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JAN > FEV 2016

Pharma

Revista do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Rio de Janeiro

Autoteste com responsabilidade

Liberação da venda de kits de autoteste de HIV em farmácias levanta debate sobre os procedimentos necessários


agenda Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro Rua Afonso Pena, 115 - Tijuca - Rio de Janeiro - RJ CEP: 20270-244 Telefone: (21) 3872-9200 - Fax: (21) 2254-0331 Dúvidas e sugestões: diretoria@crf-rj.org.br Denúncias: fiscalizacao@crf-rj.org.br Ouvidoria: ouvidoria@crf-rj.org.br Periodicidade: Bimestral Tiragem: 17.000 exemplares Diretoria Dr. Marcus Vinicius Romano Athila - Presidente Dr. Robson Roney Bernardo - Vice-presidente Dra. Talita Barbosa Gomes - Tesoureira Dr. José Roberto Lannes Abib - Secretário-Geral Conselheiros Efetivos Dra. Denise Costa Ribeiro, Dra. Fabiana Sousa Pugliese, Dr. José Roberto Lannes Abib, Dr. Luiz Fernando Secioso Chiavegatto, Dra. Maely Peçanha Fávero Retto, Dr. Marcus Vinicius Romano Athila, Dra. Maria Eline Matheus, Dra. Melissa Manna Marques, Dr. Robson Roney Bernardo, Dra. Silvania Maria Carlos França, Dra. Tania Maria Lemos Mouço e Dra. Talita Barbosa Gomes Conselheiros Suplentes Dra. Niára Sales Nazareno, Dra. Nilza Bachinski Pinhal e Dra. Rejane Maria F. de Oliveira Carvalho Conselheiro Federal Dr. Alex Sandro Rodrigues Baiense Conselheiro Federal Suplente Dra. Nylza Maria Tavares Gonçalves Editor-chefe e Jornalista Responsável Rafael Machado (MTB – 24421-RJ) Estagiária de Jornalismo Maria Karolina Rodrigues da Silva Projeto Gráfico e Diagramação Ideorama Comunicação – EIRELI Comissão Editorial Dr. Marcus Vinicius Romano Athila Dr. Robson Roney Bernardo Dra. Talita Barbosa Gomes Dr. José Roberto Lannes Abib Dr. Alex Sandro Rodrigues Baiense Dra. Aline Coppola Napp Dra. Elizabeth Zagni Schmied Gonzaga Dr. Fábio Lima Reis Dr. José Liporage Teixeira Dr. Marcos Antonio dos Santos Alves

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Para conferir mais informações sobre estes e outros eventos, acesse: http://crf-rj.org.br/eventos.html


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Editorial Com o gás renovado

Capa Deu positivo, e agora? A venda de autoteste de HIV nas farmácias

Empreendedorismo ‘Falar bom dia é o primeiro ato empreendedor’

Memória da Farmácia ABF, um século em defesa da profissão

Eleições Uma nova diretoria

Carreira Terapia floral, uma área promissora

Ética Pedro Simon: na batalha, aos 85

Câmara Técnica Mais autonomia para os farmacêuticos estetas

Entidades Farmacêuticas Abrafarm tem novo comando

Artigo Nanomedicamentos: o futuro e seus desafios

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Saúde Pública Fostoetanolamina: a cura do câncer?

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editorial

Com o gás

renovado Os últimos dois anos foram de muitas conquistas para a classe farmacêutica. Para os próximos dois, a expectativa é de mais avanços. Para isso, mantivemos os pilares que levaram o Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF-RJ) à situação que se encontra atualmente: transparência, ética e qualificação. As eleições de novembro para conselheiros regionais e federal e para a diretoria mostraram que estamos no rumo certo, haja vista o apoio da maioria dos farmacêuticos. Assim, continuaremos apostando na capacitação dos profissionais, através dos cursos do QUALIPHARMA e do QUALIPHARMA Especialização. Em dois anos, foram mais de 3.600 certificados emitidos pelo QUALIPHARMA. Esperamos continuar a capacitar mais farmacêuticos, com cursos gratuitos de altíssima qualidade e, com isso, contribuir para o avanço da saúde pública no país. Ao mesmo tempo, seguiremos firmes praticando e exigindo transparência nas ações do Conselho, sempre com muita ética, características que foram fundamentais para zerar as dívidas do CRF-RJ. Em outra frente, manteremos o foco na ampliação da atuação do farmacêutico, cuja conquista mais recente foi a regulamentação da atuação do profissional farmacêutico em procedimentos estéticos, como a toxina botulínica e a criolipólise, através da Resolução 616/15, que teve a participação do nosso coordenador da Câmara Técnica de Estética em sua ela-

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Marcus Athila Presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Rio de Janeiro

boração. Também, seguiremos atentos aos temas em debate pela sociedade, como a liberação da venda do autoteste de HIV nas farmácias, tema da matéria de capa desta edição. Com medidas como estas, o CRF-RJ seguirá ao lado do farmacêutico, atento às suas necessidades e sempre atuando para a valorização da profissão e, consequentemente, para a melhora da qualidade da saúde de toda a sociedade.

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Os doutores Ricardo Lahora, Luiz Fernando Barcelos, José Roberto Lannes Abib, Augusto Geyer e José Liporage durante mesa-redonda

capa

Deu positivo, e agora? Anvisa autoriza venda de autotestes de HIV, e CRF-RJ organiza simpósio para debater o tema Previsto para estar nas prateleiras das farmácias até 2017, o autoteste de HIV vem mobilizando farmacêuticos e profissionais de saúde. Regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em novembro do ano passado, através da Resolução RDC 52/15, o exame ainda divide opiniões sobre os procedimentos a serem adotados nos estabelecimentos. Enquanto uns defendem a necessidade do acompanhamento de um profissional, outros acreditam que a medida amplia o acesso ao exame, dando mais privacidade ao paciente. No dia 22 de janeiro, o Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF-RJ) organizou o simpósio “Autoteste de HIV/Aids: Riscos e Benefícios”, na sede da Associação Brasileira de Farmacêuticos (ABF). O evento reuniu re-

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presentantes do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ). O encontro foi mediado pela tesoureira do CRF-RJ, Talita Barbosa, e contou ainda com a presença do presidente do Conselho Regional de Farmácia do Mato Grosso (CRF-MT), Alexandre Henrique Magalhães, e do tesoureiro do CRF-MT, Ednaldo Anthony Jesus e Silva. O conselheiro federal Alex Sandro Baiense representou o presidente do CFF, Walter Jorge da Silva João. "Diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, o doutor Fábio Mesquita apresentou um panorama sobre a epidemia de Aids no país. Ele ressaltou

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que, no Brasil, tem-se uma epidemia segmentada, que atinge alguns grupos da população. De acordo com ele, há também uma concentração nos grandes centros e em cinco estados estão 67% dos casos: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Além disso, a relação é de dois homens infectados para cada mulher. “O que chama atenção no momento é um decréscimo na epidemia, em geral, mas um aumento na população mais jovem. São pessoas que não viveram a epidemia na época que a Aids surgiu”, diz Mesquita. Um dos responsáveis por implantar no Brasil a proposta de distribuir seringas para usuários de drogas para evitar mais contaminações, no fim da década de 80, ele diz que toda inovação sempre traz polêmica, como é o caso do autoteste. “É mais fácil ficar na zona de conforto. Não adianta fazer mais do mesmo. Temos que ampliar a forma de diagnóstico de toda maneira possível, até pelas características da epidemia, que é concentrada. O autoteste é um instrumento a mais. Temos 130 mil pessoas com HIV e que não sabem disso”, completou Mesquita. Gerente de Produtos Diagnósticos de Uso In Vitro da Anvisa, o doutor Augusto Geyer abordou o processo para aprovação da resolução, feita após uma solicitação do Ministério da Saúde. Ele destacou que foi realizada uma consulta pública e, ao longo da elaboração da norma, várias dúvidas foram sendo esclarecidas pelo grupo de trabalho responsável. “O regulamento trata de um produto que vai permitir o acesso a uma situação que traz riscos, mas os benefícios são superiores. A Anvisa tem papel de regular o interesse do usuário, das empresas e da União e de buscar um equilíbrio para ter a melhor relação custo/benefício. A finalidade é o autoteste para fim de triagem”, destaca Geyer. O gerente da Anvisa destacou ainda que o farmacêutico pode ter um papel importante: “O usuário busca confidencialidade, tem experiências em certos países onde a disponibilidade do produto é muito aberta, mas o farmacêutico tem papel importante na dispensação, assim como no pós-teste. Entendo que o autoteste

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Capacitação das equipes A capacitação dos profissionais para o autoteste de HIV vai além dos farmacêuticos e deve incluir também os demais profissionais das farmácias. Esta é a avaliação do diretor da Associação Brasileira de Farmacêuticos (ABF), doutor José Liporage. "A primeira coisa é treinar em relação ao sigilo, não só do autoteste, mas para outros exames, como o de gravidez. É preciso também estar preparado em relação às informações sobre janela imunológica e sobre o que fazer após o resultado. Sugiro a elaboração de aulas para farmacêuticos na área de DSTs e Aids e criar procedimentos operacionais padrão (POPs) para todos os tipos de atendimento. As farmácias somam mais de 80 mil estabelecimentos de saúde, podemos ampliar o acesso da sociedade à saúde”, completou Liporage, durante o simpósio. Avaliação semelhante tem o coordenador regional de Caxias e presidente da Câmara Técnica de Empreendorismo, Ricardo Lahora: “É preciso critério, capacitação. O exame requer um ambiente privado, não é qualquer tipo de farmácia”, afirmou Lahora. Já o secretário-geral do CRF-RJ, doutor José Roberto Lannes Abib, destacou que os farmacêuticos têm condições para fazer qualquer exame. "Gostaria de lembrar que o período que a farmácia magistral mais cresceu foi durante o Plano Cruzado. Hoje, vivemos uma nova crise e cada vez mais o profissional farmacêutico está de frente. A cada esquina tem dois farmacêuticos prontos para orientar”, lembrou o secretário-geral.

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capa

A mesa de abertura, com os doutores Alexandre Nabor França, Fábio Mesquita, Marcus Athila e Alex Baiense

vai trazer benefícios para usuários e para a saúde pública como um todo”. Já o psicólogo, especialista em Direitos Humanos e Políticas Públicas e presidente da Comissão de Comunicação Social do CRP-RJ, Alexandre Nabor França, destacou a importância do acompanhamento psicológico e de mais informação sobre o HIV e a Aids. “Os Conselhos de Psicologia há tempos vêm se preocupando com a questão do acompanhamento psicológico, que é esse acolhimento à pessoa com vírus. O Ministério da Saúde costumava fazer testes em megaeventos. Mas como era a atuação dos psicólogos nestes eventos? O Conselho de Psicologia editou uma resolução para regulamentar isso. O HIV ainda é um problema para a sociedade e, a meu ver, ainda há escassez de informação na periferia e nas favelas”, analisou França. Na resolução, a Anvisa estabelece que os produtos devem ter informações sobre a janela imunológica do método, além de os produtores fornecerem um canal de comunicação telefônico 24 horas por dia, sete dias por semana, de suporte ao usuário. Para o diretor-executivo da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), Luiz Fernando Barcelos, tais medidas, no entanto, não são suficientes.

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“Não parece haver necessidade para que o exame de HIV seja transformado em autoteste. O teste no ambiente de saúde é feito por alguém preparado, onde se tem registro e se pode retirar estatísticas. Quando abrimos a possibilidade de liberar este teste, perdemos isso”, avaliou Barcelos. Atualmente, o autoteste é aplicado na África do Sul, China, Estados Unidos, França, Holanda, Peru, Quênia e Reino Unido. De acordo com a Anvisa, os regulamentos dos Estados Unidos e do Reino Unido foram usados na elaboração da proposta que resultou na resolução. A expectativa é de que os testes custem aproximadamente R$ 120, segundo o gerente da Anvisa, Augusto Geyer. Estão previstos dois tipos de teste, um através do sangue e outro pelo fluido oral - nome popular do fluido crevicular gengival, o líquido encontrado no sulco gengival, contendo proteínas plasmáticas e anticorpos, e obtido quando se pressiona a gengiva acima dos dentes. “O fato é que o autoteste foi regulamentado pela Anvisa. Existe a questão se é vantajoso ou não adquirir o teste, mas é importante definir de que forma o farmacêutico pode contribuir para minimizar as dúvidas de quem adquire o autoteste”, destacou o presidente do CRF-RJ, doutor Marcus Athila.

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Autoteste repercute na internet A aprovação do autoteste repercutiu nas redes sociais e na internet. No fim do ano passado, logo apos a aprovação da norma pela Anvisa, o médico Drauzio Varella publicou um vídeo em seu canal no Youtube comentando a medida. A publicação já conta com 21 mil visualizações. “Há anos eu defendo que o teste da Aids seja vendido na farmácia. Tem gente que critica este procedimento. Diz que é mais sensato ir a um posto de saúde, colher o exame e, se der positivo, já tem um aconselhamento no local. Lógico que não sou contra isso. O problema é que levar a pessoa à unidade de saúde, preencher ficha e fazer entrevista afasta as pessoas, principalmente nas cidades pequenas, onde as pessoas se conhecem. O medo de fazer o teste em casa qual é? De a pessoa atentar contra a vida? Sinceramente, não acredito que isso aconteça”, destaca o imunologista, alertando que, no caso de um resultado positivo, é preciso fazer um exame para confirmar o diagnóstico, assim como ocorre nos testes de gravidez.

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O salão da ABF ficou lotado durante o simpósio

A medida também levou entidades ligadas à causa a comentarem a decisão da Anvisa, como a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia). “Temos que olhar como está chegando e como vai ser usado este teste. Ele vem cumprir uma função, que é dar direito à pessoa que pode comprá-lo de fazer o teste da maneira que quiser, no momento que quiser. Mas a questão é que há pouca informação, tanto no exame de confirmação, como nos aspectos psicológicos, culturais e emocionais relativos a um resultado positivo. O estigma tem sido um grande obstáculo. Estamos focados no teste como tecnologia clínica, mas também tem a questão de classificação social em relação à Aids, de valores negativos que recaem sobre a pessoa, como impureza, promiscuidade, irresponsabilidade”, analisou o assessor de projetos da Abia, Veriano Terto Jr.

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empreendedorismo

‘Falar bom dia é o primeiro ato empreendedor’ CEO do Banco Confia ME, Guto Ferreira destaca importância de ter atitude e vê boas oportunidades na área de saúde Mais do que ter um negócio, empreender é atitude e está em ações como dar “bom dia”. A afirmação é de Guto Ferreira, CEO do Banco Confia Microfinanças e Empreendimentos, uma Organização Social de Interesse Público (Oscip) que atua concedendo empréstimos até R$ 15 mil para microempreendedores e que movimentou mais de R$ 350 milhões em 15 anos. Em entrevista por e-mail, Guto, que dá palestras por todo o país sobre empreendedorismo e educação financeira, comentou a forma como o empreendedorismo é abordado, a função dos investidores-anjo e as iniciativas nas áreas de farmácia e saúde. Para ele, um dos assuntos que vai dominar o setor em 2016 é a inovação social, além de propostas que busquem fazer a diferença no mundo. “Esta é uma geração em que ganhar dinheiro não é desafio suficiente. Tem que ter propósito e legado”, diz. Confira os principais trechos da entrevista:

Saúde, Farmácia e Educação “Recentemente estive em uma mentoria com Drauzio Varella e Mauricio Ceschin (presidente da Qualicorp). Uma das abordagens foi que existia campo para a criação de um aplicativo onde as pessoas pudessem guardar seus históricos

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médicos e exames. Já existem, no campo da farmácia, aplicativos que lembram o paciente da hora de tomar um remédio ou mesmo de quanto em quanto tempo precisam comprar um. Um aplicativo onde as pessoas pudessem encontrar as descrições das drogas de forma mais simplificada do que na bula, por exemplo, ajudaria muito. É um campo incrível que precisa se aproximar do consumidor, do cliente final. As áreas de pesquisa e desenvolvimento já estão bem adiantadas, mas acho que o profissional precisa ter mais empreendedorismo no currículo. E estou falando da parte acadêmica mesmo. O ensino no Brasil, sobretudo em áreas de grande importância, como saúde e farmácia, ainda segue um roteiro prussiano do século XIX. Dá para inovar muito e espero que o setor se sinta provocado.”

Conceito “Ao contrário da corrente majoritária, empreendedorismo não é ter um negócio. Para mim é um comportamento. Falar ‘bom dia’ por exemplo é o primeiro ato empreendedor. Pode-se perder um cliente, deixar de vender um serviço ou mesmo não ser promovido pela falta de um ‘bom dia’. Sinceramente, discordo da corrente que tenta definir empreendedorismo. Não é algo que você possa achar em livros. Talvez os conceitos, neste caso, sirvam de balizamento. Mas empreendedorismo é viver experiências,

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se machucar, ter resiliência e adequar tudo isso a sua necessidade e às oportunidades.”

Modelo atual “Acredito que o modelo atual não deu certo. Se tivesse dado não teríamos um país de desemprego crescente, de serviços públicos atrasados ou de mortalidade de startups acima de 90% em até três anos. É impossível o empreendedorismo no Brasil dar certo enquanto não o tivermos sendo ensinado nas escolas de ensino fundamental, enquanto educação financeira e administração não forem encaradas como fundamentais. Nosso marco legal de apoio aos empreendedores é ruim, atrasado. Enquanto andamos no digital, as leis do tema andam no analógico. Pode ser que um dia dê certo no país. Ainda não deu.”

Alternativa “É preciso uma mudança comportamental do brasileiro em primeiro lugar. Todos temos características empreendedoras. Assumir isso faz bem. Depois, precisamos ter acesso à base teórica do que compõe este "guarda-chuva" chamado empreendedorismo, ou seja, cultura empreendedora, educação financeira, base tecnológica e administração. Ajudaria muito que a matriz de educação básica nacional contivesse estes temas. Hoje, as possibilidades para empreender, no campo das ideias, são incríveis, mas arrisco polemizar que o brasileiro da época do governo Sarney tinha mais qualidade neste campo que a geração atual.”

empreendedor, do idealizador. Isso fortalece o processo. Mesmo em tempos de alta complexidade, de todos querendo retorno rápido, o planejamento é a médio e longo prazo. Aqui, em sua maioria o mercado é diferente. O cara investe (geralmente patrimônio pessoal) e quer retorno "para ontem". Não estrutura o empreendedor e sequer se envolve no processo de evolução do negócio. Claro que tem muita gente boa fazendo investimentos no Brasil, mas ainda acho que é uma cultura de tubarões comendo sardinhas. E isso não dá certo. Se desse, o país teria uma taxa de sucesso de empreendedores muito maior.”

Inovação social “Tem muita coisa disruptiva acontecendo. Tem uma galera de fomento deste ecossistema que está se comunicando mais. Eventos como a Campus Party, Startup Weekend, Circuito Startup, Case, Epicentro e tantos outros. Acho que um dos temas que vai dominar a cena a partir de 2016 com mais força é o lance da inovação soecial. A criação de soluções de base tecnológica ou não que possam efetivamente fazer a diferença no mundo. Esta é uma geração, e acredite quando afirmo isso, em que ganhar dinheiro não é desafio suficiente. Tem que ter Propósito e Legado, com as iniciais maiúsculas mesmo.”

Para Guto, é preciso investir em educação voltada para o empreendedorismo

Investidor-anjo “Não acredito nesta expressão. Para mim é um nome bonito pra vender um conceito furado. O cara é investidor e pronto. O que quer é ter resultado do investimento dele e lucrar com você. Isto está errado? Não se for falada a verdade. Não tem nada de anjo. Muitos investidores funcionam muito bem, sim. Mas o modelo brasileiro é distante do que é o americano, por exemplo. Lá, muitos fundos de centenas de milhões de dólares investem em startups. E, mais do que isso, não investem só no negócio. Colocam dinheiro no aperfeiçoamento do

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memória da farmácia

Um século em defesa da profissão Associação Brasileira de Farmacêuticos completa cem anos O dadaísmo surgiu, o astrônomo que descobriu Plutão, Percival Lowell, faleceu e a Primeira Guerra Mundial estava na metade. No Brasil, a Guerra do Contestado acabava, a industrialização começava, a república estava perto de completar 30 anos, Vencesclau Brás era o presidente e Clóvis Beviláqua acabara de escrever o primeiro Código Civil do país. Tudo isto ocorreu há cem anos, em 1916. E, à época, claro, a classe farmacêutica também se movimentava. No dia 20 de janeiro daquele ano, no salão de conferências do Círculo Católico, na antiga capital do Brasil, Rio de Janeiro, nascia a Associação Brasileira de Farmacêuticos (ABF), a maior entidade representativa da categoria do país no período. “Falar da ABF remete à questão do farmacêutico no Brasil. Até 1808, não tínhamos este profissional no país. Tínhamos médicos e boticários, mas não farmacêuticos. Na vinda de D. João VI, junto à côrte portuguesa, é que veio o primeiro farmacêutico para nossas terras. Ao fazer uma associação, não só nos organizamos, como defendemos, discutimos e participamos de todo o processo de formação e consolidação desta classe”, explica a farmacêutica Carmelinda Afonso, atual diretora da revista da ABF e que já atuou em diversos cargos na entidade.

Carvalho tinha como objetivos defender os interesses da classe farmacêutica. Ele propunha o desenvolvimento de um código farmacêutico brasileiro e a concepção de uma escola superior de farmácia. A instituição, de acordo com a ideia de Carvalho, seria de importante utilidade pública, pois junto ao ensino técnico das ciências naturais, químicas e físicas, haveria consultórios para atendimentos aos mais necessitados, com receitas prescritas por estudantes orientados por professores e medicamentos vendidos a preço de custo. Segundo ele, o trabalho do farmacêutico em relação à cura seria equiparável ao dos médicos. “A escola superior de farmácia proposta por

Rodolpho Albino Dias da Silva, que dá nome à biblioteca e escreveu a Farmacopeia Brasileira

Na época da criação, o primeiro presidente da instituição, o farmacêutico Luiz Oswaldo de

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Varges e o próprio Luiz Oswaldo de Carvalho. Um mês depois da criação da associação, em 20 de fevereiro de 1916, os primeiros estatutos foram aprovados em uma assembleia, definindo que a ABF seria gerenciada por uma diretoria e um conselho administrativo. No fim daquele ano, no dia 16 de novembro, a entidade foi inscrita no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. A fundação da ABF foi um marco para os farmacêuticos à época. Na ocasião, o ensino da farmácia ainda se recuperava da “Reforma Epitácio Pessoa”, em 1901, que reduziu a duração do curso de farmácia para dois anos e precarizou as condições do ensino universitário.

Algumas edições da Revista da ABF: uma delas de 1920

Luiz Oswaldo não chegou a se concretizar. No entanto, a ABF esteve na luta para a separação da escola de farmácia da escola de medicina, o que permitiu que o curso ficasse mais robusto. Além disto, a associação oferece nos dias de hoje cursos voltados aos profissionais”, comenta Carmelinda Afonso. Carvalho também planejava a criação de laboratórios para a realização de cursos práticos, de uma biblioteca com publicações específicas para os estudantes e profissionais, a promoção de congressos e conferências técnico-científicas, além de uma instalação permanente para expor itens relacionados à farmácia moderna e a criação de um montepio exclusivo para farmacêuticos, uma espécie de instituição assistencialista que concederia empréstimos e benefícios aos seus associados em condições especiais.

“O desânimo, a apatia e a inércia pairavam sobre a farmácia. Somente a parte comercial dominava e animava o seu exercício. [...] Por essa época, vivia a classe farmacêutica na mais completa obscuridade, sem conceito algum nos meios científicos e social”, relatava o sócio-fundador da ABF Professor Virgílio Lucas, num artigo publicado na Revista Brasileira de Farmácia, na edição que comemorava o 40º aniversário da entidade. Em 1911, após muitas tentativas da classe, em especial do farmacêutico Orlando Rangel, o

O doutor Luiz Oswaldo de Carvalho, primeiro presidente da ABF

A partir destas propostas, os farmacêuticos começaram a se reunir para elaborar os estatutos que regeriam a entidade. Nomes como José Benevuto de Lima, Alfredo da Silva Moreira, José Coriolano de Carvalho e Virgílio Lucas compuseram a primeira comissão da ABF, ao lado de Francisco de Albuquerque, Octávio Alves Barroso, Manoel Gonçalves Paes Sobrinho, Reynaldo de Aragão, Álvaro Pinto de Souza

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A réplica de uma antiga botica, no Museu Antonio Lago

quadro no meio acadêmico começou a se reverter, com a “Reforma Rivadavia Corrêa”. Porém, a ausência de uma agremiação de abrangência nacional fazia muita falta para a categoria. Foi na sequência deste movimento que surgiu a ABF. Entre as atividades da instituição estava a edição de revistas científicas. Inicialmente, a entidade era responsável pela já existente “Revista de Chimica e Physica”, que divulgava trabalhos de diversas áreas, como medicina, artes e engenharia. Entretanto, passou a editar publicações próprias em 1920. Uma delas era o Boletim da Associação Brasileira de Farmácia, instituído na gestão de Rodolpho Albino. A outra, que existe até os dias atuais, é a Revista Brasileira de Farmácia (RBF). “A RBF pode ser acessada por todos online e gratuitamente, no site www.rbfarma.org.br. Temos poucas revistas no Brasil indexadas e de livre acesso no setor de ciências farmacêuticas. Destaco que, por ser uma publicação indexada, tem um teor, um peso científico de maior relevância. Ela mantém o leitor, estudante ou farmacêutico, sempre atualizado e

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com acesso a conteúdos de qualidade”, ressalta Carmelinda Afonso. As publicações podem ser encontradas na Biblioteca Rodolpho Albino Dias da Silva, que é da ABF e homenageia o ex-presidente da associação. No espaço, é possível encontrar pelo menos sete mil obras distintas da área da farmácia, como revistas e livros especializados. Lá, inclusive, há os originais da Farmacopeia Brasileira e um dos três exemplares do “Plantarum”, um livro do século XVI escrito à mão que reúne monografias sobre plantas medicinais. Em setembro de 1922, a ABF foi responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Farmácia. Neste evento, o original da futura Farmacopeia Brasileira, escrito pelo segundo presidente da ABF, Rodolpho Albino Dias da Silva, foi apresentado. “Até a época, não existia uma farmacopeia brasileira. A que usávamos era a europeia, mas havia discrepâncias como pressão e temperatura, o que atrapalhava no preparo das formulações”, destaca a diretora da ABF.

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O congresso, pioneiro e de abrangência nacional, contou com o apoio do governo e trouxe à associação grande renome e prestígio na sociedade, o que ajudou muito na expansão e no progresso da entidade. No ano seguinte, em 1923, a ABF foi reconhecida como de utilidade pública pelo Decreto Federal nº 4704/23 e pela Lei Estadual 227/62. Em sua trajetória, a ABF contribuiu ainda para a criação de outras entidades farmacêuticas, como a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), o Sindicato de Farmacêuticos do Rio de Janeiro (Sinfaerj), a Academia Nacional de Farmácia e os Conselhos Regionais e Federal de Farmácia, com esforço e o envio de propostas para que a profissão, enfim, pudesse ser regulamentada e a sociedade, protegida.

Caso queira visitar a Associação Brasileira de Farmacêuticos, ela fica na Rua dos Andradas, nº 96, 10º andar, no Centro do Rio de Janeiro O funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 13h às 19h. Além da Biblioteca Rodolpho Albino Dias da Silva, no local funciona também o Museu Antonio Lago, o primeiro museu de farmácia do Brasil, que expõe a réplica de uma farmácia do século XIX. Ele contém um valioso acervo para a memória da categoria, com objetos em perfeito estado de conservação e documentos importantes. O nome do espaço é uma homenagem ao diretor do jornal “Gazeta da Pharmácia”, uma das primeiras publicações exclusivas para farmacêuticos no país. Na internet, A ABF está no endereço www.abf.org.br.

Curiosidades • Em 1941, numa reunião na ABF, o farmacêutico Oto Serpa Grandado colocou em discussão a ideia de se criar um dia para homenagear seus colegas de profissão. “Todas as profissões têm o seu dia, data especial para comemorar o ideal abraçado. Por que não temos o nosso dia?”, indagava Grandado. Assim, veio a proposta do Dia do Farmacêutico. A data escolhida, 20 de janeiro, foi em homenagem ao aniversário da Associação Brasileira de Farmacêuticos por seu destaque entre a categoria. No entanto, ela só foi oficializada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) em 2007, por meio da resolução nº 460/2007. Na mesma data, todos os anos, farmacêuticos que se destacam por sua atuação recebem a Comenda do Mérito Farmacêutico. • Instalada provisoriamente no número 120 da Rua São José, a associação permaneceu neste local por apenas três meses. Ainda em

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1916, no mês de abril, ela se mudou para a Rua da Quitanda, nº 16. No entanto, em 1929, a biblioteca e a secretaria da ABF passaram a funcionar na Rua do Ouvidor, nº 187, em um andar alugado. Somente 20 anos depois, em 1949, o andar na Rua dos Andradas foi adquirido e, em janeiro de 1951, a sede que conhecemos atualmente foi inaugurada e passou a ser chamada carinhosamente de “A Casa da Farmácia” por seus membros. • Todos os integrantes da diretoria da Associação Brasileira de Farmacêuticos são voluntários, ou seja, não recebem dinheiro por administrar a entidade. “As pessoas questionam o porquê de aceitarmos trabalhar de graça, acham que somos doidos ou que há alguma falcatrua. Mas não há nada disso. Trabalhamos na ABF por um senso romântico pela profissão farmacêutica, buscamos a união da nossa classe”, emociona-se Carmelinda.

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eleições

Uma nova diretoria

Dirigentes eleitos no fim de 2015 vão comandar o CRF-RJ pelos próximos dois anos O Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF-RJ) está sob o comando de uma nova diretoria desde o início do ano. Eleita com 4.699 votos, a diretoria é composta pelo presidente reeleito, doutor Marcus Vinicius Romano Athila; pelo vice-presidente, doutor Robson Roney Bernardo; pela tesoureira, doutora Talita Barbosa Gomes; e pelo secretário-geral, doutor José Roberto Lannes Abib. Nas eleições, realizadas em novembro, também foram eleitos quatro conselheiros regionais e um suplente, além do conselheiro federal e seu suplente. Entre os conselheiros regionais, além dos doutores Marcus Athila e Talita Barbosa, que integram a diretoria, também foram eleitos as doutoras Maria Eline Matheus e Silvania Maria Carlos França. A doutora Niára Nazareno entrou como suplente. Para representar os farmacêuticos do Rio de Janeiro em Brasília foi eleita a chapa composta pelos doutores Alex Baiense e Nylza Gonçalves (suplente). A eleição aconteceu exclusivamente pela internet, de 9 a 11 de novembro.

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Capacitação e transparência Os novos diretores defendem uma valorização maior dos farmacêuticos. Entre as propostas apresentadas, estão a expansão do programa QUALIPHARMA (de capacitação profissional, com cursos aos sábados), a criação de turmas de ensino a distância e de cursos baseados na escolha dos profissionais, além de um serviço de atendimento técnico ao farmacêutico. Outras ações planejadas são o estímulo ao empreendedorismo, com apoio técnico para que farmacêuticos possam abrir suas empresas, e o incentivo à criação de consultórios farmacêuticos no Sistema Único de Saúde e na iniciativa privada. Também, a criação do CRF Jovem e CRF Sênior e a implementação de um modelo onde o fiscal atue também como orientador do farmacêutico.

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Marcus Vinicius Romano Athila

Robson Roney Bernardo

Reeleito presidente do CRF-RJ, Marcus Athila possui um grande orgulho por pertencer a uma família de farmacêuticos. Filho e pai de farmacêutico, possui uma verdadeira paixão pela profissão, o que o motivou a se engajar na política de classe. Ele criou o Programa CRF-Itinerante, Tarde com o presidente, Portal transparência, Qualipharma especialização, e foi responsável por idealizar diversas ações sociais e abrir as plenárias à participação dos farmacêuticos. Sua bandeira é um CRF que capacite e atue com transparência. Formado em Farmácia pela Unigranrio, Pós-Graduado em Farmacologia Clínica pela Santa Casa da Misericórdia, é especialista em Geriatria e Gerontologia pela Uerj, pós-graduado em Gestão Ambiental pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ). Foi fundador da Associação dos Farmacêuticos do Estado do Rio de Janeiro (Afaerj) e é membro titular da Academia Brasileira de Farmácia Militar. Membro da Câmara Técnica de Farmácia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia seccional Rio De Janeiro-SBGG-RJ. Também foi reeleito conselheiro.

Foi diretor-tesoureiro na gestão 2014/2015, responsável por resgatar o CRF-RJ de um déficit de mais de R$ 700 mil, herdado da gestão 2012/2013. Além disso conseguiu colocar as contas do conselho rigorosamente em dia e com fiel cumprimento das regras do TCU. Foi o idealizador do programa Qualipharma, maior programa de capacitação já realizado pelo CRF-RJ com mais de 3.600 certificações. Agora, ocupa o cargo de vice-presidente. Professor e diretor adjunto da UFRJ do Pólo de Xérem, atua na área de nanotecnologia. Graduado em Farmácia pela UFRJ (1992), tem mestrado em Química de Produtos Naturais pela UFRJ (1994) e doutorado em Química de Produtos Naturais pela UFRJ (1998), quando defendeu tese que rendeu a primeira produção da vacina contra leishmaniose, que foi adquirida pela GSK e aprovada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Foi gerente da empresa Análise de Toxinas de Microalgas (ATM) e pesquisador da ASSESSA na área de cosmetologia, onde foi responsável em P&D. Tem experiência na área de Química, com ênfase em Química dos Produtos Naturais, tecnologia farmacêutica e cosméticos, ecologia aplicada.

Presidente

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Vice-presidente

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Talita Barbosa Gomes

José Roberto Lannes Abib

Natural de Cabo Frio, sempre foi engajada nos trabalhos relacionados à profissão farmacêutica. É apaixonada por trabalhar na área de saúde, ministra aulas em cursos de pós graduação e técnico; é presidente da Associação dos Farmacêuticos do Estado do Rio de Janeiro (Afaerj). Foi coordenadora da Seccional de Cabo Frio, onde atuou realizando reuniões e estimulando o debate com os farmacêuticos da região. Também foi responsável por inúmeras ações sociais realizadas na região. Graduada em Farmácia pela Universidade Salgado de Oliveira (2010), com Licenciatura em Biologia pela Fundação Educacional da Região dos lagos (FERLAGOS), Especialista em Manipulação Magistral pela ANFARMAG, Especialista em Homeopatia pelo IHB, Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e Ambiente pela Universidade Anhanguera, Supervisora da UPA de São Pedro da Aldeia, pós-graduanda em Prescrição Farmacêutica e Farmacologia Clínica pelo ICTQ e pós-graduanda em Farmácia Hospitalar pela Faculdade da Aldeia de Carapicuíba (FALC).

Responsável Técnico pelo Laboratório de Análises Clínicas da Unigranrio (Laborafe), atua para a regulamentação da prescrição farmacêutica nos municípios e por melhorias nas farmácias comunitárias. Possui graduação em Farmácia Habilitação Bioquímico pela Universidade do Grande Rio (1991). Curso de Pós-Graduação em Analises Clinicas, Imunodiagnostico e gestão Universitária, Foi Professor-assistente da Universidade do Grande Rio e Conselheiro eleito do Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro para o período 2011 a 2014 e 2015 a 2018, atuando principalmente nas seguintes áreas: Análises Clínicas, Deontologia e Legislação Farmacêutica. Presidente da Comissão de Ensino do CRF-RJ (2011, 2012 e 2013); Membro da Comissão de Ensino do CRF-RJ (2014); Coordenador da Câmara Técnica de Analises Clínicas do CRF-RJ (2010, 2011, 2012 e 2013); Membro da Câmara Técnica de Análises Clínicas do DGH do Estado do Rio de Janeiro (2008, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013); Membro Titular do Conselho Municipal de Saúde de Niterói -RJ (2012 a 2013), Membro da Comissão de tomadas de Contas do CRF-RJ (2012 a 2015). Recebeu a Comenda do Mérito na ABB.

Tesoureira

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Secretário-geral

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eleições

CONSELHEIROS Candidatos

Votos

Percentual

Válidos

Maria Eline Matheus

4.893

10,91

14,86

Talita Barbosa Gomes

4.627

10,32

14,05

Marcus Vinicius Romano Athila

4.518

10,07

13,72

Silvania Maria Carlos França

3.552

7,92

10,79

Niara Sales Nazareno

3.052

6,80

9,27

Rogério Ribeiro Dias

2.868

6,39

8,71

Francisco Alves Farias Filho

2.789

6,22

8,47

Thiago Lopes das Dores

2.658

5,93

8,07

Francisco Claudio de Souza Melo

2.556

5,70

7,76

Elias da Silva Figueira

1.416

3,16

4,30

Votos nulos

7.400

16,50

-

Votos em branco

4.523

10,08

-

Total

44.852 (32.929 válidos)

100

100

DIRETORIA Chapa

Votos

Percentual

Válidos

Compromisso Farmacêutico

4.699

41,91

50,98

União Farmacêutica

4.519

40,30

49,02

Votos nulos

1.691

15,08

-

Votos em branco

304

2,71

-

Total

11.213 (9.218 válidos)

100

100

CONSELHEIRO FEDERAL Chapa

Votos

Percentual

% Válidos

Compromisso Farmacêutico

4.281

38,18

46,59

União Farmacêutica

4.010

35,76

43,64

Família Farmacêutica

465

4,15

5,06

Chapa 3

433

3,86

4,71

Votos nulos

1.706

15,21

-

Votos em branco

318

2,84

-

Total

11.213 (9.189 válidos)

100

100

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saúde pública

Cura do câncer? Sem aprovação da Anvisa, fosfoetanolamina é usada por pacientes e vira motivo de polêmica

Apontada por muitos como a cura do câncer, a fosfoetalonamina ganhou destaque entre pesquisadores, pacientes e sociedade em agosto do ano passado. Alvo de pesquisas do professor Gilberto Orivaldo Chierice, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), a substância chegou a ser distribuída à população no interior paulista, mesmo sem liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A medida causou polêmica e dividiu profissionais de saúde, juristas e pesquisadores sobre seu uso. A divulgação dos supostos efeitos da fosfoetanolamina levou mais de 1.500 pacientes a entrarem com ações para obter o direito de usar a substância. Alguns pacientes tiveram sucesso e o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em outubro, o ministro Edson Fachin concedeu uma liminar a uma paciente, garantindo o fornecimento da droga. “O fundamento invocado pela decisão recorrida refere-se apenas à ausência de registro na Anvisa da substância requerida pela peticionante. A ausência de registro, no entanto, não implica, necessariamente, lesão à ordem púbica”, afirmou o ministro. A questão ainda vai ser levada ao plenário do STF, que dará uma decisão final. Enquanto isso, governos e pesquisadores correm para tentar aprofundar os estudos, comprovando a eficância da droga para, com isso, tentar regularizar a substância. No início de janeiro, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, solicitou ao Instituto Nacional de Câncer (Inca) a elaboração de um parecer a respeito da substância. De acordo com

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Lewandowski, as informações serão necessárias à análise do pedido, uma vez que faltam dados sobre a segurança da droga para a saúde dos pacientes. Superintendente de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, o farmacêutico Anderson Lourenço da Silva acredita que ainda há um longo caminho até a comprovação da eficácia da fosfoetalonamina. “Baseados nas informações cientificas disponíveis até o momento, podemos afirmar que é apenas mais uma substância candidata a medicamento. Os estudos realizados até o momento com o composto ainda estão nas fases preliminares do longo processo de desenvolvimento de um novo medicamento. Pelo que sabemos, as pesquisas realizadas com rigor científico e metodologias adequadas foram somente testes in vitro (cultura de células) e em animais. Estes estudos são insuficientes para comprovar sua segurança e eficácia nos seres humanos”, avalia o superintendente. Silva destaca que há uma lacuna de dados entre os resultados das pesquisas e o que é necessário. “Uma grande expectativa do senso comum é a descoberta da verdadeira ‘bala mágica’ capaz de curar todas as doenças. Entretanto, como nós, profissionais de saúde, sabemos das questões técnicas envolvidas no desenvolvimento de um novo medicamento e da complexidade do processo metabólico e fisiológico do corpo humano, devemos ter maior cautela com essas promessas simplistas”, comenta o superintendente.

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Ele também destaca a importância do profissional farmacêutico se manter bem informado sobre o assunto para prestar melhores esclarecimentos à sociedade: “A recomendação por profissionais do uso de substâncias que não têm comprovação de eficácia e segurança fere princípios éticos e expõe a população a riscos que ela, diferente dos profissionais, não consegue dimensionar. E, como profissional da saúde, recomendo que os pacientes mantenham o acompanhamento por médicos especialistas, sigam os tratamentos convencionais prescritos, que tenham eficácia comprovada e as recomendações médicas”. Em nota técnica divulgada em outubro, a Anvisa alertou que o uso da substância não tem eficácia nem segurança sanitária. “As terapias inovadoras desenvolvidas por pes-

quisadores renovam a esperança de pacientes e a Anvisa atua comprometida em promover o acesso a novas terapias, entretanto é essencial que a agência receba a solicitação de registro ou pesquisa clínica com a documentação que tenha evidências de eficácia, efetividade, eficiência e qualidade”, diz o comunicado. No fim do ano passado, o governo federal criou um grupo de trabalho para pesquisas sobre a fosfoetanolamina. Até 2017, serão destinados R$ 10 milhões para os estudos, através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Por causa da repercussão sobre a droga, a expectativa é que os resultados sejam publicados numa página na internet destinada ao tema. “Espero que tenhamos no médio prazo resultados científicos de qualidade que nos permitam emitir opinião mais qualificada sobre esse assunto”, ressalta o superintendente.

Como age a fosfoetanolamina O câncer é composto por vários aglutinados celulares provocados pela multiplicação descontrolada de uma célula anômala. As células cancerígenas não são destruídas pelo nosso sistema imunológico porque a mitocôndria não está ativada e as organelas não estão totalmente ativas. É aí que a fosfoetanolamina entra em ação. Ela se liga aos lipídios e penetra na célula cancerígena. Em seguida, ativa a mitocôndria, fazendo com que o sistema imunológico reconheça a célula anormal e, por fim, a ataque. Isso ajuda a controlar a expansão dos tumores e pode, até mesmo, ajudar a eliminá-los.

substância foi usada, qual a dose e frequência de administração, se os pacientes passaram por alguma cirurgia de remoção do tumor e nem se outros medicamentos estavam sendo utilizados concomitantemente”, esclarece Silva. O superintendente também acredita que, se os institutos e as universidades brasileiras trabalhassem de forma mais coesa, talvez já houvesse mais informações sobre a fosfoetanolamina e outras substâncias que possuem potencial para se tornarem medicamentos.

Há pessoas que dizem que, após usar a substância, se curaram do câncer. Entretanto, Anderson Silva afirma que nem o próprio grupo de pesquisadores pode confirmar e é preciso que os devidos estudos sejam realizados.

“Espero que o caso da fosfoetanolamina sirva de exemplo para que o potencial das universidades brasileiras seja melhor aproveitado. Que seja um embrião para a articulação em rede das universidades e institutos para a realização de pesquisas aplicadas que deem retorno à sociedade”, reitera Anderson Silva.

“Os relatos isolados têm pouco ou nenhum valor científico, uma vez que não são bem conhecidas as características dos pacientes, qual tipo de câncer foi tratado, em qual estágio se encontrava a doença, as condições em que a

Atualmente, o câncer é o responsável pela morte de pelo menos 8 milhões de pessoas ao redor do mundo todos os anos. No Brasil, o Inca estima que quase 600 mil desenvolverão a doença pela primeira vez só em 2016.

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carreira

Terapia floral, uma área promissora Regulamentada pelo CFF, atuação clínica do farmacêutico no setor dá novo fôlego aos profissionais

Ansiedade, tensão, estresse, raiva, insegurança. Todos, ao menos uma vez, já tiveram emoções difíceis de lidar. E, muitas vezes, é preciso ajuda para superar estes sentimentos, que podem atrapalhar a vida de qualquer um. Como profissional de saúde, o farmacêutico também está apto a prestar este auxílio. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) regulamentou, em maio do ano passado, a atuação do farmacêutico no setor, através da Resolução 611. O tratamento foi desenvolvido entre as décadas de 1920 e 1930 pelo médico Edward Bach, na Inglaterra, e é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Bach identificou e descreveu 38 estados emocionais vulneráveis e os relacionou com 38 essências naturais correspondentes para tratar os indivíduos. Toda a pesquisa dele foi realizada e distribuída gratuitamente. Nas palavras do próprio médico, “para que pessoas como você possam ajudar a si mesmas, seja na doença ou para se manterem bem fortes”.

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Após os resultados positivos obtidos por ele, outros pesquisadores desenvolveram diferentes sistemas florais. No Brasil, inclusive, foram desenvolvidos os sistemas Ararêtama, que utiliza plantas da região da Mata Atlântica, e Minas Gerais. “A terapia de florais possibilita o reequilíbrio das emoções como forma preventiva da manutenção da saúde. Ela não substitui a necessidade de cuidados médicos ou psicológicos que os processos terapêuticos dos pacientes venham a exigir”, esclarece Sheila Garcia, professora associada da Faculdade de Farmácia da UFRJ, que também realiza atendimentos a pacientes que procuram a terapêutica dos florais. Ela orienta que, ao contrário do que muitos pensam, o tratamento com florais não é uma modalidade da homeopatia e que, inclusive há um conselho nacional específico para a terapia floral, o Conaflor, que antes da resolução do CFF regulamentava a prática desta terapêutica.

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“O farmacêutico pode lidar tanto com a manipulação das formulações quanto como terapeuta, mediante a realização de cursos específicos”, explica a especialista. O farmacêutico bioquímico Luciano Coelho, do Paraná, também lida com a terapia floral e complementa que, para aqueles que quiserem atuar na área, é recomendável fazer um bom curso de formação. Segundo Coelho, há dois tipos de curso. Um é o livre, que deve ter a duração mínima de 180 horas para que se possa conhecer e aprender os fundamentos básicos que ajudarão na construção do caminho do estudante na floralterapia. A outra opção é fazer um curso de pós-graduação latu sensu ou strictu sensu, desde que seja reconhecido pelo MEC. “Sempre que possível, procure fazer o curso em instituições que estejam reconhecidamente ligadas a profissionais e entidades de classe da área da saúde. Um bom curso vai disponibilizar em suas diretrizes curriculares conteúdos estruturantes que priorizem a ética, os fundamentos energéticos gerais ligados às diferentes terapias integrativas, o estudo do ser humano tratado no seu pleno (físico, mental e espiritual), conduzir a vivência prática em floralterapia e, na minha opinião, o mais importante: estar fundamentalmente embasado pelo sistema desenvolvido pelo Dr. Bach, sem deixar de ensinar o contexto de outros sistemas florais reconhecidamente seguros e funcionais”, ensina o profissional. Segundo a Resolução 611 do CFF, aqueles que já forem experientes na área mas sem certificação, podem solicitar o reconhecimento juntos aos seus CRFs. Para isso, até maio de 2016, devem apresentar um termo de consentimento informado de atendimento a pelo

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menos dez pacientes. A norma na íntegra pode ser acessada no site do Conselho Federal de Farmácia. Luciano Coelho também destaca que, para ser um bom terapeuta, não basta apenas conhecer os florais. É preciso vivenciar a experimentação com os remédios e estar preparado para ouvir as demandas das pessoas que buscarão auxílio. “Uma habilidade desejável é saber ouvir para poder ajudar os pacientes na percepção do que eles podem superar ou atravessar por suas adversidades porquanto mantiverem equilibrada a saúde emocional”, explica o farmacêutico. Outra orientação que Luciano dá para quem quiser conhecer a floralterapia com um olhar mais “clínico” é ler a principal obra publicada sobre o assunto, “Os doze curadores e outros remédios”, de Bach. Ela pode ser acessada gratuitamente pelo site www.bachcentre. com/centre/download , e há uma versão traduzida para o português. Quanto às expectativas sobre a terapia no Brasil, o farmacêutico acredita que ela caminha para uma popularização. “O farmacêutico, sempre muito receptivo às práticas que tragam benefícios aos pacientes, tem o perfil ideal para contribuir na divulgação da floralterapia, propiciando o uso racional das essências florais. A regulação da atividade de farmacêutico na área deve ser vista como uma grande conquista para a categoria, que adquiriu um diferencial para a sua prática clínica em benefício direto ao bem-estar da população brasileira”, comemora o especialista.

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ética

Na batalha Aos 85 anos, ex-senador Pedro Simon percorre o país dando palestras, vê a ética como fundamental e se revela impressionado com os jovens Com 65 anos dedicados à vida pública, o exsenador Pedro Simon, de 85, não para. Com o mesmo ânimo com que ocupava o plenário do Senado, ele percorre o país dando palestras sobre ética e a situação política do país. Advogado e professor universitário, o gaúcho de Caxias do Sul vê com entusiasmo os debates nas redes sociais e afirma que a ética deve permear toda a vida do cidadão. “Ética é o sentimento, na vida, no trabalho, um padrão para a atividade. Se é médico, tem uma profunda responsabilidade, se é empresário, tem que pagar os impostos, pagar direito os empregados, se é um operário, tem obrigação de trabalhar para produzir”, afirma Simon.

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Vereador, deputado estadual e senador por três mandatos, Simon também foi governador do Rio Grande do Sul e ministro da Agricultura. Ao avaliar o atual momento político, ele vê uma juventude empolgada e que não se orienta apenas pela televisão e pelos meios de comunicação tradicionais. “A opinião pública não se orienta mais pelas TVs, mas pelas redes sociais, que estão espalhadas. Percorri o Brasil inteiro e o que tem me impressionado é que a mocidade está empolgada, vai para a rua, vai debater, vai para as redes sociais”, analisa. Simon destaca que o país vive um momento

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crucial, pelas investigações pela primeira vez estarem indo a fundo. “É a primeira vez que fazem investigações sérias. Antes só ladrões de galinha eram presos. O Brasil era o país da impunidade. No suicídio de Getúlio, assumiu o vice-presidente e o que se falou não deu em nada. Na renúncia de Jânio Quadros, fez-se a revolução e colocaram uma pedra em cima. Collor, a mesma coisa. Desta vez é diferente, a polícia está investigando, a Procuradoria Geral da República está ativa, o juiz Sérgio Moro está tendo uma atuação fantástica. Passei anos pedindo uma CPI dos Corruptores no Senado, mas só prendiam os corruptos. De repente aparece este escândalo e o mais importante é que os ricos estão indo para a cadeia, respondendo a processos, as coisas estão sendo reveladas, debatidas. Isso é tudo uma questão ética”, destaca ele.

"Ética é o sentimento, na vida, no trabalho, um padrão para a atividade" O Senador Pedro Simon: empolgação com debates nas redes sociais

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câmara técnica

Mais autonomia para os farmacêuticos estetas

CFF aprova resolução ampliando área de atuação do profissional na saúde estética

Toxina botulínica, preenchimento dérmico, carboxiterapia, intradermoterapia/mesoterapia, agulhamento e microagulhamento estético e criolipólise. Estes procedimentos são alguns dos listados na Resolução 616/15 do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que regulamentou a realização de procedimentos estéticos invasivos não cirúrgicos por farmacêuticos. Aprovada no fim de novembro, a medida traz mais segurança e autonomia para os farmacêuticos que atuam na área. A proposta surgiu de uma demanda do mercado e vinha sendo elaborada desde junho pelo Grupo de Trabalho de Estética do CFF. Inicialmente pensada como nota técnica, que ampliaria o alcance da Resolução 573/13 - que já permitia peelings químicos e mecânicos, eletroterapia, radiofrequência estética, entre outros -, a norma se transformou em resolução após decisão dos conselheiros federais. "São procedimentos menos invasivos que outros já praticados de rotina pelos farmacêuticos. A regulamentação é justa e pertinente", afirmou o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João, na ocasião da aprovação pelo plenário. Integrante do Grupo de Trabalho de Saúde Estética do CFF e coordenador da Câmara Técnica de Saúde Estética do CRF-RJ, o farmacêutico Alan Izolani destaca que a repercussão da resolução foi imediata para quem já atua na área.

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“A resolução deu mais tranquilidade para o farmacêutico na relação com fornecedores e também para prescrever”, analisou Izolani, que esteve reunido em dezembro com os demais integrantes da Câmara Técnica para debater a resolução. A medida aprovada pelo CFF traz ainda os requisitos para o farmacêutico que deseja atuar na área. Será preciso que o profissional possua pós-graduação lato sensu em saúde estética reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC), ou dois anos de experiência comprovada na área ou tenha feito curso livre na área de estética, reconhecido pelo CFF.

Norma traz lista exemplificativa A relação de procedimentos invasivos não cirúrgicos apresentada na Resolução é exemplificativa e leva em consideração que apenas as intervenções para fins estéticos que atinjam órgãos internos são de atuação exclusiva de médicos. Logo, outros procedimentos podem ser operados pelos demais profissionais de saúde. O coordenador da Câmara Técnica de Estética do CRF-RJ, Alan Izolani, comentou alguns dos procedimentos listados na norma.

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Alan Izolani durante a reunião da Câmara Técnica de Saúde Estética

Aplicação de toxina botulínica tipo A: “Utilizada para, principalmente, imobilização dos músculos responsáveis pelas rugas dinâmicas (aquelas que se formam de acordo com nosso movimento), pés de galinha, rugas da testa ou entre as sobrancelhas, como também em aplicações para hiperidrose e sorriso gengival. O uso da toxina botulínica para farmacêuticos é estritamente estético”

Preenchimentos dérmicos: “São usados para aumentar lábios finos, melhorar contornos superficiais, suavizar rugas faciais, eliminar rugas e melhorar a aparência das cicatrizes. Também podem ser usados para preenchimento de mãos, glúteos entre outros. Os preenchedores a serem utilizados por farmacêutico são apenas os reabsorvíveis, tais como: ácido hialurônico, hidroxiapatita de cálcio e ácido l-polilático”

Carboxiterapia: “Consiste na aplicação de injeções de CO2, e desempenha várias aplicabilidades estéticas, como tratamento de estrias, celulite, gordura localizada, flacidez, olheiras, marcas de expressão, alopecia, entre outros”.

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Mesoterapia: “Consiste na aplicação de injeções de ativos farmacológicos diretamente na região a ser tratada, sendo também um método muito versátil que trata estria, celulite, gordura localizada, flacidez, olheiras, marcas de expressão, alopecia, microvasos, entre outros”.

Agulhamento/ microagulhamento: “É baseado no uso de agulhas que perfuram a pele sutilmente estimulando, assim, sua regeneração, promovendo a liberação do colágeno e a formação de uma nova camada de pele, mais espessa, que preencherá rugas, estrias e outras imperfeições”.

Criolipólise: “Se trata de um método não invasivo, que é utilizado para tratamento de gordura localizada, pode ser aplicada em várias partes do corpo. Através das baixas temperaturas alcançadas por essa tecnologia os adipócitos entram em processo de apoptose. Em até 90 dias após a aplicação pode se reduzir até 30% da gordura localizada no local da aplicação”

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entidades

Abrafarm tem novo comando

O coronel Júlio Lopes Queiroz Filho durante solenidade da Academia

Novo presidente da instituição organiza cursos e planeja realizar um congresso em 2017 A Academia Brasileira de Farmácia Militar (Abrafarm) inicia 2016 cheia de projetos. A nova diretoria, que tomou posse no fim do ano passado, organiza um Curso Prepatarório para Concursos de Farmacêuticos, planeja realizar mini-cursos trimestrais de atualização para os profissionais, além de um Congresso Internacional Militar para o ano que vem. "A Academia ficou adormecida nos últimos anos. Temos como objetivo dar uma maior visibilidade à instituição", diz o presidente, o coronel Júlio Lopes Queiroz Filho, anunciando ainda a edição de um boletim para divulgação das atividades científicas e culturais e o lançamento do site da instituição. O coronel assumiu a presidência no dia 30 de novembro de 2015, ao lado do doutor Fernando Sávio Fonseca de Melo (vice-presidente), do doutor Rogério Ribeiro Dias (secretário-geral), da doutora Andreia do Amaral Nunes (primeira-secretária), do doutor Robson Ferreira Ferraz Santos (tesoureirogeral) e da doutora Aline Lima de Moura Natarelli (primeira-tesoureira). O mandato é para o biênio 2016/2017.

A Abrafarm possui 84 cadeiras, sendo que 71 estão ocupadas. Tem ainda 14 membros aspirantes e 74 membros honorários. Anualmente é divulgado um edital de convocação de novos membros. Para participar, é preciso ser oficial farmacêutico, médico ou cirurgião-dentista das Formas Armadas ou Auxiliares, possuir ao menos 10 anos de formado, entre outros requisitos. A diretoria da Abrafarm se reúne mensalmente e, em julho, mês da fundação, ocorre uma grande festa de aniversário, reunindo todos os acadêmicos. O coronel Júlio Lopes Queiroz Filho, novo presidente da Abrafarm

Fundada por Farmacêuticos das Forças Armadas em 16 de julho de 1985, para unir farmacêuticos militares e civis, além de profissionais da área de saúde, a Academia tem como objetivo promover estudos farmacêuticos, científicos e culturais, estimulando o aperfeiçoamento profissional, além de manter intercâmbios com outras associações semelhantes para promover o aprimoramento científico dos seus membros.

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artigo

Nanomedicamentos: o futuro e seus desafios Robson Roney Bernardo Vice-presidente do CRF Um dos campos mais promissores, cientificamente falando, é a nanotecnologia. Nanotecnologia refere-se à concepção, caracterização, produção e aplicação de materiais, dispositivos, íons, esferas com propriedades físicoquímicas diferentes do tamanho “original’ pois sua escala equivale a 10-9m. A ciência de nanotecnologia poderemos construir novos materiais, esferas metálicas ou, ainda, polímeros que podem ser utilizados na produção de nanomedicamentos por apresentar uma melhor biocompatibilidade e direcionamento mais seletivo a órgãos chaves ou tumores com menor quantidade de droga e toxicidade. Isto pode promover uma nova geração de fármacos ou ainda uma apresentação diferente dos mesmos, com potenciais farmacológicos diferentes das drogas originais com melhor ação farmacológica. Estas características podem ser empregadas em tratamentos do câncer. O câncer pode afetar diversas partes do corpo e, em geral, é causado por um crescimento desordenado de células anormais que podem invadir tecidos e órgãos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima um ritmo crescente de casos, com previsão de 13 milhões de casos no ano

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de 2030, sendo 70% destes em países menos favorecidos economicamente. Este quadro nos mostra um desafio científico e inovação em terapias alternativas mais eficazes do que a radioterapia e a quimioterapia. Nesta, incluem-se os nanofármacos, que poderão ser um futuro alternativo a estes tratamentos convencionais. Para isto podemos ter sistemas racionais de liberação controlada e dirigida de fármacos em células-alvos como nanocarreadores que possuem algumas vantagens, como menor uso da droga, redução da dosagem, reduzindo os efeitos colaterais, uma maior seletividade além de uma liberação controlada da droga. Os nanocarreadores podem possuir diâmetro de 10-800nm e tem apresentações como lipossomas, íons metálicos, dendrímeros, nanotubos, nanopartículas de cerâmicas entre outras. Em geral, nestes nanocarreadores são utilizados substâncias biocompatíveis para minimizar as aplicações e reações a estes fármacos. Há cerca de 150 drogas entre fases de testes e aprovadas com esta metodologia. Alguns destes estão em uso em oncologia, como o paclitaxel e doxorrubicina, por exemplo. O paclitaxel é um potente

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agente anticancerígeno em tratamentos de câncer como da mama, cérebro e ovário. Na forma de nanomedicamento possui tamanho de 100-200nm e foi um dos primeiros quimioterápicos aprovado pelo FDA (Food Drug Administration). As formulações de paclitaxel encapsulados em nanopartículas obtiveram uma eficiência 13 vezes maior que a utilização da droga livre. A Doxorrubicina possui características tanto polares quanto apolares (anfifílica) sendo administrada por via venosa. Entretanto sua baixa penetração e limitada distribuição em tumores sólidos são as suas fragilidades como terapia, além de sua afinidade pelos tecidos cardíacos. Mas com a combinação de nanomoléculas de ácido docosa-hexanóico (DHA), a doxorrubicina aumentou a sua sensibilidade e absorção em células cancerosas melhorando a sua terapia nos pacientes. Apesar dos cenários serem promissores sobre os nanomedicamentos, há desafios a serem alcançados, como os efeitos adversos da aplicação de materiais nanoestrututrados no nosso corpo em questão de toxicidade e seus efeitos colaterais. Para isto, uma nova ciência se apresenta neste momento que é a nanotoxicidade, para saber os riscos da toxicidade das nanopartículas e suas incertezas no nosso corpo. Outro desafio para a área de nano é o setor de regulamentação, que carece uma legislação mais específica, bem como a discussão do que é ser nano ou “quase nano”, onde várias sociedades científicas farmacêuticas discutem isto. De qualquer forma, com um grande arsenal terapêutico atual e novas formas de apresentação de drogas, surgirá em breve uma nova categoria de fármacos que possuem dissolução e propriedades físicos químicas diferentes em uma escala menor, com vantagens e desafios a serem alcançados.

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Referências 1. Caixeta, AV & Binsfeld,PC Nanomedicamentos e Nanocarreadores de drogas para o uso terapêutico de Câncer. PONTÍFICA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM VIGIL NCIA SANITÁRIA. Acesso em: 30 dezembro. 2015. 2. WHO. World Health Organization. Cancer. Fact sheet n. 297. Disponível em: <http:// www.who.int/mediacentre/factsheets/ fs297/en/>. Acesso em: 30 dezembro. 2015. 3. WEI, A.; MEHTALA, J. G.; PATRI, A. Challenges and opportunities in the advancement of nanomedicines. Journal of Controlled Release, v. 164, p. 236–246, 2012. 4. Pereira, IO & Binsfeld,PC NANOMEDICAMENTOS: O CENÁRIO DE REGULAMENTAÇÃO NO BRASIL PONTÍFICA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM VIGIL NCIA SANITÁRIA. Acesso em: 30 dezembro. 2015. 5. SIDDIQUI, I. A.; ADHAMI, V. M.; CHRISTOPHER, J. C. et al. Impact of nanotechnology in cancer: emphasis on nanochemoprevention. International Journal of Nanomedicine, v.7, p. 591-605, 2012.

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