Riopharma 118

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R E V I S T A

Nº 118 l Mar l Abr 2015

ÓRGÃO OFICIAL DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O papel do farmacêutico frente aos cuidados paliativos

Perícia Criminal é um caminho Pág. 18

Obrigatoriedade do farmacêutico na farmácia hospitalar Pág. 34


índice Pág. 4

Editorial 8º Congresso RioPharma

Pág. 6

Capa O papel do farmacêutico frente aos cuidados paliativos

Pág. 14 Ética A visão de Mário Moscatelli

Pág. 16 Agora é Diferente 1º Workshop de Fiscalização

Pág. 18 Acadêmico Atuação do farmacêutico na Perícia Criminal

Pág. 21 Qualipharma QUALIPHARMA tem novos cursos

Pág. 22 Tecnologia Farmacêutica Os estudos de estabilidade

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Pág. 25 Apoio CRF-RJ investe na qualificação de farmacêuticos

Pág. 26 Memória da Farmácia Farmácia Homeopática Thélema: uma história familiar

Pág. 29 Desenvolvimento Tecnológico Uma nova realidade no mercado: os biossimilares

Pág. 32 Âmbito Profissional UPAs com farmacêuticos

Pág. 34 Destaque A presença do farmacêutico na farmácia hospitalar – Lei 13.021

Pág. 37 Saúde Pública De olho na Febre do Nilo Ocidental


Expediente

agenda ExpoPharma Brasil 13 a 15 de maio de 2015 - Centro de Convenções SulAmérica - Rio de Janeiro - RJ

7º Congresso Científico do Mercado Farmacêutico 13 a 15 de maio de 2015 - Centro de Convenções SulAmérica - Rio de Janeiro - RJ

42º CONGRESSO BRASILEIRO DE ANÁLISES CLÍNICAS 21 a 24 de junho de 2015 - Riocentro Rio de Janeiro - RJ

X Congresso Brasileiro de Farmácia Homeopática 24 a 25 de agosto de 2015 - Centro de Ciências da Saúde da Cidade Universitária - Rio de Janeiro - RJ

XVIII Congresso da Federación Farmacéutica Sudamericana (FEFAS) 8º CONGRESSO RIOPHARMA DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS 15 a 17 de outubro de 2015 - Centro de Convenções SulAmérica - Rio de Janeiro - RJ

X Congresso Brasileiro de Farmácia Hospitalar 12 a 14 de novembro de 2015 - Expo Unimed Curitiba - PR

Para conferir mais informações sobre estes e outros eventos, acesse: http://crf-rj.org.br/eventos.html

Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro Rua Afonso Pena, 115 - Tijuca - Rio de Janeiro - RJ CEP: 20270-244 Telefone: (21) 3872-9200 - Fax: (21) 2254-0331 Dúvidas e sugestões: diretoria@crf-rj.org.br Denúncias: fiscalizacao@crf-rj.org.br Curta nossa página no Facebook e acompanhe o que acontece: facebook.com/oCRFRJ www.crf-rj.org.br Periodicidade: Bimestral Tiragem: 16.500 exemplares Diretoria Dr. Marcus Vinicius Romano Athila - Presidente Dra. Maely Peçanha Fávero Retto - Vice-presidente Dr. Robson Roney Bernardo - Tesoureiro Conselheiros Efetivos Dra. Carla Patrícia de Morais e Coura, Dra. Denise Costa Ribeiro, Dra. Fabiana Sousa Pugliese, Dr. Francisco Claudio de Souza Melo, Dr. Luiz Fernando Secioso Chiavegatto, Dr. José Roberto Lannes Abib, Dra. Maely Peçanha Fávero Retto, Dr. Marcus Vinicius Romano Athila, Dra. Melissa Manna Marques, Dr. Paulo Oracy da Rocha Azeredo, Dr. Robson Roney Bernardo, Dra. Tania Maria Lemos Mouço Conselheiros Suplentes Dra. Nilza Bachinski Pinhal, Dra. Rejane Maria F. de Oliveira Carvalho, Dra. Silvania Maria Carlos França Conselheiro Federal Dra. Ana Paula de Almeida Queiroz Conselheiro Federal Suplente Dr. Alex Sandro Rodrigues Baiense Editora e Jornalista Responsável Adriane Lopes (MTB – 17195) Editora Chefe Sônia Lara (Mtb – 16690) Repórter Patrícia Mercês (MTB - 21451) Estagiária de Jornalismo Maria Karolina Rodrigues da Silva Diagramação e Projeto Gráfico Grupo Letra Comunicação - Cíntia Fernandes e Jaque Medeiros Comissão Editorial Dr. Marcus Vinicius Romano Athila Dra. Maely Peçanha Fávero Retto Dr. Robson Roney Bernardo Dr. Carlos Alberto Santarem Santos Dra. Aline Coppola Napp Dr. Bruno Silva Freire Dra. Elizabeth Zagni Schmied Gonzaga Dr. Fábio Lima Reis Dr. Luiz Fernando Secioso Chiavegatto Dr. Marcos Antonio dos Santos Alves Dr. Alex Sandro Rodrigues Baiense 3 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


Editorial

Conhecimento Em outubro estarão abertas as sendas para debater os novos paradigmas da profissão farmacêutica. Temos um encontro marcado no 8º Congresso RIOPHARMA de Ciências Farmacêuticas, idealizado pelo Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro e também o XVIII Congresso da Federación Farmacéutica Sudamericana (FEFAS). Desta forma teremos todos a oportunidade singular de trocar ideias, vivências, exemplos, experiências e muito mais com colegas farmacêuticos de todo o continente. A expectativa é de que milhares de profissionais das mais variadas especialidades participem, dando suas contribuições para o engrandecimento deste evento internacional, bem como colaboração intensa para o crescimento do farmacêutico enquanto profissional de saúde, já reconhecido no mundo por sua importância. Podemos mais. Queremos mais. E conquistaremos novas vitórias na proporção em que informarmos e socializarmos o conhecimento. Nós, do CRF-RJ, temos a certeza de que receberemos nossos convidados com o que há de mais avançado em logística para o convívio profissional e na difusão da multidisciplinaridade de interesses dos farmacêuticos. Como premissa seremos agraciados com a participação de profissionais de reconhecimento internacional e que muito poderão acrescentar ao exercício do cuidado da saúde. Desde já, sejam todos muito bem-vindos. Dr. Marcus Athila Presidente do CRF-RJ

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Foto: Humberto Teski

que ganha o mundo


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Capa

Um novo olhar sobre o paciente: cuidados paliativos

Uma nova visão de conduzir um momento crítico na vida do paciente em seu estado terminal, através da compreensão dos cuidados paliativos pela ciência farmacêutica e de toda uma equipe multidisciplinar. 6 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


Origem na antiguidade Há historiadores que sinalizam o início da filosofia paliativista ainda na Idade Média, durante as Cruzadas, quando monastérios abrigavam doentes, moribundos, famintos, mulheres em trabalho de parto, pobres, órfãos e leprosos. Mais do que a busca pela cura, essa forma de hospitalidade tinha como característica o acolhimento, a proteção, o alívio do sofrimento. Já no século XVII, um jovem padre francês, conhecido agora como São Vicente de Paula, fundou a Ordem das Irmãs da Caridade, em Paris, e abriu várias casas para órfãos, pobres, doentes e moribundos. Em 1900, foi fundado o St. Josephs´s Convent, em Londres, e as irmãs começaram a visitar os doentes em suas casas. Dois anos depois foram criados, pela mesma ordem, 30 leitos. Mas foi em 1967 que a inglesa Cicely Saunders fundou o St. Christopher´s Hospice, o primeiro serviço a oferecer cuidado integral ao paciente, desde o controle de sintomas, alívio da dor e do sofrimento psicológico. Até hoje, o St. Christopher´s é reconhecido como um dos principais serviços no mundo em Cuidados e Medicina Paliativa. A médica inglesa sempre dizia que “ainda há muito a fazer”, quando, até hoje, famílias e pacientes ouvem de profissionais de saúde: “Não há mais nada a fazer.”

Um Brasil paliativo a ser revelado A Medicina tem, por sua base, a cura. Mas, quando ela não é mais possível, em muitos hospitais espalhados pelo País, o paciente e seus familiares podem contar com a assistência de equipes multidisciplinares que têm por objetivo aliviar o sofrimento de todos que vivem a doença. No Rio, a Dra. Germana Hunes é diretora do Hospital do Câncer IV – Unidade de Cuidados Paliativos e atua com cuidados paliativos no Instituto Nacional de Câncer desde 2011.

O que são cuidados paliativos Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002, “cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”. O término de uma terapia curativa para o câncer não significa o final de um tratamento ativo, mas mudanças em focos de tratamento. A OMS enfatiza que o tratamento ativo e o tratamento paliativo não são mutuamente excludentes e propõe que “muitos aspectos dos cuidados paliativos devem ser aplicados mais cedo, no curso da doença, em conjunto com o tratamento oncológico ativo” e são aumentados gradualmente como um componente dos cuidados do paciente, do diagnóstico até a morte. A transição do cuidado ativo para o cuidado com intenção paliativa é um processo contínuo e sua dinâmica difere para cada paciente. Na fase terminal, em que o paciente tem pouco tempo de vida, o tratamento paliativo se impõe para, através de seus procedimentos, garantir qualidade de vida. Os cuidados paliativos devem incluir as investigações necessárias para o melhor entendimento e manejo de complicações e sintomas estressantes tanto relacionados ao tratamento quanto à evolução da doença. Apesar da conotação negativa ou passiva do termo paliativo, a abordagem e o tratamento paliativo devem ser eminentemente ativos, principalmente em pacientes portadores de câncer em fase avançada, onde algumas modalidades de tratamento cirúrgico e radioterápico são essenciais para alcance do controle de sintomas. Considerando a carga devastadora de sintomas físicos, emocionais e psicológicos que se avolumam no paciente com doença terminal, faz-se necessário um diagnóstico precoce e condutas terapêuticas antecipadas, dinâmicas e ativas, respeitando-se os limites do próprio paciente.

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Quais os princípios dos cuidados paliativos? n Fornecer alívio para dor e outros sintomas estres-

santes, como astenia, anorexia, dispneia e outras emergências oncológicas. n Reafirmar vida e a morte como processos naturais. n Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espiri-

tuais ao aspecto clínico de cuidado do paciente. n Não apressar ou adiar a morte. n Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família

a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente. n Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pa-

cientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte. n Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar

necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto.

Que ações envolvem esse tratamento? A unidade de tratamento compreende o paciente e sua família. Os sintomas do paciente devem ser avaliados rotineiramente e gerenciados de forma eficaz através de consultas frequentes e intervenções ativas. Já as decisões relacionadas à assistência e tratamentos médicos devem ser feitas com base em princípios éticos. Os cuidados paliativos devem ser fornecidos por uma equipe interdisciplinar, fundamental na avaliação de sintomas em todas as suas dimensões, na definição e condução dos tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, imprescindíveis para o controle de todo e qualquer sintoma. A comunicação adequada entre equipe de saúde e familiares e pacientes é a base para o esclarecimento e favorecimento da adesão ao tratamento e aceitação da proximidade da morte.

Como surgiu a ideia de ter um hospital somente voltado para cuidados paliativos? O atendimento na área de cuidados paliativos iniciou-se em 1986, no Hospital do Câncer II, através do 8 l Revista RioPharma l mar . abr 2015

Programa de Atendimento ao Paciente Fora de Possibilidade Terapêutica. Em 1989, em razão do crescimento no número de pacientes atendidos, o programa foi transformado em serviço (Suporte Terapêutico Oncológico, STO) e ampliou suas atividades para um programa de visitas domiciliares. Em 1990, foi criado o Grupo Especial de Suporte Terapêutico Oncológico (Gesto), entidade filantrópica que dava apoio financeiro ao STO. No ano seguinte, o INCA inaugurou o primeiro serviço de cuidados paliativos do Hospital do Câncer I. Com a proposta de trabalho cada vez mais consolidada, em 1998 foi construída e inaugurada a Unidade de Cuidados Paliativos do INCA, inicialmente chamada de Centro de Suporte Terapêutico Oncológico (CSTO). Em 2004, a unidade recebeu o nome de Hospital do Câncer IV (HC IV), unificando a nomenclatura dos hospitais do INCA, por solicitação dos próprios pacientes e familiares que se sentiam excluídos da Instituição, quando de seu encaminhamento para os cuidados paliativos.

Qual é a história do Hospital do Câncer IV? O HC IV é a unidade de cuidados paliativos do INCA, responsável pelo atendimento ativo e integral aos pacientes do instituto portadores de câncer avançado, sem possibilidades de cura. Tem como missão: Promover e prover cuidados paliativos oncológicos da mais alta qualidade, com habilidade técnica e humanitária, com foco na obtenção da melhor qualidade de vida a seus pacientes e familiares. A Unidade trabalha com equipes multiprofissionais e conta com estrutura para a prestação de consultas ambulatoriais, visitas domiciliares, internação e serviço de pronto atendimento. Com o objetivo de facilitar a permanência do paciente em casa, o hospital disponibiliza material de conforto e medicamentos para o controle de sintomas e bem-estar. Além do trabalho assistencial, o HC IV promove a formação e o treinamento de profissionais na área de cuidados paliativos e realiza atividades educativas junto aos cuidadores e/ou familiares que assistirão o paciente no lar.


Tem como visão: Ser o centro de excelência nacional na assistência, ensino e pesquisa em cuidados paliativos oncológicos, através da normatização técnico-científica e capacitação profissional qualificada, com foco no atendimento técnico e humanitário e melhoria da qualidade de vida. Em 2008, após um processo de quatro anos, o HC IV tornou-se a segunda unidade assistencial do INCA e terceira do Ministério da Saúde a receber a Certificação Internacional de Acreditação pela qualidade dos serviços prestados aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a certificação da entidade americana Joint Commission International, representada no Brasil pelo Consórcio Brasileiro de Acreditação, o hospital, que comemorou em 2008 dez anos de existência, passou a fazer parte de uma rede de 140 instituições em todo o mundo, que se compromete a utilizar padrões de gerenciamento e qualidade internacionalmente reconhecidos como ótimos e acessíveis.

Quantas pessoas estão em tratamento atualmente? O Hospital do Câncer IV recebe pacientes encaminhados, exclusivamente, das demais unidades do INCA e atualmente é responsável pelo atendimento de cerca de 800 pacientes/mês, assistidos nas categorias de Ambulatório, Assistência Domiciliar e Internação Hospitalar. No ano de 2014 foram encaminhados a nossa unidade mais de 1500 pacientes.

Quantos e quais profissionais integram uma equipe nesse tipo de intervenção? Para um atendimento de qualidade é essencial a ação de uma equipe multiprofissional. Para isso, contamos com equipes formadas por médico, enfermeiro, assistente social, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista, farmacêutico e capelão.

Qual a importância do farmacêutico nesta equipe? O farmacêutico, conjuntamente com a equipe interdisciplinar, busca trazer alivio e conforto, voltados às demandas do tratamento farmacológico, ao pa-

ciente sob cuidados paliativos. O farmacêutico atua garantindo a melhor efetividade da terapêutica farmacológica, e isso se estabelece através das seguintes atribuições: n Controlar a dispensação de medicamentos psico-

trópicos e entorpecentes sujeitos a controle especial, conforme Portaria 344/98 do Ministério da Saúde; n Elaborar rotinas para dispensação de medicamentos; n Elaborar relatórios periódicos sobre consumo, cus-

to e frequência de uso de medicamentos; n Fornecer informações sobre incompatibilidade

físico-química e sobre apresentações e principais interações medicamentosas entre os grupos farmacológicos; n Participação nas reuniões da equipe multidisciplinar; n Desenvolver artifícios para facilitação das orien-

tações, seja verbal ou escrita, aos pacientes e familiares, percebendo a necessidade de ultrapassar barreiras socioculturais e auxiliando na adesão medicamentosa.

Como é hoje o panorama dos cuidados paliativos no Brasil? Estudo realizado pelo International Observatory on End of Life Care (IOELC) e publicado pela Organização Mundial de Saúde em 2014, mapeou e categorizou o nível de cuidados paliativos em todos os países do mundo. Levam-se em consideração questões relativas à cobertura populacional, conhecimento do tema por parte da sociedade, educação e treinamento na área, disponibilidade de opioides, financiamento, suporte governamental, implementação de planos estratégicos e currículos médico e de enfermagem. Os países são classificados em grupos do 1 (sem provisão de cuidados paliativos) ao 4b (cuidados paliativos avançados). O Brasil se encontra no Nível 3a, que corresponde à “provisão isolada de cuidados paliativos”. Este grupo é caracterizado por um ativismo no desenvolvimento de cuidados paliativos irregular em seu escopo e não sustentável; a fonte de financiamento é fortemente dependente de doações; há limitação na disponibilidade de morfina; e um número limitado de hospices (hospedarias, em português) 9 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


e serviços de cuidados paliativos, insuficientes para o tamanho da população. O envelhecimento da população e o aumento da

incidência de câncer nos alertam para a necessidade de um forte empenho para o desenvolvimento e crescimento dos cuidados paliativos em nosso país.

Cuidados paliativos, uma área também para o farmacêutico Equipes multidisciplinares são importantes para diversos tipos de atendimento, mas quando os envolvidos são pacientes para os quais já foram extintas possibilidades de cura e suas famílias, a participação de profissionais de diversas áreas é essencial. E entre eles deve estar o farmacêutico. Maria Fernanda Barbosa, Mestre em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ; especialista em Farmácia Hospitalar Oncológica pelo INCA e atualmente chefe da Área de Farmácia que atende às unidades de tratamento de câncer de mama e cuidados paliativos do INCA (HC III/ IV) é quem explica:

Qual o papel do farmacêutico na equipe de cuidados paliativos? Consideremos que um dos pilares do cuidado paliativo é o controle de sintomas e que tal controle ocorre, muitas vezes, prioritariamente através da utilização de medicamentos e que pacientes sob cuidados paliativos tendem a utilizar muitos medicamentos. Esses apresentam limitações: quanto às vias de acesso para a utilização de medicamentos, limitações quanto às vias e alimentação e composição das dietas, utilizam muitos materiais médico-hospitalares com características e composições diversas, desde cateteres a curativos compostos por fármacos; que muitas vezes o cuidado destes doentes está sob a responsabilidade de uma pessoa leiga e que são gerados resíduos no processo de cuidado. O farmacêutico, ao interagir

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não só com os profissionais que compõem a equipe de cuidado, mas também com os cuidadores, têm seu espaço bem delineado, no que tange às orientações sobre medicamentos, visando minimizar a polifarmácia, as interações medicamentosas indesejáveis, as interações entre medicamentos e alimentos, a adequação das formas farmacêuticas para as vias de administração disponíveis (como a via subcutânea, por exemplo), o uso racional do material médico-hospitalar disponível; a destinação dos resíduos gerados, de característica tanto infectante, quanto perfuro cortante produzidos, principalmente, em domicílio, além de reconciliação medicamentosa e demais atividades clínicas pertinentes ao nosso escopo de atuação.


Para o doente em fase terminal, é ainda mais importante a orientação sobre medicamentos? Sim! A orientação nessa fase é fundamental, pois alguns dos medicamentos utilizados carregam um grande estigma, de modo que, para o leigo, não medicar seu ente querido ou, para o paciente, não medicar-se, representa um ato de proteção e/ ou negação da terminalidade. Este tipo de comportamento é muito comum quando se trata da utilização de opioides, por exemplo, e em especial da morfina. Quando nos referimos a profissionais de saúde, a orientação também é valida, pois o farmacêutico tem muito a contribuir, principalmente quanto à adaptação de formas farmacêuticas, afim de garantir a eficácia da farmacoterapia.

Os farmacêuticos que integram essas equipes atuam somente em hospitais ou também nos domicílios dos doentes? Os farmacêuticos que se voltam para o cuidado paliativo atuam em hospitais públicos e privados e também em serviços de internação domiciliar, tanto voltados para o público adulto, quanto pediátrico. Neste contexto, o domicílio do doente é um universo complexo e interessante, que oferece imensas oportunidades de aprendizado, tanto para o profissional, quanto para a família, e exige de nós muito tato e criatividade. Dentro das unidades hospitalares, a atuação clínica do farmacêutico é de grande valia, uma vez que o paciente em cuidados paliativos apresenta, além das comorbidades, alterações metabólicas. Este conjunto complexo de características faz com que a integração com a equipe torne-se mais um rico campo de atuação, visando o controle de sintomas e permitindo, desta forma, que o paciente esteja mais tempo com seus familiares nesta fase tão difícil.

Que tipo de assistência o farmacêutico que integra uma equipe de cuidados paliativos pode dar às famílias dos doentes? O principal suporte prestado à família é a orientação quanto à utilização de medicamentos, que vai desde orientação de administração de medicamentos pela sonda, passando pelas interações medicamentosas, armazenamento adequado do medicamento no domicílio e identificação de Reações Adversas a Medicamentos (RAMs), até a adequação dos horários de administração, entre outros. Os cenários encontrados são os mais diversos: agentes de saúde que auxiliam no cuidado, inclusive na administração de medicamentos, cuidadores analfabetos e/ou idosos, crianças que assumem algumas etapas do cuidado e até famílias bem-estruturadas, inclusive do ponto de vista financeiro, que contam com suporte profissional 24h por dia. Desta forma, adequar a linguagem e os esquemas de administração às diferentes realidades, bem como transmitir ao prescritor as dificuldades que os cuidadores, muitas vezes informam ao farmacêutico, mas não ao médicos, possibilitam a correção dos motivos de não adesão e, consequentemente, melhoram a adesão ao tratamento. Estas são contribuições importantíssimas do farmacêutico neste contexto.

Sabe-se que, para atuar com cuidados paliativos, é preciso vocação e uma preparação psicológica extra. Ainda assim, é possível ver nessa área um campo de trabalho a se considerar? Claro que sim!! O cuidado paliativo é um campo riquíssimo de atuação! Contudo, como não estamos habituados a lidar com a finitude, o suporte psicológico é realmente importante!

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Tutorial

Como acessar o sistema on-line Acesse o site do CRF-RJ (http://crf-rj.org.br)

No menu superior, há a opção “Serviços”. Passe o mouse sobre o botão.

Clique em “Imprimir boleto/anuidade”.

Você será redirecionado à página do sistema. Todos os seus dados já se encontram cadastrados na base do Conselho, entretanto, você precisará criar uma senha.

Clique em “Cadastrar Nova Senha”, que fica logo abaixo do botão “Logar”. 12 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


Nessa página, aparecerá um formulário no qual você deve preencher os dados solicitados (tipo de cadastro, nº de inscrição no Conselho, CPF, a senha desejada e seu endereço de e-mail). Após completar o formulário, você receberá um e-mail de confirmação de acesso ao sistema.

Pronto! Agora já dá para acessar o sistema, verificar seus dados cadastrados no Conselho e imprimir o boleto de anuidade que permite o exercício de sua profissão.

Impressão de boleto de anuidade.

Justificativa de ausência, solicitação de segunda via e justificativa eleitoral. 13 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


éTICA

A ética não pode ser passiva, defende Mario Moscatelli “A ética é o que vai diferenciar qualquer profissional em sua área de atuação. Mesmo assim, será uma característica que distinguirá o profissional dos demais, mesmo que não sejam corruptos, mas só passivos.” Assim pensa Mario Moscatelli, mestre em Ecologia.

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Ainda sobre o assunto, destacou que “o conceito ético não pode ficar apenas no campo passivo, mas precisa, para se fortalecer, funcionar no campo ativo, lutando de forma prática contra os desmandos. Pelo menos, em tese, é o que deveria acontecer, no entanto, o que se vê no Brasil é uma clara deterioração da ética, seja nas coisas mais cotidianas, como nos interesses do país.” Moscatelli disse ainda, que a preservação do meio ambiente está parcialmente ligada à ética, mas, principalmente, à inteligência, pois a degradação ambiental só serve para agravar mais ainda as diferenças de natureza socioeconômicas, bem como conduzir a sociedade ao colapso, fato que já ocorreu no passado e se repetirá inúmeras outras vezes, como no caso do Brasil. Segundo Moscatelli, o profissional ligado à saúde deve estar mais atento à ética, já que trata diretamente com o indivíduo, “é uma necessidade para a sobrevivência da sociedade onde, sem ela, prevalece a barbárie e a selvageria, situações encontradas facilmente em nossas principais metrópoles brasileiras. Respeitando os limites de convivência pacífica entre os interesses e necessidades humanas, e as limitações do ambiente, isto é, não tirando mais do que o ambiente pode repor naturalmente.” Sobre o descarte de medicamentos de forma incorreta, ele é enfático: “Medicamentos e tudo mais que é gerado em unidades de tratamento ou mesmo em casa, sejam eles de natureza humana ou não humana são uma profunda fonte de desequilíbrio do ambiente, visto que medicamentos alteram, dependendo da sua concentração e quantidade, as condições ambientais naturais, que por sua vez podem gerar desequilíbrios na fauna e flora locais, incluindo, principalmente, micro-organismos. Lembro bem, alguns anos atrás, quando iniciei a recuperação dos manguezais da Lagoa da Tijuca - Rio de Janeiro, quando minha equipe encontrou centenas de seringas com agulhas, medicamentos, ampolas com san-

gue e tudo que se possa imaginar boiando ou depositados nos manguezais da região. Simplesmente alguém, algum hospital, da região jogava resíduos hospitalares no local. Diante desse fato gravíssimo, fiz denúncia à polícia e à Secretaria de Meio Ambiente do Estado, além de denunciar na imprensa. Ninguém foi identificado como degradador (como de praxe), mas os lançamentos, ao menos na Lagoa da Tijuca, pararam. Como já disse, não adianta apenas não concordar com o crime ou a conduta não ética, é preciso mais do que isso, é preciso combater! O indivíduo e o governo estão errados, tanto pela passividade de aceitar o caos, como pela ação de gerá-lo. Ambos são culpados, sem ética e criminosos.” Ainda sobre o descarte impróprio de medicamentos, Moscatelli acrescentou que campanhas realizadas por profissionais de saúde, “são sempre muito bem-vindas, porém o que falta mesmo são duas coisas que no Brasil são escassas há uns 500 anos: educação permanente, de qualidade, visando produzir cidadãos e cidadãs ativas de fato e não mortos vivos que apenas servem para eleger as mesmas quadrilhas que se revezam de tempos em tempos no poder. E também o fim do sentimento de impunidade e prevaricação sistêmica que permeia toda a sociedade. Com isso, o assunto do descarte indevido e muitos outros problemas recorrentes na vida brasileira seriam resolvidos.” Em resumo, para Moscatelli, que entende ética como o próprio significado da palavra de origem grega, que se traduz por bom costume, costume superior, ou portador de caráter, buscando fundamentar as ações morais exclusivamente pela razão, “é o contrário do que vemos regendo a relação política no Brasil. Pense no que você lê nos jornais sobre a classe política brasileira e considere o contrário. Isso é ética, o que falta completamente não apenas na política, como no trato interpessoal diário e, principalmente, com o ambiente”, finaliza.

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Agora é Diferente

CRF-RJ tem primeiro

workshop de fiscalização Com a finalidade de capacitar os fiscais do CRF-RJ, a entidade promoveu um programa de treinamento especial através de workshop na sede da ABF, no Centro do Rio, nos dias 3,4 e 5 de dezembro de 2014. Como uma das organizadoras do evento, a vice-presidente do Conselho, Maely Retto, garantiu que a iniciativa da Diretoria de promover o encontro de fiscais tem como principal objetivo melhorar a função do fiscal na sua atividade externa, capacitando-o e, como consequência, expandir a sua aceitação nos estabelecimentos de saúde. “Por isso, tivemos empenho em trazer grandes profissionais para o workshop, a exemplo do professor Zubioli e da psicóloga Raquel Alcides. O professor Zubioli tem ampla experiência na disciplina de ética e a Raquel trouxe o curso de capacitação Técnicas de Administração de Conflito”, ressaltou. Ao complementar a declaração da vice-presidente, Marcos Alves, chefe da Fiscalização no CRF-RJ, lembrou que, apesar de haver resolução determinando a capacitação dos fiscais dos Conselhos Regionais, nunca houve um cumprimento em gestões anteriores. 16 l Revista RioPharma l mar . abr 2015

O workshop contou com a participação de convidados ilustres, a exemplo do professor e doutor em Farmácia pela USP e atual presidente do CRF-PR, Arnaldo Zubioli, primeiro palestrante do evento. Ao abrir a palestra, o professor enfatizou para os profissionais que desempenham a função de fiscais que há dois tipos de fiscalização: a objetiva e a subjetiva. A primeira trata da aplicação de leis, decretos e normas na fiscalização propriamente dita. A segunda, subjetiva, é mais discricionária e, por isso, mais específica, que deve ser mais esmiuçada. Ela diz respeito em verificar como o farmacêutico exerce a sua profissão. Se ele a exerce com fundamento na ciência e nas respectivas técnicas do seu ofício. “Importante frisar para esses profissionais, que são a alma do Conselho, é que o que tem que ser fiscalizado é o ato farmacêutico e não o profissional, porque isso cerceia a liberdade de um bom trabalho. Acredito que essa fiscalização subjetiva deve con-


centrar seus esforços principalmente naquele que ocupa indevidamente a função do farmacêutico”, frisa o professor. O chefe da Fiscalização do CRF-RJ, que coordenou o workshop, Marcos Alves, afirmou que a ideia em reforçar a capacitação dos fiscais também surgiu do conceito de que eles são o próprio Conselho nas ruas. “Precisamos de constante capacitação porque a gente representa o Conselho na rua. Quanto melhor capacitados, melhor estaremos representando o CRF-RJ”, avaliou. E para garantir a capacitação plena, até mesmo do ponto de vista psicológico, o CRF-RJ também convidou a psicóloga Dra. Raquel Alcides, mestre em Saúde Coletiva, Psicóloga do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que proferiu palestra sobre técnicas de administração de conflitos e falou sobre o dilema do trabalho dos fiscais nas ruas. “O trabalho de fiscalização já tem inerente uma tensão inevitável, própria da natureza desse trabalho que pressupõe o exercício da vigilância sobre o outro. Para o fiscal farmacêutico, além desse elemento, há também a particularidade destes profissionais estarem fiscalizando seus colegas de profissão. Essa singularidade pode trazer outros complicadores para essa relação já naturalmente tensa. Existe uma identificação natural com o profissional que está sendo fiscalizado,

isso faz com que seja mais difícil manter-se neutro em relação às consequências de uma autuação, por exemplo. Esse fato é uma fonte adicional de estresse laboral, sem dúvida. O estresse excessivo relacionado ao trabalho é, reconhecidamente, uma fonte de adoecimento psíquico e, por isso, é importante instrumentalizar os profissionais para manejar esses estressores de forma eficaz, reduzindo o impacto dos mesmos”, analisou. No último dia do evento, os advogados do Conselho, Dra. Maria de Fátima Beserra Duarte e o Dr. Igor Gadaleta, trouxeram à mesa de discussão noções de Legislação e Direito, entre elas: classificação jurídica dos entes federativos, termos de visitas, termos jurídicos presentes no Código de Ética, além de breve ilustração da importância do trabalho do fiscal, sob o ponto de vista legal no desempenho da atividade.

Fiscais, palestrantes e convidados durante o evento

Fórum realizado pelos participantes do evento

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Acadêmico

Perito criminal:

um especialista, um farmacêutico O perito é exemplo de um profissional que, pelos seus conhecimentos, adquiriu determinadas aptidões acima do normal, sempre relacionadas a um sujeito, técnica ou conhecimento. Perito em sentido mais amplo, se traduz por especialista e esse, pode ser um farmacêutico. Já o perito criminal é o servidor público, policial ou não, pertencente aos quadros dos Institutos de Criminalística, de Perícias, de Identificação, e dos órgãos de Polícia Científica, Federal e afins, e que está devidamente investido, por concurso público, nos cargos de nível superior elencados na Lei 12.030/2009. O perito criminal está, a serviço da justiça, especializado em encontrar ou proporcionar a chamada prova técnica ou prova pericial, mediante a análise científica de vestígios produzidos e deixados na prática de delitos. A Perícia Criminal encontra-se atualmente em processo de expansão no Brasil, com início de valorização por parte das autoridades, e pode ser um campo próspero e promissor para o profissional farmacêutico. Quem já atua nessa área é o farmacêutico André Bittencourt dos Santos. Ele trabalha no Departamento de Polícia Federal como perito criminal federal, lotado no Setor Técnico Cientifico do Espírito Santo, no grupo de combate a ameaças de bombas e explosivos, análise química de substâncias, exames em munições e armas de fogo, além de exames em veículos.

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Qual é o papel do farmacêutico na Perícia Criminal? Dentro da Perícia Criminal existem diversas especialidades, algumas que demandam conhecimento proveniente da formação acadêmica exigida para o concurso como, por exemplo, Farmácia, Engenharia Civil e Contabilidade, e outras em que o credenciamento para atuar como perito criminal ocorre já dentro do Departamento, como documentoscopia, balística, local de crime, bombas e explosivos. O farmacêutico é um dos principais integrantes do grupo de perícias laboratoriais e, por ser um profissional versátil, pode atuar em vários ramos, a exemplo a identificação de perfis genéticos ou na análise de medicamentos, drogas proscritas, combustível, tintas e agrotóxicos, entre outros. Além dos casos citados, onde o trabalho do farmacêutico gera individualmente o resultado, ele ainda pode atuar em conjunto com outras áreas para dar mais robustez às provas, por exemplo, fazendo a análise química de uma amostra de areia para auxiliar o perito criminal federal geólogo na identificação do local de extração deste material. O conhecimento do farmacêutico também pode ser aproveitado em grupos táticos especializados como o Grupo de Bombas e Explosivos.

É preciso alguma especialização dentro da área de Farmácia para ser perito? Atualmente, o concurso exige apenas o diploma de farmacêutico, não sendo necessária nenhuma especialização prévia. No entanto, no concurso existe a análise de títulos em que essas especializações têm influência.

Como farmacêutico, como avalia esse cargo na Polícia Federal? O cargo de perito criminal federal é de vital importância para a condução das investigações policiais e para a sociedade como um todo. Ele tem a responsabilidade e a missão de utilizar-se da ciência para auxiliar na elucidação dos crimes trazendo a verdade à tona (Justitia per Scientia). No Departamento de Polícia Federal é o posto técnico mais alto dentro da instituição, estando o cargo equiparado ao de delegados.

A Perícia Criminal é uma boa área de atuação para os farmacêuticos? Sem dúvida, é uma ótima área. O cargo oferece

desafios constantes em criação de metodologias de análise, padronização de procedimentos, pesquisas em áreas diversas, isso falando apenas na atuação estritamente dentro da área de laboratório. O horizonte para atuar em áreas próximas as de laboratório em interseção com outras especialidades ou atuar em outra área de conhecimento não acadêmico (análise de documentos de segurança, balística, etc.) depende basicamente da dedicação pessoal de cada um.

Que tipo de preparação é necessária para prestar concurso nessa área? O concurso exige, além da preparação intelectual, uma preparação física adequada ao trabalho como policial. O perito criminal federal é um cargo integrante da força policial, assim como o delegado, o agente, o escrivão e o papiloscopista, podendo ser convocado pelo Departamento para atuar como tal a qualquer momento. Então, é necessário estar apto física e mentalmente. Os interessados podem procurar os editais anteriores onde os testes físicos estão detalhadamente descritos.

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QUALIPHARMA

QUALIPHARMA tem

novas opções em 2015 Qualificar é dar continuidade, complementar conhecimentos, teóricos ou não. O mundo movimenta-se rapidamente e de uma hora para outra pode surgir aquela oportunidade inesperada, um convite, uma promoção, uma vaga. E o profissional que segue o

caminho da qualificação, sempre encontrará um lugar seguro nesse mundo globalizado, exigente e em constante mudança. Pensando nisso, o CRF-RJ dá prosseguimento à programação e em março inicia-se o ciclo do QUALIPHARMA.

Novos cursos estão sendo programados para 2015, entre eles: n Assistência Farmacêutica na Farmácia Homeopá-

n Contraceptivos Hormonais

tica

n Controle de Qualidade Industrial

n Atenção Farmacêutica em Foco: Anti-hipertensi-

n Prescrição Farmacêutica de Drogas Vegetais

vos e Hipoglicemiantes

e Medicamentos Fitoterápicos

n Atenção Farmacêutica em Medicamentos da Far-

n Farmácia Clínica

mácia Popular

n Gases Medicinais

Também serão abertas turmas de cursos lançados em 2014, em regiões onde ainda não ocorreram: n Antibióticos

n Fisiopatologia do Câncer

n Farmacologia da Dor

n Introdução à Farmácia Hospitalar

n Farmacoterapia da Inflamação: AINES e AIES

A agenda 2015: A abertura de inscrições para os cursos é divulgada no site do CRF-RJ(http://crf-rj.org.br/), no Boletim Eletrônico CRF-RJ Notícias e no Facebook oficial do CRF-RJ. Fique atento e participe. Em 2014 foram certificados 1.484 farmacêuticos no QUALIPHARMA. 21 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


Tecnologia Farmacêutica

Estudos de Estabilidade –

Um desafio constante a ser vencido

Um dos pontos mais críticos no desenvolvimento de medicamentos e na qual se incorporam grandes desafios analíticos e galênicos é a estabilidade. Talvez, hoje seja o grande desafio da indústria farmacêutica, pois as grandes corporações estão localizadas em países onde há zona climática do tipo III ou IV muitas vezes desfavoráveis à estabilidade destes medicamentos. Falar de estabilidade é complexo, pois reflete uma questão da integridade do fármaco em sua estocagem, mantendo suas características físico-químicas íntegras e, consequentemente, o seu efeito terapêutico, como também a influência externa com a luz, o calor e a umidade ou ainda fatores intrínsecos (pH, reações químicas) que podem promover a degradação destes fármacos e afetar em um ponto bem crítico que é o prazo de validade e sua questão terapêutica. Do ponto de vista acadêmico, entramos em questões importantes, como a cinética química e a termodinâmica. Na cinética química observamos as velocidades das reações e a termodinâmica ocupa-se da determinação da posição do equilíbrio de uma reação. A cinética de reação de estabilidade avalia a velocidade de degradação e a forma como esta pode ser afetada por alguns fatores externos e concentração de constituintes químicos presentes. Dentre estes, a temperatura é um dos principais fatores para a degradação dos medicamentos, além da umidade e da luz, muitas vezes não observados. Mas a questão da cinética observa-se na ordem de reação. Para avaliar a estabilidade química do medicamento é importante determinar a ordem e a velocidade de reação, expressas pela relação da concentração do fármaco com o tempo. As reações de degradação dos 22 l Revista RioPharma l mar . abr 2015

medicamentos podem ser de ordem zero ou primeira ordem. Na ordem zero, são aquelas onde a velocidade de reação é independente da concentração da substância reativa, e sim de outro fator, como solubilidade ou absorção da luz. E de primeira ordem, onde a velocidade de reação é diretamente proporcional à concentração do reagente, onde o produto decompõe-se em um ou mais produtos. Estes dados são importantes pois podemos ter formulações ou ainda embalagens que podem diminuir ou minimizar estes efeitos, sejam externos ou ainda da própria formulação que, com o passar do tempo, podem ajudar na degradação do fármaco. A questão da forma farmacêutica também é algo a se considerar. No caso de formulações sólidas como comprimidos, alguns fármacos podem se degradar muitas vezes necessitando de drageamento para evitar produtos de fotodecomposição. Mas de uma maneira geral, uma formulação sólida é mais robusta se comparada a uma formulação líquida, como a de um xarope. Na formulação líquida, o fármaco em si está mais desprotegido e sua conformação estrutural mais exposta às reações de degradação, bem como aos agentes externos, além do próprio choque de moléculas e colisões. Este talvez seja o grande desafio, pois temos formulações líquidas que necessitam manter a integridade organoléptica e fisico-química durante o seu prazo de validade, com seu fármaco megulhado em uma formúla líquida, à mercê de uma conformação não estável e sujeito a reações de hidrólise ou alterações de pH que podem acelerar a sua degradação ou ainda destruir seu sistema de preservação microbiológico. Neste sentido, o controle do pH deve ser fundamental, principalmente para as formas líqui-


das, pois a alteração de pH pode induzir as reações de hidrólise favorecidas tanto em pH ácido quanto básico. Na estocagem, o controle de temperatura é fundamental para as formas líquidas a fim de diminiur a cinética reacional. Na questão da química analítica, para validarmos um método em estabilidade, cada vez mais necessitamos em investir em tecnologia analítica, como HPLC com detectores de DAD (Diode Array Detector) para investigar os produtos de degradação e o método, obrigatoriamente deve apresentar seletividade em relação aos produtos de degradação, apresentando, com isto, tempos de retenções diferentes do fármaco original. Na medida da evolução analítica, o LC-MS (Cromatográfo Líquido acoplado a espectrometria de massa) cada vez pode apresentar uma solução ao

estudo de estabilidade, apesar do seu custo e manutenção ainda serem altos. Os métodos de volumetria e espectrofotometria apresentam fragilidades no que concerne à seletividade e, por isto, não devem ser empregados nestas análises. Vale a pena ressaltar que, muitas vezes, a presença de um metal no fármaco pode alterar a sua conformação e, consequentemente, o cromóforo da molécula, não sendo detectado em determinado comprimento de onda fixo. Diante disto, a fragilidade da espectrofotometria e a necessidade de detectores com varreduras, como DAD. O histórico do estudo da estabilidade é recente, começando por Higushi em 1953, onde ele demonstrou a hidrólise do Clorafenicol e medida pelos íons de cloreto observando a sua cinética de degradação (Figura 1) por uma reação de hidrólise.

Figura 1. Reação de Hidrólise e detecção pela formação do Cloreto de Prata

Por uma questão econômica, as matrizes das indústrias farmacêuticas começaram a produzir em grande escala os medicamentos em países de terceiro mundo, onde as zonas climáticas do tipo III e IV passaram a ser um grande desafio a manter uma qualidade de medicamento semelhante à matriz. Estas zonas climáticas favorecem as reações de degradação, como oxidação e hidrólise, pois são zonas quentes e úmidas (Figura 2).

Figura 2. Produto de degradação da Penicilina por hidrólise ácida

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Em 1991, o ICH (International Conference and Harmozination) elaborou requisitos para os testes de estabilidade. No Brasil, a RE nº 01, de 29 de julho de 2005, normatizou o estudo de estabilidade no país. Há desafios no mundo atualmente, pois o crescente uso de medicamentos de uma maneira contínua e simultânea faz com que estes fármacos reajam entre si formando “novos produtos”, com estabilidade e toxicidade desconhecidas como, por exemplo, uma associação de Atenolol com a Aspirina (Figura 3).

Figura 3. Produto de interação do Atenolol com Aspirina

Este tipo de associação é cada vez maior, pois os pacientes podem possuir mais de uma doença crônica, como hipertensão e diabetes, e a associação destes medicamentos pode levar a outros produtos com toxicidade desconhecida, bem como a sua estabilidade. Dr. Robson Roney Bernardo Diretor-tesoureiro

1. Kumar, V., Malik, S & Singh, S Polypill for the treatment of cardiovascular diseases Part 2. LC–MS/TOF characterization of interaction/degradation products of atenolol/lisinopril and aspirin, and mechanisms of formation thereof. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis 48,619–628, 2008. 2. Bakshi,M.& Singh, S. Development of validated stability-indicating assay methods—critical review Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis 28, 1011–1040, 2002. 3. Manfio, JP et al. Determinação do prazo de validade do medicamento carbocisteína xarope através do método de Arrhenius Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas 43(4), 563-570,2007.

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APOIO

CRF-RJ apoia as entidades A união faz a força, mas também promove a educação. Esse é o resultado do compromisso assumido pela atual diretoria do CRF-RJ junto a várias entidades. Segundo Marcus Athila, presidente do Conselho, o objetivo é fortalecer universidades, faculdades, associações, sociedades, entre outras, promovendo a qualificação e capacitação de profissionais farmacêuticos e consolidando, assim, todo o segmento. Uma forma de construir esse caminho em conjunto com os estabelecimentos de ensino e entidades. Para Athila, “os resultados já começam a aparecer, com o farmacêutico na mídia, como um profissional de confiança visto pela população e autoridades, parcerias com prefeituras para ações sociais e tudo isso, só fortalece o segmento, como um todo”. Esse caminho de fomento para ampliar a capacitação começou no início de 2014, com diversos encontros com líderes do setor farmacêutico do Estado do Rio de Janeiro, promovidos pelo CRF-RJ, onde foram apresentados, pelos representantes das entidades, projetos de eventos, cursos e palestras. A resolução 531/2010, do CFF, delibera sobre a liberação subsídios para entidades, com intuito de promover qualificação para os profissionais farmacêuticos. Com auxílio dessa verba, foram realizados congressos, encontros, workshops, jornadas e cursos. O investimento também foi direcionado para confecção de pastas, blocos e canetas. No total foram disponibilizados R$ 26.405,84.

Relatório de AUXÍLIO/ SUBVENÇÃO do CRF-RJ UFRJ - Faculdade de Farmácia n n n

1º Workshop de Farmácia Universitária III Jornada de Pós-graduação Farm 1º Encontro de PICs da UFRJ

ABCF - Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas II Congress of The Brazilian Association of Pharmaceutical

n

USS - Universidade Severino Sombra n

16º Jornada Sul Fluminense de Farmácia

SBRAFH - Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar 1º Curso Prático de Farmácia Clínica em Terapia Intensiva

n

ABFH - Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas n

I Curso de Prescrição Farmacêutica em Homeopatia

SOFFAB - Sociedade Fluminense de Farmácia e Bioquímica n

II Congresso Pharma Campos

Sociedade de Ensino Superior Estácio de Sá Ltda. n

Semana Científica de Farmácia

UFF - Faculdade de Farmácia Semana Internacional de Integração Acadêmica da Faculdade de Farmácia - UFF 2014

n

Centro Acadêmico de Farmácia- UFRJ n

XXX Semana de Farmácia da UFRJ

UFRJ - Faculdade de Farmácia/Pós-Graduação n

Evento da Pós-Graduação em Farmácia UFRJ

FABA - Faculdade Bezerra de Araújo n

8ª Semana de Farmácia da FABA 25 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


Memória da Farmácia

O farmacêutico Carlos Baptista (ao centro) entre dois funcionários

Tradição e história de uma família de farmacêuticos Há setenta anos, em meados do século XX, um experiente farmacêutico de nome Armando Baptista dava origem ao que se transformaria em uma dinastia de farmacêuticos, no bairro boêmio de Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro, na esquina das Ruas Teodoro da Silva com Luiz Guimarães. E, por esse cunho histórico, se alguém fosse questionado sobre

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qual seria a palavra para definir a família Baptista, proprietária de uma das farmácias mais antigas do Rio de Janeiro, a resposta seria: tradição. Uma família que já está na quarta geração de farmacêuticos que têm como ponto em comum, o amor pelas pessoas e pelos medicamentos de uma forma geral. A farmácia, que em sua origem chamava-se San-


Dr. Almir, sua mulher, Dra. Julita, e os dois filhos do casal, Thereza e Lúcio, todos farmacêuticos

ta Maria, logo que foi inaugurada pelo avô do atual proprietário, Almir Lopes Baptista, passou a se chamar Thélema em 1945, quando o filho do Sr. Armando, Carlos Lopes Baptista, já havia se decidido pela mesma profissão, embora tivesse um interesse maior pela homeopatia. Assim, o velho sobrado que antes sediava uma farmácia mista, passou a comportar em seu espaço físico um estabelecimento de saúde estritamente homeopático. Naquele endereço há um prédio com o interior repleto de estantes antigas e frascos, muitos frascos de vidro que comportam todo o medicamento produzido na Thélema. No balcão, o atual patriarca da família, conhecido por Dr. Almir, um homem alto, de setenta anos, mas com uma disposição de 20. Além da jovialidade e simpatia dos sábios cientistas, que tanto se preocupam em prestar um serviço de forma plena e magnânima.

O experiente farmacêutico Almir em frente à sua Thélema

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Histórias que se confundem Ele logo se dispõe a contar a história das gerações de farmacêuticos da sua família. História que fatalmente se confunde com a da Thélema. A dinastia de farmacêuticos teve início com o avô, segundo Dr. Almir, passando pelo pai, com o qual trabalhou desde menino; ele próprio; Dona Julita, sua esposa; até chegar nos filhos – Thereza Cristina e Lúcio quarta geração de ofício tão importante e exercido com “muito orgulho”, como afirmam. Dr. Almir, um mestre sempre no comando com extremo bom humor e gracejos na ponta da língua, narrou o início da sua vida profissional. Aos nove anos, o menino Almir não tinha brinquedos, morava no sobrado com o pai, onde ainda hoje funciona a farmácia. No lugar de trenzinhos ou carrinhos de brinquedo, havia o compromisso de, logo após terminar as lições da escola, ir ajudar o pai, tanto no

E nasce a Thélema O nome Thélema surgiu em 1945, quando a farmácia foi comprada pelo pai do Dr. Almir, das mãos do avô, quando se chamava Santa Maria. Ele conta que o pai, Carlos Baptista, escolheu esse nome que é de origem grega e significa uma nova situação, inovação de tudo, tudo será diferente. “A partir do momento em que meu pai comprou a farmácia quis transformá-la imediatamente em atendimento homeopático, exclusivamente. Eu mantive a ideia que ainda persiste com minha mulher e meus filhos”, ressalta. Hoje, de acordo com Dr. Almir, a família se orgulha de ter feito o negócio sobreviver, ainda que dissociado de redes de farmácias. “É trabalho duro manter a tradição e o negócio sem pertencer às redes. Ainda hoje pensamos como estamos conseguindo levar adiante o nosso negócio de maneira tão plena e mantendo-o estritamente familiar. Isso é uma dádiva”, comemora o farmacêutico, que já informou à mulher e filhos de sua pretensão de aposentar-se, em parte, a partir de maio, ideia desmentida por Dona Julita, que afirma ser ele um workaholic. “Ele trabalha de dez a doze horas 28 l Revista RioPharma l mar . abr 2015

fabrico quanto no atendimento aos clientes. “Eu fazia a lição de casa e logo meu pai aparecia na sala e perguntava: Já acabou a lição? Então desce, temos muito trabalho hoje”, lembra sorridente. Aos dez anos, ele já sabia manipular muitas ervas e medicamentos e quando chegou à Universidade do Brasil (atual UFRJ) já acumulava mais de uma década de experiência no ofício. O menino Almir recebia salário pago por seu pai e mais tarde, o jovem rapaz tornou-se o único de sua turma na faculdade que já trabalhava e tinha dinheiro para os fins de semana no cinema. Nessa época, já havia conhecido Dona Julita que mais tarde viria a ser sua mulher e mãe de outros dois farmacêuticos: Thereza Cristina e Lúcio, hoje corresponsável técnica e diretor técnico da Thélema, respectivamente.

O casal de farmacêuticos Almir e Julita, juntos desde a Faculdade de Farmácia

por dia e sempre com toda animação. Duvido que se afaste por completo”, garante a mulher aos risos. Por outro lado, os filhos garantem que é muito bom ter o pai por perto. Thereza afirma que o saber profundo do pai lhe inspira e ainda é imprescindível ao negócio. Dr. Almir, além de proprietário da Thélema, acumula experiências, como farmacêutico no serviço público, no qual já está aposentado há muito tempo. Almir Lopes Baptista trabalhou na década de 60 no Hospital Carlos Chagas, no Hospital Souza Aguiar, além de outras instituições públicas, até chegar ao Ministério da Justiça, Ministério do Trabalho e Ministério da Saúde. Bagagem profissional que ele leva para a Thélema e para seus filhos também farmacêuticos. “Estou deixando um legado: a Thélema faz setenta anos em março e a experiência, a tradição e, principalmente, o amor por uma profissão tão importante para a saúde pública brasileira”, finaliza o experiente farmacêutico.


Desenvolvimento Tecnológico

Medicamentos Biossimilares: Segundo a RDC 55/2010, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os fármacos se classificam em: sintéticos e biológicos. Os biológicos, também denominados biomedicamentos, são aqueles cuja composição inclui fármaco ativo que tenha sido obtido por meio biotecnológico, sendo de uma das duas origens:

uma nova realidade no mercado farmacêutico

Componente ativo de origem biológica: extraído de microrganismos, órgãos e tecidos de origem vegetal ou animal, células ou fluidos de origem humana ou animal.

Componente ativo de origem biotecnológica: geralmente proteínas obtidas a partir de células 29 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


modificadas geneticamente. Mundialmente encontram-se fármacos biológicos aprovados para tratamento ou prevenção de uma série de doenças. O uso destes revolucionou a terapêutica de muitas delas, sendo hoje em dia a maior estratégia na busca pela cura em oncologia. Os produtos biológicos tais como: a eritropoetina, o interferon e os anticorpos monoclonais são muito mais complexos do que os medicamentos sintéticos. Tal complexidade estrutural levanta questões desafiadoras para o desenvolvimento, a regulamentação, a avaliação do seu uso clínico e o acompanhamento de versões de tais produtos. Consequentemente, a determinação da biossimilaridade é um processo complicado que envolve um conjunto de evidências que comprove a semelhança analítica e clínica entre essas moléculas. Tais medicamentos apresentam um custo de produção mais alto que os demais, demandando um incremento econômico nos sistemas de saúde mundiais. As patentes de vários produtos biológicos já expiraram e outras estão acabando, removendo a barreira para o desenvolvimento e comercialização dos biossimilares, cuja entrada no mercado pode ampliar o acesso dos pacientes a terapias mais custo-efetivas. Diferentemente dos produtos genéricos, a determinação da bioequivalência não é suficiente para os biossimilares, sendo exigido um vasto estudo que envolve a análise caso a caso dos produtos envolvidos, englobando dados analíticos, não clínicos e clínicos. Uma vez que o conceito de intercambiabilidade para os biossimilares difere daquele aplicado aos medicamentos sintéticos, as agências reguladoras mundiais têm se mostrado muito cautelosas em relação a esse aspecto. Sabe-se, porém, que a restrição da intercambiabilidade limita a competição e impacta diretamente nas consequências econômicas da adoção dos biossimilares. Outro fator crucial para os biomedicamentos é necessidade de elaboração de um plano de farmacovigilância e mitigação dos riscos para os produtos, a fim de avaliar o grau de imunogenicidade

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das moléculas. A imunogenicidade refere-se à capacidade de um produto biológico em provocar a formação de anticorpos, cujas consequências clínicas podem variar. Com a intenção de fortalecer as indústrias farmoquímica e farmacêutica nacionais, o Ministério da Saúde (MS) lançou as Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDP), através da Portaria nº 837/2012. Parte integrante da política do Plano Brasil Maior, que tem como uma das diretrizes o foco em inovação e no crescimento produtivo do parque industrial brasileiro.


brasileiros, a tecnologia para a produção de determinado medicamento dentro do prazo de cinco anos. Durante esse período, os laboratórios do setor privado são responsáveis pela produção do princípio ativo e transferência da tecnologia ao laboratório público. Para que ambos sejam beneficiados durante o acordo, o governo garante aos laboratórios privados a exclusividade na compra desses produtos durante o mesmo período. Após o prazo para a transferência de tecnologia, o laboratório público nacional inicia, de forma autônoma, a produção completa do medicamento visando atender à demanda nacional. O objetivo maior é reduzir a dependência de importação e ampliar a competitividade no mercado. A maioria dos medicamentos constantes nas PDPs é de origem biológica. Isso significa que teremos novos biossimilares entrando no mercado brasileiro, seja pelo término das patentes ou pelas PDPs. Considerando que no Brasil, a obrigatoriedade de aquisição de medicamentos para uso no SUS seja via licitação, a intercambiabilidade ocorre mesmo não existindo uma regulamentação para esta prática. Cabe a nós, farmacêuticos, avaliarmos a efetividade desses medicamentos e, principalmente, montarmos planos de farmacovigilância para acompanhamento das Reações Adversas a Medicamentos (RAMs) e estabelecimento do padrão de imunogenicidade dos biossimilares. Maely Peçanha Fávero Retto Diretora-vice-presidente As PDPs são parcerias realizadas entre instituições públicas e entidades privadas com vistas ao acesso a tecnologias prioritárias, à redução da vulnerabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) em longo prazo e à racionalização e redução de preços de produtos estratégicos para saúde, com o comprometimento de internalizar e desenvolver novas tecnologias estratégicas e de valor agregado elevado. Nelas, o Ministério da Saúde firma acordos com laboratórios privados para que os mesmos se comprometam a transferir, aos laboratórios públicos

Fonte: Ministério da Saúde http://www2.far.fiocruz.br/farmanguinhos/ images/Parcerias_de_Desenvolvimento_ Produtivo4.pdf http://www.sbrafh.org.br/rbfhss/public/ artigos/2013120404_editorial_BR.pdf

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Âmbito Profissional

Conselho garante presença de

farmacêuticos nas UPAs Cerca de 90% das empresas terceirizadas que prestam serviço de Saúde nas Unidades de Pronto Atendimento, no Rio de Janeiro, já estão devidamente regulares com suas inscrições no CRF-RJ. A informação foi prestada pelo chefe do Setor de Fiscalização do Conselho, Marcos Alves, que ainda assegurou que não houve problemas jurídicos ou de qualquer outra natureza ao exigir que essas empresas se inscrevessem em nome próprio, em lugar do ente governamental contratante delas. Desta forma, tomando como base fundamentos legais, o Departamento de Fiscalização do Conselho passou a exigir como mecanismo inequívoco de promoção da saúde da população, que as Unidades de Pronto Atendimento também disponibilizassem os profissionais de Farmácia. A exigência foi cumprida. Todavia, a contratação dos profissionais era realizada por empresas terceirizadas, que mantinham contrato com o Estado do Rio de Janeiro, mas elas não eram devidamente inscritas no CRF-RJ. Ao contrário disso, quem estava inscrito era o ente público. “Antes de tomarmos essa medida de exigir que a inscrição fosse em nome das unidades, tivemos reuniões com toda a Diretoria e solicitamos parecer do nosso Departamento Jurídico para avaliar de que forma estaria correto. Os advogados do CRJ-RJ avaliariam e chegaram à conclusão de que a inscrição deveria ser feita em nome da empresa que contrata o farmacêutico e não o ente público, pois a administração do serviço é feita pelo setor privado, então, nada mais correto, que a inscrição seja de quem contrata o profissional e administra a prestação de serviço. É claro que o parecer do Departamento Jurídico teve total 32 l Revista RioPharma l mar . abr 2015

concordância da nossa Diretoria”, asseverou. Anteriormente, segundo narra o chefe da Fiscalização, as UPAs só ofereciam para a população o serviço de médico e enfermeiros e o Setor de Fiscalização do CRF-RJ, com base na extrema necessidade dos profissionais farmacêuticos nas unidades de saúde, iniciou acirradas fiscalizações e cobranças ao poder público para cumprir com o que preceitua a norma constitucional.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e


de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. E além da Constituição de 1988, o Supremo Tribunal Federal também já pacificou entendimento de que a União, representada pelos entes federativos (Estados, Distrito Federal e Municípios) têm o dever de cumprir a norma de direito fundamental garantida na Magna Carta. Assim vê o STF:

“Consolidou-se a jurisprudência desta Corte no sentido de que, embora o art. 196 da Constituição de 1988 traga norma de caráter programático, o Município não pode furtar-se do dever de propiciar os meios necessários ao gozo do direito à saúde por todos os cidadãos. Se uma pessoa necessita, para garantir o seu direito à saúde, de tratamento adequado, é dever solidário da União, do Estado e do Município providenciá-lo.” (AI 550.530-AgR, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 26-6-2012, Segunda Turma, DJE de 16-8-2012.) Mas para melhor segurança e regularidade dos serviços oferecidos nas UPAs, o Conselho tem regula-

rizado as inscrições, e esse processo está praticamente finalizado, conforme assegura a advogada Maria de Fátima Beserra, chefe do Departamento Jurídico. A advogada também esclarece, que a regularidade desses contratos de gestão tem ocorrido desde que teve início o processo. “Inúmeros pedidos de inscrição junto a esta Regional foram feitos por empresas que firmaram Contrato de Gestão com o Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Estado de Saúde, com vistas à formação de parceria, entre as partes, para fomento e execução de atividades da área de saúde. Pois bem, o Contrato de Gestão dá à empresa privada a responsabilidade de todos os ônus, encargos e obrigações comerciais, fiscais, sociais e tributárias previstas na legislação em vigor. Diante da parceria mencionada, este Conselho de Farmácia determinou que fossem revistos os processos que, equivocamente, por meio de Contrato de Gestão, tinham sido cadastrados neste órgão como Secretaria de Estado de Saúde, os adequando para inscrição em nome da detentora da gestão e execução das ações e serviços de saúde, sendo certo que ela deverá apresentar, entre outros documentos, os contratos de trabalho por elas firmados com os farmacêuticos, mencionando expressamente os endereços nos quais serão desenvolvidas as responsabilidades técnicas. Com a decisão coube ainda a responsabilidade de pagamento de anuidade e taxas na condição de pessoa jurídica, com natureza jurídica privada”, esclarece Dra. Fátima. A advogada mencionou ainda, que esses Contratos de Gestão tiveram início para serem postos em prática pela Administração Pública do ente estatal. De acordo com ela, os Contratos de Gestão apresentados observam a legislação federal e estadual (Lei Federal 8080/90 e Lei Estadual 6043/11). A referida Lei Estadual prevê em seu artigo 1º que: O Poder Executivo poderá qualificar como organização social pessoas jurídicas de direito privado, sem fins econômicos ou lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas à saúde, incluindo a área de assistência, ensino e pesquisa. “O artigo 9º da mesma lei prevê que os contratos de gestão firmados entre o Poder Executivo e a entidade qualificada como organização social, tem vistas à formação de parceria, entre as partes, para fomento e execução de atividades da área de saúde”, finaliza. 33 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


Destaque

É lei:

unidade de saúde tem de ter farmacêutico em horário integral 34 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


A saúde do brasileiro conquista mais uma vitória: a população, que antes se ressentia da ausência da assistência farmacêutica nos hospitais públicos e privados agora pode usufruir desse serviço técnico e especializado, sentindo-se mais segura quanto às orientações sobre a medicação que vai utilizar, oriunda dessas unidades. O farmacêutico tem um papel importante junto à sociedade e como especialista deve exercê-lo em prol do uso racional dos medicamentos. A sua presença nos estabelecimentos de saúde deve oferecer aos usuários uma atenção de qualidade, que assegure o acesso aos medicamentos essenciais com equidade, universalidade e integridade. Por tudo isso, o farmacêutico tem seu lugar garantido na farmácia hospitalar. Para tanto, a Lei 13.021/14 impõe que a liberação da Certidão de Regularidade dos estabelecimentos de saúde, já em 2015, só será efetuada com declaração que comprove a prestação de assistência farmacêutica em horário integral e com quadros formados por quantos profissionais farmacêuticos necessários para cumprir a grade. A referida Lei, em seu oitavo artigo, também dispõe que as farmácias hospitalares devem cumprir as mesmas exigências legais, o que inclui regras para instalação, equipamentos, responsabilidade técnica dos farmacêuticos e o registro obrigatório no Conselho Regional de Farmácia. Mas, além da Lei 13.021/14, a presença de RT nas farmácias hospitalares também já era uma determinação da Resolução 556/11, do CFF, e uma recomendação da Portaria 4.283/2010, do Ministério da Saúde. É evidente que essa exigência com cunho legal vai influenciar diretamente no mercado de trabalho para esses profissionais, pois serão necessárias novas contratações para cumprir o que determina a legislação. Além disso, o mais importante que se espera através da Lei 13.021/14 é o aumento da segurança, recuperação e promoção da saúde do paciente. Do ponto de vista e análise técnica da nova norma, a chefe do Departamento Jurídico do CRF-RJ, Maria de Fátima Beserra Duarte, tem parecer peculiar sobre o advento da Lei 13.021/14. “A lei trouxe a criação de nova regra no que tange a fiscalização das ativi-

dades farmacêuticas e os serviços de assistência farmacêutica, com o objetivo de assegurar a assistência terapêutica integral e a promoção, a proteção e a recuperação da saúde nos estabelecimentos públicos e privados que desempenham atividades farmacêuticas, tendo o medicamento como insumo essencial e, visando, o seu acesso e o seu uso racional”, afirma a advogada. Ainda de acordo com a chefe do Departamento Jurídico do CRF-RJ, a Lei classifica a farmácia como sendo “unidade de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva, na qual se processe a manipulação e/ou dispensação de medicamentos magistrais, oficinais, farmacopeicos ou industrializados, cosméticos, insumos farmacêuticos, produtos farmacêuticos e correlatos.” “A nova Lei estabelece de forma inquestionável que toda a farmácia, seja ela pública (independente do porte da unidade hospitalar) ou privada, necessita para seu funcionamento, obrigatoriamente, da assistência e responsabilidade técnica de profissional farmacêutico habilitado, sendo obrigatória a presença de farmacêutico durante todo o horário de funcionamento”, ressalta.

“Hoje em dia a atuação do farmacêutico hospitalar compreende diferentes áreas que se complementam e fazem do Serviço de Farmácia um setor estratégico para parte gerencial e assistencial da instituição. ” Dr. Maurizio Pellittere

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A importância do farmacêutico hospitalar, na visão de um médico Para o Dr. Maurizio Pellitteri, médico, com residência em pediatria e neonatologia, atuando no Instituto Fernandes Figueiras e diretor da Perinatal, unidade Barra da Tijuca, com 18 farmacêuticos atuantes na clínica, a presença do farmacêutico é indispensável na farmácia hospitalar.

Qual a importância de ter um profissional farmacêutico na farmácia hospitalar durante todo o funcionamento, independentemente do número de leitos? A assistência clínica aos pacientes em um ambiente hospitalar envolve muitos profissionais de saúde, incluindo o profissional farmacêutico. Esta assistência é contínua e dinâmica nas 24 horas. O centro desta atenção é a terapia medicamentosa visando evolução clínica de forma positiva. Neste contexto, a presença do farmacêutico é indispensável para subsidiar esta assistência e gerenciar processos que envolvam preparo, dispensação e a administração segura de medicamentos aos nossos pacientes, além de tomadas de decisões emergenciais que envolvam terapia medicamentosa com produtos de diferentes classificações: padronizados na instituição, não padronizados, de alto custo e potencialmente perigosos.

Qual a atuação e responsabilidade do farmacêutico na farmácia hospitalar? Assim, é clara a necessidade/importância de um líder que busque as melhores estratégias gerenciais para garantir a composição e qualificação da equipe de farmacêuticos, adequando questões econômicas e assistenciais dentro de sua gestão. Em paralelo, na prática diária, os plantonistas, durante 24 horas, zelam por funcionamento adequado das estratégias desenhadas e comando de equipe que presta assistência aos clientes internos. Além disto, a Farmácia Clínica é elo importante en36 l Revista RioPharma l mar . abr 2015

tre o Serviço de Farmácia e os setores de assistência direta aos pacientes e tem contribuído com melhorias no aspecto assistencial, integrando, planejando e decidindo aspectos clínicos de relevância para nossos pacientes. A organização do serviço de farmácia com estes serviços bem estabelecidos contribui, e muito, para uma prática medicamentosa mais segura e eficaz.

O artigo 8º da Lei 13.021/14 determina que as farmácias hospitalares estão condicionadas às mesmas exigências legais previstas para as farmácias não privativas em relação à instalação, equipamento, direção e desempenho técnico dos farmacêuticos, além do registro no Conselho Regional de Farmácia.

Além da Lei 13.021/14, a presença de RT nas farmácias hospitalares também já era uma determinação da Resolução 556/11, do CFF, e uma recomendação da Portaria 4.283/2010, do Ministério da Saúde.


Saúde Pública

África: berço da civilização, mas também de muitas doenças causadas por vírus Centenas de historiadores, teólogos, antropólogos e cientistas de diversas áreas atestam que o continente africano é o território considerado berço da civilização. Todavia, além da história inicial da própria humanidade, a região também é conhecida como local de origem de inúmeras doenças graves provocadas por vírus. Dezenas deles, capazes de matar seres humanos e animais em poucas horas, sequer podem ser combatidos com medicamentos ou vacinas. Cientistas do mundo inteiro mantêm seus olhos e pesquisas minuciosamente voltados para a região, reconhecendo que ainda somos muito vulneráveis à natureza selvagem da Mãe África. E assim, descobre-se a ação de novos vírus a cada dia, originários das regiões mais extremas daquele território. Entre elas está a febre do Nilo Ocidental, assim chamada porque foi identificada pela primeira vez na região ao Oeste do Rio Nilo. A princípio, o vírus causador da febre também pode levar uma pessoa a ter paralisia, mas já causou milhares de mortes. E esse vírus, que também tem como um dos vetores o mosquito – pernilongo comum -, já atravessou os oceanos e chegou às Américas. O flavivírus, da mesma

família da febre amarela e do dengue, chegou aos Estados Unidos em 1999 e se expandiu por todo o território americano, causando centenas de mortes até hoje. De acordo com o Doutor Anthony Érico Guimarães, parasitologista há 40 anos, e com três décadas de experiência e pesquisa, além de professor no IOC (Instituto Oswaldo Cruz), a expansão da febre do Nilo se deu através de aves migratórias. Na década de 90, em menos de um ano, a epidemia causou 66 mortes. “Pode parecer pouco 66 mortes, logo no primeiro ano do aparecimento da doença lá, mas esse número de mortalidade num país desenvolvido é muito preocupante e já era, na época, considerado epidemia. Dados recentes têm nos mostrado que a situação só piorou. Isso num país de primeiro mundo, com um sistema de saúde pública que funciona. Diferente da nossa situação aqui. Uma epidemia dessas no Brasil seria devastadora”, avalia o professor Anthony.

119

57

43

2004

2005

2006

2010

2012

579 infectados

320

5.674 infectados

100

2002

286

268

1.021 infectados

284

Fonte: Instituto Oswaldo Cruz

Número de óbitos e infectados - EUA

2013

2014

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O aparecimento do vírus no Brasil No Brasil, segundo o professor Anthony Érico, a febre do Nilo ou West Nile foi encontrada pela primeira vez em 2011 – um único caso humano confirmado no Estado do Piauí – e em cavalos e aves no Pantanal de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Acre. Já em 2014, em setembro, o Ministério de Saúde confirmou que o Piauí registrou outro caso da doença. Na ocasião, o ministério ressaltou que o fato foi isolado e não representa risco para uma epidemia. “Aqui, em nossas terras, nós identificamos o primeiro caso humano no Nordeste, uma região propícia à proliferação desse tipo de doença por ser local de altas temperaturas, muito procurado por aves migratórias. O paciente buscou atendimento na rede pública com sintomas de doença causada por vírus. Foi coletado material e levado para o laboratório do Instituto Evandro Chagas, em Belém, e lá foi confirmada a presença do flavivírus”, relatou. Ainda de acordo com o pesquisador, “as aves migratórias vieram das Américas do Norte e Central para fugir do frio. Elas podem ter sido picadas e acabaram transmitindo o vírus para os animais mamíferos e outras aves nativas daqui. Esses casos foram vistos por nossos biólogos no Pantanal. Estamos monitorando a doença e é possível que haja outros casos em humanos, mas que não foram diagnosticados. Como os sintomas causados por vírus são muito parecidos, somente testes em laboratórios podem identificar o tipo viral”, esclarece. Importante destacar que a Fundação Oswaldo Cruz, juntamente com outros institutos que compõem o Ministério da Saúde, está fazendo o controle de vetores já que a febre do Nilo pode ser transmitida pelo mosquito comum, mais conhecido como pernilongo. O professor destaca: “Como ainda não temos muitos casos diagnosticados porque a doença até agora só foi identificada em uma pessoa e em animais, estamos fazendo um monitoramento constante além do controle acirrado de vetores. Por enquanto, o trabalho é de prevenção”. O pesquisador afirma que a maior dificuldade em monitorar o aparecimento de casos em humanos se dá porque doenças causadas por vírus só são diagnosticadas quando ocorrem em grandes centros urbanos. 38 l Revista RioPharma l mar . abr 2015

Os pacientes apresentam sintomas semelhantes ao dengue, à febre amarela e assim os médicos tentam identificar a doença e o vírus causador. “No interior, segundo ele, principalmente no extremo norte do país, como os sintomas são muito parecidos com o dengue, os infectados sequer procuram os hospitais da região e, normalmente até usufruem da automedicação”.

Continente africano como foco de vírus Ao ser questionado sobre a razão do continente africano ser uma região considerada foco de inúmeras doenças causadas por vírus e parasitas, o professor traz uma explicação sociológica e até cultural para a tese. Segundo ele, realmente aquela é uma parte do planeta onde há o maior foco já identificado de doenças e é assim, primeiro por questões sociais, tais como, a imensa pobreza e constante situação de guerra que torna o ambiente precário, até por falta de produtos de higiene pessoal, esgoto tratado e cuidados com a limpeza dos alimentos e da água que é consumida. Paralelamente, aqueles povos também sofrem com a questão cultural. “São vilarejos, etnias primitivas, que sequer conseguem se comunicar com um mesmo dialeto na mesma região. Normalmente, por viverem, em sua maioria, de forma primitiva até pela cultura da localidade, se alimentam de animais silvestres, que são os grandes vetores de uma centenas de vírus, muitos deles ainda desconhecidos pela comunidade científica. Dessa forma, a proliferação de doenças é assustadora e causadora de milhares de óbitos. Com a globalização e a circulação de pessoas por todos os continentes, esses vírus são transportados para as regiões mais desenvolvidas do planeta provocando, em muitos casos, surtos de epidemias”, avaliou o professor.


O que é a febre do Nilo Ocidental? A doença do Nilo Ocidental também chamada de febre do Nilo Ocidental é uma virose transmitida por um vetor (mosquito), cuja manifestação clínica varia de uma infecção leve a manifestações graves, desde uma febre passageira a uma encefalite grave. A doença é causada por um vírus do gênero flavivírus, da família flaviviridae. Pertence ao mesmo gênero do vírus do dengue e da febre amarela, e mantém-se em ciclo entre aves silvestres, mosquitos e, esporadicamente, pode afetar outros hospedeiros vertebrados.

Disseminação do vírus O vírus pode infectar aves, humanos, cavalos e outros mamíferos. Algumas espécies de aves silvestres são os principais reservatórios e hospedeiros amplificadores da disseminação, que se dá devido ao processo de migração. Esses animais podem ou não apresentar quadro clínico da doença. Humanos e cavalos são considerados hospedeiros acidentais.

Sazonalidade Como a maioria das doenças de transmissão vetorial, a sazonalidade se dá no período mais quente do ano e, principalmente, no final do verão e início do outono, no qual aumenta a proliferação de mosquitos com consequente aumento de transmissão. O vírus pode ser transmitido quando um mosquito (gênero Culex) infectado pica um humano ou animal para se alimentar. Os mosquitos se infectam quando fazem o repasto em aves infectadas, as quais circulam com o vírus em seu sangue por alguns dias.

Mosquito gênero Culex

Ações de vigilância no Brasil Em 2003 foram instituídas pelo Ministério da Saúde atividades para a vigilância do risco de introdução do vírus da febre do Nilo Ocidental. Diversas ações foram intensificadas, entre elas, a vigilância de epizootias (adoecimento) de equinos, além de inquéritos sorológicos em diferentes regiões do país. Resultados recentes demonstram evidências da presença de anticorpos contra o vírus em animais. Pesquisadores da FIOCRUZ detectaram a presença de anticorpos em cinco cavalos da região do Pantanal. Embora tenham sido encontrados resultados sorológicos positivos em duas pesquisas publicadas e em algumas amostras coletadas nos estados do

Acre, MS e MT, apenas um caso em humano foi registrado oficialmente no Brasil. A detecção encontrada em animais, embora, sugestiva de circulação viral, não permite concluir sobre a presença maciça do vírus no país, sendo necessário, para tal, o isolamento do vírus em animais, vetores e monitoramento em seres humanos, o que está sendo feito pelo Ministério da Saúde desde 2011. A notificação de mortes de aves e equinos, assim como a suspeita de casos em humanos, são eventos de notificação compulsória. É também importante o monitoramento contínuo dos casos de meningite. 39 l Revista RioPharma l mar . abr 2015


15 a 17 de outubro de 2015 La Prescripción Farmacéutica y los Nuevos Paradigmas de la Profesión Pharmaceutical Prescription and New Paradigms for the Pharmacy Profession

Tema

A Prescrição Farmacêutica e os Novos Paradigmas da Profissão

Actuación Clínica del Farmacéutico Clinical Pharmacy Practice

Eixo Central

Atuação Clínica do Farmacêutico

Centro de Convenções SulAmérica Rio de Janeiro - Brasil

www.oitavoriopharma.com.br


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