades e é preciso que as comunidades saibam disso, sobretudo os mais jovens", diz. "São 500 estágios para os lusodescendentes, que podem estagiar em Portugal nas condições que nós criamos, sobretudo para um melhor e mais próximo conhecimento da realidade portuguesa", sintetiza o secretário de Estado.


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Antó nio Braga leva comitiva de empresários à Venezuela Secretário vai visitar as entidades venezuelanas para abordar alguns dos principais problemas da comunidade: segurança e criminalidade. bém das suas perspectivas". E isto, Sónia Gonçalves sgoncalves@dnoticias.pt defende, pode ser feito tendo como ponto de vista a aproximação secretário de Estado de Portugal a todos os níveis, ao das Comunidades nível pessoal, social, econó mico. Portuguesas está a Por isso, acredita que do enpreparar o programa contro que se vai realizar na Veda visita à Venezuela e, apesar nezuela "vão sair ideias e projecdeste ainda não estar pronto, tos que vão servir de reflexão para adianta-nos que, para além de as nossas políticas sobre as coparticipar no IV Encontro de Ge- munidades". raç ões, tenciona levar consigo Durante a sua visita, o goveruma comitiva de empresários nante português vai-se reunir portugueses e visitar diferentes com diferentes autoridades da entidades venezuelanas para dis- Venezuela, com quem pretende cutir os principais problemas da falar sobre as principais preocucomunidade portuguesa. pações da comunidade portugueAntó nio Braga explica-nos sa, nomeadamente a segurança e que o programa da sua visita vai a criminalidade. sustentar-se em três pilares funNo entanto, Antó nio Braga damentais: o contacto com as co- faz questão de sublinhar que "não munidades, as relações bilaterais queremos intervir em áreas que com a Venezuela e uma ú ltima não sejam da nossa competência", questão que se prende com as pre- pois "a Venezuela é um país soocupações da comunidade, no- berano" que mantém uma "excemeadamente no que se refere à lente" relação com Portugal. segurança, ao ensino do português e à inserção dos empresários SINERGIAS ENTRE portugueses no contexto econó - EMPRESÁRIOS mico do país. O representante espera poder O contacto com a comunidade abordar as possibilidades de coportuguesa na Venezuela vai ser operação entre os dois países no feito essencialmente com a par- que se refere ao desenvolvimenticipação do governante no IV to das economias destes. Encontro de Gerações, um evento "No caso concreto da Veneorganizado pelo CORREIO, o zuela, temos não só espírito de BANIF e o DIÁRIO que pretende iniciativa, mas sobretudo uma debater o contributo dos emi- forte afirmação, pela competêngrantes naquele país da América cia, pelo trabalho e pela honestiLatina. dade dos nossos compatriotas em "Gostava de felicitar os autores diferentes áreas do funcionada iniciativa, nomeadamente o mento da economia", refere, desDiário de Notícias da Madeira, tacando que as entidades veneuma vez que eu acredito que Por- zuelanas têm consciência do contugal não pode desperdiç ar a tributo dos portugueses para a mais-valia que constituem para o criação de postos de trabalho e o país, as novas gerações", expres- PIB. sou-nos o secretário de Estado, E porque entende ser "imporacrescentando que acredita que tante dar a conhecer esta realiPortugal "tem condiç ões para dade aos empresários portugueaproveitar este potencial e, com ses", vai fazer-se acompanhar de ele, aumentar as possibilidades uma comitiva de empresários, alde todos contribuirmos para o go que já fez também em visitas desenvolvimento econó mico do a outros países, nomeadamente à país". África do Sul e à Irlanda do Norte. Antó nio Braga destaca que Braga explica-nos que uma das uma das prioridades do Progra- ambições do Governo da Repú ma de Governo "é a questão dos blica "é contribuir para criar silusodescendentes" e evidencia ser nergias entre os empresários porimportante "encontrar formas tugueses e os empresários das coque nos levem ao encontro dos munidades, assim como com os lusodescendentes, das suas aspi- empresários dos países de acolhirações e expectativas, mas tam- mento".

O

BREVES

Visita é sinal de atenção

O convite do CORREIO, do BANIF e do DIÁRIO para participar no Encontro de Gerações fez António Braga aproveitar a oportunidade para fazer uma visita oficial à Venezuela, sendo que prevê discutir com as autoridades venezuelanas questões que preocupam a comunidade. O secretário de Estado vê esta visita como "um sinal de atenção" para com os portugueses e os lusodescendentes que residem na Venezuela e acredita que o Encontro de Gerações vai permitirlhe ter um contacto diferente com a comunidade. Por isso, "as expectativas são grandes", evidencia.

Tratamento igualitário

Pese embora o facto de algumas pessoas entenderem que Portugal dá mais atenção aos emigrantes portugueses que estão em países europeus, como a Suíça e a França, o secretário das Comunidades assegura-nos que "à luz do exercício do direito de cidadania, todos os cidadãos fora de Portugal são encarados sob os mesmos aspectos". O Governo trata "em plano de igualdade todos os cidadãos", assegura.


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Festa a favor do Centro Luso Iniciativa tem lugar no Centro Português, em Caracas, e resulta de uma excelente colaboração entre dois clubes Jean Carlos De Abreu

ÇÉ~ÄêÉìàÉ~å]ó~ÜççKÅçã

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Centro Luso de Caracas, em Turumo, realiza este mês de agosto uma festa que pretende recolher fundos para a reconstrução das instalações do clube. As fortes chuvas que têm caído em Caracas recentemente provocaram deslizamento de terras e deterioraram os campos existentes na associação. O Centro Português em Caracas vai ser o local onde se vai realizar a “verbena” de mãos dadas com os colegas de Turumo. A festa vai ter comida tradicional, rifas e a apresentação de grupos folclóricos. Tudo para angariar fundos e continuar a construção do campo de futebol de Turumo, assim como arranjar a estrutura física do centro. Manuel Pereira, actual presidente do Centro Luso, viajou até

Portugal recentemente à procura de ajudas por pate dos Governos da República e da Região Autónoma da Madeira, assim como do Centro das Comunidades Madeirenses. Em Abril, o Centro Luso de Caracas propus ao Centro Português, de Caracas, unificar as duas associações para resolver a crise económica da primeira e ampliar as instalações da segunda. Mas ainda não está nada decidido. O Centro Luso de Caracas foi fundado a 18 de Abril de 1972 como Associação Desportiva Lusovenezuelana de Turumo. Tem uma superfície de 57 mil metros quadrados, dos quais dez mil estão ocupados com áreas administrativas e desportivas, sala de festas, estacionamentos e piscina. Segundo estudos feitos, o seu valor é superior aos cinco mil milhões de bolívares e as suas dívidas chegam aos cem milhões de bolívares.

BREVES Alunos da escola de português acabam curso

Na Câmara Portuguesa Venezuelana (CAPORVEN), cidade de Valencia, Estado de Carabobo, no próximo dia 11 de Agosto tem lugar a cerimónia de fim de curso dos alunos de português da escola "Hernâni dos Santos". Está previsto que assistam ao evento figuras importantes da comunidade portuguesa. O director da instituição, Carlos Balaguera, comentou-nos que espera a assistência dos delegados consulares, entre outros convidados, que poderão avaliar o esforço feito pela comunidade lusa e pelos alunos que tiveram motivação para estudar a língua. Balaguera acrescentou que "já atingi a minha meta e, neste momento, desejo que outra pessoa assuma o meu cargo".

Conde novamente no Centro Português

No próximo dia 12 de Agosto, a partir das 20h30, apresenta-se no salão Nobre do Centro Português em Caracas o Conde del Guácharo e a sua banda. O objectivo é angariar fundos em benefício da cirurgia oftalmológica do "show man", Jaime de Castro. Para amenizar a noite, vai ser apresentado, também, Euler e o seu show, assim como o menino pródigo da canção. A entrada para sócios do clube é de 30 mil bolívares. Os não-sócios pagam 35 mil.


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Libertam mulher de comerciante sequestrada em Cúa Carlos Orellana

ÅçêÉää~å~ÅçêêÉáç]Üçíã~áäKÅçã

T

rês dias depois de ter sido libertado o cidadão madeirense Teodoro de Andrade, na passada terça-feira 2 de Agosto foi libertada também Maria Teresa Almeida (40 anos), que esteve 42 dias em cativeiro, mais precisamente desde 21 de Junho. A vítima foi abandonada às 21h30 na urbanização La Estrella, em Charallave. Supõe-se que, tal como aconteceu com o lusitano Andrade, os delinquentes se aperceberam que a polícia já sabia quem eram os sequestradores. Por isso, viram-se obrigados a libertar a mulher do comerciante português Aníbal Almeida, conhecido como "Chicho". Embora no início os raptores exigissem seis milhões de dólares pela libertação da refém, no meio das negociações este montante desceu para 300 milhões. Contudo, o pagamento do resgate foi interceptado pelas comissões da Divisão Antiextorsão e Sequestro do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Cri-

Durante a noite, a lusodescendente foi abandonada pelos seus raptores em Charallave. Um dos delinquentes foi detido. minais (Cicpc), quando os agentes fizeram um operativo perto do Seniat, na Plaza Venezuela, onde se ia fechar a negociação. Aqui, conseguiu-se apanhar um dos implicados, segundo nos confirma o chefe desse departamento, o comissário Joel Rengifo. Os agentes espalharam-se pelo local e toparam que um Ford Fiesta cinzento, matrícula TAI - 76S, estava ai estacionado. Ali estava a pessoa que ia entregar o dinheiro e um indivíduo que, de uma forma suspeita, observava o carro e fazia chamadas pelo telemóvel. "Era o cobrador que negociava os detalhes

da entrega", conta-nos Rengifo. O delinquente, ao se aperceber da presença da polícia, tentou fugir num carro de marca Dodge branco, mas foi capturado pela polícia. O detido, chamado "comandante Daniel", foi identificado José Luís Peña (48 anos). A nossa fonte acrescentou, ainda, que o indivíduo tinha já vários registos de crimes, nomeadamente roubos e furto.

O sequestrador acabou, depois, por confirmar à polícia a sua participação no rapto. Horas mais tarde, a vítima foi libertada, pois a detenção de um dos membros aproximou mais a polícia do local onde estava a sequestrada. Actualmente, os funcionários estão atrás das pistas deixadas para ver se encontram os restantes sequestradores.

Sã e salva Maria Teresa Rodrigues de Almeida foi sequestrada por dois indivíduos que a interceptaram no Centro Comercial El Colonial, em Cúa. Os delinquentes possuíam armas de fogo e meteram a vítima no seu próprio carro. Cinco horas depois do acto, a fim de exigir um montante milionário pelo resgate, os delinquentes comunicaram por telefone o marido da vítima, Aníbal Almeida, que é dono da padaria "Chicho's Bakery, que se situa na auto-estrada Cúa-Charallave, da discoteca "Cristal Palace" e do "Time 24", no município Cristóbal Rojas. Logo depois de ter sido libertada, a mulher do português foi levada a uma clínica do Estado Miranda para fazer vários exames. Actualmente, encontrase bem de saúde.


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Comunidade dispersa em Maturin A falta de um ponto de encontro com as raí zes é notoria . Daí o afastamento existente entre os portugueses desta localidade. Marianela Pérez

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o Oriente venezuelano, há um Estado que se destaca dos restantes pelo seu petró leo e pelas festas de Carnaval. O Estado de Monagas é uma região onde habita uma infinidade de estrangeiros que acolheram esse territó rio como seu. Podemos, por exemplo, encontrar neste sítio portugueses como o senhor Abel Andrade, madeirense só cio do Centro Gastronó mico Plaza Mayor. Tem 25 anos na Venezuela, dez dos quais vividos em Maturin, a capital do Estado. Chegou à cidade petrolífera com a intenção de explorar novas terras, aproveitando que o "boom" petrolífero estava no seu auge. "O que mais gostei foram as arepas, que foi a primeira coisa que

comi. E as mulheres são lindíssimas", disse-nos. Os valores familiares e alguns pratos da gastronomia lusa são coisas que conserva do seu Portugal, embora assinale com nostalgia a falta que lhe faz a comida típica do seu país. A presença dos portugueses em Maturin, embora a comunidade não seja muito numerosa, é relevante. Alguns emigrantes vivem ali há mais de cinquenta anos, tendo contribuído muito para o crescimento e o progresso da cidade, muito antes da descoberta do petró leo. Em Maturin, não há nenhum lugar onde se possam reunir os portugueses e os lusodescendentes aos fins-de-semana, ou pelo menos nas datas mais importantes. O Dia de Portugal é normalmente passado entre amigos, "mas não é como em Caracas, onde há o

Centro Português. Aqui os portugueses não são muito unidos", expressou-nos Abel Andrade. A mesma opinião tem Eduardo Correia, Restaurante Las Tapas, que fica no Centro Comercial Monagas Plaza. "Aqui em Maturín não existe essa união por parte dos portugueses", diz-nos. No Dia de Portugal, reú nem-se no restaurante familiares e amigos, mas não há muito mais do que isso. Quanto aos costumes dos portugueses daquela localidade, Correia sublinhou que são muito parecidos aos dos venezuelanos, pois as duas culturas se misturaram. "Em Dezembro, reunimo-nos em família para jantar e comer as doze uvas que nos permitem pedir desejos para todo o ano", conta-nos.

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A cidade do petró leo Com a descoberta de petróleo a Norte do Estado de Monagas, Maturín é considerada, desde a década de oitenta, a capital petrolífera do Oriente venezuelano. Vale a pena visitar o centro de Maturín e particularmente o Palácio do Governo, sede da governação de Monagas, assim como a igreja de San Simón, uma construção colonial do século XVIII e a Catedral Nuestra Señora del Carmen, considerada uma das catedrais mais modernas da América Latina. Juana Ramírez, uma heroína monaguense que defendeu a cidade durante a guerra da independência, tem uma estátua como homenagem na rotunda "Juana La Avanzadora".

Caracterí sticas do Estado de Monagas Capital: Maturín. População: 502.539 habitantes (segundo os censos de 1991). Extensão: 28.900 Km2. Temperatura: Entre 22 e 27 centigrados. Festas tradicionais: O Carnaval é muito conhecido pela diversidade de carroças que desfilam durante quatro dias, nos quais nativos e turistas dançam ao ritmo do Calipso, com disfarces e máscaras. A festa do macaco, a 28 de Dezembro, também é muito conhecida, assim como a dança burlona no Dia dos Santos Inocentes.


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UNEFA ainda não encontrou professores de português Liliana da Silva

lilianadasilva19@hotmail.com

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ensino do português tem sido uma das maiores preocupaç ões da comunidade portuguesa residente na Venezuela. No entanto, este interesse pela língua de Camões também tem surgido entre aqueles que, sem ter ascendência portuguesa, vêem nesta língua uma boa ferramenta para encontrar trabalho ou para aumentar o currículo profissional. A Universidade Experimental da Força Armada Nacional (UNEFA), consciente desta procura por parte dos estudantes, criou, no início de 2005, um departamento de línguas, com o principal objectivo de abrir cursos de francês, italiano e português. Desde que este departamento começou a funcionar, conseguiu abrir os cursos de francês e italiano sem grandes obstáculos. No entanto, não aconteceu o mesmo com a língua lusitana, explica-nos Fabiola Romero, coordenadora

A Universidade Experimental da Força Armada Nacional continua à espera de professores de português. São muitos os interessados, mas ninguém quer suportar os custos. de línguas da UNEFA. "Temos recebido numerosas candidaturas para a cadeira de português, mas os candidatos não apresentam os requisitos necessários para dar aulas na universidade. Não duvidamos das suas capacidades, até porque a maioria deles vêm de universidades do estrangeiro, como Portugal e Brasil, mas de acordo com as normas estabelecidas teriam que ter equivalências na Venezuela". Segundo Romero, estas equivalências são difíceis de obter, sobretudo neste país, onde quase tudo passa por um processo muito lento e complicado. Apesar da falta de professores, o in-

teresse dos alunos se tem mantido. "São muitas as pessoas que estão à espera de que comecemos as aulas. Contudo, é algo que escapa das nossas mãos. Pelo menos até que não se apresentem candidatos com todos os documentos necessários, não podemos começar a leccionar as aulas de português", lamenta Romero. A UNEFA deixa um apelo aos pro-

fessores de português, licenciados na Venezuela ou com a equivalência, para que ajudem este instituto educativo com uma proposta do programa do curso, assim como dos possíveis livros que possam ser utilizados nas aulas. Se conseguir arranjar professores, os cursos vão decorrer duas vezes por semana e durar um ano e meio, aproximadamente.


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Festival Mundial da Juventude na Venezuela Encontro realiza-se de 7 a 15 de Agosto e deverá reunir mais de quinze mil jovens de todo o Mundo Amarú Araujo Villegas avillegas1@yahoo.com

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XVI Festival da Juventude realiza-se na Venezuela, de 7 a 15 de Agosto, e deverá contar com a presença de mais de quinze mil jovens estudantes de todo o Mundo, que se reú nem para discutir temáticas como a paz, a educação, o emprego e a democracia. A análise das problemáticas actuais e as alternativas para as novas gerações constam do calendário do festival, assim como encontros culturais, mesas redondas e ateliers que estarão espalhados por várias partes do país. Cerca de 133 Nações vão estar representadas através de delegações que vão permanecer em territó rio venezuelano durante uma semana. Portugal também vai participar, estando prevista a participação de um grupo de jovens que vai apresentar propostas para solucionar as grandes problemáticas que atingem a comunidade. Nas reuniões de preparação que se realizaram em Abril do mês passado em Lisboa, o jovem luso Miguel Madeira foi designado coordenador do Comité Organizador Internacional da representação portuguesa no encontro. Miguel Madeira, que também é o presidente da Federação Mundial de Juventudes Democráticas, está na Venezuela desde finais de Junho para ultimar os detalhes da realização deste importante evento mundial. FESTIVAIS SÃO UM SUCESSO Os Festivais Mundiais de Juventude são a mais importante, representativa, participativa e maior actividade do movimento juvenil e estudantil do mundo inteiro, cuja dimensão e alcance não têm comparação na histó ria. É por esta razão que, sem dú vida, os festivais são considerados um dos maiores sucessos atingidos até agora pelo movimento democrático, progressista e revolucionário internacional, sob o signo duma poderosa solidariedade anti-imperialista. Os festivais são um espaço do movimento estudantil e juvenil que promove a solidariedade, a amizade e o intercâ mbio cultural, desportivo e recreativo, entre os jovens das mais diversas ideologias e regiões do Mundo, que lutam contra o racismo, o sionismo, a reacção, entre outras formas de dominação e exploração. Todas as actividades do festival na Venezuela começaram no dia 7 de Agosto e vão até ao dia 15 do mesmo mês.

Os lugares de encontro estão desenhados para receber um grande nú mero de jovens e estudantes provenientes de todo o mundo. São vários os pontos de trabalho: Poliedro de Caracas, Parque Central, Universidade Bolivariana da Venezuela, Teatro Teresa Carreño, Praça dos Museus, entre outros. PRESENçA PORTUGUESA Em Outubro do ano passado constituiu-se o CNP (Comité Nacional Preparató rio) Português. Até ao momento, participam cerca de 30 associações juvenis, com áreas de intervenção bem distintas, desde associações de estudantes a associações desportivas, de â mbito cultural, incluindo a participação de grupos de teatro e de associações de animação cultural e social, associações de paz, e associações de intervenção político-social, num total de sete Distritos do país. Entre os mais importantes e reconhecidos grupos que vão participar estão a Associação de Estudantes da Escola Superior de Educação de Viseu, a Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, a Associação dos Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa, o Clube Português de Artes e Ideias, o Conselho Português para a Paz e Cooperação, o Conselho Nacional de Juventude, a Juventude Comunista Portuguesa, a Juventude Socialista, e outras. "Consideramos que a participação de associações juvenis de â mbitos de intervenção tão variados é de uma enorme riqueza para o CNP Português e também no que diz respeito à contribuição portuguesa para o 16º FMJE", disseram os organizadores portugueses. A divulgação do XVI Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, os seus princípios e objectivos, principalmente junto dos jovens portugueses, é uma grande preocupação do CNP português, sendo uma tarefa que está na ordem do dia. No que se refere a apoio na área da saú de, tudo está bem planificado. A Secretaria de Saú de da Autarquia Metropolitana de Caracas, dirigida pela doutora Ásia Villegas, dispô s 60 comités de saú de, distribuídos em 25 postos diferentes, mais de 20 odontologistas, 60 médicos, 7 inspectores de saú de pú blica, 60 enfermeiras, e outros especialistas. Também se têm realizado estudos epidemioló gicos, certificaram-se as cooperativas de alimentação e repartiram-se mais de 100.000 preservativos.

Cronologia dos festivais 1947 – 1949 – 1951 – 1953 – 1955 – 1957 – 1959 – 1962 – 1968 – 1973 – 1978 – 1985 – 1989 –

Primeiro Festival. Praga, República Checa. Segundo Festival. Budapeste, República Popular de Hungria. Terceiro Festival. Berlim, República Democrática Alemanha. Quarto Festival. Bucareste, Roménia. Quinto Festival. Varsóvia, Polónia. Sexto Festival. Moscou, União Soviética. Sétimo Festival. Viena, Áustria. Oitavo Festival. Helsínquia, Finlândia. Nono Festival. Sofia, Bulgária. Décimo Festival. Berlim, República Democrática Alemanha. Décimo Primeiro Festival. Havana, Cuba. Décimo Segundo Festival. Moscou, União Soviética. Décimo Terceiro Festival. Pyongyang, República Popular Democrática de Correia. 1997 – Décimo Quarto Festival. Havana, Cuba. 2001 – Décimo Quinto Festival. Argel, Argélia (primeiro festival realizado num país árabe - africano). 2005 – Décimo Sexto. Caracas, Venezuela (primeiro festival realizado na Venezuela).


CORREIO DE CARACAS - 11 DE AGOSTO DE 2005

TRAÇOS DE PORTUGAL 11

Ó bidos

a cidade amuralhada Liliana da Silva

P

ara muitos, esta formosa região turística assemelha-se a um museu ao ar livre, pois a vila medieval rodeada de muralhas foi preservada ao longo dos séculos de modo que ainda hoje parece um postal ilustrado, cheia de monumentos, pequenas ruas tortuosas e de pedras e antigas casas brancas com janelas e varandas cheias de flores. O seu encanto manteve-se ao longo dos séculos, pois já em 1282, a vila foi um dos presentes do rei Dom Dinis à sua noiva espanhola, Isabel de Aragão. Desde a Porta da Vila, na entrada sul, cujo interior foi embelezado com azulejos do século XVIII, à Rua Direita - cheia de pequenas lojas onde se pode comprar, por exemplo, cerâ mica e olaria tradicional, trabalhos em vime e miniaturas de moinhos de vento - e até ao castelo do século XV, que foi convertido numa pousada, parece que se recua no tempo até aos dias em que a Corte visitava a vila. A cidade amuralhada está situada no Distrito de Leiria, a cerca de cinco quiló metros da cidade de Caldas da Rainha, 95 quiló metros de Lisboa e 245 do Porto, com cerca de 11.000 habitantes. D. João IV e D. Luísa Guerra, D. Pedro II e D. Maria I, D. Leonor, D. Catarina de Áustria e D. Carlos, foram alguns dos mo-

Assente sobre modesto penhasco à beira de extenso areal que antes as águas cobriam, Óbidos pode orgulhar-se do seu maravilhoso castelo. narcas que passaram por estas terras deixando, de uma forma ou de outra, marcas que a vila ainda hoje mantém. É que Ó bidos guarda séculos de histó ria entre as suas muralhas A produção artesanal tem hoje um peso econó mico relevante associado ao Turismo, predominando a cerâ mica utilitária e decorativa, a olaria, a cestaria, os embutidos de madeira, os vitrais, os têxteis (mantas de tear e de trapos), os bordados e a tapeçaria "de Ó bidos", como a renda (croché), paralelamente a actividades complementares da gastronomia, nomeadamente a produção de compotas, mel e licores, destacando-se a famosa ginja de Ó bidos. Não podemos falar dos sítios que podem ser visitados em Ó bidos porque as pró prias ruas nos vão levando até aos quatro cantos desta cidade construída dentro do Castelo. A vila é um verdadeiro labirinto, onde nos "perdemos" com gosto.

Monumentos a destacar

Castelo de Óbidos: atribui-se-lhe uma origem romana, provavelmente assente num castro. Foi posteriormente fortificação sob o domínio árabe. Depois de conquistado pelos cristãos (1148), foi várias vezes reparado e ampliado. No reinado de D. Manuel I, o seu alcaide mandou construir um paço e alterar algumas partes do castelo. Porta da Vila: a entrada principal de Óbidos é encimada pela inscrição "A Virgem Nossa Senhora foi concebida sem pecado original". Foi mandada colocar pelo Rei D. João IV, em agradecimento pela protecção da padroeira, na altura da Restauração da Independência em 1640. Igreja de Santa Maria: localizada na praça do mesmo nome, é o principal templo de Óbidos. Nesta igreja, D. Afonso V com apenas oito anos de idade, casou com a sua sobrinha Isabel, de dez. Esta é apenas uma das muitas histórias que fazem a História de Óbidos, uma vila muito antiga, fundada pelos Celtas em 308 a.c.

Uma doce tentação

No mês de Novembro, esta pequena vila medieval recebe cerca de duzentos mil visitantes que vão até Óbidos para sucumbir aos encantos do doce preto. O Festival Internacional do Chocolate é um dos eventos mais esperados do ano, no qual diversas empresas associadas ao ramo chocolateiro expõem os seus produtos para que os apreciadores possam deliciar-se com as mais extravagantes receitas à base de chocolate oriundas dos quatro cantos do mundo. Cinco toneladas deste delicioso doce é um bom motivo para querer participar neste festival, não é?

Uma viagem ao passado

Em Óbidos, todos os anos celebra-se uma semana do "Mercado Medieval". Durante estes dias, a vila volta uns séculos atrás, adoptando uma vida própria da Idade Média, onde nem sequer os euros valem. De facto, à entrada é preciso trocar a actual moeda europeia pelo valor em voga no interior das muralhas, onde vendedores e outros homens de negócios (restaurantes, bares...) estipulam preços para a moeda metálica que se usava antigamente.O centro de Óbidos recria um autêntico mercado medieval. Para tal, cerca de trezentos actores, de uma forma permanente, fazem mergulhar os visitantes nesse período histórico. Mais de três dezenas de grupos teatrais asseguram a animação (alguns deles vindos de Itália, França e Espanha), que inclui simulações de assalto ao castelo, julgamento e punição de criminosos, torneios de armas e exercícios de fogo.


12 HISTÓRIAS DA VIDA

CORREIO DE CARACAS - 4 DE AGOSTO DE 2005

Um mau negó cio: trocar café por chouriços Cesaltina Silva Caracas

E

ra 1957. Em Novembro desse ano chegou à Venezuela Amália Rodrigues. Enquanto muitos conterrâ neos esperavam poder matar saudades com a apresentação da famosa fadista, Cesaltina Silva não tinha tido ainda tempo para estranhar a sua pátria. Tinha poucos meses em Caracas e partilhava na mesma casa, nos Jardins del Valle, a sua vida com uma irmã, o cunhado e dois sobrinhos. A irmã, emigrada na Venezuela desde 1950, foi de visita a Portugal. Uma vez lá pediu a Cesaltina que arranjasse as papeladas para ir com ela para a Venezuela. Assim, deixou para trás a madrinha do crisma que a tinha criado, a sua terra natal e os seus pais, que viviam mais a Norte. Chegou cheia de disposição: o seu trabalho foi numa gelataria na Av. Nueva Granada, depois começou a trabalhar na Casa da Criança. E desde então já passaram 48 anos a trabalhar como vendedora, mostrando a sua firmeza e independência. Chegou à Venezuela, mas não demorou muito a arranjar o homem da sua vida, casou, mudou-se para Santa Mó nica e concebeu uma filha que hoje a enaltece com dois netos. A sua condição de trabalhadora fê-la valorizar a expressão que diz que "a mulher venezuelana é muito sacrificada no seu mú ltiplo papel de pai e mãe". Os passeios em família foram poucos. Embora algumas vezes visitasse El Junquito ou a zona de

La Mariposa para um piquenique de porco assado ou sardinhas. Preferia ficar em casa a colaborar nas actividades sociais e culturais do recém-formado Centro Português, que funcionava então na quinta Nerotal, na Av. Páez de El Paraíso. Dessa altura, recorda que participou na tropa de autores amadores que montou a primeira peça de teatro. Tratava-se de "O Viú vo", de Gil Vicente. Era 12 de Junho de 1958 e entrou em cena com Sérgio Moreira e Maria Rita de Morais, entre outros. O grupo constituiu-se sob a direcção artística de Fernando Correia da Silva. Cesaltina evoca com alegria estes momentos. Para ela, as lembranças pessoais são muito importantes, mais do que as coisas materiais. Por isso, ao contrário da maioria dos imigrantes, não trouxe presentes nem encomendas na sua mala quando veio de Portugal. Contudo, na sua primeira viagem como turista, levou café venezuelano e trouxe chouriços. Foi uma grande decepção: não pude convidar os seus amigos e também não conseguiu nem provar os chouriços, pois foram apreendidos pelos guardas da Alfâ ndega. Depois disso, noutras viagens, não aceitou encomendas e muito menos se fossem chouriços. Ainda pensavam que, em vez de ter sido a guarda a prendê-los, tivesse sido ela a comê-los!

Sede do Centro Português, que funcionava na quinta Nerotal, na Av. Páez de El Paraíso

Participe! "Histórias de vida" é uma rubrica patrocinada pelo Banco Millennium, que oferece como prémio final uma viagem a Portugal. Para participarem, os concorrentes só têm que nos enviar - por escrito a correio@cantv.net, aindax1@yahoo.com e correiodecaracas@yahoo.com - a história de um emigrante na Venezuela, acompahanda com três fotos, ou ligue ao 761.4145. Nos vamos visitá-lo, escrevemos a história e reproduzimos as fotos. Tudo sem sair de casa.


CORREIO DE CARACAS - 11 DE AGOSTO DE 2005

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14 LAZER

CORREIO DE CARACAS - 11 DE AGOSTO DE 2005

Lusodescendentes também gostam de mú sica portuguesa

BREVES

Jorge Ruiz, um peruano que tem os direitos de comercialização da música portuguesa na Venezuela, acredita que as novas gerações se deixam cativar pelas músicas dos seus pais Noélia de Abreu

noelia@gmail.com

E

mbora não seja assim com todos, os gostos musicais de antes e os de agora pouco têm mudado nos imigrantes que compram mú sica portuguesa. Jorge Ruiz fala com conhecimento de causa, pois é o ú nico importador de mú sica portuguesa que tem o selo necessário, o Henda Records, que inclui cantores como Jorge Ferreira e Maurício Amorais.

"Os portugueses gostam muito de mú sica, especialmente de bailinhos e canções tradicionais. Contudo, o fado também é um género que desde sempre têm procurado preferência", diz. Para Ruiz, geralmente, o português é muito alegre, embora considere que os madeirenses são muito mais alegres do que os continentais. "Pelo menos é essa a percepção que eu tenho depois de estar há 23 anos ligado ao mundo musical dos lusos", refere. Antes do ano 2000, a produção de mú sica folcló rica, baladas e fados era muito maior, mas agora tem diminuído. "Parece que os cantores tinham a sua musa de inspiração na altura. Agora vejo mais artistas que vivem fora de Portugal que partilham muito mais do que em Portugal. Também se nota esta penetração de artistas lá, como é o caso de Sidó nio Silva, Sandra Rodrigues e outros, que são artistas que vivem na Venezuela e se estão a dar a conhecer pouco a pouco em Portugal". Actualmente, nota-se que os portugueses têm um interesse particular na mú sica brasileira, mas não pelo samba, mas sim pela mú sica "sarteneja", tipo rancheira. CONTRA AS PREDIÇÕES Numa conversa que manteve com Manuel Farinha, antigo dono de Ansa Record, Jorge Ruiz defendia a aceitação que tinha a mú sica portuguesa nas novas gerações, enquanto que Farinha pensava que era muito provável que o negó cio da mú sica portuguesa no país fosse estagnar ou desaparecer porque os filhos e netos dos portugueses iriam gradualmente a preferir os gostos musicais dos venezuelanos. "Graças a Deus, eu tive razão. Conheço clientes que por nada neste mundo querem saber da mú sica portuguesa, mas os seus filhos parece que lhe foi injectado uma paixão pela mú sica portuguesa que, na verdade, é impressionante".

Lance dos Ramos à frente de um jornal desportivo

O actor lusodescendente Lance dos Ramos, depois do seu último papel na telenovela "Sabor a ti", regressa à televisão venezuelana para dirigir um noticiário desportivo que transmite o canal "Meridiano Televisión", prestando a sua imagem jovem e fresca a este espaço de informação, o que vai constituir uma mais valia para o seu currículo artístico. A juventude lusodescendente continua a impor-se nos canais de televisão, pois Tiffany da Silva faz das suas num programa infantil que dirige no canal "La Tele". Acontece o mesmo com Alex Gonçalves, em Venevisión e com Kimberly dos Ramos, Andy Pita e Angelo Gonçalves, que animam todas semanas o espaço "La Merienda", por RCTV.

RCTV dispensa pessoal até novo aviso

Jorge Ruiz é o único importador de música portuguesa

Esta mesma paixão pela cultura e pela mú sica lusa nas segundas e terceiras gerações pode ver-se na quantidade de grupos folcló ricos que têm criado nos ú ltimos anos, contando sempre com a participação de jovens e crianças. "Pelo que tenho ouvido, em Portugal não acontece isto. Os jovens preferem a mú sica inglesa. Por isso, posso dizer que os imigrantes apreciam mais a mú sica portuguesa do que os pró prios portugueses em Portugal". Para Ruiz, o português tem personalidade, é um povo com identidade "porque com passar dos anos continua a cultivar a sua cultura. Há países que perdem as suas tradições com a influência dos meios de comunicação social, que consoante as modas e os ídolos mudam as tendências.

EUFORIA PELO "VINHO VERDE" Jorge Ruiz chegou do Peru aos 19 anos. Começou a trabalhar na Venezuela num laborató rio clínico, mas só fez isto durante um ano, pois decidiu aceitar a oferta de trabalho na Tower Records, onde estava a trabalhar um amigo equatoriano. Ali vendia "covers" (discos de artistas que imitavam grandes vozes) nas diferentes lojas do país. O tema "Vinho Verde", de Pablo Alexandre, caiu nas mãos desta empre discográfica e, com ele, as vendas dispararam até ao céu. "Juan Sánchez, que era o dono do Rincó n Musical e do Tower Records, teve a excelente ideia de tirá-lo em forma de cunha. Teve tanto êxito entre os portugueses que não conseguíamos dar resposta aos pedidos de cassetes e LP's na altura", nota.

O canal RCTV dispensou uma parte do seu pessoal, nomeadamente às lusodes cendentes Flor Elena González e Alieen Celeste, assim como a Ana Beatriz Osorio, Yajaira Orta, Carlos Arreaza e Crisol Caraval, que acabam de terminar várias telenovelas neste canal de televisão. O canal de Quinta Crespo decidiu poupar uns trocos e ficar apenas os que estão em projectos incluídos ou em processo. Flor Elena González tenciona deixar o país por um ano para ir viver para Miami, onde deseja entrar na televisão e converter-se numa actriz internacional. Depois do seu êxito na telenovela "Mujer com Pantalones", em que teve dois papéis (gémeas), prepara uma obra de teatro que vai ser apresentada nos finais de Agosto.


CORREIO DE CARACAS - 11 DE AGOSTO DE 2005

LAZER 15

Tony Rodrigues dirige nova telenovela de RCTV No seu escasso tempo livre, o lusodescendente, que é director de televisão há cerca de onze anos, dedica-se à agricultura Carlos Orellana

corellanacorreio@hotmail.com

BREVES "Portugal em Hispana"

Este é o nome do programa de rádio de José Duarte Fernandes, em San Felipe, capital do Estado Yaracuy, que cumpriu o seu segundo aniversário neste mês de Agosto. Concursos com perguntas sobre Portugal e prémios dos patrocinadores foram algumas das surpresas que tiveram os ouvintes. O cônsul de Barquisimeto, Pedro Acásio Ferreira, e a presidenta do Clube Madeira em Barquisimeto, Albertina de Sá, foram os convidados especiais da tarde "yaracuyana". Para apoiar a música venezuelana, o programa contou também com a presença de talentos venezuelanos, como o jovem Mário Cillo, de 9 anos, e Manuel Melendez, de 16. "Gosto dos sítios onde há poucos portugueses porque isso quer dizer que tenho que trabalhar mais para divulgar o meu país. Gostei da ideia de fazer este programa porque assim mostro às pessoas o que é Portugal, a sua cultura e a sua gente", comentou-nos Duarte Fernandes. "Portugal em Hispana" foi bem acolhido pelo público. "Ligam-nos muito para saber coisas de Portugal e pedem-me que punha música lusa", disse-nos o responsável pelo programa. A emissão de rádio conta com o apoio do presidente da Câmara Municipal de San Filipe, Victor Moreno, assim como de Juan Silva, autarca de Barquisimeto, e Juan Luís Gonçalves, de Acarigua, na vertente musical.

A

ntó nio José Rodrigues é o seu verdadeiro nome, embora seja conhecido no meio artístico por Tony Rodrigues. Trata-se de um lusodescendente, filho de pais madeirenses naturais da Ponta do Pargo, que até aos seus sete anos de idade nunca tinha visto uma televisão. Hoje, é actor e director da nova novela do canal RCTV. Em entrevista ao CORREIO, revelou-nos parte da sua histó ria ao longo de 38 anos de carreira artística.

Actualmente, está ocupado essencialmente com a direcção da nova telenovela de Radio Caracas Televisió n, intitulada "Amantes". Nesta produção, personificou Nerio Pantoja, uma personagem secundária que tem uma participação muito breve, pois este lusodescendente tem de cumprir com outras responsabilidades dentro deste projecto. Os seus primeiros passos no mundo artístico marcaram um ponto importante na sua vida, pois na sua infâ ncia nunca teve televisão. "O meu pai chegou à Venezuela na altura de Pérez Jiménez e dedicou-se à agricultura. Vivíamos no campo e até aos sete anos não sabia o que uma televisão. Um dia levaram-me a uma das casas grandes da fazenda, onde o meu pai tinha uns terrenos alugados para semear, e uma senhora me disse que fosse ver televisão". "Eu não sabia de que falava, mas quando vi o aparelho fiquei estupefacto e, a partir dai, só queria ir a essa casa para ver televisão. Depois, surgiu a ideia de fazer parte dela", conta-nos. Como se sente agora, depois de onze anos sem estar à frente da câ mara? Adoro a televisão. Como director e como actor, divirto-me de diferentes maneiras. Obviamente, a minha personagem teve que morrer rápido porque é quase impossível actuar e dirigir ao mesmo tempo. Mas tudo isso é muito agradável. Não me esqueço nunca de como actuar e isso reflecte-se na minha relação com os actores. Como surgiu a oportunidade de se converter actor? Quando o meu pai nos levou para Caracas, uma amiga da casa que era dançarina recomendou-me que estuda-se teatro para poder, um dia, chegar à televisão. Apresentei a minha prova de talento e fui seleccionado. Tudo foi mágico por-

que pude cumprir o meu objectivo e estar com pessoas que via atrás desse fenomenal aparelho que me tinha cativado tanto um ano antes.

tenção de afecto. Aqui tem, para além de mim, três irmãos que vivem na Venezuela.

Quando entrou no mundo da produção e da direcção? Aos 25 anos, comecei a me envolver com esta parte da televisão que me faltava conhecer. Comecei a trabalhar como dialogista, em simultâ neo com a actuação. Depois senti vontade de saber como eram os contornos da produção e queria aprender como se montava tudo. Foi assim que me iniciei na parte de direcção.

Pensou alguma vez na possibilidade de regressar à terra dos seus pais? Sim. Há uns seis ou oito meses pensei ir de férias para Portugal. Oxalá pudesse estabelecer contactos lá para produzir um projecto audiovisual. Gostava de entrevistar os portugueses daqui e fazer um perfil do emigrante com famílias distintas, para saber como foi o início de vida neste país. Penso que isso poderia interessar às pessoas de lá.

Onde se preparou? Estive um tempo em Espanha, onde fiz um atelier no Centro de Estudos Teatrais desse país, o qual era muito interessante porque envolvia todo o espectáculo de uma forma integral. Ai aprendi um pouco de actuação, direcção, cenografia e produção. Contudo, as minhas melhores escolas foram os canais de televisão.

O que faz no seu tempo livre? Admito que o trabalho na televisão é duro, mas tenho um trabalho que não é muito aborrecido. Sempre há coisas diferentes para fazer e isso é genial. Nas minhas horas vagas, dedico-me à agricultura, uma coisa que aprendi com o meu pai. Actualmente tenho uma quinta onde semeio arroz e até já tive gado, mas decidi vendê-lo porque os roubavam.

Já conhece Portugal? Na altura que estive em Espanha fui para Lisboa e para a Madeira. Não fiquei por muitos dias, mas passei momentos maravilhosos. O meu verdadeiro pai viveu e morreu nesta ilha. Ele separou-se da minha mãe e lá teve outro filho que eu só sei que se chama Rafael e que está lá.

O que acha da comunidade portuguesa que vive na Venezuela? Os portugueses na Venezuela são motivo de orgulho para este país, a maioria tem grande capacidade de trabalho, o que os torna numa comunidade admirável, fazendo-me sentir orgulhoso de ser filho de portugueses. Também aprendi a ser trabalhador porque vi os meus pais lutarem para fazer-nos progredir. E isso eu levo-o comigo, nas minhas raízes. Só lhes digo que não deitem a toalha ao chão e continuem e continuem a acreditar neste grande país.

O que gostava de dizer ao seu irmão através deste jornal? Digo-lhe que, embora não o conheça, lhe tenho alguma consideração e que estou às suas ordens se tiver qualquer in-


16 CULTURA

CORREIO DE CARACAS - 11 DE AGOSTO DE 2005

Saramago reclamou mau uso da sua obra O Prémio Nobel da Literatura denunciou que a oposição venezuelana utilizou o seu livro para apelar à abstenção nas eleições municipais referência na sua novela. "Os homens e as mulheres osé Saramago, vence- que na minha obra votaram em dor do Prémio Nobel branco fizeram-no como acto de da Literatura, escreveu protesto contra a degradação da uma carta ao presiden- democracia, mas a oposição vete Hugo Chávez para manifestar nezuelana apela à abstenção, preo seu descontentamento pelo uso cisamente quando na Venezuela indevido da sua obra "Ensaio so- se está a pô r de pé uma demobre a Lucidez" por parte de al- cracia com a participação directa guns representantes da oposição do povo". venezuelana. Acrescenta que não estranha "Já me piratearam um livro na o facto de não serem capazes de China e um ou outro na América entender isto, pois nem conseLatina, mas até hoje nunca me guiram perceber o livro que estinham pirateado uma ideia", as- creveu. Ou, talvez, se conseguem sinala Saramago na missiva. O perceber, estão conscientes de que escritor português denuncia que tentam enganar os venezuelanos. um grupo da oposição se serviu Na carta enviada ao presidendeste livro para apelar à abstenção te venezuelano Hugo Chávez, o nas passadas eleições municipais escritor repudia o acto, considede 7 de Agosto, ao tentar encon- rando-o um boicote às suas ideias trar-lhe semelhança com o "vo- e uma suja manobra que mereto branco", do qual Saramago faz cia desprezo. Tabita Barrera

J

BREVES Conversa sobre Ferreira de Castro

Durante o mês de Agosto, em data a anunciar, o IPC vai organizar uma sessão para marcar a publicação de "A Selva", um dos romances fundamentais de Ferreira de Castro, precursor do neo-realismo português. O encontro serve para conversar sobre a obra desta figura singular da nossa literatura e, se possível, apresentar o filme homónimo de Leonel Vieira. Ferreira de Castro, também autor de "Emigrantes", entre muitos outros títulos, nasceu perto de Oliveira de Azeméis em 1898 e faleceu, no Hospital do Porto, em 5 de Junho de 1974. Foi durante muito tempo o autor português mais traduzido e "A Selva", segundo a UNESCO, é um dos dez livros mais lidos do mundo.

Paula Rego no Museu Rainha Sofia Madrid vai ver Paula Rego em 2007, numa retrospectiva que a Rainha Sofia vai dedicar à pintora que está residir em Londres há vários anos. Ana Martínez de Igualar, directora do museu, referiu-se ao projecto nestes termos: "É uma das boas surpresas que temos na programação desse ano". Paula Rego, que acaba de ter um enorme sucesso no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, expôs no ano passado na Tate, uma das principais salas de Londres. Para a presença da pintora nesta sala de Madrid - é a primeira vez que a Rainha Sofia abre as suas portas a um artista português - muito parece ter contribuído o adido cultural na capital espanhola, João de Melo, que, como se sabe, já esteve em Caracas, a convite do IPC. O escritor já está a pensar noutra "aventura" portuguesa em Madrid: a de Júlio Pomar. Tomado do Fax Informativo de Artes y Letras da Fundação Instituto Português de Cultura


CORREIO DE CARACAS - 11 DE AGOSTO DE 2005

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18 PERFIL

CORREIO DE CARACAS - 11 DE AGOSTO DE 2005

"Vejo a coló nia portuguesa muito pouco unida" Noélia de Abreu

noeliadeabreu@gmail.com

S

érgio Victor Freitas Abreu é um dos emigrantes portugueses que optou por morar em Boca de Uchire. Hoje, faz parte do grupo de comerciantes lusos da zona e é presidente da Câ mara de Comércio, Indú stria e Construç ão de Boca de Uchire, Estado de Anzoátegui. Para além disso, tem um programa de rádio na "emissora uchirena" 104.1 e é coordenador de publicidade de protecção civil da zona. Ao contrário dos seus pais e de todos o lusos que emigraram à procura de melhores condições, comenta-nos que ele não emigrou: "A mim obrigaram-me a emigrar". É que chegou à Venezuela apenas com três anos. Nos 31 anos que já passou em Boca de Uchire, conseguiu adaptar-se muito bem. Fez o ensino básico e participou em diversas actividades desportivas, indo uma vez representar a zona num jogo de futebol ao nível nacional. Hoje, já com 33 anos e casado com uma senhora natural de Uchire, diz que gosta muito do povo e que se sente muito bem neste local. Mas isso não o impede de viajar de vez em quando e visitar o seu sítio natal, o Monte, na Madeira. Recentemente, abriu um restaurante na Avenida Principal de Boca de Uchire e o atendimento é feito por ele e a sua mulher. Serve peixe fresco, como um "lebranche" recém-pescado da lagoa daquela região. "Antes de abrir o meu negó cio quis ir a Portugal porque sabia que tinha que passar muito tempo com o restaurante. Estive com a minha mulher durante sete meses na Madeira e aproveitei para ir à Holanda". COLÓ NIA DESUNIDA Sérgio Freitas é um luso

Sérgio Freitas é o presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Construção de Boca de Uchire

Sérgio Freitas casou com uma mulher natural de Boca de Uchire.

O ú nico portuguê s social Sérgio Freitas é, até agora, o único português que já ocupou o cargo de presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Construção de Boca de Uchire. "Sou um dos poucos lusodescendentes que participa nas actividades sociais de Boca de Uchire. Fico bastante preocupado porque me parece que o português desta zona está a ficar excluído porque não participa", declara-nos.

Caracterizaç ã o da zona Localizado nos limites do Estado Miranda e do Estado Anzoátegui, este pequeno povo possui uma ampla zona de praias, ideal para os que apreciam ventos suaves e praias virgens. Esta zona tem vários rios, como o Rio Uchire e o Rio Unare, onde abundam peixes e diferentes

serpentes de água. Perto dali, está a Lagoa de Unare, onde é possível apreciar uma bela paisagem natural e um amplo reservatório de avifauna, como flamencos, camacutos, lebranches, lisas e mojarras. No local, há várias pousadas.

que está muito preocupado com a situação actual dos portugueses da zona. "Vejo a coló nia portuguesa muito pouco unida. Já não se comemoram as festas de Nossa Senhora de Fátima, como se fazia antes. Isto prova que os portugueses de Boca de Uchire já não conseguem nem chegar a um acordo para comemorar um dia como este". Freitas afirma que os portugueses da sua zona só se interessam pelo trabalho e ele vê isto como algo negativo porque não se tenta encontrar um equilíbrio na vertente social. Recentemente, através do seu programa de rádio "En la noche", o emigrante fez uma reflexão sobre a obsessão que têm muitas pessoas pelo material, deixando de lado as suas famílias e amizades por causa de bens materiais. Desta forma, mandava uma boca aos portugueses, que se caracterizam por se dedicarem 100% ao trabalho. "De nada serve o que temos se quando morremos não há ninguém que nos chore e vá ao nosso funeral", assegura Freitas, preocupado porque a comunidade não é muito social. Quando era jovem, confessa, sentia raiva porque o seu pai nunca lhe deu os luxos que tinham outros lusodescendentes. "Via que os outros jovens tinham carro e eu não. Mas de dois em dois anos íamos para Portugal. Hoje agradeço-lhe porque me ensinou a valorizar as coisas e a apreciar mais a minha cultura". Por isso, agora, é um fiel "praticante" da cultura portuguesa. Da ú ltima vez que esteve na Madeira, não hesitou em trazer um dos barris de madeira que se utilizam antes (e ainda hoje) para colocar o vinho. Mas foi difícil trazê-lo… Aproveitou o barril para comemorar o baptizado do seu filho, onde se beberam quase 50 litros de vinho.


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PORTUGAL 19

BREVES entreguem aos cofres públicos o valor das indemnizações que o Estado tiver de pagar às vítimas de decisões dolosas ou grosseiramente negligentes. Por exemplo, os cidadãos terão direito a serem ressarcidos quando um erro do juiz determinar uma prisão preventiva injustificada ou a espera para além do "prazo razoável" por uma decisão judicial.

Verão de Lisboa com menos turistas

Site do consulado na Madeira O Consulado geral da Venezuela no Funchal já tem uma página de Internet. Os interessados podem acedê-la através do link www.consuladovenefunchal.com. O objectivo é simplificar o fluxo de informação entre a comunidade venezuelana residente e/ou visitantes na Região Autónoma da Madeira que pretendam obter diversas informações no consulado.

A crise chega a todos e, apesar de ser Agosto, a capital portuguesa não está tão cheia de estrangeiros como em anos anteriores. Números da Associação de Turismo de Lisboa (ATL) revelam quebra na ocupação hoteleira no primeiro semestre deste ano. Entradas no Oceanário confirmam diminuição de visitantes. A baralhar os dados, surgem os números também da ATL a dizer que, no primeiro semestre deste ano pararam na capital 117 navios (mais um que no ano passado), o que originou uma subida de 11, 4% no número de passageiros. No entanto, existe uma previsão de redução de número de escalas, para o segundo semestre.

Ex-combatentes em estudo Juizes a pagar pelos seus erros O Governo da República está a ultimar um projecto de diploma sobre o regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado que prevê que os magistrados sejam obrigados a assumir os custos dos seus erros judiciais, exigindo-lhes que

A Universidade do Minho está a realizar um estudo para apurar o número de combatentes que sofrem de doenças adquiridas no Ultramar, revelou ontem António Basto, presidente da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra. A instituição juntou ontem, em Felgueiras, dois mil ex-combatentes do concelho, no primeiro convívio local.

Criado gabinete de apoio a emigranEm Amares, entrou em funcionamento este gabinete que se destina a apoiar residentes ou não em Portugal. tes ponsável por este serviç o apoiar os utentes em matéria de Segurança Sontrou em funcionamento o cial, visto de entrada em Portugal, criaGabinete de Apoio ao Emi- ção de emprego e formação profissiogrante do Município de nal, franquias ou aduaneiras, legalizaAmares, que se apresenta ção de veículos automó veis e isenção como um serviço que vai prestar de do imposto automó vel, nacionalidaforma gratuita todo o apoio aos emi- de, habilitações literárias e informações grantes, residentes ou não em Portu- sobre produtos bancários. gal, bem como aos seus familiares. A oficialização da criação do GabiO objectivo é apoiar os munícipes nete de Apoio ao Emigrante resultou emigrantes no regresso ou reinserção da assinatura de um acordo com a Dino país, contribuindo para a resolução recção Geral dos Assuntos Consulares e dos problemas inerentes a estas duas Comunidades Portuguesas, numa cesituações. rimó nia que foi presidida pelo secreO leque de competências atribuídas tário de Estado das Comunidades Porao Gabinete vai permitir à técnica res- tuguesas, Antó nio Braga. JN - Portugal

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PORTUGAL 20

Mais rigor para travar os incêndios DN - Madeira

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Sindicato dos Magistrados do Ministério Pú blico defendeu na semana passada que o rigor das medidas de coacção impostas aos suspeitos de fogo posto deve ser igual aos suspeitos de outros crimes. Antó nio Cluny comentava à Lusa declarações do ministro da Administração Interna, que considerou que os magistrados devem "afinar" o critério das medidas de coacção aplicadas aos presumíveis incendiários. Em declarações à comunicação social, Antó nio Costa sublinhou que tem recebido "informações quer da GNR, quer via Ministério da Justiça, provenientes da Polícia Judiciária, que sublinham a necessidade de haver, quanto à aplicação de medidas de coacção (aplicadas pelos magistrados a incendiários), um critério mais afinado". O presidente do sindicato disse que o rigor que os magis-

trados devem assumir para requerer as medidas de coacção deve ser o mesmo para qualquer tipo de crime, quer esteja ligado ao fogo posto ou a outros crimes, como por exemplo a pedofilia ou o homicídio. Antó nio Cluny salientou também as dificuldades existentes no que diz respeito à investigação dos crimes de fogo posto. "Parece pouco credível que as pessoas detidas, na sua maioria portadoras de deficiência, possam ser consideradas responsáveis neste tipo de delitos", afirmou. "Seria importante que se intensificassem os métodos de investigação das forças policiais para determinar por vezes os verdadeiros mentores do fogo posto", frisou. Antó nio Clunny defendeu ainda que se deveria aprofundar estes processos caso a caso em concreto. Apesar de considerar justas as preocupações do ministro, Antó nio Cluny considerou-as uma forma de "desviar as aten-

Sindicato quer que as medidas de coacção impostas aos suspeitos de fogo posto sejam iguais às de outros crimes ções" por as "medidas adoptadas pelo Governo para a prevenção de fogos florestais não terem tido os resultados esperados". "Não há que desviar a atenção das insuficiências nas medidas adoptadas para a prevenção para outras áreas", salientou. "Há que fazer notar que quem aplica as medidas de coacção são os juízes de instrução e não o Ministério Pú blico", referiu por outro lado o presidente do sindicato. Desde o princípio do ano a Polícia Judiciária deteve pelo menos 69 pessoas por suspeita de fogo posto, contra as 80 detidas no ano passado. Mais de 52 mil hectares de

floresta arderam em Portugal Continental em Julho, o pior mês desde o início do ano, elevando para 68.290 hectares a área destruída pelos incêndios

nos primeiros sete meses de 2005, segundo o ú ltimo relató rio da Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF).


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22 OPINIÃO

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Leis daqui e leis de lá Miguel Monteiro Advogado

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ormalmente, o ser humano tem que se sujeitar aos problemas. Algumas vezes somos nó s que procuramos os problemas, mas noutras eles nos encontram. Frequentemente, esses problemas são de carácter jurídico e não fazem mais do que dar um toque adicional de desagrado às nossas vidas. E metem sempre advogados, tribunais, citações, processos e maus momentos, entre outras coisas. Se a tudo isto acrescentarmos uma

quota de conhecimento em matéria legal, o problema cai sobre a nossa cabeça como se fosse uma bomba de tempo, que a qualquer momento explode. Outro ingrediente é a sensação profunda de desconfiança nas pessoas que estão envolvidas nesse problema e a dificuldade que temos em aprender a confiar no advogado que conduz o caso, o que às vezes parece uma proeza digna de um heró i. Felizmente, nem sempre as questões jurídicas levam a casos desagradáveis que nos faça tirar o sono, tanta é a angú stia. Esta coluna tem como principal ob-

jectivo informar, educar, aconselhar e guiar todos os nossos leitores com dados que são relacionados com as leis da Venezuela e as de Portugal. No entanto, convém deixar claro que, de uma forma responsável, não pretendemos substituir, de maneira nenhuma, a assistência do profissional de Direito que escolheram para acompanhar os vosso eventuais casos. Vamos falar na pró xima edição sobre sucessões em Portugal e na Venezuela. Se um familiar morre e deixa bens, o que se deve fazer? Fale connosco através do correio electró nico advogadosasociados@sapo.pt e do nú mero 0414.320.0799.

Folclore ou fantasia? José Manuel De Oliveira T.

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sta pergunta surgiu por causa da minha presença na ú ltima edição do Festival de Folclore Português, que teve lugar na cidade de Valencia, sendo magistralmente organizado pelo Grupo Folcló rico "Danças da Madeira" da Casa Portuguesa Venezuelana do Estado de Carabobo, a quem felicito por ter conseguido levar a bom termo a com tanto êxito a vigésima edição deste festival. Este evento, juntamente com outros que se realizam na Venezuela (Festival de Folclore Madeirense, Festival Infantil, etc.), parece-me digno de exaltação, pois têm como objectivo primordial enaltecer e divulgar os costumes, as tradições e o fulgor do nosso querido Portugal. Ao mesmo tempo que promovem o estudo, documentação e investigação dos mesmos e a sua difusão nas novas gerações de luso-descendentes, também serve de espaço pró prio para o encontro amistoso e o go dos Açores, de onde os meus pais intercâ mbio de experiências entre são, o que que fez com que já tenha a maioria dos grupos folcló ricos lu- visitado a ilha várias vezes. sos que existem nas diferentes reEm todas as vezes que visitei os giões deste belo país. Açores, pude apreciar muitos gruAté aqui tudo está bem, só que pos folcló ricos daquela região e nuneste ano pude observar, estupefac- ca vi nada igual ou parecido ao traje to, como um dos grupos participan- típico, as danças e a mú sica que o tes se apresentou em cena, com uma referido grupo apresentou. estampa folcló rica (traje típico) e Quero acreditar que este erro se uma coreografia (bailes) que repre- deveu a má documentação do grusentavam supostamente uma região po, o que não seria tão grave como de Portugal insular, nomeadamente se o tivessem feito intencionalmena ilha de São Miguel, do arquipéla- te, só para criar uma coreografia es-

pectacular com a finalidade de ganhar o festival, mas afastando-se da verdadeira essência do folclore micaelense (de São Miguel). A minha ú nica preocupação ao tornar pú blica esta situação é que as pessoas que tenham competência neste assunto procurem e estabeleçam os mecanismos ou regras necessários para que noutros festivais de folclore português se possam detectar e evitar estes erros, que distorcem o genuíno, o belo e a variedade do nosso folclore lusitano.

Lisboa de altos e baixos António Xavier (Historiador) aindax1@yahoo.com

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lguém recomendou aos portugueses e lusodescendentes na Venezuela que não fossem tão ostentosos. Mas alguém acredita que os portugueses gostam de se exibir? Pois, parece que sim. Pelo menos é isso que diz um roteiro de viagem de Lisboa da década de 50. Mas as suas palavras tinham por base os costumes. No que se refere a exibicionismo, os lisboetas têm a sua reputação reservada. Gaziel, turista insensível e crítico dos costumes alheios, diz em relação à "amostra social" que "os cinemas de Lisboa interrompem o espectáculo duas vezes: a primeira, depois do noticiário, que é interessantíssimo, e segunda no meio do filme". Para ele, estes dois largos intervalos mostram para que servem as esquinas de alguns cinemas, excessivamente iluminados. Refere-se aos cinemas Éden, San Jorge e Monumental. Diz o roteiro que os cinemas lisboetas têm nas suas antessalas a rara particularidade de estarem dotados de um sistema de esquinas, para entrar, sair e circular de uma forma realmente ostentosa. "Os lanços das escadas e os patamares sobem, descem, rebolam e espalmam-se até desorientar o que não está habituado". Pelo meio, as pessoas abandonam quase em massa a sala. Saíam para fumar, conversar, olharse umas às outras, mostravam-se. Faziam-no a subir e a descer dezenas e até centenas de escadas. Estavam em constante movimento até soar a campainha para que a projecção continuasse. Para Gaziel, os arquitectos tinham captado o sentir popular e a vida quotidiana da cidade. Para ele, não podia haver outro motivo. Na construção e uso destas escadas extraordinárias entrava, na sua grande maioria, "a famosa influência do meio ambiente, a famosa geografia na mentalidade local". Esta ideia dava-lhe voltas à cabeça ao ver os citadinos. Pensava nas ruas cheias, as escadas apertadas entre as casas dos bairros, o descanso em frente de alguma porta brilhante. Pensava em grupos de pessoas que desciam, de manhã cedo, para os seus trabalhos. Imaginava os mesmos a subir, de regresso às suas casas. Todo este sobe e desce diário fez com que percebe-se as escadas do cinema. Não serviam, afinal, apenas para que as pessoas se exibissem. Concluiu que os lisboetas estavam tão habituados a subir e a descer escadas, tanto durante o dia como durante a noite, que começaram a fazer isto por instinto de segunda natureza e necessitavam continuar a subir e descer escadas até que se achassem divertido. A isto tinham somado o facto de se vestirem para virem para a rua, para os outros. Bem, será que isto explica o comportamento do imigrante português na Venezuela? Será que dá continuidade ao costume lisboeta quando sobe ao bairro onde trabalha no seu humilde negó cio? Ou será que aparentar bem não é uma ambição de todos? A culpa talvez seja dos cinemas: não têm as antessalas dos de Lisboa. Felizmente para o ego pessoal, muitos estão em centros comerciais com escadas que sobem e descem.


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OPINIÃO 23

caRTas dOs leITORes Histó rias de vida

Autênticas festas...

Queria felicitar o CORREIO pela rubrica "histó rias de vida", que nos dá a oportunidade de conhecer um pouco mais da vida dos emigrantes na Venezuela. Escrevo porque achei interessante o tema e decidi escrever parte da histó ria de uma mulher, também ela emigrante que casou por procuração (ela lá e o meu pai aqui na Venezuela). Mando-vos também fotografias, mas peço-vos que estas não sejam publicadas, pois não sei reagiriam os meus irmãos. No fundo, quero apenas fazer uma pequena surpresa a uma emigrante, a minha mãe, que na maioria das vezes é pai, irmã, etc. Nunca ganhou um salário apesar de sempre ter trabalhado 24 horas por dia em casa. Somos sete irmãos e todos de idades não muito diferentes. Foi sempre uma senhora muito querida pelos amigos, família e vizinhos, onde vive desde que chegou à Venezuela no ano de 1967. Dos filhos não se fala, mas os genros e as noras adoram-na sem hipocrisias, pois sempre foi uma mulher conciliadora e com profundo sentido de responsabilidade nas decisões que tomou, sempre a pensar no futuro e na estabilidade matrimonial de todos nó s. Vieram os netos e estes também adoram ir à casa da avó . Tem sempre rebuçados para todos e cada filha e nora recebe os seus respectivos conselhos sobre o comportamento dos netos. A todos bordou as suas primeiras roupas e são ao todo 17 netos. Sendo natural da Madeira, nunca regressou à sua terra nem de passeio. Um dia reunimos todos os filhos para

Sou só cio do Centro Português (Caracas) e escrevo para falar de um problema que penso que deveria ser analisado pelo jornal o CORREIO. Tem a ver com as festas que se fazem no clube, permitindo a entrada de todos os que compram ou recebem de borla os bilhetes. Mas também isso não interessa. O que importa é dizer que quando isso acontece as festas são um êxito total. Alegria, mú sica da nossa terra, uma ou outra bebedeira lamentavelmente fazem parte da tradição, ambiente colorido sem finuras com risos, gargalhadas, etc. Verifico que esse mesmo ambiente não existe quando se fazem festas só para os só cios. Será que estão cansados de tanta festa? Será que são mais tristes? Será que os filhos dos associados não querem ir ao clube e se vão é para fazer desporto e ir embora para casa jogar no computador ou ir ao cinema? Penso que o êxito destes arraiais está neste ponto, pois mesmo os mais jovens

INQUéRITO

Sandra Pestana

Lusodescendente, estudante

Estou interessada em estudar a língua portuguesa porque muitas vezes quero falar com os meus pais na língua deles e não consigo. Mas percebo o que leio e escuto. Em qualquer emprego, pedem normalmente que domines duas línguas. Estou a estudar Tecnologia Petroleira e exigem-nos que dominemos o inglês. Se para além disso aprendesse o português seria bom. Aqui em Boca de Uchire não há ninguém que ensine português, mas se houvesse seria excelente.

lhe pagar a viagem a Portugal. Dissenos que não, que o seu Portugal estava aqui na Venezuela ao lado dos seus filhos, dos netos e dos vizinhos venezuelanos com quem convive há mais de 35 anos. Nunca foi à escola e apenas sabe assinar o nome, mas isso não é motivo de impedimento para assistir a todas as reuniões que nas escolas, nos colégios e até na universidade tinha que assistir como nossa representante familiar. Enfim, tudo isto para dizer que é um ser extraordinário e que é a melhor mãe do Mundo. Esta carta, se for publicada, vai ser lida em voz alta no ú ltimo domingo do pró ximo mês, dia em que os filhos e os descendentes se reú nem todos na casa da "velhinha", como a chamamos, com carinho. Maria E. C. Ferreira

que frequentam o clube naqueles dias desfrutam da festa porque não a têm todos os dias para estar lá, como os só cios "tradicionais". Aos mais velhos, até dá gosto vê-los desfrutar também da festa, recordando as suas infâ ncias. No entanto, esta mistura de só cios e não só cios, nem que seja uma vez ao ano, torna a mesma festa mais espontâ nea e alegre. Um autêntico arraial. Parabéns a todos! Mário Martins R. Ferreira

Isso não é desprezo? Sou fanático pelo Sporting de Portugal, o maior clube do Mundo. Li o Correio de Caracas e fiquei surpreendido com a inauguração da casa do Benfica. Descrevo assim: um grupo de fanáticos como eu, só que sou do Sporting, que se entusiasmaram por uma ideia e que serve de pretexto para se reunirem, tomar uns copos e se reencontrarem com amigos. O que não compreendo, como "Lagarto", é porque é que numa festa dessa categoria com tanta gente, como o CORREIO anunciou na reportagem, a junta directiva do Benfica em Portugal não enviou à Venezuela uma

figura desportiva do clube encarnado, tal como fez o Porto e o Marítimo fazia. Mais ainda fico sem compreender como o presidente do clube vai à Europa inaugurar casas do Benfica onde não há mais de trinta só cios e, aqui, a uma reunião com mais de 800 portugueses, 95% benfiquistas, não vem ninguém à Venezuela apoiar a iniciativa. São assim os benfiquistas? Penso que isso é desprezo. Ou não é? Para os senhores do Sporting, que li que querem organizar um jantar verde e branco, contem comigo. José Rentróia Silva T.

Gostava de aprender português? Em Boca de Uchire é possí vel estudar esta lí ngua?

Ana Maria Correia

Lusodescendente, licenciada em Direito

Sempre quis aprender português, mas aqui em Boca de Uchire não é possível porque não há professores que leccionem. Felizmente, li num jornal num destes dias que a Universidade Central da Venezuela tem entre as suas possibilidades de estudo um curso de língua portuguesa. Na minha casa fala-se português e eu falo sempre que posso, mas muitos filhos de portugueses na zona já não sabem falar.

José Luciano Pestana Abreu

Português, comerciante

Tenho insistido muito para que os meus filhos falem português, pois vejo que muitos lusodescendentes da zona estão a perder o interesse e a prática. Para além do mais, muitos portugueses não dão muita atenção à família, pois estão mais preocupados com o trabalho e mais nada. Mas nem tudo é trabalho. Não podemos deixar que a cultura se perca assim. Se houvesse um professor na zona, punha os meus filhos a aprenderem português. É preciso que se crie um clube ou um centro onde os nossos filhos possam praticar a língua. Só dessa forma podemos evitar que se perca o amor pela nossa cultura.

Sérgio Victor Freitas Abreu

Português, comerciante

Eu sei falar português. Contudo, quando vou a Portugal tenho dificuldades com a língua porque não falo correctamente. Quero que o meu filho não tenha esse problema. Mas isso vai ser difícil porque aqui já quase ninguém fala português, nem os pró prios portugueses, quanto mais os lusodescendentes. Um curso de português seria o ideal para quem, como eu, esteja interessado em aperfeiçoar a língua, mas também é ú til para quem quer aprender do zero.


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Portugal: produto interno bruto revisto em alta Comentário Económico do Totta

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Instituto Nacional de Estatística (INE) procedeu à divulgação de novos dados para as Contas Nacionais para o período de 1995 a 2000, as quais resultaram numa revisão em alta do Produto Interno Bruto, em cerca de 5%. Os dados para o período de 2001 a 2004 serão apresentados durante o mês de Setembro, e a actualizaç ão, atendendo também à experiência de outros países europeus, deve ser igualmente no sentido de uma revisão em alta, de cerca de 5%. Este processo de revisão enquadrase num trabalho conjunto ao nível dos países europeus, e visa introduzir novas metodologias e fontes de informação, que procuram captar de forma mais abrangente a totalidade da riqueza e despesa realizada. Não há, contudo, aqui alterações visando a medição da chamada "economia paralela" ou "subterrâ nea", ainda que o cruzamento de novas fontes de informaç ão possa abranger alguns sectores "informais" da economia. A principal alteração em termos de novos valores ocorreu ao nível da despesa de consumo das famílias. O INE,

fruto dos inquéritos realizados aos orçamentos familiares e também do Censo de 2001, consegue agora avaliar de forma mais abrangente o valor das rendas associadas à habitação pró pria. Em Portugal, a maior parte das famílias dispõe de habitaç ão pró pria, em detrimento do arrendamento, pelo que há uma série de custos implícitos na manutenção da habitação pró pria que passam a ser directamente contabilizados. No entanto, há igualmente uma revisão em alta da despesa realizada pelas famílias noutros tipos de bens, como sejam medicamentos, restauração e mesmo viagens e turismo, para mencionar algumas das classes a que alude o INE. Houve igualmente uma revisão em alta da estimativa de emprego, utilizando para o efeito os inquéritos mais recentes do INE. Por exemplo, para o ano 2000, o nú mero total de empregados foi revisto em mais 86 mil empregados, ou seja, um acréscimo de 2%. Isso reflectiu-se num crescimento significativo das remunerações, em cerca de 7%, devido a alterações na contabilização do emprego entre "por conta pró pria" e "por conta de outrem". As remunerações passam igualmente a incorporar, de forma mais aprofundada, as remunerações em espécie, tais como, por exemplo, a utilização de au-

tomó vel de serviço. Em consequência, o rendimento disponível das famílias aumentou igualmente. No entanto, a despesa de consumo das famílias foi alvo de uma maior revisão, pelo que a taxa de poupança das famílias foi revista em baixa ligeira. Esta revisão do PIB vai ter implica-

ções claras sobre as estimativas de défice orçamental e de rácio da dívida, com respeito ao PIB, os quais deverão ser revistos em baixa. Por exemplo, se a mesma revisão for aplicável ao ano de 2005, a estimativa de défice orçamental de 6.2% do PIB seria revista para 5.9%.


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TAP promete mais atenção ao interior da Venezuela Novo delegado em Caracas, Pedro Pinto, tenciona dar mais importância às comunidades do interior porque pensa que há um grande potencial por explorar Délia Meneses

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TAP está a apostar fortemente no mercado da Venezuela. A partir de 16 de Agosto a companhia aérea portuguesa vai ter seis frequências semanais e durante o Inverno tenciona manter pela primeira vez cinco voos, quando no ano passado tinham três. Pedro Pinto é novo delegado da companhia em Caracas e veio substituir Júlio Ribeiro, que foi para a República de Cabo Verde, como director da companhia. "Estamos com seis voos porque a procura tem sido muito interessante. O mercado está a responder bem. Por isso, até Outubro, vamos sair-nos com uma sexta frequência". O voo directo foi uma boa aposta? O voo directo para o Funchal foi uma excelente aposta que tencionamos manter. Mas, por um lado, é uma aposta que também dói pois é um voo que tem custos

muito elevados em termos de posicionamento da viagem. Para nos, é mais barato operar em Lisboa que operar no Funchal. Quando o avião chega ao Funchal fica posicionado aí e depois necessariamente tem que fazer um voo para Lisboa, que eventualmente é aproveitado como um voo doméstico, mas não é a melhor maneira de usar um Airbus 310. Durante a sua gestão, como será o seu relacionamento com a comunidade? Durante o meu período de gestão, quero ter a maior abertura possível com a comunidade. Tenciono dar uma particular importância às comunidades fora de Caracas. Para os portugueses que vivem na capital é mais fácil contactarem-me aqui no gabinete ou no Centro Português. As comunidades fora de Caracas já não têm aquela facilidade de comunicação e eu penso que há um grande potencial por explorar nas zonas do interior da Venezuela. Penso que as pessoas reconhecem e agradecem a presença física de alguém que vá até lá e fale directamente com eles.

Por isso esse é um pormenor que vou ter sempre em conta. Há a possibilidade de oferecer pacotes com preços especiais? No Verão, dificilmente se consegue fazer preços mais baixos porque a procura é muita. É bom recordar que a TAP já não recebe ajuda do Estado dos últimos anos para cá. Por normas da Comissão Europeia, as empresas aéreas não podem receber subsídios. Como não recebemos ajuda pública, a nossa gestão tem que ser regida por critérios económicos. Contudo, temos um especial carinho pelas comunidades portuguesas cá fora, pois são a base do nosso mercado. O que eu posso sugerir as pessoas com menos possibilidades económicas é que tentem viajar em época baixa. Aí conseguem preços mais acessíveis. Inclusivamente, as vezes consegue-se fazer preços especiais para grupos de centros portugueses no interior. Mas agora, em época alta, é impossível. Há muita coisa que se pode fazer fora da época alta.

Impressões da Venezuela Com apenas um mês no país, Pedro Pinto confessa-nos que em Portugal se faz uma ideia muito diferente do que é a Venezuela. "Caracas é uma cidade que tem vida própria, tem uma vida cultural, tem animação, os restaurantes são bons. Aideia que eu tinha antes de vir era de um lugar onde as pessoas viviam para ir de casa ao trabalho e que viviam quase em fortalezas por causa do medo. Mas felizmente não é assim. A comunidade portuguesa tem um nível de integração com o resto da sociedade muito superior àquele que tenho visto em outros países. Os portugueses não estão concentrados num só lugar, senão que estão dispersos pela cidade toda e são aceites por todos os níveis sociais".


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TAP e SATA Internacional alargam cooperação nas ilhas

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TAP e a SATA anunciaram o reforço do â mbito do seu acordo de code-share, que passa a cobrir a totalidade das operações entre o continente e as regiões autó nomas realizadas pelas duas companhias. Adicionalmente ao que acontecia já entre o continente e os Açores, a

BREVES TAP apoia organização de congressos em Portugal A TAP Portugal, como companhia aérea de bandeira, tem como um dos seus principais objectivos contribuir para que a realização de eventos em Portugal seja um sucesso. Para tal, e tendo como principal intuito facilitar a deslocação de congressistas para os eventos, a TAP tem vindo a estabelecer diversas parcerias com entidades organizadoras de congressos. Pretende, com isto, alcançar não só o reconhecimento da capacidade organizacional da entidade responsável pelo evento, como também promover Portugal e os serviços da companhia. A realização de congressos utilizando voos da TAP tem várias vantagens: as reservas terão que ser exclusivamente efectuadas através do website www.flytap.com; são atribuídos descontos entre 10% e 20% aos participantes; os pagamentos são efectuados via Internet por cartão de crédito e a moeda utilizada é sempre o Euro; o desconto é aplicável para viagens de ida e volta de qualquer destino TAP para Portugal e é válido apenas em voos operados pela TAP; não são permitidos voos Code Share operados por outras companhias; à conferência é atribuído um código específico que deverá ser mencionado aquando da reserva on-line para poder beneficiar do desconto; de modo a permitir a atribuição correcta dos descontos e confirmar a veracidade da reserva, a entidade organizadora envia para a TAP uma listagem actualizada dos participantes registados Para mais informações contacte os serviços da TAP através do e-mail congressos@tap.pt.

SATA tem agora a possibilidade de comercializar, com o seu pró prio có digo, todos os voos efectuados pela TAP entre Lisboa ou Porto e a Madeira. A TAP e a SATA alargam, desta forma, uma parceria que tem vindo a ser aprofundada desde Abril de 2002. Com mais este reforço da sua cooperação, TAP e

SATA passam a oferecer todos os destinos nas rotas entre Portugal Continental e as Regiões Autó nomas da Madeira e dos Açores, incluindo, designadamente, voos code-share à partida de Lisboa para a Madeira, Ponta Delgada, Terceira, Pico, Horta e Santa Maria, do Porto para Ponta Delgada e deste aeroporto para a Madeira.

"Este acordo faz parte de uma estratégia mais ampla das duas transportadoras, com vista a optimizar a interligação das suas redes, aumentar o nú mero e diversidade dos destinos oferecidos, bem como a qualidade do serviço conjuntamente disponibilizado aos seus clientes", referiu, a propó sito, Fernando Pinto, administrador-delegado da TAP.

Segundo Antó nio Cansado, presidente da SATA, "a cooperação entre as duas companhias no â mbito do code-share tem efeitos muito positivos, pois para além das vantagens competitivas, oferece uma grande flexibilidade aos passageiros, contribuindo para facilitar as acessibilidades, aspecto da maior importâ ncia para as Regiões Autó nomas".


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As rainhas do "desporto rei" Futebol feminino tem cada vez mais adeptos na Venezuela Victoria Urdaneta Rengifo

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futebol feminino está a conseguir posicionar várias instituições de ensino num lugar de destaque do mapa desportivo nacional. A Universidade Metropolitana e a Universidade Católica Andrés Bello são exemplo disso. A Universidade Católica Andrés Bello ganhou o campeonato que se realizou a 30 e 31 de Julho no Torneio do Aniversário do Centro Português, em Caracas, cuja delegação batalhou pelo troféu de futebol até não poder mais. Mas o Centro Ítalovenezuelano e a divisa Millennium também não fizeram por menos. Os protagonistas do futebol costumavam ser masculinos, mas agora a bem sucedida participação feminina nesta disciplina desportiva está a surpreender o Mundo inteiro. E as mulheres atletas parecem estar decididas a conquistar o terreno do futebol, que está a ser liderado neste momento pelos Estados Unidos e pelo Japão, países onde existe uma verdadeira revolução futebolística que deixou de ser há muito tempo uma simples moda para ser uma profissão lucrativa, especialmente para a Nação japonesa. Entre as representantes latino-americanas mais experientes estão jogadoras do Brasil, Uruguai e Argentina, que foram admitidas pela Associação de Futebol Argentino. O ÊXITO DO FUTEBOL FEMININO NÃO É POR ACASO No contexto internacional, os promotores de futebol prati-

cado por mulheres baseiam o seu êxito em planos estratégicos estudados. Não há medidas azarentas, pois tudo está estruturado com rigor e precisão. Desta tarefa encarrega-se a Federação Internacional de Futebol Associado, FIFA, que cria, guia e supervisiona actividades ligadas ao "desporto rei". Para além das diversas iniciativas universitárias de diversos países, o futebol feminino tem sido difundido nos centros culturais das colónias estrangeiras e até nas escolas infantis, onde se desenvolve um louvável trabalho para motivar as meninas a praticar este desporto. A aceitação ao nível nacional do futebol feminino tem aumentado paulatinamente. O Mundial que se realizou na China em 1991 e na Suécia em 1995, assim como os Jogos Olímpicos de Atlanta 96, foram peças cruciais para o aumento de adeptos desta especialidade. Nestes eventos provou-se o nível profissional das representantes femininas e o lugar conquistado entre os fãs, assim como as potencialidades económicas em termos de publicidade desta prática desportiva.

Equipa do Centro Português

BREVES 37º campeonato mundial de hóquei em patins A selecção portuguesa de hóquei em patins iniciou no passado sábado 6 de Agosto, frente à Angola, a defesa do título mundial, no jogo de abertura do 37º Campeonato do Mundo, na Califórnia, Estados Unidos, que decorre até 13 de Agosto. Sob o comando técnico de José Querido, a equipa portuguesa procura o 16º título na modalidade e a reconquista do ceptro alcançado em 2003, em Oliveira de Azeméis. Portugal parte para o inédito Mundial da Califórnia como favorito, mas também Espanha, com onze títulos, a Argentina, com dois, e Itália, com um, afiguram-se como os mais fortes candidatos. Portugal está inserido no grupo A, juntamente com Chile e Macau, e deverá enfrentá-los antes de passar à outra fase. De salientar, é que todos os jogos da Selecção Portuguesa serão transmitidos pela RTP-Internacional.


28 EVENTOS

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700 na festa do CORREIO A

Estalagem da Encumeada, na Madeira, esgotou na passada sexta-feira, dia 5 de Agosto, para a prometida Festa da Venezuela, promovida pelo CORREIO. O grande atractivo era a actuação, ao vivo, de El Conde del Guácharo, e ninguém saiu desiludido com as performances humorísticas do conhecido artista venezuelano. A animação foi ainda complementada pelas excelentes prestações de Sandra e Ricardo, bem como de Sidó nio Silva. Também importante para muitos dos participantes foi a oportunidade de voltar a experimentar velhos pratos da Venezuela, como o “ pabelló n crioullo” ou o “ plato navideño” , que fizeram as delícias de uma noite memorável, proporcionada pelo CORREIO.

Aleixo Vieira, director do CORREIO, usa da palavra, ao lado de Olavo Manica (CSCM) e José Bettencourt Câmara (DIÁRIO)


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EVENTOS 29

Sandra e Ricardo Rodriguez também deram a sua quota parte à animação da noite.


30 EVENTOS

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Sid贸nio Silva, uma surpresa agrad谩vel na Festa da Venezuela, promovida pelo CORREIO


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EVENTOS 31

“El Conde” esteve fantástico, igual a ele próprio. Foi rir até não poder mais...


Quem quer um banco vai ao totta CORREIO DE CARACAS - 11 DE AGOSTO DE 2005

Luso-venezuelanos rendem-se às piadas do Conde del Guácharo Cerca de 700 pessoas assistiram aos espectáculos e mataram as saudades que tinham da Venezuela puderam matar as saudades da "sua" terra. sgoncalves@dnoticias.pt Mas o humorista venezuela(DN - Madeira) no não se limitou a contar aneoi numa sala apinha- dotas e histó rias das suas vida de gente que o hu- vências, contou também episó morista venezuelano dios caricatos da política o Conde del Guácha- venezuelana e mostrou-se satisro se apresentou na Madeira, no feito com a recepção cada vez passado dia 5, na Encumeada, mais calorosa dos madeirenses. com piadas e relatos de vida dis- Convidou, também, o presidentorcidos que conseguiram sacar te do Governo Regional a pasda assistência valentes gargal- sar três meses na Venezuela, hadas. "para ver se consegue desenvolUm desastre de avião que te- ver também aquele país". De ve na Páscoa fez com que, de preferência, a fazer muitos "fuuma forma original, o Conde rados", como fez na Madeira. contasse disparatadas histó rias Antes da actuação do Conde que conquistaram a atenção dos del Guácharo, Sidó nio Silva portugueses, emigrantes, ex-emi- (português a residir na Venegrantes e luso-venezuelanos que zuela) e a dupla Ricardo y SanSónia Gonçalves

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dra Rodrigues (lusodescendentes) cantaram mú sicas que permitiram à maioria dos presentes recordar bons momentos da Venezuela. O espectáculo musical realizou-se só depois do "pabelló n criollo" e do "plato navideño" serem servidos em duas salas, uma com mais de quinhentas pessoas e outra com quase duzentas. É que, como já noticiámos, a procura foi tanta que os bilhetes se esgotaram e, para poder acolher mais pessoas na festa do CORREIO, foi disponibilizada mais uma sala com um ecrã gigante para ver o espectáculo. Como nos explica o director do CORREIO, a iniciativa pretendeu divulgar a passagem a semanário deste jornal da comunidade luso-venezuelana, que tem actualmente uma tiragem de quinze mil exemplares, sendo que desses cerca de mil chegam

à comunidade luso-venezuelana que reside na Madeira. Aleixo Vieira fez questão de destacar que as verbas arrecadadas na grande Festa Venezuelana reverteram na sua totalidade para o Centro Social das Comunidades Madeirenses, que teve um papel determinante na organização do evento. Por sua vez, o presidente do clube, Olavo Manica, felicitou o CORREIO pelo seu êxito e quis destacar que, agora, com a distribuição de um suplemento

em espanhol no El Nacional, as notícias da comunidade portuguesa na Venezuela chegam à casa de todos os venezuelanos e portugueses, pois o jornal venezuelano tem uma tiragem de mais de 200 mil exemplares. Olavo Manica diz que a enchente que se verificou ontem vem precisamente provar que a comunidade luso-venezuelana tem cada vez mais força, sendo o castelhano, sem dú vida, a segunda língua mais falada na Madeira.

Arte camachense reuniu centenas de emigrantes Marcelino Rodrigues (DN - Madeira)

I

nserido no programa da décima edição do Festival de Arte Camachense, na Camacha, Madeira, o dia 7 de Agosto foi dedicado aos emigrantes oriundos desta freguesia e também de outras partes do arquipélago madeirense, que há longos

anos optaram por viajar para outros países, a fim de tentarem melhor sorte. Promovido pela Casa do Povo da Camacha, nomeadamente pela iniaciativa e labor de César Gouveia e José Alberto Gonçalves, a quarta reprodução do "Dia do Emigrante Camacheiro" voltou a redundar num assinalável êxito. Contrariando o que esta-

va inicialmente previsto, Brazão de Castro, secretário regional dos Recursos Humanos, não pô de marcar presença no evento. Cerca de 150 pessoas marcaram presença no Complexo Desportivo da Camacha para participarem numa jornada de grande emoção e alegria, que juntou residentes na Madeira e emigrantes das

várias partes do Mundo, casos da Venezuela, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, França, Brasil e outras latitudes... Para além do jogo entre os veteranos da Associação Desportiva da Camacha e do Marítimo da Venezuela, que acabou empatado a duas bolas, o programa do "Dia do Camacheiro Emigrante" foi

marcado pela realização de um almoço de convívio, jogos tradicionais e uma caminhada nas levadas camachenses. A mú sica não poderia faltar, num dia que foi

acompanhado de perto pelos emigrantes madeirenses, através de emissão do programa da Rádio Difusão Portuguesa: "Abraço", que foi difundido pela RDP-Internacional.


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