A HISTÓRIA DE WALACHAI João Benno Wendling
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oão Benno Wendling foi professor. Nas regiões de imigração alemã, professores enriqueciam as co-
munidades. Formados em seminários menores ou de professores para as regiões coloniais, eram a alma das comunidades. Além da formação pedagógica, tinham formação musical. Tocavam o harmônio, regiam corais, animavam o canto e na ausência do padre ou do pastor realizavam sepultamentos e confortavam moribundos. Dirigiam cultos. A chave da igreja ficava com eles. Eram conselheiros. Suas casas, simples como as dos agricultores, eram centros de cultura. Suas bibliotecas, por pequenas que fossem, reuniam saber e espalhavam o belo das letras. Eram cronistas. Preservavam memória. Professores também eram agricultores. Seu sustento não vinha tanto das mensalidades escolares; vinha da terra por eles lavrada e semeada. Professores eram representantes e difusores de livros, de jornais, de almanaques. Tornavam a picada mais culta. Eram poliglotas. Dominavam o alemão e o português, o latim, por vezes o grego e algo do francês. Transmitiram o bilingüismo a seus alunos, até que governantes insanos reduziram nossas populações ao semianalfabetismo. João Benno Wendling foi tudo isso em Walachai. Não fosse ele, seríamos mais pobres; mais pobre também seria Walachai. Não saberíamos do cotidiano do professor paroquial. Perderíamos a noção da vida nas pequenas comunidades das picadas, de sua organização social e econômica. João Benno Wendling preservou história familiar, tornou-se genealogista. Não se interessou meramente por nomes, mas pela história atrás dos nomes. Com o que coletou e organizou em seu livro, não nos legou apenas a História de Walachai, mas importante capítulo da história de populações brasileiras, descendentes de imigrantes.
Martin N. Dreher - historiador 2
A HISTÓRIA DE WALACHAI João Benno Wendling
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Autor João Benno Wendling Projeto e Coordenação Editorial Rejane Zilles Colaboração Editorial Evânia Reichert Adaptação e Revisão de Conteúdo Rejane Zilles Digitação do Manuscrito Editora Armstadt Revisão da Digitação Andreia Laux Ternus Iara Faccini Revisão dos Textos em Alemão Christine Wollowski Jozi Patrícia Schuck Foto da Capa João Ricardo Projeto Gráfico Alphaville Publicidade Cristiane Löff Iara Faccini Rejane Zilles Diagramação Alphaville Publicidade Proforma Design Revisão Final Ester Mambrinni Produção Gráfica Cristiane Löff Realização Zilles Produções Culturais Apoio Prefeitura de Morro Reuter CORAG Grupo Herval Mahle - Metais Leves Sicredi 4
A HISTÓRIA DE WALACHAI João Benno Wendling
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ISBN nº 0-9553010-0-9 “Todos os direitos reservados à Zilles Produções Culturais Ltda” Rua Paissandu 156 /1205 Rio de Janeiro/RJ -22210 080 Tel. 21 2265 3065
2013
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agradecimentos
Ao longo dos anos em que conduzi este projeto contei com uma verdadeira rede de apoiadores. Essa publicação só se tornou possível pela soma de esforços de várias pessoas, que doaram seu tempo e seu trabalho, para que a História de Walachai saísse do antigo caderno de capa dura e chegasse aos leitores. Agradeço com carinho, a Evânia Reichert e Iara Faccini, pela colaboração infinita e parceria de trabalho desde os primeiros passos. A Ademir Schneider por acreditar no sonho e por abrir portas durante todo o processo. A Ana Adams pelas primeiras ideias de criação do projeto gráfico. À equipe da Alphaville Publicidade pela paciência e dedicação e a Cristiane Löff por ter aceitado o desafio de finalizar o projeto gráfico. Ao fotógrafo João Ricardo pela generosidade e talento. A Silvane Klaus pelo valioso garimpo de material junto aos moradores de Walachai. A Lia Buttenbender, Elizabetha Alzira Henrich e Lucila Hoff pelo empréstimo de fotos e material ilustrativo de época. A Claus Hoppen, Agnelo Seger e Renata Menasche pela preciosa contribuição voluntária. À família do professor Benno pela confiança e às netas Cristiane e Mariana Wendling - pela ajuda no resgate e coleta do material original e pela condução dos assuntos com a família. Ao prefeito de Morro Reuter Sr. Adair Bohn, ao Secretário de Educação e Cultura Márcio Malgarin e a Andreia Laux Ternus por todo o apoio. À equipe da CORAG pelo acompanhamento e inestimável apoio gráfico. Aos amigos próximos pelo carinho e torcida para que tudo desse certo: Susana Vinzón, Sergio Sbragia, Aline Casagrande, Armelle Enders, Lu Araujo . A Jards Anet pelo companheirismo de todas as horas. E ainda a Christine Wollowski, Jozi Patrícia Schuck, Martin Dreher, Nélio Schmidt, Ana Maria Zilles, Ester Mambrini, Aline Klaus, Ana Ferguson, Solange Bighetti e Ledi Klagenberg pela colaboração em várias etapas. E a todos aqueles que sempre acreditaram que um dia o livro seria publicado.
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“Se queres ser universal, fala da tua aldeia”. Leon Tolstói
“Eu escrevia de noite ou nos dias de chuva. Como professor aposentado, me vejo obrigado a trabalhar na roça durante o dia, para poder viver como convém à pessoa humana.” João Benno Wendling
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Sumário
Prefácio.............................................................................................................................. 13
Introdução......................................................................................................................... 17
1.
Reprodução do Diário de Viagem de Peter Wickert ao Brasil ..................................... 21
2.
A História de Mathias Mombach, o Fundador de Walachai ........................................ 29
3.
A Casa do Fundador de Walachai.................................................................................... 31
4.
A Origem do Nome “Walachai”...................................................................................... 37
5.
O Povoamento de Walachai............................................................................................. 55
6.
O Envolvimento de Walachai na Revolução Farroupilha.............................................. 73
7.
A Presença de Walachai na Guerra do Paraguai............................................................. 75
8.
Episódio dos “Mucker”..................................................................................................... 77
9.
Envolvimento de Walachai na Revolução Federalista.................................................... 79
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10. Walachai e a Primeira Guerra Mundial.................................................................................94 11. Participação de Walachai na Revolução Constitucionalista........................................... 95 12. Walachai e a Segunda Guerra Mundial........................................................................... 97 13. Situação Geográfica: Topografia e Clima de Walachai................................................. 103 14. A Vida dos Primeiros Moradores................................................................................... 107 15. Os Utensílios................................................................................................................... 111 16. Os Móveis ....................................................................................................................... 113 17. Os Instrumentos Agrícolas ............................................................................................ 115 18. Os Meios de Transporte................................................................................................. 117 19. As Estradas....................................................................................................................... 121 20. A Vida Religiosa.............................................................................................................. 127 12
21. A Educação...................................................................................................................... 159 22. Os Meios de Comunicação............................................................................................. 179 23. Agricultura....................................................................................................................... 187 24. Diversões - Lazer - Festas................................................................................................ 197 25. Ocorrências em Walachai............................................................................................... 215 26. Cartas do Outro Lado do Oceano Atlântico.................................................................. 235 27. Relatório de Maria Wendling sobre seu Estágio na Alemanha.................................... 241 28. Poesias, Cantos, Prosa e Discursos da Gente de Walachai........................................... 247 29. Biografias e Fotos de Professores de Walachai.............................................................. 269 30. Bodas de Ouro e de Diamante........................................................................................ 283 31. Palavra Final.................................................................................................................... 287 13
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Prefácio
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onheci o professor Benno quando iniciava a pesquisa de campo para o documentário Walachai. Fiquei encantada com aquele homem simples e amável, que me apresentava com orgulho seu pequeno tesouro guardado há anos na escrivaninha do quarto: um caderno grosso, de capa dura e folhas pautadas. Esse era o único exemplar de A História de Walachai, uma obra escrita a mão, com caligrafia alinhada, entremeada de fotos antigas, recortes e documentos. O professor trabalhou obstinadamente, ao longo de nove anos, para registrar a história oral de seu povoado em um livro. Para isso, foi de casa em casa recolhendo depoimentos dos habitantes mais antigos, investigando a origem da pequena comunidade e a chegada dos primeiros imigrantes. Com parcos recursos pessoais, viajava de ônibus até a cidade mais próxima para consultar bibliotecas, arquivos municipais e documentos das paróquias. O seu precioso relato me marcou tanto que alterei o projeto inicial de filmagem: resolvi fazer antes um curta-metragem para contar essa peculiar historia do professor agricultor. Assim nasceu o filme O Livro de Walachai. Durante a elaboração do roteiro e ao longo das filmagens conversamos horas a fio. Tínhamos uma grande afinidade pessoal. Ele se mostrava feliz por encontrar alguém interessado em suas ricas histórias. ‘Tu me tiraste da solidão’, disse-me um dia. E eu me nutria de sua sapiência, lucidez e elegante amabilidade. O livro do professor é um verdadeiro resgate histórico da cultura desta pequena comunidade. Aborda as práticas coletivas, tais como o trabalho da roça e a vida religiosa e social. Também trata dos impactos sofridos pelos colonos nas duas grandes guerras mundiais e nos conflitos de abrangência local, como a Guerra dos Farrapos e a Revolução Federalista. E ainda, permite sentir os reflexos de acontecimentos nacionais na colônia distante. A obra extrapola o registro factual, aportando um olhar singular e privilegiado sobre um pedaço do Brasil ainda pouco conhecido. Ele nos revela a dinâmica de vida dos colonos 15
alemães no início do século 20; e, também conta histórias protagonizadas por moradores da região em décadas posteriores. A história do professor ganhou notoriedade já em 2007, quando o curta metagem O Livro do Walachai foi lançado no cinema e obteve ótima repercussão na mídia. Na época, ainda vivo, ele participou de festivais e debates em universidades, deu entrevistas e recebeu muitas homenagens. Era o reconhecimento por sua tocante missão. O professor ficou realmente muito gratificado com o filme. Entretanto, o seu grande sonho continuava sendo um dia publicar A História de Walachai. Para isso trabalhou tanto, anos e anos, debruçado sobre aquele caderno de capa dura. Pois, foi com a soma dos esforços de diversas pessoas e entidades, em especial de amigos que dedicaram tempo e trabalho, de modo voluntário, que finalmente o livro do professor se transforma em uma publicação. Infelizmente, a edição impressa chegou depois de sua morte. Benno não poderá tocá-la, cheirá-la e senti-la, como apreciam fazer os escritores. Mas, sei que ele partiu com a certeza de que sua obra já estava sendo valorizada. O manuscrito é uma peça única e está preservado, sob a guarda da família do professor. Para publicá-lo, respeitamos ao máximo as suas características originais. Os registros do autor estão integralmente preservados, à exceção de trechos em que ele marcou com “não publicar”. Foram aplicadas as novas regras ortográficas, mas resguardadas as construções sintáticas, levando em conta que o autor muitas vezes escrevia em português como quem pensa em alemão. Foi necessária a adoção de alguns critérios editoriais para superar os limites gráficos inerentes a um texto manuscrito. Por exemplo, o que estava sublinhado no original foi preservado, mas adotamos itálicos nas observações, assim como fontes diferenciadas nas legendas. As aberturas dos capítulos foram criadas especialmente para esta publicação. Em alguns casos, trabalhamos com imagens de objetos pessoais do autor com modelagens em 3D e com fotos registradas durante as filmagens. Na medida do possível, privilegiamos a reprodução de páginas originais do manuscrito, revelando ao leitor a sua cuidadosa caligrafia. Sinto-me especialmente gratificada ao ver a obra do professor finalmente publicada. Primeiro porque este é um documento único sobre Walachai, com forte cunho histórico e antropológico. Depois, porque se cumpre assim a promessa silenciosa que fiz ao professor: a de que eu tentaria, de todas as formas, publicar o seu livro escrito a mão.
Rejane Zilles
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Introdução
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erta tarde de sábado do ano de 1985 fui abordado por uma professora de sobrenome Keil, da Unisinos, esposa de médico. O casal possuía uma casa de veraneio no Mato Comprido. A professora disse-me ter de escrever um livro e, depois de muito pen-
sar, resolveu aventurar-se em escrever a história de Walachai. Para tanto, queria entrevistar pessoas dessa localidade e segundo ela, já se dirigira a diversas pessoas idosas até chegar a falar com Nicolau Henrich. Esse sugeriu à professora conversar comigo sobre o assunto, achando que eu devia estar melhor a par da história de Walachai. Aconteceu, porém, que essa professora não falava alemão, motivo pelo qual procurava alguém com quem pudesse se comunicar mais facilmente. De início não me mostrei muito inclinado para servir de entrevistado, mas o vizinho, Nicolau Henrich, prometeu colaborar comigo e assim decidimos “topar a parada”. A professora chegava aos sábados, à tarde, à casa de seu Nicolau Henrich, onde nos reuníamos para conversar sobre o assunto. Em cada encontro, ela propunha o assunto sobre o qual desejava informações no sábado seguinte. Eu fui fazendo pesquisas sobre o que não sabíamos e entrevistei as pessoas mais idosas da comunidade como: João Schmitz Filho, Francisco Arnold, Henrique Emílio Becker, Lino Büttenbender, Afonso José Klein, José Hoff e outros. Consultei livros como: “Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul”, editado em comemoração ao 1º Centenário da Imigração Alemã em nosso estado e cujo principal colaborador foi o padre Teodoro Amstad (1824-1924), jornais, almanaques antigos como “Der Familienfreund Kalender” e outros. Pesquisei igualmente nos arquivos históricos da matriz São Miguel de Dois Irmãos (Livros de Assentamento dos Casamentos – Óbitos – Batizados – Crônicas). Pena é não ter encontrado mais o livro de óbitos anterior ao ano de 1910 e o “I livro de assentamento dos casamentos”. Visitei também os três cemitérios de Walachai e os dois cemitérios de Dois Irmãos. Pontualmente, a professora Keil aparecia aos sábados, à tarde, para recolher o resul19
tado das pesquisas. Certo sábado, porém, cansamos de esperar pela professora; as horas iam passando, o sol se pondo e nada da professora. Bruscamente a professora Keil desapareceu do cenário. Após muito indagar, Leandro Becker, então morador da estrada do Mato Comprido e bastante a par da vida dos veranistas com casa ao longo da mencionada estrada, me contou que a tal professora Keil e seu esposo haviam se separado e segundo sabia, ela fora viajar para bem longe. Passados dois anos sem obtermos sinal de vida da tal professora, e já sem esperança de termos em mãos o livro da “História do Walachai”, resolvemos escrevê-lo nós mesmos, com o resultado de nossas pesquisas. Tive de fazer novas pesquisas, pois muitos dados já me haviam escapado da memória e nesta nova etapa, descobri detalhes a mais de nossa história, outros talvez ainda permaneçam ocultos. Resumindo: o trabalho teve início em 1985 e só hoje, 14 de abril de 1992, começo a escrever a “História de Walachai”, neste livro, sem saber quando conseguirei terminar a transcrição do livro original para este. Como professor aposentado, vejo-me obrigado a trabalhar na roça durante o dia, para poder viver como convém à pessoa humana.
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1. Reprodução do Diário de Viagem de Peter Wickert a Bordo do Veleiro que o Trouxe ao Brasil
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eter Wickert, gebürtig aus Buch, Bürgermeisterei Kastellaun, Kreis Simmern, Regierungsbezirk Koblenz, Königreich Preuβen, Provinz Niederrhein, Europa, abgereist am 21. Mai 1857 nach Rio Grande do Sul in Brasilien. Peter Wickert Nodig. 12 Jahre 1857 alt. Über die Reise nach da: Am 21. Mai von Haus nach Boppard. Am 22 von Boppard nach Köln und jetzt bin ich gegen Ancternacht. Ich bin jetzt nicht mehr so betrübt, wie als ich meinem Herrn Defoniter, meinem Herrn Lehrer und meinen treuen Freuden und Kameraden ein Lebewohl sagte. Gegen drei Uhr nachmittags kamen wir gegen Bonn, vorüber ich mich sehr freute, weil sie eine schöne Stadt ist, so wie ich nie eine gesehen habe. An beiden Tagen war es schöne Witterung. Auch die Stadt Köln ist eine groβe und schöne Stadt. Ich musste mich immer bei meinen Eltern halten, sonst hätte ich mich verloren, weil so viele Straβen durch die Stadt führen. Gegenüber der Stadt Köln liegt Deiz, welche durch den Rhein von einander geteilt sind. Heute Morgen, den 23. Mai 1857, um 8 Uhr, gingen wir über die Brücke, welche über den Rhein gebracht ist, in Deiz. Von da aus kamen wir auf die Eisenbahn, auf welcher wir den ganzen Tag waren. Ich freute mich sehr, denn es ging so schnell, dass man keinen Menschen erkennen konnte. Es gingen noch mehr als zwanzig Eisenbahnen längs uns. Und so gelangten wir glücklich in Bremen. Die Stadt Bremen ist weit schöner als die Stadt Bonn. Die groβe Person musste heute Morgen dreizehn und die kleine Person zwölf Silbergroschen1 bezahlen. Heute, den 24. Mai, musste die groβe Person siebzehn und halbe Silbergroschen und die kleine Person die Hälfte davon bezahlen, und so werden wir auch Morgen bezahlen müssen. Heute Vormittag war ich in der Predigt. Ich habe auch zum ersten Mal einen Windhut gesehen. Den 25. 23
Mai wurde ich Pate, und das Kind wurde heute Nachmittag getauft. Als wir heute Morgen zu unseren Kisten kamen, waren sie alle entzwei. Den 27. Mai um 6 Uhr morgens kamen wir in das Segelschiff. Hundert Menschen sind, welche ich gezählt habe. Es ist aber noch ein Schiff voll zurück geblieben. Wir hatten guten Wind, denn er kam uns auf den Rücken. Andere Schiffe, welche längs uns gingen, wurden von Pferden gezogen. Ich hatte eine groβe Freude. Man spürte nicht, dass das Schiff fort ging. Der Fluss, worauf wir sind, heiβt Weser. Gegen Abend schlugen hohe Wellen, so dass das Schiff bebte, so dass die Leute umfielen und sich überschotten. So gelangten wir endlich dem Bremerhafen, wo wir während der Nacht im Schiff liegen bleiben mussten, ohne etwas zu essen. Heute Morgen, 28. Mai, stiegen wir aus dem Schiff und gingen wo wir logierten. Bis hierhin haben wir uns selbst beköstigen müssen, aber jetzt geht es auf dem Agenten seine Kost. Den 29. Mai morgens gingen wir in die Kapelle und wohnten der Heiligen Messe bei. Des Abends gingen wir ins Segelschiff, wo wir die Nacht schliefen. Samstag Morgens, den 30. Mai, ging das Schiff ab. Auf Pfingsten, den 31. Mai, waren wir alle so krank, dass wir recht gerne gestorben wären. Wir waren noch nicht auf dem Meer, sondern auf dem englischen Kanal. Den 1. Juni ging das Schiff ruhiger, aber wir fuhren auch nicht so weit. Wir waren auch wieder gesunder, so dass wir sangen. Den 2. Juni ging das Schiff ganz ruhig, und die Sonne schien ganz heiβ, und wir waren fast den ganzen Tag auf der Decke. Den 3. Juni waren wir wieder krank und ich wäre gern wieder nach Hause gegangen, wenn ich gekönnt hätte. Den 4. Juni kamen wir gegen England. Man sah die Acker und die Kreideberge von England. Weil der Wind verkehrt kam, mussten wir lange dort halten bleiben. Es war mir wieder sehr wohl. Es kamen sehr viele Schiffe längs uns. Den 5. Juni morgens starb der Simon Meurer, aus Mörz. Es war nicht mehr so stille wie an dem 5. Juni. Auf Dreifaltigkeitssonntag war groβer Sturm, so dass das Schiff mit Wellen bedeckt wurde. Ich war sehr krank, so dass ich bis den 10. Juni im Bett liegen bleiben musste. Ich wollte immer, ich wäre in Buch. Den 10. Juni stieg ich auch aus dem Bett auf, es war aber mir nicht sehr wohl, denn des Mittags fiel meinen Vater in Ohnmacht. Die Leute meinten alle, er täte sterben. Am hl. Fronleichnamsfeste ging das Schiff sehr ruhig, aber auch schnell, denn wir machten in einer Stunde vier Meilen. Ich war wieder sehr froh und munter. Den 12. Juni ging das Schiff wieder sehr schnell. Groβe Fische sprangen aus dem Wasser auf uns nieder. Der 13. Juni war es sehr warm, und ich war wieder so heiter, als wie wenn ich auch in Buch wäre. Der 14. Juni war trübe und regnerisch. Während des Morgens war ein Schiff ganz nächst bei uns und blieb den ganzen Tag eine Strecke hinter uns. Den 15. Juni regnete es nicht mehr so viel. Das Schiff war noch bei uns bis des Abends. Ich war auch ganz betrübt. Den 16. Juni fuhren zwei Schiffe längs uns. Die Wellen fuhren uns wieder oben herein, so dass niemand auf der Decke sein konnte. Es war mir nicht sehr wohl. Den 17. Juni war es 24
sehr warm, und ich war wieder sehr heiter. Den 18. Juni war schöne Witterung und warm, aber es war mir sehr unwohl. Den 19. Juni war auch gute Witterung und es war mir wohler. Den 20. Juni kamen wir, morgens, nahe an die Insel Mateiro (Madeira). Es war sehr heiβ, und es war mir so wohl, als es mir noch nie auf dem Schiff war. Den 21. Juni morgens sahen wir die Insel noch ein wenig. Es war sehr warm und schöne Witterung. Den 22. Juni war es wieder sehr warm. Des Nachmittags kam ein Schiff längs uns. Den 23. Juni war es sehr regnerisch und es war mir sehr wohl. Den 24. Juni war das Wetter wieder sehr schön. Den 25. Juni war es wieder sehr warm. Es waren zwei Schiffe eine Strecke vor uns, das eine mit zwei, das andere mit drei Mastbäumen. Den 26. Juni war es mir sehr wohl, denn es war wieder sehr warm. Den 27. Juni war ein Schiff eine Strecke vor uns und es war wieder sehr warm. Den 28. Juni waren wir des Morgens bei dem Schiff, nachher aber kam es wieder weit vor uns. An Peter- und Paulstag, oder an meinem Namenstag, tat es mir sehr leid, dass ich nicht in der Kirche meines Namenspatrons verehren konnte. Vom 4. Juli bis dem 13. Juli regnete es jeden Tag. Den 16. Juli sahen wir so viele Schiffe um uns her, als wie man in Deutschland auf den Hunsrücken Dörfer sieht. Ein Schiff war so nahe bei uns, dass unsere Kapitäne durch Sprachhörner zu einander sprachen. Peter Wickert Bemerkung: Hier endet den Reisebericht von Peter Wickert aus Deutschland nach Brasilien. Schade, dass er seinen Reisebericht nicht durchsetzt bis er zum Windhof (Tannenwald) ankam.
Professor Peter Wickert, em fotografia com moldura da época, em frente à casa de seu vizinho em Walachai.
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Tradução para o português do diário de viagem de Pedro Wickert Pedro Wickert, natural de Buch, cidade de Castelaum, Comarca de Limmern, Distrito de Koblenz, reino da Prússia, Província de Baixo Reno, Europa, partiu em 21 de maio de 1857 para o Rio Grande do Sul, Brasil. Anotações de Pedro Wickert, 12 anos de idade, ano 1857, sobre a viagem para cá. Em 21 de maio de casa até Boppard. Em 22 de maio de Boppard até Colônia e agora estou em Ancternacht. Agora eu não estou mais tão triste como quando eu disse o meu adeus ao Senhor Defoniter- meu professor e aos meus caros amigos e colegas. Pelas três horas da tarde chegamos em Bonn, o que me alegrou sobremaneira, porque é uma bela cidade, tal como nunca outra eu vi. Em todos os dias fez tempo bom. Também a cidade de Colônia é uma grande e bela cidade. Tive de ficar sempre junto de meus pais, se não me teria perdido, por causa das muitas ruas existentes nesta cidade. No outro lado da cidade de Colônia está a cidade de Deiz, separada da cidade de Colônia pelo Rio Reno. Hoje de manhã, 23 de maio de 1857, às 8 horas, passamos pela ponte sobre o Rio Reno, que liga as duas cidades, chegando em Deiz. Dali embarcamos no trem, onde ficamos viajando o dia inteiro. Eu me senti muito alegre, pois ia tão rápido que não se podia reconhecer pessoa alguma. Mais de 20 trens cruzaram por nós. E assim chegamos felizmente em Bremen. A cidade de Bremen é de longe mais bonita que a cidade de Bonn. A pessoa adulta teve que pagar, hoje de manhã, treze moedas de prata, e a pessoa menor de idade doze Silbergroschen1. Hoje, 24 de maio, a pessoa adulta teve que pagar dezessete e meia moedas de prata - Silbergroschen - e a pessoa menor de idade, a metade disso. Este preço vigorará também amanhã. Hoje, antes do meio dia, assisti ao sermão. Foi também a primeira vez que vi um catavento. No dia 25 de maio fui convidado para ser padrinho, e a criança foi batizada hoje à tarde. Quando fomos ver os nossos baús, eles estavam despedaçados. Em 27 de maio, às 6 horas, embarcamos no veleiro. Contei cem pessoas que embarcaram. Mas ficou ainda um navio cheio para trás. Tivemos vento favorável, pois soprava em direção às nossas costas. Outros navios que cruzavam por nós eram puxados por cavalos. Isso me dava muito prazer. Eu estava muito feliz. Não se percebia o movimento do navio. O rio no qual navegamos chama-se Weser. Ao cair da noite, porém, houve ondas altas, de maneira que o navio balançava e as pessoas caíam umas sobre as outras. Assim, chegamos finalmente ao porto de Bremen, onde pernoitamos no navio, sem nada comer. Hoje de manhã, 28 de maio, desembarcamos do navio e fomos à casa do alojamen_____________________ 1
Moeda vigente na Prússia entre os anos de 1821 e 1873.
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to. Até aqui nós mesmos tivemos de pagar as nossas despesas, mas de agora em diante correm por conta do agente. Em 29 de maio fomos à capela assistir à missa. À noite dormimos no veleiro. Sábado, 30 de maio, de manhã, o navio partiu. No dia de Pentecostes, 31 de maio, estivemos tão doentes (doença do enjoo) que desejamos morrer. Ainda não estávamos em alto mar, mas sim, no canal da Inglaterra. Em 1º de junho, o navio navegava mais tranquilo, mas também não andávamos muito longe. Nos sentíamos com mais saúde, até cantamos. Em 2 de junho o navio navegou bem tranquilo, o sol estava muito quente e ficamos praticamente durante todo o dia no convés do navio. Em 3 de junho ficamos novamente doentes, eu teria gostado de voltar para casa, se isto fosse possível. Em 4 de junho chegamos perto da Inglaterra. Podia se ver os campos e as montanhas cor de giz da Inglaterra. Por causa dos ventos contrários tivemos que ficar durante muito tempo na costa daquele país. Eu estava me sentindo novamente bem. Muitos navios cruzaram por nós. Em 6 de junho, de manhã, morreu o Simon Meurer, natural de Mörz. O mar não estava mais tão calmo como em 5 de junho. No domingo da Santíssima Trindade houve um horrível temporal, de tal forma que o navio foi coberto pelas ondas. Eu estava muito doente e tive que ficar de cama até o dia 10 de junho. Ardentemente desejava que estivesse novamente em Buch. Em 10 de junho levantei-me da cama, mas eu não me sentia lá muito bem. À tarde meu pai desmaiou. Todas as pessoas achavam que ele iria falecer. No dia de Corpus Christi, o navio navegava novamente com calma e também muito veloz, pois em uma hora percorreu quatro milhas. Eu estava de novo bem disposto e alegre. Em 12 de junho o navio navegava novamente veloz. Grandes peixes pulavam da água e tornavam a mergulhar. Em 13 de junho fazia muito calor e eu me sentia tão bem como se estivesse em Buch. Em 14 de junho o tempo se achava encoberto e chuvoso. De manhã, outro navio navegava bem perto do nosso e nos acompanhou até a noite. Em 15 de junho não chovia mais tanto e o navio continuava nos acompanhando, novamente até a noite. Eu estava bastante triste. Em 16 de junho, passaram por nós dois navios. As ondas chegaram a cobrir novamente o convés do navio de maneira que ali ninguém podia ficar. Eu não me sentia muito bem. Em 17 de junho fez muito calor e eu me senti bem disposto. Em 18 de junho fez tempo bom, com calor, mas eu me sentia indisposto. Em 19 de junho fez igualmente tempo bom e eu me sentia mais disposto. Em 20 de junho de manhã, chegamos perto da Ilha da Madeira, fazia muito calor e eu me sentia disposto como nunca antes no navio. Em 21 de junho, de manhã, víamos só mais um pouco da ilha. Dia 22 de junho fazia muito calor. De tarde passou um navio por nós. Em 23 de junho o tempo se apresentava chuvoso e eu me sentia muito bem. Dia 24 de 27
junho o tempo estava novamente bonito. Dois navios navegavam a pouca distância do nosso navio, um com dois mastros e o outro com três mastros. Em 26 de junho eu me sentia muito bem, porque fazia muito calor. Em 27 de junho navegava um navio a certa distância na nossa frente, fazia de novo muito calor. Em 28 de junho, de manhã, alcançamos o navio, mas, em seguida, este navio conseguiu distanciar-se muito à nossa frente. No dia de São Pedro e São Paulo ou no dia do meu onomástico, senti muito por não estar na igreja para poder venerar o meu padroeiro. De 4 de julho até 13 de julho chovia diariamente. Em 16 de julho vimos ao nosso redor tantos navios quantas aldeias se pode enxergar na Alemanha, do alto do Hunsrück. Um navio estava tão próximo ao nosso, que os capitães podiam conversar por meio de um aparelho que aumentava o som. Peter Wickert Observação: É uma pena que o nosso Pedro não continuara a escrever o seu diário até sua chegada a Santa Inês, no Pinhal Alto, onde foi sua primeira morada.
Segundo a opinião do professor alemão, Edmund Wild - da Unisinos, a esta altura da viagem Pedro Wickert se achava no Rio de Janeiro – Brasil. De lá até São Leopoldo, geralmente os imigrantes seguiam viagem em outros navios, e Pedro Wickert nada mais anotou dessa viagem. Logo após a assinatura no livrinho do diário seguem-se algumas anotações valiosas como: • Em 10 de novembro de 1863, arreios comprados no Brusius por nove mil réis. (Brusius era comerciante nessa época, onde atualmente funciona o Restaurante Wolf). • Em 6 de fevereiro, recebi de Jacob Schuck, serviço em sua propriedade, 30 ½ dias em dinheiro: 2 mil réis. • No ano de 1866, em 27 de novembro foi o nosso casamento: Peter Wickert com Maria Feiter. • Nossa filha Maria Madalena nasceu no ano de 1868, em 17 se setembro. Observação: Este livrinho histórico encontra-se com José Hoff - neto do prof. Pedro Wickert, bem como outros documentos e objetos antigos.
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Uma vista geral do centro de Walachai. Foto tirada em janeiro de 1992 na estrada que vai por fora do centro de Walachai, na entrada que vai para a moradia de Belmiro Klauck.
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2. A história de Mathias Mombach, o fundador de Walachai
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athias Mombach partiu do porto de Bremen, no dia 26 de setembro de 1828, no grande veleiro “Olbers”, acompanhado de sua família: esposa e 5 filhos. A viagem de Mombach para o Brasil, embora cheia de dificuldades, transcorreu feliz. O veleiro conduzia a bordo 874 pessoas. Durante a viagem adoeceram muitas pessoas e entre crianças e adultos, 47 pessoas chegaram a morrer. Essas tiveram suas sepulturas nas profundezas do Oceano Atlântico. Em 17 de dezembro de 1828, aportaram no Rio de Janeiro, após 83 dias de viagem. Durante 7 semanas, permaneceram alojados no armazém do porto naquela cidade. Depois, um navio português trouxe os imigrantes, após 7 dias de viagem, ao porto de Rio Grande e, dali, em 5 dias, a Porto Alegre. Finalmente, no dia 18 de março de 1929, aportaram em São Leopoldo. Outras ocorrências durante a viagem: Certa noite, todos os ocupantes do veleiro foram acordados por desesperadores gritos. Todos, apavorados, correram para o convés do navio e encontraram o velho capitão manejando o leme com toda sua força, procurando dar outro rumo ao navio. Após tê-lo conseguido, com a ajuda de alguns marinheiros, disse-nos: “Se eu tivesse me acordado do sono 5 minutos mais tarde, agora nós todos estaríamos no fundo do mar, pois navegávamos na direção de um rochedo contra o qual nosso navio teria se despedaçado”. Outra ocorrência, porém em desabono do capitão: Ao cruzarem o Equador, sob um calor como os imigrantes em toda a sua vida ainda não haviam passado, além de receberem pouca água para beber, ela era de péssima qualidade, de maneira que em consequência disso muitas pessoas adoeceram. Então, entre os viajantes, foram escolhidos representantes que denunciaram ao capitão a triste situação. Esse, porém, embraveceu e mandou 31
colocar um canhão carregado na frente de seu camarote. Contudo, ninguém se intimidou e ele acabou cedendo mais e melhor água. Ocorrência interessante foi que, durante a viagem, faleceram 47 pessoas, tendo nascido outras tantas durante a viagem. A maioria destes imigrantes, 80 a 90 famílias, dirigiram-se para São José do Hortêncio, entre as quais estavam as famílias de sobrenome Selbach, Schäfer, Rockembach, Rech, Orth, Maurer, Martini, Ludwig, Colling, Franzen, Arenhart, Bervanger, Binfeld, Dill e Feldes. Para Dois Irmãos, dirigiram-se as famílias de sobrenome Werle, Meyrer, Schvickert e Mombach. Mathias Mombach fez parte da guarda do imperador da França, Napoleão Bonaparte, como alferes de cavalaria. Para mostrar a sua coragem e valentia de velho soldado, transpôs com sua família o Morro Wolf e fundou a localidade que denominou: Wallachei. Antes de vir morar aqui com sua família, veio primeiro construir sua casa. Foi preciso abrir uma picada até o local de seu lote de terras com 100 braças de frente e 1.600 braças de fundo que recebera do governo imperial. Pesquisa feita no Arquivo Histórico de Porto Alegre pelo primo Pe. Hugo Büttenbender revela o seguinte a respeito do fundador de Walachai: Pág 107, nº 473 - Mathias Mombach, lavrador, São Leopoldo em 18.3.1829 Casado com Ana Maria Dietrich, de 45 anos e tiveram os filhos: 1. Teodoro, 13 anos (casou com a “brasileira” Maria Menezes, foi para o Uruguai) 2. Ana Maria, 8 anos (casou com o “brasileiro” José Antônio de Moraes) 3. João, 7 anos (casou com Ana Maria Werle) 4. Herberto, 3 anos (casou com Elisabeth Kirchen) 5. Jorge, ¼ de ano (casou com Elisabeth Wickert) Mathias Mombach – tinha 44 anos quando aqui chegou (*1785 + 7.11.1878) Morreu com 93 anos, sendo enterrado no cemitério de Dois Irmãos que existia ao lado da velha matriz. Ana Maria Dietrich, a esposa, nasceu em 1784 e faleceu em janeiro de 1850, com 66 anos, em Walachai, e segundo tradição da época, foi enterrada ao lado sul da casa da família. Não existiam cemitério e nem a paróquia de São Miguel de Dois Irmãos.
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3. A Casa do Fundador de Walachai
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próprio fundador, com a ajuda de outros imigrantes, construiu a sua casa. Serraram, a mão, toda a madeira necessária: postes grossos, vigas fortes, também os barrotes, caibros, tábuas e tabuinhas. Essas últimas eram rachadas de grossos cepos de canjerana, de cabriúva ou de louro, por meio de uma lâmina de aço forjado. Para serrar a madeira era preciso montar uma espécie de andaime específico para esse fim (Schneidekrist) sobre o qual era firmada a tora. Um serrador se colocava em cima da tora enquanto dois ou três serradores trabalhavam embaixo da tora. Enquanto o serrador de cima recuava, os de baixo avançavam a serra, sempre observando as linhas demarcadas, traçadas perpendicularmente em cima e embaixo da tora, que tinha de ser conservada no prumo. Após pronta a madeira, a casa foi construída. As grossas tábuas foram pregadas com pregos feitos na ferraria, certamente em Dois Irmãos ou em São Leopoldo. As portas eram munidas com fortes barras de ferro e se moviam sobre ganchos. As fechaduras eram fortíssimas. O telhado estava coberto com tabuinhas. Na casa havia a sala de visita e um quarto, onde dormia o casal Mombach. Os filhos dormiam no sótão, e a filha na sala de visita. Para se defender contra possíveis ataques dos índios, Mombach fez furos na porta da sala de visita e na porta do seu quarto, para caso fosse preciso, poder atirar por eles com a sua espingarda, sem abrir as portas. A cozinha foi construída a certa distância da casa, para evitar que esta também queimasse, caso ocorresse um incêndio. A casa e a cozinha foram cercadas com altos e pontudos paus a pique para dificultar qualquer ataque, tanto pelos índios como pelos animais ferozes. Segundo o que várias pessoas me contaram, Mombach possuía uma matilha de cães (12 cães segundo alguns; 20, segundo outros). Quando ele tocava a sua buzina de chifre, como a comando, os cães uivavam, causando grande medo aos índios, que não conheciam esses bichos. Por esse motivo, Mombach ficou livre de ataques dos índios. Segundo me contaram pessoas idosas, quando a esposa de Mombach faleceu, ele e seus 33
filhos a enterraram ao lado sul da casa, pois na época ainda não existia cemitério em Walachai e nem a paróquia de São Miguel de Dois Irmãos. Isso ocorreu em janeiro de 1850. Naquela época, o Pe. Agostinho Lipinski já estava em Dois Irmãos e possivelmente tenha feito o enterro. Os filhos, quando casaram, foram se espalhando, segundo prova a pesquisa. Calcula-se que um filho tenha morado nas terras do pai para o lado norte. Certa vez, quando Afonso José Klein mandou lavrar uma roça, o lavrador percebeu que o arado fazia um barulho estranho na terra. Examinou o que pudesse ser e descobriu ter existido ali um buraco onde eram jogados cacos de garrafa, de porcelana, de vidraça e certamente outro lixo, como se fazia na época lá na Alemanha. Continuando a lavrar, um pouco acima, fez-se ouvir novamente outro ruído esquisito na terra com a passagem do arado. Puxando com a enxada a terra no local, descobriu que ali devia ter existido um pátio calçado com pedras. Conclui-se assim, ter existido ali, outrora, uma moradia. A casa de Mathias Mombach ainda hoje existe. Foi, porém, modificada: as tábuas das paredes externas deram lugar a tijolos, foi aumentada em ambos os lados, norte e sul. Por volta do ano de 1958, um vendaval derrubou um enorme cipreste, plantado por Mombach, em cima do telhado, quebrando, em parte, os caibros. Então o telhado também foi modificado, ficando com a forma que tem hoje. Atualmente seu proprietário é Elmo Becker. Quando já velho, Mathias foi morar na casa de seu filho Jorge, casado com Elisabete Wickert. Esta casa ficava onde mora atualmente Cláudio Büttenbender. Com Jorge morava também seu sogro João (Johann) Wickert, apelidado de Baldus, também viúvo. Jorge faleceu em 15.07.1863, ainda na flor da sua idade. Tinha então cinco filhos: quatro meninas e um menino. Após a morte do esposo, Elisabete viu-se, não poucas vezes, em sérios apuros quanto ao relacionamento do sogro Mathias com o pai João (Baldus): bebiam, discutiam e não raras vezes chegaram a agredir-se com suas bengalas. Nessas lutas quem levava geralmente a pior era João, o Baldus, pois seu adversário Mathias, como soldado de Napoleão, era mais valente e acabava subjugando o seu adversário. A contenda, por vezes, tornava-se tão violenta, que a pobre viúva procurava socorro junto à sua irmã Margarida, que era sua primeira vizinha, casada com Pedro Feiten. Hoje esta propriedade pertence a um veranista, de Porto Alegre. Acima da porta dessa casa consta a inscrição: P F 1863, que significa: Pedro Feiten, casa construída em 1863. Mas os auxílios generosos de Pedro exigiram de Elisabete um alto preço, pois o cunhado Pedro aproveitou-se dela e tiveram um filho, Cornelius Mombach que, na realidade, nada tinha de Mombach. Aconteceu que a esposa de Pedro, Margarida, veio a falecer antes de sua irmã Elisabete, que então acabou casando com o cunhado, Pedro em 22.11.1892, um ano após o falecimento de sua primeira esposa. Elisabete passou então a morar no Travessão, em Dois Irmãos, onde já residia Pedro após ter vendido a sua propriedade em Walachai a João Pedro (Johann Peter) Meinerz, o “Bohnenpitt”. Mathias também foi morar em Dois Irmãos 34
com um de seus filhos, chegando a falecer em 07.11.1878, com 93 anos. Foi enterrado no antigo cemitério católico de Dois Irmãos. Segundo desejo seu, foi posto no caixão, vestido com seu uniforme de alferes, que guardara sempre com esmero para essa ocasião. Também a sua espada o acompanhou para a sepultura. Quando o Baldus - João Wickert - faleceu aqui em Walachai, em 25.05.1887, com 83 anos, foi sepultado no cemitério católico. Lino Büttenbender, segundo desejo seu, foi enterrado na sepultura de seu bisavô “Baldus”. Segundo contava minha mãe, quando uma irmã da vovó Margarida Filipina resolveu ir ao convento das irmãs franciscanas em São Leopoldo para tornar-se freira e apresentou a sua resolução à mãe Elisabete, o velho “Baldus” teria comentado: “Menina, então você quer ir nessa casa de prostituição?” Mas a neta não se intimidou. Foi e tornou-se a irmã franciscana com o nome Irmã Coleta. Rezava muito para que entre seus parentes saíssem sacerdotes, religiosos e religiosas. Irmã Coleta não chegou a vivenciá-lo, mas entre seus parentes saíram os padres: Antônio Guilherme Grings, Guilherme Wendling, Hugo Bütenbender, Atílio Hartmann e até um bispo, Dom Dadeus Grings e certamente outros padres dos quais não tenho conhecimento e uma porção de religiosas. Irmã Coleta faleceu no colégio São José, em São Leopoldo, em 20.01.1928, com 78 anos e está enterrada no cemitério das irmãs franciscanas, em São Leopoldo. O velho João Wickert, o “Baldus”, posteriormente, se arrependeu de sua áspera e detestável atitude tomada contra a neta e veio a falecer muito bem. Talvez, quem sabe, Irmã Coleta, no silêncio do claustro, lhe mereceu esta graça. Mathias Mombach deixou-nos até hoje uma bela lembrança. Foi ele, segundo tradição oral, quem plantou aquela árvore gigantesca, o carvalho, que até hoje saúda orgulhosa a todos que se dirigem para Walachai, lá na entrada no Morro Wolf.
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Vista da casa construída pelo primeiro morador de Walachai Mathias Mombach. A parte de tijolos à vista é de construção recente. A parte onde se encontra a porta à esquerda é também de construção bem posterior. Nessa parte foi, posteriormente, instalada a cozinha.
Outra vista da primeira casa de Walachai. Foto tirada da Estrada Geral em 1992, no mesmo dia da foto acima.
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Vista do casario do atual “Restaurante Familiar Wolf”, à esquerda da entrada de Walachai, 1993. Soberba aparece em estilo enxaimel a casa comercial e salão de baile Wolf de tempos idos. Este prédio provavelmente foi construído por Adão Brusius. Foi reformado, encontrando-se em ótimo estado de conservação.
Casa do morador Georg (Jorge) Steffen. Atual morador (1997) Remi Stoffel reformou e aumentou a casa ao lado norte para cozinha.
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4. A Origem do Nome “Walachai”
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uvi pessoas mais velhas contarem que, quando Mathias Mombach chegou ao alto do Morro Wolf, montado em cavalo branco, castrado, de nome “Wallach”, este não quis descer o morro. Então Mathias, raivoso, com vontade, lhe fincou as esporas, chamando pelo nome: “Wallach”. Prontamente ele teria respondido relinchando: “cha... chai... chai...” E que por esta razão o nome do novo pago de Mathias ficaria com o nome de Walachai. Embora pitoresca, essa versão não é verdadeira, creio eu. Na Romênia existe uma localidade denominada “Wallachei”. Segundo o professor Edmund Wild, na época napoleônica, essa localidade era de difícil acesso, povoada por gente pobre, distante de outros povoados e que possivelmente Mombach, nas guerras napoleônicas, houvesse passado por aquela localidade. Na Alemanha, se apelidava de “wallacheier” (pessoa de Wallachei) quem morava distante de outro povoado. Assim, é bem possível que, devido a Mathias Mombach ter se estabelecido longe de Dois Irmãos e em local de difícil acesso, os moradores o tenham caracterizado com o apelido de “wallacheier”. E quando alguém pedia informações sobre o paradeiro do velho alferes, recebia a resposta: “Ah! esse mora no “Wallachei”. Concordo plenamente com o prof. Edmund Wild e penso ser essa a explicação mais razoável para a origem do nome do novo pago de Mathias Mombach: Wallachei. Este nome foi “sacrificado” de várias maneiras ortográficas até ser “nutrido” como hoje é grafado: Walachai. Embora “Wallachei” seja sinônimo de cafundó, o que em verdade foi em seu início, hoje não vale mais, porque o acesso a essa localidade deixou de ser problema. Antigamente as cédulas de hum mil réis e mais tarde as de hum cruzeiro foram apelidados de “walacheier”, mas isso não em sentido depreciativo aos moradores da localidade, mas sim por seu valor insignificante, miserável. Quanto a isso deu-se uma ocorrência bastante constrangedora por ocasião da primeira 39
missa solene do Pe. João Kreuz, em sua terra natal, Harmonia, na paróquia de Joaneta. Armando Seger levou, de caminhão, uma turma de parentes do neossacerdote e mais outras pessoas para Harmonia. Em dado momento da festa, alguém, em tom zombeteiro, ao receber seu troco em cédulas de hum cruzeiro teria comentado: “Isso são só walacheier!”. Hoje desapareceu a mania de denominar de “walacheier” as cédulas de valor insignificante.
Paisagem de Walachai do centro, à esquerda para o Vale das Batatas, do centro à direita para o Rioloch, aparecendo o Morro dos Bugres e à esquerda, nos fundos, o Windhof. Na dobra do morro à esquerda, próximo ao abismo, vê-se a estrada que vai ao Vale das Batatas, pela faixa, perto do topo desse mesmo morro, passa a rede da Eletro-Sul que vem conectada à Itaipu, e se dirige à grande Porto Alegre. Ao pé do morro à direita, vê-se a estrada que, pouco adiante, se bifurca, dando acesso ao Rioloch e S. Maria do Herval.
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5. O povoamento de Walachai
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elação de nomes dos prováveis moradores e os nomes de seus sucessores nos seus imóveis, bem como fatos ocorridos com eles. Segundo contaram meus antepassados mais estreitamente ligados ao fundador Mathias Mombach, este ficou morando aqui sozinho com a família durante aproximadamente 20 anos. Segundo dedução do fundador, na época devia ter existido uma taba de índios nas imediações onde atualmente mora Léo Guilherme Büttenbender, pois Mathias seguidamente observava subir fumaça mato afora naquela zona. Provas mais concretas surgiram lá pela primeira década do século XX, quando o proprietário Guilherme Büttenbender Filho, meu avô, derrubou a mata virgem no local para dar lugar à roça. O retardamento da exploração daquela área teve como causa a dificuldade de acesso devido ao vale rochoso e profundo, cortado pelo arroio Walachai. Quando os familiares trabalharam aquela terra encontraram, em grande quantidade, restos de vasilhames indígenas. Desprezando, ou melhor, ignorando o valor histórico desses objetos, divertiam-se em despedaçá-los com suas enxadas, fazendo assim desaparecer um valioso patrimônio histórico. Podemos assim admitir como válido, ter acontecido o povoamento de Walachai propriamente dito, desde 1829 até 1870. Como primeiros moradores podemos mencionar com bastante certeza: 1. O fundador, Mathias Mombach, com sua família, chegada em São Leopoldo em 18.03.1829 e no mesmo ano em Walachai; 2. Matias Feiten I, com sua família, chegada em São Leopoldo em 18.03.1829; 3. Johann Schmitt, com sua família, chegada em São Leopoldo em 18.06.1829; 4. Nicolau Land, com sua família, chegada em São Leopoldo em 28.10.1846; 5. Matias Arnold, com sua família, chegou em São Leopoldo em 15.11.1846; 6. João Wickert - Baldus - chegou em São Leopoldo em 15.11.1846; 41
7. Heinrich Reinheimer com sua família, chegada em São Leopoldo em 10.01.1847; 8. Jacob Morgenstern com sua família, chegada em São Leopoldo em 10.05.1850; 9. Johan Peter Hoff, com sua família, partiu da Alemanha em 25.07.1846; Não se sabe da sua chegada em São Leopoldo e muito menos em Walachai. Em posse desses dados passo a duvidar que meu tataravô, Mathias Mombach, tenha morado em Walachai só com sua família, durante 20 anos. Em todo caso faltam provas quanto à entrada dessas outras 9 famílias.
A seguir passo a relacionar como se apresentou o panorama populacional até meados dos anos de 1870. Não posso precisar datas exatas em muitos casos, por falta de dados concretos à mão, exceto de alguns imigrantes e baseado no relato de José Klein e de sua esposa Alma Dapper, neta do imigrante Ernst Kohlrausch e sua esposa Cristine Berg, que devem ter transmitido isso a ela. Um grande auxiliar em meu trabalho é o livro de lançamento dos nomes dos sócios da comunidade católica do Walachai: “Rochembuch für die Gemeinde Wallachei”, que se encontra arquivado no armário da sacristia, embora sua escrituração date de 1881. Inicio por ordem, a começar da entrada de Walachai, no Morro Wolf, anexando, o quanto possível, os sucessores dos imigrantes em seus respectivos imóveis, doados pelo Império brasileiro, ao menos aos primeiríssimos imigrantes, mencionando também fatos referentes aos mesmos. O que comprova a doação é a existência de “Títulos de Posse” - mas por serem considerados sem valor atualmente, se perderam ou extraviaram. Ignorou-se o valor histórico de tais documentos. 1. Josef Endres, segundo consta no “Jahrhundertbuch” como é conhecido o livro “Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul”, José já havia instalado uma casa comercial, toda de madeira, em 1858 na estrada de Walachai. Foi, com certeza, a primeira casa comercial da localidade. Em 1863, segundo consta no livrinho de anotações do prof. Pedro Wickert, o proprietário dessa casa comercial já era Adão (Adam) Brusius (*5.1.1802 e +23.07.1881). Sucedeu-se o filho Frederico (Fritz) Brusius (*22.03.1829 e +5.10.1894), casado com Elisabeta Schuk (*11.12.1841 e +28.03.1927); sucedeu-lhes o genro, João Stahl (*18.05.1869 + 17.09.1924), casado com a filha Sofia (*30.06.1874 e +16.05.1953). Em virtude de seu casamento, João optou pela religião evangélica. Seus sucessores foram os filhos. Então Emílio Wolf, casado com Sibila Fleck, casamento misto. A casa de madeira deu lugar a um prédio em estilo enxaimel, com salão de baile. O sucessor no imóvel foi seu filho Egídio Wolf, que faleceu na flor de sua idade, sucedendo-o o filho Heitor. Este reformou o prédio e abriu o “Restaurante Familie Wolf”, hoje muito frequentado por turistas e veranistas. Quanto a Frederico Brusius, este era evangélico e pertencia à maçonaria, motivo 42
pelo qual seu monumento sepulcral está sem cruz, mas com uma coluna aparentando quebrada. Está enterrado no cemitério evangélico nas proximidades do Walachai. Quanto a José Endres, esse ajudou a construir a primeira capela do Morro dos Bugres, em 1849, sendo sócio da mesma. 2. Peter Ruver e Josef Ruver, católicos, emigraram em 1888 depois de vendido o imóvel a Matias Sauressig (*03.12.1857 e +09.05.1932) casado com Filipina Konndörfer (*31.03.1864 e +13.08.1953), evangélicos. O filho Leopoldo Sauressig, casado com Irma Klein, sucedeu-o no imóvel. Hoje (1992) esse imóvel é um condomínio da “Comunidade Walachai”, constituído por um grupo de famílias que o adquiriu em comum, com exceção de uma parte que ficou pertencendo a Arcênio Lauressig, filho de Leopoldo Lauressig. Nesse imóvel encontram-se um bom número de casas pertencentes a sócios da comunidade. 3. Oto Sperb, evangélico. Possuía escravos. Foi bobamente morto na caça do bandido Malaquias e seus capangas. Seu imediato sucessor é ignorado. Depois Felipe Alfredo Klaus tornou-se o proprietário desse imóvel. Construiu uma casa nova de material perto da estrada e demoliu a antiga. Alfredo morreu repentinamente no caminho para fazer pasto, sábado de manhã, 22.4.1967, véspera de nosso “Kerb”. O sucessor no imóvel é seu filho, Lídio Klaus, casado com Iria Dieter, filha de Bertoledo Dieter. 4. Matias Henrich (+27.11.1928), católico, casado com Carolina Closs. Morreu em Dois Irmãos. Seu sucessor no imóvel foi Francisco Kasper. Esse, por sua vez, o vendeu a seu genro, José Klauck Filho, casado com sua filha Leopoldina. O imóvel está atualmente dividido entre os filhos: Teno, Telmo e Belmiro Klauck, que moram na casa antiga, ainda em razoável estado de conservação. 5. Jacob Kappes, evangélico, morou primeiramente onde hoje mora Guido Wendling, casado com Leônia Braun. Devido a dívidas, esse primeiro imóvel de Kappes foi leiloado pela Justiça, sendo o arrematador Nicolau Wendling, casado com Catarina Feiten, filha de Matias Feiten II, meus avós paternos. Ao avô sucedeu no imóvel seu filho João, casado com Maria Paulina Marmitt. O atual dono do imóvel é o seu filho Guido, já mencionado. Este retalhou o imóvel vendendo áreas a diversas pessoas. A casa antiga encontra-se em ótimo estado. Em 1871, Jacob Kappes construiu em outro seu imóvel, à beira da estrada geral, um salão de baile. No salão instalou casa de comércio e anexo um açougue. Kappes foi assaltado pelos “maragatos” na pessoa de Malaquias e seus capangas. Mais adiante voltarei a tratar desse assunto. O sucessor no imóvel foi Carlos (Karl) Henrich - católico - que abriu uma ferraria. Seu sucessor foi seu irmão, Pedro Henrich, casado com Elisabeta Geller. Em segundas núpcias, 43
Pedro casou com minha tia e madrinha, Maria Terêsia Büttenbender, filha de Guilherme Büttenbender Filho e Margarida Filipina Mombach. De vez em quando Pedro realizava bailes nesse salão e para o mesmo fim o alugou a outras pessoas. Houve neste salão também teatro e festas. De 1940 até 1943 funcionou uma escola estadual sob a regência da professora Maria Birck, e a partir de 1943 até 1947 a escola municipal “Inácio Montanha”, sob a regência de diversas professoras, com as aulas bastante irregulares, motivo pelo qual Pedro, desgostoso, não alugou mais o prédio à Prefeitura de São Leopoldo. Observação: Em 2002 o salão foi totalmente demolido com mato ao seu redor. 6. Frederico (Fritz) Müchel (*30.11.1908 e +24.06.1908), casado com Juliana Bech (*22.07.1846 e +05.05.1939), evangélicos. O sucessor no imóvel foi seu genro Jacob Beker, marceneiro, casado com a filha Catarina. Seu sucessor foi o filho Walter Nélson Beker, casado com Hedvig Lause. Walter construiu uma casa nova toda de material e demoliu a casa antiga. Em terras do mesmo imóvel moram agora seus genros Darcy Backes, casado com a filha Noeli; José Holz, casado com a filha Margarida. 7. Conrado (Conrad) Blume (+16.12.1920), católico, casado com Catarina Henrichs. Seu sucessor no imóvel foi seu genro Felipe Seger, casado em primeiras núpcias com a filha Emília. Em segundas núpcias casou com Elisabeta Schneider. Felipe fez funcionar em sua propriedade uma atafona movida à tração animal. Teve, porém, pouca duração. Felipe vendeu parte de seu imóvel ao prof. João Büttenbender Sobrinho e mais tarde a metade do restante a seu genro, Olívio Wingert, casado com a filha mais nova, Frida. Olívio veio a falecer em 13.04.1959 com 30 anos. Frida casou, em segundo matrimônio, com Antônio Emílio Braun. Demoliram então o chalé construído ao lado norte da casa de Felipe e o reconstruíram à beira da estrada geral de Walachai. Venderam mais tarde o imóvel a um certo veranista que por sua vez, o vendeu a Pedro Edgar Schmitt. Emílio mudara-se para o Morro Reuter. Felipe, por sua parte, vendeu o seu imóvel a Aloísio Scher e foi também morar no Morro Reuter. A casa antiga encontra-se ainda em bom estado de conservação. Antes do aparecimento da rede elétrica pública aqui, Felipe instalara luz elétrica com corrente contínua, em sua casa, proveniente de dínamo movido à roda por água. Quando surgiu, em 1961, a rede elétrica pública, Felipe desativou a sua usina porque a luz era precária, piscava muito. 8. Martinho (Mártin) Ries, evangélico, seu sucessor foi Carlos (Karl) Klein, também evangélico. Carlos construiu um moinho a turbina, movida pelas águas do arroio Walachai. Moía milho, trigo e centeio. Fazia óleo de amendoim e de linhaça. Descascava arroz por meio de pilões. Seus sucessores foram os irmãos Albino e Fernando Dieter, que venderam o imóvel 44
Vista do antigo salão Henrich, construido por Jacob Kappes em 1871. Encontra-se cercado de mato. Foto tirada em novembro de 1992.
Casa de Guido Wendling, também construída por Jacob Kappes (a parte enxaimel) mas muito antes do salão acima, segundo informes de Guido. A parte maciça (varanda) construiu o meu avô Nicolau Wendling, pelo ano de 1997. Nessa casa eu nasci em 26.06.1923.
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Exemplo típico de construções antigas. À esquerda da casa de Guido Wendling está construída a casa que serve de cozinha. Para prevenir-se contra incêndio, a cozinha foi sempre uma construção à parte (1992).
A casa do primeiro morador: Matias Henrichs. Cozinha também separada da casa de moradia. O proprietário atual desses prédios é Belmiro Klauck (1992).
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a seu cunhado, Leopoldo Arnold, casado com Leopoldina Dieter, em segundo matrimônio. Leopoldo substituiu a turbina por roda. Nos períodos de seca, quando não dava conta em servir seus fregueses, levava o milho e o trigo em lombo de burros para o moinho de João Wolf, lá no Jammerthal, e voltava com a farinha. Leopoldo também instalou luz elétrica em sua casa. Carregava baterias, pois em sua época havia em Walachai alguns rádios alimentados por bateria. Seu sucessor foi Albano Birck. Leopoldo mudou-se para Morro Reuter. Albano Birck por sua vez, vendeu a metade do imóvel com o moinho a Pedro Afonso Braun e mudou-se para Dois Irmãos. No tempo de Afonso, o moinho foi desativado, e a aparelhagem, ainda boa e útil, foi vendida. João Benno Wendling adquiriu, em 1957, dez hectares desse imóvel, situados ao lado leste, de Arnildo Backes, que os comprara de seu cunhado Albano Birck. Afonso Braun vendeu o restante deste imóvel, situado entre a estrada que vai por fora de Walachai e a propriedade de João Benno Wendling, a Hugo Dienstbach, vendedor viajante da “Barbonite” de São Leopoldo. Hugo, após aposentar-se, veio estabelecer a sua residência nesta sua área. O antigo açude do moinho foi aterrado e transformado em campo de futebol, de propriedade do esporte clube “11 de Maio”. 9. Mathias Mombach, o fundador de Walachai, católico, casado com Ana Maria Dietrich. A casa original foi construída em 1829 e hoje ainda se encontra em bom estado de conservação. Mombach, segundo minha mãe contou, falava melhor o francês do que o alemão. Dele, a vovó Margarida Filipina deve ter aprendido: “maleuer - plaisir – miserável”. Não se sabe quem foi o imediato sucessor de Mombach no imóvel. No “Rochembach für die Gemeinde Wallachei” encontram-se os nomes: Peter Mombach, 1916; Antônio Mombach, 1898, mas é pouco provável que tenham sido donos do imóvel do fundador de Walachai. Um sucessor certo neste imóvel foi Filipe Reinheimer, evangélico, que o vendeu a seu genro, Emílio Becker, casado com a filha Wilma. O atual proprietário (1992) do imóvel é Elmo Becker, filho do Emílio. 10. Ernesto (Ernst) Kohlrausch, evangélico, casado com Cristina Berg. A casa primitiva encontrava-se um pouco a oeste onde está sendo construído o salão paroquial da comunidade católica de São Nicolau. Seu sucessor foi seu genro Pedro Dapper, casado com a filha Luísa, em casamento misto. Todos os filhos, porém, abraçaram a religião católica. Pedro construiu o seu casario próximo à estrada. Abriu uma bodega e, oportunamente, promovia até bailes. Exercia também a profissão de alfaiate. Por muitos anos tocava o sino da igreja de manhã, ao meio-dia e à noite. Toda a quinta-feira ia a Dois Irmãos levar e trazer o correio, o que lhe valeu o apelido de “Donnerstagspeter”. No fim da vida esteve quase totalmente cego. O sucessor nesse imóvel foi o genro de Pedro, Teobaldo Dieter, filho de Carlos Dieter, 47
o gordo, e casado com a filha Sofia. Teobaldo se suicidou, cortando o pulso com uma faca de mesa. Seu sucessor foi seu genro, Cláudio Arnold, casado com sua filha Ernestina. Cláudio vendeu o imóvel a João Bento Kuhn e mudou-se para Dois Irmãos. 11. Nicolau (Nikolaus) Dapper (*1804 e +18.02.1888), católico, casado com Ana Maria Schmitz (*1811 e +21.07.1877). A casa estava com a inscrição 1857 e ainda se encontra em bom estado de conservação. Nicolau ajudou a construir a primeira capela de Morro dos Bugres, em 1849, da qual foi sócio. Seu filho Jacob participou da Guerra do Paraguai. A mãe fez a promessa que, se o filho voltasse com vida da guerra, em sinal de gratidão, mandaria erguer uma cruz, à beira da estrada de sua propriedade. Essa é a razão daquela cruz que até hoje se encontra ainda a beira da estrada ali, lembrando a volta feliz à casa paterna da Guerra do Paraguai. O sucessor no imóvel foi seu filho Felipe Dapper, casado com Ana Maria Hoff. Tiveram 21 filhos, dos quais 4 faleceram quando ainda pequenos. Felipe Dapper morreu repentinamente, aos 58 anos, caindo morto do burro-mestre, quando voltava de um transporte de uma carroçada de vime para São Leopoldo. Isso ocorreu em 25.08.1909, quase em frente da atual lancheria e padaria Stoffel, em Dois Irmãos. O sucessor de Felipe foi seu genro, Henrique Linck, casado com a filha Guilhermina. Da família de Felipe, mais tarde, morreu também repentinamente a filha Margarida, casada com Pedro Dieter. Ela morreu quando estava jogando víspora com suas vizinhas num domingo de tarde. 12. João Pedro (Johan Peter) Hoff (*13.03.1808 e +04.10.1891), católico, casado com Margarida Klein - veio para o Brasil em 1846, com sua esposa, com 37 anos de idade e os filhos Antônio, 10 anos; João, 8 anos, Ana Maria (mais tarde esposa de Felipe Dapper), com 6 anos; Margarida, 4 anos; João Pedro, 2 anos e Ana, 7 meses (conforme consta no passaporte). João Pedro era natural de Blankenrath - Alemanha. Era marceneiro e nos deixou, como recordação sua, o tabernáculo, até hoje no altar de nossa capela. Construiu o primeiro moinho em Walachai, movido à água, com duas rodas. Moía milho, trigo e centeio; descascava arroz por meio de pilões, fazia óleo de amendoim e de linhaça. A sua casa serviu de hospedagem aos padres durante muitos anos, quando em missão pastoral na comunidade. Com João vivia sua filha Margarete que era sonâmbula e não poucas vezes, à noite, subia e descia do telhado da casa. O seu passaporte está datado de 25.07.1846. Bem provável tenha se domiciliado nesse mesmo ano aqui no Walachai. O seu sucessor no imóvel e no moinho foi seu filho João, apelidado de “Strosse-Hannes”, casado com Gertrudes Schnorr. Dos sete filhos de João: Antônio, Pedro, Nicolau, José e Margarida morreram solteirões. Foram exemplos de pontualidade, pois quando o sino dava a primeira badalada, anunciando meio-dia, prontamente paravam de trabalhar. O novo dono do moinho chegou a ser Albino Seger que o modificou, instalando uma turbina. Como essa necessitava de muita água, voltou a 48
armar a roda. Faltando frequentemente água, devido às secas, instalou um motor a diesel, substituiu os pilões por descascador de arroz, instalou um dínamo para luz e para carregar baterias. Muitos anos depois, tendo passado por vários novos donos, o moinho parou de funcionar. Observação: Causa do desaparecimento dos moinhos coloniais: subsídio do governo cedido à farinha de trigo que se tornou mais barata do que a farinha de milho, o aparecimento da luz elétrica que dispensou o uso do óleo de amendoim na iluminação caseira e as dificuldades causadas por parte do governo ao funcionamento dos moinhos. 13. Guilherme (Wilhelm) Büttenbender (*16.03.1839 e +28.09.1925), católico, veio ao Brasil em 1861. Filho de Wilhelm Büttenbender e Elisabeth Römer, era natural de Weinsheim, Koblenz, região do Hunsrück. Deve ter partido da Alemanha em junho de 1861 com 23 anos de idade. Emigrou para escapar do serviço militar, segundo mamãe me informou. Recorreu ao pároco, pedindo que lhe desse atestado de conduta. Antes de Guilherme, já viera para o Brasil seu irmão mais novo, Matias Büttenbender, casado com Agnes Buch. Matias morava em Padre Eterno e por longos anos foi professor no Frankenthal. Guilherme casou-se aqui no ano de 1863 com Margarida Dapper, filha de Nicolau Dapper e Ana Maria Schmitz que aqui já residiam em 1858. Como marceneiro, não era possível manter-se aqui, sendo obrigado a dedicar-se também à agricultura que lhe era desconhecida. Mas, graças à sua esposa, aprendeu também essa profissão. Era um homem muito educado, porém enérgico e explosivo. Era bastante conhecedor da homeopatia e de outras práticas de saúde, motivo pelo qual muitas pessoas recorriam a ele para a recuperação da saúde. Possuía um grande volume que tratava de doenças, de sua prevenção e de seu combate. Possuía bastante estudo. Foi até professor provisório de Dois Irmãos de janeiro a maio de 1895, quando foi substituído pelo professor Mateus Grimm. Seus filhos se espalharam pelo Rio Grande do Sul, com exceção de Guilherme e Jacob que passaram a sua vida aqui em Walachai. Guilherme e Margarida celebraram as suas bodas de diamante, em 1923. No fim de sua vida, Margarida não esteve mais em pleno uso do juízo. Fato que mais tarde, ocorreu também com as netas Maria Teresia Büttenbender, minha tia e madrinha, com Guilhermina Büttenbender, minha mãe e com o prof. João Büttenbender Sobrinho, meu tio e professor. O sucessor no imóvel foi seu filho Jacob, casado com Ana Boufleur. Jacob herdou aquele livro que tratava das doenças e da homeopatia e se dedicou também à homeopatia, atendendo as pessoas que o procuravam. Cornélio Mombach (*07.09.1870), filho ilegítimo de Elisabeta Wickert, viúva de Jorge Mombach, avós maternos: João Wickert e Margarida Ritter. Foram padrinhos: Cornélio Wickert e Margarida Feiten (irmã de Elisabeta). Cornélio Mombach casou com Carolina Reinheimer e foi morar em Maquiné (Barra D’Ouro). Obs.: Data* do Cornélio não combina com a inscrição da casa - 1866 - mistério a decifrar! 49
A cruz que lembra a volta feliz da Guerra do Paraguai do walachaiense Jacob Dapper, numa foto de 1992.
A casa de Peter e Joseph Rurver. Pertence atualmente, 1993, à comunidade colônia Walachai, logo na entrada de Walachai, à direita de quem desce para Walachai. Encontra-se em ótimo estado de conservação, com objetos antigos.
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Casa de Martin Ries, construída em 1860. Foi o primeiro salão de baile de Walachai. O atual proprietário deste prédio é Nelson Antônio da Silveira (1993). Seu Nelson fez total reforma desta casa, conservando seu estilo original. Obs.: Em virtude do espaço físico não consegui fotografar totalmente este prédio tão bem conservado.
Elisabeth Rörner Wilhelm Büttenbender, os pais de meu bisavô materno, Guilherme (Wilhelm) Büttenbender, que veio para o Brasil em 1861 com 23 anos de idade. Casou-se aqui em 1863, com Margarida Dapper, que aqui já se encontrava antes de 1849. Era filha de Nicolau (Nokilaus) Dapper e Ana Maria (Ami) Schmitz.
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A família do meu bisavô materno: Guilherme (Wilhelm) Büttenbender, casado com Margarida Dapper. Em pé os quatro filhos – da esquerda para a direita: Jacob, Guilherme (meu avô materno), Pedro e João (Hannes). As 3 filhas: Margarida, o bisavô Wilhelm, Catarina, a bisavó Margarida e Maria.
As Bodas de Diamante do meu bisavô Whilhelm Büttenbender e a bisavó Margarida Dapper, em 1923. Da esquerda para a direita, as crianças sentadas: os netos Afonso,Oto, Guilhermina, Chuadro, Nicolau e José. Na segunda fileira: meu pai e minha mãe comigo no colo; as filhas Margarida, Maria e Catarina; a bisavó Margarida e o bisavô Wilhelm; os filhos Guilherme, Pedro, João e Jacó. Na terceira fileira: Catarina e prof. João,os genros Carlos Scneck, Pedro Streit e José Spaniol; as noras Margarida Mombach, Teresa Spohr, Ana Dapper e Ana Boufler. Na quarta fileira: os netos Alberto Büttenbender, Maria Terêsia, Olivia, Verônica com o esposo Antônio Lauxen, netos João, Lino e Guilherme. O bisavô estava então com 84 de idade, e a bisavó com 80 anos.
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A família do meu avô materno Guilherme Büttenbender Filho
Os filhos e filhas do avô Guilherme Büttenbender Filho quando já em idade: Guilherme, João, Lino, minha mãe Guilhermina, madrinha Maria Terêsia e Margarida.
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14. João Wickert (Johann) (*1804 e +25.05.1887), conhecido como Baldus, católico, casado com Maria Margarida Ritter, veio da Prússia ao Brasil, em 15.11.1846, de profissão carpinteiro, com os filhos Elisabeth de 14 anos e Maria Margareth com 2 anos. O sucessor de João Wickert foi seu genro Jorge Mombach, filho do fundador de Walachai, Mathias Mombach, casado com a filha Elisabeta. Jorge morreu cedo (*18.03.1829 e +15.07.1863) com 34 anos, com gastrite. Deixou a esposa Elisabeta com 4 filhas e um filho. Com Jorge moravam seu pai Mathias e seu sogro João (Baldus). O sucessor no imóvel foi seu genro Guilherme Büttenbender Filho, casado com a filha Margarida Filipina (*01.04.1863 e +13.12.1946). Guilherme continuou na profissão de seu pai: marceneiro e até a sua morte foi quem fazia os caixões fúnebres para Walachai, Morro Reuter, Picada São Paulo, São José do Herval e Morro dos Bugres. Em certos casos os fazia em dependência da moradia do próprio defunto. E nos casos para longe, fazia o transporte do caixão à casa fúnebre em sua carroça puxada por burros e não raras vezes providenciava também o transporte do defunto para o cemitério. Guilherme foi um dos primeiros moradores a ter carroça. Desde 1917 até 1940 foi o fabriqueiro da comunidade de São Nicolau. Extraía dentes aos que a ele recorriam em casos de dor de dente. A anestesia consistia em dar ao cliente um bom gole de cachaça para bochecho, o que amortecia a boca. Após a extração, dava outro gole de cachaça para desinfetar a ferida. Guilherme foi um grande líder da comunidade. A exemplo de seu pai, medicava os doentes também com a homeopatia. Após a abolição da escravatura, teve como empregados dois negros. Como passava, muitas vezes, a semana inteira fora e longe de casa, em função de sua profissão, a vovó, para estar em segurança e com medo dos dois homens, trancava, à noite, a porta de seu quarto e dormia com o facão ao lado da cama. Mas os dois negros eram bons e de confiança. O sucessor no imóvel foi seu filho mais novo, Lino Büttenbender, casado com Ida Dieter. Lino sucedeu também ao pai como fabriqueiro da comunidade de 1941 até 1985. Lino, já casado e com uma filha, a Hedi, foi convocado para o serviço militar em 1930. Serviu na cavalaria em Sant’Ana do Livramento. Nesse tempo faleceu sua filha Hedi e ela teve de ser enterrada sem a presença do pai. Ele celebrou, com sua esposa, Ida, as bodas de ouro, em 2 de maio de 1977 e as bodas de diamante, em 2 de maio de 1987, cercado de 11 filhos vivos, entre os quais o Padre Hugo Büttenbender. Lino, a exemplo de seu pai, foi um grande líder da comunidade e assimilador de técnicas agrícolas novas. Por muitos anos hospedou, gratuitamente, o Padre Vigário, Valentim Weschenfelder, quando em missão apostólica na comunidade. Também outros padres, ao visitarem a nossa comunidade, tiveram a sua acolhida em casa de Lino. Ele faleceu em 20.04.1989 prestes a completar 84 anos de idade. Na missa de corpo presente, concelebraram 19 sacerdotes. Sua esposa, Ida, faleceu em 20.09.1991, perto de completar 85 anos. 55
Vale ressaltar que Lino e Ida são meu tio e minha tia por parte de minha mãe; que tio Lino foi grande amigo da leitura e costumava escrever artigos para os jornais: Deutsches Volksblatt - A Nação - Jornal do Dia. Por muitíssimas vezes foi presidente de mesa eleitoral de nossa comunidade. Conseguira fundar e fazer funcionar a “União dos plantadores de fumo”, que devido às exigências governamentais durou pouco. O seu imóvel está dividido entre os filhos: Cláudio, casado com Jacinta Schneck, morando na casa outrora de seu pai; Bruno, casado com Anita Stoffel, morando ao lado sul de seu irmão Cláudio; o genro Erico Vogel, casado com a filha Romana, morando no mesmo imóvel na área situada no Vale das Batatas. 15. Pedro Feiten (Peter), católico, veio ao Brasil em 25.05.1829 em companhia de seus pais, Matias Feiten I e Mariana Rohr. Faleceu com a idade de 87 anos. Pedro era carpinteiro, tal qual seu pai, tendo construído uma porção de casas da localidade. Em primeiras núpcias casou com Maria Margarida Wickert, que veio a falecer em 17.10.1891. Em segundas núpcias casou em 22.11.1892, com sua cunhada Elisabeta Wickert,
Casa da viúva Elisabeta Wickert Mombach construída em 1866, reformada. Cláudio Büttenbender é o seu atual proprietário, 1992.
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viúva de Jorge Mombach. Pedro migrou para o Travessão, em Dois Irmãos, vendendo seu imóvel a João Pedro Meinerz (Johann Peter), apelidado de “Bohnenpitt”. 16. João Pedro Meinerz *30.03.1834 e +19.12.1909 com a idade de 75 anos, 8 meses e 19 dias. Era natural de Masterhausen, Regierungsbezirk, Koblenz. Veio para o Brasil em 1860. Casou em 1861, com Ana Maria Dapper, filha de Nicolau Dapper e Ana Maria Schmitz. O casal teve 9 filhos e 62 netos. Uma filha também de nome Ana Maria, casada com João Dillmann, faleceu 7 semanas antes de João Pedro, em 01.11.1909, em Picada São Paulo. Não quero deixar de mencionar que João Dillmann e Francisco Wickert foram os avós do prof. José Albano Wickert. O sucessor de João Pedro Meinerz foi seu genro Francisco Braun que veio a falecer de tétano, em 01.04.1917, com apenas 38 anos de idade. Foi chamado o médico de Hamburgo Velho, que veio a cavalo, mas já era tarde demais. A viúva, Ana, mais tarde dividiu o imóvel em 3 partes: a filha Rosa, casada com Aloísio Lauxen,
Casa de Pedro Feiten, construída em 1863, reformada. A cozinha estava num prédio no outro lado da casa de moradia, 1992.
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recebeu a parte de trás do morro (no Vale das Batatas); o filho Francisco, as partes do arroio do Vale das Batatas até o travessão de Linha Cristo Rei; a filha Catarina, casada com Wilibaldo Arnold, a parte situada no centro de Walachai com a casa antiga. Observação: O João Büttenbender, filho de Guilherme Büttenbender, casou-se com Ana Dapper, sua prima e sobrinha do “Bohnenpitt”. Depois Pedro, outro filho de Guilherme Büttenbender, tentou namorar uma filha do “Bohnenpitt”, prima sua. Mas Guilherme, cunhado do “Bohnenpitt” foi categórico e lhe disse: “Einmal ‘Primaheirat’, aber nicht Zweimal.” – “ Uma vez casamento entre primos, mas não duas vezes”. Por isso o Bohnenpitt tornou-se um inimigo figadal de seu cunhado, bem como também de seu sobrinho, vizinho Guilherme Büttenbender Filho. Houve então missão, e o missionário garantiu que gente morrendo em inimizades, irremediavelmente estaria condenada ao mais profundo abismo do inferno. A consciência de Bohnenpitt não sossegou até que fez as pazes com seus dois vizinhos. Na hora de sua morte veio a morrer apoiado aos braços de seu outrora inimigo, sobrinho Guilherme Büttenbender Filho. 17. Matias Feiten, católico, 28 anos, casado com Mariana Rohr, 28 anos (+25.06.1890 com 88 anos), chegaram ao Brasil em 22.05.1829, com os filhos Cristiana, 07 anos e Jacob, 03 anos. No Brasil nasceram Agnes, Helena, Matias, Pedro e João. O filho Jacob casou com Elisabeta Battlaender (+02.07.1901, com 66 anos); Matias Feiten Filho casou com Margarida Wickert (+20.01.1893, com 53 anos) Pedro Feiten casou com Maria Margarida Wickert, filha de João Wickert (Baldus), em primeiras núpcias, e em segundas núpcias, com Elisabeta Wickert, irmã de Maria Margarida Wickert e viúva de Jorge Mombach. Assim temos no sobrenome Feiten repetido três vezes o nome Matias sucessivamente. Matias Feiten, Matias Feiten Filho e Matias Feiten Neto. O sucessor de Matias Feiten Filho foi o seu sobrinho Francisco Wickert, filho do prof. Pedro Wickert, casado com Elisabeta Meinerz, como já foi mencionado. Francisco foi, durante muitos anos, zelador de estrada, mantendo em dia, principalmente, certo trecho da estrada Geral de Walachai para o Rioloch e Pinhal Alto, por onde, na época, o movimento de carroças era intenso. Os comerciantes de Pinhal Alto, do Jammerthal e do Rioloch transportavam por essa estrada os produtos agrícolas para Dois Irmãos, Hamburgo Velho ou São Leopoldo. Francisco Wickert tinha o filho João que morava em Boa Vista do Buricá. Certo domingo, de tarde chuvosa, na cozinha do vovô Guilherme Büttenbender, sentados perto do fogão, tomando chimarrão, Francisco contou a seguinte estória: viajando para Boa Vista, entrei numa igreja, ajoelhei-me num dos bancos dos fundos. O padre estava atendendo confissões. De repente levantou-se do confessionário e saiu com dois guris para o pátio da igreja. Espiei para fora e vi os dois guris dando cambalhotas pela grama. Havia também duas senhoras nessa igreja, espiando pela janela. Ao verem os dois guris dando cambalhotas na frente do padre, 59
uma senhora bem baixinha e toda espantada, disse à outra: “ Deus do céu! Eu vou-me embora para casa. Estou sem calcinha!” “Comadre, comigo acontece o mesmo, vamos embora” replicou a outra. Ao voltar para a igreja o padre se aproximou de mim de disse: “O senhor deseja confessar-se?” “Não! Eu estou aqui apenas de passagem” respondi. “Mas por que tio Francisco, por que o padre fez os guris darem cambalhotas?” interveio tio Guilherme Büttenbender. “Muito simples! A mãe dos guris lhes tinha proibido de dar cambalhotas no pátio da casa. Eles haviam desobedecido e foram fazer a confissão. O padre não sabia o que era cambalhotas e convidou-os a fazerem uma demonstração no pátio da igreja. As duas senhoras acharam ser essa a penitência dada aos guris, explicou seu Francisco. O sucessor no imóvel de Francisco Wickert foi Afonso Arnold, seu genro, casado com a filha Maria, que veio a falecer cedo (+26.01.1940 com 36 anos). Em herança o imóvel foi dividido entre os filhos, ficando com a parte onde se encontra a casa antiga, o genro Alberto Dilkin, casado com a filha mais nova, Terezinha. A casa encontra-se em razoável estado de conservação. Afonso serviu à comunidade durante uns 30 anos como sensor (conselheiro da diretoria da comunidade) e foi o encarregado de buscar e levar de volta até a estrada de Walachai, o pároco, Pe. Valentin Weschenfelder. Foi uma tarefa muitas vezes penosa, principalmente em dias chuvosos. Serviço prestado gratuitamente. O que pode servir de exemplo a muitos de nós. Afonso era procurado para prestar ajuda em casos de animais doentes. 18. Prof. Pedro Wickert (Peter), católico (*04.07.1844 e +06.09.1921), com 77 anos de idade). Natural de Buch, Município: Castelaun, Setor: Simern, Região governamental: Coblença, Reino: Prússia, Província: Baixo Reno, Europa. Imigrou para o Rio Grande do Sul em 21.05.1857, com a idade de 12 anos, em companhia de seus pais: Pedro José Wickert (Peter Josef) (+06.07.1866 com 64 anos) e Ana Maria Schwaab (+04.03.1880, com 67 anos). Morou primeiramente com seus pais e irmãos no Windhof - Santa Inês - Pinhal Alto até a idade de 15 anos. Casou-se com Maria Feiten, em 27 de novembro de 1866. A primeira filha, Maria Madalena, segundo anotações suas, nasceu em 17.09.1867. Essa, mais tarde, casou-se com João Schmitz (Schmitz Hannes) e faleceu cedo (*17.09.1867 e +11.06.1892, com 25 anos). Teve a filha Dorotéa casada com Nicolau Backes, residente em Walachai, onde hoje mora Ricardo Südegum. Outra filha casou-se com Henrique Backes e foi residir em Padre Eterno; a filha Margarida casou-se com Felipe Hoff e ficou morando com o pai; a filha Filipina casouse com Pedro Arnold II e ficou morando em Walachai; o filho Francisco casou com Elisabeta Meinerz e foi sucessor de Matias Feiten II Filho; a filha Maria Luísa faleceu solteirona. Pedro escreveu o diário de sua viagem da Alemanha até o Rio de Janeiro. Esse documento encontra-se com seu neto, José Hoff. Pedro foi, durante 45 anos, o professor de Walachai, de 1872 até a Páscoa de 1917. Teve de renunciar ao magistério devido ao seu estado precário de saúde. Sofria muito de asma. O professor Pedro Wickert foi um grande líder e 60
Casa do Prof. Pedro Wickert. Provavelmente construída em 1866. Seu atual dono (1992), o neto, José Hoff.
Casa comercial e salão de baile de Albino Seger. A Firma JA Wirth adquiriu o salão de Alberto Schmitz que o adquiriu de Arno Steffen a quem Albino Seger o havia vendido. JA Wirth instalou neste salão sua fábrica de calçados, filial 3. Em 1994 o prédio foi demolido após a construção da nova fábrica, ampla e moderna.
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Cinco gerações – Tataravó: Ana Ermel Schuh | Bisavó: Erna Schuh Wendling | Avó: Isabel Maria Wendling Blume | Mãe: Arlete Blume Sinik | Tataraneta: Rafaela. Foto: 1994
O pai em sua última visita à minha casa. Foto: Janeiro de 1979
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Os meus pais na companhia de seu filho Pe. Guilherme. Foto: 1980
A mãe em sua última visita à minha casa acompanhada pela nora Maria Natália, em 1982.
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Netos: Beatriz, José, Nicolau e Isabel Meus pais: Guilhermina Bütenbender e Nicolau Wendling Filho Foto tirada pelo Prof. Edvino Utzig no dia do casamento de meu irmão Linus com Maria Natália Wickert, em 1953.
Da esquerda para a direita, meus irmãos: Aloísio, Guilherme e Linus. Sentados no meio, os avós paternos: Nicolau Wendling e Catarina Feiten; e os avós maternos: Margarida Filipina Mombach e Guilherme Büttenbender Filho. Em pé: Eu João Benno, o pai Prof. João Büttenbender, a mãe, irmã Marta. Foto tirada em 1937 por Leopoldo Schneider.
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benfeitor da comunidade e era um professor severo e caprichoso, tanto que em matéria de ensino religioso aos seus alunos, superava seus colegas na paróquia. Seu professor substituto foi João Büttenbender Sobrinho. Naquela época o ano letivo começava na segunda-feira após o domingo “in Albis”. Nesse domingo, as crianças que haviam frequentado a escola durante 4 anos, faziam a sua comunhão solene e se despediam da escola. Não havia férias. O sucessor no imóvel foi seu genro, Felipe Hoff, casado com a filha Margarida. José, o filho único, sucedeu ao pai Felipe. Está casado com Lúcila Ternus. José vendeu a seu filho Roque, casado com Amalda Lauxen, a parte do imóvel situado no Vale das Batatas. A casa antiga está ainda bastante bem conservada. José possui diversos objetos de muito valor histórico. 19. Cornélio Wickert, filho de Pedro Wickert e Maria Ries, casado com Margarida Susana Adams (+17.12.1899), católico, tio do prof. Pedro Wickert. Foi o primeiro professor de Walachai. Segundo contaram pessoas idosas, foi professor aqui durante 6 anos (entre 1866 e 1872), quando passou o cargo a seu sobrinho, Pedro Wickert. Cornélio mudou-se então para o Travessão, em Dois Irmãos, onde lecionou durante 20 anos. Ele possuía bem mais estudo do que seu sobrinho Pedro. Enquanto o prof. Pedro estudou na Alemanha durante 6 anos, o tio estudou durante 8 anos obrigatórios naquela época, na Alemanha. O sucessor de Cornélio no imóvel foi João Pedro Bender, que em junho de 1893 emigrou após ter vendido o imóvel a Guilherme Büttenbender Filho. Esse vendeu o imóvel a seu genro José Grings, casado com a filha Margarida, por volta do ano 1926. Tio José vendeu o imóvel a meu pai, Nicolau Wendling Grings Filho, seu cunhado. Meu pai construiu casa nova, pois a outra moradia estava emendada ao paiol e à estrebaria. Também não mais oferecia espaço suficiente à família. Há muitos anos o atual proprietário desse imóvel é meu irmão Linus, casado com Maria Natália Wickert. Importa salientar que a caçula da família, Maria, é deficiente física de nascença, sem os antebraços, uma perna mais curta que a outra e com apenas 3 artelhos. Eu tive a honra de alfabetizá-la. Segurando com os dois braços o lápis ou a caneta, aprendeu a escrever com bastante rapidez e habilidade. É impressionante observar como ela trabalha, faz praticamente tudo, como se fosse uma pessoa fisicamente normal. Não possui nenhum sentimento de inferioridade e é muito inteligente. Já concluiu o 2º grau. Está se preparando para ser professora de alemão. Frequenta a faculdade da Unisinos, em São Leopoldo e esteve na Alemanha durante 4 meses, nos fins de 1990 e começo de 1991. 20. Jorge Steffen (Georg), católico, ficou morando no imóvel até 31.10.1910. Esteve casado com Gertrudes Braun (+27.07.1910). Viúvo, foi morar com um de seus filhos. A casa antiga está muito bem conservada. O sucessor nesse imóvel foi João Dillmann (Johann), cuja 65
esposa, Ana Maria Meinerz, falecera em Picada São Paulo, onde então residia, em 01.11.1909. Veio para cá como viúvo, com seus filhos. Três filhas de João tornaram-se religiosas na congregação das irmãs do Imaculado Coração de Maria. Vale ressaltar que João foi o primeiro morador de Walachai a possuir lanterna a pilha, a qual trouxera de uma das suas viagens a Santa Rosa. O sucessor no imóvel foi o seu genro José Francisco Arnold, casado com a filha Catarina. Francisco, além de barbeiro, foi ótimo confeccionador de balaios e jacós de vime; possuía um bem cuidado apiário, como a maioria dos moradores naquela época. A sua filha Catarina tornou-se irmã na congregação do Imaculado Coração de Maria. O sucessor no imóvel foi seu genro Léo Guilherme Büttenbender, casado com a filha Maria, com quem Francisco e a filha Marta foram morar. Atualmente mora nessa casa o genro de Léo, Remi Stoffel, casado com a filha Filipina. Remi é zelador de estrada do trecho do Vale das Batatas até a igreja. É funcionário da Prefeitura de Dois Irmãos. Léo recebera o imóvel para cuidar do sogro Francisco e da cunhada Marta. 21. João Braun (Johann), católico (+25.05.1921 com a idade de 80 anos e 2 dias). Sua esposa foi Elisabeta Südegum. Seu filho Pedro era funileiro e exerceu essa profissão, por alguns anos, na casa paterna. O sucessor no imóvel foi seu filho Henrique, casado com Cristina Klein. Henrique vendeu a parte situada entre o arroio do Vale das Batatas até o travessão com Linha Cristo Rei a seu filho João, casado com Alma Dieter. Irma e Alma eram irmãs e filhas de Carlos Dieter, o gordo. Leopoldo vendeu a parte de trás do morro até a propriedade de seu irmão João a Felipe Seger Sobrinho. 22. Matias Arnold, 45 anos, casado com Ana Bárbara, 36 anos, veio para o Brasil em 15.11.1846, com seus filhos Pedro I, 18 anos; Ana Maria I e Ana Maria II; Felipe II, 6 anos e Pedro II, 2 anos. Os filhos se tornaram pedreiros caprichosos. Ajudaram na construção da velha igreja matriz de Dois Irmãos, cujas paredes são de pedras-arenito talhadas. Ajudaram também a construir a ponte de pedras sobre o rio Feitoria em Dois Irmãos e, sem medo de errar, também a ponte de pedras sobre o mesmo rio, em Ivoti. Uma característica interessante do Felipe II é que ele usava vistosos brincos. Segundo crenças suas, o protegiam contra doenças. O sucessor de Matias foi seu filho Felipe, casado com Elisabeta Schnorr, que mais tarde passou as terras para seu filho Pedro Arnold IV, casado com Filipina Wickert. Este foi um ótimo fabricante de vassouras. Após uma picada de cobra, deixou de trabalhar na roça, mas na época de fabricação do fumo em corda era a alma na tarefa, e seu fumo era de muita fama. Vendeu a parte do imóvel situada além do arroio do Vale das Batatas até o travessão de Linha Cristo Rei a Pedro Afonso Braun, casado com Irma Dieter, filha de Carlos Dieter, o magro, e a Balduíno Arnold casado com Cecília Dieter, filha de Matias Dieter. 66
Povoamento de Batatenthal - Vale das Batatas O nome originou-se por sua localização ser bastante favorável à precoce obtenção de mudas de batata-doce. O povoamento do Vale das Batatas foi bem posterior ao povoamento do centro de Walachai. As propriedades foram adquiridas de moradores do centro do Walachai que, em parte, estavam impedidos do aproveitamento das terras devido ao difícil acesso. 23. Pedro Ilges (Peter), (*31.01.1839 e +07.03.1917, com 78 anos), casado com Juliana Gross (*16.08.1849 e +21.02.1921, com 72 anos), evangélicos. Seu sucessor no imóvel foi Fernando Weimer, que instalou uma serraria com máquina a vapor. Vendeu o imóvel a Aloísio Schuck, casado com Alvina Knorst, natural do Morro dos Bugres. Quando Aloísio morreu, a esposa e filhos venderam o imóvel ao Pe. Pedro Schütz, e mudaram-se para o Travessão, em Dois Irmãos. A casa antiga está muito bem conservada. 24. David Berg, (*24.10.1845 e +12.03.1934), casado com Maria Eva Schneider (*17.07.1857 e +19.01.1926), evangélicos. O sucessor no imóvel foi seu filho Guilherme Berg, (*7.7.1891 e +18.7.1973), casado com Ema..., (*15.01.1896 e +14.06.1975). Seu filho Alcido o sucedeu. A casa antiga está bastante conservada. 25. Matias Sauressig, (*03.12.1857 e +09.05.1932), casado com Filipina Korndörfer (*31.03.1864 e +13.08.1953), evangélicos. Vendeu o seu imóvel a Frederico Berg e comprou o imóvel de Pedro e José Ruwer em 1888, na entrada de Walachai. Frederico vendeu o imóvel a seu filho Sírio, o atual proprietário. A casa antiga está bem conservada. 26. Carlos Schulz (Karl), evangélico, emigrou vendendo o seu imóvel a Adão Berg (*17.12.1887 e +21.10.1931), casado com Paulina Robinson (*18.03.1891 e +12.11.1967). O sucessor no imóvel é seu filho Edvino Berg. A casa antiga encontrase bem conservada. Adão, Frederico e Guilherme eram irmãos e filhos de David Berg. 27. José Böff (Josef), (*06.05.1854 e +14.02.1925), casado com Ana Gertrudes Naumann - católicos. O sucessor foi o filho Reinaldo, casado com Maria Feiten. Com a morte de Reinaldo o imóvel passou para seus dois filhos: Alcido, casado com Werna Hoffmann e Lino casado com ...Jung. A casa antiga encontra-se conservada. Observação: Provavelmente Jacob Berg (*18.04.1810 e +24.05.1879), foi o primeiro morador no Vale das Batatas e provavelmete David Berg tenha sido filho de Jacob. 67
Do centro de Walachai em Direção a Santa Maria do Herval 28. João Schmitt (Johann), evangélico, chegou ao Brasil em 18.06.1829. Veio acompanhado de sua esposa, não havendo notícias sobre filhos. Morava nas proximidades onde se acha a casa de José Helberto Sauter, mais precisamente no potreiro, hoje de propriedade de Lauro Chies. Os alicerces da construção existem até hoje. João Schmitt foi assaltado pelos maragatos, como veremos mais adiante. Emigrou e não se sabe para onde e nem quem foi o seu sucessor imediato. Mais tarde o imóvel pertenceu a Francisco Dapper, casado com Francisca Passini. Francisco era muito hábil em trançar laços, relhos e outros artigos de couro cru. O sucessor de Francisco foi seu filho Guilherme Dapper, casado com Luísa Boff, minha prima por parte de pai. Guilherme consertava vasilhames de latão após desaparecerem as funilarias em Walachai. Vendeu o imóvel a Lauro Chies e emigrou para o Rincão dos Ilhéus em Novo Hamburgo, para junto de seu filho Roque. 29. Henrique Jacob Strehl, católico, (*26.06.1810), natural da Baviera - Alemanha, casado com Filipina Vogt (*03.03.1814). A família chegou a Porto Alegre em 16.02.1847. Ignora-se a sua chegada a Walachai. A casa tem a inscrição 1855. É, portanto uma das mais antigas. Encontra-se em precário estado de conservação. Não se sabe o ano em que emigrou para a localidade Mundo Novo, perto de Três Coroas, e de lá para Estrela. O sucessor de Henrique Jacob Strehl foi Antonio Passini – (*31.05.1843 e +09.02.1922), casado com Rosalina Buffelé (+18.05.1940, com 95 anos). Ambos eram italianos. O casal morou primeiramente em Hamburgo Velho, onde aprendeu um pouco de português e quando vieram estabelecer-se aqui, viram-se obrigados a aprender o alemão, que nunca chegaram a falar corretamente. Como legítimos italianos, Antonio era bom produtor de vinho. O sucessor no imóvel foi Nicolau Böff, casado com Maria Wendling, irmã de meu pai. Por muitos anos Nicolau foi o comandante do grupo “Foguetório” que, na noite de São Silvestre, fim de ano, passava de casa em casa, desejando a seus moradores um “Feliz Ano Novo”, com uma bela poesia e uma desordenada salva de tiros de “trabuco”. Foi um dos poucos privilegiados que, na época, possuía carroça puxada de burros. Fazia carretos para muitas pessoas. Nicolau Böff vendeu o imóvel a Jorge Schneider e emigrou para Santo Cristo, estabelecendo-se em Dona Belinha. Quando já idoso, regressou com sua esposa, vindo morar com seu genro Oscar Schneider, casado com a filha Werna, em Santa Maria do Herval, onde ambos vieram a falecer. 30. Jacob Feiten, católico, casado com Elisabeta Battlaender (+02.09.1901). Jacob veio ao Brasil em companhia de seus pais: Matias Feiten e Mariana Rohr, em 25.05.1829. Sua casa 68
tinha e ainda tem a inscrição: J. F. 1859. Morava para o lado sul da casa que hoje é de Artur Schmitz. Baseado nas anotações do prof. Pedro Wickert, deve ter tido casa comercial. O seu sucessor no imóvel foi Guilherme Closs que exerceu o cargo de inspetor na época dos assaltos dos “Maragatos”. Guilherme era alfaiate. Mudou-se de São Leopoldo para Walachai. Em sua alfaiataria em São Leopoldo o mucker Robinson assassinara com um tiro de espingarda o seu aprendiz Jorge Haubert. Querendo viver em paz e longe do perigo de ser assaltado pelos “muckers”, mudou-se para Walachai. O sucessor no seu imóvel foi seu genro Felipe Reinheimer, casado com a filha Guilhermina. Esta era costureira, e Felipe, durante muitos anos, foi o dirigente do coral evangélico de Walachai. Felipe Reinheimer vendeu o imóvel a seu filho Osvaldo e foi residir na casa situada em frente ao imóvel do fundador de Walachai, Mathias Mombach. A casa traz a inscrição F. R. 1893. 31. João Pedro Holl, apelidado de “Hiwelle-Hannes”, católico, (*1823 e +05.03.1907), casado com Maria Miot (*01.11.1830 e +08.12.1911). Moravam no imóvel de propriedade de Alberto Fröhlich, mas no lado de cá do morro, perto do travessão. Dizem que lá existem ainda hoje os alicerces da construção. O sucessor de João Pedro Holl foi seu genro Jacob Lauxen, casado com a filha Ana Maria. Jacob dividiu o imóvel, sendo seus sucessores: João Teodoro Lehnen, casado com a filha Rosalina; o filho Alfredo, casado com Guilhermina Land, sendo seu proprietário atualmente Alberto Frölhich, casado com a filha Maria de Alfredo. 32. Antonio Olbermann (Anton), católico, emigrou para Selbach, sendo seu sucessor no imóvel Pedro Lauxen, casado com Gertrudes Holl. Pedro e Jacob foram irmãos, bem como as suas esposas, Ana Maria e Gertrudes. Quando Pedro faleceu em 06.05.1918, na idade de 54 anos, a esposa viúva continuou morando no imóvel com os filhos. A filha Ana Maria casou-se com Nicolau Olbermann e foi residir em Padre Eterno. Nicolau faleceu mais cedo, e a viúva Ana Maria com os filhos voltou a morar com sua mãe, viúva Gertrudes. Aloísio Olbermann, filho de Ana Maria, casou-se com Joana Südegum, filha de Willibaldo Südegum e de Maria Becker e tornaram-se proprietários desse imóvel. 33. João Schmitz (Johann), católico, veio para o Brasil em 1857 com 27 anos. Casou aqui com Ana Maria Holl (*1832 e +08.02.1913, com 81 anos e 10 meses). Ainda hoje, existe o passaporte de imigração de Johann nas mãos de José Hoff, com os seguintes dados: Local de nascimento e de residência: Blankenrath. Data do nascimento: 18 de outubro de 1830. Altura: 5 pés e 2 polegadas. Cabelos: loiros, olhos cinzentos, nariz grande, lábios grossos. 69
Barba em desenvolvimento, rosto redondo, aspecto físico corpulento. Sinal particular: não tem. Profissão: sapateiro. Viaja de Blankenrath por Coblenz, Cölen e Antuérpia para o Rio Grande do Sul Brasil. Coblenz, 28 de março de 1857. Governo real da Prússia. Visto em Rio Grande: 4 de junho de 1857. Veio para o Brasil um pouco antes do prof. Pedro Wickert, mas no mesmo ano. Foi morar atrás do morro, para o lado de Santa Maria do Herval. Teve também de se adaptar à agricultura já que, como sapateiro, não conseguia o suficiente para poder viver. Seu sucessor no imóvel foi seu filho João Schmitz Hannes, como era conhecido e chamado. Casado em primeiras núpcias com Maria Madalena Wickert, filha primogênita do prof. Pedro Wickert. Maria Madalena morreu cedo, em 08.10.1893, e João casou em segundas núpcias, com Ana Lauxen *17.09.1867. Seu sucessor foi seu filho João Alberto, casado com Elisabeta Wickert. Atualmente é dono desse imóvel o filho destes últimos, José Schmitz, casado com Paula Südegum. A casa antiga encontra-se em bom estado de conservação. 34. Cristiano Closs (Cristian), evangélico, vizinho de João Schmitz. Seu sucessor no imóvel foi seu filho Oto Coss, casado com Elisabeta Robinson. Atualmente mora na casa antiga o filho Urbano, casado com Joana Schmitz, casamento misto. Com Urbano mora o seu irmão Fridolino, solteiro.
Povoamento de Rioloch 35. Francisco Reinheimer, evangélico, (*24.06.1854 e +16.05.1916), casado com Juliana Michel. Morava perto da ponte Farroupilha, às margens do rio Cadeia. Lá existe um moinho movido a água por meio de roda. Ninguém soube informar quem construiu esse moinho, que produzia farinha de milho, trigo e centeio, descascava arroz, inicialmente por meio de pilões, e, mais tarde, por meio de descascador de arroz; produzia também óleo de amendoim e de linhaça. Francisco (Franz) suicidou-se com um tiro de espingarda. A bala varou-lhe o crânio, alojando-se na porta de seu quarto. Não se sabe o motivo desse gesto, mas o certo é que Francisco não regulava bem em seus “miolos”. O provável sucessor foi João Leidenfuss em 1916. Sucedeu-o João Kuhn Sobrinho, então Nicolau Kuhn e depois Albino Kuhn, casado com Teresa Arnold. Por volta de 1940, Balduino Dapper havia alugado o moinho, e por último, quem tomou conta foi Teobaldo Kuhn, casado com Isabel Fritsch. Com o tempo o moinho foi desativado. 70
36. Henrique Reinheimer (Henrich), evangélico, (*16.03.1832 e +19.06.1899), veio para o Brasil em 10.01.1847. Sua esposa era Elisabeta Koch (*11.09.1821 e +24.01.1887). Henrique veio da Baviera - Alemanha - com 25 anos de idade, com sua esposa também com 25 anos e seu filho Henrique Jacob, 2 anos de idade. Henrique morou provavelmente no imóvel onde morou Irineo Führ, logo no outro lado do arroio Walachai, vizinho de Francisco Reinheimer. Esse mesmo imóvel pertenceu por algum tempo a João Kuhn Sobrinho que o vendeu a Antonio Lauxen. Esse, por sua vez, o vendeu a um veranista e mudou-se para Santa Maria do Herval. 37. Guilherme Reinheimer (Wilhem), evangélico, também como Francisco, não regulava muito bem dos “miolos” e acabou se enforcando. O sucessor no imóvel foi seu filho Bento Reinheimer, que por sua vez, vendeu o imóvel a Leopoldo Kuhn, casado com Elisabeta Hansen. Leopoldo possuía um lindo parreiral e preparava excelente vinho. Gozava sempre de boa saúde, mas quando já bastante idoso, viu-se obrigado a submeter-se a uma intervenção cirúrgica na Santa Casa de Porto Alegre. No dia que obteve alta, faleceu repentinamente. Possuia muita terra. Junto com Leopoldo moravam Jacob Wolf, solteiro, e Margarida Wolf, solteira. O imóvel de Leopoldo foi dividido entre seus filhos. Uma parte do imóvel tocou por herança à filha casada com Beno Braun, outra parte à filha casada com Francisco Emílio Schuck que residem no imóvel herdado; em outra parte mora Roque Dieter, filho e neto de Leopoldo, e uma parte tocou ao filho João Bento Kuhn, que adquiriu imóvel, onde está sendo construído o salão paroquial da comunidade de Walachai, residindo parte da família no Rioloch e parte da família no centro de Walachai. 38. Carlos Reinheimer (Karl), evangélico (*25.11.1819 e +23.06.1891), morava provavelmente um pouco acima de Guilherme Reinheimer. Ninguém soube informar o grau de parentesco entre esses 4 Reinheimer. O provável sucessor de Carlos no imóvel foi Nicolau Dapper, casado com Catarina Wagner. Nicolau sofria um pouco de suas faculdades mentais, o que, certamente, o levou a suicidar-se, cortando o pulso. No livro de óbitos da matriz de Dois Irmãos, o pároco e então Pe. José Maria Kroetz, anotou o seguinte: Nicolau achava que seu sangue lhe atrapalhava a cabeça porque estava irrequieto, e que isso seria possível normalizar com sangria (Adererlass), pedia que lhe chamassem alguém entendido em sangria, e como estava demorando aparecer alguém para lhe fazê-lo, ele mesmo o tentou, mas foi infeliz, e acabou morrendo de hemorragia. Quando os familiares o encontraram já era tarde. Após sua morte, a viúva e os filhos ficaram morando no imóvel durante vários anos. Tornou-se então proprietário de uma parte do imóvel, Antonio Olbermann, casado com Joana Schmitz, neta de Nicolau Dapper e filha de João Schmitz Filho. 71
39. Nicolau Land, evangélico, chegou no Brasil em 28.10.1846 com 53 anos, casado com Maria Margarida. Veio da Prússia com os filhos: Henrique Pedro, 27 anos, Nicolau, 25 anos, Adam, 22 anos, Ana Catarina, 13 anos. Seu sucessor foi seu filho Pedro (Peter) Land (*21.09.1856 e +23.03.1942), casado com Elisabeta Becker (*21.04.1853 e +30.08.1944). Seu sucessor no imóvel foi Carlos Brentano e o sucessor deste foi seu filho Armando, casado com Alma Robinson. Armando exerce a profissão de músico e de agricultor. Para facilitar a sua locomoção aos salões de baile e às festas, passou a morar no Morro Reuter, continuando dono do imóvel e cultivando-o. Seu filho Décio também é músico como o pai. 40. Margareta Wagenagel Land, evangélica (*28.10.1859 e +19.12.1895) e seu esposo, cujo nome ninguém de Walachai soube informar, devem também ter morado nas imediações de Nicolau Land, sendo o esposo até talvez irmão do Pedro Land. Talvez o sucessor no imóvel tenha sido José Arnold que vendeu gradativamente o imóvel a diversas pessoas, de acordo como se sentia “apertado”. Mudou-se para Canudos, em Novo Hamburgo. 41. Jacob Morgenstern, evangélico, veio da Baviera- Alemanha para São Leopoldo em 10.05.1850. Morou também, certamente, na zona destes últimos. Nada dele sabemos a não ser que uma tal de Hortênzia Morgenstern faleceu aqui no Walachai e está enterrada no cemitério evangélico, situado perto da estrada que vai por fora do Walachai. No monumento se lê: Hortênzia Morgenstern (*07.11.1857 e +05.03.1875) que, pela idade, 18 anos, deve ter sido filha do Jacob Morgenstern. A história do povoamento do Rioloch está bastante confusa, contraditória. Em todo caso, os primeiros moradores citados abaixo foram imigrantes alemães. Assim também encontrei antigas cruzes de ferro, guardadas no porão do pavilhão da comunidade católica com as inscrições: J. Nicolaus Meinhart: *08.04.1815 e +02.02.1880 Cristiane Kraemer: *1850 e +1878 A. Eva Fellmann: *16.10.1815 e +06.08.1882 Peter Hoffmann: sem outras referências Conforme confusas informações do já falecido Henrique Emílio Becker, morava, bem antigamente, um senhor de sobrenome Bohrmann e depois um tal Dr. Wiebel no imóvel em frente ao imóvel de Mathias Mombach. O Dr. Wiebel, por falta de clientela, e não querendo se ocupar com a agricultura, emigrou. Então, tornou-se dono do imóvel Antonio Staudt, que promovia até bailes nesta casa antiga, que ainda hoje existe com a inscrição F R 1893. Esse F R significa Felipe Reinheimer que foi o sucessor de Antonio Staudt e certamente colocou essa inscrição. O sucessor de Felipe foi seu genro Willy Emílio Schmitt, natural de Picada Hartz, 72
casado com a filha Erna. Ambos casaram com idade já avançada e não tiveram filhos. Quando Erna faleceu Willy, casou novamente, com Irena Hans, que veio a falecer antes dele. Então Willy doou o imóvel a Evaldo Weber, casado com Ilse Hoffmann. Ilse, após a morte de Irena, fora empregada doméstica de Willy. Assim concluo o difícil e complicado trabalho da história dos primeiros moradores de Walachai, bem como a história dos sucessores nos mesmos imóveis. O trabalho deixa muito a desejar, mas, talvez com possíveis pesquisas futuras, muitos dados se possam acrescentar, bem como corrigir dados incorretos. A tradição oral muitas vezes é incorreta como já descobri. Mas, é melhor existirem falhas, do que esperar até tudo estar “evaporado”.
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6. O Envolvimento de Walachai na Revolução Farroupilha (1835 - 1845)
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a época da Revolução Farroupilha, além do fundador Mathias Mombach, talvez já estivessem domiciliadas aqui as famílias de Matias Feiten, Johann Schmitt e Jacob Feiten, porque vieram a São Leopoldo também em 1829, sem que se saiba ao certo quando entraram em Walachai. Mathias Mombach colocou-se às ordens do Dr. Hillebrand, chefe dos imperiais, os legalistas, na colônia. Os imigrantes alemães pouco se interessavam pela Revolução. Preferiam trabalhar em paz, mas aos poucos foram arrastados para o cenário da Revolução e se organizaram para a sua defesa contra o banditismo reinante. Um dos mais temidos inimigos da colônia era um tal de Antonio Joaquim da Silva, apelidado de “menino diabo”, devido a sua baixa estatura e às atrocidades que praticava. Seus crimes tinham como cenário Estância Velha, Ivoti, Dois Irmãos, Picada 48, Morro Reuter, Picada Café e Lomba Grande. Entre seus muitos crimes e atrocidades quero mencionar apenas alguns episódios. Em Dois Irmãos, o Menino Diabo e seu bando assassinaram, friamente, o Frederico Renner. Em Estância Velha, assassinaram, cruelmente, Adão Knieriem e obrigaram a esposa do mesmo a trazer uma bacia com água, em que o Menino Diabo lavou as suas mãos ensanguentadas, e, em tom de ironia satânica, disse à infeliz esposa: “O sangue de Adão estava bem doce”. Com bem maior selvajaria, Menino Diabo e seu bando assassinaram na Picada 48, o comerciante Pedro Kerber. Os bandidos exigiram da esposa 800 mil réis em resgate, para soltar o esposo, e ela cumpriu as exigências. Pouco depois os bandidos apareceram e limparam as suas facas ensanguentadas no avental da pobre mulher. Haviam barbaramente degolado o marido. Um morador de Ivoti, de sobrenome Morschel, assaltado por elementos do 75
bando, em legítima defesa, com um tiro de espingarda, matou o farrapo Saval. Para salvar os seus companheiros da vingança do Menino Diabo, fez saber ao mesmo que ele fora o autor. O Menino Diabo deu caça a Morschel. Durante dois dias deixou o pobre homem suspenso horizontalmente em 4 postes e depois foi morto a tiros. A notícia desse crime revoltou os colonos de tal forma que unidos e conduzidos pelo Bento Manuel e o alferes Mathias Mombach, deram caça, sem tréguas, ao temido facínora e seu bando. Encontraram-se com o bando em Taimbé do Grehs (Grehserthal) na descida do morro de Dois Irmãos, antes de chegar a Hamburgo Velho. Aí se travou o combate derradeiro. Postado atrás de uma árvore, Menino Diabo ditava suas ordens a seus companheiros. Mombach reconheceu-o e comandou: “Todos, fogo contra aquele, postado atrás da árvore grossa”. Uma medonha salva de tiros ecoou pelo vale e em resposta ouviram-se gritos desesperados de dor. Um bandido corpulento correu em direção aos gritos, ajuntou o ferido e carregou-o em seus ombros, fugindo apressadamente. Novamente soou o comando de Mombach: “Todos, fogo contra aquele que está fugindo”. Nova forte salva de tiros de espingarda soou pelo vale, tombando sem vida o fugitivo, e aquele que estava sendo transportado foi preso. Era o Menino Diabo. No primeiro disparo de armas uma bala lhe atravessara a perna, ficando o resto do corpo intacto. Mombach e seus companheiros o conduziram preso para Dois Irmãos, onde cuidavam do ferimento, sob guardas. Mombach queria entregá-lo à justiça. A sua intenção de bom soldado não se tornou realidade. Não conseguiu evitar que o povo fizesse justiça com suas próprias mãos. Sobre o triste fim do Menino Diabo, existem duas versões. O relato do Dr. Carlos Appel diz que um grupo de colonos, parentes e vizinhos das vítimas do facínora o sequestraram, e no caminho que dá para o Morro Reuter, foi obrigado a abrir uma cova com as suas próprias mãos onde foi enterrado vivo. O livro “Hundert Jahre Deustschtum in Rio Grande do Sul”, narra que certo dia um grupo de luso-brasileiros apareceu na frente da casa onde Menino Diabo se achava preso sob guardas e exigiram ser admitidos à presença dele. Como isso lhes fora negado, com as suas armas engatilhadas, forçaram o seu encontro com o prisioneiro. Ajeitaram um laço ao redor do pescoço do Menino Diabo, puxaram-no para fora da cama e o arrastaram pela estrada, preso com o laço ao rabo de um cavalo, lembrando-lhe os seus bárbaros crimes até morrer miseramente. Com a morte desse perigoso bandido, virtualmente terminou a revolução de São Leopoldo.
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7. A Presença de Walachai na Guerra do Paraguai (1865 – 1870)
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ssim como em todas as picadas foram recrutados jovens para substituir os soldados que tombavam na Guerra contra o Paraguai, também Walachai não ficou poupada. Coube ao jovem Jacob Dapper, filho de Nicolau Dapper e sua esposa, Ana Maria Schmitz, a representar Walachai na Guerra contra o Paraguai. No dia da partida, a mãe de Jacob fez a promessa que, se o filho voltasse com vida da guerra, em agradecimento a Deus, mandaria erguer uma cruz à beira da estrada do imóvel de sua propriedade. Após longa ausência, possivelmente sem dar notícias, apareceu novamente o filho Jacob, são e salvo. A mãe cumpriu a sua promessa. Até hoje encontra-se ainda no mesmo local uma humilde cruz para lembrar a volta feliz de Jacob da Guerra do Paraguai. É pena que não se saiba nada a respeito da atuação de Jacob na guerra. Observação: Em 1995 desapareceu a tal cruz. Desapareceu uma lembrança.
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8. Episódio dos Mucker (1873 - 1874)
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evido à sua situação geográfica desfavorável, Walachai praticamente não foi envolvida no triste episódio dos “Mucker”. Ouvi os mais idosos contarem que algumas pessoas, por motivos de doença e esperando alcançar a cura, dirigiram-se, com imensos sacrifícios, ao Ferrabraz. Todos voltaram decepcionados com o que ali presenciaram. Contando que haviam recebido um beijo de Jacobina, toda Walachai ficou apavorada, pois receber um beijo de uma mulher casada, para um homem, era na certa um pecado mortal, e assim, ninguém mais se atreveu a procurar solução para a sua saúde no Ferrabraz.
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9. Envolvimento de Walachai na Revolução Federalista – Revolução Maragata (1893 -1895)
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om a Proclamação da República, o partido que passou ao poder foi o partido Republicano. O partido Liberal, no poder até então, aliou-se ao partido conservador, seu inimigo figadal, e formaram o partido da oposição com a designação de partido Federalista. Devido a desentendimentos políticos entre ambos, estourou a Revolução Federalista. Igualmente ao que ocorreu na Revolução Farroupilha, degeneraram-se grupos revolucionários federalistas, como também grupos republicanos, em verdadeiros grupos de bandidos. Não tinham objetivos políticos, mas sim seu único interesse era a prática do crime, de atrocidade, de pilhagem. Isso principalmente grupos federalistas, denominados pelos colonos como “Maragatos”, o que quer dizer “gatos do mato”, por terem usado a mata para estabelecerem seus esconderijos. Segundo Pe. Carlos Teschauer, o nome “maragatos” originou-se assim: na província de Lion, na Espanha, existia uma região denominada de “Maragataria”, cujos habitantes eram denominados de maragatos. Segundo alguns, era gente de costumes nada recomendáveis, pois levavam uma vida de vagabundos, migravam de um lugar a outro com animais e objetos roubados que procuravam vender. Eram bem treinados em assaltos e roubos, principalmente de animais. Eram, em uma palavra, uma espécie de ciganos. Devido a grupos da Revolução Federalista terem se entregue à prática de assaltos e de pilhagem de casas comerciais e de fazendas, à maneira dos habitantes de Maragataria, foram denominados de Maragatos. Naquela época, nos Campos de Cima da Serra, os chefes federalistas eram cunhados, Belisário Baptista e Soares, cujas terras faziam divisa com Raposo, Faria Lemos e Nova Pe81
trópolis. Foram estes dois que durante três anos inquietaram a Colônia Alemã com assaltos, mortes e pilhagem. Os bandos destes dois mandantes não contavam, geralmente, com mais do que 30 a 40 homens. Da mesma maneira como na Revolução Farroupilha, os colonos se viram obrigados a se unir para enfrentar e combater os bandidos. Sob o comando do preto Malaquias, um subordinado de Corrêa, os Maragatos penetraram em 19 de setembro de 1894 em Walachai, onde até então a Revolução praticamente ainda não havia se feito sentir. De alguns moradores os Maragatos tiraram armas; de outros, burros e cavalos, mas o prejuízo não era lá de tanta monta. O morador mais atingido foi João Schmitt. Ao anoitecer, foi assaltada a sua casa por um grupo de 6 bandidos. Achavam-se na casa João e sua esposa e mais duas filhas moças. Sem mais nem menos, um bandido apontou a sua arma contra João e descarregou um tiro de festin para intimidá-lo. Em seguida ameaçaram espancá-lo e matá-lo a tiros. Após isso fizeram uma “limpeza” na casa e foram embora. O valor dos objetos levados estimou-se em 500 mil réis, quantia bastante elevada na época. Por esses mesmos dias, o preto Malaquias, em companhia de dois de seus capangas, fez também uma visita ao Jacob Kappes, que possuía casa de comércio com açougue. Sua casa situava-se ao pé da subida do morro que dá para a entrada de Walachai. Essa mesma casa hoje ainda existe. Tem a sua inscrição de construção - ano 1871. Pertence atualmente a Lauro Chies. Rápido, Malaquias e seus dois capangas penetraram no açougue. Malaquias berrou para o dono. “O dinheiro ou a vida”. Estarrecido de susto, Kappes quase caiu no chão. Vendo-se em poder de 3 bandidos, subitamente dispostos a qualquer tipo de atrocidade, e sem chance de poder se defender, tirou a guaiaca contendo o dinheiro, e entregou-o ao diabólico Malaquias. Satisfeiro com o inesperado êxito de seu primeiro feito, não pôde deixar de fazer sofrer mais o pobre homem. Tirou a sua faca da bainha e disse: “Olhe, seu alemão, isto aqui é a ferramenta da minha profissão e com ela corto a goela dos de sua laia. Mas, a minha faca está sem fio e vejo que tens um bom rebolo. Ah! Esse tu me vais agora girar enquanto eu afio sobre ele a minha faca para que eu não me precise judiar tanto para degolar vocês merdas!” O que fazer agora? Sem hesitar cumpriu a ordem do bandido. Durante o serviço, de vez em quando, Malaquias apalpava o fio de sua faca, ora fazia gestos de querer degolá-lo. Divertia-se em ver Kappes quase morrer de medo. No fim das contas, felizmente os bandidos saltaram no lombo de seus cavalos e, soltando satânicas gargalhadas, galoparam morro acima. Com sete bandidos, Malaquias havia invadido Walachai naquele fatídico dia. Já tempos antes da invasão de Walachai, os “Maragatos” haviam praticado assaltos, roubos e mortes, na Joaneta, Picada Café, Picada São Paulo, Morro Reuter e Dois Irmãos. Em razão disso, os colonos se organizaram em todas as picadas e se comprometeram em auxílio mútuo em sua defesa. Na estrada de Walachai, bem como na ponte Farroupilha no Rioloch, dia e noite duas pessoas se 82
revezavam montando guarda, com a senha combinada. Ao soar de tiros de espingarda, todos os homens que ouvissem esse sinal de alarme, deviam correr imediatamente ao local onde tinham sido disparados os tiros da senha combinada. Para entrar ou sair de Walachai forçosamente deviam os “Maragatos” passar pela ponte Farroupilha, ou pela estrada, ou então usar um “pique” pelo mato. Segundo combinado pelos moradores, cada qual devia levar a sua arma com munição junto ao local de serviço para que, em menor espaço de tempo, se desse a defesa. Foi o que aconteceu naquele sinistro dia. Do morro da entrada do Walachai, inesperadamente, ouviu-se um imenso tiroteio. Todas as pessoas, alarmadas, escutavam atentas. As crianças se agarraram tímidas na saia de suas mães. As pessoas idosas juntavam as suas mãos em atitude de oração. Malaquias e seus capangas, ao chegarem à saída de Walachai, de repente depararam-se com a saída barrada. Pretendiam, via Picada São Paulo, unir-se a outros bandidos do Corrêa, em Picada Café. Como num raio, os bandidos tomaram rumo ao mato pela estrada onde se localiza hoje a “Comunidade Colônia Walachai”. E iniciou o tiroteio por ambas as partes. No decorrer de pouco tempo, estavam lá cento e cinquenta a duzentos homens bem armados. Gente de Walachai, do Morro Reuter, de Dois Irmãos e da Picada São Paulo. Os colonos levavam grande vantagem, pois naquela época a estrada oferecia uma trincheira na-tural, enquanto os bandidos tinham que procurar proteção atrás das árvores ou dos muros do potreiro. Inesperadamente notou-se que os bandidos tentavam sumir mato adentro. É que lhes acabara a munição. Ardentemente desejavam sumir, se isso lhes fosse posssível. Todas as saídas estavam cortadas, achavam-se praticamente encurralados. Um colono fora de si, apontando com o dedo para determinado ponto do mato, insistentemente gritava: “Ali penetrou Malaquias, o desgraçado bandido.” Corajosamente, um dos colonos de nome Otto Sperb, correu para o local indicado e entrou no mato com sua arma engatilhada. Sem muita dificuldade conseguiu alcançar o Malaquias e ordenou-lhe chegar ao limpo, no potreiro. Após Otto ter-lhe assegurado que nada de mal lhe aconteceria, Malaquias cumpriu a ordem. Mas quando Otto o tinha preso no limpo do potreiro, veio-lhes ao encontro João Werle (o Werle Hannes), chefe do grupo dos colonos de Dois Irmãos. Este apontou sua arma contra Malaquias, ordenando: “Entregue-se”. O bandido que se julgava seguro em poder de Otto Sperb, retucou: “Não senhor!” Ao que Werle detonou sua arma. A bala, porém, perdeu-se sem atingir seu alvo. Malaquias, com olhar zombeteiro, calmamente acendeu seu palheiro. Neste instante partiram tiros de todos os lados, sem pontaria certeira, tamanho o nervosismo que tomara conta de todos. E o primeiro atingido por bala, não foi Malaquias, mas sim Otto Sperb. Balbuciando as palavras “Meu Deus!” ... “Fritz, eu morro!” tombou sem vida ao chão. Uma bala lhe atravessara o coração. Malaquias também rolava pelo chão, moribundo, varado de balas. Colonos que es83
tavam próximos ao bandido também saíram feridos. Um dos companheiros do bando de Malaquias fugiu para o mato gravemente ferido e dias depois foi encontrado morto. Os seis elementos restantes do bando fugiram em todas as direções. Um deles foi visto entrando na casa comercial de Frederico Brusius, onde após longa procura, os colonos o encontraram no sótão, escondido dentro de uma pipa de fermentação de uvas para vinho. Segundo informes do falecido José Francisco Arnold, consta que Frederico Brusius teria sido um simpatizante do partido Federalista, mas que evitava transparecer o fato. O bandido escondido em sua casa comercial foi preso e enviado à Justiça de São Leopoldo pelo inspetor Guilherme Closs. O mesmo destino teria tido Malaquias, não fosse a imprudência de João Werle. O inspetor mostrou-se muito irritado com a atitude indisciplinada dos colonos. Ordenou primeiramente levar para casa o cadáver de Otto Sperb, que morava onde antigamente havia sido a casa de Felipe Alfredo Klaus. Em seguida, providenciou ataduras para as feridas dos companheiros atingidos por balas e o transporte dos mesmos para suas respectivas casas. Em última providência, auxiliado por seu vizinho Jacob Braun, fez a remoção do enorme e pesado corpo de Malaquias. Nesta operação, as coisas não andaram tão finas. Em todo o caso, foi ainda possível evitar a violação do cadáver, com a chegada de Guilherme Büttenbender Filho, meu avô. Quando o inspetor Closs e seu auxiliar arrastavam o corpo de Malaquias morro abaixo, cada um puxando numa perna, aproximou-se um colono, desembainhou a sua faca e queria cortar a imensa cabeça do morto, para que, ao passar por cima das pedras, não fizesse aquele barulho lúgubre, imitando o ruído de uma velha panela vazia. Guilherme Büttenbender Filho impediu isso, lembrando-lhe que seria um mísero ato de covardia, pois quem foi incapaz de tornar inofensivo o Malaquias enquanto vivo, também agora não deveria violar seu cadáver. Ao lado da porteira do potreiro foi aberta uma cova e nela jogaram o cadáver com botas e tudo. Fecharam a cova. Todos se retiraram respirando mais aliviados. Nenhuma lágrima foi derramada para Malaquias. Restou-lhes, porém, a dor e o pranto pela morte estúpida do companheiro Otto Sperb e de tantos companheiros feridos. Quanto a João Werle, segundo contavam, tornou-se um homem retraído e com pesados remorsos. Não ia mais à missa e teve duas filhas que se tornaram religiosas. Ao se aproximar a morte, pediu a presença do padre e reconciliou-se com Deus, morrendo em paz. Alguns dias após esses acontecimentos inesquecíveis, por um lado de júbilo e por outro lado de amarga tristeza, foram vistos cachorros disputando entre si algo parecido à uma perna negra, pelo potreiro. Também um bando de urubus sobrevoava o local em largos círculos e, por vezes, em voos rasantes. O curioso fato foi comunicado ao inspetor Closs, que veio investigar o que poderia ter ocorrido. Constatou tratar-se de uma das pernas de Malaquias. Encontrou o cadáver totalmente desenterrado e lhe faltavam as botas. O inspetor concluiu 84
que Malaquias, como chefe do bando, levava sempre todo o dinheiro e o guardava dentro das botas. Cientes deste fato, seus capangas não queriam perder esta fortuna e quando estavam seguros de que ninguém os veria, voltaram ao campo de batalha. Desenterraram-no, tiraram-lhe as botas e levaram-nas com o dinheiro. Após esta terrível, quão trágica “batalha”, Walachai e as localidades vizinhas voltaram a gozar de tranquilidade e puderam, sem preocupação com assaltos, roubos e mortes, continuar seu serviço da cada dia, normalmente. Por outra, nós podemos nos orgulhar de nosso pago, pois, por duas vezes tiramos fora de circulação bandidos muito temidos: Menino Diabo - preso por Mathias Mombach e Malaquias - morto em Walachai, lá não de maneira muito cristã, não se sabendo por quem, mas por diversos homens, uma vez que o seu corpo estava varado por várias balas. Esses episódios desagradáveis e muito tristes foram, em parte, publicados por minha tia e madrinha, Maria Teresa Büttenbender Henrich, em 1953, no almanaque alemão “Der Famielien - Freund - Kalender”. A madrinha os ouviu contar de seu pai, Guilherme Büttenbender Filho, que participou da caçada ao facínora e seu bando. E, em parte os pude complementar em entrevistas com pessoas idosas, agora já falecidas, que também estavam a par desses acontecimentos satânicos.
Em memória de minha tia e madrinha, vou reproduzir em português os episódios narrados por ela no “Famielien – Freund – Kalender”, 1953: O seguinte episódio ocorreu no Birckenthal, onde morava Guilherme Henrich, o pai de Pedro Henrich. Foi na primavera de 1893 que entraram em ação os Maragatos, bandidos, em Dois Irmãos e circunvizinhanças. A maioria dos colonos se achava totalmente ocupada com seus trabalhos na roça. Em casa encontravam-se apenas mães com os filhos menores. Em casa de Guilherme Henrich a esposa estava ocupada afoitamente, com a limpeza da casa de fim de semana. Para esse fim trouxera para dentro de casa um enorme balde com água. Repentinamente chegou a seus ouvidos um grande tumulto, proveniente da estrada. Foi verificar o que poderia ser. Um bando de bandidos, proveniente de Picada Café, vinha subindo pela estrada. Quando alcançaram a casa de seu Henrich, pararam. Atrevidamente entraram na casa. O chefão berrou: “O dinheiro ou a vida”! “Para cá as botas penduradas na parede”, berrou outro enquanto avançaram para a mulher. “Toma lá”, retrucou a destemida mulher. “Dinheiro eu não tenho”! “Venham quando meu marido estiver em casa! Vagabundos ordinários! Vocês só têm coragem de assaltar mulheres indefesas! Bandidos! Mandem-se que eu não tenho tempo a perder com vocês”. A explosão de raiva dessa mulher irritada provocou gargalhadas entre os bandidos, e 85
o chefão observou: “Já vamos embora, mas sem demora virão outros com quem seu marido se poderá entender”. Aliviada, continuou o seu serviço de limpeza e não pouco enfezada, por causa do barro que os bandidos tinham trazido para dentro de casa com as suas botas barrentas. Seu filhinho Pedro embalava o irmãozinho menor deitado no berço e tremia de medo. Teria abandonado seu posto, mas a mãe lhe ordenara, expressamente, ficar embalando o nenê. Nervosamente refletia como se poderia pôr a salvo. Perto de si viu deitado um barbante, bastante forte. Sem muito continuar refletindo, apanhou-o e prendeu-o no berço. A outra ponta do barbante fez passar a ponta da fresta no assoalho, para o porão. Correu ao porão, pegou a ponta do barbante e continuou, de lá, embalando o irmãozinho. Sentia-se aliviado. Graças a Deus, agora se imaginava em total segurança. Nesse ínterim, novamente se fez ouvir, lá de fora, selvagem gritaria. Um segundo bando se aproximava, conduzindo consigo os animais que haviam roubado na Picada Café. Em frente a casa de Henrich, pararam. Um grupo de 5 elementos, entre os quais havia quem falasse alemão, se aproximou da casa e ofereceu animais de montaria à venda. Mas, erraram o bonde com essa senhora, já há muito encolerizada. Disse-lhes na cara o que queria: “Bandidos ordinários, acham vocês que nós precisamos de animais roubados? Esse ‘Malacara’, aí na ponta, vocês roubaram de seu Knorst. É o animal de montaria de sua esposa”. E em tom provocante: “Quanto antes, mandem-se! A outra turma já nos roubou o bastante!” Essa corajosa atitude de dona Henrich surtiu o seu efeito. Todo atrapalhado, o que falava alemão gaguejou: “Mas dona, não se irrite tanto, nós já vamos embora, porém antes desejamos tomar água. Estamos com uma sede danada!” “Pois então, bebam à vontade!” replicou dona Henrich e lhes colocou à frente o balde com a água suja de sua limpeza. Os bandidos então invadiram a sua casa, revirando tudo e levando o que lhes parecia ser de valor. Então partiram. Entretanto, num quarto, compassadamente balançava para lá e para cá e sem parar o berço. Em toda essa bagunça, dona Henrich não se esqueceu de seus dois filhinhos. Correu ao quarto. Viu o berço movimentar-se para cá e para lá, mas nada do Pedrinho. Admirada, chamou: “Pedrinho, onde estás?” “Aqui no porão, mamãe!... Os Maragatos já foram?” “Sim, venha, coitadinho! Tu achas que estando no porão, tudo está bem!” Apesar de tanta incomodação, de tantos dissabores e de tanta coisa roubada, dona Henrich ainda teve que rir. Também os outros membros da família, quando ficaram sabendo das façanhas de Pedrinho, riram gostosamente. Mais ainda tiveram que rir de Carlos, que então estava com 12 anos de idade. Quando a mãe lhe contou que os bandidos haviam levado suas botas novas, sem ainda tê-las usado, fora de si, todo amargurado e cheio de raiva, correu ao galpão. Aí se encontrava uma espingarda, bem escondida. Apanhou-a. Chorando, gesticulando, apontando com a arma desgarrada, berrava: “Eu vou matá-los todos, esses bandidos, esses ladrões, esses sem-vergonhas!...” 86
Este outro episódio, embora não se tenha desenrolado dentro de Walachai, contudo está relacionado com nossa localidade, pois ocorreu na estrada do Mato Comprido, que marca a divisa entre Walachai e São José do Herval e Morro Reuter: Jacob Schuh regressava de uma casa comercial de Walachai – provavelmente de Jacob Kappes – para sua casa em São José do Herval. Fora à venda tentar vender seu milho. Fizera também algumas compras. Por isso, na volta, além de sua cavalgadura, conduzia um lindo e forte burro. De repente deparou-se, ao longe, com um vulto suspeito à beira da estrada. Suspeitando nada de bom, tentou passar rapidamente por ele. Este, porém, fechou-lhe a estrada. Apontou para Jacob a sua arma, berrando: “O dinheiro ou lhe tiro a vida”. Jacob Schuh apresentou-lhe a sua carteira que continha apenas um patacão (uma moeda de dois mil réis). Disse-lhe: “É o que tenho! Tome e me deixe ir em paz!” O bandido, porém, não se deu por satisfeito com o resultado de seu assalto. Esperava muito mais. Por isso lhe disse: “Pois sim! Acha que me contento com tão pouco? Passe pra cá o seu burro, já que anda vazio!” Sério, Jacob retrucou: “Pode montar no burro, mas assim que chegarmos em São José do Herval, devolva-o. Eu também sou pessoa pobre e preciso muito desse burro em meu serviço”. Parecia o bandido concordar com Jacob. Montou no burro e vinha seguindo Jacob. Quando, em São José do Herval, chegaram à estrada que dá para a casa de Jacob, este lhe disse: “Bem, aqui apeie! Esta é a estradinha que vai à minha moradia”. “Capaz!”, respondeu o bandido, dando uma satânica gargalhada. “O burro agora é meu!” Tirou da cintura o seu revólver e o apontou para Jacob. Este estava desarmado e teve de capitular. Em galope disparou morro abaixo. Entrou apressadamente dentro de sua casa. Sua esposa, que procurou demovê-lo de seu intento, foi empurrada para o lado. Em poucos momentos achava-se ele de novo na estrada do Mato Comprido. Todavia nada mais viu do Maragato e de seu burro. Revoltado, furioso e longe de medo, foi galopando pela estrada na direção que o bandido tomara. De repente topou, à beira da estrada, com seu bom e fiel burro sem vida. Com uma facada o bandido liquidara a vida do coitado. Um acesso de loucura apoderou-se de Jacob. O sangue fervilhou-lhe nas veias. Um brado de vingança escapou-lhe da boca. Meteu as esporas em seu cavalo, galopando doida-mente no encalço do mísero bandido. Alcançando o topo de um morro, viu o seu imperdoá-vel inimigo, justamente com o revólver em punho, ameaçando de morte o bem quisto e pacato tropeiro de sobrenome Brusius. Não vacilou um instante sequer. Um tiro de pistola ecoou. O bandido tombou, rolando morro abaixo, levantando o pó da estrada. Brusius, devido ao inesperado e fatal desfecho, lá estava parado como que paralisado pelo susto. Ao se dar conta que estava libertado das garras do bandido, foi ao encontro de seu providencial libertador. Ainda com sua respiração alterada e enxugando o suor frio em sua testa, agradeceu a quem o salvara da morte certa, gaguejando: “se você não tivesse aparecido aqui, eu seria 87
um cadáver.” Ambos então, por alguns instantes, observaram o bandido que não apresentava sinais de vida. Resolveram então atirá-lo no mato, ao lado da estrada. Juntos o agarraram e zás! Foi para o mato. “Aí os urubus podem banquetear-se com o seu corpo” – disse Brusius. Brusius conduzia consigo gado para o abate. Os animais haviam disparado e estavam extraviados. Jacob auxiliou-o a reunir novamente os animais. Perto do anoitecer, passaram a cavalo pelo local do episódio duas mulheres e encontraram um homem ferido à beira da estrada, implorando socorro. Assustadas e sem saber o que fazer, galoparam adiante. Na primeira casa que encontraram, contaram aos moradores o que tinham visto. Imediatamente os moradores acompanharam as duas senhoras até o local. Realmente ali jazia um homem. Devido à gravidade do ferimento, já expirara. Continuando a narrativa da madrinha: Ciente de tanta atrocidade acontecendo em toda a colônia alemã, o governo resolveu, finalmente, dar proteção à população. Dia e noite patrulhavam a região soldados fortemente armados. Conclamaram os colonos a se organizarem para a sua própria defesa. Para essa finalidade, instalaram-se postos de guarda no local da casa de Pedro Wolf – que tinha casa comercial no salão em que hoje mora Selírio Bohn – e no local da casa comercial de Adão Brusius, então já dirigida por seu filho, Frederico, à entrada de Walachai. Enquanto no posto Wolf montavam guarda os homens de Morro Reuter, no posto Brusius montavam guarda os homens de Walachai. Nos postos de guarda revezavam-se de dia e de noite os guardas dois a dois. Estavam bem armados. A aproximação de vultos suspeitos deviam dar sinal de alarme. Repetidas vezes, porém, sucedeu que os bons guardas estavam tanto sob o poder da cachaça que não estavam mais em condições de distinguir os bandidos dos pacatos moradores que por lá transitavam. Sem mais nem menos davam os tiros de espingarda combinados como senha de alarme. Denunciavam gente pacata enquanto bandidos tinham livre trânsito. Naquela época, Guilherme Closs era o inspetor. Esse já desempenhara um papel relevante na época dos Mucker, em São Leopoldo. Em sua casa, em São Leopoldo, foi assassinado a tiro de espingarda o jovem aprendiz de alfaiate, Jorge Haubert, por Robinson. Há muito tempo viera morar aqui em Walachai e lhe foi confiado o cargo de inspetor. De profissão era alfaiate. Era um homem corajoso e cumpria a sua missão mantendo a ordem na picada, com justiça e rigor. Morava um pouco ao sul, onde mora hoje Artur Schmitz. Seus vizinhos eram Nicolau Wendling e Antonio Passini, para o lado oeste, e o meu pai, Guilherme Büttenbender Filho. Estava separado pelo vale rochoso e intransitável naquele local. Closs dava-se muito bem com seus vizinhos e contava com eles na solução de problemas na picada. 88
Para entender melhor a seguinte narração, Maria Teresa descreve um pouco a posição geográfica e topográfica de Walachai e de seus arredores: Onde antigamente, na época destes acontecimentos, existia a escola (oratório) – que em 1938 foi substituída por uma nova escola e hoje está o pavilhão da comunidade católica e a capela de São Nicolau – descia uma estrada pedregosa ao arroio Walachai, então denominado de “O Grande Arroio”. Um pouco mais adiante serpenteia entre pedras o arroio denominado “O Pequeno Arroio”. As águas desses dois arroios movem, um pouco abaixo, o moinho construído por João Hoff. As nascentes de ambos se encontravam no Morro Wolf, na entrada de Walachai. Suas águas serpenteiam barulhentas, entre as pedras no meio do vale e se lançam no rio Cadeia, lá no Rioloch. A estrada naquela época corria acompanhando a orla do precipício rochoso da margem direita da junção dos dois arroios, descendo o morro “Calvário”, até alcançar o rio Cadeia na ponte Farroupilha onde, um pouco adiante, se bifurca seguindo uma estrada para o Morro dos Bugres e a outra para o Jammerthal e Pinhal Alto. Um pouquinho antes da capela, outra estrada vai para a esquerda em direção ao Vale das Batatas. Circundando o morro, chega-se novamente à entrada de Walachai, perfazendo um círculo irregular. Esta estrada é usada por moradores para chegarem às suas roças e naquela época era uma estrada por onde mal conseguiam cruzar dois animais, transportando produtos agrícolas em seu lombo. Hoje, em 1992, é uma estrada larga, por onde trafegam caminhões, kombis e carroças. Para os colonos chegarem às suas roças, ao final de seu imóvel, levavam até mais de uma hora. Para então não se perder muito tempo em ir e vir para a roça, alguém, ao meio-dia, trazia a comida e ajudava no serviço da roça durante o resto do dia. Isso hoje, em parte, ainda acontece. Em dias de tempo bom, ao findar o dia, era uma algazarra medonha, porém muito agradável por esta estrada. É que os colonos voltavam para seus lares: animais transportando em seus lombos o pasto, a lenha, ou o milho, entre outras coisas. Alguns animais vinham sozinhos, sem condutor, com as rédeas presas na sela, outros animais presos pelo cabresto um ao outro e alguém na ponta dessa fila indiana, que os conduzia. Um ou outro animal trazia em seu lombo o cavaleiro com o arado “tatu” em pé e apoiado na sela. Pendendo em ambos os lados do animal jacós, contendo a aparelhagem de atrelar os animais no arado para a lavração. Em grupos distintos caminhavam jovens e adultos, uns conversando, outros cantando ou assobiando alegres canções que ecoavam solenes pelos vales e montes. As pessoas idosas que haviam ficado em casa abriam as janelas e se alegravam em ouvir as mais variadas canções que elas mesmas outrora faziam ecoar. Eram ao mesmo tempo momentos de alegria e de saudade. Certa noite, o inspetor Closs estava sentado em sua alfaiataria e à luz de uma lâmpada, 89
dava os últimos retoques numa fatiota. Fazendo o uso de seus dentes, cortou a linha e assim falou à sua esposa: “Certo! Esse serviço está concluído. A fatiota pronta para ser entregue amanhã.” Passando os dedos de sua mão pelos cabelos de sua cabeça, preocupante continuou: “Quão inseguros são os tempos de hoje! Por que é o meu destino estar sempre ligado aos fatos mais desagradáveis e amargos da vida?” “Oh! Hoje ainda gela o sangue nas minhas veias quando recordo aquela triste noite do assassinato do nosso jovem aprendiz, Jorge Haubert, feito por aquele mau e fanático Robinson. Ainda hoje se me parece estar ouvindo o estampido daquele tiro de espingarda! Banhado em seu sangue, prostrado no meio da sala da alfaiataria, vejo hoje ainda aquele pobre e inocente jovem! E... agora de novo me vejo obrigado a enfrentar, com toda a responsabilidade, essa diabólica chusma de bandidos! Será mesmo que nunca terei sossego?” No que retrucou a esposa: “Também eu desejaria para ti uma vida mais sossegada! Nunca poderei esquecer o que te teria acontecido se não tivesse negado fogo a espingarda do fanático Robinson, quando tu foste ao alcance dele para o prender.” “Pois bem, então hoje eu não estaria aqui em Walachai como inspetor!”, respondeu muito sério Guilherme. “E você teria que sustentar estes nossos cinco filhos. Mas, graças a Deus, eu estou ainda vivo! Se naquela situação não banquei um fujão, hoje continuo sendo o mesmo homem corajoso.” Guilherme lançou um olhar fulminante para sua esposa, passando a mão por sua comprida e bem traquejada barba. “Mas, mulher, agora eu me quero certificar se os meus homens estão firmes em seus postos de guarda. Se posso confiar em sua bravura.” A esposa percebeu imediatamente que o esposo queria disso certificar-se sem ser visto e reconhecido. Opinou preocupada: “Mas Guilherme, isto é uma aventura muito arriscada! Podes ser confundido por um espião dos bandidos e receber um tiro!” “Deixa isso comigo”, respondeu Guilherme. Dito isso apanhou o seu casaco e saiu de casa. Com cautela, foi seguindo a estrada. Pouco a pouco a sua vista se adaptou à escuridão da noite. Então apressou os seus passos até alcançar o Pequeno Arroio. Com muito cuidado foi andando até ter passado pela pinguela do Grande Arroio. Sua meta era chegar despercebido até o posto de guarda que se achava perto da escola e à beira da estrada. Closs não confiava muito no posto de guarda lá na entrada de Walachai, porque certos elementos daquele posto tinham amizade demasiada com a “Dona Caninha” e por isso colocara, por questões de segurança, dois guardas perto da escola, onde não existia oportunidade de namorar com “Dona Caninha”. Rastejando pela valeta do lado direito da estrada, foi se aproximando do posto e quando chegou perto, rolou propositalmente uma pedra estrada abaixo. “Alto lá! Quem é?” Soou firme da escuridão uma voz. “Isso só pode ter sido algum bicho”, opinou o outro guarda. Closs permaneceu bem quieto e, sem ser percebido, penetrou nas moitas existentes à beira da estrada. “Quem está aí?”, soou com mais força a mesma voz. “Mas, barbaridade... seja o que for eu vou mandar umas boas pedras abaixo”. Uma verdadeira tormenta de pedras seguiu-se a estas palavras. 90
Os dois rapazes atiraram estrada abaixo, pedras grossas e miúdas como as encontravam. Uma pedra passou rente a cabeça do inspetor e sua situação começou então a preocupá-lo. Finalmente os dois rapazes pararam com a chuva de pedras. Devagarinho desceram até o arroio. Minuciosamente observavam as margens da estrada. De vez em quando paravam e atentamente ficavam escutando. De volta ao posto, o inspetor escutou o seguinte diálogo: “Pedro, eu acho que você se enganou!” “Nada disso Felipe, eu notei um ser rastejando. É bem possível que tenha sido algum bicho.” Closs permaneceu ainda algum tempo em seu esconderijo. Sem fazer o menor barulho, dirigiu-se então para casa. Sentiu-se aliviado ao estar fora de perigo. Pensou consigo mesmo: “Estou orgulhoso e posso cegamente confiar nesses guardas atentos e corajosos.” De resto Walachai ficou até então propriamente poupada de assaltos por parte dos bandidos. Contudo os moradores estavam todos preocupados e alarmados. Mais um relato pitoresco narrado por Maria Teresa, no qual sua mãe, Margarida Filipina Mombach Büttenbender, desempenhou o papel principal: Ocorreu na primavera. Os moradores do “Neu Osterreich” (denominada a zona em que nossa família morava) haviam partido cedo montados em seus animais de sela, para trás do morro para as suas lavouras. As donas de casa ficavam em casa, providenciando um bom almoço que, perto do meio-dia, iriam levar ao pessoal que se achava na lavoura. Também meu pai, acompanhado por seus dois peões negros – que eram escravos libertados, de nome Firmin e Deládio – foi em seu animal de montaria para a lavoura. Com toda força revolviam a terra com suas enxadas. Minha mãe, de casa, era de sobrenome Mombach e se chamava Filipina, apelidada de “Binchen”. Estava justamente aprontando as crianças para entregá-las aos cuidados da sogra, Margarida Büttenbender, porque o meio-dia vinha se aproximando e já era hora de levar o almoço à lavoura – onde certamente já a aguardavam pessoas famintas e ansiosas por uma boa comida. De repente viu a sogra vir correndo para junto dela, toda transtornada e lhe dizendo: “Binchen, o mais depressa possível precisas galopar para trás do morro, alarmar o pessoal e dizer que imediatamente voltem para casa, porque os Maragatos já se acham na picada. Não estás ouvindo como gritam no potreiro? ” Não muito distante dali, uma gritaria aumentava gradativamente e de vez em quando se ouvia também o galopar de cavaleiros e o ruído de animais fugitivos. “Meu Deus do céu!”, disse minha mãe. “Não posso mais perder tempo! Preciso partir imediatamente!” A sogra pegou as crianças e as levou consigo. Minha mãe já estava tirando o cavalo da estrebaria. Jogou um pelego, ajeitou o freio e zás, pulou no lombo do animal. Em situação normal, tal jeito de montar praticado por mulher seria considerado imoral pelos mo91
radores, mas em tal circunstância a sogra só podia aplaudir a atitude corajosa de sua nora. Sem tardar já estava dobrando a curva da estrada em pleno galope. Pedras voavam para trás e para os lados da estrada. Tudo dava a impressão que se iniciara a caçada a uma terrível fera. Durante o trajeto, algumas vezes teve de moderar o seu galope e até, por vezes, teve de parar para prestar informações às pessoas. “Santo Deus!”, exclamou a sua tia e vizinha, “Binchen, o que aconteceu?” “Os bandidos estão no potreiro do Schmitz! Eu preciso me apressar para avisar os homens que trabalham lá atrás do morro.” “Jesus Maria”, comentava a titia, “Ajudai-nos! Protegei-nos!”. Diversas vezes teve de repetir a sua triste e apavoradora mensagem. Todas as pessoas, ao receberam a notícia, enchiam-se de medo e de susto. Mais adiante atiçou o cavalo a correr o que pudesse. Seus longos cabelos haviam se soltado e se assemelhavam a um imenso véu. Toda desfigurada e com o rosto vermelho alcançou o local onde os homens trabalhavam. Impossível é de se imaginar o que passou pela cabeça de meu pai pelo inesperado aparecimento de mamãe, numa corrida fora de série e toda transtornada. Assustado e nervoso, perguntou pelo motivo de tão apressada e cômica vinda até eles. “Vocês têm que avisar rapidamente todos os moradores que os bandidos estão em Walachai. No potreiro do Schmitz já se acham em serviço para pegar os animais. Fazem uma gritaria dos infernos! Imediatamente vocês precisam voltar para casa para impedir que nos roubem tudo e façam ainda outros estragos”, gaguejava a pobre mulher, fora de si. Ambos os peões entendiam alemão e até se defendiam nessa língua. Estavam ali boquiabertos, estranhando a atitude exaltada de sua patroa. Em tom enérgico berrou para os dois: “Por que ainda continuam aí parados? Mexam-se! Vamos avisar a todos os vizinhos aqui em suas lavouras que, sem perda de tempo, voltem para suas casas, se não quiserem perder todos os seus pertences.” Firmin e Deládio, como eletrizados, dispararam a transmitir aos vizinhos de lavoura o recado estarrecedor da patroa. O pai quis saber por que não encilhara o cavalo, ao que a mãe retrucou: “Sabes, eu nem tive tempo em pensar nisso, se convinha vir para cá como se eu fosse um guri! Por favor, apressa-te! Vamos logo para casa! Estou muito preocupada com as crianças.”. Nas lavouras da vizinhança logo se fez sentir o efeito do recado dado pelos dois estafetas. Em toda parte via-se os homens montar em seus cavalos e em galope tomar a direção de suas casas. Felipe Dapper apeou de seu cavalo perto e conduziu-o para dentro do mato, onde o amarrou numa árvore para que os bandidos não o levassem. A pé foi até a sua casa. Carrancudo, refletia como daria caça aos bandidos, caso se atrevessem a assaltar a sua casa. Toda essa história, porém, teve um rápido e feliz desfecho. Logo se soube que toda essa imensa gritaria proveniente do potreiro do Schmitz procedia de tropeiros galopando atrás de vacas que tratavam de laçar e entregar a quem as havia comprado. O pai disse à mãe: “Binchen, vieste voando até nós na lavoura, à maneira de um anjo do 92
juízo final. Apesar de tudo, acho melhor ter sido em vão do que nos apressem acontecimentos incertos e sérios.” “Cala-te!”, retrucou a mãe. “Você nem sabe como estou me sentindo! Não posso mais andar direito e nem me sentar bem e ainda por cima ainda estão me gozando!”. Essa deplorável situação da mãe não impediu que em toda a picada se risse deste cômico incidente. Todavia, todos admiraram a coragem e pronta decisão da mãe. Segue-se então o relato final de Maria Teresa: Como já mencionei anteriormente, Walachai não foi muito alvejada pelos bandidos. Bem mais monstruoso procederam na Jammerthal, Pinhal Alto e Herval, onde incendiaram casas depois de terem assaltado e roubado. Segundo já mencionei, o governo mandou soldados para impedir assaltos por parte dos bandidos e dar proteção aos colonos. Contudo, ocorreram casos que deixaram muito a desejar. Um desses casos eu passo a relatar: Certo dia passou por Walachai um grupo de nove soldados sob o comando de um sargento. Junto consigo levavam preso um alemão. Este estava com os pés tão machucados, devido à caminhada, que quase já não conseguia manter-se em pé. Toda vez que esse grupo fazia uma parada, de imediato curiosos corriam para se informarem qual o crime cometido pelo preso. Por sua vez, o sargento xingava esse alemão atrevido por ter tido a língua solta para criticar o governo brasileiro e os acontecimentos reinantes no país. Perante diversas testemunhas assegurou que esse mísero alemão não sobreviveria ao pôr-do-sol. Quando os soldados, com o seu prisioneiro, passaram defronte à casa do inspetor Closs, este estava justamente trabalhando em sua horta. Observou a triste procissão e pelo olhar desesperador do prisioneiro concluiu estar feia a coisa para ele. Mas, como autoridade civil, nada tinha que se meter em assuntos militares. Pensativo, ficou parado por alguns instantes e depois continuou o seu trabalho. A soldadesca com seu prisioneiro, entretanto, havia alcançado na estrada um ponto onde, à esquerda, há um imenso precipício. O comandante deu um sinal. Todos pararam. Ouviram-se algumas ordens. Dois soldados arrastaram o prisioneiro até o precipício e o obrigaram a ficar ali de joelhos. Ouviu-se um grito desesperador. Um suor frio cobriu-lhe o rosto. Um dos soldados engatilhou a sua arma. Fez pontaria. Um relâmpago e um estouro. Varado por uma bala despencou-se o prisioneiro precipício abaixo. Desfeito de seu peso, os soldados prosseguiram sua marcha para o Pinhal Alto. Guilherme Closs, que morava a pouca distância do local onde se desenvolveu o triste drama, ouvira o tiro. Logo suspeitou ter ali ocorrido nada de bom. Sentiu remorsos em não ter ultrapassado a sua autoridade e tentado alcançar que o prisioneiro fosse posto em liberdade. Depressa, seguiu nessa direção a estrada correndo. Após poucos instantes, chegou ao local onde recém a infeliz vítima, varada mortalmente por uma bala, despencara precipício abaixo. As moitas dobradas lhe indicaram o local por onde descera o corpo do infeliz. Segurando-se 93
nos galhos de uma árvore, esforçou-se para ver ao fundo do pricipício. Nada descobriu. “Meu Deus”, pensou consigo, “aqui é impossível descer para o fundo desse medonho precipício. Contudo tenho que achar um jeito. Preciso certificar-me ser possível se roubar a vida a um pobre homem contra a lei e a justiça!”. Imediatamente regressou à sua casa e disse à esposa: “Mulher, vai já à casa de nossos vizinhos Nicolau Wendling e Antônio Passini, e peça que imediatamente venham ter comigo! Eu mesmo me apresso para ir à casa de meu tocaio Guilherme Büttenbender Filho e quero lhe noticiar que, presumivelmente, aconteceu um hediondo homicídio lá no precipício à beira da estrada. Somente com esforços conjugados podemos desvendar o que ali ocorreu.” Decorrido pouco tempo, os quatro homens estavam preparados para entrar em ação, munidos com foices, cordas e outros apetrechos talvez necessários. Closs mais uma vez lhes explicou o que presumia poder ter ocorrido. Todos se colocaram à disposição do inspetor para o que desse e viesse. Num ponto todos eram unânimes: ser impossível retirar um corpo humano daquele precipício, onde existem gigantescas pedras, muitos cipós e espinhos. Contudo, o cadáver ao menos deveria ser sepultado no local e não podia servir de alimento para os urubus. Após muitos esforços, enfrentando grande perigo, alcançaram o fundo do precipício. Sem demora descobriram o cadáver do infeliz. Estava preso nos galhos de uma árvore, rente ao rochedo. Por sorte, conseguiram abrir uma cova com pouca profundidade e de forma irregular. Colocaram o cadáver dentro e, com dificuldade, arrumaram terra suficiente para cobri-lo. Com dois paus improvisaram uma cruz e colocaram-na em cima da sepultura. Tiraram os seus chapéus e juntos rezaram pelo descanso da alma. Ao examinar o cadáver, o inspetor constatou ser de um homem de uns 30 anos de idade, que deveria ter sido filho de pais abastados, pois a roupa que usava era de boa qualidade, seu chapéu estava apenas um pouco desbotado pelo sol e, pelo aspecto de suas mãos, essas nunca podiam ter manejado o arado ou a enxada. Guilherme Closs precedeu investigações para descobrir a procedência do morto. Após insistente procura de informações, soube tratar-se de pessoa recentemente vinda da Alemanha e que conseguira tornar-se professor na Picada 48, na Comunidade Evangélica. Os pais do morto, gente abastada, andavam também atrás de informações. Assim sucedeu que certo dia o inspetor Closs recebeu da devida autoridade superior, ordens para exumar o cadáver e mandar enterrá-lo num cemitério. O serviço de exumação do cadáver seria feito pelos dois peões negros em troca de uma garrafa de cachaça e cinquenta mil réis. Tudo combinado, Closs esperou por ordens mais precisas. Essas, porém, não vieram. E assim acontece que, até hoje, permanece o morto desconhecido lá em sua sepultura nas profundezas daquele precipício, em mata virgem e espera pela ressurreição no dia do Juízo Final. 94
Quanto ao relato da tia e madrinha, Maria Teresa, quero registrar o que José Hoff me contou referente a este triste episódio. Certa tarde, o professor Pedro Wickert, avô de José Hoff, estava ocupado com trabalhos escolares, sentado na sua escrivaninha, perto da janela central da sala de visita. Casualmente lançou um olhar para o outro lado do vale e viu ali se deslocar pela estrada um grupo de soldados. De repente o grupo parou. Dois soldados com mais alguém se dirigiram para o precipício à beira da estrada, ficando encobertos pela vegetação aí então existente. Ouviu um tiro. Logo depois viu regressarem do local apenas os dois soldados. Calculando ter sido morto o terceiro personagem, mandou seu genro, João Schmitz, em companhia de Francisco Wickert, seu filho, verificar o que pudesse ter acontecido ali. Como obrigatoriamente tinham que passar pela casa do inspetor, mandou que o informassem daquilo que ele tinha visto e ouvido. A esta altura dos acontecimentos, o inspetor Closs já estava tomando providências e João Schmitz com seu companheiro, certamente se desencontraram do inspetor e seus auxiliares porque Maria Teresa não os mencionara em sua narrativa. É possível terem assistido ao estranho enterro sem poderem ter chegado ao local do mesmo.
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10. Walachai e a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918)
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eclarando o Brasil guerra à Alemanha em 1917, passou-se a incomodar os colonos alemães e seus descendentes, gente totalmente inofensiva e pacífica. Foi proibido falar alemão a quem não sabia outra língua. O governo até então ainda não providenciara escolas para essa gente aprender a falar a língua nacional. Não tivessem eles mesmos tido a iniciativa de dar escolas a seus filhos, irremediavelmente teriam esbarrado no analfabetismo. Por sorte e talvez por reconhecerem ser medida arbitrária, as autoridades de São Leo-poldo e principalmente as de Dois Irmãos, pouco caso fizeram da proibição, recomendando ao povo “calar o bico” ao se depararem com vultos suspeitos. Assim, nesta época, Walachai não sentiu os efeitos da proibição. Até a escola continuou funcionando em alemão.
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11. Participação do Walachai na Revolução Constitucionalista de São Paulo em 1932
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essa dura revolução lutou, contra São Paulo, Aloísio Schuk. Foi por pouco tempo. Não chegou a ser envolvido no fervilhão da revolução. Contava que, certa noite, ao avistarem ao longe no campo uma trêmula luzinha, o comandante mandou abrir fogo naquela direção. Ouviu-se o choro de uma criança. Aos poucos o choro foi diminuindo de intensidade até cessar completamente. A luzinha desaparecera. O que na realidade havia sucedido nunca se chegou a saber.
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12. Walachai e a Segunda Guerra Mundial: 1º de Setembro de 1939 a 8 de Maio de 1945
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m 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha e seus aliados, colocando-se do lado dos aliados: Estados Unidos, Inglaterra, França e Rússia. Mais outra vez, uma das medidas do governo brasileiro foi a proibição do alemão, italiano e japonês. Foi rigorosamente proibido falar essas línguas em público. As escolas já haviam sido nacionalizadas anos atrás. Em todas as igrejas, tão somente era permitido o uso do português nos sermões, nos avisos e nas orações com o povo. Rigorosamente estava proibido sintonizar estações de rádio alemãs, italianas ou japonesas. Ai de quem fosse encontrado desrespeitando essa ordem. Ia preso, parar na cadeia ou na “ilha” que eu não sei onde era. Em muitas localidades a polícia fazia rigorosa revista dentro de casa e até nas igrejas, apreendendo revistas, jornais e livros em alemão e italiano. Em certas localidades a polícia chegou a apreender os livros de reza em alemão nas portas das igrejas, aos fiéis. Era também severamente proibido cantar em alemão. A proibição da língua alemã chegou a causar grandes transtornos nos bailes, onde o controle era rígido. Em certo domingo à noite, de 1944, participei de um baile no então salão de Artur Deimling, lá no Jammerthal, onde quase a totalidade das pessoas só sabia falar o alemão. Quando o brigadiano apareceu no salão de baile o silêncio chegou a ser quase total. Só depois de os participantes terem esvaziado boa porção de garrafas de cerveja, a conversa foi se avolumando até em alemão. A confusão estava criada com a intervenção do brigadiano. Tentou prender alguns dos mais exaltados, mas como todos estavam bem unidos isso não lhe “colou”. Esses “quinta-colunas” davam dor de cabeça. Encolerizado, intimou grande número de participantes a comparecerem na segunda-feira, às 14 horas, na sub-delegacia de polícia de Joaneta. Ninguém deu bola a isso. Unanimamente todos decidiram ao não comparecimento à sub-delegacia e ficar nisso mesmo. Posteriormente, che99
guei a saber que quando o sub-delegado perguntou-lhe como transcorrera o baile, o corajoso brigadiano respondeu-lhe que tudo transcorrera normalmente. Quando em 1942 voltei do seminário de Santo Afonso - em Aparecida do Norte para casa, quando o trem entrou no Rio Grande do Sul, em Marcelino Ramos, três brigadianos passaram de vagão em vagão pedindo a todos os passageiros a identificação legal que era o passaporte. Como eu não possuía o passaporte, mas tão somente o meu registro de nascimento com a minha fotografia, carimbado pela delegacia de polícia de Aparecida do Norte, os brigadianos passaram a revistar a minha mala. Revistaram tudo. Encontraram uma porção de cartas escritas em alemão que eu levava e tinha recebido de meus pais e parentes. Todas as cartas escritas com letra gótica apreenderam, as escritas com letra latina deixaram, achando estarem escritas em português. Levei um susto daqueles e o meu medo não era pouco, pois comigo não viajava nenhum conhecido. Antes de chegar em Cachoeira do Sul, encontrei-me com o vigário da matriz desta cidade, monsenhor Armando Teixeira. Contei-lhe o acontecido a mim na viagem. A conselho dele desembarquei na estação de Cachoeira e ele me levou ao convento dos padres redentoristas. À noite, com o trem noturno, prossegui viagem para Porto Alegre. Tive por companheiro de banco um senhor que de imediato atou conversa comigo. Muito boa pessoa. Quando chegamos à estação da Diretoria Pestana, disse-me: “Escuta um conselho que eu lhe dou, para despistar a polícia: desembarque aqui que eu lhe convido para ir junto à minha casa. Fica perto da faixa (naquela época existia aquela faixa de cimento, ligando São Leopoldo a Porto Alegre) e é fácil pegar o ônibus de São Leopoldo. Vai pernoitar na minha casa. Podemos continuar aumentando a nossa amizade e amanhã cedo pegas o ônibus para São Leopoldo. A minha casa é modesta, mas sempre há lugar para mais uma pessoa.”. Aceitei o convite. Fui muito bem recebido na casa desse senhor, por sua esposa e seus filhos. Ficamos conversando até altas horas da noite. Na manhã seguinte, ao perguntar-lhe o que devia pela hospedagem, disse-me: “Eu lhe convidei. Sinto-me feliz por poder lhe ajudar. Cumpri nada mais e nada menos, com o meu dever de cristão. Desejo que chegue feliz em casa e que seja bem-sucedido na vida.”. Agradeci. Um forte aperto de mão a todos e prossegui a minha viagem para casa paterna, sem encontrar outros obstáculos. As cartas apreendidas continham nada relacionado com a guerra e a maioria delas havia sido escrita já antes de o Brasil entrar na guerra. Nessa época, para viajar mais longe do que para Dois Irmãos, era necessário um documento da delegacia chamado Salvo-Conduto, uma espécie de passaporte. Caso contrário, a gente se incomodava e estava sujeito a ir preso. O ônibus que fazia a linha Herval – Dois Irmãos – São Leopoldo, estava obrigado a passar pela delegacia de Novo Hamburgo, onde era feita a revista dos passageiros pela polícia. Ao ônibus entrar em Novo Hamburgo o motorista pedia que os passageiros sem a documentação legal desembarcassem e esperassem 100
até o ônibus regressar da delegacia de polícia. Em certa ocasião, em viagem a São Leopoldo, viajava conosco o médico Dr. Ricardo Sprinz sem documentação. Em Novo Hamburgo foi preso e conduzido para a delegacia de polícia. Passou por uma série de vexames e finalmente, após meia hora de incomodações, foi solto após nós declararmos conhecer esse médico e ser verdade ele morar em Dois Irmãos. Graças à compreensão e è atitude do intendente de São Leopoldo, Cel. Teodomiro Porto da Fonseca, e do sub-intendente e ao mesmo tempo sub-delegado, Cap. Carlos Teobaldo Sperb, Walachai como todo o distrito de Dois Irmãos, não sofreu as humilhações que foram aplicadas a muitas localidades de outros municípios. Todas as pessoas estavam avisadas que em presença de pessoas desconhecidas, e por isso suspeitas, era preciso falar em português e quem não soubesse calar o bico. Assim mesmo deu-se uma ocorrência incontornável. Certa tarde de domingo, como na época era costume e hoje ainda também, a bodega estava lotada de gente, uns jogando cartas, outros conversando por passatempo, tomava-se também daquela água que o passarinho não bebe. Quando essa água “mágica” surtia o seu efeito polivalente, surgia espontaneamente o coro e as mais sortidas canções ressoavam. Mas nesse domingo aconteceu o inesperado com a presença do motorista da ambulância do Hospital Centenário de São Leopoldo. Animando a turma a cantar, certo cidadão não hesitou e a plenos pulmões cantou: “Trink, Brüderlein, trink...” Dias após, o tal cidadão recebeu uma intimação para comparecer na sub-delegacia de Dois Irmãos. Curioso em saber o que poderia ser, compareceu na sub-delegacia de Dois Irmãos perante o sub-delegado Cap. Carlos Teobaldo Sperb. Esse indagou ser verdadeira a denúncia que recebera a seu respeito, ter cantado em alemão na bodega, em público. Negá-lo em nada adiantaria, pois as testemunhas eram um salão lotado de gente. Só agora reconheceu a intenção traiçoeira daquele motorista que se mostrara tão camarada. O sub-delegado passou um bom “café” a esse desobediente e temendo poder ele mesmo ser denunciado na delegacia de polícia de São Leopoldo, a contra gosto teve que aplicar uma pena a esse cidadão leviano. Sentenciou: “Você, meu caro homem, durante 14 dias, exceto domingo, vem cada dia trabalhar na estrada aqui em Dois Irmãos, para aprender a seguir as determinações da gente, a não abusar da minha bondade e nem do senhor intendente”. Lá se ia diariamente o “criminoso” cumprir a sua pena. O senhor sub-delegado não se importava da hora de chegada, da hora de pegar o serviço e de largar. Para ele, o importante era verem os transeuntes o “estranho trabalhor de estrada” e se espalhar a notícia do motivo de sua pena, pois assim permaneceria no bom agrado do senhor delegado de polícia de São Leopoldo, sem judiar de seu cliente. Durante a guerra era obrigatório o comparecimento das pessoas na frente da sub-prefeitura em Dois Irmãos e a participação na comemoração do “Dia da Pátria” em 7 de setembro. Quem faltava sem motivo era considerado “quinta coluna”. E quem nesse dia, fosse encontrado trabalhando, estava sujeito a parar na cadeia. Por isso, no dia 7 de setem101
bro desde cedo, havia um mar de gente em frente da sub-intendência. O primeiro ato da comemoração era o hasteamento solene da bandeira, seguido de missa campal em frente à sub-intendência. Logo após seguia-se a comemoração cívica: discursos, poesias, hinos pátricos... Era uma vibração ao máximo, controlada por elementos do exército. Em 7 de setembro de 1942, como bom patriota, proferi também um vibrante discurso, exaltando as riquezas e belezas de nossa Pátria, conclamando a todos para o nosso amor a essa Pátria inigualável. Foi um discurso que a todos impressionou. Para muitos se tornou inesquecível, pois ainda hoje há gente que me lembra desse discurso. De Walachai, ninguém participou diretamente da 2ª Guerra Mundial. Reinaldo Berg participou da guarda que foi instalada em Santo Antônio da Patrulha, para evitar uma eventual invasão alemã no Rio Grande do Sul. Nessa mesma época, eu prestei serviço militar no 3º Regimento da Cavalaria Divisionário, Regimento Osório com o quartel no Partenon, em Porto Alegre. Cheguei ao posto de 3º sargento. No quartel, trabalhei também na alfabetização dos recrutas, cuja maioria era analfabeta. Em 19 de fevereiro de 1946, após ter requerido o meu desligamento do quartel, dei baixa. No pós-guerra, a vida no quartel tornou-se mais penosa do que durante a guerra. É que o Brasil lutara contra a ditadura de Hitler e de Mussolini, enquanto aqui no Brasil o nosso chefe também era um ditador. Assim, mal acabara a guerra, o Dr. Getúlio Vargas foi deposto pelo exército e a democracia voltou ao país com todas as suas consequências: greves em diversos setores da vida no país, agitada propaganda política para eleição de presidente, de deputados e de senadores. O quartel seguidamente achava-se impedido em prontidão. Era montar guarda em pontos estratégicos da capital e assim por diante. Aconteceu que, durante muitas noites, os soldados se achavam em suas camas, fardados com o capacete de aço e o mosquetão na cabeceira da cama. Nem as botas lhes era permitido tirar. Era uma prontidão rigorosíssima. E o pior de tudo era que se ignorava o motivo de tal prontidão. Passado o pe-sadelo é que se ficava sabendo de tudo. Enjoado de uma vida tão agitada e cansativa, pedi minha baixa que obtive em 19 de fevereiro de 1946, após ter servido um ano e dois dias. O meu lugar não era no quartel e sim na sala de aula. Troquei meu ordenado de hum mil e quinhentos cruzeiros por quatrocentos cruzeiros como professor. Aprendi que a felicidade não está no dinheiro.
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Fui encorporado no 1º esquadrão do 3º RCD (3º Regimento de Cavalaria Divisionário) –Regimento Osório– com quartel no Partenon em Porto Alegre, em 17 de fevereiro de 1945 com o número 1534. Na foto acima apareço como recruta em serviço de cavalariça com recrutas colegas. O 1º da direita para a esquerda sou eu.
Decorridos uns 5 meses fui promovido a cabo. Cabo 1534.
Esta é uma foto dos sargentos de dia, tirada num domingo à tarde em companhia do oficial de dia, na escadaria que dava ao Gabinete do Coronel Comandante do Regimento: Eduardo Monteiro de Barros Junior. O 1º da direita para a esquerda sou eu.
Uns 3 meses após fui promovidoa sargento. Sargento 1534.
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13. Situação Geográfica: Topografia e Clima de Walachai
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alachai limita-se ao norte com Morro dos Bugres, ao leste com Santa Maria do Herval e São José do Herval, ao sul com Morro Reuter e ao oeste com Picada São Paulo e Linha Cristo Rei. É um povoado que pertence ao 2º distrito do município de Dois Irmãos, Morro Reuter e uma localidade muito acidentada, sendo atravessada de sul a norte por quatro morros. Ao fundo desses morros, pelos vales apertados e rochosos, serpenteiam os arroios: do Vale das Batatas, arroio Walachai, no centro, e o arroio de “Atrás do Morro”, geralmente conhecido pelo nome de Arroio Schmitz. Todos esses arroios têm as mais variadas cascatas, correm em sua maior parte, por entre matas em parte ainda virgens. As águas desses 3 arroios desembocam no rio Cadeia. O Morro Wolf, do qual se ramificam os quatro morros de Walachai, é um divisor de águas. As águas dos arroios de Walachai, unidas ao rio Cadeia, vão juntar-se ao rio Caí, enquanto as águas do outro lado do Morro Wolf, lado sul, do lado da vila de Morro Reuter, desembocam no rio Feitoria e vão juntar-se ao rio dos Sinos. Assim, geograficamente, Walachai pertence ao vale do Caí. Atualmente Walachai, na maioria de sua extensão, possui matas, ora naturais e até virgens, ora reflorestadas, principalmente com acácia negra. Antigamente, lá pelas décadas de 1920 até 1950, existiam grandes áreas cobertas por capins e capoeiras. Hoje é raro encontrarmos capinzais. Com a introdução e o uso dos adubos químicos, na década de 1940, estava decretado o desaparecimento dos capins e das capoeiras que existiam nas terras e, assim, essas tornaram-se novamente produtivas. Quando a plantação das batatas começou a ser o principal cultivo, muitos colonos passaram a amontoar as pedras nas suas roças para facilitar o cultivo. Com a orientação do agrônomo, Sr. Clemente Goepfert, certos colonos passaram a colocar as pedras em curvas de nível, surgindo verdadeiras muralhas nas roças. 105
O clima de Walachai é muito bom e saudável, motivo pelo qual um bom número de turistas adquiriu aqui a sua chácara e passa o seu fim de semana e as férias, não se descuidando de instalar um pomar, uma horta e de criar alguns animais. Logo na direita da entrada de Walachai existe até a “Comunidade-Colônia” de Walachai, já com um bom número de casas construídas. É um condomínio, cujas terras em grande parte possuem ainda mata virgem. O inverno é bastante rigoroso e geralmente muito chuvoso. Costumam ocorrer fortes geadas e, de vez em quando, ocorre neve em cima dos morros. Durante a minha existência, até hoje, uma única vez caiu neve até nos vales. Deu para juntar neve e fazer bonecos. No verão, o calor muitas vezes faz-se sentir com bastante intensidade, chegando aos 40ºC ou até mais. Às vezes as chuvas são abundantes e fortes durante o verão e outras vezes acontecem secas bem bravas, causando problemas de água para boa parte da população. Já houve secas em que o arroio Walachai, quando o sol a pino, deixou de correr aqui na altura da minha propriedade. Resumindo: o clima de Walachai, embora saudável, é irregular, ocorrendo excessos de frio, de calor, de chuvas, ventos fortes, bem como secas prolongadas.
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14. A Vida dos Primeiros Moradores
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oi nada fácil a vida dos primeiros moradores de Walachai. A primeira estrada era apenas um trilho aberto com foice, seguindo mais ou menos o travessão. Dava passagem apenas aos cavalos e burros, única condução e meio de transporte dos primeiros moradores. Suas casas eram construídas em mutirão. Toda a madeira necessária para a construção das mesmas foi serrada a muque. O telhado das casas era de tabuinhas. As paredes eram fechadas com tábuas bastante grossas. Todas as primitivas casas possuíam geralmente de duas a três peças, ampla sala de visita (Stube), um ou dois quartos (Kammer) e então um bom sótão. Na sala de visita encontravam-se uma ou mais camas. O sótão servia também de dormitório. Um pouco mais tarde as paredes das casas receberam uma armação de madeira que foi rebocada com argila e caiada e colocaram-se janelas com venezianas. Era costume fazer um alicerce bastante alto para ter-se um bom porão onde eram guardados principalmente o vinho e outras bebidas. Observando bem essas casas antigas, construções ainda hoje existentes e em bom número, chega-se à conclusão que, para colocar toda essa madeirama em seu lugar, era preciso muito muque e dispor de muito tempo e de bastante pessoal. A cozinha era uma construção à parte. Isso para evitar, caso pegasse fogo, que fosse tudo para os ares. Havia cozinhas cujas paredes eram de pedras, e o piso, de chão batido ou também de pedras. Não existia fogão. Numa viga estava presa uma corrente com vários ganchos onde se penduravam as panelas de ferro sobre o fogo. Nem é preciso mencionar o aspecto preto da cozinha em consequência da fumaça. É fácil entender a razão de a cozinha ser uma construção à parte. Todo cuidado era pouco para impedir a ocorrência de incêndio. Assim mesmo aconteceu de alguns moradores terem acordado durante a noite com a cozinha em chamas. Era então um “Deus nos acuda”. Gritos de socorro interrompiam o silêncio da noite. Vizinhos sobressaltados corriam e ajudavam a apagar o fogo que, muitas vezes, não conseguiam mais dominar devido à falta 109
de água ou à distância para buscá-la. Entre outras, me recordo terem sido atingidas por essa catástrofe as famílias Conrado Blume e Francisco Wickert. Mais tarde passou-se a construir um fogão com tijolos e chapa com 3 ou 4 bocas, o que oferecia maior segurança. O fogão e lenha como hoje está em uso apareceu pelo ano de 1930. Meu pai, por exemplo, adquiriu o moderno fogão a lenha pelo ano de 1946. A iluminação das casas dos primeiros moradores era feita por meio de candeeiros que se penduravam num arame preso em alguma viga. Esses candeeiros eram alimentados com banha ou azeite de amendoim. O pavio era de pano. Mais tarde apareceram outros tipos de luminária que podiam ser colocados em cima da mesa ou do armário. Seu deslocamento era bem mais fácil e cômodo. Depois apareceram as lanternas protegidas contra o vento e a chuva. Eram muito usadas nas noites sem luar para visitar os vizinhos, ir ao ensaio de canto, atender aos bichos na estrebaria e assim por diante. Usava-se também a tocha, feita de bambu, com mecha de pano embebecido com banha ou com azeite. Era muito usada pelos pescadores para pescar cascudos à noite. Lá pelo ano de 1950 foi introduzida a lâmpada a querosene. Anteriormente, mas em raríssimos casos, alguns moradores possuíam lâmpada a querosene, que só usavam em dias de festa ou em outros casos especiais. Nos salões de baile, a iluminação era à base de querosene. Creio que antes disso existia um tipo de iluminação que funcionasse e gás. Este era produzido, me parece, por uma substância química num recipiente e era distribuído pelas diversas peças do salão, por meio de canais condutores, aos bicos de ignição. Pouco antes do aparecimento da rede elétrica aqui em Walachai, os salões de baile providenciavam iluminação elétrica por meio de baterias que em parte possuíam e em parte emprestavam de outras pessoas. Em dezembro de 1961, Walachai conseguiu a luz elétrica. Não foi fácil, pois toda rede elétrica teve de ser paga pelos usuários. Foi constituída uma comissão para arrecadar os fundos necessários para cobrir as despesas do projeto. Os membros da comissão eram Lino Büttenbender, Nicolau Henrich e eu, João Beno Wendling. Tivemos que passar de casa em casa com uma lista, onde o interessado se manifestava com quanto dinheiro estava disposto a colaborar. Em algumas casas não fomos bem recebidos. No final da campanha, constatou-se que o dinheiro prometido não seria suficiente para a realização da obra. Foi preciso fazer nova visita aos interessados para pedir mais colaboração. Mas, finalmente, conseguimos o dinheiro necessário. Os primeiros participantes foram Leopoldo Saueressig, Felipe Alfredo Klaus, José Klauk Filho, João Wendling, Walter Nelson Becker, João Adolfo Schuh, Felipe Seger, viúva Frida Wingert, Nicolau Henrich, João Beno Wendling, Pedro Afonso Braun, Roque Dieter, Henrique Emílio Becker, Willy Emílio Schmidt, Emílio Klein, Albino Seger, Afonso José Klein, Afonso Büttenbender, Lino Büttenbender, João Wilibaldo Arnold, Afonso Arnold, José Hoff, Bruno Seger, João Lauxen e Guilherme Dapper. Um morador havia aderido ao projeto, mas na hora “H” negou-se a contribuir. Foi, 110
porém, um dos primeiros a fazer a instalação em sua moradia e ter luz elétrica sem contribuir com um centavo. Os demais moradores que não aderiram tiveram ao menos o bom senso de não se conectarem à rede. Só anos após pediram ligação à rede elétrica. Os principais colaboradores para conseguirmos a luz elétrica foram o senhor prefeito municipal, Justino Antonio Vier, e nosso vereador, Felipe Seger Sobrinho. Pelo projeto estava prevista a devolução do dinheiro a cada um que havia contribuído, após 3 anos. Mas isso aconteceu somente 7 ou 8 anos depois, na gestão do prefeito municipal Leo Klauck. Fui eu quem contribuiu com a maior quantia em dinheiro: CR$ 55.000,00. Na hora da devolução, essa quantia deu apenas para comprar um saco de farinha de trigo, tal havia sido a desvalorização do dinheiro em consequência da inflação galopante que surgira. O custo total da obra foi em torno de CR$ 1.000.000,00. Em 1987, a CEEE contemplou Walachai com energia elétrica trifásica, possibilitando assim, a instalação de eletromotores com boa potência. Atualmente, com exceção de 2 famílias, todos os moradores de Walachai têm luz elétrica. Existe também, já há alguns anos, a iluminação pública.
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15. Os utensílios
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ara preparar a comida o colono usava panelas de ferro fundido com 3 pés, frigideiras, bules, também de ferro fundido, chocolater – para esquentar principalmente a água para o chimarrão – utensílio fabricado com folha de Flandres pelos funileiros, como também a raladeira e as formas de pão. De início o colono fazia o seu pão com farinha de milho, misturada com farinha de trigo ou de centeio. Isso hoje praticamente não se faz mais. O pão era feito no forno, como ainda hoje existe. As bacias e os baldes também eram feitos pelo funileiro com folhas de Flandres. Muitos colonos usavam até pratos, canecas e canequinhas feitas de folhas de Flandres. Para lavar seus pés e o rosto, os colonos usavam muito as gamelas, onde despejavam a água. A água da gamela geralmente era usada por toda a família para lavar os pés. A carne era conservada salgada em gamelas ou tinas até 3 ou 4 dias, sendo então defumada e pendurada em varais por cima do fogão, continuando o processo de defumação. Usavam-se panelas enormes de ferro fundido para esquentar água para depilar os porcos quando se carneava e para extrair depois a banha do toucinho. Quando o toucinho estava no ponto era prensado em prensas totalmemente de madeira, que ainda hoje existem. O colono aprendeu a preparar a tal “schmier” – espécie de geleia, obtida do caldo da cana de açúcar. Isso aprendeu mais tarde. Vizinhos, em sociedade, construíram a sua moenda de cana, movida a tração animal, burros ou cavalos e por fim por bois. A “schmier” era preparada em tachos feitos pelo funileiro com folhas de Flandres reforçadas e, mais tarde, em tachos de cobre, adquiridos geralmente de ciganos. Esses tachos eram colocados em cima do tripé, feito pelo ferreiro e que também era utilizado para colocar os panelões de ferro. Muito em uso estavam também bacias, feitas de argila, como os potes para guardar o leite, para servir a “schmier” ou o açúcar por ocasião das refeições. O café era tomado em tigelas de porcelana. Não se sabe outrora, muitos colonos terem possuído lindos utensílios de porcelana 113
artisticamente trabalhados e que até hoje são guardados, com cuidado, por certos colonos. Talvez tenham trazido em sua viagem para cá alguns vasilhames da Alemanha. Entre muitos moradores, era costume o uso específico de utensílios de mesa para os domingos e dias de festa. Finalizando essa narração, registro um fato ocorrido, entre muitos outros. Um certo imigrante recém chegado, quando em visita a outro imigrante já aqui domiciliado há mais tempo, ouvindo sobre o quanto era delicioso o mastigar da cana de açúcar, que ele mal conhecia de nome, manifestou o desejo de experimentar. Ambos então se deram ao passatempo de descascar e chupar a cana. Decorrido certo tempo o imigrante já aqui estabelecido há mais tempo, perguntou ao visitante: “Que tal está achando essa cana?” “O caldo é delicioso e fácil de engolir, mas o resto a minha goela não quer deixar descer!” Arguiu o visitante. “Mas companheiro, o bagaço até os porcos rejeitam. O que se aproveita é tão somente o caldo”, foi a resposta do mestre.
A lanterna e dois tipos de luminárias a azeite de amendoim usados pelos colonos
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Vasilhames utilizados antigamente no manejo do leite. Os dois potes menores eram utilizados para separar o leite da nata, resultando na coalhada. A nata recolhida no pote do meio, era passada para o “Butterfass” – utensílio à esquerda – para o processamento da manteiga.
16. Os Móveis
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s primeiros colonos eram paupérrimos em questão de móveis. As suas mesas, os seus bancos, as suas cadeiras e as suas camas eram bem rústicas. Para cadeira usavam até cepos de madeira. Os colchões eram de palha de milho ou de hastes de linho bem batidas. Os travesseiros e os cobertores, de penas de aves. A roupa era guardada em baús de madeira que, em grande parte, haviam trazido da Alemanha. As roupas de semana geralmente eram penduradas na parede num móvel guarnecido com pinos de madeira. Isso evitava da roupa apresentar manchas de ferrugem. Bem depressa, porém, surgiram verdadeiras artes em matéria de móveis: guarda-roupas artisticamente trabalhados, bem como mesas, bancos, cadeiras, baús, camas e guarda-louças. Os modernos móveis, como os que possuímos hoje, apareceram gradativamente após a 2ª Guerra Mundial, quando começaram a proliferar as fábricas de móveis. A maioria dos móveis antigos foram obras dos marceneiros: Guilherme Büttenbender, meu bisavô, e de João Pedro Hoff, tendo como sucessores Guilherme Büttenbender Filho, Jacob Becker, Pedro Arnold VI e Guilherme Büttenbender Neto.
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17. Os Instrumentos Agrícolas
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ara os primeiros moradores, o machado, a foice e a serra foram os principais instrumentos agrícolas. Precisaram deles antes da enxada, já que tudo era mata virgem. Inicialmente, poucos puderam usar o arado, devido às grossas raízes dos tocos de árvores nas roças. Usavam a enxada no plantio do trigo, do centeio, da cevada, do linho, da aveia, da batatinha, do tabaco e talvez até para plantar o milho. O plantio desse foi muito facilitado com o aparecimento do saraquá, que os marceneiros fabricavam. Com bastante rapidez conseguiam então plantar milho, feijão, arroz, ervilha, etc. Na colheita dos cereais na roça, para fazer certa limpeza nos cereais após a trilha, serviam-se do ancinho, feito de madeira, e da peneira. Em casa era completada a limpeza com o uso do ventilador (Windmühle) ou aproveitando os ventos moderados. Os cereais eram trilhados em cima da lona (Dreschtuch) feita de tecido de linho ou de algodão. Na trilha do feijão, da vica, eventualmente o arroz, serviam-se os colonos de dois ou três cavalos ou burros que volteavam sobre a lona ora para a direita, ora para a esquerda, pisoteando o que se estava trilhando. O revezamento do voltear dos animais se fazia para evitar tonturas, tanto no cavaleiro como também dos animais. Sob a ação do pisoteio, os grãos se soltavam das espigas ou das vagens bem secas. Havia também colonos, como ainda hoje os há, que faziam a trilha a muque, usando para bater o ancinho ou paus ou manguais (flegel). O trigo, o centeio, a cevada, a aveia, a lentilha e o arroz eram batidos em cima de uma pedra bem chata, montada em cima da lona. O amendoim era batido por cima de um pau preso na beirada da boca de um grande cesto, ou jacá, ou pipa, ou então se fazia uma armação com 3 paus por cima da lona, sendo esta afixada na travessa. Esses métodos ainda hoje continuam em uso. Muitos colonos, porém, atualmente carregam o seu feijão e arroz nas suas carroças e o levam para ser trilhado pela trilhadeira de Nicolau Henrich. Há outros que possuem trilhadeiras pequenas, possibilitando facilmente a sua locomoção pelas roças. Embora não seja muito cômodo, exige menos esforço e o pro117
duto a ser trilhado pode conter bem mais umidade, o que é uma grande vantagem quando o tempo é menos favorável às colheitas dos cereais. Para abrir estradas, o colono necessitava de boas picaretas, picões, malhas, brocas para fazer furos nas rochas e arrebentá-las por meio de uma pólvora específica para isso. Dinamite não se conhecia. Boas alavancas de ferro não podiam faltar para facilitar a remoção das pedras. Para rachar os cepos em tabuinhas, usava-se uma lâmina de aço. Com uma machadinha especial (Schindelbeil) dava-se o acabamento necessário às tabuinhas. Com uma pua abria-se um furo em cada tabuinha, colocando nele um pino de madeira, a fim de impedir o seu escorregamento no telhado. Para o mesmo fim, em menos tempo, mas com mais despesas, as tabuinhas podiam ser pregadas. Alguns colonos, à moda de então na Alemanha, usavam a gadanha (Senze) para cortar o pasto. Bem depressa essa ferramenta foi dispensada devido às muitas pedras existentes nas pastagens. Foi tão somente adotado o uso da foicinha (Sichel). Quem possuía terras com poucas pedras usava a grade. Essa está em uso ainda hoje. Antigamente o arado era tão somente puxado por burros, cavalos ou mulas. Ao contrário de hoje, quando se usa bois para esse fim, ou até vacas. Para debulhar o milho usava-se a debulhadeira, e quem não a possuía, emprestava o equipamento dos vizinhos, ou então fazia esse serviço a mão, terminando ge-ralmente com as mãos cheias de bolhas.
Engenho de cana, outrora encontrado em quase todas as propriedades, quando o colono fabricava a sua própria “Schmier”.
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Debulhadeira, aparelho indispensável para debulhar rapidamente e sem ficar com bolhas nas mão.
18. Os Meios de Transporte
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o início da colonização de Walachai, o transporte era feito no lombo do cavalo ou do burro, ou então, nas costas do próprio colono. Para transportar o milho, o feijão o arroz, o pinhão e outras mercadorias, usavam-se sacos específicos feitos de tecido de linho ou de algodão, com dois metros de comprimento. O transporte do pasto era feito por meio de cangalhos de madeira. A lenha, a mandioca e a batata-doce, por meio de jacás ou de cangalhos de couro cru. A madeira de construção era puxada por meio de cavalos ou de burros. Tábuas e planchões ajeitavam-se na sela do burro ou do cavalo, parelhas em cada lado do animal tocando uma extremidade o chão com as pontas e assim eram arrastados ao local desejado. As pedras transportavam-se por meio de um tipo de trenó (Schlitter). Uma forquilhinha de angico sobre a qual se fixava planchões, a ponta da forquilhinha era furada e pelo furo prendiam-se os animais por meio de uma forte corrente. Era um meio de transporte muito versátil e prático, pois, com facilidade, carregavam-se e descarregavam-se enormes pedras. Por muitos anos foram o cavalo, o burro e a mula os únicos meios de transporte para fazer chegar a colheita ao paiol ou ao armazém. Do mesmo modo, os comerciantes transportavam os produtos coloniais a Hamburgo Velho e a São Leopoldo, e de lá, traziam o que faltava ao colono. Os comerciantes usavam, no transporte, a “tropa”, que constava de alguns burros, presos uns aos outros, em coluna, ou mesmo soltos. O burro fronteiriço levava um guizo ou sineta presa no pescoço, anunciando assim o movimento da tropa. Caso viesse uma tropa em sentido contrário, era providenciada a passagem de uma tropa pela outra, o que muitas vezes era problemático devido à pouca largura das estradas. A tropa vazia abria passagem para a tropa carregada. Esse tipo de transporte ainda era usado por certos comerciantes no ano de 1945: Albino Seger de Walachai; Alfredo Ilges, de Padre Eterno; Felipe Ries, de Fazenda Padre Eterno. Desapareceu após a 2ª guerra mundial. Principalmente se recorria ao uso da tropa durante o inverno, 119
quando as estradas ficavam em más condições e as carroças facilmente atolavam, causando imensos dissabores aos condutores. As carroças, já de longe, anunciavam a sua aproximação com o melancólico tilintar dos guizos ou sinetas que os burros usavam na ponta. Nas passagens das carroças umas pelas outras, valia a mesma regra quanto à passagem de uma tropa pela outra. No meu tempo de menino, lá pelo ano de 1930, na época das colheitas, era comum verem-se tropas de 4 a 8 animais, umas atrás das outras, o pessoal assobiando alegres melodias de danças, cantando as mais variadas canções ou conversando animadamente. O uso da carroça intensificou-se após a 2ª guerra mundial, quando as estradas sofreram sensíveis transformações, possibilitando a passagem de carroças. Primeiramente foram puxadas tão somente por cavalos e burros. Gradativamente foi se instituindo o uso de bois ou vacas, tal como acontece hoje em dia, onde praticamente cada colono possui a sua carroça, e o uso do cavalo e do burro desapareceu quase totalmente. Assim como outrora a curiosidade estava voltada para o aparecimento de um automóvel, hoje se olha para quem aparece montado em burro ou em cavalo. Antigamente existia sela própria só para homem e só para senhora (Domensathel). Causava escândalo uma senhora servir-se de sela de um homem. Quanto à vestimenta, acontecia o mesmo. Mulher, só de saia. Teria sido o auge de escândalo mulher aparecer vestida como nos tempos atuais. Em 1948, Walachai chegou a ter um moderno meio de transporte, o caminhão. Albino Seger e filhos compraram então um caminhão “Ford”, novinho. Gualtério Blume foi o primeiro que possuiu jipe, com o qual se acidentou quase perdendo a vida. Gualtério puxava o leite até a BR 116, no Morro Reuter, para a Cooperativa de Leite Piá, de Nova Petrópolis. Na descida do trecho da estrada de Cirilo Meurer até a BR 116, o jipe ficou sem freio, vindo a capotar no barranco, caindo sobre o leito da BR 116, espalhando-se os tarros com o leite por cima da faixa. Gualtério sofreu fraturas de costelas e várias escoriações pelo corpo todo. Ficou hospitalizado no hospital São José, em Dois Irmãos, por um bom tempo, e pelo resto de sua vida sofreu em consequência desse acidente. Vendeu os destroços do jipe que praticamente era ferro velho. Poucos anos após, em 17.10.1990, Gualtério faleceu, contribuindo certamente para isto, o acidente que sofrera. Embora Walachai possua poucas áreas em condições de serem trabalhadas com trator, existem 2 microtratores Agrale, sendo seus proprietários Lauro Chies e Nelson Antônio da Silveira.
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O meio de transporte agrícola mais comum em 1992. Meu filho Afonso voltando da roça com sua família.
Carreta puxada por bois para transporte utilizado até os dias de hoje.
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19. As Estradas
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o início da povoação de Walachai praticamente não havia estradas. Não eram mais do que umas picadas pela mata virgem. Gradativamente essas picadas foram alargadas até tomarem a forma de estradas. Sobre os arroios existiam pinguelas. A conservação das estradas, bem como a sua melhoria, estavam a cargo dos próprios colonos. De início, por iniciativa própria e em mutirão, abriram estradas e delas cuidavam. Só bem mais tarde, o município de São Leopoldo, por intermédio do sub-intendente de Dois Irmãos, providenciou a arrumação das estradas, mas também por meio dos próprios colonos. A época de roçar e arrumar as estradas era o mês de fevereiro, quando o colono estava mais folgado em seus afazeres agrícolas. Para cada estrada havia alguém encarregado de organização, da e-xecução e do controle do serviço. Era denominado de capataz. Ele entrava em entendimento com o sub-intendente, avisava o pessoal de sua zona ou estrada, marcava o dia do início das obras, anotava os nomes dos participantes, bem como o número de seus dias de serviço, entregava a lista ao sub-intendente que por fim efetuava, num dia marcado e geralmente em Walachai, o pagamento a cada participante. Não havia máquinas. Quando necessário o uso de carroça no conserto da estrada, o carroceiro recebia o seu ordenado triplicado. Quando preciso quebrar rochas, os furos eram feitos com brocas a mão. Um trabalhador segurava e girava a broca enquanto dava direção à mesma, e outro trabalhador batia na cabeça da broca com um malho. O tiro era executado com uma pólvora específica para tal fim. A ignição era providenciada por meio de estopim. Quando o autor da ignição berrava o alarme, todos os trabalhadores procuravam abrigo, aguardando curiosos o estouro. Nessa operação não ocorreu nenhum acidente em Walachai. De todas as estradas, a mais antiga é aquela que vai da entrada de Walachai para o centro, denominada “Estrada Geral do Walachai”. Um pouco antes, onde é hoje a igreja católica, bifurcava-se. O ramo à esquerda dirigia-se, e ainda se dirige, para o Vale das Batatas, rodean123
do o morro, indo encontrar-se novamente com o começo da Estada Geral, na entrada de Walachai, perfazendo assim um zero irregular. Na altura do morador Ênio Vogel, um pouco antes, dirigia-se para o arroio do Vale das Batatas e no outro lado do mesmo dirigia-se para o norte, até o fim de Walachai. Atualmente a descida, muito íngreme para o vale ao arroio, está abandonada. No ano de 1948, durante a administração do prefeito Mário Sperb, esse trecho foi mudado, e toda a estrada alargada para dar passagem aos caminhões. Isso em atenção à olaria de Albino Dieter, instalada no Vale das Batatas. Essa olaria foi de pouca duração devido ao difícil escoamento dos tijolos e em parte também à precária qualidade da argila. Após a emancipação de Dois Irmãos do município de São Leopoldo, quando a prefeitura adquiriu patrola e outro maquinário, essa estrada foi sempre melhorada até atingir o seu bom estado atual. A conservação da mesma está sob os cuidados do zelador Remi Stoffel, que incansavelmente luta para mantê-la em dia. Diariamente, trafegam por essa estrada o caminhão de recolhimento do leite da indústria da laticínios “Jacobs” de Novo Hamburgo, o caminhão de recolhimento do leite da Cooperativa de Leite Piá de Nova Petrópolis, a kombi de Roque Dieter, buscando e levando de volta os operários do Vale das Batatas que trabalham na fábrica de calçados de A. J. Wirth, no centro de Walachai. Caminhões transportando cascas de acácia, lenha e outros produtos agrícolas e boa quantidade de carroças trafegam pela mesma, diariamente, menos aos domingos. O outro ramo da bifurcação da Estrada Geral, um pouco antes da igreja à direita, após transpor os dois arroios e atingir a altura onde mora Selvino Schmitz, subia o morro e transpondo-o prosseguia até alcançar a estrada de Mato Comprido, que vai para São José do Herval. Um pouco mais adiante, seguia-se o ramo da Estrada Geral, via Morro do Calvário, para Morro dos Bugres, Jammerthal e Pinhal Alto. Esse ramo encontra-se atualmente quase em total abandono. Mais adiante ainda da entrada dessa estrada, outro ramo se dirigia para os moradores Carlos Brentano, hoje seu filho Armando Brentano, José Arnold e outros. Esse ramo há poucos anos foi melhorando e continua em uso. Foi até prolongado até alcançar a ponte Farroupilha, sobre o rio Cadeia. Em 1914, ainda sob dependência de São Leopoldo, com a chefia do intendente Gui-lherme Gaelzer, abriu-se um novo trecho de estrada desde a capela de São Nicolau até a ponte Farroupilha no Rioloch. Essa ponte foi construída em 1888 e reformada muitas vezes. Antes dela, fora construída uma ponte sobre o rio Cadeia na primitiva passagem do rio, lá onde mora a viúva de Beno Braun. Na primeira enchente, essa ponte foi levada pelas águas. O construtor dessa ponte quando viu subirem assustadoramente as águas do rio e temendo que ela fosse levada, encilhou o seu cavalo e rumou para São Leopoldo para receber o seu di-nheiro. Na sua volta a ponte já não existia mais. Como seguidamente o rio estava cheio, impossibilitando o transporte pelos comerciantes do Pinhal Alto, Jammerthal e do baixo Morro dos Bugres ou Rioloch, em 1888 construiu a intendência de São Leopoldo outra ponte. 124
A construção do novo trecho de estrada para o Rioloch foi um grande progresso para Walachai, pois por aqui passavam as carroças de todos os comerciantes do Pinhal Alto, do Jammerthal e do Rioloch para Dois irmãos, Hamburgo Velho e São Leopoldo. Naquela época havia casa comercial no Rioloch nas proximidades onde atualmente mora Walter Weber. Em atenção a isso, merecia ser bem conservada essa estrada, como também a ponte Farroupilha. Para que isso fosse realidade, a intendência contratou um zelador, na pessoa de José Francisco Wickert. Devido ao alto morro, em épocas de muita chuva, frequentemente aconteciam deslizamentos de terra e de pedras, fechando a estrada. Nessas ocasiões, Francisco precisava de ajuda para prover o rápido restabelecimento da estrada. Desde onde mora José Scmitz até Santa Maria do Herval, existia uma estradinha pela qual só era possível a passagem a pé ou a cavalo. Em 1959, o então prefeito de São Leopoldo, Dr. Paulo Couto, a pedido do vereador Albano Kuhn, abriu a atual estrada que liga Walachai a Santa Maria do Herval, começando na estrada que vai para a cascata do Herval, terminando em Walachai, em frente à casa de João Lauxen. Realizou-se assim um antigo sonho de Santa Maria do Herval, pois além de encurtar a distância para alcançar a BR 116 no Morro Reuter, é uma estrada bem melhor, menos acidentada do que aquela por São José do Herval. Para Walachai foi e continua sendo uma estrada importantíssima. Pelo ano de 1970, sendo prefeito de Dois Irmãos Léo Klauck, foi aberta a estrada que vai por fora do Walachai, a partir de onde atualmente mora Lídio Klaus, até a entrada da estrada que vai para o Rioloch. Embora não fosse uma obra essencialmente necessária, não deixou de ser um progresso para o Walachai, pois favoreceu a muitos moradores e é de melhor trafegabilidade. No tempo do prefeito de São Leopoldo, Germano Hauschild, lá pelo ano de 1953, foi aberto o trecho de estrada desde a entrada de Walachai até o atual morador Lídio Klaus, deixando para o passado aquele trecho íngreme desde Lídio Klaus até a entrada de Walachai de antes. Esse antigo trecho foi o terror dos motoristas, pois com a estrada melhorada, mesmo usando correntes, os mais competentes motoristas costumavam “pegar tatu”. O dentista João Fridolino Wendling muitas vezes quase atingira o topo do morro, quando o seu automóvel se negava a continuar sem o auxílio de uma boa junta de bois que, por sorte, nessa época o comerciante Emílio Wolf possuía. Em certa ocasião, o carro de Felipe Seger Sobrinho, dirigido por seu irmão, Armando, em determinada altura da estrada, escorregando a carga de porcos para trás, amontoando-se, o carro levantou na frente despejando a porcada. Nem é bom pensar no serviço que deu para juntar e carregar de novo a bicharada. O padre Valentin Weschenfelder nem tentava descer esse morro com o seu automóvel, pois nunca se sabia com que tempo podia contar para voltar para Dois Irmãos. Em vista dessa problemática toda, a prefeitura de São Leopoldo resolveu finalmente construir o desvio, em mutirão, com os moradores de Walachai. Felipe Dapper foi designado capataz e responsável pela execução da obra. Onde havia menos pedras, como naquela curva, um 125
velho trator entrou em ação, mas seguidamente estava estragado, não rendendo o serviço. Foi preciso cons-truir a maior parte do desvio a muque. Em 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição de Maria, dia santo de guarda e dia da padroeira de São Leopoldo, não se trabalhou. Mas, a certa hora da manhã, os moradores foram surpreendidos pelos roncos do trator. Todos se admiraram de a prefeitura de São Leopoldo não respeitar o dia de sua padroeira, dia de feriado religioso e municipal. Curiosos se dirigiram até lá para apreciar o serviço. Com espanto, viram ser Werno Becker quem manejava aquele pedaço de trator. Esse Werno não era tratorista, apenas observara como o tratorista lidava com a máquina. Como o serviço não ia para frente resolveu “meter os peitos”. Não tardou, porém, e as esteiras gastas caíram das rodas e fim de serviço. Devido a essa sua atrevida façanha, Werno foi chamado à prefeitura pelo prefeito Germano Hauschild para prestar esclarecimentos. Teve de explicar como obtivera a chave para ligar o trator. Werno respondeu que ele mesmo havia feito uma chave e que tinha dado certo. O prefeito, não satisfeito, ainda quis saber o porquê desse atrevimento. Werno explicou ao prefeito que o trator estava parado a maior parte do tempo e que o serviço não ia para frente e que por isso resolveu dar uma apressada nessa obra que todos torciam ficar pronta de uma vez para Walachai ficar ligada a Dois Irmãos, Novo Hamburgo e São Leopoldo. Mas com qualquer tempo e não só em dias com bastante sol, após a chuva. O prefeito ficou boquiaberto com a coragem do rapaz e após recomendar-lhe que não repetisse tal aventura, despachou-o. Werno tinha então seus 14 ou 15 anos de idade.
Estrada em frente da casa do Linus Wendling.
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A partir de 1956, quando o Dr. Paulo Couto assumiu a prefeitura de São Leopoldo, acabou com o sistema de os próprios colonos arrumarem as estradas do interior. É claro que as estradas ficaram de início, em abandono, tornando-se ruins. Os líderes do interior, anteriormente encarregados de conservação das estradas, foram reclamar ao prefeito, mas esse lhes argumentou que o lugar do colono era na roça e não na estrada, que esse serviço era da competência da prefeitura por meio de pessoal especializado para esse fim. Em atenção às reclamações, mandou para cá uma britadeira móvel e iniciou-se a empedrar as estradas, tornando-as transitáveis com qualquer tempo. Após a emancipação de Dois Irmãos de São Leopoldo, ano após ano as estradas de Walachai foram ampliadas e melhoradas, e, atualmente com qualquer tempo, pode-se chegar de carro à casa de quase a totalidade dos moradores. Isso, porém, só se tornou realidade graças ao emprego do maquinário adequado, adquirido gradativamente pela prefeitura e o competente manejo do mesmo. Seria ingratidão deixar de mencionar o engenheiro da prefeitura por longos anos, Mário Witt, que projetou a maioria da construção dos trechos de estradas novas.
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20. A Vida Religiosa
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té o ano de 1849 a assistência religiosa esteve quase totalmente ausente. Quem necessitava de padre tinha de se dirigir a São Leopoldo. Uma ou outra vez, durante o ano, aparecia o pároco de São Leopoldo. Fazia então os batizados, os casamentos, dava a absolvição geral e ouvia a confissão de quem o pudesse fazer e rezava missa, distribuindo a comunhão a quem o desejasse. Um fato curioso é que o pároco não entendia alemão e para atender uma confissão individual valia-se de uma lista na qual constavam os principais pecados em português ou espanhol, e ao lado, respectivamente, em alemão. O penitente indicava nesta lista os seus pecados e o padre anuía com a cabeça, dando a entender tê-lo compreendido. Para marcar a penitência valia-se do processo idêntico. Essa situação não atingiu a Mathias Mombach, porque ele sabia falar francês perfeitamente, e o padre, sem dúvida, estava a par dessa língua. Em 1849, essa situação foi contornada com a vinda, para Dois Irmãos, do padre jesuíta austríaco, Augustinho Lipinski, da província da Áustria e de origem polonesa. Nesse mesmo ano, foi construída no Morro dos Bugres, a primeira capela, um pouco abaixo da atual, em direção ao Rioloch. Ajudaram na construção da mesma moradores do Jammerthal e de Walachai, que aqui mal se haviam estabelecido. De Walachai ajudaram e se associaram João Pedro Bender, Nicolau Dapper, José Endres e certamente outros imigrantes vindos depois. Segundo os cálculos, pelos dados encontrados, construiu-se em Walachai, no ano de 1866, a primeira escola que serviu também de oratório (Schulkappelle), até ao ano de 1917. A construção dessa escola era toda de madeira e nela passei os meus quatro anos escolares obrigatórios. O telhado era de tabuinhas, os bancos feitos com tábuas de canjerana da grossura de 5/4 de polegada, em cada banco podiam-se acomodar seis alunos. No meu tempo havia dez desses bancos, e na mesma época foram feitos mais dois desses bancos por meu avô, Guilherme Büttenbender Filho. Esses dois bancos já eram totalmente de pinho e com a grossura 129
das tábuas de 1 polegada. No telhado dessa escola existia uma pequena torre onde ficava o sino de bronze. Esse mesmo sino está hoje instalado na torre da atual igreja. Traz as armas do império e certamente foi doado à comunidade de então pelo governo imperial. Em 1980 esse sino foi reformado pela fábrica de sinos Belini, de Esteio. Na escola oratória eram batizadas as crianças, ouvidas as confissões e rezada a missa. Para a prática da confissão existia um tipo de confessionário bem primitivo, apenas uma grade e um lugar onde ajoelhar-se o penitente. Existem ainda entre certos moradores um ou outro daqueles bancos primitivos da escola, pois foram leiloados. Durante a missa havia, tão somente, canto popular. Não existia um coro organizado. Rezava-se a recitação do terço com canto durante a missa. Os casamentos realizavam-se somente na igreja matriz de Dois Irmãos, bem como as primeiras comunhões solenes e a preparação para as mesmas. Ninguém era admitido à primeira comunhão solene sem ter frequentado a escola paroquial durante quatro anos e com idade inferior a 12 anos. Em preparação imediata para a primeira comunhão solene, o pároco administrava catequese durante uma semana inteira. Era necessário saber de cor as 200 respostas às perguntas do catecismo. Durante essa semana as crianças daqui se hospedavam em casa de parentes ou de amigos, em Dois Irmãos. Essa primeira comunhão solene acontecia sempre no domingo “in albis” que é o segundo domingo de Páscoa. Nesse domingo, pais, padrinhos e familiares se dirigiam a Dois Irmãos, a pé ou a cavalo, para assistir a essa solenidade. Após a missa levavam o neocomungante junto para casa onde se celebrava o acontecimento com uma singela festinha.
Turma das crianças da Primeira Eucaristia em 4. 10.1981. Pároco: Pe. Bráulio Weber. Catequista da Crisma: Prof. José Albano Wickert.
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Os primeiros e maiores catequistas eram os próprios pais. O filho, ao ingressar na escola, já sabia traçar perfeitamente o sinal da cruz, rezar o Pai Nosso, a Ave-Maria, o Glória ao Pai, o Creio e não raras vezes já sabia de cor os 10 mandamentos de Deus, os cinco Mandamentos da Igreja, os sete Sacramentos e outras orações. Na escola bastava o professor marcar o tema do ensino religioso e os pais, ou um irmão mais velho, se encarregavam do aprendizado. Aluno que não sabia o seu catecismo estava sujeito a uma boa surra ou a estudar no recreio. Nas famílias, a oração antes e depois das refeições era de obrigação sagrada. A oração da manhã e da noite era bastante comprida e não raras vezes devido a isso e ao cansaço, membros da família pegavam no sono durante a oração da noite. Aos domingos, quem podia e tinha animal para montar, ia à missa na matriz de Dois Irmãos ou em alguma capela próxima.
Por que São Nicolau passou a ser o padroeiro de Walachai Quando em conversa com meu primo João Lauxen – o moleiro, ele me contou que a sua vovó paterna lhe contara o seguinte: “Antigamente, ainda antes da construção da nossa capela, ocorrera uma seca bem braba. As plantações iam morrendo. A água dos arroios quase sumiu. Os moradores em desespero resolveram fazer uma procissão até a capela do Morro dos Bugres rezando e cantando durante todo o trajeto, pedindo que Deus se compadessesse e enviasse uma chuva satisfatória. Prometeram escolher como padroeiro da comunidade o santo do dia em que a chuva ocorresse. A procissão saiu bem cedo da escola oratória para a capela do Morro dos Bugres, participando todos os moradores em condições de aguentarem a dura caminhada. O dia estava lindo e já fazia muito calor. Após uma caminhada de aproximadamente duas horas, alcançaram a capela do Morro dos Bugres. Continuaram nela as orações implorando chuva. Ao regressarem, nuvens escuras ocultaram o sol. Ao alcançarem a altura um pouco antes onde atualmente se encontra a casa da viúva Pomar Büttenbender Olbermann, foram surpreendidos por uma forte chuva, molhando a todos. Essa pôs fim à estiagem. Era o dia 6 de dezembro e o santo do dia era São Nicolau. Em agradecimento a Deus, colocaram uma enorme cruz de madeira à beira da estrada onde foram surpreendidos pela chuva tão desejada. São Nicolau foi declarado o padroeiro de Walachai.” Daí em diante, durante o decorrer de muitos anos, no dia de São Nicolau ia-se em procissão, rezando e cantando até aquela cruz. Hoje a cruz não existe mais e nem aquela procissão. Sem dúvida a existência do quadro de São Nicolau na escola oratória relaciona-se com a promessa feita por ocasião daquela terrível seca de outrora. E o pioneiro Nikolaus Dapper, rezando em honra a seu padroeiro após o toque do “ângelus” alcançou que um dia, quando ele já na sepultura, fosse construída, em Walachai, uma capela em honra de São Nicolau. No meu tempo de escola, lá pelo ano de 1931, ainda existia aquela 131
Capela de S. Nicolau (1992)
Capela de S. Nicolau vista dos fundos do cemitério (1992). Foi aumentada e reformada em 1962. situada na bifurcação da Estrada Geral para o Vale das Batatas e para S. Maria do Herval e Rioloch.
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Igreja evangélica, à esquerda na entrada de Walachai. Inaugurada em 11.5.1980.
cruz. Da casa do pai podia-se vê-la bem. Ficava em frente à nossa casa, lá no outro lado do profundo vale que nos separava. Com tempo bom, havia pessoas que iam a pé a Dois Irmãos, para assistir a missa, ou à Santa Maria do Herval ou à capela mais próxima em que houvesse missa. Para isso era preciso levantar cedo. Era preciso tratar o animal, encilhá-lo, tomar café, arrumar-se e então já no estribo rumo a Dois Irmãos. Do centro de Walachai até a matriz levava-se, em média, duas horas. No caminho iam-se encontrando sempre mais pessoas e nas proximidades da matriz formava-se uma verdadeira procissão de pedestres e cavaleiros. No tempo em que havia três padres jesuítas em Dois Irmãos, dois padres atendiam as capelas do interior aos domingos e mesmo também durante dias da semana, dando catequese às crianças e visitando os doentes. À primitiva paróquia de Dois Irmãos pertenciam as capelas de Morro Reuter, Picada São Paulo, Walachai, São José do Herval, Santa Maria do Herval, Boa Vista do Herval, Padre Eterno, Marcondes, Renânia, Serra Grande, Pinhal Alto, Jammerthal e Morro dos Bugres. De Renânia a Dois Irmãos e vice-versa, a viagem normal era de cinco horas. Como dois padres se encontravam a maior parte do tempo no interior, precisando alguém do padre, não necessitava dirigir-se a Dois Irmãos. Na matriz de Dois Irmãos o horário das missas mudava três vezes durante o ano. As pessoas da família que aos domingos e dias santos de guarda não podiam assistir à missa, faziam uma reza em casa. Rezava-se o terço, seguido pela recitação 133
da ladainha adequada ao tempo litúrgico. Para quem possuía “Cofinê”, alguém da família lia o evangelho do domingo em curso com as explicações e orações anexas. Não se sabe ao certo quando foi feito o cemitério católico de Walachai, mas com toda certeza foi providenciado, o mais tardar, quando se construiu a escola que ficava bem defronte ao mesmo. Estava todo cercado com um muro de pedras irregulares. Na entrada para o mesmo, havia um portão de madeira, acima do mesmo uma trave, encimada com uma cruz. Ao longo do muro frontal existia uma fileira de plátanos, como também atrás da escola até a igreja. Esses plátanos foram derrubados pelo ano de 1938. Pelo ano de 1961 foi erguido o atual muro frontal com pedras talhadas por Antônio de Souza Rodrigues, que durante alguns anos foi morador daqui e entendido na arte de talhar pedras. Morava ao lado sul da casa de José Hoff. Antônio não falava alemão. Foi pessoa muito legal. No outro lado da igreja existia uma armação feita com 3 paus, dois fincados no chão, e uma travessa presa por cima. Essas armações serviam para prender as montarias enquanto se assistia à missa. Não poucas vezes acontecia de os animais não se aturarem, terminando a história em cabrestos arrebentados, animais soltos, atrapalhando a vida dos donos até conseguirem ter novamente os animais em seu domínio. Sabe-se que Mathias Mombach enterrou a sua esposa, falecida em 1850, ao lado sul de sua casa. Duas pessoas adultas, uma do sexo masculino e outra do sexo feminino, foram enterradas um pouco abaixo da casa de Beno Schmitz. Ainda hoje estão cercadas as suas sepulturas com um muro de pedras, mas ninguém me soube informar os seus nomes. Em todo caso o enterro deu-se antes da existência do cemitério. Geralmente os enterros aconteciam sem missa de corpo presente, pois o padre, antigamente, estava autorizado a rezar uma só missa durante os dias de serviço da semana e duas aos domingos e dias santos de guarda, e isso sempre na parte da manhã. Em dia de Finados o padre tinha de rezar 3 missas. Quando era rezada a missa em sufrágio da alma de um falecido, era costume armar-se uma tumba (espécie de caixão, sem defunto) coberta com um pano preto sobre o qual havia uma enorme cruz branca. Quando assumi na comunidade o cargo de sacristão, em 1948, esse pano ainda existia, bem como outras alfaias em desuso, que Padre Valentin Weschenfelder, por falta de espaço no armário, mandou incinerar. O costume de armar a tumba já desaparecera quando eu ia à escola, em 1931. Antigamente as missas de Natal e de Páscoa eram somente rezadas na matriz. No tempo dos 3 padres jesuítas, nas grandes festas litúrgicas, havia uma missa solene, geralmente a última, com 3 padres. Nessas missas solenes todo o canto era em latim. Um padre desempenhava o papel de celebrante, enquanto os dois outros padres desempenhavam a função de diáconos. Nas missas solenes era obrigatório o uso do turíbulo para incensar o altar. Além da fumaça branca, o incenso esparramava um suavíssimo odor por todo o recinto da igreja. Nos enterros usava-se também o turíbulo, bem como nas bênçãos com o Santíssimo, 134
que normalmente seguiam à última missa. Nessa época, até o findar do Concílio Vaticano II (1965), a missa bem como a administração dos sacramentos, eram celebradas em latim. O padre rezava a missa, no altar, de costas para o povo. O sermão, proferia de cima do púlpito. O povo assistia à missa, uns rezando o terço em silêncio, outros acompanhando a missa por algum devocionário; o coro cantava, e só ele. Desde a organização da comunidade, era costume todos se reunirem nos 3 dias das rogações, que precediam a festa da Ascensão do Senhor, em quinta-feira, dia santo de guarda. Quando o tempo permitia, realizava-se cada dia a procissão: na ponta a cruz; seguindo os alunos da escola, as moças, os moços, os homens, e, fechando a procissão, as senhoras. Os cantores cantavam durante a procissão, em latim, a ladainha de Todos os Santos, cada grupo rezava o terço; no grupo dos alunos puxava o terço, em alemão, alguém dos censores; no grupo das moças, a presidente da Congregação Mariana; no grupo dos moços, o presidente da congregação Mariana; no grupo das senhoras, a senhora de mais coragem e de melhor voz. Quando vigorou a proibição do alemão, puxava o terço quem estivesse em condições disso e no grupo dos alunos faziam isso os professores. O itinerário tradicional da procissão: saída da igreja seguindo a estrada do Vale das Batatas até a altura onde atualmente mora João Belmiro Arnold, descida pela estrada do proprietário até onde antigamente se encontrava a sua casa, seguindo então na direção sul, passando ao lado leste da casa de Pedro Urbano Linck, até novamente entrar na estrada do Vale das Batatas, seguindo então para dentro da igreja. Na altura onde se encontra aquela cruz, lembrando a volta de Jacob Dapper da Guerra do Paraguai, fazia-se uma parada, rezando-se em conjunto o Pai Nosso, uma Ave-Maria e Glória ao Pai, pelas almas do purgatório. De volta à igreja, rezavam-se as orações anexas à ladainha de Todos os Santos. Quando a igreja transferiu a celebração da festa da Ascensão do Senhor para o domingo seguinte, realizavam-se as rezas com a procissão para quinta-feira, sexta-feira e sábado. Quando não mais se realizavam as procissões das rogações na matriz e nas capelas vizinhas, nossa comunidade resolveu também abolir essa devoção, em voga por mais de um século aqui. Em 1916, se a maioria dos sócios da comunidade católica concordasse, e com a aprovação do pároco e do arcebispo, seria construída uma capela. Foi formada uma comissão para tal fim. As dificuldades foram enormes, uma vez que alguns sócios se negavam em ajudar na construção. Mas Guilherme Büttenbender Filho, Nicolau Wendling e Francisco Braun, os grandes líderes da comunidade, com vontade firme e com entusiasmo, insistiram na cons-trução da igreja. Na propriedade de Nicolau Wendling foi montada uma olaria para a fabricação de tijolos. Surgiu assim a primeira olaria de Walachai. Na fabricação dos tijolos revezavam-se, diariamente, os homens, tantos quantos necessários. A máquina era movida à tração animal. Também os animais de tração na máquina eram trocados pelos sócios, diariamente. A madeira foi, em parte, serrada a muque e também na serraria de Fernando Weimer, no Vale das Batatas. Os pinheiros, os louros e os cedros para 135
a madeirama foram doados pelos sócios. Os pedreiros fizeram o alicerce e foram levantando as paredes. A argamassa usada era argila. Os marceneiros Guilherme Büttenbender Filho e Pedro Arnold VI, com ajudantes, foram confeccionando as janelas, as portas e os bancos. As tábuas para o assoalho e para o forro foram aplainadas a mão. Os marceneiros colocaram o assoalho e o forro. Para executar todo esse serviço levavam semanas. A construção do telhado e da torre, essa também de madeira e de folhas de zinco, esteve a cargo do carpinteiro Cristiano Klein. Bem na ponta da torre, encontrava-se acima da cruz de ferro, o galo de ferro, apontando para o lado leste, do sol nascente. O chefe dos pedreiros era Fernando Weimer. O altar foi adquirido da Comunidade Católica de Jammerthal que, por sua vez, colocou em sua igreja um altar novo e bem artístico. No altar foi instalado o tabernáculo que, anteriormente, se achava na escola oratória e fora feito por João Pedro Hoff. Os castiçais e os vasos para flores foram todos feitos com folhas de Flandres pelo funileiro Carlos Arnold. Esse mesmo funileiro fez também um recipiente de folha de Flandres com torneira. Nesse recipiente, colocava-se a água para o padre lavar as suas mãos. Outro recipiente, que colhia a água que estava sendo gasta, encontrava-se preso um pouco abaixo. Esse conjunto, que estava montado numa armação de madeira, lá pelo ano de 1980, foi substituído por uma moderna pia e água enca-nada. O marceneiro Pedro Arnold encarregou-se de fazer o artístico confessionário que está em uso até hoje. Quando os oposicionistas à construção viram que a obra estava sendo atacada com vontade firme e resoluta, um por um foram colaborando até o fim da mesma. Toda obra foi concluída sem se fazer dívida. De acordo com o registro dos sócios no triênio 1916 - 1918, quando foi construída a igreja, o número exato era de quarenta e dois sócios ou famílias católicas. Pronta a capela, foi solenemente inaugurada no quinto domingo da Páscoa do ano de 1917, com missa solene cantada pelo primeiro coro organizado de Walachai, sob a regência do novo professor João Büttenbender Sobrinho. Aliás, essa foi a primeira missa solene cantada em Walachai. São Nicolau ficou sendo o padroeiro. A partir de 1917, Walachai festeja o seu Kerb no 5º domingo de Páscoa. Antes disso, o Kerb era festejado com Dois Irmãos no dia de São Miguel, em 29 de setembro. Desde 1917, os casamentos e as primeiras comunhões solenes são celebrados também na nossa capela. O púlpito existe ainda hoje em nossa igreja. Foi uma doação de Roberto Dieter pelo ano de 1938, em agradecimento a Deus pela extraordinária colheita de batatas “olho roxo” que obtivera naquele ano. Foi Pedro Arnold VI quem o fabricou. Em 1962, nossa igreja foi aumentada e foi construída a atual torre de tijolos e de concreto. Foi um projeto do engenheiro Arnold Prieto que, anos após, foi por muitas vezes eleito deputado federal. Na mesma ocasião, foram colocadas as pontas laterais. Isso tudo em atenção à primeira missa solene do primeiro padre de Walachai, Pe. Hugo Büttenbender, em 15 de julho de 1962. A ordenação aconteceu em 7 de julho de 1962, num sábado, na matriz 136
de Dois Irmãos, juntamente com os neossacerdotes Pedro Stoffel e Bráulio Backes. Este último desistiu do sacerdócio anos após. Foi celebrante da ordenação Dom Vicente Scherer. Observação: O primeiro padre saído de Walachai foi propriamente monsenhor Antônio Guilherme Grings porque nasceu aqui e, por coincidência, na mesma casa em que nasceram os padres Guilherme Wendlig e Hugo Büttenbender, na casa do vovô Guilherme Büttenbender Filho. Como os pais de monsenhor Antonio Guilherme se mudaram para Linha Imperial, é claro que a primeira missa solene de monsenhor Antônio Guilherme aconteceu na Linha Imperial e foi no dia 8 de dezembro de 1947. Em 1980, a comunidade católica adquiriu da Alemanha, por intermédio de “Bromberg S.A”, um sino grande de aço, pesando 220 kg. A partir da conclusão do Concílio Vaticano II, a vida religiosa da comunidade passou por acentuadas mudanças. O padre passou a rezar a missa virado para o povo. Em vez de ser no altar, passou a ser na mesa eucarística que foi colocada na capela para esse fim, por Vicente Büttenbender. Em vez de cada fiel fazer a sua oração individual, uns rezando o terço, outros acompanhando a missa em seus livros de reza e o coro cantando, toda a comunidade passou a participar ativamente da missa, todos juntos rezando e cantando, seguindo as determinações do Concílio Vaticano II. A celebração da missa tornou-se facultativa durante as 24 horas do dia, e não somente de manhã. Em vez da celebração de uma única missa nos dias de semana, e duas nos domingos e dias santos de guarda, veio a autorização da celebração de tantas missas quantas fossem necessárias, respeitando os critérios do bispo. O jejum absoluto eucarístico, que iniciava a meia-noite até após a recepção da comunhão, foi restringido apenas à abstenção de alimentos sólidos e de bebidas, exceto água, até uma hora antes da comunhão. Esta, que era só lícito receber na língua, foi facultada receber na língua ou na mão, a critério do fiel. Antes do Concílio Vaticano II, durante a missa, o padre era ajudado por um ou dois coroinhas. Esses respondiam em latim a uma porção de orações, além de servirem ao ce-lebrante durante a missa. Nas missas solenes os coroinhas eram em número de quatro ou até mais. Dois coroinhas serviam ao padre no altar e dois cuidavam do turíbulo, contendo brasas, e da naveta, contendo o incenso. Esses dois serviam o padre no ato de incensar o altar, no ato de incensar o Santíssimo exposto e nas encomendações dos falecidos. Para alguém poder servir como coroinha, era preciso bastante tempo para aprender as orações em latim e de muito ensaio para estar apto ao serviço durante a missa e de outras celebrações litúrgicas. Em troca de seu serviço os coroinhas recebiam uma gorgeta da comunidade. Até o ano de 1934, nossa comunidade foi atendida pelos padres jesuítas. Até então, o padre atendia a nossa comunidade mensalmente nas segundas e terças-feiras, salvo exceções. Vinha no domingo, à tardinha. Seguindo a ordem das moradias, um sócio de cada vez tinha a obrigação de acompanhar o padre, tanto na sua vinda de Dois Irmãos até aqui, como na 137
sua volta para lá. O professor era o encarregado de avisar, por intermédio dos alunos, quem estava na vez de acompanhar o padre. Nessas suas visitas pastorais, o padre atendia as confissões, fazia os batizados e os casamentos, presidia a reunião dos congregados marianos, dava catequese aos alunos da escola, visitava os doentes que solicitavam a sua presença e rezava missa. A catequese começava na segunda-feira após a missa, continuava à tarde e terminava na terça-feira ao meio-dia. Caso o padre fosse chamado para atender a um doente, as crianças tinham de permanecer na igreja, e um aluno, escolhido pelo padre, tinha de fazer as perguntas do catecismo e todos os outros alunos, em coro, tinham de dar as respostas. Isso acontecia até o regresso do padre. Os malcomportados recebiam o seu merecido castigo. No princípio, a casa de hospedagem do padre foi a casa de João Pedro Hoff, lá no moinho. Mais tarde, por ser mais cômodo, passou a ser a casa de Jacob Büttenbender. Devido a sérias intrigas na comunidade, Jacob deixou de dar hospedagem ao padre, no ano de 1948. Lino Büttembender ofereceu, então, hospedagem gratuita aos padres até o ano de 1975. A partir desse ano, o padre vinha rezar a missa e após voltava para Dois Irmãos. Não necessitava mais permanecer aqui porque tinha condução própria ou cedida pela paróquia e a estrada era boa. A catequese ficou tão somente sob a responsabilidade dos professores catequistas. Esse sistema continua até hoje. Em 1934, a paróquia de Dois Irmãos foi assumida pelo clero secular (diocesano). O padre jesuíta Francisco Murmann teve como sucessor o Padre José Becker, natural do Jammerthal. Padre novo e cheio de vigor, ele dispensou acompanhante e mensalmente vinha rezar aqui no domingo, a segunda missa. À tarde dava catequese aos alunos da escola e atendia as confissões. Segunda-feira de manhã, bem cedinho, continuava atendendo confissões. Em determinada hora, distribuía a comunhão aos que tinham problemas de ficar em jejum por muito tempo e então continuava atendendo confissões até o término das mesmas. A seguir, dava início à santa missa. Após essa, realizava os batizados, caso houvesse, presidia a reunião da congregação mariana, e então continuava a catequese com os alunos até ao meio-dia. À tarde regressava para Dois Irmãos. Devido às fofocas, o senhor arcebispo o substituiu pelo Pe. José Maria Kroetz, natural de Santa Maria do Herval. Ele atendeu a paróquia de Dois Irmãos de 1935 até 1942. Seguiu o mesmo roteiro de trabalho do Pe. José Becker. Em 1940 surgiu um grande transtorno na vida escolar. Até então existia unicamente a escola particular paroquial. Foi aberta uma escola pública estadual isolada no salão de Pedro Henrich, de caráter gratuito. Então essas duas escolas geraram um sério atrito entre as famílias da comunidade. O Padre Kroetz defendia corajosamente a escola paroquial. Tinha proposto aos pais que mandassem seus filhos durante 4 anos na escola paroquial e depois na escola pública estadual, onde continuariam o estudo, preparando-se, assim, melhor para enfrentar os problemas da vida. O seu apelo não foi ouvido e aceito. A fofoca chegou a tal ponto que, certo dia, um brigadiano compareceu na casa paroquial entregando ao Pe. 138
José Maria Kroetz, uma intimação de urgente comparecimento no gabinete do intendente de São Leopoldo, Cel. Teodomiro Porto da Fonseca, para prestar esclarecimentos. Estava estabelecido o atrito entre o pároco e o intendente. Então o senhor arcebispo, Dom João Becker, para contornar a situação um tanto vergonhosa, achou por bem substituir o Padre Kroetz pelo Padre Valentin Weschenfelder. Este esteve à frente da paróquia de Dois Irmãos de janeiro de 1942 até janeiro de 1975, durante 33 longos anos. Em relação às duas escolas, Pe. Valentim usou de muita cautela. Ouvia muito e falava pouco. Desse modo, as fofocas e os atritos diminuíram bastante na comunidade. Pe. Valentim seguiu também o mesmo roteiro de trabalho de seus dois antecessores. Após o Concílio Vaticano II, Pe. Valentin começou a rezar missa também aos domingos à tarde e em língua portuguesa, de frente para o povo. Ficava aqui até segunda-feira dando catequese aos alunos, voltando de tarde para Dois Irmãos. Após alguns anos de estadia aqui na paróquia de Dois Irmãos, Pe. Valentim adquiriu um automóvel. Mas devido à precária condição da estrada de Walachai, alguém da comunidade tinha que ir buscá-lo, a cavalo, na casa comercial de José Scherer Sobrinho, hoje de propriedade de Selírio Bohn, ou então na entrada de Walachai, onde deixava o carro. Na segunda-feira à tarde alguém da comunidade tinha que levá-lo até o seu carro. Por certo tempo João Büttembender o “Johann”, se encarregou disso. Depois, durante longos anos, se encarregou disso e de graça, Afonso Arnold. Seu Johann cobrava dez cruzeiros por seu serviço prestado à comunidade. Esses incômodos cessaram quando a paróquia comprou um jipe para o padre usar em seus serviços pastorais para a sua locomoção. Muitas vezes quando tinha tempo bom, aconteceu de seu Afonso levar o cavalo até a entrada de Walachai, e o padre vinha de lá de carona, ora com o automóvel de José Scherer Sobrinho ou com a caminhoneta de Miro Scheid. Quando Afonso vinha de volta até a igreja ,o padre já estava perto do fim do sermão que era primeiro em português e depois em alemão. Para evitar essas atrapalhações, confiante em conseguir sempre carona em domingo de tempo bom, dispensou a trazida de cavalgadura. Certo domingo, porém, falhou a carona, e o padre teve que vir a pé da entrada de Walachai até a igreja. Ficou desgostoso porque ficou um pouco tarde para rezar a missa, mas não disse nada. Não muito tempo depois, num lindo domingo, sucedeu-lhe o mesmo. A diretoria, como também muitas outras pessoas se preocuparam com a demora da vinda do padre, receando ter acontecido algo em sua viagem. Lá pelas tantas o censor João Schmitz Filho, olhando pela janela da sacristia, que dá para a estrada, disse: “Olhem, lá vem o padre a pé!” “Aonde?”, perguntou seu cunhado, o censor Afonso Arnold, e acrescentou: “Que não me xingue hoje, que deixei o meu cargo.”. Lá vinha o padre Valentin com seu chapéu preto, já bastante desbotado, puxado para frente para evitar o sol forte bater em seus olhos, movimentando nervosamente a sua pasta a cada passo, o guarda-pó amarelento se esvoaçando e as pontas do lenço branco que usava ao 139
pescoço, tremulando sob a ação de seus passos apressados. Ao aparecer na porta interna da sacristia, os censores e eu, prontamente nos levantamos do banco e a uma só voz ressoou a saudação costumeira: “Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo”. Como um trovão recoou a resposta: “Essa foi a última vez!” e plum...bum... voou por cima do armário a sua pasta. Por uns instantes reinou um silêncio sepulcral. Então, olhando para a porta externa da sacristia e vendo subir a escada, já com certa dificuldade, o dirigente do coro, João Büttembender Sobrinho, raivosamente vociferou, mordendo os dentes: “Não sou besta, ele quer celebrar, apesar de tudo isso, ainda missa solene...” . (Obs.: A essas alturas Pe. Valentim ainda se encontrava em jejum e não admira essa sua atitude). Continuando a subir vagarosamente a escada e pegando com os dedos o seu delicioso charuto dominical, tio João entrou na sacristia, saudando cerimoniosamente o padre Vigário: “Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo”. Decorrida pequena pausa e sem receber a tradicional resposta “Para sempre seja louvado”, tio João aventurou-se, perguntando: “Reverendo Pe. Vigário, a missa de hoje vai ser missa solene?”. Novo silêncio sepulcral. Vi como a veia na testa do padre foi-se engrossando, prenúncio de irromper um temporal, mas tio João nada disso podia ver e arriscou de novo: “Reverendíssimo, é solene a missa de hoje?”. Outro momento de nervosa expectativa! Tomei a iniciativa e respondi ao tio: “Não senhor, não haverá hoje missa solene”, lançando um olhar fulminante em direção do padre, tio João deu meia volta e dirigiu-se, visivelmente magoado, em passos desajeitados para o coro. Durante o seu sermão, Pe. Valentim pregou sobre a penitência, o sacrifício e a renúncia, de acordo com o evangelho daquele domingo. Após a missa, o povo ciente da atitude desconformada do Vigário, comentou: “O padre falou tão bem sobre a penitência, o sacrifício e a renúncia, mas ele mesmo nada gostou do sacrifício que teve de fazer esta manhã!”. Após a missa, tio João costumava aparecer na sacristia para bater um papo com o padre, mas nesse domingo, muito magoado dirigiu-se logo para casa. Padre Valentim ficou muito sentido com isso e fez transparecer profundo arrependimento do seu nervosismo. Na manhã seguinte, segunda-feira, após a missa, pediu a um dos censores que chamasse o tio João à sacristia, que queria conversar com ele. Curioso e também não menos receoso, tio João foi à sacristia. Saudou o Pe. Valentim da maneira costumeira. Este retribuiu a saudação. Com os olhos quase em lágrimas pediu humildemente desculpas ao tio pelo seu proceder a seu respeito na manhã anterior. Reconheceu toda sua culpa no acontecido, e temendo uma explosão descontrolada de palavras ásperas por sua parte, pediu que o tio esquecesse o incidente e continuasse firme em seu cargo. A paz estava restabelcida entre ambos. Padre Valentim foi um padre que teve que lutar muito contra o seu caráter explosivo, mas apesar disso, era muito querido e respeitado por todas as pessoas da paróquia. Ressalto mencionar a sua pontualidade. Costumava visitar, quando em casa, diariamente todos os doentes do hospital São José de Dois Irmãos. Padre Valentim soube consolar, aconselhar e 140
ajudar as pessoas em dificuldade e desesperadas. Assemelhava-se à parábola do Bom Pastor: “Conheço as minhas ovelhas e elas conhecem a mim”. Trabalhei durante 30 anos com Pe. Valentim. Nunca recebi palavra áspera dele, mas também nunca proclamei nada sem primeiro consultá-lo, e depois apresentar-lhe o programa da solenidade a ser realizada. Quando aos 75 anos de idade, em 1975, apresentou ao cardeal D. Vicente Scherer o seu pedido de renúncia como vigário da paróquia de Dois Irmãos, jamais imaginou que seu fim poderia ocorrer como aconteceu. Fez então uma viagem à Alemanha com a intenção de ficar por lá durante um mês. Lá, porém, não encontrou o acolhimento que esperara. Regressou antes do término de seu plano de estadia por lá. De volta, apresentou-se ao cardeal D. Vicente Scherer que o destinou a ser vigário auxiliar de Pe. Hugo Büttembender na paróquia de São João em Montenegro. Apesar de ficar à vontade para trabalhar com o Pe. Hugo, não se sentia bem lá. Era um solitário sem o numeroso círculo de amizade que tinha em Dois Irmãos. Decidiu, então, ficar o resto de sua vida na casa de um sobrinho em Venâncio Aires, sua terra natal. Lá pouco tempo aguentou, pois passava por um estranho. A quase totalidade das pessoas de sua terra natal não o conhecia. Saíra de uma solidão para entrar em outra. Voltou novamente para Dois Irmãos onde foi recebido na casa paroquial friamente. Um dia, quando então rezou missa aqui em nossa capela, desabafou para mim: “A esta altura da minha vida estou a ponto de ter que me sujeitar a alunos meus de outrora. Não sou livre. Tenho que cumprir ordens de meus anteriormente subordinados.”. Procurando consolá-lo, lhe disse: “Pe. Valentim, a realidade da vida é essa, quando fomos pequenos estivemos sob os cuidados de nossos pais, e quando ficamos velhos invertem-se os papéis, tornamo-nos dependentes de nossos filhos ou então de outras pessoas. Muitas vezes talvez achamos que essas pessoas nos mandam fazer isso ou aquilo, quando na realidade são apenas pedidos que ficam a nosso critério em cumpri-los ou não. Não são ordens, são pedidos, sem compromisso nosso. O senhor acha que, por não ser mais o nosso vigário, ninguém quer mais saber nada do senhor. Indiferente a porta da casa em que o senhor bater, será bem recebido e a tal família se sentirá honrada e prestigiada com a sua presença.”. Pe. Valentim nada respondeu. Ficou pensativo. Pouco tempo depois fiquei sabendo que Pe. Valentim não parava mais na casa paroquial. Mudara-se para uma casa de família de Dois Irmãos, onde foi tratado como se fosse membro da família. Quando Pe. Benno Deimling assumiu a paróquia de Dois Irmãos, conseguiu fazê-lo voltar para a casa paroquial. Já estava com a saúde abalada de tanta mágoa. Adoeceu e foi parar no hospital São José de Dois Irmãos, onde tantas vezes dirigira os seus passos, levando consolo aos doentes. Não resistiu por muito tempo, vindo a falecer em 20 de fevereiro de 1978, de mágoa, creio eu. Certo dia vi Pe. Valentim sentado no banco defronte ao hospital. Fui bater um papo com ele. Não me recordo qual acontecimento religioso tinha naquela tarde em Dois Irmãos, mas viera um bom número de padres, e o monsenhor Oto Erbes foi quem presidiu e veio 141
cumprimentá-lo, informando-se como ia. “Vou bastante mal”, respondeu Pe. Valentim. E, enquanto grossas lágrimas corriam pelas suas faces enrrugadas, emagrecidas e pálidas, continuou: “Monsenhor, nunca se devia deixar um padre tanto tempo numa mesma paróquia, depois substituí-lo e deixar que ele se vire”. Monsenhor Oto consolou-o e animou-o com breves mas amáveis palavras, pois estava na hora da celebração. Creio o enterro do padre Valentim ter sido o maior até hoje já ocorrido em Dois Irmãos. Não um monte, mas uma montanha de flores e coroas cobriu o seu túmulo. Um tes-temunho de estima e de gratidão de toda a paróquia e das paróquias circunvizinhas. Em sua homenagem, a paróquia colocou sobre o seu túmulo um belo monumento. Diversas vezes visitei o seu túmulo, encontrando-o sempre com flores frescas. Pe. José Büttenbender, um dos bisnetos do imigrante alemão Guilherme Büttenbender, foi o sucessor de Pe. Valentim Weschenfelder na paróquia de Dois Irmãos. Pe. Günther introduziu diversas modificações na pastoral em nossa comunidade. As suas visitas pastorais, exceto casamentos e enterros, aconteciam somente aos domingos de manhã. Logo após a missa, retornava para Dois Irmãos. Um professor passou a dar a catequese em preparação da primeira Eucaristia e o outro para a Crisma. Desde 3 de agosto de 1975, a comunidade conta com ministro extraordinário da Eucaristia na minha pessoa. Normalmente o pároco nos fazia uma visita dominical mensalmente. Nos domingos restantes e nos dias santos, o ministro da Eucaristia foi encarregado da celebração do Culto Eucarístico. Isso vigora assim até hoje. O sucessor do Pe. Günther foi o Pe. Benno Deimling, natural da comunidade do Morro Reuter, que exerceu o seu trabalho pastoral à maneira do Pe. Günther. Ambos ficaram um ano em Dois Irmãos. Padre Bráulio Weber, natural de Alto Padre Eterno, foi o sucessor do padre Benno Deimiling. Devido a questões com a Sociedade de Canto “Santa Cecília” de Dois Irmãos, que se originaram das exigências, do novo Direito Canônico, surgiram graves desentendimentos entre a sociedade e o pároco. Um grupinho dos sócios da sociedade de “Santa Cecília” não se curvou a essas exigências e a intriga chegou a tal ponto que Pe. Bráulio saiu de Dois Irmãos. Aliás, Pe. Günther e Pe. Benno também pouco tempo aguentaram em Dois Irmãos, devido às fofocas existentes já então. Por parte do bispo, Dom Sinésio Bohn, em substituição, foi nomeado como interventor, o padre Oscar Calsing para resolver a questão. Não chegou a tanto, pois, após pouco mais de dois meses, o Pe. Oscar teve que partir para Roma para fazer um curso que, já há mais tempo estava previsto. Seu sucessor foi o Pe. Werno Blume, natural do Frankenthal, que foi então o vigário de Santa Maria do Herval. Aguentou apenas um ano no redemoinho da intriga. Entretanto, D. Sinésio Bohn fora substituído por D. Boaventura Kloppenburg, nome de batizado José Carlos Kloppenburg. Dom Boaventura nomeou pároco de Dois Irmãos ao jovem Pe. Pedro Luís Wagner, natural de Igrejinha, em 1987. Bispo e pároco esforçaram-se para resolver a grave situação em relação à sociedade “Santa Cecília”. Chegaram a estabelecer um acordo mútuo satisfatório, ao 142
menos por enquanto. Pe. Luís passou a ser auxiliado pelo Pe. Werno Schneider, já aposentado e residente em Picada São Paulo. Assim foi possível termos missa em cada fim de semana. No começo de 1988, Pe. Werno desistiu de seu ministério sacerdotal, caso que causou grande decepção entre o povo, principalmente de Picada São Paulo. Em substituição, veio o Pe. Luís Milton Zilles, natural de Pinhal Alto. Padre Milton trabalha no seminário maior em Viamão. Durante 1989 e 1990, os padres do seminário menor Nossa Senhora Auxiliadora em Dois Irmãos, Pe. Pedro Stoffel e Pe. José Eusébio Stürmer, auxiliaram o Pe. Luís Pedro. Em janeiro de 1991, Pe. Eusébio foi nomeado pároco de Lomba Grande, complicando-se o bom atendimento pastoral na paróquia. Então, quando possível, Pe. Milton voltou a dar uma ajuda ao Pe. Luis Pedro Wagner. Como começou a ter missa uma ou outra vez também nos bairros da cidade de Dois Irmãos, nem todos os fins de semana havia missa em nossa capela. Atualmente há a celebração do culto Eucarístico, presidido pelo novo ministro da comunhão e da comunidade, Teobaldo Hugo Linck e pela ministra Izabel Maria Blume. Em janeiro de 1992, foi Pe. Luis Pedro nomeado reitor do seminário Nossa Senhora Auxiliadora, continuando, porém, como pároco. Foram nomeados vigários auxiliares os professores do seminário Padre José Irineo Teobald e Pe. José Reinaldo Fritzen, o “Fritzão”. Todos residem no seminário. Mesmo assim não existe possibilidade de termos missa a cada fim de semana por causa do atendimento indispensável nos bairros da cidade de Dois Irmãos. Pelo ano de 1973, a comunidade resolveu construir um pavilhão para nele realizar as festas da comunidade, bem como as festas de casamento, reuniões e assim por diante. No princípio, Pe. Valentim esteve contra essa construção, mas durante uma visita pastoral do cardeal D. Vicente Scherer, a diretoria propôs a idéia ao senhor cardeal que a achou boa e conseguiu que Pe. Valentim também aprovasse o plano. Em 10 de janeiro de 1974, realizou-se a inauguração do pavilhão com uma grandiosa festa popular. A partir daí, todos os anos, no segundo domingo de janeiro, repete-se a festa. No decorrer dos anos, o pavilhão passou por várias melhorias e é de grande serventia para comunidade, em casamentos, reuniões, festas da juventude, promoções do clube do Lar Vale da Amizade, da escola, etc. Nos kerbes realizam-se nele os bailes e ocasionalmente também reuniões dançantes. Ali funciona também um barzinho nos fins de semana, reunindo as pessoas para joguinho de cartas, de sinuca, para conversar e tomar uma cervejinha ou aperitivos. Pelo ano de 1982, a comunidade resolveu construir o seu salão paroquial que, um dia, oferecerá mais comodidade e conforto. Para tanto, a comunidade adquiriu o terreno de João Bento Kuhn. Constituiu-se uma comissão construtora, apoiada por todos os sócios da comunidade, que não poupam esforços no erguimento do edifício. Apesar das inúmeras dificuldades econômicas, a obra vai progredindo de acordo com o dinheiro disponível. E um dia, chegará a seu término.
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Altar da capela de S. Nicolau. Foto tirada em 1971 pelo Diác. Guilherme Wendling.
Primeira missa solene de Pe. Hugo Büttenbender Um dos acontecimentos mais marcantes na história religiosa de Walachai foi, sem dúvida, a primeira missa solene de Pe. Hugo Büttenbender, acontecida em 15 de julho de 1962. Pe. Hugo é filho de Lino Büttenbender e Ida Dieter. É primo dos padres Antonio Gui-lherme Grings, Guilherme Wendling e Dadeus Grings. Esse último, agora bispo de São João da Boa Vista em São Paulo, é também parente próximo dos padres José Günther Büttenbender e Lauro Büttenbender. Todos esses são bisnetos do imigrante alemão Guilherme Büttenbender. Como já mencionei, para esse acontecimento, a nossa capela sofreu profundas modificações. A ordenação sacerdotal de Pe. Hugo deu-se em 7 de julho de 1962, sábado de manhã, na igreja matriz de Dois Irmãos. Com Pe. Hugo foram ordenados os padres Pedro Stoffel e Bráulio Backes, naturais de Santa Maria do Herval e de Dois Irmãos. Dom Vicente Scherer foi o bispo ordenante. Um ônibus da empresa Wendling veio aqui em Walachai buscar os parentes e outras pessoas para essa celebração litúrgica. Como havia chovido, a estrada estava bastante lisa e na subidinha da estrada bem defronte à cabana de Romeo Dieter, o ônibus pegou um “tatu”. Todos os passageiros desembarcaram e ajudaram a empurrar o ônibus. Até foi-se buscar um laço na casa de João Büttenbender Sobrinho e se prendeu na parte de frente do ônibus e um mundo de gente puxando com vontade. De repente, o laço arrebentou e não poucas pessoas “beijaram” o barro da estrada. Foi-se arrumar uma junta de bois de Bruno Seger e, após muita manobra, finalmemente foi vencida a subidinha. Chegou-se, ainda assim, a tempo em Dois Irmãos. Nessa época, todo o 144
cerimonial de ordenação era em latim, com exceção da homilia. No domingo seguinte, foi a vez de Pe. Hugo celebrar a sua primeria missa solene aqui em Walachai, assistido pelos seus dois colegas. Os preparativos para esse tão ardentemente desejado dia por toda a comunidade de Walachai foram de muito capricho, esmero e entusiasmo, envolvendo toda a comunidade, crianças, alunos, jovens e adultos. O mundo feminino, atarefado na confecção dos enfeites o coral, no ensaio da missa cantada e dos outros cantos alusivos ao acontecimento; os jovens sob o comando de Francisco Braun Filho – presidente da congregação Mariana, preparando estacas de bambu para fixar os enfeites ao longo da estrada os alunos aprendendo poesias de saudação e de boas-vindas ao neossacerdote. Afonso Büttenbender e eu preparando tabuleiros, contendo letreiros de saudações, de boas-vindas e alusões ao sacerdócio. Dificilmente alguém terá escapado e se recusado a ajudar. Francisco Braun havia passado de casa em casa com uma lista, arrecadando fundos para a compra de papel colorido, barbante, cola, foguetes, enfim, todo o material necessário para fazer os enfeites. A coleta havia superado toda a expectativa e assim foi possível comprar turíbulo, naveta e vaso para a água benta. Chegando o sábado do dia 14 de julho, a comunidade parecia um imenso formigueiro
Pe. Hugo Bütenbender, filho de Lino Bütenbender e Ida Dieter, neto de Guilherme Bütenbender Filho e Margarida Filipina Mombach e bisneto de Wilhelm Bütenbender e Margarida Dapper
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em atividade: turma de jovens colocando as estacas de bambu com os enfeites de papel co-lorido, em cada lado da estrada, desde a casa de Roque Dieter até a casa paterna do neossacerdote; turma de homens colocando os arcos de triunfo, contendo os tabuleiros com os letreiros. Sábado à tardinha deu-se a recepção do neossacerdote. Era um dia de muito sol e de temperatura alta para esta estação do ano. Lá na entrada de Walachai aguardavam a vinda do novo padre, todos os jovens ciclistas com suas bicicletas festivamente enfeitadas. Professor José Albano Wickert deu lá a saudação e boas-vindas ao neossacerdote, em nome da comunidade. Em seguida, o cortejo festivo movimentou-se rumo à igreja, sob o pipoquear dos foguetes. Aí toda a comunidade em peso aplaudiu e ovacionou o seu primeiro filho sacerdote, cuja família se achava aqui domiciliada. O neossacerdote veio acompanhado pelo pároco Pe. Valentim Weschenfelder e seu primo, Pe. Antônio Guilherme Grings. O programa de recepção revezou-se em discurso de saudação de boas vindas, poesias e cantos. O neossacerdote, dentro da igreja, deu toda sua bênção e depois se deteve em conversa com seus familiares, parentes e amigos. Pouco antes de anoitecer, dirigiu-se para sua casa paterna. Domingo de manhã foi conduzido à igreja por um grupo de pessoas da comunidade. Na porta da igreja, teve lugar novamente uma calorosa recepção por parte da imensa multidão de gente de perto e de longe. Renovaram-se saudações e boas-vindas ao sacerdote. No final, a mãe do padre colocou-lhe na cabeça a grinalda e seguiu-se a missa solene em que sobressaiu o louvor a Deus e o júbilo pela dádiva de um neossacerdote. Na hora da homilia, falou em português o Pe. Antônio Guilherme Grings e em alemão o pároco Pe. Valentim. No final da solenidade litúrgica, o neossacerdote dirigiu a Deus o seu agradecimento e também a toda a assembleia por tudo quanto cada qual tinha colaborado para que ele um dia chegasse a galgar os degraus do altar e distribuiu a todos a sua bênção. Apesar de aumentada, a igreja foi pequena para acolher a toda essa massa de gente. Ao meio-dia o acontecimento foi comemorado com a participação dos familiares, parentes e amigos convidados especiais, com um suculento churrasco. Anexo foi preparado churrasco para pessoas desejosas de participarem também das alegrias profanas. Para abrigar todas as pessoas, havia-se construído abrigos no mato de acácia de Afonso Büttenbender, vizinho dos pais do neossacerdote. As felicidades profanas foram atrapalhadas pela chuva que começou a cair ao terminar a missa. A estrada tornou-se bastante barrenta, causando dissabores aos motoristas de carro que tiveram de lutar para manter-se no leito da estrada. Para a surpresa de todos, pelo meio-dia, apareceu o neossacerdote, Dadeus Grings, vindo de Roma. Lá ele estudara durante uma porção de anos e lá também fora ordenado sacerdote. Tinha vindo de Porto Alegre, de ônibus da empresa Canelense, até Morro Reuter e de lá veio a pé, lutando com a chuva e o barro. Foi emocionante o encontro com seus pais, José Grings e Margarida Büttenbender, com seu irmão Pe. Guilherme e outros familiares, seus parentes e amigos, após longa separação além-mar. O tempo rabugento e adverso não conseguiu apagar a alegria e 146
diminuir a felicidade de todos os participantes de tão singular acontecimento. Foram padrinhos da ordenação de Pe. Hugo, Albino Seger e João Benno Wendling; da primeira missa solene, Francisco Braun e Osvaldo Mombach. Nunca d’antes, como também depois até este ano de 1992 houve, em Walachai, solenidade que superasse a primeira missa solene de Pe. Hugo Büttenbender, tanto em pompa como também quanto ao envolvimento total e harmonioso de toda a comunidade nesta festa.
Primeira missa solene do Pe. Guilherme Wendling com a celebração das Bodas de Ouro de seus pais É deveras interessante a história do Pe. Guilherme Wendling. Ingressou no seminário do Menino Jesus em Pinheiro Machado, então no município de Carazinho, pelo ano de 1939. Naquela época, o estudo ali ia até o quarto ano, dando-se a continuidade no seminário menor de São Afonso em Aparecida do Norte, em São Paulo, completando o currículo. Eu já estava em Aparecida do Norte desde 1940. No início do ano de 1942, no começo de fevereiro, aguardei com ansiedade a vinda de meu irmão, quando Pe. Germano König que acompanhava a nova turma, me comunicou que haviam o aconselhado voltar para casa por falta de capacidade de estudo. Meu irmão passou alguns anos em casa. Resolveu tornar-se irmão leigo redentorista. Aprovada a sua ideia pelos padres redentoristas, aprontou a sua mala e se mandou novamente ao convento. Tornou-se irmão leigo e passou 20 anos trabalhando em diversos conventos em diferentes estados do Brasil. Após o Concílio Vaticano II, resolveu tornar-se padre. Fez os seus estudos dentro da congregação sob a orientação dos padres, salvo um ano, em que estudou teologia na PUC em Porto Alegre. Foi ordenado diácono em 16 de dezembro de 1970 na igreja do Rosário em Lajes, SC. Em 8 de dezembro de 1972, foi ordenado padre na igreja de Santa Terezinha, na cidade de Rio Grande, por D. Frederico Didonet. Foi o primeiro padre ordenado nessa diocese. Trabalhou durante 9 anos como capelão na Santa Casa de Misericórdia de Rio Grande. O superior provincial Pe. Egon Binsfeld, então, o convocou para equipe missionária a pregar missão pelo Brasil afora. É esse o seu atual campo de batalha. Ordenado sacerdote, Pe. Guilherme rezou a sua primeira missa solene em Rio Grande, no domingo do dia 10 de dezembro. No domingo do dia 17 de dezembro veio rezar a sua primeira missa solene em sua terra natal, Walachai. Ao mesmo tempo, os seus pais Nicolau Wendling Filho e Guilhermina Büttenbender celebraram as suas bodas de ouro de casamento. Ao lado sul da igreja armou-se um palanque coberto e festivamente ornado para a cele-bração da missa solene concelebrada e para abrigar o par jubilar. Desde o antigo salão Seger até a Fábrica de Calçados Wirth, ornamentou-se a estrada em ambos os lados, até o palanque, 147
com cordões de papel multicor. Na altura da escola Rui Barbosa, esteve armado um arco de triunfo com dizeres de saudação e mais adiante outro, com dizeres de boas-vindas. No domingo de manhã, o neossacerdote, como também todos os sacerdotes concelebrantes, paramentaram-se no salão Seger. Depois, seguiu-se a procissão de entrada para o palanque, sendo o neossacerdote com os pais jubilares conduzidos pelos netos, dentro de uma grinalda. À frente ia a bandinha da Linha Cristo Rei, os “Klein”, tocando músicas marciais, entremeadas pelo pipocar de foguetes. Ao pé do palanque, a mãe jubilar colocou a grinalda de neossacerdote na cabeça do filho padre, sob os aplausos da imensa multidão aglomerada em torno do palanque. Fazia um lindo dia, porém, com temperatura de verão. O canto foi “puxado” por um grupo de cantores da comunidade e entoado pelo tio João Büttenbender Sobrinho. Os dois comentaristas da liturgia foram o neto seminarista Paulo Wendling e seu colega seminarista Mário Petry. O primo Pe. Hugo Büttenbender proferiu o sermão em língua portuguesa e o pároco, Pe. Valentim Weschenfelder, em alemão. Entre os padres concelebrantes encontram-se os padres primos Antônio Guilherme Grings, Dadeus Grings e Hugo Büttenbender. Antes de sua bênção de neossacerdote a toda a assembleia, abençoou a seus pais jubila-
Primeira missa solene de Pe. Guilherme Wendling em 17.12.1972. Consagração – 1º à esquerda: Mons. Antônio Guilherme Grings. Ao lado do neossacerdote o pároco Pe. Valentim Weschenfelder. 1º à direita : Pe. Dadeus Grings, atualmente bispo de São João da Boa Vista, em São Paulo.
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Chegada da procissão ao palanque. À direita a sobrinha Rosa, de grinalda.
Em companhia de seu padrinho e madrinha de ordenação: Felipe Alfredo Wendling e Catarina Wingert
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O neossacerdote e pais jubilares em companhia do cardeal D. Vicente Scherer. Primeira pessoa à direita, tia Josefina Dapper Götz Büttenbender, segunda esposa do tio professor João Büttenbender.
O neossacerdote com seus familiares: da esquerda para à direita, Marta, a mãe jubilar, Pe. Guilhermo CSSR, o pai jubilar, João Benno, Aloísio e Linus
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res com a benção matrimonial. Para comemorar também profanamente esse tão raro e interessante acontecimento, houve dupla festa. No salão efetuou-se a festa familiar e dos convidados especiais; fora do salão efetuou-se uma festa popular. José Albano foi o festeiro. À tarde, honrou a todos com a sua presença o senhor Cardeal Vicente Scherer que proferiu eloquente locução a todos e em especial ao neossacerdote e ao par jubilar. Os padrinhos da ordenação foram Felipe Alfredo Wendling e sua esposa, Catarina Wingert Wendling, o provedor da Santa Casa de Misericórdia de Rio Grande e sua esposa. Os padrinhos de primeira missa solene aqui em sua terra natal foram Lino Büttenbender e sua esposa Ida Dieter Büttenbender. A seguir, passo a registrar os nomes dos sócios da comunidade católica de Walachai em 1881, de acordo como se acham registrados no livro “Rechenbuch für die Gemeinde Wallachei”, já que não encontrei livro de prestação de contas anterior a esse. Naquela época, era costume registrar o nome dos sócios da comunidade dentro do livro de prestação de contas. Ao lado de cada nome, enquanto me é possível, anoto o nome do atual morador no imóvel do sócio registrado em 1881. Bürger der Katholischen Gemeinde Wallachei – 1881 A listagem começa na escola em 1931, onde morava Pedro Arnold IV, imóvel hoje, de propriedade de um veranista de Porto Alegre, de nome Conrado. 1. Peter Arnold I 2. Philipp Arnold II 3. Peter Arnold II 4. Philipp Arnold I - pai de Pedro Arnold IV - veranista Conrado 5. Johann Braun - veranista 6. Georg Steffen - Remi Stoffel 7. Johann Peter Bender - imigrou em 01.06.1893 - Linus Wendling 8. Peter Wickert - o professor - o neto José Hoff 9. Franz Joseph Wickert - Victor Backes - Franz emigrou para Estrela em 01.07.1887 10. Mathias Feiten - Alberto Dilkin 11. Johann Peter Meinerz - veranista - dentista em Porto Alegre 12. Wilhelm Büttenbender - Larri Büttenbender - bisneto de Wilhelm 13. Viúva Elisabeth Wickert Mombach - bisneta de Cláudio Büttenbender - emigrou em 1887 14. Johann Peter Hoff - sócio honorário a partir de 1895 - moinho 15. Johann Hoff - moinho - ninguém - moinho foi derrubado 16. Philipp Dapper - o neto Teobaldo Hugo Linck 151
Pe. Paulo Wendling na casa do vovô Nicolau Wendling Fº., em Walachai. Ordenação sacerdotal: 08.11.1980 na Matriz de D. Irmãos.
Pe. Paulo após a primeira missa da ordenação em companhia de seus padrinhos de ordenação. Da esquerda para a direita: Aloísio Berlitz e esposa , Pe. Paulo, Ir. Lucila, João Benno Wendling e esposa.
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17. Johann Dapper - emigrou em julho de 1893 18. Peter Ruwer - emigrou em 01.07.1888 para Estrela 19. Joseph Ruwer 20. Viúva Meinhard 21. Johann Henrich - depois Karl Henrich - salão Henrich 22. Heinrich Sidekum - emigrou em fevereiro de 1892 ficando devendo $500 23. Joseph Schmitz - emigrou em 01.08.1893 24. Christoph Krämer 25. Joseph Weber 26. Friederich Gillich - emigrou em 01.07.1885 27. Philipp Bender - emigrou em 01.07.1885 28. Johann Peter Hoff - ninguém 29. Mathias Olbermann - emigrou em 16.08.1892 30. Peter Steffen - Cláudio Südegum - pertence a Emílio Lauxen 31. Viúva Ana Maria Schmitz 32. Viúva Elisabetha Braun 33. Anton Happel 34. Christian Frank - emigrou em 1887 35. Wilhelm Meinhard - emigrou em 31.12.1885 36. Nikolaus Wendling - entrada em 01.07.1885 - o neto Guido Wendling 37. Peter Arnold III - entrada em 01.01.1886 38. Nikolaus Dapper - entrada em 25.05.1886 39. Nikolaus Käfer - entrada em 01.01.1887 - emigrou em novembro 1888 40. Wilhelm Büttenbender Filho – entrada em 1890 - neto Cláudio Büttenbender 41. Johann Peter Steffen - filho de Peter Steffen - entrada em 1891 42. Wilhelm Meinhard - entrada em 15.08.1892 43. Johann Schmitz - entrada em 17.05.189... 44. Peter Lauxen - entrada em 18.09.1894 - ninguém 45. João Pedro Steffen - filho de Georg - entrada em 24.09.1895 46. José Böff - entrada em 12.02.189... - os netos Alcido e Lino Böff Observação: Até o ano de 1888 ocupou o cargo de fabriqueiro da comunidade prof. Pedro Wickert. No período de janeiro de 1888 até setembro do mesmo ano foi fabriqueiro Pedro Steffen. A partir daí, até a construção da capela em 1916 - 1917, ininterruptamente foi fabriqueiro o prof. Pedro Wickert. Até o ano de 1916 a anuidade – o dízimo – foi de $ 2000 (dois mil réis). Por motivo da construção da capela a anuidade foi aumentada, passando a vigorar $ 5000 (cinco mil réis). A partir de 1917, passou a ser fabriqueiro da comunidade Guilherme Büttenbender Filho, até pelo 153
ano de 1943, quando o sucedeu seu filho Lino Büttenbender. Antes do Concílio Vaticano II, o fabriqueiro era nomeado pelo pároco e devia ser pessoa de confiança tanto do pároco como também do bispo. Depois, começou-se a eleger uma diretoria para as comunidades. Presidente, vice-presidente, tesoureiro, secretário e três conselheiros. Antes o fabriqueiro exercia a função de presidente e de tesoureiro e havia os três censores.
Acho interessante passar para este livro a nominata dos sócios do triênio 1916 - 1918, época em que se deu a construção de nossa capela. A relação inicia com o nome dos sócios, no fim da comunidade, no Vale das Batatas, na divisa com Linha Cristo Rei: 1. Carlos Dieter II, apelidado de Carlos Dieter, o magro - ninguém 2. Peter Arnold VI - o marceneiro - ninguém 3. Christian Klein - viúva de Oscar Berg, Lucila Braun 4. Peter Arnold II - veranista Conrado 5. Heinrich Braun - ninguém 6. Johann Dillmann - Remi Stoffel 7. Peter Wickert - José Hoff - neto 8. Franz Josepf Wickert - filho do professor - Alberto Dilkin 9. Franz Braun - veranista 10. Wilhelm Büttenbender Filho - neto Cláudio Büttenbender 11. Jacob Büttenbender - neto Larri Büttenbender 12. Wilhelm Büttenbender I - saída em 1918 13. Johann Hoff - ninguém - moinho desativado e desmanchado 14. Michael Hoff - filho de João Hoff - morou primeiro no Vale das Batatas, depois no local onde se achava a antiga casa de João Belmiro Arnold, esse é o atual dono do imóvel. 15. Viúva Dapper - Maria Hoff Dapper - neto Teobaldo Hugo Linck 16. Peter Dapper - filho da viúva Maria Hoff Dapper - salão paroquial 17. Peter Henrich - entrada em 1915 - ninguém 18. Carlos Arnold - Guido Arnold 19. Joseph Böff - Alcido e Lino Böff - netos 20. Joseph Kasper - entrada em 1916 - nas imediações de Elmo Becker na estrada do Mato Comprido 21. Peter Arnold Filho 22. Franz Kaspper - deve ter sido o pai de Francisco Kaspper assassinado em 1928 23. Nicolau Wendling - Guido Wendling 24. Felipe Seger - Aloisio Scherer e a filha Joana Seger 154
25. Josef Schmitt - saída em 1918 26. Anton Staudt - entrada em 1915 - Evaldo Weber 27. Johann Dapper - fábrica de calçados Wirth 28. Franz Dapper - Lauro Chies 29. Antonio Passini - viúva Elvira Dieter Sauter 30. Peter Mombach 31. Nicolau Böff 32. Conrado Blume Filho - ninguém - antiga morada de Walter Blume 33. Mathias Backes - João Léo Dieter 34. Nicolau Backes - filha viúva Maria Backes Südegum 35. Jacob Lauxen - veranista Kuhn 36. Johann Schmitz - José Schmitz - neto 37. Nicolau Steffen - hoje pertence à paróquia de S. Maria do Herval 38. Jacob Steffen - Urbano Linck - genro 39. Peter Lauxen - ninguém - pertence a Joana Südegum Olbermann Utzig 40. Jacob Braun - Cláudio Südegum - pertence a Emílio Lauxen 41. Nicolau Dapper - veranista 42. Johann Seidenfuss - veranista Machado - perto da ponte Farroupilha 43. Reinhold Kauzmann - entrada em 1918 44. Johann Käffer 45. João Klaus - entrada em 16.03.1917 46. Carlos Dieter I - apelidado de Gordo - Leonido Braun 47. Franz Zimmer - entrada em 1918 - ninguém - imóvel pertence a Linus Wendling 48. Theobald Werle - entrada em 1917 - Carlos Leopoldo Dieter 49. Philipp Hoff - entrada em 1918 - o filho José Hoff 50. João Büttenbender - entrada em 1918 - emigrou para Brochier 51. Aloisio Seger - entrada em 1918 52. João Ferreira - entrada em 1918 - Guerino Klein Quem estiver interessado em saber o nome de todos os sócios da comunidade de São Nicolau de 1881 até 1919 os poderá encontrar no livro “Rechenbuch für die Gemeinde Wallachei”, arquivado no armário da sacristia da capela. A partir de 1920 os nomes dos sócios não foram mais anotados em livro e sim feita uma lista anual. A seguir, registro os nomes dos sócios da comunidade católica de São Nicolau de Walachai existentes no ano de 1985. Partindo da igreja para o Vale das Batatas até a entrada do Walachai 155
Ir. Martha Wendling, carmelita no Carmelo S. José em Rio Grande no meio de flores e de hortaliças na horta do Carmelo. Martha é minha irmã (única), nasceu em Walachai em 1924. Filha de Nicolau Wendling Fº. e Guilhermina Bütenbender e irmã do Pe. Guilherme Wendling, tia do Pe. Paulo Wendling.
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Theobaldo Hugo Linck, Pedro Urbano Linck, João Belmiro Arnold, Otto Büttenbender, Affonso Büttenbender, Bruno Büttenbender, Cláudio Büttenbender, Alberto Dilkin, Edgar Holz, Harry Backes, José Hoff, José Roque Hoff, Linus Wendling, Remy Stoffel, Emílio Frederico Arnold, José Arnold II, Werno Schmitz, José Erico Vogel, Leonídio Braun, Egídio Land, Roberto Arnildo Arnold, João Braun, Dércio Hoffamann, Werno Hoffamann, Arno Afonso Dilkin, Norberto Dapper, Alcido Böff, Lino Böff, José Cláudio Schuck. Da entrada de Walachai até a igreja Lídio Klaus, Belmiro Klauck, Helmo Klauck, Antônio Arlindo Dieter, Guido Wendling, Guido Arnold, Darci Backes, Pedro Edgar Schmitt, Lauro Büttenbender, Aloísio Scherer, Roberto Dieter, Inácio Henrich, Nicolau Henrich, João Benno Wendling, José Nilo Blume, Alberto Dieter, Roque Dieter, Gualtério Blume, João Alberto Schmitz, Afonso José Klein, Augusto Silmara Heck, José Germeno Weber. Da igreja na direção de Santa Maria do Herval Guilherme Dapper, Helberto José Sauter, Norberto Alcido Dieter, Dércio Arnold, José Albano Wickert, Ivo Dieter, Léo Guilherme Büttenbender, Arthur Schmitz, Benno Schmitz, José Arnold I, Selvino Schmitz, Roque Büttenbender, Alberto Olbermann, Emílio Lauxen, Cláudio Südegum, Alberto Fröhlich, Helmuth Dilkin, João Léo Dieter, Cláudio Leonardo Dieter, José Armindo Dieter, José Schmitz. Léo Südegum, Joana Closs. Rioloch Hilda Dieter, Roque Dieter, João Bento Kuhn, Francisco Emílio Schuck, Irineo Führ. Sócios não mais existentes em Walachai Antônio Emílio Braun, Elisabetha Schneider Seger, Geraldo Linck, Loiva Büttenbender Elvanger, Ricardo Dieter, José Paulo Arnold.
Da Comunidade Evangélica Quanto à vida religiosa de nossos irmãos evangélicos de Walachai muito pouco é de meu conhecimento, mas sei que enfrentaram também muitas dificuldades. Até 1929 tiveram que dirigir-se à igreja evangélica de Dois Irmãos, onde se realizavam os batizados, os casamentos, as confissões e suas outras obrigações religiosas. Em 1929 decidiram construir a sua igreja aqui na entrada de Walachai. João Stahl doou o terreno e em mutirão levantaram a sua igreja, tendo como construtor Fernando Weimer. Sócios dessa 157
igreja foram famílias evangélicas do Morro Reuter, Picada São Paulo e de Walachai. Os sócios de então de Walachai foram João Stahl, Fernando Weimer, Guilherme Berg, Frederico Berg, Adão Berg, Leopoldo Klein, Pedro Hoffmann, Albino Schneider, Albino Land, Alfredo Becker, Frederico Michel, Jacob Becker, Jacob Becker Filho, Henrique Emílio Becker e Otto Closs. Devem ter havido mais sócios, mas foi só destes que Henrique Emílio Becker se lembrou. Felipe Reinheimer continuou sendo sócio da comunidade evangélica de Dois Irmãos. A comunidade evangélica de Walachai dispõe de dois cemitérios. Não pude apurar qual dos dois é o mais antigo e nem a razão da existência dos dois cemitérios. Na década de 1970, os evangélicos de Morro Reuter se uniram e construíram a sua igreja no Morro Reuter, formando sua própria comunidade. A inauguração da primeira igreja evangélica de Walachai deu-se em 10 de junho de 1930. A partir daí os evangélicos passaram a festejar o seu Kerb também com a comunidade católica de Walachai. Anteriormente festejavam o seu kerb com Dois Irmãos, “Michelskerb”, sendo que no período de 1917 até 1930, aconteciam dois kerb em Walachai, anualmente. Nessas ocasiões os vizinhos evangélicos e católicos confraternizavam-se reciprocamente. Antigamente durante longos anos, os evangélicos de Walachai possuíam um bom coral, sob a direção de Felipe Reinheimer. Quando Felipe ficou impossibilitado de exercer a direção do coral, devido a sua avançada idade, o mesmo foi extinto. Em 1980, quando a igreja evangélica oferecia pouca segurança, pois ameaçava ruir devido a defeitos de construção, a comunidade construiu uma nova igreja, um pouco mais ao norte da primeira e em estilo bem moderno. A sua inauguração deu-se em 11 de maio de 1980, participando o deputado estadual Guido Mösch. A antiga igreja foi demolida e o terreno está destinado para a construção de um pavilhão comunitário. Na década de 1930, funcionou na antiga igreja uma escola, sob a regência do professor Pedro Schneider, que era subvencionado pela intendência de São Leopoldo. As aulas eram ministradas em português e alemão. As duas comunidades de Walachai, evangélica e católica, conviveram sempre em respeito mútuo e ajuda recíproca. Atualmente até realizam festas em conjunto. Relação dos sócios da comunidade evangélica em 1986 Elmo Becker, Ivo Weber, Evaldo Weber, Walter Nelson Becker, Viúva Erna Klein, Guerino Klein, Fridaldo Closs, Urbano Closs, Oscar Closs, Leandro Becker, Oscar Berg, Viúva Elsa Berg, Edvino Berg, Sírio Berg, Enio Jung, Hélio Jung, Albino Berg, Alcido Berg, Selvino Berg, Alceu Klein, Viúva Londa Hoffmann, Lauro Hoffmann.
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Mais um momento da procissão em 1972.
A catedral diocesana de Rio Grande que visitamos quando em visita à Ir. Martha em fins de fevereiro de 1977. Da esquerda para a direita: João Benno Wendling, tio Sino Bütenbender, tia Ida e Pe. Guilherme. Foto tirada pelo Pe. Hugo Bütenbender, primo meu e de Ir. Martha.
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21. A Educação
N
o início, a educação das crianças em Walachai era exclusivamente administrada na família. Como foi preciso dar duro no trabalho da roça, resolveu-se deixar as crianças em idade escolar aos cuidados das pessoas idosas ou daquelas pessoas que, por um motivo ou outro, não podiam trabalhar na roça. Ensinava-se a ler, a escrever, matemática prática e religião. Acontecia que todas as crianças de uma vizinhança, aptas ao ensino, se reuniam na casa da pessoa disposta para ensiná-las. Naquela época as condições de ensino eram precaríssimas, faltando livros e quase todo o material didático. Como no decorrer dos anos aumentou o número de crianças em idade escolar, os moradores planejaram escolher alguém, com instrução um pouco mais aprimorada, disposto a assumir o ensino de seus filhos. Reuniram-se. Escolheram a Cornélio Wickert para ser o seu professor, já que o go-verno os deixara em total abandono quanto à educação e deixava muito a desejar quanto às promessas recebidas do governo quando aqui se estabeleceram. Tendo Cornélio Wickert aceito a sua indicação como professor, os colonos construíram a escola, toda de madeira, onde hoje se encontra o pavilhão de festas da comunidade católica. Isso ocorreu em 1866, se os dados que obtive forem corretos. A duração do tempo escolar foi estabelecida em quatro anos. Férias não havia. O ano escolar iniciava na terça-feira após o domingo “in Albis” e terminava no sábado anterior ao domingo “in Albis”. Observação: Domingo “in Albis” é o segundo domingo de Páscoa.
O professor era pago pelos pais, semestralmente. As aulas aconteciam pela manhã e pela tarde, o professor também se preocupava com a agricultura e a criação de animais. Os registros escolares se dispensavam. O estudo constava da aprendizagem da leitura, escrita, re161
dação de cartas, matemática prática, canto e principalmente do ensino religioso, tendo como guia o catecismo e a História Sagrada, que era um resumo da Bíblia. Nos dois primeiros anos escolares os exercícios eram feitos tão somente em lousas ou ardósias. Durante esses dois anos o material escolar do aluno era uma cartilha – ABC – Buch ou Fiebel, que desde 1832 já era impressa em Porto Alegre – lousa, pena de pedra, régua, um pano para apagar a escrita na lousa e um vidrinho com água para molhar o pano. Muitas vezes, na falta de água e do pano, o aluno cuspia na lousa e passava a manga da camisa ou do casaco por cima da escrita. Naquela época, como também no meu tempo de escola, não se usava camisa com manga curta ou calças curtas, como hoje. Usava-se muito calça de meia canela. O livro “Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul” relata: O velho Mathias Hansen, morador em Walachai, pelo ano de 1860 e depois no Jammerthal, contava: “Morávamos distante da matriz de Dois Irmãos, duas horas a cavalo. Quando o nosso pequeno filho Mathias alcançou a idade escolar, resolvemos mandá-lo à escola de Dois Irmãos, a cavalo, munido de cartilha, lousa, pena de pedra, caneta com pena de aço, tinta e caderno.” Seu criterioso professor verificou o seu material escolar e observou: “Cartilha, lousa, pena de pedra... legal! Mas... que tu queres com caneta, tinta e caderno?” “Ué, professor, aprender a escrever!”, respondeu prontamente o garoto. “Oh...! Esses apetrechos nós não precisamos! Isso tu podes deixar em casa. O que pensa o teu pai! Nós não estamos em uma escola superior!” Cornélio Wickert, segundo o dizer de pessoas idosas daqui, lecionou durante seis anos em Walachai. Então passou a lecionar durante 20 anos no Travessão de Dois Irmãos. É o que encontrei também anotado nos arquivos da matriz de Dois Irmãos. O sucessor de Cornélio foi seu sobrinho Pedro Wickert que, como já sabemos, foi o autor do “Diário de Viagem” desde Buch, da Alemanha até o Rio de Janeiro, filho de Pedro José Wickert e Ana Maria Schvaab, moradores de Pinhal Alto. Pedro tinha bem menos estudo do que seu tio Cornélio. Durante os seus 45 anos de professor do Walachai, os conteúdos de ensino sofreram pouca mudança. Já havia mais facilidade na aquisição do material didático. Ao aluno ingressar no 3º ano escolar, era ensinado a usar a caneta de pena de aço, com tinta, no caderno de caligrafia de linhas duplas. No 4º ano aprendia a escrever, com tinta, em caderno com linhas simples. O aluno aprendia a redigir cartas e redações. A caligrafia era mais cuidada e valorizada do que a ortografia. Os alunos da 3ª e 4ª séries tinham de decorar até as explicações do catecismo que se seguiam às respostas das perguntas. Quem não sabia, apanhava ou tinha de estudar durante o recreio ou tinha de se ajoelhar na soleira da porta da escola com as mãos para o alto e com um cartaz preso nas costas com os dizeres: “Aqui está ajoelhado o burro”. Naquela época os castigos físicos eram bastante brutos e abundantes. Se o aluno não aprendia por bem, era por mal, sem se tomar em consideração a sua capacidade de aprendizagem. O professor Pedro desenvolvia muitíssimo o cálculo mental. Apesar de sua dureza, era 162
bem quisto pelos alunos e pela comunidade. Muitos de seus alunos, pessoas idosas me disseram: “O meu professor era brabo. Apanhei muito, mas também aprendi. Hoje ainda lhe sou grato.” O ensino era tão somente em alemão. Nem se desconfiava que se estivesse no Brasil e que a língua pátria passara a ser o português. O grande omisso nessa questão não foram os imigrantes, mas sim o próprio governo, alheio à sorte dos colonos. De tempos em tempos os professores da paróquia se reuniam em alguma das picadas da paróquia para trocar experiências e para receberem diretrizes de ensino, isso sob a presidência do pároco. Num destes encontros, aqui em Walachai, na casa do meu avô Gui-lherme Büttenbender Filho, por ter uma sala de visita mais ampla e melhor aparelhada do que o professor Wickert, o meu tio, João Büttenbender Sobrinho, chegou à idéia de também querer ser professor. Gostava tanto da reunião. Costumava comentar a aposta feita, nessa ocasião, entre dois professores, que foi a seguinte: Professor A “Eu aposto que eu me sento onde você não poderá se sentar.” “Isso eu lhe quero mostrar”, replicou o professor B. Iniciou-se a aposta. Onde o professor “A” se sentava, professor “B” o seguia, repetindo a ação. A certa altura o professor “A” sentou-se no colo do professor “B”. Sob as gargalhadas e os aplausos de todos os presentes consagrou-se vencedor o professor “A”. Pelo que o professor “B” ficou com o rosto vermelho como pimentão maduro, de tanta gozação que passou. Tio João então já contava com 18 anos de idade. Apresentou o seu plano também ao pároco. Esse o aconselhou a fazer um estudo para professor no colégio marista em Bom Princípio. Por intermédio do pároco, conseguiu a sua matrícula no referido educandário. Ao iniciar o ano letivo o vovô levou-o a cavalo até o colégio em Bom Princípio, onde estudou durante dois anos, formando-se professor paroquial. É claro que seu estudo foi predominante em alemão. Pelo pouco tempo de estudo adquiriu um razoável domínio da língua portuguesa. Em 1916, tio João assumiu a escola, aqui em Walachai, após já ter lecionado em Santa Maria do Herval durante dois anos e durante meio ano no Morro dos Bugres. Recebera de várias comunidades convite para nelas lecionar, mas já estava previsto ser o sucessor do professor Pedro Wickert. No ano de 1917, no 5º domingo da Páscoa, deu-se a inauguração da capela. Tio João, além de professor, foi incumbido do cargo de dirigente do coral e de sacristão. Durante o seu tempo de professor aqui, houve inovações no ensino. Principalmente a partir de 1937, quando se deu a nacionalização do ensino com a proclamação do Estado Novo, por Getúlio Vargas. Além das matérias anteriormente ensinadas, se introduziu no estudo elementos de geografia e história do Brasil, o Hino Nacional Brasileiro e o Hino à Bandeira. O estudo do português contava com o auxílio de elementos gramaticais, de tradução do português para o alemão e vice-versa. Isso, porém, pouco resolveu, porque uma língua se aprende direito, falando-a. A conversa escolar continuava em alemão. Tio João foi professor de Walachai durante 25 anos, de 1916 até o domingo “in Albis” de 1940. Por motivos de saúde, a conselho médico, deixou o magistério, dedicando-se à agri163
cultura. Tio João era extremamente nervoso. Vale ressaltar que o professor João Büttenbender Sobrinho, a partir de 1935, após prestar um exame de “suficiência” foi subvencionado pela intendência de São Leopoldo. Em 1940 assumiu a escola paroquial, a direção do coral e o cargo de sacristão, Oto Büttenbender – primo do prof. João. Durante certo tempo, João Büttenbender Sobrinho auxiliou o novo professor, dando-lhe orientações didáticas e pedagógicas. Prof. Oto Büttenbender aguentou apenas 5 anos no magistério, de 1940 até 1945. Renunciou devido às exigências de ensino por parte do governo como a proibição do alemão ao Brasil declarar guerra à Alemanha, prestação de contas do ensino ao governo, fiscalização do ensino e outras tantas. Em parte também devido às intrigas que surgiram entre as famílias da comunidade com o aparecimento da escola pública estadual, em 17 de julho de 1940. Como nessa escola o ensino era gratuito, diminuiu sensivelmente o número de alunos na escola paroquial, dificultando a sobrevivência do professor Oto. Na escola pública estadual a matrícula chegou a 47 alunos no ano de 1941. Essa escola esteve instalada no salão de Pedro Henrich, que alugara o local para esse fim. Maria Birck foi a professora regente da escola.
Alunos da Escola Paroquial com os professores João Büttenbender Sobrinho à esquerda e Oto Büttenbender à direita.
O Pe. José Maria Kroetz, pároco na época, vendo o esvaziamento da escola paroquial, insistiu com os pais de terem o sagrado dever de mandarem os seus filhos à escola paroquial e nas primeiras comunhões dava um destaque especial aos alunos desta escola. O seu apelo 164
aos pais de enviarem durante 4 anos seus filhos à escola paroquial e depois à escola pública, dando continuidade no estudo a fim de terem melhor preparo para enfrentar a vida, não foi aceito. Surgiu então uma verdadeira “guerra” entre os adeptos das duas escolas, ao ponto de Pe. José Maria Kroetz, ter de ser transferido da paróquia de Dois Irmãos. Com a chegada do novo pároco, Pe. Valentim Weschenfelder, em 1942, cauteloso quanto ao assunto das duas escolas, os ânimos se acalmaram bastante. A professora Maria Birck, devido principalmente aos vexames a que estava constantemente exposta, por causa das intrigas de escola, em fins de 1942 despediu-se aliviada de Walachai. Aguentara dois anos e meio, mas a mando do governo, não para brigar, deseducar e sim para ensinar, educar, tivera essa grande decepção. Então essa escola pública estadual passou a ser municipal, em 17 de junho de 1944, denominada Escola Municipal Inácio Montanha. Quando Oto Büttenbender desistiu do magistério, em 1945, não restou outra alternativa aos pais a não ser mandar os filhos à escola municipal. A matrícula chegou a 56 alunos. Devido a esse número de alunos, foram designadas duas professoras para atender a escola. Como naquela época a escola era de difícil acesso, acontecia que as professoras, aos sábados, após as 10 horas, se dirigiam para sua casa paterna em São Leopoldo e voltavam na segunda-feira à tarde, porque a linha de ônibus Herval - São Leopoldo funcionava somente uma vez por dia. Nos sábados os professores tinham de ir a pé até a rodoviária no Morro Reuter, que funcionava onde atualmente está instalada a fábrica de calçados Maide. Lá pegavam o ônibus das empresas Caxiense ou Canelense. Naquela época, em tempo chuvoso, as estradas de Walachai tornavam-se praticamente intransitáveis para veículos automotores. Para pedestres, o aconselhável era andar de botas ou de pé descalço. Os alunos, na segunda-feira, encontravam a escola fechada e a maioria deles, os de mais longe, não voltavam na terça-feira. Acontecia então de a escola ter um funcionamento normal durante 4 dias da semana. Além disso, o pior transtorno era a troca seguida de professores durante o ano. Tudo isso deu em protesto junto ao subintendente de Dois Irmãos, capitão Theobaldo Sperb, por parte dos pais descendentes. Como o governo municipal não solucionou essa situação, em fins de fevereiro de 1947, Pedro Henrich cortou a cessão do salão para sala de aula e negou pensão aos professores. Walachai chegou a não ter mais escola. O prédio escolar da comunidade católica: o pároco, devido à extinção da escola paroquial, com a culpa atribuída ao governo, negou-se a alugar o prédio à prefeitura de São Leopoldo. O subprefeito, ou melhor, subintendente de Dois Irmãos e o intendente de São Leopoldo encontraram-se então num beco sem saída, com Walachai sem prédio à disposição para escola e o pior, ninguém mais disposto para dar pensão às professoras. Lembraram-se então de mim, talvez por sugestão de pais de Walachai, apavorados com a triste situação. Raciocinaram: o professor Benno teria a sua pensão assegurada em sua casa paterna e o prédio para funcionar a escola, isso ele conseguiria. Assim aconteceu que, certo dia, já nas vés-peras 165
do início das aulas, em 1947, recebi um chamado da prefeitura de São Leopoldo para um encontro com o prefeito, Dr. Carlos de Souza Morais. Receoso e curioso ao mesmo tempo, dirigi-me à Prefeitura de São Leopoldo. Convidado para entrar no gabinete do prefeito, qual não foi a minha surpresa ao encontrar lá também o subprefeito de Dois Irmãos. Após os cumprimentos, o senhor prefeito foi direto ao assunto. Minha transferência do Jammerthal para Walachai. Relutei. Prefeito e subprefeito quiseram saber o motivo. Disse-lhes qual seria a decepção dos pais do Jammerthal em relação a mim e além do mais, não estava disposto a trabalhar numa comunidade tão intrigada e fofoqueira como aquela. Mas o veredito foi: “a única solução que encontramos para aquela localidade ter escola é a sua transferência para lá, pois ali não encontramos mais paradeiro para professora e Pedro Henrich nos cortou a ligação de seu salão. Você encontrará, com certeza, paradeiro em sua casa paterna e, falando com jeito, conseguirá que o Pe. Vigário nos alugue o prédio escolar da comunidade. Providencie o quanto antes a sua mudança para lá!” Pronto!... A sorte estava lançada! Chegando no Jammerthal, ninguém quis dar crédito à notícia, pois todos sabiam o quanto me sentia bem naquele lugar, que me dava bem com todos e quanto todos me queriam bem. Contrariado, rumei para o meu torrão natal. O pai ficou todo satisfeito com a boa nova, como também a grande maioria da comunidade. Fui a Dois Irmãos encontrar-me com o pároco, Pe. Valentim Weschenfelder. Acolheu-me prazerosamente, mas ao perguntar-lhe sobre a possibilidade de alugar o prédio escolar de Walachai à prefeitura de São Leopoldo, secamente respondeu-me: “Isso nunca! Pois por culpa da prefeitura, a escola paroquial deixou de existir. Pode contar com todo meu apoio, menos com essa proposta de alugar o prédio escolar de Walachai à prefeitura.” Saí de lá aliviado e direto me dirigi à prefeitura de São Leopoldo para relatar o resultado ao prefeito Dr. Carlos de Souza Morais, que deu última forma. Desci todo faceiro pela escadaria por me ver livre de um enorme pesadelo. Mas, ao sair da prefeitura, topei com o subprefeito, capitão Carlos Theobaldo Sperb, que logo quis saber como estava o meu caso lá em Walachai. Ao lhe informar que tudo dera em nada porque o vigário se negara em alugar o prédio escolar à prefeitura, o subprefeito não se deu por convencido e me fez voltar em sua companhia ao gabinete do senhor prefeito e insistiu na minha transferência para Walachai. Quando o prefeito lhe disse que em nada adiantaria, porque eu lá não encontrara prédio disponível para escola, o subprefeito argumentou: “O tio dele, o João Wendling, possui um prédio desocupado à beira da estrada, que tanto pode servir de sala de aula como também moradia do professor. O professor vai falar com ele e lhe pedir para aparecer na subprefeitura para fazermos contrato de aluguel”. Cumprindo ordens, outra vez tive de voltar para Walachai para me entender com o meu tio e padrinho, João Wendling. Na hora, quando cheguei lá, João Adolfo Schuch estava já com o pé no estribo para ir embora. Já montado em seu burro, curioso esperou a minha resposta ao padrinho que me perguntara: “O que o meu afilhado vem querer comigo a esta hora?” Já es166
tava perto do meio-dia. Desembuchei o recado. O padrinho, boquiaberto, retrucou: “Mas, que pena! Há pouco fechei negócio de venda com este homem e eu não posso voltar atrás, salvo se seu Adolfo concordar.” Seu Adolfo estava mais que contente por ter conseguido propriedade. O padrinho estava mais que torcendo pela anulação do negócio, pois assim o seu filho Victor, que levara para casa de seu cunhado no Jammerthal, para frequentar a escola, poderia vir de novo de volta e frequentar a escola daqui. Outra vez rumei à subprefeitura de Dois Irmãos, informando ao subprefeito a ocorrência. Este ordenou-me: “Volta para Walachai! Procura conseguir de alguém prédio onde possa funcionar a escola!” Mal-humorado e chateado já até o último, voltei para Walachai e resolvi fazer férias até que alguém se prontificasse a ceder prédio para escola. Rumei para a casa do meu sogro, João Albino Schuch, no Jammerthal, onde parava a minha esposa, pois recém casara e o nosso paradeiro provisório era a casa do sogro. Deixei a solução do prédio para escola com os moradores de Walachai, pedindo que me avisassem tão logo alguém aparecesse disposto a ceder espaço para o funcionamento da escola. Chegando ao Jammerthal ,assumira lá a escola o cunhado de Carlos Werle, José Wittmann. Meu tio e também padrinho, Pedro Henrich estava arrependido de ter se negado continuar alugando o seu salão à Prefeitura, mas o que diria a estas alturas o prefeito, se novamente se oferecesse para alugar o salão? Decorridos alguns dias, recebi recado que meu tio, Guilherme Büttenbender Neto, se prontificara a ceder uma sala de visita de sua casa para a escola, se servisse. Olhei a tal sala, lá não muito espaçosa, mas daria para quebrar o galho. Tio Guilherme rumou à subprefeitura de Dois Irmãos e fechou contrato de aluguel para um ano. Roberto Dieter e eu mudamos os bancos escolares e o material escolar do salão Henrich para a sala de visita do tio Guilherme e dei início às aulas com um número de 59 alunos, que ficaram mal-acomodados na sala. Passei um trabalhão para organizar as classes, pois os alunos além de atrasados eram muito indisciplinados. Custei para colocar tudo em ordem. Expus ao subprefeito a situação precária em que funcionava a escola, pouco espaço para todos os alunos, falta de bancos escolares, heterogeneidade intelectual dos alunos, pátio distante da escola, pois o potreiro do tio servia de pátio, e falta de material escolar adequado ao ensino. O subprefeito prometeu providenciar alguém para dividir comigo o imenso e difícil trabalho, mas ficou nisso. Tio Lino, o grande líder da comunidade, providenciou o terreno para construir uma escola, já que o contrato era só para um ano, e o pároco continuava inflexível em sua resolução. José Hoff doou um terreno, junto à estrada na divisa com o imóvel agora pertencente a João Belmiro Arnold. Organizou-se uma comissão. Promoveu-se uma festa no salão Henrich para arrecadar fundos para a construção da escola, já que para tal fim, pouco se podia esperar da prefeitura. Com o lucro da festa foi comprado o velho salão comercial de Felipe Blume, no Birckenthal, que foi demolido e o material aproveitado para construir a escola. 167
Em começos de dezembro de 1947, os móveis foram mudados da casa do tio Gui-lherme para o novo prédio escolar, Escola Municipal Inácio Montanha. Era um prédio também pouco espaçoso, mas adaptado para escola. Nele realizariam-se exames finais pelo professor João Arnaldo Jantsch – professor de Morro Reuter, e Arno Nienow – professor de Dois Irmãos. O encerramento do ano letivo deu-se em 15 de dezembro, entrando os alunos em férias e os professores concluindo os registros escolares. Certo dia, lá por meados de fevereiro de 1948, veio um temporal e arrasou a escola, cujas paredes haviam sido levantadas usando como argamassa o barro vermelho e tijolos de péssima qualidade e de tamanho irregular. A essa altura dos acontecimentos, devido a bobas rixas políticas, a comunidade, recém mais unida com a minha vinda para cá, mergulhou novamente na maldita desunião, chegando muitos mesmo a comemorar o desmoronamento da escola. O Dr. Mário Sperb obtivera uma extraordinária vitória sobre o seu rival a prefeito, capitão Mário da Fonseca, e era o novo prefeito de São Leopoldo. Nomeara como subprefeito de Dois Irmãos e também subdelegado, o professor Afonso Wolf, grande amigo do Pe. Valentim Weschenfelder. Certa tarde, em fins de fevereiro de 1948, tive de ir ao dentista em Dois Irmãos. Após o meu atendimento, como justamente se estava aproximando o temporal e o Pe. Valentim mais de uma vez me convidara para um chimarrão na casa paroquial, dirigi-me para lá, pretendendo voltar para casa passado o temporal. Toquei a campainha. Sem demora, abriu-me a porta, sorrindo, o Pe. Valentim, convidando-me para entrar. Levou-me direto para a sala de visitas. Ali me deparei com 3 pessoas do Walachai. “Sente-se”, disse-me padre Valentim e agarrando um papel que se achava sobre a mesa, disse: “Esta lista de abaixo-assinados que vocês me trouxeram não posso entregar assim ao senhor arcebispo. É preciso usar papel almaço, as assinaturas têm de ser com tinta e não com lápis e sem borrões e rasuras. Quanto ao pedido de as aulas serem em alemão, tirem isso da cabeça. É contra a Constituição e a escola seria imediatamente fechada. E quanto ao pedido de Oto assumir a escola, não consiste mais, pois ele, sem consultar a mim e a comunidade, largou a escola. Além disso, outro professor, que sabe da situação de intrigas que vive na comunidade de Walachai, vos agradecerá muito por essa honra que lhes quereis dar. Por que agora que vocês novamente têm professor, se preocupam em arrumar professor? Não basta de intrigas? Voltem para casa, me tragam o abaixo-assinado em folha de papel almaço que então o entregarei ao senhor arcebispo e aguardem até ele satisfazer o vosso desejo.” Eu, perplexo com este inesperado encontro, com licença do Pe. Valentim, disse a essa comissão secreta: “Olha gente! Eu quero ser o primeiro a assinar esse abaixo-assinado, porque eu vim coagido para Walachai pelas autoridades e sob pressão da maioria dos moradores dessa localidade. Vocês tendo outro professor, estou certo que conseguirei transferência para outra comunidade, onde possa trabalhar em paz. Ou vocês pensam que eu vim para Walachai para brigar? Vim para Walachai para servir a comunidade, sem dar 168
preferências a ninguém, pois que não tenho nada contra ninguém. Desejo cumprir minha missão de paz!”. Por decepção minha, encontrava-se nessa comissão uma pessoa que até antes da minha vinda para Walachai, viera no Jammerthal, pedir a minha vinda para essa localidade. Não me lembro quem bateu primeiro em retirada. Só me lembro que não saiu o tal chimarrão almejado e sim um encontro inesperado, ocasional e pouco agradável. Talvez providencial! De volta para Walachai, essa comissão não se deu por vencida e poucos dias depois, duas pessoas foram se encontrar com o senhor arcebispo, em Porto Alegre. Não consegui saber se foram entregar-lhe o tal abaixo-assinado ou se foram dar queixas contra o Pe. Valentim. Tudo é até hoje silêncio, tal qual numa sociedade secreta. Entretanto, quem mais ficou magoado com a ruína da nova escola foi tio Lino, que tanto se sacrificou pela construção da mesma. Como presidente da comunidade foi encontrar-se com o subprefeito Afonso Wolf, para acharem uma solução quanto à educação em Walachai. Conversa vai, conversa vem, juntos foram encontrar-se com o Pe. Valentim e lhe lançaram um apelo para que desse uma mão, já que a escola ao lado da igreja estava desocupada e era da comunidade. Que reconsiderasse a sua decisão anterior e fosse alugar o prédio à prefeitura pois, caso contrário, Walachai perigava ficar novamente sem aula e poderia perder o seu professor. Pe. Valentim já percebera a mudança ocorrida nos alunos e na comunidade e que eu nada mais queria do que o bem da comunidade, fazendo tudo para obter a união da mesma. Pensou um pouco e respondeu: “Em vista do movimento de certos elementos da comunidade procurarem obter aula em alemão e o retorno do professor Oto, que renunciou sem consultar a mim e nem a comunidade, aceito o pedido de vocês... Exporei o caso ao senhor arcebispo, pedindo que me dê permissão para alugar o prédio escolar à prefeitura. Podem contar comigo!” Em março de 1948, ao iniciar o ano letivo, o pároco em companhia do subprefeito e ao mesmo tempo do subdelegado Afonso Wolf, vieram a cavalo desde a entrada de Walachai até a escola para abri-la e entregar-me a chave da mesma. Na ocasião, prof. Afonso Wolf fez uma linda palestra aos alunos, acentuando a necessidade da educação, reforçando Pe. Valentim as palavras do professor Afonso. Havia gente curiosa escondida no mato ao lado norte da escola e até atrás do muro do cemitério, espreitando o desenrolar deste ato, e Deus sabe para o que mais, mas viram que o senhor subdelegado estava armado. Novo “furacão” desabou sobre a comunidade. As brasas soterradas debaixo de cinzas foram reativadas. A fofoca chegou ao auge. No dia seguinte, quando quis abrir a porta da escola, o buraco da chave na fechadura estava entupido com pedrinhas. Custou, mas consegui abrir a porta. Calmamente expliquei aos alunos, com essa perda tempo, o prejudicado não era eu e sim eles, que quem fazia isso não era inimigo meu, mas deles. No dia seguinte, o buraco da fechadura estava entupido com cera, material certamente considerado irremovível. Com a ponta do meu canivete removi de novo o obstáculo e sem dizer uma palavra. Em silêncio 169
os alunos acompanharam o meu serviço. E assim o drama continuou durante certo tempo, ora o buraco da chave na fechadura tapado, ora não. Bilhetinhos, contendo todo o tipo de desaforos, encontrei diversas vezes. Sem dizer nada disso a ninguém na comunidade nem mesmo à esposa, fui “engolindo” uma a uma essas “pílulas” recheadas de ódio e de ameaças, pois eu estava convencido de que não dando bola a tais baixarias os autores ou o autor, mais cedo ou mais tarde se cansariam. Certo dia, ao me encontrar com o subprefeito Afonso Wolf, relatei-lhe essas ocorrências. Achou ser muita humilhação, mas aprovou minha atitude de silêncio e perguntou-me se acaso não reconhecesse de quem poderia ser a letra dos dizeres nos bilhetes. Respondi-lhe não ter idéia de quem pudesse ter essa letra. Recomendou-me continuar calmo como até então, mas vigilante, pois assim talvez chegaria-se a descobrir o autor ou os autores dos bilhetes e quem mexia na fechadura da porta da escola, e que então, arranjaria um lugarzinho para torná-lo inofensivo. Certa manhã, na escola e perante toda a classe, dois alunos cujos nomes não mais me recordo, contaram terem visto, na tarde anterior, os guris do professor Oto mexem na fechadura da porta da escola. Escutei a “boa nova” dos dois, sem comentário. Por meio de terceiros, professor Oto ficou sabendo do caso. Cedinho na amanhã seguinte, ele veio ter comigo, desculpando-se e afirmando ter tido uma conversa muito séria com seus guris. Insistindo que lhe contassem a verdade, aplicara-lhes uma boa surra e que negavam ter mexido na porta. Diziam que ao regressarem da casa comercial de Albino Seger, onde a mãe os mandara buscar um artigo de que precisava, foram espiar se o buraco da chave na fechadura estivesse tapado e que foram para casa sem mexer em nada. Desculpei ao professor Oto e disse-lhe que não havia sido mexido na fechadura, que os guris eram inocentes. Ao despedir-se me disse: “Se todos da comunidade tivessem a minha ideia, toda essa bagunça não existiria”. A atitude do professor Oto surtiu efeito, pois daquele dia em diante ninguém mais tapou o buraco da chave na fechadura e os bilhetes anônimos pararam e os guris do professor Oto pagaram “o pato que não tinham comido”. Por Pe. Valentim ter alugado o prédio escolar à prefeitura de São Leopoldo, viu-se obrigado a procurar outra casa de hospedagem, para quando estivesse em visita pastoral em Walachai. Essa lhe ofereceu gratuitamente tio Lino, até 1975, ao pedir a sua demissão como pároco de Dois Irmãos. Na mesma ocasião, começo de 1948, o professor Oto deixou de dirigir o coral como também o seu cargo de sacristão e de presidir as rezas da comunidade. De-vido a essas ocorrências, a diretoria da comunidade reuniu-se com o pároco em Dois Irmãos para juntos acharem uma solução. Não sei o que se falou nesse encontro, mas recebi do Pe. Valentim o convite para um urgente encontro com ele na casa paroquial. Fui para lá. Pe. Va-lentim pediu-me então que eu assumisse na comunidade os cargos de sacristão e de dirigente do coral, por ele considerar eu ser a pessoa mais competente para tanto. Quanto ao serviço de sacristão, bastante complicado nessa época, afirmei-lhe não haver problemas, mas quanto 170
ao ser dirigente do coral, pedi-lhe que me desculpasse por faltar-me competência para tanto, devido eu não possuir o dom de músico. Contudo pediu-me assumir o canto, nem que fosse só com o povo. Ciente de estar na comunidade para servir e não para ser servido, assumi os meus encargos “desse e viesse” o que fosse. Entregou-me então a chave da igreja. De imediato contei com tio Lino, tio Guilherme e seu filho Léo, Artur Schmitz e Roberto Dieter para me ajudarem no canto. Nessa época José Hoff e Lucila Ternus já estavam com data marcada para seu casamento. Reunimo-nos e ensaiamos uma missa cantada a duas vozes e que cantamos satisfatoriamente no dia do casamento. Entretanto, a pedido meu e de muitas outras pessoas, tio João comoveu-se e prontificou-se em assumir novamente e com a autorização do pároco, a direção do coro, apesar de já bastante idoso. Convidou mais cantores e gratuitamente dirigiu o coro desde o Kerb de 1948 até não poder mais, lá pelo ano de 1970. Em outubro de 1948, depois de decorridos mais de 3 anos, houve novamente primeira Eucaristia solene das crianças. Foi uma turma grande. Sendo amigo de todos, tratando indistintamente bem todos, não revidando fofocas, mas dando exemplo de amor ao próximo, paulatinamente consegui fazer entender que comunidade é união de todos e essa afinal aconteceu e perdurou com raríssimas exceções até ano de 1989. A partir de 1960, após a instalação do novo município de Dois Irmãos, a escola mudou de nome. O diretor do ensino deu-lhe o nome de Escola Municipal Rui Barbosa. Com a reforma do ensino no governo da revolução de 1964 e no correr dos anos, hoje é denominada de Escola Municipal de 1º Grau Incompleto Rui Barbosa de Walachai. Nos anos anteriores a 1960, o material didático era bem precário, tanto para professores como para alunos. Estava ainda bastante em uso a lousa, a pena de pedra, que gradativamente foram desaparecendo e proibidas pelas autoridades do ensino, por serem anti-higiênicas. No processo da alfabetização dos alunos era usada a cartilha “Queres Ler?” tida como melhor. Mas nas escolas da região colonial alemã seguindo o método da mesma, levavam-se no mínimo dois anos para alfabetizar bem o aluno. O maior entrave no processo de alfabetização era a criança entrar na escola sem entender a língua nacional e então ele falar em português não passava de um sonho não sonhado. Foi preciso, ao mesmo tempo, nacionalizar e alfabetizar a criança. Nessa época, 1960, ainda nem se sonhava com TV e pouquíssimas eram as famílias que possuíam rádio. O ambiente para a alfabetização era totalmente adverso. Aqueles tempos não podemos nem mais comparar com os atuais, pois qual a criança que hoje, ao entrar na escola, não esteja familiarizada com o rádio, toca-discos, gravador, TV, festas da comunidade, futebol, excursões e assim por diante. Hoje, ao entrar na escola, a criança não estranha o falar do professor, já o entende e, na maioria dos casos, já sabe se comunicar com o professor e os colegas, em português. Não só eu, mas todos os professores da zona colonial alemã fomos criticados, pelas autoridades do ensino, pelo baixo índice de alfabetização apresentado no fim do ano letivo. Apesar de todas as explicações não queria 171
entrar na cuca dessa gente o nosso problema fundamental, e muitas vezes, fomos considerados incompetentes no assunto da alfabetização. Esse modo de julgar mudou de figura após a emancipação de Dois Irmãos do município de São Leopoldo, quando tomaram conta da diretoria municipal do ensino pessoas nascidas e criadas na zona colonial alemã e conhecedoras do ambiente colonial. A cartilha “Queres Ler” foi substituída em nossa escola, pela cartilha “Vamos Estudar”– bem mais prática e eficiente no processo da alfabetização. Nos últimos anos do meu magistério foi adotada a cartilha “O Guri”, com os assuntos bem familiares com a vida colonial. Em todos os meus 41 anos de magistério foi a mais eficiente. Atualmente, já foi certamente substituída e suplementada por outra mais eficiente ainda. Após muita luta finalmente em 1984, foi introduzido em todo o nosso município o nível “PRÉ”, desaparecendo assim o espantalho da baixa aprovação na primeira série escolar. Por muitos anos, estive obrigado a elaborar todos os exercícios escolares, para todas as séries, baseado no programa do ensino. Os pais permaneciam agarrados ao tradicional costume de anos de escola. A partir de 1960 melhorou muitíssimo o ensino em Walachai. Apareceu abundante e variado material escolar. O governo começou a distribuir para a nossa escola, o que em muito veio aliviar e melhorar o serviço do professor e ajudar a aprendizagem. Até merenda escolar veio. Em 1962, sendo governador do Estado o engenheiro Leonel Brizola, Walachai recebeu um novo prédio escolar com duas salas de aula. O prédio da comunidade então já ofe-recia pouca segurança, devido a sua construção defeituosa. Motivo forte para a construção de um novo prédio foi também o fator do elevado número de alunos, e o prefeito, Justino Antônio Vier, não querendo perder a boa chance oferecida pelo governador, decidiu-se pela construção da nova e primeira escola pública de Walachai. Albino Seger doou o terreno, pois a doação do terreno era a condição única exigida pelo Estado. Em questão de pouco tempo estava pronta a nova escola, toda de madeira com duas amplas salas de aula e um quarti-nho para guardar o material de limpeza. As salas foram aparelhadas com bancos bipessoais e quadros negros bem maiores do que os anteriores. Em 15 de maio de 1962, sem inaugurações, o prédio escolar acolheu os 53 alunos, que passaram a ser atendidos por mim e pelo professor José Albano Wickert , outrora aluno meu e bisneto do professor Pedro Wickert. A partir daí começou a funcionar o 4º ano e, no ano seguinte, o 5º ano, admissão ao ginásio. Estava assim, em funcionamento, todo o curso primário fundamental comum, com 61 alunos. Nessa época, para ingressar no ginásio, era exigido o exame de admissão, e a preparação para esse exame era o 5º ano, onde os conteúdos eram bastante avançados, exigindo muito esforço por parte dos alunos. Com a reforma do ensino no governo da Revolução de 1964, foi removida essa barreira para o ingresso no ginásio. A denominação “ano” foi substituída pela expressão “série” e desaparecendo a especificação “curso ginasial” e vingando a deno172
minação “Ensino do Primeiro Grau de 1ª a 8ª série, como atualmente, em 1992. Tornou-se obrigatória a frequência de escola até aos 14 anos de idade. Na nossa escola a frequência ia até o final da 4ª série, e daí em diante, os alunos com menos de 14 anos, por lei, deviam frequentar a escola de áreas, no Morro Reuter. Devido às circunstâncias adversas, como falta de condução, grande distância e outras incoveniências, a medida tornou-se impraticável. Foi então estabelecido que a nossa escola continuasse até o fim da 5ª série. O prefeito Léo Klauck insistiu no cumprimento da obrigatoriedade escolar até aos 14 anos. Certos pais quiseram se esquivar desse cumprimento legal e foram até o gabinete do prefeito reclamar contra tal medida. Esse, porém, inflexível, respondeu: “Escutem, será que vocês querem criar burros? Mandem seus filhos à escola ou serão responsabilizados perante a justiça!”. Assim sucedeu que em 1969 a matrícula de nossa escola chegou a 118 alunos, e o espaço das duas salas não mais comportando os alunos. Impossível também nós dois professores atendermos convencionalmente tão grande turma num só turno. Então o diretor das escolas municipais, Plínio Weber, pediu-me para lecionar em dois turnos, já que o professor Albano estava impedido. Não quis aceitar. Querendo ele saber o motivo lhe disse eu, quanto a isso, possuir uma amarga experiência vivida no Jammerthal, onde o prefeito de São Leopoldo me pedira para lecionar em dois turnos, comprometendo-se a me pagar, no fim do ano o 2º turno, no valor de 50% sobre o primeiro turno. Como tal não acontecera fora reclamar em janeiro do ano seguinte, e recebera em resposta que isso já caíra em exercícios findos e ficara nisso mesmo. Plínio, porém, garantiu isso não ocorrer mais, que o pagamento seria mensal, e em dobro, como também as férias pagas. Embarquei nesse bonde e viajei nele durante 9 anos, sem poder me queixar quanto aos pagamentos. No ano de 1973 foi aberto em nossa escola um curso supletivo noturno para alunos com mais de 14 anos de idade, sob a regência da professora Maria Vera Deimiling. Bom número de jovens aproveitou com sacrifício essa oportunidade de estudo para preparar-se melhor para a vida futura. Esse curso funcionou desde 23 de março de 1973 até o fim do ano letivo de 1974. Para esse curso ter condições de funcionamento, tornou-se necessário instalar a luz elétrica na escola, problema resolvido pela própria comunidade. No mesmo ano, a escola noturna unida à escola diurna, promoveu pela primeira vez a festa de São João do Walachai e cujo lucro foi destinado à construção de banheiros higiênicos e para dotar a escola com água potável. Como o pátio da escola se assemelhasse a um valo de pedras e tocos de árvores, insistimos junto ao prefeito que aterrasse esse valo. Interrompido diversas vezes o serviço de terraplanagem e faltando pouco para o término do mesmo, pedimos ao tratorista de José Luís Wittmann que trabalhando na vizinhança em serviços de terraplanagem, terminasse o serviço. No ano de 1976 foi fundado o Círculo de Pais e Mestres da escola, precisamente em 29 de agosto, tendo como primeiro presidente o Theobaldo Hugo Linck. O CPM começou a organizar anualmente uma festa escolar, no domingo que caísse perto à data de Sete de 173
Setembro, quando na oportunidade se faz uma Hora Cívica em comemoração ao dia de nossa Independência. Com o lucro dessas festas foram feitos muitos melhoramentos na escola, cercando o pátio, adquirindo mimeógrafo, material escolar, tanto para os alunos como para a escola. Até hoje, no ano de 1992, o CPM permanece muito útil e ativo para a escola. Em 1º de março de 1978, completei 35 anos de magistério, e assim, legalmente, com o direito à aposentadoria. Mas como os professores municipais de Dois Irmãos estavam contribuindo ao INPS somente desde 1960, não podia eu ser aposentado pelo INPS por falta de tempo de contribuição. Fui então passado para a inativa remunerada da prefeitura pelo primeiro cargo a partir de primeiro de maio de 1978 e continuando a contribuir ao INPS sobre os dois cargos até poder ser aposentado pelo limite de idade de 65 anos. Com a minha passagem para a inativa pelo 1º cargo, assumi então o 1º turno escolar em dois de maio de 1978, como professor municipal contratado. Na época era prefeito o senhor Norberto Rübenich. Professor Nicolau Büttenbender, também outrora meu aluno, tomou conta da 2ª e da 5ª série. Professor Albano lecionava na 3ª e 4ª série. Assim continuou o funcionamento da escola até o fim do ano de 1983. Com o advento da Nova República, foi modificada a lei da aposentadoria. No início do mês de novembro de 1983, apareceu na escola o diretor do ensino, Osório Ernesto Schneider, comunicando-me que o prefeito Romeo Benício Wolf resolvera encaminhar ao INPS o meu processo de aposentadoria, como também do colega João Leopoldo Fritzem e da colega Maria Herold. Esta lecionava na Linha Marcondes e aquele em Fazenda Padre Eterno. Assinei a papelada do processo e para provar o meu tempo de serviço, Osório levou uma boa bagagem de livros com registros escolares. Em 29 de novembro, todos os três fomos chamados à prefeitura, onde teve lugar o ato da assinatura de nossa aposentadoria, testemunhado pelo secretário do prefeito, Roque Querino Klauck e pelo vereador Albano Hansen. Na ocasião, o senhor prefeito solicitou-nos, apesar de aposentados, continuássemos até o fim do ano letivo, para evitar transtornos na escola, já que os alunos se achavam às portas dos últimos testes bimestrais. Fielmente ajudei a executar todos os trabalhos até o fim do ano letivo de 1983, completando 41 anos de magistério. Na data do encerramento deste ano recebi, sensibilizado, uma significativa homenagem por parte da escola e de toda a comunidade de São Nicolau de Walachai, que reconheceu o fiel cumprimento de meus deveres de professor. A tal ponto que mesmo cheguei, a bem da verdade, prejudicar a minha família e mais a minha saúde. Isso não por culpa da comunidade, mas por circunstâncias adversas por parte do governo municipal anterior à emancipação de Dois Irmãos. Em certa época o atraso do pagamento dos vencimentos chegou a ultrapassar 3 meses e sobretudo o excesso de trabalho devido ao sempre elevado número de alunos. Durante os meus 41 anos de magistério, fui sempre o responsável ou diretor da escola e também o alfabetizador. Concluindo o ato da aposentadoria, parabenizando-me, o vereador 174
Albano Hansen disse: “Agora o professor pode sossegadamente gozar do merecido descanso!”, aguentei firmemente. Mas, qual não foi a minha grande decepção quando em dezembro recebi o meu carnê. Caí quase de costas e murmurei para mim mesmo: “Sim, agora resta ao professor trabalhar não por lazer, como imaginei, mas para sobreviver!”. Certificando-me do valor das aposentadorias de meus colegas concluí que a minha estava errada. Levei o caso ao conhecimento do senhor prefeito, meu patrão, que sem saber dar explicações, telefonou ao agente do INPS de Novo Hamburgo, senhor Avelino Santini. Esse pediu ao senhor prefeito que me mandasse falar com ele em seu gabinete de trabalho no dia seguinte, pela parte da manhã. O senhor prefeito chamou o funcionário responsável pelo controle dos empregados da prefeitura e mandou que extraísse as guias do recolhimento das minhas contribuições ao INPS durante os 3 últimos anos. Pediu-me que, na manhã seguinte, voltasse ao seu gabinete para recebê-las devidamente assinadas e as levasse junto e não estivesse de mãos vazias caso me fosse pedido algum comprovante. Voltando, na manhã seguinte, à prefeitura, o senhor prefeito me entregou as guias e mandou o responsável pelo controle dos pagamentos da prefeitura levar-me de carro até a subagência do INPS de Dois Irmãos para o representante dar uma olhada se estava certo assim. Na porta do posto um cartaz dizia: “Fui ao médico, volto já”. Mas isso somente aconteceu após as 11 horas. Examinando as guias, o representante confirmou estarem corretas. Na manhã seguinte, às 8 horas, já me encontrava no gabinete do agente do INPS em Novo Hamburgo. Sabendo que eu era professor, antes de qualquer coisa, bateu um bom papo sobre seu tempo de escola quando criança, no tempo das palmatórias, sistema de ensino de então, nem mais comparável ao a-tual. Só então me levou à presença da funcionária responsável pelas aposentadorias. Também ela prontamente me atendeu gentilmente. Testou o meu carnê e concluiu estar correto. Aleguei como podiam receber mais do que eu, colegas meus, que como eu trabalhavam também em dois turnos. Pediu-me trazer provas que trabalhara em dois turnos, já que da prefeitura o INPS recebera as guias do recolhimento das contribuições referentes a um único turno. Entreguei as guias de recolhimento das contribuições que o senhor prefeito me entragara. Comparando-as, de imediato descobriu que a prefeitura se esquecera das contribuições do segundo turno. Servindo-se de uma máquina calculadora concluiu que a minha aposentadoria correta devia ser o dobro. “Volte à prefeitura, pediu ela, e traga por escrito, a explicação dessa ocorrência e não se preocupe, receberá a sua aposentadoria correta, com correção mo-netária e juros de mora.” Agradeci pelo esclarecimento e pela orientação. Voltei ao gabinete do senhor prefeito em Dois Irmãos. Cientifiquei-o da ocorrência e da exigência da prefeitura ter que explicar o lapso. O senhor prefeito me acalmou e garantiu que não me preocupasse, o caso era com a prefeitura e teria ela a obrigação de colocar isso em dia. O senhor gerente do INPS me afirmou o caso estar resolvido, no máximo em 3 meses. Entretanto foi deflagrada a greve dos funcionários do INPS. Novos funcionários foram admitidos em lugar dos que se 175
demitiram. Decorridos os 3 meses fui ao posto do INPS de Dois Irmãos informar-me quanto ao meu caso. O representante de nada sabia e pediu-me voltar na semana seguinte. Aí recebi a resposta de que ainda nada estava resolvido, mas que se resolveria dentro de um mês. Assim fui num vai-vem durante 14 meses. Fiquei até envergonhado de ter que incomodar tantas vezes o representante. Fora até reclamar com o senhor vice-prefeito, José Carlos Vier, em exercício, devido às férias do prefeito. Prometeu tomar as devidas providências. Quase um ano depois, encontrando-me com ele, perguntou-me se o meu caso de aposentadoria estava resolvido. Tive de responder que não. “Mas que barbaridade!”, respondeu ele. A partir de 1º de fevereiro vou assumir de novo a prefeitura, pois o prefeito vai para suas férias. Venha então que eu vou me empenhar para resolver seu caso. Encontrando-me com ele na prefeitura, tornou o exato conhecimento do meu caso, telefonou ao gerente do INPS de Novo Hamburgo marcando um encontro com ele para as 14 horas do mesmo dia. Decorrida uma semana, apareceu a minha aposentadoria certa de 2,15 salários mínimos. Ao agradecer ao senhor José Carlos, perguntei-lhe como conseguira em tão breve espaço de tempo resolver um abacaxi que já se estava arrastando há 14 meses, sem solução. Ele respondeu: “Fechei questão em ver o processo de sua aposentadoria. O funcionário começou então a procurá-lo numa pilha de processos. Cansado de virar processos sem encontrar o seu, quis desistir de continuar procurando. Insisti de ele continuar procurando e o último processo da pilha foi o seu. Por ser um abacaxi, ficou sempre para trás. O agente então ordenou ao funcionário que resolvesse até o dia seguinte.” Ao receber a minha aposentadoria corrigida recebi tão somente o valor histórico, sem correção monetária e sem juros de mora como me fora prometido. Dei graças a Deus por ver finalmente o meu problema resolvido. Porém, alegria de pobre dura pouco, pois com a implantação da Nova República a defasagem da aposentadoria chegou a alcançar o valor de quase um salário mínimo. Foi feito o recadastramento dos aposentados e voltei a receber certinho os meus 2 e meio salários mínimos até setembro de 1991. Daí em diante chegou a ser novamente quase igual a um salário mínimo. Quando me aposentei, foi nomeado diretor da escola o professor Nicolau Büttenbender – que a partir de 1984, além de diretor, leciona em dois turnos. Como o prédio escolar era de madeira e apresentasse sinais de deteriorização, principalmente a parede voltada para o lado sul, o senhor prefeito Romeo Benício Wolf, aprovei-tando a chance oferecida pelo MEC, contemplou Walachai com um novo prédio escolar, mais amplo e mais moderno, construído com tijolos à vista. Durante as férias, o prédio antigo foi demolido. As rochas sobre as quais descansava foram dinamitadas, o terreno todo terraplanado. Como não foi possível terminar o serviço até o início do novo ano letivo, temporariamente as aulas foram ministradas nas dependências do pavilhão da comunidade católica. A inauguração do novo prédio deu-se no domingo, dia 9 de setembro de 1984, com a presen176
ça da delegada de ensino da 2ª Delegacia do Ensino do Rio Grande do Sul, o senhor prefeito Romeo Wolf, o senhor vice-prefeito José Carlos Vier, o diretor do ensino municipal Osório Ernesto Schneider, o pároco Pe. Bráulio Weber, os professores Nicolau Büttenbender e José Albano Wickert, os alunos, toda comunidade de Walachai e de muitas pessoas das comunidades vizinhas. O evento foi comemorado com uma grande festa escolar. O atual prédio escolar abrange 2 amplas salas de aula, 1 cozinha, banheiros e secretaria. Tudo debaixo do mesmo telhado e não como anteriormente. No ano de 1991 a escola foi contemplada com uma cancha de esportes, encostada ao prédio escolar. Reinvindicação que o CPM alcançou do senhor prefeito municipal João Arlindo Mallmann. Assim, da primitiva e singela escolinha oratória, totalmente de madeira, Walachai evoluiu para uma escola onde os alunos gozam de um razoável conforto em seus estudos, com possibilidade de poder competir com as demais escolas municipais e, em nível superior a muitíssimas escolas do país. Contrastando com a atual situação escolar, quero mencionar que antigamente, os raros livros didáticos, canetas e lousas, serviam para todos os filhos de uma família, do mais velho ao mais novo. Caso ainda não tivessem estragado, acontecia até servirem para os filhos de outras famílias. Não ocorria como atualmente, o livro estar tão somente preparado para servir para um único aluno e no ano seguinte já ter sofrido modificações em sua nova edição. Um Resumo da Vida Escolar de Walachai: De 1866 até o presente ano de 1992, Walachai teve ao todo 15 professores e 5 prédios escolares e adaptação para sala de aula em 2 casas de moradia particulares. 1º prédio – construção própria para escola, construído em 1866. Serviu de escola até 1937 e de oratório até 1917. Nele lecionaram: - Cornélio Wickert – professor particular, paroquial de 1866 até o fim de 1871 – durante 6 anos. - Pedro Wickert – professor particular, paroquial de 1872 até 1917 – durante 45 anos. - João Büttenbender Sobrinho – professor particular, paroquial de 1916 até 1937 quando foi construído o 2º prédio. 2º prédio – construção própria para escola em 1937. Nesse prédio lecionaram até 14 de maio de 1962: - João Büttenbender Sobrinho – de 1937 até 1940 até pós-Páscoa, domingo de “Albis”. Ao todo lecionou durante 25 anos em Walachai. - Otto Büttenbender – professor particular, paroquial de 1940 até 1945, durante 5 anos - João Benno Wendling – professor municipal paroquial de 1948 até 14 de maio de 1962. 177
Turma de alunos da 4ª e 5ª sério no ano de 1971 à frente do 6º prédio escolar. À direita está Alberto Bütenbender, outrora professor paroquial em Linha Imperial, parente meu e de Mons. Antônio Guilherme Grings, quem bateu a foto.
3º prédio - Salão de Pedro Henrich, alugado e adaptado para sala de aula de 1940 até 1947. Nele lecionaram: - Maria Birck – professora normalista estadual de 18 de julho de 1940 até fim de ano letivo de 1942, durante um ano e meio. - Zely Teresa Seixas – professora municipal de 17 de junho de 1944 até fim do ano de 1944. - Iris Scheid – professora municipal em 1945. - Dora Teckmayer Câmara – professora municipal em 1945. - Emelda Müller – em 1946, durante 1 semestre. - Maria Hedy Weissheimer – em 1946. - Dora Teckmayer Câmara – professora municipal em 1946, durante o 2º semestre. - Consuelo Brasil Teixeira – professora municipal em 1946, durante o 2º semestre. 4º prédio – sala de visita de Guilherme Büttenbender Neto, alugada e adaptada parasala de aula em 1947, nela lecionou durante um ano letivo. - João Benno Wendling – professor municipal paroquial. 5º prédio – construção própria para escola. Nessa escola apenas se realizavam os exa-mes finais do ano letivo de 1947. Durante as férias um temporal o arrasou. 178
6º prédio – construção própria para escola, com duas salas de aula. Durou de 1962 até o fim do ano letivo de 1983. Nele lecionaram: - João Benno Wendling – professor municipal paroquial a partir de 15 de maio de 1962 até o fim do ano letivo de 1983, quando aposentado após 41 anos no magistério - José Albano Wickert – professor municipal, bisneto do prof. Pedro Wickert, de 15 de maio de 1962 até o fim do ano letivo de 1983. - Nicolau Büttenbender – professor municipal normalista de 2 de maio de 1978 até o fim do ano letivo de 1983. - Maria Vera Deimiling – professora municipal lecionou em curso supletivo noturno a partir de 26 de março de 1973 até o fim do ano letivo de 1974 – durante 2 anos. 7º prédio – construído no início do ano de 1984 com duas salas de aula, cozinha, banheiros, secretaria e cancha de esportes. A inauguração oficial deu-se em 16 de setembro de 1984. Nesse prédio leciona-se de 1984 até hoje, 1992. Foram os seguintes professores: - José Albano Wickert - Nicolau Büttenbender - Adriana Dieter – começou a lecionar a partir de 06 de abril de 1992, professora municipal responsável pela turma do PRÉ.
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22. Os Meios de Comunicação
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s primeiros moradores de Walachai vivem quase completamente privados de meios de comunicação. Com grande dificuldade conseguiam se comunicar com seus familiares e amigos que haviam deixado lá no além do mar. Os contatos eram raros e só por meio de cartas que levavam a Dois Irmãos, entregando-as aos cuidados de comer-ciantes, seus amigos, que tinham por sua vez, ligações comerciais com São Leopoldo ou com Porto Alegre. Esses últimos, fazendo valer a sua vez, se encarregavam de despachar a correspondência pelo correio e retirar do mesmo a correspondência destinada para Dois Irmãos, Walachai e entregando-a aos destinatários em mão própria de pessoas de Walachai que aparecessem em seus estabelecimentos comerciais. João Pedro (Johann Peter) Hoff, por exemplo, recebeu do professor P.F. Fares e de um amigo, Görg Klein, moradores em Masterhausen na Alemanha, carta trazida certamente por algum imigrante que veio no ano de 1868, para Walachai. Pena não se saber o nome desse novo imigrante de então. Só quando foi aberta uma agência do correio em Dois Irmãos iniciou-se um regular funcionamento do correio também em Walachai. Quanto a isso, Walachai estava então muito melhor servida de correio do que atualmente, em 1992. Pedro Dapper era o agente do jornal semanário “Deutsches Volksblatt”. Todas as quintas-feiras ia a Dois Irmãos buscar o jornal. Ao mesmo tempo levava também a correspondência daqui ao correio e de lá trazia a cor-respondência destinada para cá. Naquela época, como, aliás, durante longos anos, o despacho de uma carta comum era 300 réis. Um grande auxiliar na distribuição da correspondência aqui, como hoje ainda acontece, foi a escola, por meio de seus alunos. Devido a sua ida cada quinta-feira a Dois Irmãos, Pedro Dapper ficou apelidado de “Donnerstagspeter”. Numa mesma oportunidade, Pedro também realizava a compra dos artigos que faltavam em sua bodega. O transporte, realizava no lombo de burros, acomodando as 181
mercadorias em jacás ou sacos. Pedro comprava também ovos, manteiga, milho, pinhão e outros produtos agrícolas que revendia aos comerciantes de Dois Irmãos. Naquela época passava por Walachai linha telefônica para o Jammerthal e Pinhal Alto, às casas comerciais dali. Nós, daqui de Walachai, quando necessitávamos nos comunicar por telefone com Novo Hamburgo ou com outras cidades, tínhamos que nos dirigir a Morro Reuter, à casa comercial de Albino Sperb, onde atualmente mora Carlito Feltes. Não sei por qual razão, lá pelo ano de 1936, desapareceu aqui a linha telefônica para aparecer novamente pelo ano de 1986, com a instalação de telefone público, telefonia rural, na casa comercial de José Germano Weber. Assim temos, atualmente, possibilidade de comunicarmo-nos por telefone, com o mundo. É sem dúvida, muito útil e prático para chamar o veterinário, o inseminador, alguém em caso de falecimentos ou acidentes. Um dos mais eficientes meios de comunicação de outrora, foi sem dúvida, o semanário católico “Deustches Volksblatt” que surgiu em 1871, editado pela Tipografia do Centro, sendo seu fundador Hugo Metzler. Durante a 2ª guerra mundial foi proibido o alemão, e o jornal teve de ser editado em português, levando o nome de “A Nação”. Na mesma época a tipografia foi invadida e entregue a um quebra-quebra sob a alegação de ser quinta-coluna. Com a edição em português, diminuiu o número de assinantes daqui. Só após a guerra, quando apareceram os artigos de novo em alemão, aumentou outra vez o número de assinantes. Esse jornal desapareceu definitivamente devido a um incêndio que destruiu a tipografia. Surgiu então, em 1946, o “Jornal do Dia”, editado pelos padres do Verbo Divino, em Porto Alegre. Primeiramente era editado só em português e era diário. Depois passou a circular também com um suplemento semanário internacional. Se não estou enganado, em português, francês, inglês e alemão, que terminou só aparecendo em alemão com a denominação de “Michelsblatt”. Foi muito lido aqui no Walachai. Sua existência, porém, foi efêmera. Depois do Jornal do Dia, foi lido aqui durante muitos anos o Correio Riograndense, editado pelos padres capuchinhos de Caxias do Sul. Em decorrência da inflação, o jornal foi encarecendo sempre mais e o poder aquisitivo dos assinantes baixando, até ficar sem assinantes, em 1986. Voltou a circular novamente em 1990, após a visita de um padre, representante do jornal, que conseguiu angariar uma porção de assinantes. Atualmente, um jornal que aparece pontualmente a cada fim de semana é o Jornal Dois Irmãos, de responsabilidade do jornalista Alan Caldas. Outros jornais lidos aqui antigamente foram o semanário “Deutsche Post”, lido principalmente pelos evangélicos, e editado em São Leopoldo desde 1877 pela tipografia Rotermund; o bissemanário Serra Post, editado em Ijuí, desde 1910. Entre as revistas e almanaques lidos aqui, merecem destaque o Familienfreund - Kalender, editado pela Tipografia do Centro de Porto Alegre, a partir de 1912, sob a responsabilidade de Hugo Metzler, e o Kalender für Deutschen in Brasilien, a partir de 1881, editado pela tipografia Rotermund de São Leopoldo. E ainda, o Riogran182
denser Marienkalender, a partir de 1916, editado por I.R. da Fonseca em Porto Alegre; o Kalender der Serra Post, a partir de 1922, editado pela livraria Serrana de Ijuí; a revista Evangelisches Sonntagsblatt, a partir de 1887, editada em Novo Hamburgo pelo Sínodo Riograndense. A revista Skt. Paulusblatt, editada pelo Volkverein União Popular em Porto Alegre desde 1912, despareceu em 1988, pelo número cada vez menor de assinantes, devido já ao pequeno número de pessoas que ainda sabiam ler em alemão e em parte também devido à inflação. O Skt. Paulusblatt ressurgiu novamente das cinzas em 1989 reativado pela Fundação Pe. Theodor Amstad, com sede em Nova Petrópolis. Ainda eram lidas a revista Der Gemeidebote, a partir de 1922; Deutsche Evangelische Gemeinde, revista religiosa para os evangélicos; e a revista mensal Der Sendbote, do Apostolado da Oração. Também a revista Der Brombär, humorística em formato de jornalzinho, redigido por Afonso Brod, de Arroio do Meio. No tempo do Michelsblatt, Afonso Brod colaborou com seus artigos humorísticos, usando o pseudônimo Brombäre-Onkel. Atualmente, em 1992, ainda são lidos aqui: A revista mensal Família Cristã; o folheto do Apostolado da Oração, Espiritualidade e Ação – em português e em alemão; a revista jornal A Rainha, o Jornal de Dois Irmãos, A Ponte – publicação mensal entregue gratuitamente pela COAPEL de Nova Petrópolis aos seus fregueses de leite. E ainda O Livro da Família, almanaque em português, Jahrbuch der Familie em alemão, o jornal Correio Riograndense, Skt. Paulusblatt; O Gaúcho – jornal distribuído pela EMATER - RS, e ocasionalmente a Zero Hora e o Jornal NH. Observação: Em 1938 apareceu o almanaque, em alemão, Faline des hl. Ignatius, que atualmente tem a sua continuidade no Livro da Família e Jahrbuch der Familie. Um meio de comunicação antigo e que eu mesmo cheguei a conhecer foi a buzina do chifre. Era um enorme chifre de boi com a sua ponta cortada por onde se soprava, produzindo um som característico, alcançando boa distância. Essa buzina foi usada, principalmente pela dona de casa ou pela pessoa encarregada de preparar o almoço, para avisar o pessoal da roça que a comida estava pronta, que já era meio-dia; ou para avisar algum acontecimento ocorrido em casa, como por exemplo, a visita de uma pessoa, ou mesmo para comunicar acontecimento pelo qual se estava à espera. Para as mesmas finalidades da buzina do chifre, certas pessoas usavam uma velha lâmina de arado, pendurada num galho de uma árvore, perto da casa, na qual davam batidas com um martelo ou um pedaço de ferro. Também, sob senha combinada, usava-se colocar na ponta de uma cana de bambú um pano branco para se comunicar entre si moradores de um lado com moradores do outro lado do vale. Notícias de falecimento, de desastres, de recados urgentes corriam oralmente, céleres de vizinho a vizinho. 183
Pelo ano de 1934 apareceram em Walachai os dois primeiros rádios. Eram rádios-galena, com um ou dois pares de fones adaptáveis aos ouvidos. A estação era sintonizada por meio dos movimentos da agulha do rádio. Eu mesmo tive oportunidade de poder escutar tais rádios, pois os proprietários foram o meu avô Guilherme Büttenbender Filho e o meu tio, professor João Büttenbender Sobrinho. Em 1942, o tio João adquiriu um rádio a bateria. Foi o primeiro rádio daqui a transmitir em voz alta. Para não ficar sem poder escutar rádio, tio João possuía duas baterias. Para carregar as baterias o problema não foi pequeno no início. Era preciso levar, a cavalo, acomodadas em jacás, as baterias ao Rioloch, ao moleiro Balduino Dapper, que alugara o moinho do lado de cá da ponte Farroupilha, pertencente a Albino Kuhn e irmãos. Em 1953, Balduino Dapper comprou moinho no Frankenthal, tornando-se ainda mais problemático o carregamento das baterias. Quando uma bateria estava com a carga gasta era levada a quem possuía dínamo para carregar e se trazia de volta a outra bateria carregada. Como mais moradores foram adquirindo rádios a bateria, os moleiros Leopoldo Arnold e Albino Seger instalaram dínamos em seus moinhos e passaram também a carregar baterias, tornando-se este carregamento mais fácil. Meu pai, Nicolau Wendling Filho, adquiriu seu rádio a bateria em 1947, de José Einzweiler. Era um rádio com 3 faixas e com bastante potência. Em 1960 adquiri eu mesmo o primeiro rádio a pilha, em Walachai, por 10 mil cruzeiros, em 20.09.1960. Um “HITASHI” Transistor 8 WH 822 - MARINE - japonês, com duas faixas. Funcionava com 4 pilhas pequenas. Aguentou por muitos anos. Levando diversas quedas, quebrou-se a caixa e por ora está desativado. A partir 1960 começaram a cair em desuso os rádios a bateria, pois os rádios a pilha eram bem mais práticos e podiam ser deslocados ao bel prazer, o que não era possível fazer com os rádios à bateria. Houve gente que fez adaptar o seu rádio a bateria ao sistema da pilha. Quando em dezembro de 1961 Walachai foi servida, em boa parte, pela rede de energia elétrica, houve novo impulso na área da comunicação. Começaram a proliferar os rádios ligados à rede elétrica, existindo, em muitos casos, rádios nas duas modalidades, para evitar se ficar sem rádio, caso chegasse a faltar a energia elétrica na rede. Por último, apareceram os modernos rádios-gravadores, possíveis de funcionarem tanto a pilha como a corrente elétrica. Roque Lauxen, o então nosso comerciante instalado no salão do seu sogro, Albino Seger, foi o primeiro morador daqui a ter televisor, em preto e branco. Foi uma enorme novidade para Walachai. Na época, a copa de Roque Lauxen tornou-se pequena, pois dos quatro cantos da localidade afluíam curiosos para ver TV. A seguir mais famílias adquiriram TV em preto e branco. Em 30 de dezembro de 1981, adquiri eu a primeira TV a cores aqui em Walachai, um televisor MITSUBISHI, por cento e vinte e um mil cruzeiros, pagáveis em quatro 184
prestações à Eletrônica Fröhlich de Dois Irmãos. Já funciona há mais de 10 anos, praticamente sem compostura. Atualmente existem poucas famílias sem televisor. Com o aparecimento desses modernos meios de comunicação deu-se uma grande modificação no comportamento das famílias. Desapareceu quase por completo aquele antigo costume das visitas entre vizinhos, o hábito da leitura sofreu um declínio quase vertical. É mais cômodo ver um programa na TV e ao mesmo tempo estar tomando tranquilamente o seu chimarrão, do que estar agarrado a um jornal ou a um livro. Devido à TV, caiu muito a moral na comunidade, porque a maioria dos telespectadores não possui o adequado espírito crítico, achando que tudo o que aparece na TV está certo, não sabe que a maioria dos programas são maliciosos e que a culpa disso é dos apresentadores, dos patrocinadores e também, em parte nossa, que deveríamos protestar contra o que deseduca e destrói. Quem sabe um dia chegaremos lá! Como meio de comunicação não podemos omitir a arte fotográfica. Essa não existia entre os primeiros moradores de Walachai durante longos anos, pois não encontrei nenhuma fotografia de Mathias Mombach, de Jorge Mombach de João Wickert ou de outros morado-res dos primeiros tempos. Existem fotografias da família de meu bisavô, Guilherme Büttenbender e da festa de suas bodas de diamante em 1923; da família do professor Pedro Wickert e dele tirada em companhia de Francisco Braun, provavelmente em 1916; da família de meu avô paterno, Nicolau Wendling e da família de meu avô materno, Guilherme Büttenbender Filho. Os primeiros fotógrafos dos quais se tem notícias de que apareceram aqui e dos quais há fotos, foram Germano Grings – que acho que nessa época esteve domiciliado em Linha Imperial; Reinaldo Hendges – domiciliado em Porto Alegre; Augusto Hendges – domiciliado em São José do Herval e Cristiano Prass – domiciliado em Dois Irmãos. Na época desses fotógrafos, máquina fotográfica era bem diferente das atuais máquinas fotográficas “ultramodernas”. O fotógrafo estava sujeito à luz do dia, ao tempo e à hora mais favorável para fotografar. A máquina tinha de ser montada num tripé, ser ajustada e quando tudo isso estava pronto, colocava-se a chapa na máquina, sobre a qual era projetada a imagem, destapando a lente, contando “1, 2 e 3!” e tapada devia estar novamente a lente. Seu Cristiano Prass costumava dizer: “Atenção... agora vem o passarinho, 1, 2 e 3! Pronto!”. Pelo exposto percebe-se que o fotógrafo precisava de muita prática para tirar boas fotos. Muitas vezes, em ocasiões de casamento, a foto dos noivos foi batida após o dia do casamento, devido ao mau tempo. Então os noivos tinham de se dirigir à casa do fotógrafo. Em ocasiões de casamento costumava-se tirar uma foto dos noivos e outra dos noivos em companhia dos convidados. Por segurança batiam-se cada vez duas chapas. Meus pais, por exemplo, não tinham foto de seu casamento, certamente em consequência do mau tempo. Melhor sorte não tiveram muitos noivos antes de 1940. 185
Quando eu casei, em 1947, no Jammerthal, o fotógrafo veio de Nova Vila, perto de São José do Hortêncio e o processo ainda era o mesmo. Por sorte fez um dia lindo. Ainda não existia outra foto a não ser em preto e branco. As primeiras fotos coloridas que eu possuo em meu álbum datam de 16 de dezembro de 1970, tiradas por ocasião da ordenação para diácono de meu irmão Guilherme Wendling, lá na igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Lajes, no estado de Santa Catarina. Não sei se nessa época já existia a arte fotográfica a cores em Dois Irmãos. Atualmente, em 1992, graças aos ultramodernos aparelhos fotográficos, farta documentação gráfica ocorre principalmente por ocasião de casamentos. Quase sempre se faz até a filmagem dos acontecimentos. Por último, quero ainda mencionar outro meio de comunicação muito importante, a vitrola ou o gramofone com o seu enorme alto-falante em forma de um imenso funil. Funcionava à base de corda constantemente acionada por meio de manivela. Embora não pudesse chegar perto da potência e da perfeição de som dos atuais toca-discos era para aquela época uma maravilha. Tenho conhecimento de apenas dois desses aparelhos aqui em Walachai: gramofone do tio Guilherme Büttenbender Neto e de outro do meu tio e padrinho João Wendling.
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23. Agricultura
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s primeiros moradores de Walachai tiveram que aprender novas técnicas de cultivo. Aqui tiveram que penetrar na mata virgem com suas árvores gigantescas, abraçadas entre si por meio de toda a sorte de cipós, habitada pelos índios e por muitas espécies de animais selvagens, alguns ferozes e por eles desconhecidos. Cada qual dos primeiros colonos recebeu, conforme a afirmação de pessoas idosas, uma colônia de terras com 100 braças de largura por 1600 braças de comprimento. Essas colônias se esticavam de um e do outro lado do travessão que corta Walachai pelo centro, indo se encontrar em seu comprimento com o travessão com a Picada São Paulo, no oeste, e no leste com o travessão com São José do Herval, respectivamente. Com a vinda de mais famílias de colonos e o desdobramento das famílias primitivas, as colônias foram sendo divididas, em parte também pela impossibilidade de acesso a toda a área. Um exemplo disso é a parte situada ao norte da igreja, cortada por um profundo vale com altos rochedos em cada lado. Era impossível chegar, pelas terras da própria colônia, ao travessão leste no outro lado do vale, como também, chegar ao travessão oeste, onde era impossível transpor o alto morro. Era preciso rodear o morro para chegar ao travessão oeste. Para tanto foi preciso abrir uma estrada de comum acesso a todas as colônias, perdendo-se assim muito tempo para alcançar as roças. Assim aconteceu de muitos moradores se desfazerem das suas terras de difícil acesso. Surgiu desse modo, o Batatenthal - o Vale das Batatas. Atualmente não existe mais morador cujas terras vão de travessão a travessão. Não foi fácil derrubar a mata virgem a golpes de machado para ceder lugar às roças. Semanas a fio era todos os dias o mesmo serviço: derrubar mato. Feita a queimada e preparado o terreno, procedia-se o plantio. Entre os primeiros moradores, as principais culturas de verão foram feijão, consorciado com milho amarelo; fumo, arroz e amendoim consorciado em parte com melancia, melão 189
ou pepino; mandioca e aipim, consorciado no inverno, com trigo ou linho ou aveia para semente; milho branco, sem consórcio. Nas culturas do milho, do fumo e do feijão, costumavam plantar, espaçadamente, abóbora. As principais culturas de inverno eram o trigo, cevada, centeio, linho e aveia para semente e para pasto. A cultura de batatinha ficou reduzida quase exclusivamente para o consumo da família. Comercializados foram principalmente feijão, fumo, amendoim, arroz, banha e o milho excedente. O transporte era feito tão somente no lombo do burro ou do cavalo. O trigo e o centeio forneciam a farinha para o pão cotidiano. Com o passar dos anos introduziu-se o uso da farinha de milho misturada com a farinha de centeio, para fazer o pão. Durante certo tempo os primeiros moradores se viram obrigados a levar os seus cereais aos moinhos em Dois Irmãos a fim de serem reduzidos em farinha. João Pedro Hoff, marceneiro de profissão, que deve ter-se domiciliado aqui de 1847 a 1848, construiu o primeiro moinho, resolvendo assim esse grave problema. Do amendoim o moleiro extraia o azeite indispensável na iluminação das casas, do linho, o óleo usado nas pinturas. Do caule do linho, os primeiros moradores teciam as suas fazendas para suas roupas de semana, para a sacaria, cordas e roupas de cama. Para os serviços de fiagem e tecelagem haviam trazido aparelhos apropriados da Alemanha. Na falta do azeite usava-se banha nos candeeiros. Muita atenção se dava à criação de patos, gansos, marrecos, por fornecerem penas para a fabricação dos cobertores e dos travesseiros. Os colchões recheavam-se com palha de milho. Do leite obtinha-se nata, coalhada, requeijão e queijo. Do soro do leite obtinha-se o vinagre e da nata, a manteiga. Essa se conseguia com o uso do aparelho denominado “Butterfass”. Ovos e manteiga vendiam-se nas quintas-feiras, cada semana, às casas comerciais em Dois irmãos, depois em Morro Reuter ou aqui mesmo. Nas sextas-feiras os comerciantes varejavam esses produtos e outros em Hamburgo Velho ou em São Leopoldo. Com o dinheiro da venda de ovos e da manteiga, os colonos compravam o que lhes faltava na cozinha, como o açúcar, sal, erva-mate, fósforo, café, tempero, etc. Quando previam que o dinheiro não daria para as suas compras, levavam junto algum outro produto. Naquela época, sem inflação, muitos colonos tinham o costume do uso do caderninho de vendas e compras e de tempo em tempo, geralmente após a venda da colheita do feijão, do fumo ou de outros produtos, ajustavam as contas com o comerciante. Uma prova disso nos deixou o professor Pedro Wickert, que após anotações de seu diário de viagem ao Brasil, continuou na mesma caderneta as suas anotações econômicas. Já antes de 1900 existiam aqui duas funilarias. É que para a exportação, o fumo e a banha tinham que ser enlatados. Nos primeiros tempos o colono não necessitava comprar carne, pois a caça era abundante, os porcos se carneavam porque valor só se dava à banha. Mas no decorrer dos anos, os papéis se inverteram. A terra foi enfraquecendo. Muitos colonos emigraram para Estrela, mais tarde para Cerro Largo, Santo Cristo, Campina das Missões, Selbach e Itapiranga. Os colonos que ficaram finalmente encontraram uma saída com 190
o surgimento do adubo químico. A introdução do adubo químico aconteceu de maneira toda singular: meu pai, Nicolau Wendling Filho, impossibilitado de trabalhar na roça durante nove meses devido a um grave ferimento na rótula do joelho, com um golpe de machadinha ao dar os últimos retoques em tabuinhas, sofreu uma séria infecção. Após um tratamento rudimentar em casa, sem sucesso, só com agravantes, foi preciso transportá-lo, em cama de campanha, nos ombros de pessoas vizinhas, ao médico Dr. Ricardo Spring, em Dois Irmãos. Foram necessárias duas intervenções cirúrgicas na perna para livrá-lo do acúmulo de pus. Como nessa época, em 1936, ainda não existia hospital em Dois Irmãos, o pai ficou acomodado na casa do tio Pedro Büttenbender. Ali permaneceu durante 3 meses sob cuidados médicos. Estando fora de perigo de perder a vida, o tio Nicolau Böff o trouxe para casa de carroça. Por passatempo o pai lia e relia um almanaque “Familien Freund Kalender”, além de jornais e outros livros. Num desses almanaques topou com um artigo sobre o uso do adubo químico e os esplêndidos resultados obtidos com uso do mesmo. Leu o artigo várias vezes e foi se interessando pela droga. Quando, após nove meses, a perna estava completamente sarada, constatou que não conseguia mais dobrar o joelho. Com o auxílio de muletas exercitou-se novamente na arte de andar. Mas a perna continuava dura. Quando pôde abandonar as muletas e vendo ser-lhe impossível retornar aos serviços da roça, pois podia andar, mas apoiado em bengala, pensou em ganhar a vida de outra maneira. Aconselhado pelo tio Lino e por outras pessoas, decidiu fazer biscates, com roupas e outros artigos, na comunidade e nas localidades vizinhas, a cavalo. No início, acompanhado pelo tio Lino Büttenbender, ia a Porto Alegre fazer as compras de roupas, jóias, etc. Para tanto, tinham que ir a cavalo até Hamburgo Velho. Aí paravam na casa do primo Pedro Feiten ou Pedro Boll. Dali em diante prosseguiam a viagem para Porto Alegre de trenzinho (veículo muito parecido com ônibus que se movimentava pelos trilhos da via férrea, com embarque e desembarque dos passageiros nas estações da estrada de ferro). Feitas as compras, voltavam. A viagem durava no mímino dois dias puxados. O vovô Guilherme Büttenbender fizera para o pai uns caixotes de madeira em que podia acomodar as mercadorias com segurança, sem perigo de quebrar. Os caixotes o pai ajeitava nos jacás presos na sela do cavalo. E assim aventurou-se ao negócio, percorrendo a localidade e as localidades vizinhas. No início necessitava de ajuda para montar e apear do cavalo. Muitas vezes não voltava para casa à noite. Todos tinham pena dele. Embora isento de impostos por intermédio do intendente Cel. Teodomiro Porto da Fonseca, o “biscate” não dava muito dinheiro e era cansativo. O pai enjoou dessa vida. Resolveu tentar de novo trabalhar na roça. Custou para se acostumar novamente. A perna dura o atrapalhava imensamente. Mas não desanimou e acabou adaptando-se à nova situação. Como as terras mais fáceis de se trabalhar produziam cada vez menos, veio-lhe a mente aquele artigo que lera e relera sobre a aplicação de adubo químico. Apanhou aquele 191
almanaque e mais uma vez recapitulou o artigo. Decidiu experimentar aquela droga. Por intermédio do comerciante de Dois Irmãos, Oto Holler, conseguiu um saco de 50 kg de adubo químico, marca TREVO, específico para a cultura de batatinha. Com esse adubo plantou 3 sacos de batatinha, seguindo as instruções daquele artigo: aplicar uma colherada de adubo em cada cova. O restante das batatas plantou como de costume. O resultado da experiência foi espantoso. Os pés de batatinha plantados com adubo superavam os outros pés em dobro na altura, pés vigorosos, triplicando a colheita em relação aos plantados tradicionalmente. O sucesso da experiência era comentado em toda a picada. Isso foi pelo ano de 1940. Na cultura seguinte já arriscou 5 sacos de adubo. Experimentou plantar milho e mandioca com o adubo, obtendo igualmente ótimo resultado. A fama dessa droga milagrosa propagou-se rapidamente por todas as localidades vizinhas e aonde o pai chegava, colonos curiosos pediam informações. Não demorou e todo colono passou a fazer uso de adubo químico em suas terras esgotadas. Com isso, o colono sujeitou-se a gastos mais elevados em suas culturas. Na cultura da batatinha corria o risco de o batatal ser atacado por doenças: a pinta preta, a requeima, a murcha, a infestação de insetos, principalmente na cultura do verão. Não raro acontecia haver prejuízo em vez de lucro. Lá pelo ano de 1952, iniciou a visitar os colonos em diversas localidades do então município de São Leopoldo, o engenheiro e agrônomo Dr. Clemente Goeffert. Ao mesmo tempo, Dr. Clemente Goeffert era funcionário da Secretaria da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul e da Associação Rural de São Leopoldo. Trabalhava durante certos dias da semana num lugar e certos dias em outro. Para auxiliá-lo na execução de seus serviços, a Secretaria pôs à sua disposição um velho jipe que, não poucas vezes, o deixou em sérios apuros em suas visitas ao interior. Em cada localidade visitava, periodicamente, colonos dispostos à inovação tanto na agricultura como na pecuária. Aqui em Walachai visitava a escola, o domicílio de Lino Büttenbender, de Guilherme Büttenbender Neto e de meu pai. Outras pessoas, desejosas em inovações em suas propriedades, estavam convidadas a comparecerem regularmente nas casas dessas 3 famílias. Ele instruía os colonos de como plantar corretamente, como evitar doenças nas culturas e na criação de animais. E caso surgissem, como combatê-los. Caso necessário, providenciava a vinda do veterinário, tratando-se de animais. Providenciava sementes selecionadas de batatinha, de feijão, de milho, de sorgo, de arroz, de nabo forrageiro, de trigo mourisco, de araruta, de capim bangola, de mucuna, de tremoço, mudas de cana-de-açúcar, de aipim, de mandioca e de árvores frutíferas. Sabendo ser a cultura predominante da localidade, a batatinha, fez visitas às roças e constatou que todos os colonos estavam trabalhando com sementes de batatinha totalmente degeneradas e sem os devidos tratos culturais. Esforçou-se em convencer os colonos da necessidade de pulverizar preventivamente os batatais com fungicidas contra o ataque da pinta preta e do requeima, evitando assim um fracasso total. Ninguém, porém, dava bola à sua conversa, nem acreditava na sua doutrina. Tio Lino e 192
tio Guilherme, meio a contra gosto, enfim compraram cada qual, pulverizador costal manual, mas para pulverizar os pessegueiros e as ameixeiras contra o ataque da mosca da fruta, e as figueiras contra a queda das folhas antes do amadurecimento dos figos. Certo dia o senhor agrônomo veio visitar a escola. Bateu um papo comigo e com os alunos sobre agricultura, sobre problemas que descobrira existirem na localidade e como resolvê-los. Distribuiu folhetos sobre o uso correto do adubo, sobre o trato cultural da batatinha, das árvores frutíferas, sobre doenças dos animais e o combate das mesmas. Recomendou encarecidamente a necessidade da pulverização das batatinhas com fungicidas e das árvores frutíferas com inseticidas. Li e reli todos os folhetos de cabo a rabo. Em sua próxima visita propôs-me a compra de um pulverizador, para que eu me prontificasse para uma experiência de pulverização de batatinhas, já que todos achavam ridícula a sua conversa. Topei a parada. Em sua visita seguinte, trouxe-me um pulverizador costal manual, marca HATSUTA, de fabricação japonesa, ao preço de 929 cruzeiros e 70 centavos. A compra foi direta com a Secretaria da Agricultura. Deixou-me também 1 kg de fungicida cúprico e 1 kg de insetecida Agronese para o combate da mosca da fruta. Isso foi em 05 de janeiro de 1955. Curioso, seguindo as instruções do agrônomo, tratei os pessegueiros e as ameixeiras contra o ataque da mosca da fruta. Embora já bastante tardio, o tratamento acusou ainda algum resultado positivo. Todos os bataticultores queixavam-se da morte de seus batatais devido ao ataque da pinta preta. Também a parte do meu batatal sem pulverização, se foi. O trecho da experiência com a pulverização resistiu e chegou à plena maturação, dando um ótimo rendimento. Tornei pública a minha experiência e isso surtiu efeito. O senhor agrônomo sentiu-se imensamente prestigiado e as suas prédicas adquiriram credibilidade. A partir daí, de plantio para plantio, sempre mais moradores foram adquirindo pulverizadores. A maioria por intermédio do senhor agrônomo – por fornecê-los a preço mais acessível e de melhor qualidade. E hoje, ninguém mais planta batatinha sem pulverizá-la e sem observar os tratos culturais recomendados por aquele agrônomo, pois ao contrário o fracasso seria bem provável. Daqui de Walachai correu célere a notícia do êxito da nova técnica pregada pelo agrônomo, Dr. Clemente Goepfert. Atualmente a pulverização é bastante facilitada e menos penosa com o uso dos pulverizadores a motor. O primeiro a usar pulverizador a motor aqui fui eu. Adquiri-o por meio de Walter Seger, então sócio da firma “Kaiser” de Nova Petrópolis. Foi um pulverizador da marca “Holder”, importado da Alemanha. Financiei-o pelo Banco do Brasil em 03.03.1970 ao preço de 1.200 cruzeiros, em duas prestações. Hoje, 24.06.1992, encontra-se ainda em condições de perfeito funcionamento. Naquela época, no governo da Revolução de 1964, denominado de “o governo da ditadura militar”, o colono obtinha com facilidade financiamentos pelo Banco do Brasil. O banco financiava o adubo, fungicidas, inseticidas, corretivos do solo, máquinas, sementes, forragem para animais... Tudo a juros módicos, acessíveis. Não como agora, em 193
1992, quando os financiamentos pelos bancos são proibitivos para os colonos, salvo se quiserem se enfunerar. Na minha opinião, o governo que mais favoreceu ao pequeno produtor até hoje, foi o governo da Revolução de 1964. Como já mencionei, o Dr. Clemente Gopfert diagnosticara alto estado de degeneração de nossa batata. Concluiu pouco adiantar esse novo processo revolucionário de cultura sem providenciar sementes novas aos plantadores. Não descansou até ver realizado seu sonho. No colégio Cristo Rei em São Leopoldo, entregou aos irmãos jesuítas pequena quantidade de semente nova de batatinha rosa, criada no instituto agronômico de Domingos Petrolini, em Pelotas, denominada “Gaúcha”. Essa plantação não passou do tamanho de uma horta caseira. De início foi uma variedade muito resistente às doenças. Certo dia o senhor agrônomo convidou-me para acompanhá-lo ao colégio Cristo Rei, para uma visita ao pequeno batatal. Fiquei de boca aberta ao deparar-me com os pés de batatinha como nunca vira em minha vida. Pedi ao irmão responsável pelo cultivo, que me cedesse alguns tubérculos, após feita a colheita. Cedeu-me 9 tubérculos. Plantei-os imitando o cultivo feito pelo irmão, menos pulverização. Dos nove pés colhi duas quartas de batata, fato que aqui jamais alguém vira. O irmão continuou a multiplicação da semente sob a orientação do senhor agrônomo. No plantio seguinte, o senhor agrônomo escolheu meu pai para continuar a multiplicação da semente em sua propriedade, que ele sabia estar livre da terrível murcha. Escolheu apenas um plantador para facilitar a inspeção. O pai foi junto com o comerciante Felipe Seger Sobrinho, dono do caminhão, buscar a batata-semente no colégio Cristo Rei. Trouxe 30 sacos de semente. Mas alegria de pobre dura pouco. O irmão, devido à falta de chuva, fizera irrigação ao batatal e como a terra era arenosa e o sol muito forte, a irrigação prejudicou a semente. Quando chegou o dia do plantio, apenas me restaram duas quartas de semente, tendo apodrecido o restante. O pai foi mais feliz, tendo apodrecido de suas mudas aproximadamente a metade. Das duas quartas cheguei a colher dois sacos de batata. O pai, apesar da perda, fez uma colheita bastante satisfatória. O sr. agrônomo pediu que fizéssemos mais um plantio antes de ceder semente a outras pessoas. Foi aquele sucesso de colheita! Eu cheguei a colher 16 sacos por saco plantado e o pai 14 sacos por saco plantado. Em cultura de batatinha nunca se vira aqui coisa igual. É claro que a disputa para conseguir semente foi enorme entre os bataticultores daqui. Com a ajuda do senhor agrônomo procurou-se contentar a todos. No plantio seguinte, cheguei a colher de meio saco de semente do tamanho de um ovo de galinha, onze sacos e grande quantidade de tubérculos pesando acima de um quilo cada qual. Novo ânimo e maior gosto para trabalhar tomaram conta de todos os trabalhadores rurais da localidade. Também o senhor agrônomo ficou eufórico pela resposta recebida pelos colonos à sua pregação. Animado por esses estupendos resultados, conseguiu, por meio da Secretaria da Agricultura, arrumar sementes de batata branca, da Alemanha. Vieram semen194
tes de batata branca das variedades “Benedicta e Jacobi”. Ambas as variedades foram de alta produtividade, sendo, porém, dentro de pouco tempo abandonado o cultivo da “Jacobi” por ser de gosto inferior. Também o cultivo da “Benedicta” foi diminuindo até desaparecer, por ser de preço inferior à rosa, no mercado. Em questão de rendimento igualava à “Gaúcha”. Durante boa porção de anos, a “Gaúcha” prosperava bem, caindo, porém, em degeneração. Foi então introduzida a variedade “Baronesa”, denominada popularmente de “Chupeta”, devido à sua forma alongada. Praticamente essa é a única variedade hoje cultivada. É preciso adquirir semente nova após cada três ou quatro anos de plantio, porque geralmente já está em degeneração. A semente nova obtém-se por intermediário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Dois Irmãos ou por intermédio da COAPEL de Nova Petrópolis. Vem direto da estação genética de Canoinhas, do estado de Santa Catarina. Embora essa semente seja bastante cara é, contudo, vantajoso adquiri-la. Com a procura de operários pelas fábricas de calçados de Dois Irmãos, com o desestímulo à agricultura por parte do governo e na impossibilidade de adquirir terras, as forças jovens de Walachai optaram para trabalhar nas fábricas de calçados: A. J. Wirth, Travesso, Maide, Kuntzler, Henrich, na Madeireira Herval ou em firmas construtoras. Pelo ano de 1985, A. J. Wirth abriu aqui a sua filial nº 3, absorvendo o maior número de operários daqui. Não tivessem surgido essas oportunidades de trabalho, grande parte das famílias de Walachai estaria bastante mal de vida. Se os operários tivessem de comprar tudo com o seu salário, também passariam por uma vida apertada. Acontece, porém, de em cada família trabalharem ainda pessoas na roça, produzindo alimento barato. O operário por sua vez, tem casa, roupa cuidada, comida barata, água e, além disso, pode, aos sábados e nas férias, dar uma mão na roça. Assim sucede que a família unida leva uma vida bastante boa. Atualmente, boa parte das famílias planta menos batatinha e outras culturas que exigem bastante investimento sem segurança de lucro, e optaram pela acacicultura – que não exige outro investimento além do próprio trabalho e dá um bom lucro. Pelo ano de 1950 deu-se uma mudança bastante marcante na vida econômica de Walachai. A indústria de lacticínios Hamburguês de Jacobs Cia Ltda. entrou aqui em busca de leite, que terminou com a fabricação da manteiga, do requeijão e da nata. Waldemar Zilles, ferreiro e morador próximo à entrada da BR 116 para Santa Maria do Herval, vinha todas as madrugadas, com uma carreta puxada por um burro, até a capela de São Nicolau, apanhar o leite. Mais tarde, devido ao serviço na ferraria, empregou rapazes para fazer a coleta do leite. A quantidade do leite era medida à vista do fornecedor e anotada num caderninho. Mas o pagamento, muitas vezes, vinha em atraso. A partir de então, a carreta foi substituída por burro. No lombo desse animal o transporte era feito em latas apropriadas e adaptados na cangalha. A coleta iniciava-se no Vale das Batatas, contornava o morro, continuava pelo centro e terminava à beira da BR 116, na entrada para Herval, onde o leite era passado para outras latas 195
do caminhão da indústria, quando vinha da coleta feita em outras localidades e terminava na usina do leite em Novo Hamburgo. Como no decorrer dos anos aumentara o número de fornecedores de leite, tornando impraticável o transporte do mesmo no lombo do burro, e como as estradas ofereciam certa garantia de circulação dos carros, Jacobs resolveu coletar o leite com o caminhão. Ao mesmo tempo aceitava pedidos para fornecimento de gêneros alimentícios e de ração para animais a ser descontado da conta do leite. Isso foi de grande proveito para os fregueses. Um fato, porém, aborrecia os fornecedores, que era a demora no pagamento do leite. Isso preparou o terreno para o surgimento da concorrência. Foi o que aconteceu em 25 de setembro de 1973, quando a recém fundada Cooperativa Agropecuária de Nova Petrópolis Ltda. - COAPEL Piá, angariou aqui sócios e iniciou também a coleta do leite. Com seu pagamento pontual, pelo dia 10 de cada mês, forçou a sua rival também a um pagamento mais pontual. Atualmente, Jacobs coleta o leite no Vale das Batatas e dos moradores da estrada de Santa Maria do Herval, enquanto a COAPEL faz a coleta no centro de Walachai. Gualtério (Walter) Blume foi o primeiro puxador de leite em seu jipe, em sub-linha até a BR 116 no Morro Reuter. Certa manhã ao descer o trecho de estrada compreendido entre a então casa comercial de Cirilo Meurer e a faixa federal, o jipe ficou sem freio e despencou-se do alto do barranco no leito da faixa. As latas com o leite se esparramaram pela faixa e seus arredores. O jipe despedaçara-se e Walter ficou gravemente ferido, com várias fraturas pelo corpo, tendo que ficar hospitalizado no hospital São José de Dois Irmãos, durante bastante tempo. Em decorrência desse acidente Walter sofreu durante vários anos e talvez tenha até contribuído para a sua morte prematura em 17.10.1990. Então a COAPEL resolveu fazer linha direta até Walachai. O puxador foi Ivo Kreuz. Tempos depois, Walachai passou a ser novamente sub-linha, sendo o puxador Dércio Arnold com a sua picape. Mas como o puxador da linha principal e o puxador da sub-linha foram relaxando o seu serviço, os fornecedores de leite ficaram descontentes e frequentes queixas justas fizeram junto à direção da COAPEL e esta se viu obrigada a fazer mudanças. Afastou esses dois puxadores e voltou a fazer novamente linha direta para Walachai. O novo puxador passou a ser Êrico Vogel, que até hoje exerce com fiel pontualidade o seu cargo. A COAPEL conta com mais de 30 sócios de Walachai e os Lacticínios Jacobs contam também com bom número de fornecedores. Na época da Segunda Guerra Mundial, certos moradores de Walachai tinham boa parte da renda com a cultura do píretro. Houve também uma época em que a cultura do moranguinho e da ervilha significou bom rendimento a boa parte dos moradores. Durante as décadas de 1940 e 1950, a suinocultura esteve também bastante próspera. Com os preços pouco compensadores, atualmente se cria porcos quase tão somente para o consumo próprio. O mesmo sucede com a criação de galinhas. Por ora, em 1992, a agricultura está em franco declínio. Onde outrora se via grandes roças, hoje é tudo mato. É que as atividades agrícolas não 196
são devidamente valorizadas. O colono, para colher bem, tem que investir bastante capital, sem saber se terá ou não lucro. As atividades agropecuárias da atualidade, dignas de menção acusam bataticultura, acacicultura, cultura do milho, do feijão, da mandioca, do aipim, do arroz; a criação de vacas leiteiras e a produção do leite; a criação de galinhas poedeiras; a cultura de hortigranjeiros e em menor escala a criação de suínos. Em tempos remotos, até pela década de 1950, Walachai produzia bastante pinhão. Foi uma boa fonte de renda, sem nada investir, a não ser ter coragem de trepar nos pinheiros, derrubar com varas de bambu as pinhas, coletá-las, debulhá-las e selecionar os pinhões. Existiam consideráveis pinhais, como na propriedade de Jacó Büttenbender, no potreiro e nas mediações onde mora Ivo Dieter; na propriedade de Albino Seger, na área compreendida entre a estrada geral e a estrada que vai por fora de Walachai; de João Wendling, no potreiro; de Roberto Dieter, na área que fica no lado oeste do salão e de Lino Büttenbender, nos potreiros. Hoje, possuem pinhais ainda a Comunidade Colônia Walachai, Lídio Klaus, José Hoff e Elmo Becker. Em muitas propriedades encontram-se pinheiros isolados. Durante a Segunda Guerra Mundial, devido à propaganda, surgiu intensa febre para a cultura do tungue – planta oleoginosa e de alta produtividade. Como o preço pago pelo produto era irrisório, ninguém mais se interessou pela cultura. Pelo contrário, todos os cultivadores derrubaram as árvores para dar lugar a outras culturas. Nem de lembrança restou um pé. Observação: Curiosidade em relação à batatinha: no meu tempo de criança, por muitas pessoas idosas, a batatinha em vez de “Kartoffel” era denominada de “Grummbeere” que em bom alemão significa “Grundbeere”; ou “Pomme de Terre”, que em nossa língua seria “pomo ou fruto da terra”. Talvez a expressão “Grundbeere” degenerada para “Grummbeere” tenha a sua origem no fato de o primeiro morador de Walachai, Mathias Mombach, falar melhor o francês do que alemão. Ele talvez traduziu a expressão do francês para o alemão.
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24. Diversões – Lazer – Festas
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s primeiros colonos trabalhavam de segunda a sábado à noite. Os seus descendentes procederam também assim até o ano de 1960. Aos domingos, quem podia ia à missa em Dois Irmãos. Quem ficava em casa rezava o terço, fazia a leitura do evangelho dominical com outras orações, principalmente com a recitação da ladainha adequada ao tempo litúrgico do ano. Depois do meio-dia, após o almoço que também era melhorado aos domingos, se tirava um cochilo, principalmente no verão. A seguir, se não tivesse chegado visita, ia se encontrar com alguém da família vizinha. Então, primeiramente se comentava durante a roda do chimarrão as atividades de cada qual durante a semana, as novidades locais, municipais, do país e do mundo, sendo que as notícias do país e do mundo normalmente já estavam defasadas. Após a roda de chimarrão, os homens se entregavam, para passatempo, a um joguinho de cartas: matador ou “Schaafkopf” ou “Eckstein-Wips” ou “Blinder” ou “Mauschel” ou “Sieben-Stich” ou mula, entre outros. As mulheres, além de cuidar das crianças, passavam o tempo conversando sobre os mais variados assuntos: arte culinária, costura, floricultura, educação e cuidados com as crianças. Muitas vezes a fofoca também não escapava. Já no meu tempo, lá pelo ano de 1940, o mundo feminino jogava víspora por passatempo. As crianças da escola costumavam visitar seus colegas, assim como moços e moças se visitavam, mas cada qual dentro de sua categoria. Época houve, anterior a 1900, em que funcionava aos domingos à tarde uma cancha de corrida de cavalos, lá na zona do cemitério evangélico, perto da estrada que vai por fora de Walachai. Minha mãe contava que ali o meu avô, Nicolau Wendling, num só domingo perdeu em apostas todo o dinheiro que recebera de presente no dia de seu casamento, uns cinqüenta mil réis – soma não desprezível na época. Nas noites de luar, de tempo bom, ou em dias chuvosos, os colonos frequentemente se visitavam para bater um papo, resolver algum negócio ou problema, enquanto tomavam 199
chimarrão; ou então, para visitar alguém que estivesse doente. Costumava-se também, em dias chuvosos, ler ou escrever cartas a familiares ou amigos. Na época dos primeiros imigrantes, os dias santos de guarda eram numerosos. Os dias de chuva eram também aproveitados para espalhar milho, selecioná-lo para ser levado ao moinho ou ao armazém. O debulhar do milho era feito à mão na maior parte das famílias, o que terminava muitas vezes com bolhas nas mãos. Cabos para enxada, machado, foices, picaretas, consertos de arreios e utensílios, eram serviços quase sempre executados em dias chuvosos. Havia também os amigos da bodega que ali se encontravam para bater um papo, tomar um trago ou mesmo para fazer um joguinho de cartas e, às vezes, também para fazer fofoca, principalmente nas épocas de eleições. O nascimento de um bebê era bastante festejado. A rigor, no primeiro domingo após o batizado, à tarde, todas as vizinhas devidamente convidadas, reuniam-se na casa do recém-nascido para celebrar o acontecimento com um gostoso “Kinderkaffe”. É claro que ninguém se esquecia de levar o seu presente ao recém-nascido. O batizado realizava-se o mais depressa possível, mesmo que se tivesse que levar o bebê para a matriz de Dois Irmãos. Os aniversários muitas vezes transcorriam despercebidos, a não ser o aniversário do avô e da avó, homenageados pelos pais através de seus filhos. A homenagem consistia na recitação de uma poesia apropriada, seguida da oferta de um presente, acompanhado com um ramalhete de flores bem caprichado. Os casamentos eram bem diferentes que os da atualidade. Aconteciam somente durante a semana, nunca aos sábados e domingos. De manhã, noivos, familiares, convidados e a maior parte das famílias da comunidade compareciam à igreja – essa um pouco melhor enfeitada do que normalmente. Antes de iniciar a missa ocorria o casamento com o rito, parte em alemão e parte em latim. Após, seguia-se a missa solene, cantada em latim. Noivos, comprovadamente já com o bebê encomendado ou que co-habitavam antes do casamento, lhes era negada missa solene em repúdio de sua atitude. Para o noivo, o traje a rigor era fatiota preta com pequeno ramalhete de flores brancas na gola do casaco, camisa branca e botina preta. Para a noiva, vestido preto comprido, grinalda branca sobre a cabeça e sapato preto. Mais tarde o noivo passou a usar sapato preto e a noiva vestido branco, sapato branco e véu branco mais comprido do que o vestido. E ainda grinalda branca sobre a cabeça. Houve algumas outras pequenas variações no trajar dos noivos. A festa de casamento realizava-se na casa de um dos noivos onde os preparativos e as acomodações dos convidados exigiam, na maior parte das vezes, muita “astúcia” e empréstimos de utensílios dos vizinhos. Via de regra, era servido um almoço, constando de sopa aprimorada, batatinha, chucrute, massa, arroz, carne de porco e de rês assada no forno. Sobremesa, quando havia, era ameixa japonesa, pêssego ressecado, chuchus, marmelo, coco ou sagu. O bolo para os noi200
vos apareceu bem mais tarde. Não me recordo se em nosso casamento em 1947, já existia o bolo dos noivos. As bebidas eram chimarrão, antes e depois do almoço e em abundância, vinho, refrigerante feito de vinho açúcar e água, refrigerante feito de ananás ou de gengibre (Spritzbier) ou de limão. Bem mais tarde apareceu o refrigerante a base de framboesa, bem mais cômodo de se preparar. Antes do almoço passava-se uma ou mais garrafas com cachaça e desse aperitivo servia-se quem o desejasse. À hora do almoço era costume alguém recitar aos noivos uma poesia apropriada, e cantava-se algum canto de congratulação.Como “Sie leben hoch”... Após o almoço via-se gente espalhada pelas dependências da casa, do galpão ou pelas mesas armadas debaixo das árvores ou no pátio, entretendo-se em alegre conversa. Nunca faltavam também aqueles que ajeitavam parceiros para um joguinho de cartas nas mesas armadas embaixo das árvores ou improvisadas no galpão. À tarde, servia-se um festivo café com cuca, pão branco com manteiga e alguns tipos de bolo. Naqueles tempos as bebidas eram conservadas em temperatura ambiente, pois ainda ninguém so-nhava com refrigeração. É raro encontrar fotografias de casamento de antigamente. Além de então os fotógrafos terem sido raros, estavam condicionados ao bom tempo. Assim preferia-se dispensar fotógrafo. Ao cair da noite, os convidados dirigiam-se para suas casas, permanecendo um ou outro convidado vindo de mais longe.
A Festa do Kerb Até 1917, Walachai festejava o Kerb juntamente com Dois Irmãos (Michelskerb). Com a inauguração da nossa igreja no 5º domingo de Páscoa, o Kerb começou a ser comemorado nessa data e se mantém até aos dias atuais: “Kirchenweihfest” - festa da sagração da igreja. Na véspera do Kerb era levantado um mastro octagonal, alto, bem lisinho, denominado “Kerbebaum” – defronte ao salão Kappes, depois salão Henrich. O topo do mastro era enfeitado com cacho de palmeira em flor, salientando-se a “Kerbeflasche” enfeitada com tiras de papel colorido. Essa “Kerbeflasche” era uma garrafa de cerveja e fazia jus ao craque que conseguisse durante a festa subir no mastro, calçado com suas botinas. Naquela época o calçado da festa era a botina. A consquista da “Kerbeflasche” era uma competição muito acirrada e divertida e quem o conseguia era o tal herói: “o rei do Kerb”, “der Kerbebub”. O interior do salão era ornamentado por um tipo todo singular de enfeites, feito de papel colorido que, ao ser aberto, formava um globo multicor alveolado. Ficava pendurado onde se cruzavam as tiras do papel colorido que partiam diagonalmente de um lado dos cantos do salão para os cantos opostos. 201
O ponto alto do Kerb era, porém, a celebração da missa festiva cantada em latim, no domingo de manhã. O padre celebrante abrilhantava a solenidade com um esmerado sermão. Nesse dia, seis coroinhas contribuíam para a missa ser mais solene. Dois dos coroinhas eram encarregados de servir ao celebrante no altar, dois cuidavam da manutenção das brasas acesas no turíbulo e dois eram responsáveis pelo soar do “sanctus”. Surgiam da sacristia trazendo cada qual uma vela acesa, aguardando o momento de o Cristo tornar-se presente sobre o altar como homem, nosso irmão, sob as espécies do pão e do vinho. Após a comunhão as velas eram levadas de volta à sacristia. Para o dia de Kerb a igreja era enfeitada ao máximo. O altar todo em flores; 10 castiçais com velas novinhas ardiam durante toda a missa; uma enorme coroa de flores descia do meio do teto da igreja, na altura dos degraus do presbitério e prendia-se nas colunas de madeira do mesmo; os dois lados do altar bem como os da entrada da porta eram enfeitados com flores de palmeira. De todos os lados afluíam os convivas: a pé e a cavalo; em grupos e isolados. Ao sino espalhar pelos ares o convite para a missa, misturavam-se os sons festivos ao pipoquear dos foguetes e ao barulho ensurdecedor dos rojões. Neste momento era posto à prova o estado dos cabrestos das montarias. Muitos animais conseguiam então conquistar a liberdade, mal grado de seus donos. O último ato da missa era o solene “Grosser Gott...” cantado por toda a assembleia, aos toques dos sinos, das sinetas e do entoar dos rojões. Ao sair da igreja, lá fora, o povo era saudado por um belo dobrado pela bandinha ou pelas bandinhas, caso houvesse baile em dois salões. Após algumas “marcas” bem convidativas, dava-se o cortejo ao salão ou aos salões, pois houve “Kerbes” com baile no salão Seger e no salão Henrich ou no salão Wolf, na entrada do Walachai. Houve época em que havia baile no salão Seger e no salão de Pedro Dapper, que ficava onde está sendo construído o salão paroquial. O costume do “Kerbebaum” somente vingou no salão Kappes e depois no salão Henrich. Isso no tempo do nosso Kerb com o “Michelskerb”. Então não havia missa de Kerb aqui e os convivas que queriam assistir à missa tinham que se dirigir a Dois Irmãos. O cortejo aos salões após a missa só se deu a partir do ano de 1917. Quando o cortejo alcançava o salão era feito o leilão da “Kerbeflache”, enfeitadinha com uma gravata de cores berrantes. A seguir, aos alegres acordes da bandinha, parentes e amigos brindavam com alguns copos de cerveja geladinha “in natura” enquanto a juventude dançava graciosamente. Ao meio-dia, aos poucos o salão se esvaziava e aos quatro ventos formigavam as pessoas em direção das casas de seus parentes ou amigos, geralmente acompanhados por alguém da casa em mira. Era um desfile singular: gente a pé, a cavalo e até com jacás de onde apareciam rostinhos risonhos e curiosos de crianças. Nas casas dos parentes, os visitantes eram esperados com ansiedade e muita alegria, pois não raras vezes, era esse o único encontro durante o ano. Originava-se um verdadeiro entrevero de conversa, apressando-se cada qual para contar as novidades. Quem menos 202
participava da conversa era a dona da casa, ocupada com o preparo de tudo para o almoço, que acontecia após rápida mateada. Servia-se primeiramente uma sopa bem reforçada. Depois vinha batata, massa, arroz, chucrute, assado de porco feito no forno; tudo regado a vinho e refrigerante caseiro. A sobremesa era doce de pêssego ressecado, de marmelo ou de chuchu. Após o almoço era a vez de se tratar os animais da casa e os dos visitantes, ocasião em que o dono da casa mostrava aos visitantes a sua criação, as suas colheitas e as inovações em sua propriedade. Então de volta à sala de visita, dava-se continuidade ao chimarrão ou ao vinho e refrigerantes caseiros. É claro que também não podia faltar o joguinho de cartas e um pouco mais “alto” do que em outras ocasiões. Dizia-se: o Kerb acontece só uma vez por ano. Pelas dezesseis horas era servido o café com cuca, geralmente dois tipos, pão branco com manteiga, algum bolo, pão-de-ló ou cuca de mel e biscoitos caseiros. Ninguém voltava para casa sem levar uma cuca ou algum bolo para aqueles que haviam ficado em casa. Visitantes de mais longe geralmente já apareciam sábado à tarde e voltavam somente após terem visitado todos os seus parentes, o que podia acontecer após o terceiro dia de Kerb. Não raras vezes as famílias caíam em sérios apuros para acomodar os visitantes para dormir à noite: era gente nos quartos, na sala de visita, no sótão e até por vezes os familiares se acomodavam no paiol. Tudo era aproveitado: pelegos, capas, lonas, capotes, etc. No domingo de Kerb, antes do pôr-do-sol, o baile já iniciava; caso contrário as expectativas de sucesso eram fracas. Durante anos e mais anos a entrada era franca. Os músicos faziam a cobrança aos próprios dançarinos. Quem não dançava, não pagava. Era obrigatório o uso do casaco nas danças. O chapéu tinha que ser entregue na segurança, bem como a capa ou guarda-chuva, mediante entrega de comprovante numerado do objeto, que na hora da retirada tinha de ser apresentado e era recolhido. Havia gente, os “pão-duros”, que escondiam esses objetos ou os confiavam aos cuidados do dono de casas próximas do salão. Nas imediações do salão encontravam-se cavalos e mais cavalos, pois quem vinha de longe não tinha outra solução a não ser que se sujeitasse a varar a escuridão a pé. Por sorte, o Kerb de Walachai acontece durante a fase de lua cheia. Por outra, um rapaz sem montaria bem caprichada não tinha muito valor junto às gurias, que montavam em selas especiais para damas (Damensattel). Não se via guria, senão de vestido. A maneira de vestir do mundo feminino de hoje nem se sonhava. Teria sido um escândalo imperdoável. Frequentemente acontecia de serem feitas sacanagens nas montarias, como estragos nos arreios, às vezes estribos cortados, animais amarrados pelo rabo, soltura de animais... Muito moço no decorrer do baile, para se certificar se de fato sua namorada o queria, mediante uma gorjeta aos músicos, pedia que fosse tocada a “marca de damas”. Ao anúncio dessa marca, ao som estridente do clarim ou de outro instrumento musical, as pessoas se separavam. Os moços ficavam na expectativa. Tomavam pose caprichada. O olhar atento para a sua namorada, 203
na outra banda. Aos primeiros acordes da marca, já se dava a manifestação. Vinha convidar o seu companheiro anterior ou, caso não gostasse dele, convidava outro rapaz para ser seu par. Quando o moço convidava a moça para acompanhá-lo à copa para o “Frühstück” e a moça aceitava o convite, era sinal de que o namoro estava ficando sério, estava se firmando. Lá pela meia-noite, geralmente acontecia a janta do kerb ou “Kerbeesse”: batatinha, chucrute, assado de porco e de rês, bucho, rabanete, massa e arroz. O “Frühstick” era à base de linguiça passada na água fervente, cuca, pão branco com manteiga, rabanete e café. Para certos colonos o baile era sem graça se não ocorresse briga e houvesse sangue. Assim, num baile no salão de Albino Seger, na noite de 22 de julho de 1928, logo no início do baile, foi assassinado com um tiro de revólver um marido recém-casado, na flor de sua idade com apenas 24 anos. Em sua farra convidara os músicos para tomarem alguns copos de cerveja com ele e seus amigos no balcão. Estava com inimizades com um dos músicos. Ofereceu-lhe também cerveja e insistindo em tomar mais, o músico lhe disse que o desculpasse, mas que tinha que tocar música. Os músicos se dirigiram novamente ao palco para darem continuidade ao baile. O rapaz foi mais uma vez levar um copo de cerveja ao seu adversário que se recusou em aceitá-lo. Então, despejou-lhe o copo de cerveja no rosto. Sem proferir palavra, o músico com uma mão tirou seu lenço do bolso para enxugar seu rosto e com a outra mão pegou o seu revólver e de pé alvejou seu inimigo. Este vendo o perigo, serpenteando por meio das pessoas aglomeradas em frente ao balcão, procurou alcançar a porta. Ouviu-se um estalo seco, uma pessoa corcoveando em direção à porta, onde outros rapazes, julgando estar caindo, procuraram segurá-lo. Sem ter tido tempo para articular palavra, tombou por terra, pelos degraus da porta e sem vida, jazia no pátio do salão. Uma bala atingira o seu coração, pondo fim a sua peregrinação terrestre. Apavoradas, as pessoas foram deixando o salão, pois temiam que irmãos e cunhados do assassinado chegassem em breve e que muito sangue inocente pudesse ser vítima da vingança deles. O baile terminou. Os músicos recolheram os seus instrumentos, apanharam os seus animais no potreiro, encilharam-nos apressadamente e horrorizados partiram para suas casas. Também o assassino, em companhia de um colega seu, se dirigia para a sua casa em São José do Herval. Foi chamado o sub-delegado de polícia e feito o levantamento. O assassino foi intimado pela justiça. Como já havia queixas registradas contra o assassinado sobre provocações e brigas em bailes, e como o assassino possuía várias testemunhas a seu favor, acabou sendo absolvido. O sub-delegado, ao receber o chamado e inteirado do que acontecera, teria exclamado: “Que isso um dia iria acontecer a esse sujeito, eu há muito tempo estava esperando! Todas as minhas advertências a esse sujeito foram hálito perdido. Agora a desgraça está aí!” Essa triste história eu mesmo ouvi daquele companheiro que, junto com o assassino, se dirigiu para casa. Disse ainda que o dono do salão intimara os músicos para cobrirem o 204
prejuízo que sofrera no baile por causa deste triste episódio, que este mesmo dono poderia ter evitado se tivesse tomado providências. Nos bailes de Kerb, após o desaparecimento do “Kerbebaum” surgiu o leilão do “Kerbeflasche” e do “Kerbegranz”, uma coroa de arame bem enfeitada, pendurada no teto do salão perto do balcão, de modo a ser facilmente alcançada com as mãos. Nessa coroa fixavam-se garrafas de cervejas com o preço majorizado, que eram arrancadas pelos participantes do baile, geralmente por aqueles que queriam aparecer, serem vistos e terem a “guaiaca” melhor provida. Em tempos de crise, as garrafas da coroa eram muito admiradas e pouco arrancadas. Quando havia baile em dois salões, dava-se o revezamento das duas últimas noitadas de baile. Havendo baile em um só salão, por vezes não havia baile na segunda noite, dando-se a continuidade na terceira noite. A última noite de baile era conhecida como a noite dos velhos, pois nessa noitada dava-se preferência aos mais idosos quanto aos pedidos das marcas musicais. Às vezes, durante o segundo dia à tarde, os músicos costumavam visitar as famílias mais próximas do salão de baile, homenageando-as com alegres peças musicais, recebendo em troca comida, bebida e às vezes até gorjetas em dinheiro. Durante a Segunda Guerra Mundial, com a proibição do alemão em público, os bailes de Kerb perderam muito de sua graça e de seu vigor. Caiu fora a “Kerbeflasche” e o “Kerbegranz”. Com o surgimento das fábricas de calçados em Dois Irmãos, a maioria dos jovens abandonou a roça e não mais puderam festejar os 3 dias de Kerb. A partir de então, o Kerb iniciava sábado, com o baile à noite. Até a missa já se celebra sábado à tarde. Esporadicamente continua ainda o Kerb na segunda-feira, com a visita de algum parente ou amigo. Ao contrário de antigamente, atualmente no domingo de Kerb, a missa festiva conta com menos participação do que em domingo comum, porque as donas de casa e os churrasqueiros estão impedidos do comparecimento devido aos preparativos da comida, e raros são os visitantes que participam da missa. Outra razão disso é que, ao contrário de antigamente, em fins de semana há missa ou culto nas igrejas de sua origem, e o progresso do transporte facilita a locomoção, dispensando esforço e a demora de outrora para alcançar a casa dos parentes. Também o “Kerbeessen” de antigamente desapareceu, tendo como substituto o churrasco. O café da tarde tem como substituto uma espécie de sobremesa, como torta, bolos e doces, acompanhados com sanduíches e bebidas. A tendência é de o Kerb se restringir apenas ao baile de Kerb no sábado à noite, com crescente diminuição de seu sentido religioso. São as tais coisas do progresso!
A comemoração de fim de ano e da entrada do Ano Novo Ao entardecer do último dia do ano, o povo se reunia na igreja para agradecer a Deus pelos benefícios obtidos no decorrer do ano. O canto final era “Grosser Gott”, 205
cantado entusiasmadamente por todo o povo, misturado ao badalar solene e prolongado do sino, ao tilintar das sinetas e ao barulho ensurdecedor dos rojões. Esse costume existe ainda hoje, porém para melhor, pois há missa ou celebração do culto eucarístico. Provavelmente desde o povoamento de Walachai existia o costume de uma turma de voluntários, composta de homens e mulheres e liderada por alguém, ir de casa em casa, desejando aos seus moradores um feliz e próspero ano novo. Geralmente a turma iniciava na casa onde moravam os progenitores de Pedro Arnold IV, hoje propriedade do veranista Conrado. O líder da turma trovejava desembaraçadamente uma poesia, expressando euforicamente o desejo de um feliz e próspero ano novo e convidava ao final da mesma, os seus camaradas a saudarem o Ano Novo com uma forte salva de tiros de trabucos e de espingardas. O tiroteio saía desordenado porque os trabucos confeccionados para essa ocasião eram disparados fazendo-se deslizar a caixa de fósforos sobre um palito instalado no trabuco. Além de rústicos, esses trabucos eram de pouca segurança, e para prevenir-se contra algum acidente que pudesse ocorrer, o atirador postava-se atrás de uma árvore ou no canto de uma casa. A engenhoca podia muito bem explodir com consequência imprevisível. No entanto, não se tem notícia de acidentes. Em seguida, aos alegres acordes da gaita ou da sanfona, e à convite do dono da casa, a turma entrava na sala de visita, dançando com grande algazarra, desejando individualmente aos inquilinos muitas felicidades no decorrer do Ano Novo, enquanto o dono da casa providenciava alguma bebida, cuca e biscoitos caseiros. Cada atirador municiava a sua arma para a saudação na casa seguinte. E assim se repetia essa solenidade de casa em casa até a entrada de Walachai, até o “Schlunck”, onde muitas vezes o astro rei se juntava à turma, também saudando o Ano Novo. Às vezes a folia levava a desentendimentos entre os elementos da turma, mas o líder não dava bola a isso e comandava ir adiante e deixar os desentendidos à sua sorte. Conta-se que certo elemento que morava numa casinha miserável, nas imediações da igreja, acompanhava a turma até certo ponto, e quando já conseguira encher os bolsos bastante espaçosos de seu paletó que usava em pleno verão, com pedaços de cuca e de biscoitos caseiros, escapava do meio da turma, voltava para casa, esvaziava os bolsos, e voltava à turma para repetir a sua façanha. Resultado: no final da solenidade possuía em sua casa uma enormidade de tipos de cuca e de biscoitos caseiros, podendo assim folgadamente, festejar com sua família a entrada do Ano Novo. Fulano era pobre, possuía pouca terra e de reduzida fertilidade e, além disso, a sua vocação não era a de agricultor. Mudou-se para Novo Hamburgo com sua família bastante numerosa e com a ajuda dos filhos, alcançou em pouco tempo, um razoável bem-estar de vida. Líderes de turma dos quais tenho memória: Guilherme Büttenbender Filho, Bruno Seger, João Weber, Nicolau Böff, sendo que este último foi o mais vivo e entusiasta de to206
dos. Nem sempre a turma era aceita em todas as casas. Por essa época dava-se a colheita do feijão, serviço bastante cansativo que tirava dos participantes a vontade de folia, razão por que às vezes pessoas pediam que as deixassem descansar em paz. É o que pedira meu pai para o fim de ano de 1947. Mas a turma não se deu por convencida. Lá por uma hora da madrugada, chegaram à casa de meu pai. Os que tinham conhecimento de que o pai não queria saber de bagunça naquela noite ficaram parados na estrada. Outros, porém, foram bater à porta. Papai custou para acordar de seu sono profundo. Ouvindo aquele provocar: “Nikla, leh dich mool romm” / “Nicolau vire-se”, meu pai levantou-se de mansinho, apanhou o seu relho domingueiro pendurado perto da porta, como a desejar. Inesperadamente abriu a porta, distribuindo relhaços a torto e a direito. Houve gente disparando em todas as direções, se perdendo dentro do bananal existente perto de casa; outros perdendo os seus chinelos... Outros que estavam apanhando uvas debaixo do parreiral e comendo-as se viram atrapalhados; alguém deixou cair a caneca sem conseguir matar a sua sede com a água que tirara do tanque; enfim, foi um “salve-se quem puder”, sem chance de resistência. Os que estavam na estrada, à espera dos acontecimentos, ficaram com lágrimas nos olhos de tanto rir. Não haviam imaginado que o pânico alcançasse tais proporções. Quando a turma chegou a juntar-se de novo houve muitos desabafos. O gaiteiro: “Puxa, esse homem tocou o relho pelas costelas que não foi brinquedo! Só quero ver em que estado ficou a minha camisa branca! Ai, minhas pobres costelas!“ Outro que perdera os seus chinelos na disparada, pondo-se à procura dos mesmos, na semi-escuridão, topou com o pai e em tom desesperador suplicou: “Titio, por favor, não me bata.” “Agora, honras-me com o título de titio, quando há pouco, me estavas provocando! Rapa!“, respondeu meu pai. Mas na próxima casa, tudo voltou ao normal. O susto e o sofrimento já eram coisas do passado. Nessas ocasiões, o regozijo, a algazarra e a farra continuavam geralmente até depois do nascer do sol. Durante a Segunda Guerra Mundial esse costume se perdeu, principalmente devido à dificuldade em adquirir munição e à proibição do alemão em público. Após a Segunda Guerra Mundial, em 1946, voltou-se a festejar novamente a entrada do ano novo como antigamente, mas rapidamente esse costume tomou uma forma totalmente diferente. À zero hora, a entrada do Ano Novo é saudada com fogos de artifício, pipoquear de foguetes, estourar de rojões e o repicar festivo dos sinos. Nas bodegas e nas casas de família, as pessoas desejam-se reciprocamente um feliz e próspero Ano Novo e confraternizam-se ao tilintar dos copos de cerveja e, excepcionalmente, de champanhe. Como é lindo a gente ver riscar a escuridão em direção ao céu com seus enormes rastros luminosos, os rojões, os foguetes e fogos, em consonância com as comunidades vizinhas e escutar o eco prolongado dos disparos dos foguetes e rojões atravessar os vales, indo se perder no alto dos morros! 207
A Páscoa Careço de notícias de como era festejada a Páscoa entre os primeiros moradores de Walachai. Certamente não diferenciava muito do meu tempo de criança – entre 1923 a 1935. A festa de Páscoa de então não se compara com a atualidade. O sentido religioso de hoje faz-se bem mais significativo pelo fato de as missas e cerimônias se realizarem em língua vernácula. Ao contrário, até o ano de 1965, quem então quisesse assistir à missa e às cerimônias religiosas tinha de cavalgar duas horas até a matriz em Dois Irmãos. À exceção do sermão, tudo era em latim. Atualmente há missa em nossa capela e a gente participa de toda a missa. Para a criançada de antigamente, a Páscoa comemorada em família era um tanto misteriosa. Os pais davam um jeito de conseguir pôr, o quanto antes, a criançada na cama, ao anoitecer. Só então cozinhavam e pintavam os ovos de Páscoa de vermelho. A tinta vermelha, conseguiam das raízes de certa planta rasteira chamada “Osterkräutchen” ou das cascas que soltam os pinheiros. Esse material as crianças tinham de providenciar, bem como preparar o ninho com musgo ou palha de milho, enfeitando com flores. Certificados de que as crianças dormiam, os pais colocavam nos ninhos: um ovo vermelhinho, um grande “Weck”– preparado com a mesma massa da cuca, em forma de boneco para os meninos e em forma de coelho para as meninas; algumas balas, talvez alguma barra de chocolate, biscoitos caseiros e mais algum presente de utilidade como roupa, calçado ou material escolar. Presentes como brinquedos não se conhecia. Os pacotinhos – “Päkchen” – dos padrinhos não diferenciavam muito dos recebidos dos pais. As crianças acreditavam firmemente no coelho. Eu, por exemplo, apesar de ter minhas dúvidas, cheguei a saber a verdade após a conclusão dos 4 anos de aula, quando fui excluído do rol dos presentes. Mas ai de mim se contasse a verdade a algum dos meus irmãozinhos ou a outras crianças! Hoje a criança mesmo antes de entrar na escola já está a par de tudo. Hoje os pacotinhos são comprados, já prontos, e a escolha é múltipla. Isso não existia antigamente.
A festa de São João Aqui em Walachai, festejou-se pela primeira vez o São João no ano de 1973, quando a professora Maria Vera Deimling lecionava num curso supletivo noturno para jovens acima de 14 anos de idade e sugeriu que também aqui se realizasse a festa de São João. Foi resolvido então, que os alunos do diurno e noturno, em conjunto, promovessem a festa. O primeiro ato foi uma santa missa, à noite, presidida pelo pároco, Pe. Beno Deimiling. Os cantos, bem como as partes litúrgicas destinadas ao povo, ficaram sob a responsabilidade 208
dos alunos da escola. A seguir, no salão Seger, onde hoje funciona a fábrica A. J. Wirth, houve apresentação de poesias, canções, teatros e danças folclóricas gauchescas. Nos intervalos foram vendidos pinhões, pipoca, batata doce, rapadura e bebidas. Então foi feita a fogueira, em leilão americano. A duração do leilão foi regulada por relógio despertador. Foi uma batalha muito disputada e animada. A pessoa que fez o lance, ao tocar o despertador, foi aclamada padrinho da fogueira com a incumbência de atear o fogo. Aos alegres e festivos sons da bandinha, todos se dirigiam ao local da fogueira, no potreiro de João Bento Kuhn, próximo ao salão. Durante o trajeto ao local, misturavam-se aos sons marciais da bandinha, os estouros dos foguetes e a algazarra da juventude. Reunido ao redor da imensa armação de lenha, intercalada com grande quantidade de bambu e de pneus, o padrinho pôs fogo. Aos “vivas”, aplausos, toque de uma marca bem alegre, ao estouro dos foguetes e dos rojões, imensas labaredas iam-se alteando aos céus, espalhando aos quatro ventos imensas fagulhas. O pipoquear do bambu em chamas e o povo de mãos dadas, dançando ao redor da fogueira, até ser obrigado a se afastar pelo calor, gradativamente irradiado pelas imensas labaredas devoradoras do material que lhes era oferecido. Foi um espetáculo todo singular e nunca visto até então em Walachai. Após essa solenidade, e com todos de volta ao salão, deu-se início ao baile festivo de São João, para o qual não havia previsão de término. O bom lucro dessa promoção festiva foi dividido entre as duas turmas da escola que, por sua vez, em conjunto, empregaram o dinheiro na construção de banheiros higiênicos para a escola, com água encanada e cova higiênica para o lixo. Quando se extinguiu o curso supletivo em 1975, essa festa de São João passou exclusivamente a cargo do grupo de jovens, continuando em seu vigor até hoje. Atualmente a festa de São João está privada, quase totalmente, daquele espírito alegre e desprendido dos primeiros anos. Os músicos não querem tocar de graça junto à fogueira, e o local, ao lado da igreja, oferece pouco espaço, impossibilitando a dança ao redor da fogueira. Mas, anualmente, há grande variação nas apresentações e a participação em vez de diminuir aumenta sempre mais. É que a turma da juventude é dinâmica, criativa e atraente. A escola passou a ter a sua festa no domingo mais próximo ao dia Sete de Setembro, em comemoração à Semana da Pátria. Essa festa é organizada pelo Círculo de Pais e Mestres, em conjunto com a comunidade católica, e o lucro é dividido entre ambas as partes. Os alunos recebem gratuitamente o almoço com um refrigerante.
A comemoração do Natal A comemoração do Natal, antigamente, era bem diferente do que é hoje. No meu tempo de criança não havia missa aqui em nossa capela. Com tempo bom, muitas pes209
Os gaúchos e as prendas das danças folclóricas na festa de S. João em 1976
Vista da dança folclórica gaúcha: “o meu pezinho...”. Nos fundos, à direita a professora Maria Vera Deimling.
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Cena do Grupo de Jovens em 1976: Zulmira Henrich e Nicolau Wendling lutando para segurar aquela “baita” cuia. Ao fundo, lado direito, Roque Dieter espiando pela porta, ostentando seu bigode bem caprichado.
Outra cena do mesmo teatro, Felipe Wingert com aquela cuia que “engolia” quase um kg de erva. Zulmira Henrich e Nicolau Wendling.
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soas cavalgavam para Dois Irmãos para assistir a Missa do Galo ou então a missa do dia. Naquela época o Natal era mais uma festa de “horror” do que de alegria para a criançada. A convite dos pais, o Papai Noel ou “Pelzenikel” acompanhado do “Christkind”, todo vestido de branco e o “Sackhannes” visitava as famílias onde havia crianças. O sininho do “Christkind” anunciava a aproximação do cortejo. Pessoas vizinhas e curiosos faziam parte dele. Ao entrarem na sala de visitas, a criançada, ali reunida, com voz chorosa e trêmula, quando não gritando, rezava e cantava. Logo após, o Papai Noel se informava a respeito do comportamento da criançada durante o ano. E, ai da criança mal-comportada! Papai Noel as passava pela vara ou recebiam severas repreensões e admoestações, recebendo em resposta incondicional afirmativa de conversão por parte das crianças, ou o terrível “Sackhannes” fingia acorrentá-las e levá-las com ele, ou então metê-las dentro do saco de linhagem que trazia. As crianças mais atrevidas não resistiam, desatavam a chorar e a gritar, procurando abrigo junto aos seus pais ou aos seus irmãos mais crescidos. Não raras vezes acontecia de criança desaparecer, encontrando-a mais tarde, depois de voltar tudo ao normal, debaixo da cama ou debaixo das cobertas. Crianças que desconfiavam do Papai Noel, do “Sackhannes” e do “Christkind” eram renovadas na sua “crença” fracassada. Achando Papai Noel ter cumprido a sua missão corretiva, o “Christkind” distribuía a cada criança o seu presente, recordando-lhe o seu compromisso de bom comportamento durante o ano, até o próximo Natal. Depois do “horror”, e com o presente em mãos e só depois de a criança ter se certificado da partida do cortejo do Papai Noel, voltava a alegria. Admirando os presentes, rapidamente era esquecido todo aquele inferno. Ao terem cumplicidade com todos esses “horrores”, muitas vezes os pais, durante certo tempo, tinham noites mal-dormidas, porque alguns de seus filhos não queriam dormir com a luz apagada, ou em sonho berravam, com medo que Papai Noel voltasse outra vez. Naquela época o pinheirinho era de poucos enfeites: algumas bolas coloridas e tiras de papel colorido entrelaçadas. Dos galhinhos pendiam tiras de papel colorido formando no fundo uma espécie de bolsinha, contendo balas; às vezes algum bonequinho de açúcar ou de chocolate pendia nos galhinhos, parecendo alguém enforcado. Havia gente que pendurava no pinheirinho alguns cartuchos com amendoim torrado e açucarado e biscoitos caseiros coloridos. Como nessa época proliferaram as moscas, pode se imaginar como também elas “pintavam” todos esses enfeites que, decorrido algum tempo, sendo comestíveis, eram consumidos pelas crianças. Só Deus sabe quantas diarréias provocaram. Se dizia “die Dosskrankheit” ou “doença dos biscoitos”. Na ignorância, tudo isso era feito, porém, para alegrar as crianças e na boa fé. Em certos casos, o Papai Noel introduzia o pinheirinho na sala de visita, antes escondido em algum quarto da casa. Entre os presentes de Natal, geralmente constava algum 212
presente utilitário como chinelos, suspensórios, cinta, calças, vestidos e chapéu de palha. Naquela época, aqui não se conhecia presépio. Este só existia na matriz de Dois Irmãos. Não sei em que ano começou a haver missa de Natal aqui em Walachai. Deve ter sido por volta de 1938. O Padre Vigário arrumava com antecedência algum padre jesuíta no seminário central de São Leopoldo. A partir daí se começou a arrumar também presépio em nossa capela. Pinheirinho foi acrescido mais tarde. Aos poucos foi também introduzido o presépio junto ao pinheirinho nas casas de família. E, com o advento da luz elétrica, apareceram nos presépios e pinheirinhos os pisca-piscas e fomos chegando, gradualmente, ao estado atual da comemoração do Natal. Em tudo isso, no entanto, o ponto mais importante e mais positivo nessa comemoração universal é a preparação para o Natal. Dificilmente alguém da comunidade deixa de fazer a sua confissão e de receber em seu coração o Deus Encarnado no dia de Natal. Atualmente, a maior parte das famílias se reúne em grupos, uma vez por semana durante o advento, meditando o Mistério da Encarnação e o Nascimento de Cristo, cantando e rezando. Durante a Quaresma sucede o mesmo, meditando a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, cantando e rezando.
As Festas Comunitárias 1. Segundo domingo de janeiro – recordando a inauguração do pavilhão comunitário, construído ao lado norte da igreja. A partir de 1992, por determinação do pároco Pe. Luís Pedro Wagner, destina-se 10% do lucro desta festa ao coral, para a sua manutenção. 2. Segundo domingo de maio – dia das Mães. Alguma promoção pelo Clube do Lar “Vale da Amizade”. Um café ou meio frango, ou matiné dançante. 3. Em junho, no sábado mais próximo à data da Natividade de São João. À noite, Festa de São João, constando de missa festiva, teatro – apresentado pelo grupo de jovens, comes e bebes juninos, leilão americano da fogueira, cerimônia do ateamento da fogueira, baile de São João. Tudo organizado pelo grupo de jovens. 4. Segundo domingo de agosto – dia dos Pais. Promoção constando de um café ou de um meio frango em homenagem aos pais da comunidade, organizada também pelas senhoras do clube “Vale da Amizade”. 5. No domingo da Semana da Pátria – festa cívica em homenagem à Pátria, organizada pelo CPM da escola local, sendo o lucro dividido entre a comunidade católica e a escola. 6. Em domingo não bem definido, festa dos seminaristas – organizada pelo Apostolado da Oração e pela comunidade, sendo 50% da renda destinada para os seminaristas da diocese de Novo Hamburgo. 213
Esporte Clube de Futebol 11 de Maio A exemplo de outras localidades, a juventude de Walachai uniu-se sob a liderança de Adalípio Backes e fundou o seu time de futebol, com os seguintes integrantes: Adalípio Backes, Egon Becker, Lauro Dieter, Ivo Dieter, Roque Dieter, Cláudio Büttenbender, Irineo Büttenbender, Lauro Büttenbender, Cláudio Arnold, Roque Arnold, Ernesto Arnecke e Alberto Dieter. Aos domingos à tarde esse time se reunia no potreiro de Lino Büttenbender para treinos e planejamentos. Quando o time achou estar em condições de competir com outro, convidou o time de futebol do Morro dos Bugres para o seu primeiro jogo competitivo, a prova de fogo, a ser realizado no potreiro de Lino Büttenbender. Isso ocorreu com grande expectativa, no domingo à tarde, do dia 11 de maio de 1958. O time de Walachai venceu folgadamente o time do Morro dos Bugres, que havia chegado a pé, pelo placar de 3 x 0. Sem dúvida a longa caminhada dos morro-bugrenses influenciou negativamente no resultado do jogo, que causou grande alegria e entusiasmo ao time de Walachai. Em razão do acontecimento, o time foi batizado de “Clube Esportivo 11 de Maio”, sendo seu presidente, Adalípio Backes. O time desenvolveu-se vigorosamente. O número de atletas foi crescendo em número e qualidade, e os presidentes foram se revezando. O esporte futebolístico tornara-se um passa-tempo muito bem aceito, não só pela juventude como também atraía muitos adultos. Os jogos revezavam-se entre os clubes existentes na vizinhança. Havia chegado o momento de arrumar um campo mais apropriado e este foi cedido por Pedro Afonso Braun. Foi construído um galpão e patrolado o campo. Mas com a construção da rede elétrica de Itaipu para Porto Alegre, que cruzava por cima do campo, este foi interditado. Iniciou-se então a procura de outra área. Após várias consultas, conseguiu-se a área desejada e apropriada, dos proprietários Nicolau Henrich e João Benno Wendling. Do antigo açude, destinado à armazenagem de água para mover o moinho, outrora construído por Carlos Klein, surgiu o novo campo de futebol. O açude já deixara de ter a razão de sua existência, porque o moinho já estava desativado e sem condições de funcionamento. Essa nova praça de esportes custou, porém, muito esforço, força de vontade e serviço. Foi preciso aterrar o terreno, patrolá-lo, fazer drenagem, plantar a grama, cercar o campo, construir e aparelhar as dependências anexas. Quantos metros cúbicos de aterro foram colocados, só Deus sabe! Esse serviço foi executado quase gratuitamente pela prefeitura de Dois Irmãos. Finalmente, em 4 de março de 1984, deu-se a solene inauguração desse novo estádio de futebol – um dos melhores no município de Dois Irmãos. A festa foi de muito jogo, euforia e confraternização entre os clubes futebolísticos das localidades vizinhas. Durante todo o mês de março, aos domingos, realizavam-se jogos competitivos aqui entre clubes vindos da vizinhança. As muitíssimas taças e troféus conquistados dão testemunho do grande valor e vigor de nosso Esporte 214
Clube 11 de Maio. O time participa do campeonato municipal desde o seu surgimento, conquistando já, por vezes, o título de campeão municipal. Assim, todo o suor, todos os esforços e dificuldades enfrentadas e vencidas até hoje, estão revertendo em alegria e sadio passatempo para a juventude, assim como para a maior parte dos adultos dessa comunidade e também para os visitantes das localidades vizinhas.
Vista geral do campo de futebol em junho de 1984. “Mens sana in corpore sano”.
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25. Ocorrências em Walachai
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seguir relato ocorrências aqui de Walachai: fatos alegres, fatos de tristeza, de angústia e de preocupação. Não me preocupo com a ordem cronológica desses acontecimentos. Na maioria dos casos, torna-se mesmo difícil precisar as datas. Embora isso fosse interessante, julgo que o mais importante seja a ocorrência em si e o que podemos tirar de útil para a nossa vida.
Queimado vivo Caso horroroso aconteceu não se sabe o ano, com um filho de imigrantes ao ser executada uma grande queimada de mata virgem. Na área a se atear fogo, esse filho sabia da existência de um ninho de papagaios com filhotes num tronco oco de árvore abatida. Quis salvar os filhotes das chamas. Combinou com seu parceiro que somente ateassem fogo após soltar uns gritos, fazendo saber que se achava a salvo, já que não se avistava o local onde se encontrava o ninho. Aconteceu de este moço ficar preso, segundo se presume, debaixo de uma árvore ainda não totalmente caída no chão. Ao passar por debaixo, a árvore caiu em cima dele, mantendo-o preso. Gritou por socorro e os companheiros, certos de ele se encontrar a salvo, atearam fogo, não o encontrando depois em parte alguma fora da queimada. Amainada a violência das chamas, desparecida a densa e negra fumaça e com as brasas quase totalmente apagadas, os companheiros foram fazer uma vistoria na área. Debaixo de uma árvore, apenas em parte queimada, devido ao seu estado ainda semi-verde, compreenderam que aqueles gritos que haviam ouvido eram gritos de socorro. Agora já era tarde! Perda irreparável! É difícil imaginar a dor que tomou conta de todos. No meu tempo de menino, à beira da estrada, na roça onde isso ocorreu, existia uma tosca cruz de 217
madeira. Perguntando minha mãe pelo significado dessa cruz, ela me contou essa tragédia. Isso ocorreu nas imediações da estrada que vai ao Vale das Batatas, logo atrás do morro.
Ficou preso no carro e morreu queimado vivo Em certa noite de fim de ano, Alberto Schuch, primo de minha esposa e morador de Padre Eterno Baixo, sofreu sério acidente com seu caminhão, de consequências fatais. Há muito era reclamado à prefeitura de Dois Irmãos, o alargamento da curva existente na estrada de Walachai para Santa Maria do Herval, na altura da casa de Emílio Lauxen. Naquela noite, Alberto perdeu a direção do carro naquela curva e despencou barranco abaixo, capotando até parar na estrada que vai para o Rioloch, para a propriedade de Armando Brentano e vizinhos. Durante a capotagem, Alberto caiu para fora da cabine, sendo esmagado por ela. Sua esposa também caiu, porém sem sofrer nada de grave. O Roque, um filho de Guerino Schuch que os acompanhava, ficou preso na cabine; queando o carro alcançou a estrada plana do Rioloch, pegou fogo. O carro queimou totalmente, deixando carbonizado o acompanhante. Acompanhando na manhã seguinte a turma de curiosos vi o pavoroso acidente. À entrada da estrada para o Rioloch, jazia Alberto em cima de uma maca, à espera da autoridade policial. Um pouco mais adiante o vice-prefeito Walter Fleck, auxiliado por outras pessoas, procurava distorcer os ferros do carro para retirar do assento, desnudado pelo fogo, o corpo totalmente carbonizado, com forte cheiro de carne humana queimada. Por vários dias fiquei com aquele cheiro na goela. Do carro restou só a ferragem. Após ter-se conseguido remover o corpo carbonizado, com a feição de uma bola irregular, foi recolhido numa caixa de madeira, carregado numa tombadeira juntamente com o cadáver de Alberto Schuch e ambos levados ao Instituto Médico Legal em Porto Alegre, segundo fui informado. De volta, os corpos foram sepultados no cemitério de Padre Eterno Baixo em clima de muita consternação.
Violação de túmulo Na noite de 28 de abril de 1989, foi violado o túmulo do falecido Guido Arnold no cemitério católico de Walachai. Foi arrombada uma laje, aberta a janelinha do caixão e presupõe-se que o objetivo da violação tenha sido roubar os dentes de ouro do defunto (+10.06.1975). O fato causou muito alarde na comunidade. Os parentes do falecido violado acorreram. Foi chamada a polícia que afirmou lamentavelmente nada poder fazer, porque já chovera após a violação e os parentes já haviam mexido no túmulo. Os parentes abriram todo o túmulo e fizeram o fechamento do mesmo em 1º de maio, com a presença de muitos parentes curiosos. 218
Guido Arnold era casado com Vera Seger, filha de Bruno Seger e Elvira Klassmann. Após o casamento morou na casa em que morara seu sogro, defronte ao Salão Paroquial. Guido estava casado uns oito dias, quando foi encontrado morto dentro de seu caminhão, inclinado sobre o volante, na estrada que vai por fora do centro de Walachai, na altura da casa de João Lauxen. Estava a caminho para carregar lenha. Guido sofria de ataques epiléticos. Certamente sofreu, na ocasião, um ataque que causou a sua morte prematura. Três dias após, faleceu seu pai Balduino Arnold, que morava com Guido.
Um achado macabro Emílio Schmitz indo verificar o que os seus cachorros haviam encontrado no mato, porque não paravam de latir, com grande susto deparou-se com um cadáver humano. Isso nas terras de seu pai, Werno Schmitz, quase no topo do morro para o lado leste, em plena floresta. Aproximando-se mais, viu do rosto apenas o esqueleto, as carnes provavelmente devoradas pelos urubus. O resto do corpo, em adiantado estado de decomposição, exalando um cheiro quase insuportável, estava conservado porque estava bem vestido. Horrorizado, chamou os vizinhos que o acompanharam ao local. Viram o corpo. Perto dele um chapéu, uma trouxa com roupas, até um aparelho de barbear, tudo indicando o cadáver ser de alguém migrante. Levaram o caso à polícia de Dois Irmãos. Compareceu o pessoal do Instituto Médico Legal de Porto Alegre. Ajudado pelos denunciantes, ajeitaram o cadáver numa maca. Abrindo uma picada pelo mato, levaram a muque o cadáver até o carro, estacionado bastante distante dali, porque o local é de difícil acesso. O transporte do cadáver foi uma verdadeira proeza. Morro abaixo, serpenteando por meio de árvores, tropeçando por pedras, e o pior de tudo, aquele cheiro quase insuportável. Nunca se soube o laudo do IML. Só foi descoberto se tratar de um homem chamado Franklin Eli de Souza, segundo os documentos encontrados com ele, natural de Passo Fundo. O IML encontrou seus familiares em Passo Fundo e esses responderam que fizessem do cadáver o que bem entendessem. Isso aconteceu em 9 de setembro de 1985, sem ninguém descobrir como tal cidadão foi parar no meio da mata, qual era o seu destino ou o que pretendia, por que foi morrer ali naquela solidão. Tudo continua um mistério!
O mártir do campo de futebol 11 amigos de Walachai Trágico acidente de trabalho ocorreu em 24 de janeiro de 1981, durante os serviços de aterro do novo campo de futebol de Walachai. Aconteceu num sábado de intenso calor. De manhã cedinho, apareceu uma frota de caminhões, tombadeira e uma carregadeira, todos da 219
prefeitura de Dois Irmãos, para dar continuidade aos serviços de aterro do campo. O serviço ia às mil maravilhas. Ao meio-dia foi servido aos trabalhadores um churrasco. Após isso cada trabalhador foi tirar um cochilo, à sua maneira. Arnaldo Bender, um dos motoristas, foi se esticar debaixo do carro de um dos seus companheiros. O operador da máquina carregadeira, lá pelas tantas, resolveu dar continuidade ao serviço. Pediu para alguém voluntário preparar o carro para o carregamento. Não custou para achar voluntário que pôs o seu carro em marcha ré. Repentinamente ouviu gritos de “para!” dos companheiros, avisando que um dos trabalhadores estava debaixo do carro. Incontinente, João Dresch, esse era o nome do motorista, engatou uma marcha para frente. Tudo já acontecera! Na ré passara por cima do corpo de Arnaldo Bender, o sestante, e na marcha para frente, mais uma vez. Não é mais de se duvidar que a estas alturas a morte de Arnaldo era uma realidade. Contudo, as pessoas fizeram vir o fusca de João Henrich que se encontrava nas proximidades. Carregaram o acidentado e o levaram ao hospital de Dois Irmãos. Mas chegando lá, o médico nada mais pôde fazer a não ser fornecer o atestado de óbito. É dificil imaginar o pânico surgido entre os colegas do acidentado e de todos que correram ao local do acidente. O causador do acidente teve tão forte crise nervosa que parecia enlouquecer. Sem a mínima suspeita de que alguém tão imprudentemente fosse deitar debaixo de seu carro, tivera o azar de terminar involuntariamente com a vida preciosa de um dos seus colegas. Apareceu ao local do acidente o inspetor de polícia. Foi feito o levantamento. Todos que assistiram ao pavoroso acidente unanimente testemunharam a inocência de João Dresch. A conclusão do inspetor foi que era mais um acidente de trabalho. Devido a sua extrema depressão, João Dresch deixou o seu carro aqui e os seus companheiros o levaram consigo para Dois Irmãos. No domingo de 25 de janeiro de 1981, mergulhados em dor, acompanharam o infeliz companheiro a sua última morada no cemitério evangélico de Dois Irmãos. Arnaldo Bender não deixa de ser mártir do novo campo de futebol 11 de Maio.
Encontrado morto no arroio do Walachai Bem cedinho, na manhã de 13 de setembro de 1988, Geraldo Arnold deu pela falta, em casa, de seu irmão Inácio. Preocupado com a ausência saiu à sua procura. Primeiramente dirigiu-se à casa do prof. Albano Wickert, sendo informado que Inácio teria ido para sua casa. Luís, filho do professor, juntou-se a Geraldo para a procura. Ambos dirigiam-se à casa comercial de José Germano Weber para ver se conseguiriam alguma informação. Como a resposta fora negativa, resolveram ir à casa do primo José Arnold, morador do Vale das Batatas, calculando que talvez este tivesse acompanhado o primo à casa dele, o que já mais vezes 220
fizera. Entretanto, defronte a fábrica de calçados, encontraram o guarda da empresa, Pedro Edgar Schmitt, e se informaram se nada sabia a respeito de Inácio. Edgar opinou: “Será que ele não caiu da ponte no arroio, durante a noite, nessa escuridão fechada?” Geraldo retrucou: “Também já pensei nisso!” Juntos dirigiram-se à ponte sobre o arroio Walachai. Agora já dia claro, descobriram no barranco da margem esquerda do arroio, um pouco antes dele, o guarda-chuva sem, porém, nada mais. Dirigiram-se para o lado oposto da ponte no sentido do curso das águas, essas bastante avolumadas em consequência das fortes chuvas dos dias anteriores. Logo perceberam estar boiando nas águas uma coisa parecida com roupa. Rápidos correram ao local. Encontraram Inácio preso pelo casaco nos ramos de um limoeiro, mergulhado nas águas. Estava morto. O corpo duro. Não é de se imaginar o susto de ambos e o desespero do irmão. Rapidamente a notícia se espalhou, pois àquela hora, os operários se dirigiam à fábrica. Foi chamada a polícia, e o corpo de Inácio foi conduzido ao IML. Não sei precisar o que o médico legista diagnosticou como “causa mortis”. Inácio estava em tratamento médico, com graves problemas cardíacos. Presume-se ter sofrido um ataque cardíaco em cima da ponte no seu lado esquerdo, caindo morto dentro do arroio, ou então, por causa da espessa escuridão, pode ter caído da ponte com a ponta da cabeça na rocha do fundo do arroio, tendo morte instantânea. Por afogamento não morreu porque seu corpo não continha água. Arrastado pela forte correnteza das águas ficou preso no limoeiro. O enterro de Inácio encheu de tristeza, não só familiares, como também toda a comunidade. Vale ressaltar que naquela casa faleceram no decorrer de um ano João Schmitz Filho, o avô; José e Teolina Arnold, os pais; e finalmente, de morte inesperada e misteriosa, o filho Inácio.
Uma tromba-d’água em Walachai Lá pelo ano de 1953, em 30 de janeiro, pelas 15 horas, parecia ser o fim do mundo em Walachai. Fazia um dia de verão, de intenso calor úmido e abafado. Todas as tardes ocorriam fortes trovoadas em toda a vizinhança sem sermos atingidos por elas. Parecia o calor ter chegado ao auge naquela tarde. Sobre Walachai aproximavam-se trovoadas das direções dos quatro pontos cardeais e sem nenhum vento. Chegou a escurecer a tal ponto que se tornou imperioso acender a luz. Raios zigue-zagueavam de uma trovoada para outra. Os trovões faziam estremecer as casas pelos alicerces e tilintar os vidros das janelas. De repente iniciou-se a tromba-d’água. Dera-se o confronto das quatro trovoadas. Não chovia, mas sim a água se despencava sobre os telhados como se fosse despejada por baldes. Os telhados não davam conta de tamanha massa de água. Essa, pingando para dentro dos sótãos, molhava tudo. Escuridão total. Muitíssimas famílias caíam de joelhos, pedindo a Deus clemência. Em menos de uma hora a terra estava coberta de água, cuja correnteza arrastava ma221
deira, pedras e tudo o que oferecia resistência. Arroios se transformaram em imensos rios, as águas galopavam ensurdecedoras e furiosas; levando pinguelas, arrancando árvores, pontilhões, abrindo novos leitos. Quem estava do lado de cá do arroio ficava impedido de passar para o lado de lá. Passado o horrível fenômeno, só se ouvia o barulho das águas barrentas descendo os morros, para cair nos arroios, aumentando o seu poder destrutivo. Não houve quem não saísse de sua casa e horrorizado fosse contemplar os arroios com suas enormes ondas barrentas, rolando e levando tudo: pinguelas, árvores com raízes, latas, tábuas, troncos, pedras, papel... Ninguém teria visto fenômeno igual até então e nem mais se repetiu até hoje, dia 04 de julho de 1992. Tão rápidas como as águas foram crescendo, foram também baixando e no dia seguinte constatou-se o pior: as águas haviam levado plantações inteiras sem deixar vestígio. Houve gente que perdeu roças inteiras de batatinhas recém-plantadas, roças com mandioca, milho, arroz, etc. Houve pouquíssimas famílias que não tiveram que trabalhar durante vários dias em suas estradas para poder chegar às suas roças; juntar batatinhas para replantá-las, caso ainda encontrassem alguma, endireitar as suas lavouras. A estrada geral de Walachai, como também as demais estradas, se pareciam com leitos secos de rios, impossibilitando totalmente o trânsito. A recuperação das mesmas deu muita dor de cabeça à Prefeitura de São Leopoldo. Deslizamentos de terra propriamente não aconteceram porque a água não teve tempo para penetrar na terra e a tromba-d’água fora de ligeira duração. A Prefeitura de São Leopoldo, por intermédio de seu agrônomo Dr. Clemente Goepfert, fez um levantamento dos prejuízos. Mas praticamente ficou nisso, afora a Secretaria da Agricultura enviar algumas sementes para os agricultores. Além de Walachai, essa tromba-d’água atingiu, em parte, São José do Herval e Picada Verão. Mas a violência máxima ocorreu em Walachai.
De volta para sua casa encontrou a esposa enforcada Pelo meio-dia, em 20 de fevereiro de 1980, Leonídio Braun, ao voltar de casa comercial do Morro Reuter, onde fora fazer compras para a cozinha, encontrou a sua esposa, Selma Dilkin, enforcada na despensa. Como ela sofrera de insuficiências mentais, calcula-se que essa tenham sido a causa de tão triste e doloroso episódio.
A praga dos gafanhotos Mais de uma vez, Walachai foi alvo do ataque dos gafanhotos. A luta mais dura contra essa praga travava-se quando nasciam os filhotes dos mesmos. Todo colono sabia ficar 222
tudo pelado por onde esses passavam, até atingirem a idade adulta, levantar voo e procurar alimento abundante em outras regiões, onde continuariam a devastação até chegarem ao ponto da desova onde se dava a renovação do temido e indesejado exército. O combate aos filhotes de gafanhotos era travado em mutirão que constava em tocar os bichinhos ainda sem asas, em áreas com bastante capim ou outro material seco e atear fogo, acabando queimados, ou cavando valetas bastante profundas, tocando-os para dentro das mesmas e enterrando-os vivos. Para espantar os insetos adultos, quando apareciam as nuvens de gafanhotos, fazia-se de tudo: andando pelas roças onde se alojavam, batendo fortemente contra latas vazias, gritando, movendo bandeiras das mais variadas cores, dando tiros de espingarda, fazendo fumaça e usando ainda de outros artefatos. Contudo as roças ficavam limpas. Os gafanhotos eram sempre os vitoriosos. A fome ou vontade de devorar superava todos os obstáculos. Eu mesmo tenho lembranças do aparecimento de enorme nuvem de gafanhotos lá pelo ano de 1942. A nuvem dos insetos era tão intensa que chegou a cobrir o sol. Os estragos foram grandes, e o fato não deixou de ter lado pitoresco: assim que o sol se retirava e a sombra tomava o seu espaço, os gafanhotos levantavam voo, indo pousar em cima das árvores próximas. Com esse peso incomum chegaram a quebrar galhos das árvores. Na manhã seguinte, ao aparecer o sol, interrompiam o seu sono, voavam das árvores ao chão, continuando a destruição completa e então levantavam voo em busca de outras roças, ainda com vegetação. Durante a noite e dia sem sol ou com chuva, os gafanhotos permaneciam em seus abrigos, nas árvores, parecendo enormes enxames de abelhas. Só atacavam em vista do sol. Terminado o ciclo de devoragem, “fincavam” nas roças nuas os seus ovos, morrendo depois. Parecia então tudo estar terminado, mas decorridos não sei quantos dias, dava-se a “ressurrreição” dos descendentes em tal quantidade que escassava o espaço. Surgia a festa gorda para a passarada, para galinhas e patos. As “iguarias” dessa festa, porém, superavam a voracidade dos “convivas”. Era preciso a intervenção do homem. Em 1942, o combate aos filhotes dos gafanhotos já se fez com iscas envenenadas, impedindo-se assim a devastação daquilo que seus progenitores haviam deixado ou que se desacelerasse durante a trégua. Esse combate era de fácil execução, rápido e eficiente. A partir de 1942, não apareceram mais gafanhotos aqui. Minha mãe contava que, numa operação de queima de gafanhotos realizada em mutirão, o vovô estivera tão afoito em atear fogo no capinzal que se esquecera de reparar em seus companheiros e ouvir um “futcht” seguido de uma voz: “Guilherme, o meu cavanhaque!” Olhando para o rosto do companheiro que também o seguia ateando fogo, viu o mesmo estar com o rosto limpinho, como se o serviço tivesse sido feito à navalha, porém, em tom um tanto à maneira de carvão. O companheiro perdera o seu tão caprichado quão estimado cavanhaque, as sobrancelhas e quiçá, os cabelos todos de sua cabeça, não estivessem sob a proteção de seu chapéu de feltro de abas largas. 223
A praga das formigas Adágio de antigamente: “Ou o Brasil mata a formiga ou a formiga acaba com o Brasil”. Antes da Segunda Guerra Mundial era a formiga um problemão, parecendo insolúvel. O combate era difícil. Usavam-se diversos métodos: abrir o formigueiro e esparramá-lo bem; se descoberto, espalhar palha por cima e atear fogo; revolver novamente o formigueiro e repetir a operação fogo; despejar água fervendo no formigueiro, remexendo-o; jogar água fria no formigueiro, amassando-o bem com os pés ou socando-o com um pau. Com o uso desses processos primitivos, conseguia-se minorar o mal, mas dificilmente cortá-lo pela raiz. Existia, também, o combate com o uso do arsênico, diluindo na água e despejando-o no formigueiro, conseguindo-se geralmente o extermínio total do mesmo. A maioria das pessoas tinha medo de lidar com arsênico. Muitíssimas vezes, porém, não se conseguia descobrir o formigueiro. Nesse caso o problema, quase sempre, se resolvia com o uso da máquina de matar formiga, bombeando fumaça com arsênico e enxofre em pó dentro do formigueiro, através de um canal que dava no mesmo. Era uma operação muito chata. Precisava-se de boas brasas e de um ajudante para tapar os canais por onde saía a fumaça e ainda ter o cuidado de não inalar a fumaça. Somente após a Segunda Guerra Mundial apareceram venenos com os quais se tornou possível um ataque eficaz de extermínio à formiga, com facilidade e sem tanta perda de tempo. As pessoas da atualidade não têm idéia dos estragos causados pelas formigas, principalmente pela tão temida saúva. Esta, graças a Deus, nunca existiu aqui em Walachai. Não vive em terras tão pedregosas como as nossas. Felizmente, é hoje o Brasil o vencedor e não mais as formigas, ameaçando acabar com o Brasil.
Mais terrores de antigamente Outrora o problema da raiva bovina foi um terror para os moradores de Walachai. Quando aparecia o surto, fatalmente morriam dessa doença muitos animais. Hoje, com a aplicação da vacina antirrábica e a caça aos morcegos hematófagos, o problema deixou de ser terror, como também a aftosa. Em minha vida de 69 anos de idade, me recordo de essa última doença ter irrompido uma única vez, causando muita dor de cabeça aos moradores no combate ao mal e acontecendo perdas de animais. Quanto ao homem, causou muito terror o aparecimento do tifo e da varíola. Pelo ano de 1932 irrompeu aqui em Walachai, como também nas localidades vizinhas, a febre tifoide. Entre muitas pessoas contagiadas pela doença vieram então a falecer Maria Lauxen, Antônio, 224
Miguel e Aloísio Hoff. Veio à localidade o enfermeiro Fischer para cuidar dos doentes e instruir o povo sobre como se preservar da contaminação da doença que, para a recuperação da pessoa, exigia muito tempo de cama e cuidados específicos de alimentação e de higiene. Não há muitos anos essa doença atacou a família de Afonso Arnold. Chamando o médico, ele diagnosticou tifo. Uma cunhada de Afonso, Dorotéa Dapper, devido ao adiantado estado de debilidade e do tratamento tardio, veio a falecer. As outras pessoas, com o tratamento dos modernos remédios antibióticos e sulfas, se salvaram. Todas as pessoas foram vacinadas, ficando derrotada de imediato a doença. Também a varíola fez a sua visita lá pela década de 1920. Com a vacinação de todas as pessoas, foi de imediato erradicada sem deixar vítimas fatais. Cheguei a conhecer a família de Alfredo Lauxen. Ele e sua esposa Guilhermina apresentavam pelo rosto bastantes cicatrizes, bem salientes, que a doença lhes deixou como recordação.
A celebração do transcurso de nossas bodas de prata Em 10 de janeiro de 1972, minha esposa Erna e eu estávamos casados há 25 anos. Foi resolvido festejar o acontecimento em família no domingo do dia 9 de janeiro. No dia anterior, Roque Dieter, nosso vizinho e então o comerciante local, deu um baile no Salão Seger que alugara para tal finalidade, de João Alberto Schmitz, proprietário do salão. A esposa e eu, acompanhando os filhos, fomos participar desse baile. Estava bastante animado. Dois brigadianos cuidavam da ordem e da segurança. Lá pelas tantas, cheguei a tomar um copo de cerveja com um funcionário da prefeitura de Dois Irmãos, colega e amigo meu. Na nossa roda apareceram duas pessoas, até então desconhecidas por mim que, após tomarem rapidamente cerveja conosco, se foram, meio cambaleando pelo salão, e nós permanecemos na copa.
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Perguntei ao meu amigo e colega quem seriam os dois desconhecidos, respondendo serem o delegado de polícia e o inspetor da delegacia de polícia de Dois Irmãos. Observei: “Mas esses dois parecem estar bêbados!” Nesse ínterim deu-se uma confusão lá no balcão. Nós dois nem nos mexemos. Só depois fiquei sabendo o que lá acontecera. Havia sido feita uma aposta com um moço solteirão que, se fosse convidado para dançar por uma moça ou mesmo uma senhora, devia pagar meia dúzia de cervejas, e caso a marca findasse sem receber convite para dança, a turma amiga pagaria a cervejada. O nosso solteirão topou a parada, firmemente convencido de que ficaria sobrando. E... não demorou muito, recebeu um convite para dança por parte de uma senhora. Quis se esquivar, mas a tal senhora o agarrou firmemente e lá se foram rodando no meio do salão aos meigos sons da bandinha. Terminada a marca e ao chegar ao balcão, a cerveja já estava aberta e a sua espera. É claro que, quando menos se esperava, já reinava novamente “seca” no balcão. Também não demorou veio o troco: paga!... O coitado do solteirão deu a entender não ter dinheiro para pagar a conta. Mal falara, já recebeu uns tapas na cara. De imediato formou-se um “entrevero” que os brigadianos prontamente dominaram. Quando tudo voltou à calma, o senhor delegado e inspetor desembestaram para o balcão, provocando outra confusão que foi terminar contra a expectativa dos dois. Oto Büttenbender, garçom no balcão, vendo o delegado – que ele não conhecia – invadir o balcão, meteu a mão na gola da camisa dele fazendo soltar os botões de alto a baixo. Com a ajuda de outro garçom, Oto dominou o invasor, imobilizando-o. Observação: Oto, além de não conhecer esse homem, nem pensou que se pudesse tratar de um delegado, que sem mais nem menos, fosse invadir o balcão. Hugo Backes, encrencado com o inspetor desde os bailes anteriores em outras localidades, agarrou o mesmo pela goela, apertou-o contra a parede, fazendo-o botar a língua para fora e ficar todo roxo. Não viesse alguém apartá-los, não se sabe qual teria sido o final da história. Restabelecida a ordem pelos brigadianos, seu delegado ordenou ao menos dar prisão a seus agressores. Diversas pessoas foram conduzidas presas para fora do salão. Eu anteriormente já ouvira um brigadiano contar ao coordenador do ensino municipal em Dois Irmãos, sobre um tal de “cara”, corpulento, de cabelos pretos e crespos, com uma bruta de uma força, que vinha lá fora arrebatar os presos dos brigadianos e os levava novamente para dentro do salão e em tom ameaçador lhes dizia: “Venham agora novamente prendê-los dentro do salão”. E o brigadiano acrescentou: “Se não se metessem seu delegado e inspetor, tudo teria se resolvido, mas com a intervenção imprudente deles o povo ficou como doido de furor, ainda mais quando tentavam sacar suas armas.” Eu permaneci alheio a tudo isso e continuei a conversa com meu amigo. Quando tudo estava calmo dentro do salão, nós dois nos dirigimos para lá, ao balcão. O salão estava quase 226
vazio. Os músicos tocando sem parar. De repente, Estela Henrich, minha afilhada e vizinha e as irmãs dela, vieram ter comigo, pedindo: “Professor, por favor, venha e fale com o delegado! Ele prendeu o nosso irmão Maurício e vão levá-lo para a cadeia! Ele pode ter um ataque epilético e vir até a morrer! Ajude-nos.” Mal grado meu, mas por tratar-se de vizinho, fui ter com seu delegado. Estavam em preparativos para embarcarem Maurício na picape da brigada, quase em frente à escola. A estrada estava tomada de gente. Um brigadiano segurava Maurício. Seu delegado, dando ordens aos berros, tentando intimidar a multidão. Calmamente me aproximei dele, pedindo-lhe que não levassem o Maurício para a cadeia. Expliquei-lhe que ele costumava ter ataques epiléticos e que a vida dele poderia correr risco na cadeia. Mas o homem estava fora de si de raiva e começou a dizer desaforos para mim e lá pelas tantas berrou: “Escuta, você interferiu na ação da polícia, portanto também está sujeito a ir preso.” Aí o sangue me chegou a ferver nas veias. Eu havia sido sargento do exército e nunca encontrara no quartel indivíduo de tal calibre. Decidi enfrentar a tal autoridade, desse no que desse. Entramos numa discussão acirrada. O brigadiano, que segurava o Maurício preso, ouvindo as minhas ponderações e com mais juízo do que seu delegado, ao menos com a cabeça “limpa”, habilmente soltou Maurício, recomendando que desaparecesse, como fiquei sabendo mais tarde. A certa altura, quando a multidão viu que a coisa se tornava cada vez mais ridícula, apareceu Cláudio Arnold, e, acotovelando seu delegado, pediu-lhe que este se afastasse um pouco e abrisse lugar. Como o delegado não se importasse e nem ligasse ao pedido, mijou-lhe nos sapatos. Dando-se conta do que lhe estava acontecendo, berrou desesperadamente para Cláudio: “Quem é você?” “Eu sou seu Navalha”, respondeu Cláudio, afastando-se com uma larga gargalhada. “Diga-me você o nome desse cara de camisa verde”, dirigiu-se seu delegado para mim. “Seu delegado, eu vim para o baile para me divertir e não para denunciar pessoas” respondi-lhe. “Ah, você vai declarar o nome desse porco”, replicou o delegado. Senti alguém colocar os seus braços nos meus ombros, dizendo: “Professor, vamos ao salão, dançar e nos divertir”. Instintivamente acolhi o convite e juntos, abraçados, fomos nos dirigindo para dentro do salão. Mais tarde fiquei sabendo ter sido um moço, amigo meu e de sobrenome Dieter, apelidado de “Schimmel”, devido a seus cabelos quase brancos, natural de Dois Irmãos. Muito me conhecia sem eu no entanto conhecê-lo. Um amigo verdadeiro. Seu delegado, vomitando toda sorte de palavrório, foi nos seguindo. Chegando aos degraus da porta do salão, ordenou aos brigadianos que ali se encontravam que o acompanhassem para dentro do salão, onde tencionava certamente, mais prisões. Mas um dos brigadianos disse: “O senhor querendo entrar, entre, mas nós não lhe seguiremos. O senhor não está vendo que nós aqui não temos mais vez? Nós é que vamos embora.” Dito e feito. Os brigadianos se dirigiram para o seu carro. Seu delegado deu também meia volta e desapareceu juntamente com o inspetor. Eu entrei no salão e me encontrei com seu Selírio Bohn, então 227
dono de um açougue na subida do morro para a entrada de Walachai, e com seu Ivo Schneider, comerciante em Santa Maria do Herval, ambos amigos meus. Entramos a comentar os acontecimentos da noite. Selírio disse: “Sabem de uma coisa? Eu não duvido que esses caras arrumem uma porção de brigadianos, voltem e prendam quem estiver no salão. Eu vou embora.” Selírio foi embora. Ivo também. Procurei minha esposa e também nos mandamos para casa, para a cama. Domingo, de manhã cedinho, levantamos, pois havia muito coisa a preparar para a festa de nossas Bodas de Prata. Tínhamos alguns porquinhos com diarreia. Após tratar os animais, juntos, a esposa e eu, medicamos os porquinhos, quando ouvi um carro parar na entrada para a nossa casa e alguém com voz fanhosa, chamar: “Professor... seu Professor!” Reconheci ser a voz do delegado. Nem liguei, pensando que se quisesse alguma coisa comigo, que viesse! Mas isso não aconteceu! Continuamos, após a medicação dos porquinhos, os preparativos para a festa. Vieram meu cunhado Selvino Schuch e sua esposa. O serviço e a conversa marchavam juntos. Até que de repente, vi descendo pelo pomar um brigadiano e atrás dele seu delegado, com a sua camisa rasgada e sem botões desfraldando ao redor de sua cintura, com os cabelos em desordem, como quem houvesse passado a noite em claro e nem tivesse tido tempo de lavar ao menos o rosto e pentear-se. O seu delegado se aproximou de mim e disse: “Você está preso! Vai me dizer logo o nome daquele cara de camisa verde que me desrespeitou ontem de noite!”. “Bem, já que estou preso, não me resta agora outra saída. É Cláudio Arnold!”, confessei. “Vamos indo! Vai ter que nos acompanhar!”, ordenou o chefe. Embarcando na picape da brigada, deparei-me com Oto Büttenbender e seu genro Roque Dieter, presos e sob os cuidados de um brigadiano. Em silêncio, associei-me a eles. Olhávamo-nos sem proferir palavras e sem podermos adivinhar o que estava acontecendo. “Rumo à casa de Gilberto Käffer”, foi a ordem do comandante do comboio. Rápida e cômica foi a locomoção até a casa comercial de Bráulio Käffer em Santa Maria do Herval. Seu delegado e seu inspetor desembarcaram. Conversaram com seu Gilberto. Presumo que tentassem recolher dele nomes que Gilberto preferiu calar, ao nos ver na picape. Ele também participara do baile e era muito amigo nosso. Voltando, seu delegado intrigado berrou: “Desembarca o professor!” Desembarquei. Chamando-me à parte, disse: “Escuta, professor, e fala a verdade! Quem era aquele de camisa vermelha?” “Desculpe-me, senhor delegado! Eu não reparei nas camisas que o pessoal estava vestindo. Como lhe poderei dizer o nome da pessoa que o senhor diz ter usado camisa vermelha? Se eu lhe quisesse ter mentido ontem à noite, lhe teria dito não conhecer aquela pessoa que o senhor intitulou de ‘camisa verde’, mas eu lhe disse não ter vindo ao baile para denunciar pessoas e sim para me divertir”, respondi. Seu delegado se dirigiu ao fusca. Disse alguma coisa aos que nele se encontravam e depois ordenou: “Embarca o professor aqui no fusca.” Cumprida a ordem, o comboio locomoveu-se de volta para Walachai. Durante o trajeto fui 228
bombardeado com muitas perguntas, ameaças de ter o meu nome fichado “em preto” na delegacia, sondando a minha opinião quanto à ação da polícia, ao que respondi: “Enquanto eu observei, os brigadianos agiram acertadamente. Peço que o senhor me desculpe se o ofendi, pois quando a gente bebe um pouco acima do normal, paralelamente aumenta a coragem. Eu acho que ambos estivemos neste pé de coisa!” “Escuta, vai botar advogado para a sua defesa?”, foi outra pergunta. “Não, senhor”, respondi. “Pois estou com a consciência tranquila de não ter cometido crime algum, salvo se socorrer aos vizinhos, sendo para tanto solicitado, for crime. E esse crime quero expiar, caso o senhor julgue existir!” De resto conclui ser preciso usar de muita cautela e de muita diplomacia e que esses indivíduos seriam capazes de tudo; que o Ato Institucional nº 5 da Constituição não brincava, se inventassem de enquadrar a gente nele. Mais uma vez deixei claro ter agido a pedido das irmãs de Maurício e isso em atenção do estado de saúde do mesmo, e não estar me envolvendo de maneira nenhuma nas confusões ocorridas, não tendo eu nada a ver com isso. Quando nos aproximamos do centro de Walachai, finalmente compreendi que o cara de camisa vermelha só poderia ser o Maurício, e eles insistindo e explicando. Disse-lhes, afinal ter descoberto a quem procuravam e declarei tratar-se do Maurício Henrich, meu vizinho. Sabendo agora onde morava, a ordem foi “vamos agora buscar o tal Maurício”. Rumamos até a entrada para a casa de Nicolau Henrich. O senhor delegado e inspetor desembarcaram. Acompanhados por brigadianos foram à casa de Nicolau Henrich. Sem lero-lero, tiraram Maurício da cama, arrastando-o, segurando num braço o senhor delegado e no outro braço o inspetor. Atrás vinha o brigadiano, martirizando-o com um infernal palavrório do qual gravei: “Foi este teu professor que te ensinou a dizer vai tomar no cu?”. Francamente, até hoje não fiquei sabendo qual o problema que Maurício teve com a polícia naquele baile de triste memória. Embarcando-o na picape, acrescentaram. “Agora vais ver o que é tomar no cu”. O sangue novamente chegou a ferver nas veias, mas lembrando-me do AI-5, preferi calar-me e usar ao máximo de prudência e calma. No meio dos dois, Maurício vinha caminhando, lá de sua casa com os cabelos espalhados pelo rosto, branco como cera, os olhos arregalados e ainda certamente tonto de sono. Atrás dele vinham os pais horrorizados. Vendo-me no fusca, se aproximaram e me perguntaram o que estava acontecendo. “Por que estão tão bravos, xingando e embarcando o Maurício na picape? O que ele fez?”, me perguntavam. “Sei lá eu!”, respondi. E já vinham para o fusca o delegado e o inspetor. Querendo eles embarcar, observei: “Escuta seu delegado, o senhor reparou como está esse rapaz? Está naquela de pegar um ataque epilético... Se o senhor o meter na cadeia e vier a falecer? Como fica a coisa então?“ Sem mais refletir, inesperadamente, bradou: “Desembarca o rapaz! Venha falar comigo.” Os brigadianos desembarcaram Maurício. Estava todo desfigurado. Sua aparência inspirava deveras apreensões. “Escuta, seu alemão, não vamos te levar junto, mas amanhã às 14 horas, deves te apresentar sem falta na delegacia. Prometes isso?”, disse o delegado. Todo afo229
bado, sem se dar conta do que estava ocorrendo, Maurício respondeu: “Sim senhor”. “Certo, vamos agora buscar o tal do valentão, Hugo Backes. Professor, onde mora esse valentão?” “Vamos ter que seguir a estrada que passa em frente à igreja, e quando chegarmos lá, eu lhes aviso”, informei-lhes. Alcançando o local, apontei: “Lá em cima fica a casa dele. É preciso fazer o restante do trajeto a pé.” A casa distava uns 150 metros da estrada que vai para o Vale das Batatas.” Seu delegado e inspetor, acompanhados por um brigadiano, foram subindo o morro. De repente seu delegado comandou: “Avança mais um brigadiano para reforço.” Fazia um calor de rachar. O sol quase a pino. Desembarquei do fusca e fui juntar-me aos outros dois presos, guardados na sombra por um brigadiano, que estava muito mal-humorado por ter sido escalado para o serviço. Lá pelas tantas indagou: “Escutem, o que está havendo?”. “É... houve um baile ontem à noite e deu uma confusão,” respondeu Roque Dieter. “Houve sangue?”, continuou o brigadiano. “Não senhor”, retrucou Roque. “Pois então o que estão querendo os dois?”, concluiu o brigadiano. Entretanto parecia ter irrompido uma revolução lá no morro. Ouviam-se ordens entremeadas com palavrões. Finalmente avistamos o “cortejo”. O delegado vinha na frente, então o “criminoso” seguido pelo inspetor e os dois brigadianos, e os pais de Hugo, João e Lúcia Backes - esta chorando. Só foi possível essa formação indiana do desfile por tratar-se apenas de um pique de estrada. João e Lúcia, ao se depararem conosco, perguntaram-me: “Professor Benno, o que está acontecendo? Por que tudo isso?” Outra vez tive que responder em alemão: “Não sei! Vamos aguardar tudo isso com calma.” Ajeitado o novo prisioneiro e prontos para continuar a viagem à casa do outro “malfeitor”, seu delegado bradou: “Vamos agora desalojar o tal Cláudio Arnold.” “É seguir para frente”, observei. “Não é de minha conta, mas vamos ter que deixar o fusca aqui. A estrada até a casa de Cláudio Arnold oferece más condições de tráfego até para a picape.” Seu delegado, apoiado sobre o volante do fusca, ficou pensativo. Já estava mais do que banhado em suor. Devia estar supercansado e esgotado. Falou: “Escuta, Professor, você não vai preso. Vai-se comprometer de levar ao tal de Cláudio Arnold a intimação para ele comparecer amanhã à tarde às 14 horas na delegacia de polícia de Dois Irmãos?”. Notava-se que seu delegado estava farto dessa sua aventura policial. Respirando mais aliviado, respondi: “Estou disposto a cumprir essa ordem.” Rapidamente redigiu a tal intimação e me entregou. Vamos agora de volta para Dois Irmãos, ordenou o delegado. Chegando a minha casa, mandou-me desembarcar, dizendo: “Espero o senhor amanhã às 14 horas, sem falta, lá na delegacia de polícia de Dois Irmãos.” Mais adiante desembarcou Roque Dieter com a mesma ordem, levando Oto e Hugo. Chegado em casa, os familiares aliviados mas curiosos, me perguntaram: “Soltaram-te de novo? Que história é essa afinal?” “Pois é... soltaram-me! Mas... com a condição de levar ao Cláudio Arnold a intimação para ele comparecer amanhã às 14 horas na delegacia de polícia 230
de Dois Irmãos, tanto quanto eu também. Vamos sem muita cerimônia ao nosso almoço das nossas Bodas de Prata. Já é meio-dia passado. Quero descansar um pouco e então cumprir a minha missão.” Pelas 14 horas apanhei a intimação. Dei uma lida e constatei estar incompleta, pois não constava nem data e nem hora do comparecimento à delegacia. Poderia tê-la guardado comigo, sem dar bola, mas como nos encontrávamos sob o AI-5, onde a palavra individual tinha mais valor do que a própria lei e para não agravar mais a incomodação, achei melhor cumprir essa “desordem”. Sob um sol abrasador, dirigi-me para o Vale das Batatas, servindo-me de um atalho, transpondo o morro nas terras do então Teobaldo Dieter, hoje propriedade de João Bento Kuhn. Fiquei banhado em suor. Nuvens negras estavam se agrupando no firmamento, anunciando chuva. Chegando à casa de Cláudio, esse já havia saído para a casa comercial de Emílio Wolf, lá na entrada de Walachai. Narrei à esposa de Cláudio o que estava acontecendo e lhe entreguei a intimação. Não me demorei, pois a possibilidade de uma trovoada era iminente. Ao alcançar o topo do morro, raios já riscavam o céu e trovões roncavam ensurdecedores. Em alguns instantes as comportas do céu se abriram. Quanto mais depressa caminhava, tanto mais forte a chuva caía. Tomei aquele banho de água destilada. Já antes de alcançar a estrada Geral de Walachai a chuva cessara, tornando o sol a brilhar novamente com todo o vigor. Ao chegar em casa mudei de roupa. Estava cansadíssimo. O dia de celebração de nossas Bodas de Prata ia findando de maneira tão singular e atrapalhado. Senti-me, contudo, bastante feliz por ter conseguido evitar que Maurício e Cláudio parassem atrás das grades. Apesar de muito cansado, não consegui conciliar o sono durante a noite. Surgiu-me a ideia de viajar cedo para Dois Irmãos, comunicar-me com o coordenador do ensino municipal e com o senhor prefeito Léo Klauck, meus patrões, solicitando a interferência dos mesmos no caso. Em contato com o cordenador do ensino, descobri admirado que ele sabia melhor dos acontecimentos do que eu, afirmando-me não estar mais ninguém preso. Fato que eu estranhei e mais tarde conclui ser bem possível ele estar envolvido interesseiramente em tais confusões, ocorridas também em outras localidades interiorianas. Mais de uma vez, anteriormente, encontrara esse tal sujeito delegado em conversa com o cordenador do ensino na coordenadoria sem saber quem ele era. Mais tarde também ouvi comentários que não duvido terem sido verdadeiros, que esse delegado e inspetor se mandavam aos bailes do interior e aí promoviam bagunça com a finalidade de poderem prender pessoas que não falassem o português. Intimavam-nas a comparecer na delegacia e como não sabiam comunicar-se com esses dois, aconselhavam-nas a arrumar um intérprete. Esse intérprete então intimidava as pessoas, dizendo que estavam sujeitas a responder processo, mas que isso podia ser facilmente evitado, entrando em acordo com o senhor delegado mediante o pagamento de uma quantia em réis e o caso estaria resolvido. É claro que essas pessoas humildes do interior, ouvindo falar em processo, prontificavam-se aos maiores sacrifícios para evitá-los. 231
Após esse esclarecimento, voltando ao meu caso, seu coordenador acompanhou-me até Leo Klauck, o prefeito, que até então estava alheio a essas bagunças. Relatei-lhe o meu caso, a minha situação humilhante e ao ouvir que um funcionário da prefeitura presenciara a farsa no baile, chamou-o e perguntou-lhe: “Escuta, o que fez de errado sábado à noite, no baile, o professor?” “Não fez nada de mal”, respondeu o funcionário. “Quem sabe, seu coordenador, você vai junto com o professor até a delegacia, e fala com o substituto do delegado, pedindo-lhe excluir o professor da lista dos intimados, já que ele nada tem a ver com essa desordem propriamente dita. Esclareça que o seu pedido foi em atenção às irmãs do vizinho preso, temendo que com o mesmo pudessem acontecer na cadeia coisas de desfecho imprevisível, devido a sua doença. Deixe claro que o professor não participou da desordem”, concluiu o senhor prefeito. A esta altura cheguei a saber que esse tal delegado substituto estava respondendo pela delegacia na ausência do delegado titular, que certamente gozava de férias, e designara o escrivão para tomar conta da delegacia, que nessa época contava com pouco serviço. Rumamos à delegacia de polícia onde não encontramos o tal substituto do delegado. “Vamos ao restaurante da rodoviária. Lá infalivelmente nós encontraremos o delegado pelo meio dia”, concluiu o coordenador. Pelo meio-dia foram chegando ao restaurante o senhor prefeito e o senhor Alfredo Wendling e mais outras pessoas de destaque de Dois Irmãos, mas seu delegado custou a aparecer. Seu coordenador tocou logo no meu assunto. Todas as pessoas presentes à mesa redonda atestaram em meu favor. Então seu delegado sentenciou: “Já que a coisa é assim, dispenso o professor ao comparecimento à delegacia.” Ao despedir-me da turma, agradeci ao delegado e me dirigi à casa de minha filha Beatriz, que então morava perto da estação rodoviária, na Rua São Leopoldo. Passando então por mim, de carro, seu coordenador em companhia do senhor delegado, este último me perguntou: “Escuta, os outros intimados têm advogado?” “Não sei, pois não cheguei a entrar em contato com ninguém”, respondi. A minha filha Beatriz ficou estupefata com minha inesperada visita à essa hora. Contei a ela, bem como a seu esposo Romeo Dieter, que acabara de chegar do serviço, a farsa em que estava envolvido e o que estava em andamento. Almoçamos. Romeo foi para o seu serviço. Um pouco antes das 14 horas dirigi-me novamente para a estação rodoviária com a intenção de observar a chegada dos intimados. Lá fiquei sabendo que o tal delegado, no domingo de manhã cedo, teria afirmado, com ares de triunfo, a um funcionário da estação da rodoviária, meu parente: “Agora vamos para Walachai buscar aquele seu parente, o professor Wendling e trazê-lo preso para Dois Irmãos!” Fizera isso porque esse meu parente não concordava com as atitudes de seu delegado e porque ele não o via com bons olhos e procurava intimidá-lo. Por causa disso o meu parente ficou com uma raiva sem tamanho deste tal delegado. De repente entraram rodoviária adentro, seu Oto e Hugo. “Ué! Vocês sãos e salvos. Pensei que ainda estivessem presos!”, exclamei. “Nós nos livramos do ‘boi preto’, ontem à tardinha. Como não tínhamos mais possibilidade de voltar para Walachai ficamos na casa 232
da minha filha Lia”, disse Oto. Essa sua filha, nessa época, trabalhava no armazém Beck, próximo ao presídio. Curioso, eu quis logo saber o que seu delegado e seu inspetor haviam feito com eles. Contaram o seguinte: “Depois que Roque foi desembarcado fomos levados em direção a Dois Irmãos. Na estrada que desce de Cirilo Meurer até a BR 116, logo na baixada, nós dois fomos passados da picape para o fusca da polícia. Primeiramente passamos por uma chuva de insultos e humilhações por parte do delegado e do inspetor. Entre outras coisas tivemos de ouvir: ‘Vamos ver agora a vossa valentia’. Foi tapa e pontapés. Enquanto fomos conduzidos pela antiga estrada geral de Morro Reuter para Dois Irmãos e daí em diante pela mesma estrada até Novo Hamburgo, a brigada seguiu pela BR 116 para Dois Irmãos. Levaram-nos direto para o presídio. Lá nos tiraram tudo o que tínhamos nos bolsos e fomos metidos incomunicáveis no ‘boi preto.’ “Eu logo reconheci que nos encontrávamos perto do armazém Beck, onde trabalha a minha filha Lia”, disse Oto. “Como companheiro tivemos um moço que nos contou que estivera sábado à noite na boate e na madrugada tomara um táxi para levá-lo à sua casa. Como não tinha dinheiro suficiente para pagar a corrida, o taxista o deixou na delegacia, sendo metido na cadeia. De tarde, recebeu recado de que seria solto dentro de pouco tempo. Nós então lhe pedimos que passasse lá no armazém Beck e avisasse Lia que o pai e o Hugo Backes estavam presos na cadeia, incomunicáveis, que ela providenciasse advogado para a defesa. Providencialmente encontramos uma caneta que escapara da limpeza dos bolsos e o moço tinha uma carteira de cigarros. Então eu escrevi o recado na carteira de cigarros e pedi que entregasse lá no armazém. Não demorou, o moço foi solto. Passado menos de uma hora, o guarda apareceu e também soltou a nós dois. Ficamos boquiabertos. Sem vacilar e aliviados, fomos logo ao armazém. Lá fomos recebidos por Lia e seu patrão. Esse nos contou ter recebido o recado e de imediato ter-se dirigido ao presídio, pedindo ao guarda que o levasse aos dois presos de Dois Irmãos que aí se encontravam para falar com eles. O guarda então lhe assegurou não haver ninguém de Dois Irmãos ali preso. Então ele lhe disse que não mentisse, falasse a verdade, senão poderia ficar em maus lençóis, pois ele tinha certeza que se achavam presos dois homens de Dois Irmãos. Aí o gruarda lhe contou a verdade, mas que recebera a recomendação, caso alguém perguntasse por presos de Dois Irmãos, dizer que não havia ninguém de lá preso. Certificado do fato e como o guarda não consentiu que o patrão de Lia falasse conosco, ele arrumou advogado que conseguiu que fôssemos de imediato soltos. Hoje de manhã, acompanhados por esse mesmo advogado, fomos dar queixa do delegado e inspetor, ao titular da chefia de polícia da 1ª Delegacia Regional em São Leopoldo e pedimos que esses dois elementos fossem afastados da delegacia de Dois Irmãos. Estamos agora também aqui à espera dos intimados que devem vir todos juntos no caminhão do Roque, para comparecerem à delegacia. O advogado orientou que ninguém se apresentasse na delegacia, que Roque, juntamente com os intimados, desse meia-volta com seu carro e se mandasse para Walachai, se ausentassem para um lugar seguro, onde a polícia não os descobrisse, caso fosse procurar.” 233
Lá na rodoviária, também fiquei sabendo que Lili, a esposa de Roque e filha de Oto, logo após a prisão dos dois, arrumara advogado para a defesa deles e ao entrar a picape na Av. Irineo Becker, em frente à rodoviária, interpelara os brigadianos a respeito dos presos, recebendo a resposta de que não traziam nenhum preso, que podia verificar. Assim, o delegado e o inspetor, para despistar a todos, astutamente usando a estrada antiga, conseguiram meter na cadeia, em Novo Hamburgo, seu Oto Büttenbender e seu Hugo Backes, sem ninguém saber onde. Estavam simplesmente desaparecidos sem terem deixado pista. Quando Roque veio com os intimados, Oto e Hugo de imediato lhe transmitiram o recado do advogado. Embarcaram também no carro e todos foram para Walachai, permanecendo em local ignorado até escurecer. Perguntei às pessoas que vinham do centro de Dois Irmãos e que necessariamente tinham que cruzar pela delegacia – que nessa época funcionava num prédio quase defronte ao centro evangélico – como andavam as coisas por lá. Disseram não terem visto gente por lá e que tudo estava tranquilo. Foi assim encerrado esse triste episódio. O delegado e o inspetor haviam errado em seu cálculo. Não haviam atingido seu objetivo. O feitiço havia se virado contra o feiticeiro.
Foto tirada com o par jubilar Lino Büttenbender e Ida Dieter por ocasião de suas Bodas de Ouro em 01.05.1977 no antigo pavilhão de festas da comunidade São Nicolau de Walachai, no lado norte da igreja. Primeira fileira: Erna Schuch Wendling, prof. João Benno Wendling, par Jubilar Lino e Ida. Segunda fileira: Afonso Büttenbender, Hugo Linck, Ir. Arnalda (Guilhermina Büttenbender), Iria Büttenbender, Ir. Barbarina (Filipina Büttenbender), prof. José Albano Wickert, Pe. Hugo Büttenbender (filho) Ir. Josina (Olívia Büttenbender), Zulmira Henrich.
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Pouco tempo após esses acontecimentos, achando-me no posto de gasolina Wendling, alguém lá contou novas façanhas de seu delegado e de seu inspetor, levadas a efeito em outro baile do interior. Entre as pessoas lá presentes, havia um vereador. Então eu lhe disse: “Escute, seu vereador, se vocês e o senhor prefeito não derem um jeito de conseguirem o afastamento destes dois elementos da delegacia de Dois Irmãos, não demorará muito em acontecer alguma tragédia de consequências imprevisíveis, e vocês não poderão negar de também serem culpados.” Não sei se as autoridades municipais interferiram, mas ambos foram transferidos, voltando a tranquilidade para os bailes do interior.
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26. Cartas do Outro Lado do Oceano Atlântico
Tradução para o português da carta do professor J. Jares ao seu amigo Johann Peter Hoff: Masterhausen, 29 de dezembro de 1868.
Meu querido amigo Johann Peter Hoff ! Recebemos a sua querida carta enviada a mim e minha família, escrita no dia 2 de julho de 1868 e que, aproveitando a oportunidade, foi enviada através do senhor Nicolaus Schmitt. Por meio dela fiquei sabendo que o senhor recebeu direitinho os livros que lhe enviei e que lhe causaram grande alegria. Mas o senhor não me escreveu quanto ao dinheiro que recebeu de volta. Sobraram 7 Thaler, que entreguei ao senhor Hastenpflug para lhe devolver. Quando me escrever outra vez, gostaria de sabê-lo, para que o senhor não me tenha na conta de um aproveitador. O senhor escreveu que os livros são de grande alegria e utilidade para o senhor, seus filhos e netos. Oxalá queira Deus assim, é o que lhe desejo e a sua família. O senhor menciona que gostaria, em agradecimento, mandar-me um presentinho brasileiro em lembrança. Eu acredito e isso me dá grande satisfação porque sei que o senhor é sincero. Considero assim os meus esforços recompensados. Quanto a nós, estamos ainda com vida, mas ultimamente fomos visitados por doença, aliás, não somente nós e sim quase todos os moradores daqui. Uma doença altamente contagiosa, a escarlatina, irrompeu aqui há seis semanas e atacou primeiramente as crianças, e agora também as pessoas adultas. Com os devidos cuidados, conservando-se a gente bem agasalhada e com o uso de remédios receitados pelos médicos, não há perigo, mas as237
sim mesmo morreram aqui em consequência da doença 10 crianças e 1 adulto. Esse último, um homem novo de trinta e cinco anos, nas suas melhores forças. Morreu repentinamente, pois devido a uma correnteza de ar, sofreu um ataque cardíaco. O nome dele é Johann Peter Zilles, era um filho do falecido Mathias Theise – a quem o senhor certamente conheceu. Ele estava casado há um ano com uma filha de Johann Peter Janus. Da mesma maneira faleceu um filho da velha Elisabetha Engels em Salzburg, repentinamente, com a idade de 24 anos. Numa mesma família, morreram aqui dentro de oito dias, três crianças de 8, 10 e 14 anos respectivamente. Numa outra família morreram duas crianças em dois dias, com a idade de 9 e 14 anos respectivamente. Também todas as nossas crianças foram atacadas pela doença, exceto a mais velha. A minha segunda filha mais nova está de cama há seis semanas, mas agora está quase recuperada. No decorrer desse ano o nosso bom Deus presenteou-nos com mais uma filha, mas em consequência a mãe sofreu muito com sua saúde. Temos agora seis meninas e um menino. A minha filha mais velha, ainda não tem emprego. São tantas as professoras por aqui, que cada professora nova tem que esperar de três a quatro anos para ser empregada. Durante este ano também recebemos o luto, pois a minha sogra faleceu. Morreu de uma morte toda singular, dolorosa. No domingo do dia 6 de setembro, ela dirigiu-se à capelinha à beira da estrada para Salzburg, que o reverendo pastor fez reformar, para ali rezar. Quando estava pronta com a sua oração, saiu, puxou a porta para fechar e o trinco lhe ficou na mão (estava solto). Ela caiu de costas e não conseguiu mais se levantar. Assim ficou deitada bastante tempo, até que duas meninas casualmente passaram por ali, e nos deram a notícia. Eu corri para lá, carregando-a nos meus braços e a coloquei na cama. Ela não podia mais movimentar os braços e uma perna. Achamos que tinha fraturado os ossos e assim nos dirigimos ao ‘Pais’, mas devido à idade da sogra, ele não quis arriscar-se em mexer nos ossos dela e se negou a vir. Na quinta-feira, inesperadamente ficou muito fraquinha, chamamos o padre e à tarde, pelas 15 horas, ela faleceu. Estava com 76 anos de idade. Desde então faleceram aqui e em Salzburg vinte e três pessoas: 13 adultos e 10 crianças. Os nomes dos que faleceram em Salzburg são Johann Peter Krämer, a mulher de Friederich Worzen, Peter Steffen, filho de Elisabeta Engels, a mulher de Johann Peter Theinzen e a velha Mith... de Nicolaus Bauer. A causa de toda essa mortandade é o excessivo calor desse verão e agora temos chuva e tempestades. Um advento úmido, diz um provérbio, engorda o cemitério. Entre os falecidos desse ano encontra-se alguém que de perto lhe diz respeito e isso quero lhe noticiar: é o seu cunhado Anton Klein. Ele esteve adoentado durante um ano e veio a falecer no dia 5 de setembro. Em minha opinião, faleceu em consequência de câncer de estômago. Assim se vai um hoje, outro amanhã e a curto ou em longo prazo, isso também se noticiará de nós. Neste ano tivemos uma péssima colheita. No domingo de Pentecostes, à noite, pelas 238
18 horas, veio um temporal e caiu tanta pedra como, francamente, eu nunca vi. Eu juntei pedras do tamanho de ovo de pomba. Uma porção de janelas foi despedaçada. (Segue-se uma frase ilegível devido à dobra do papel.) Salzburg foi ainda mais duramente atingida do que Masterhausen. Tudo isso foi um castigo do Senhor Deus e agora está em vigor o segundo castigo, essa doença que está se alastrando cada vez mais. Nós devemos aceitar os castigos e pensar que os merecemos. Finalizando, todos nós desejamos ao senhor, à sua esposa e aos seus filhos muitas felicidades e bênçãos e vos saudamos milhares de vezes, eu, minha esposa e todos os meus filhos. Sempre serei o vosso fiel amigo. P. J. Jares Professor
Tradução para o português da carta de Görg Klein: Meu caro amigo Johann Peter Hoff! Em sua última carta ao professor Jares, você não esqueceu de mim, por isso quero lhe escrever algo. Ainda estamos com vida, graças a Deus, mas numa idade que pouco proveito dá ao mundo. Irmão Mathias e Irmã Margaretha são agora as pessoas mais idosas em nossa comunidade. O primeiro não pode fazer mais nada; a irmã ainda cuida da casa. Eu posso ainda trabalhar um pouco, mas também estou chegando ao fim. Nós, porém, temos ainda os nossos três filhos que corajosamente nos ajudam. Como os educamos bem, nós nos alegramos em nossa velhice, e aguardamos despreocupados, o dia em que o Senhor nos virá buscar. Meu filho Mathias Joseph trabalha em Berlim, no escritório de uma fábrica de máquinas, como técnico. Agora deve ser fabricada uma máquina e ele precisa desenhá-la, usando de sua imaginação. Seu patrão é um dos mais famosos donos de fábrica da Prússia e as suas máquinas já foram premiadas muitas vezes. Ele fabrica principalmente aparelhos agrícolas, como máquinas de plantar, ceifadeiras, todo tipo de arados e discos, máquinas com ancinhos e também locomotivas e máquinas a vapor. Todas essas máquinas, meu filho precisa primeiro desenhar. Mensalmemente ele recebe 36 Thaler, sem a comida; mais tarde, porém, receberá mais. No outono ele esteve aqui conosco durante quatro dias e nos contou tudo. Agora eu tenho muito orgulho desse meu filho e o muito dinheiro gasto com ele não foi perdido. Adeus bom amigo. Eu desejo a ti, a toda tua família muitas felicidades e bênçãos 239
e no além, o céu. Nós também teríamos novamente... (frase ilegível). Lembramos na viagem de mandar algo com um desconhecido, enquanto nós ainda estamos com vida. Mil lembranças de todos nós, especialmente de teu fiel amigo Görg Klein
Tradução da nota fúnebre de Johann Peter Meinerz , o “ Bohnenpitt”: A todos os parentes e conhecidos de perto e de longe a triste notícia que aprouve ao querido Deus chamar para a eternidade o nosso querido esposo, pai, sogro e avô João Pedro Meinerz – em 19 de dezembro, às 9 horas da noite, na idade de 75 anos, 8 meses e 19 dias. Ele nasceu em 30 de março de 1834 em Masterhausen – região de Koblenz – veio para o Brasil em 1860 e casou comigo, Ana Maria Dapper, em 1861. Vivemos durante 48 anos um casamento feliz e harmonioso e no decorrer desses anos, o querido Deus nos abençoou com nove filhos – dos quais a filha mais velha o precedeu para a eternidade há sete semanas. O amado falecido 240
deixa aqui a sua fiel esposa com oito filhos e sessenta e dois netos. O inesquecível falecido nunca esteve doente durante a sua vida, trabalhou da manhã até a noite na roça e descalço. (frase ilegível) ... de manhã visitou ainda o seu vizinho acamado e disse: Ainda hoje farei a minha última viagem para visitar os meus filhos em Nova Petrópolis – Linha Imperial, pois estou me aproximando do fim de minha vida.” Daí em diante não se afastou de sua casa, ficando preso na mesma. Sua doença foi hidropepsia. Não podia ficar deitado, tinha de andar, ficar sentado, ora na cama, ora em cima da cadeira no quarto ou no corredor da casa. Nunca, porém, escapou uma queixa de seus lábios. Não quis que seus filhos ficassem em casa ou quebrassem o sono à noite por sua causa. À tarde, ele ainda foi sozinho ao corredor e sentou-se na cadeira. À noite, às 20h30min, ele foi da cama à mesa e sentou-se. Então juntou as mãos e exclamou: “Jesus!... Jesus!...” quando a sua esposa o agarrou juntamente com o vizinho Guilherme Büttenbender Filho – seu sobrinho, que havia acorrido – o ampararam e assim, entregou serenamente a sua alma nas mãos do todo poderoso criador. Um muito obrigado aos vizinhos e a todos quantos de perto e de longe visitaram o nosso querido esposo e pai, durante a duração de sua enfermidade; a todos quantos, em 21 de dezembro o acompanharam até a sua sepultura e a enfeitaram com flores e coroas. Pedimos aos fiéis fervorosas orações pela alma do inesquecível falecido, bem como o “memento” dos sacerdotes durante a santa missa. Wallachei, 22 de dezembro de 1909. Em nome de todos os enlutados Ana Maria Dapper
Epitáfio (tradução livre) Do cansaço e das preocupações da vida Descanse pois agora no silêncio de tua sepultura Até o dia da ressurreição quando o Senhor te chamar para o Juízo. O teu corpo, entregue à terra Um dia ressurgirá para uma vida melhor. Até o nosso novo encontro! Observação: Essa nota fúnebre foi redigida professor Pedro Wickert e foi publicada no jornal semanário “Deutsches Volksblatt”. 241
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27. Transcrição do Relatório de Maria Wendling sobre sua Viagem e Estágio na Alemanha
A possibilidade de ir à Alemanha surgiu através de uma bolsa de estudos. Para concorrer a esta bolsa, o aluno precisava ter um bom rendimento escolar, saber falar bem o alemão e os pais tinham que ser de origem alemã. Como a minha turma do segundo grau só tinha três alunos de descendência alemã, foi feita uma entrevista com um professor de alemão da Unisinos - que é o “Fachberater”. Como eu me saí melhor na entrevista, fui a escolhida. Saí de Porto Alegre no dia 29 de novembro de 1990, de avião. Fui até São Paulo, dali fui até Assunção, no Paraguai, onde trocamos de avião. Depois fizemos escala em Dacar, Madrid, e chegamos à Alemanha no aeroporto de Frankfurt, às 5h30 local, do dia 30 de novembro de 1990. A estadia na Alemanha durou 4 meses. Eu fiquei hospedada na casa da família Lausen que mora em Unterlande, Losestadt, Landkreis Cusehaven e nas duas últimas semanas parei no seu Franz Josef Grings que mora em Pfalzfeld, na região do Hunsrück. Frequentei o Gymnasium Losestadt, onde estudam os alunos que mais tarde vão ingressar na faculdade. Lá eu assisti às aulas da Klasse 9ª ou ao 1º ano do 2º grau. Eu não fiz essa viagem especificamente para estudar ou para fazer um curso, mas para conhecer o método de ensino deles e também para conhecer um pouco mais da Alemanha. Tive impressões muito boas da Alemanha. É um país muito bem organizado, onde as leis são respeitadas, tudo é bem preservado e cuidado. As pessoas do norte são mais fechadas do que as pessoas do sul. A gente precisa correr atrás para fazer amizade. A juventude em si é mais liberal que aqui. Pouca gente ainda pratica a sua religião, que fica em segundo plano; eles só se preocupam com o lazer e o bem-estar.
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Minha viagem à Alemanha A viagem foi longa e um pouco cansativa, mas fomos muito bem tratados. A comida servida no avião não era muito boa, mas no mais não posso me queixar. Tivemos várias escalas, com isto deu para conhecer pelo menos alguns aeroportos de outros países. A única coisa que me preocupou foi a mala. Pensei que talvez ela pudesse ser perdida, mas felizmente tudo deu certo. O encontro com a família foi muito bonito. Desde o primeiro momento vi que era uma família bastante querida. Eles me trataram com muito amor e carinho durante o tempo que estive com eles, ou melhor, me trataram como uma filha. Não posso me queixar, faziam de tudo para me deixar alegre e feliz. Tudo era um pouco corrido naquela casa, pois os dois trabalhavam fora. Eles eram farmacêuticos, além disso, tinham ensaio de coral, jogo de tênis, e aos domingos, a mulher fazia toda a comida da semana. A filha também era bastante ocupada, praticamente toda a semana ela tinha um compromisso. Era também um pouco fechada, mas com o tempo fui conquistando amizade. Em si toda a família era um pouco fechada, pois havia pouco diálogo entre eles. Quando todos estavam em casa, costumavam ler algo em voz alta ou cada um pegava um livro e lia. Geralmente discutiam muito, mas isso era um costume. O que me chamou a atenção foi a franqueza. Eles depositaram muita confiança em mim; contaram-me as suas dificuldades, os seus problemas e também falavam o que achavam de mim. Fui muito bem recebida na escola, durante todo o período que a frequentei. Assisti a todas as aulas e gostei de todas, pois sempre dava para aprender alguma coisa. As aulas de latim eram as mais divertidas, pois o professor era um brincalhão. Em algumas aulas de alemão, falei sobre o Brasil para a turma. Os professores eram simpáticos, logo se interessavam em saber alguma coisa sobre o Brasil. Os colegas também eram muito queridos e consegui conquistar a amizade de todos. Eles me aceitaram com muita naturalidade já que sou deficiente física. Na maioria das vezes faziam o que o professor mandava, mas nem sempre. Na hora da prova também colavam! Eles contavam muitas piadas e falavam das viagens que já fi-zeram e do que iriam fazer nas férias. Outra coisa que eles comentavam muito era a “Guerra no Golfo”. Conheci vários lugares durante o tempo entre eles: antigos castelos, museus, igrejas, torres de TV, parques, teatros, cinemas. Esses lugares eram limpos e bem conservados. Valeu a pena conhecer todos esses lugares. Também fui a várias cidades, praticamente do norte ao sul da Alemanha. Até na fronteira da França com a Alemanha eu estive. Conheci Bremen, Bremenhaven, Lusehaven, Oldenburg, Hamburg, Hagen, Wapsweder, Pederkesa, Freiburg, Bard-Durkeim, Köln, Ritterhute e Frankfurt. Todas essas cidades são bem limpas e bem conservadas, não tem nem comparação com as grandes cidades brasileiras. Não assisti a muita televisão no tempo que estive lá. Ao que mais assisti foram noticiários, que praticamente só falavam na Guerra do Golfo. Uma coisa que me impressionou foi que passaram duas novelas brasileiras: “Roda de Fogo” e “Fera Radical”. 244
Nos fins de semana dormíamos até às 9h e pouco, tomávamos café e depois saíamos. Praticamente todo domingo a família me levava para conhecer algum lugar diferente. Se a gente tomava café muito tarde não havia almoço. Comíamos algo pelo caminho, aí só tinha janta. A juventude se veste praticamente igual à juventude daqui, mas quase todos os rapazes usam brincos e têm cabelo comprido. O que a gente vê muito é homem de terno e gravata. A música que a juventude escuta é internacional. O volume é também altíssimo. Quase não se ouve falar do Brasil, mas as pessoas se interessavam em saber algo mais sobre o nosso país. A única coisa que sabiam do Brasil era sobre o futebol, Airton Senna, Foz do Iguaçu e Floresta Amazônica. Na televisão eu não vi nada sobre o Brasil. No rádio eu escutei algo sobre “Rock in Rio” e nos jornais encontrei algo sobre o carnaval de São Paulo e do Rio de Janeiro e uma reportagem sobre Airton Senna. Da situação econômica fiquei sabendo através das cartas que os familiares e amigos me escreveram. Escrevi muitas cartas, a saudade também era grande, mas deu para suportar. A viagem de volta foi longa e cansativa, mas o retorno foi uma das coisas mais bonitas de toda a viagem. Tivemos escala em Bruxelas (Bélgica), Madrid (Espanha), Dacar (África), Assunção (Paraguai), São Paulo e Porto Alegre. A vontade de reencontrar a família fez com que as horas passassem mais depressa. O retorno foi para mim uma grande emoção. Mesmo estando longe da família, os meus pensamentos já estavam com eles. Gostei muito dessa viagem e faria ela novamente se fosse preciso. Voltaria à Alemanha a qualquer hora. Com essa viagem deu para aprender muita coisa; foi para mim uma grande lição. Observação: Na manhã de 23 de março de 1973, dia seguinte ao nascimento de Maria, meu pai veio aqui em casa dar a notícia do nascimento. Parece-me estar ainda vendo-o hoje, tão vivo ficou esse fato em minha memória. Com lágrimas nos olhos disse-me: “Benno, mas a criança é uma deficiente física. Não possui mãos, uma perninha é mais curta do que a outra e o pé parece ter só três dedinhos. Natália não cessa de chorar. Peço-te, venha dizer a ela algumas palavras de conforto, de consolo! Ela está toda desesperada.” Não me demorei em ir. Consolando a cunhada, entre outras coisas disse: “Natália, aceite essa criança tal como ela é! Deus é grande e vai dar um jeito! Mesmo sendo deficiente física, mas com saúde, creio que ela vai defender-se na vida melhor do que muita gente normal. Dependerá da força de vontade. Nós não sabemos qual é o plano de Deus a respeito dela. Deus sabe escrever direito por linhas tortas. Resta-nos confiar nesse Deus e tudo dará certo.” E estamos vendo que tudo está dando certo, embora com bastante sacrifício por parte da família e dela própria. Mas esses sacrifícios são correspondidos pela força de vontade admirável e invejável de Maria, que consegue fazer praticamente tudo como se tivesse todos os membros normais. É só observar para crer! 245
Eu tive a honra de alfabetizar a sobrinha Maria. Ela aprendeu a escrever mais depressa e melhor do que muitos de seus colegas. O único problema era a observação das linhas, pois escrevendo com o auxílio de dois braços não conseguia ver as linhas e, além disso, a distância dos olhos ao papel ficava muito reduzida. Mas atualmente consegue observar as linhas tão bem como uma pessoa normal. Quando se tratava de alguém ir ao quadro, Maria se achava na ponta. Quis dispensá-la da educação física. Qual o quê? Nisso ela não consentiu e nem se dispensava de participar dos jogos e dos brinquedos durante o recreio. Quanto a isso me lembro de uma “boa” acontecida durante o recreio, quando os alunos estavam brincando um certo tipo de jogo de pegar. Pegaram a Maria e ela ofereceu resistência, chegando os alunos “mortos” a carregá-la a muque para o lado adversário. Foram uns quatro ou cinco alunos, pegando ela nos braços e pernas. De repente alguém, todo assustado, acho que estava até tremendo, veio me comunicar gaguejando: “Professor, arrancaram a perna de Maria” e outros atrás trazendo a perna. Rindo, expliquei que ela precisava para poder andar. “E agora quem vai colocá-la novamente? Eu é que não sei colocá-la!”, disse o aluno. Prontamente veio a resposta dentre os alunos acorridos: “A Helena sabe colocar!” “Pois então ela ajude a Maria! E de uma próxima vez vocês sabem que não se pode pegar nessa perna, e muito menos ainda puxar”, recomendei.
A sobrinha Maria contente da vida e com seus 20 anos de idade
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Com tempo bom e a estrada seca, Maria vinha a pé, com os alunos vizinhos, para a escola, e ela não morava tão perto! Com a estrada barrenta e tempo chuvoso, alguém da família a trazia a cavalo e no término da aula a buscavam. Se o cavalo não se achava a postos, Maria nem vacilava e metia-se a caminho. Faltar à aula só se estivesse doente ou tendo que consultar a ortopedista para melhorar o aparelho. No final do ano letivo de 1991, Maria concluiu o 2º grau. Fez vestibular e agora está estudando na Unisinos, em São Leopoldo.
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28. Poesias, Cantos, Prosas e Discursos da Gente de Walachai
C
omo neste livro resta uma boa porção de páginas, como complemento, vou transcrever artigos publicados no “Michelsblatt” – suplemento em alemão do Jornal do Dia e redigidos por poetas de Walachai. A maior escritora de antigamente foi, sem sombra de dúvida, a minha tia e madrinha Maria Terêsia Büttenbender Henrich. Seus escritos foram publicados principalmente no Deutsches Volksblatt e nos Familien Freund Kalender. Transcrevo aqui a poesia que a madrinha publicou em homenagem à sua terra:
Walachei! Wo man vom Berg ins Tälchen schaut, Da liegt zu unsren Füssen Die Walachei so lieb und traut Inmitten grüner Wiesen Umschützt von eimen Hügelgranz Von dunklen Tannenbäumen Die hochgestreckt noch voll und ganz Das Landschaftsbild umsäumen Die Häuser darin gesät Und mitten zwischen drinnen 249
Dort wo der Weg im Bogen geht des Kirchleins Turm und Zinnen Ertönt des Glöckleins Silberton Erschallen fromme Lieder Schwebt Gottessegen, Gotteslohn Auf unser Tal hernieder Und Blumen, Fische, Vögelein So herzlich Grüsse tauschen Im milden lichten Sonnenschein Wenn Wald und Bergbach rauschen So lieb ich meine Walachei Nur hier will’s mir gefallen Wo trotz des Tages Allerlei Nur Liebe herrscht bei Allen M.T.Henrich
Em tradução livre, o conteúdo dessa poesia é mais ou menos o seguinte:
Walachei! Do alto do morro descortina-se aos nossos olhos a Walachai, querida e singela, no meio de verdes campinas. Protegida por um rosário de morros cobertos por verdes e altivos pinheiros, emoldurando toda a paisagem. Espalhadas por essa paisagem encontram-se as casas, e no meio de tudo isso, lá onde a estrada se curva, aponta aos céus, com a sua torre, a capelinha.
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Ao soar argênteo do sino ressoam pias melodias, bençãos e graças de Deus, e espalham-se por nosso vale. Flores, peixes e aves trocam entre si afáveis saudações sob os meigos raios luminosos do sol, ao murmurejar da mata e do arroio. Por tudo isso eu amo a minha Walachai Somente aqui eu me sinto bem, onde apesar de todos os acontecimentos cotidianos, só reina amor entre todos. M.T.Henrich
A poesia seguinte apareceu no “Michelsblatt”- suplemento do Jornal do Dia – em 1959, ao ser construída a estrada que liga Santa Maria do Herval com Walachai. O início das obras se deu com uma festa lá no Herval. Nessa mesma época, estava em surgimento o movimento emancipacionista de Dois Irmãos – 4º distrito de São Leopoldo e o Herval – 8º distrito, para juntos formarem o município de Dois Irmãos. Na tentativa de impedir este fato, o prefeito de São Leopoldo fez abrir esta estrada, que sem dúvida significou grande progresso tanto para o Herval como para Walachai. Era uma antiga reivindicação do Herval. Essa obra, porém, não conseguiu atrapalhar o êxito do plebiscito em favor da emancipação.
Der fortschrittliche Strassenbau Zwei Jahrzehnte sind verflossen Damals war man oft verdrossen Wollte man die Baumschneis sehen Musste man zu Fuss hingehen Schlechte Wege, ganz unsäglich Ja, zum Reiten ganz unmöglich Tiefer Dreck mit vielen Steinen Man hätte wirklich mögen weinen Oft musste man Fronarbeit schaffen Und die Steine aus dem Wege raffen 251
Verschwunden ist das Jammerbild Und unser Wunsch wird immer mehr erfüllt Wir sind ja stark an der Zahl Man merkt es schon bei jeder Wahl Drum wollen wir auch weiter wählen dann werden wir unsern Fortschritt nie verfehlen Schöne Strassen werden schon gebaut Freude und Jubel werden immer laut Eine Strasse ist frisch angelegt Worüber sich schon der Traktor bewegt Sie kommt vom Seewald her zu uns herbei Und führt dann mitten durch die Walachei Bald sind wir am Ziele angelangt Nur eines ist was jetzt uns bangt Man hat ein neues Munizip geplant Was vor kurzem niemand hat geahnt Das Zentrum wird bestimmt auf Retersberg Weil Baumschneis abseits liegt wie Bugerberg Doch ohne Stadt und ohne Industrie Ist´s für ein Munizip noch viel zu früh Lieber wollen wir es bleiben lassen Weil wir die hohen Steuern hassen Zu São Leopoldo halten wir treu und fest Es ist uns das allerbest Ein jeder denkt auch schon für sich São Leopoldo lässet uns nicht im Stich Albert Rinker
Em tradução livre para o português o conteúdo desta poesia é mais ou menos assim:
O progresso em matéria de construção de estrada Decorridas então duas décadas, Naquela época, muitas vezes a gente esteve amargurada. 252
Se a gente queria ver Dois Irmãos Tinha que ir a pé. Estradas ruins, simplesmente indizíveis; Sim, impossível de nelas se andar a cavalo. Barro excessivo, com muitas pedras, Na verdade era para a gente pôr-se a chorar. Muitas vezes a gente tinha que trabalhar de graça E tirar as pedras da estrada. Desaparecido está este espantalho. E a nossa vontade está sendo sempre mais cumprida, Nós aumentamos fortemente em número, Isto a gente nota em cada eleição. Por isso mesmo continuamos votando, Assim, pois, nunca seremos excluídos do progresso. Belas estradas estão sendo construídas; Alegria e entusiasmo fazem-se sempre presentes. Uma estrada foi recém-projetada O trator já está em serviço nela. Ela vem do Herval para cá E passa bem pelo meio de Walachei. Estamos prestes a alcançar o nosso objetivo. Mas uma coisa nos espanta: Está-se planejando um novo município Que até há pouco ninguém cismava. É melhor deixar isto de lado Porque detestamos impostos altos. Permanecer firme e fiel a São Leopoldo, Isto é o melhor para nós. Cada um pensa em seu íntimo: São Leopoldo não vai nos desamparar. Alberto Rinkler A poesia a seguir também foi publicada no “Michelsblatt” pelo ano de 1959, quando o colono nem nutria ainda a esperança de um dia obter a sua aposentadoria. Fato que hoje, em 1993, é uma bela realidade após muita e persistente luta travada pelos agricultores através dos seus sindicatos rurais. 253
Der bedrückte Bauernstand Es geht die Klage im ganzen Land Über den bedrückten Bauernstand Er ist doch das Wichtigste auf Erden Das nicht kann geleugnet werden Er hilft allen für das tägliche Brot Ohne ihn wäre es eine grosse Not Obschon er ist dem Land eine grosse Nutz Steht er allein noch ohne Schutz Es gibt Pension für alle Klassen Nur der Bauer ist sich selbst überlassen Er wird behandelt gar nicht recht Und seine Produkte bezahlt man schlecht Was der Bauer kauft, ist viel zu teuer Und steigt im Preis noch ungeheuer So stieg der Preis für Düngermittel In kurzer Zeit fast um ein Drittel Jetzt wird die COFAP nicht kontrollieren Um den adubo einzufrieren Nur was der Bauer hat zum verkaufen Was er kauft, kann im Preise laufen Die Bauern machen deshalb nicht greve Lieber kaufen sie kein Adubo Trevo. Ohne Adubo pflanzen hat keinen Wert Wer dennoch pflanzt, schlafft ganz verkehrt. Hilft uns nicht der Governador Geht der Bauernstand noch ganz verlor’n. Die Bauern suchen ihre letzte Gnad’, Und wandern aus nach der Stadt. Dann ruft bei vielen der Verstand, Was die Bauern sind im Land. Von Albert Rinker
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A classe oprimida dos agricultures Em todo o país ouve-se queixas Pela classe oprimida dos agricultores. É a classe mais importante sobre a terra, Isso ninguém pode negar. A todos ajuda na obtenção do pão cotidiano, Sem essa classe haveria grande miséria. Apesar de ser de tamanho proveito do país, Está a sós sem proteção. Aposentadorias há para todas as classes, Só o agricultor está entregue a sua própria sorte. É tratado com injustiças E sua produção está mal remunerada. O que o agricultor compra é caro demais, E ainda continua subindo de preço assustadoramente. No decorrer de pouco tempo O preço do adubo triplicou. Agora a COFAP não irá controlar o preço, Para não congelá-lo. Somente o que o agricultor tem para vender, E aquilo que precisa comprar tem preço liberado. Nem por isso os agricultores fazem greve, Preferem não comprar adubo TREVO. Plantar sem adubo é inútil, Quem contudo continua plantando assim Trabalha totalmente errado. Sem a ajuda do governador A classe dos agricultores está perdida. Os agricultores tentam a sua última chance, E migram para a cidade. Então muitos acordarão, Reconhecerão o valor do agricultor no país. Alberto Rinker
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E Stükelche an de liewe Brummbäronkel erzählt von Albert Rinker, Walachai Liewer Brummbäronkel Carl, Am Sonntag war bei uns die Kerb im Daal. Unn weil scheen Wetter ess geves, Senn viel Gäste komm, ohne Gehees. Die Kerb ess ach für alle Leit. Wer dat net glaabt, ess net gescheit. Et hot vorher die ganze Woch Immer schon no Kerb geroch. Alles hot beigeschleppt wie die Aranver. Mancher Odis un Baarig must dran glanver. Die Weibsleit honn no nise gefroot, Wenn nur ihr Gebäcks ess gut geroot. Manche honn sich aarig beklaat, Weil im Zentrum die Musik hot versaat. Ener wohnt ganz dicht na der Kerch, Hat aber die Musik gehall of Reutersberg. Doch die Leit honn all gesaad Mer gehn doch net in anner Bikad. Manche senn ganz urtig gebb Unn honn sich komme geloss’n Caminhonet Unn senn an deb overste Saab gefahr. Drum war’s beim Emil unver ofm Berg So vollgestoppt wie enner Kerch. Männer, Weiber, Buwe on Määd, Hon ener dem annere die Füss verträt. Sogar Männer met Rosilhoköpp Honn getanzt, wenn ach krumm und schebb. Alles hot gejuchst, getanzt, gelacht Unn honn vergnügt ihr Geld verkracht. Alles ist nun längst vorbei, Anver mir hört davon noch allerlei. Lienver Onkel, vat mänst du dazu? Dat wär die Naileh von derer Kuch!
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Uma historieta ao “Brummbäronkel” contado por Alberto Rinker – Walachai Querido Brummbäronkel Karl, Domingo passado foi o “Kerb” em nosso vale, E por que fez tempo bom Apareceu muito conviva sem ser convidado. Também o “Kerb” é para toda a gente. Quem isto não quer entender, é um idiota. Já durante toda a semana anterior Fez-se presente o odor querbiano. À moda árabe toda gente providenciou os artigos para o “Kerb”. Muito boi e porco teve sua vida abreviada. A mulherada tão somente torceu Que as suas iguarias farináceas lhes saíssem a contento. Houve gente que se queixou amargamente, Porque no centro da Picada falhou o baile. Um certo personagem mora bem perto da igreja Mas deu o seu baile no Morro Reuter. Mas toda gente falou: “Nós não vamos nos dirigir a outra picada!” Alguns até chegaram a se enfurecer, Mandaram vir uma caminhoneta. Mandaram-se para o salão de cima, Por isso o salão do Emílio lá no Morro Encheu-se que nem uma igreja. Homens, mulheres, moços e moças Chegaram a pisar os pés uns dos outros. Até homens de cabeça grisalha Dançaram a torto e a direito. Todo mundo divertia-se a valer Animadamente gastaram o seu dinheiro. Tudo isso é agora já história do passado. Mas muita conversa ainda dá pano para manga. Querido tio, que tu achas de tudo isso? Foi em tudo isso que resultou esse “Kerb”.
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Observação: Devido ao pouco espaço no salão Seger, o dono resolveu transferir o baile de “Kerb” para o salão novo e bem equipado para essa época (1959) de seu filho no Morro Reuter, hoje Salão Beck – desativado. Em seu caminhão transportou grátis as pessoas de seu salão daqui para o salão de seu filho no Morro Reuter. Mas muitas pessoas não gostaram disso. Após o baile o salão Seger foi aumentado e melhor instalado tornando-se desnecessário recorrer a salões em outras localidades por ocasião de nosso “Kerb”. Die Missachtung des Bauernstandes Nach Meinung von Albert Rinker – Walachai Starke Bauern mit starker Hand Sind das Fundament vom Vaterland. Mächtig müssen wir uns wehren Um die wielen Menschen zu ernähren. Bei der Kälte in der Hitze Müssen wir frieren und oft schwitzen. Müssen trachten hier aud Erden, Um der vielen Arbeit Herr zu werden. Und dazu kommt noch so allerhand. Man schickt uns schon Fiscale ins Land. Sie wollen uns ja kontrollieren, Am liebsten uns aber multieren. Fast verlassen von der Obrigkeit. Ein Zusammenschluss wär höchste Zeit. Wollen die Bauern sich vereinen, Tut’s der Geschäftsmann dann verneinen. Auch der Geschäftsmann muss von Bauern leben, Hilft aber nicht den Bauernstand heben. Gleich an die Hacken denkt Die er zum Verkaufen hinhängt. Nach einer goldenen Handelszeit, Wäre eine Hacke ein grosses Leid. Acht Cruzeiros kostet in der Stadt Ein kleines Büschel grün Salat. Und doch hat alles keinen Wert, Wenn man unsere Geschaftsleute sagen hört. Drum kommt der Bauer nie zu Geld 258
Weil der Geschäftsmann immer die Hälft behält. Ein Kongress werde abgehalten, Ward viel gepriesen in Zeitungspalten. Vieles werde dann beraten Mit schönen Worten und hehren Faten. Den grössten Nutzen, es bleibt fürnvahr, Hatte die Empresa und die Bar. Das Wichtigste wurde nicht gesagt, Worüber man am meisten klagt: Zwischenhandel und Wuchern . Die wir oftmals tun verfluchen. Wird es noch so weiter gehn, Kann überhaupt kein Bauer mehr bestehen Viele wandern in die Stadt, Haben schon den Wucher satt. Aber uns bleibt ein Hoffnungstern, Walte Gott dass er sei nicht mehr fern. Wollen wir alle es begrüssen, Uns alle zusammenschliessen. Es ware höchste Zeit einen Zusammenschluss, Der doch einst mal kommem muss. Dann bleiben: Uberschwemmung, Trockenheit, Misswachs, Hungersnot, Der Bauer aber hat noch (am längsten Brot).
O descaso à classe dos agricultores Na opinião de Alberto Rinker – Walachai Agricultores fortes de mãos traquejadas, São o alicerce da Pátria. Precisamos lutar valentemente Para dar de comer a tanta gente. No frio, no calor, Precisamos passar frio, muitas vezes suar. Importa sermos senhores e vencedores Na terra de tantos serviços. Além do mais acontece tanta coisa, 259
Já são nos mandados fiscais. Estes nos querem controlar Mas antes de mais nada gostariam de nos multar. Praticamente abandonados pelas autoridades, Imperiosa se torna a nossa união de classe. Querendo os agricultores se unir, O comerciante procura impedi-los. Também o comerciante precisa viver do agricultor, Mas não contribui para erguer a classe dos agricultores. Pensa de imediato na venda da enxada, Que expõe à venda. Após um período de áureos negócios Ter que pegar no cabo da enxada seria uma grande desgraça. Oito cruzeiros é na cidade O preço de uma cabecinha de alface. No dizer de nossos comerciantes, Tudo isso de nada adianta. O agricultor nunca tem dinheiro Porque o comerciante fica para si com a metade do produto. Um congresso foi realizado, Foi muito prezado pelos jornais. Muito plano foi então debatido Com belas palavras, mas sem ações. O maior proveito de tudo isso Teve a Empresa e o Bar. No problema mais grave não se tocou, Do qual maiores queixas há: A intermediação e a ganância, Que tantas vezes amaldiçoamos. Continuando as coisas neste pé, Acontecerá que agricultor algum poderá se manter. Muitos colonos migram para a cidade, Estão cheios da ganância existente. Mas ainda nos acena uma esperançosa estrela, Queira Deus que não esteja muito distante. Saudemo-la todos nós Unamo-nos todos duma vez! 260
Estaria em riba da hora de nossa união, Que sem dúvida deverá algum dia acontecer, Restam-nos então: enchentes, secas, colheitas fracassadas, fome. Mas aos agricultores por último faltará o pão. Esta poesia apareceu no “Michelsblatt” por ocasião de uma “Semana Ruralista” realizada na “Sociedade Atiradores” em Dois Irmãos. Este encontro de agricultores contou com muita participação. As palestras estiveram a cargo de técnicos do Ministério da Agricultura e da Secretaria Estadual de Agricultura. Monsenhor José Becker foi o coordenador do encontro. Tratou-se de bataticultura, hortigranjeiros, suinocultura, gado leiteiro, criação de aves, cuidados higiênicos e de saúde e de outros assuntos ligados à agricultura. Foi uma “Semana Ruralista” de muito proveito. Verdade é que não foram abordados temas relacionados com o sindicalismo, cooperativismo visando a união dos agricultores em sua defesa. Isso, porém, aconteceu não muitos anos após, como consequência dos movimentos da “Frente Agrária Gaúcha”, cuja alma foi o irmão marista Miguel Dario Arnhold. Observação: As poesias e historietas assinadas por Alberto Rinker, na minha opinião, apenas acobertam os verdadeiros autores das mesmas.
Cantos Entre as mais variadas canções aqui cantadas outrora, transcrevo a letra de duas mais conhecidas. Estes dois cantos foram publicados no “Michelsblatt”. O provavel autor foi Afonso Brod – o “Brummbäronkel”.
Die Krisezeit Melodie: O Tannenbaum O dummes Pech, die Krisezeit Versauert ähm dat Leeve. Geht dat so fort, dann wääs ich net, Wat’s nore noch soll geeve! Verdiene duht m’r wärklich nix, M’r hat käh Geld – ess dat en Wichs! O dummes Pech, die Krisezeit Versauert ähm dat Leeve! 261
O dummes Pech verflixtes Pech, Ich senn schon alles leerig. En Haafe geld en dicke Pack, De wär mir wärklich neerig! Honn’s grosse Los noch nie gewonn, Doch honn ich oft gedräämt devon; O dummes Pech, verflixtes Pech, Ich senn schon alles beerig! Ich honn gedenkt, et ging mir an, En reiches Weib ze kriehe, Jedoch verflixt et hat net gang Mir wollt dat Glück net bliehe! Mool honn ich jo en Keich gefreit Met der hadol ich aach gleich schonn Streit; O dummes Pech, verflixtes Pech, Ich konnt se jô net kriehe! Dat ess nau so, de ähn ess stolz, De annere ess eitel, De ähn hat’s Geld, de anner, ach, De hat dann blos de Beisel lo, De ess d’r stännig leer, ei jo: O dummes Pech, verflixtes Pech Met meinem leeren Beitel!
Die Gesellen und der Meister Melodie: Trink Trink, Brüderlein, trink Dat Leeve dat ess d’r oft sauer, Dat Leeve, dat mcht ähm ze duhn; Dat halt m’r net aus off die Dauer Wann soll m’r dann nore mool ruh’n? Geschafft werd gequält werd sich immer, Do gibt’s käh’ne Ruh, käh’ne Rast, 262
Statt besser, werd’s stännig die Last. Guck, guck, Brüderlein guck, Dat ess en Wärtschaft – o je Schafft m’r aach stännig bei Dag und bei Naacht, Immer werd’s selve geklagt! De Meister jo, dat ess en Kunne, De lehd sich nor ruhig off’s Ohr, Uns ducht er käh Ruhstinnche gunne, Waren nau – dat ess mir net klor. Blos grebbe ducht’s uns – um net wenig, Dadd er so behannle uns ducht, Doch ess er jo unsere Keenig, Drem semmer’m trotz alledem gut! guck, guck, Brüderlein, guck, Wat soll m’r annerscht aach duhn? Däht m’r mool mucke, dann wär er eerscht schroh, Drem semmer lieever noch froh! Et komme nosel bessere Zeite For uns aach dat haffe m’r doch, Wo meer uns aach besser duhn leire, Un wo m’r aach komme mool hoch. Dann semmer vielleicht aach en Meister Un machen’s wie unsere heit: Von morjens bes owens, wenn’s deister, Do losse m’r sehaffe uns Leit! Guck, guck, Brüderlein guck, Waarte m’r’s nore noch ab. Wemmer aach heitzedaags sehaffe hoch duhn Später, dann kenne m’r reech’n!
A seguir transcrevo neste livro alguns pronunciamentos meus – executados no tempo saudoso de minha estadia no seminário e nos primeiros anos de retorno à terra natal. Casualmente ainda possuo cadernos escolares daquele tempo. 263
Pronunciamento no Seminário Discurso que fiz quando presidente da Congregação Mariana dos seminaristas maiores do seminário redentorista “Santo Afonso” em Aparecida do Norte, São Paulo, em 1942.
Rev. Pe. Espiritual! Caros Congregados! Salve Maria! Pela primeira vez estamos nós congregados, reunidos neste salão no ano de 1942. Realiza-se hoje a primeira academia neste novo ano escolar. As aulas já começaram. Com elas novas lutas e novas dificuldades! Quantas ciladas, ainda, não armará contra nós durante este ano Satanás! Quantos assaltos inesperados, não nos fará! Concentrará todas as forças de sua inteligência para ver se não consegue afastar-nos do bom caminho e não nos possa ganhar para si. Chegarão talvez horas difíceis para ti, congregado! Satanás, que qual um leão furioso, rangendo os dentes e rugindo de raiva, anda solto pelo mundo, dia e noite, quererá talvez fazer-te desesperar, desanimar e desistir de tua carreira tão sublime quão nobre. Então, quando parecer que o mundo inteiro te tenha abandonado, ajoelha-te diante do altar da Virgem. Ergue com confiança teus olhos para ela. Com a mais profunda piedade pede humildemente a esta Virgem, a mãe da perseverança, que volta a ti os seus olhos misericordiosos. Peça que estenda sobre ti o seu manto protetor e te defenda contra os teus inimigos. Ela, com os seus pés imaculados, esmagará a cabeça da serpente infernal. Não te será negada proteção, pois quem jamais a Vós recorreu, ó Virgem, e não foi atendido? Nossa Senhora mesma deu-nos o maior exemplo de perseverança, permanecendo debaixo da cruz até estar consumado o sacrifício de seu divino Filho! Imitemos, pois, caros congregados, a Maria! Empreguemos neste novo ano escolar todas as nossas forças em amar a Santíssima Virgem, em servi-la e amá-la! Ofereçamos a Jesus pelas mãos de Maria todos os nossos sofrimentos, todas as nossas alegrias, todos os nossos esforços, o nosso estudo, enfim, todo o nosso lidar durante este novo ano escolar. Peçamos à Virgem que Ela interceda por nós junto a Jesus. Ele nada recusará à sua Santíssima Mãe. Não fez Jesus o seu primeiro milagre a pedido de sua santíssima Mãe, mudando água em vinho? Sim, congregados, nas bodas em Caná, Maria nos mostrou quanto é grande o cuidado que Ela tem conosco. Seu coração materno previne nossas necessidades, até nossos desejos e reza por nós, antes mesmo de termos pensado em invocá-la. “Não tem vinho”! Palavra tão singela! Palavra que na sua sublime brevidade respira caridade, 264
a discrição, a confiança, a fé, a dignidade modesta e paciente, numa palavra. Toda a alma de Maria. Ela não manda, limita-se a expor, a informar a seu divino Filho que falta o vinho, e Jesus não pôde resistir às palavras de sua Mãe e cumpriu o seu desejo. Se, caros congregados, Maria alcança para nós de seu divino Filho, os bens materiais quanto mais não nos alcançará os bens sobrenaturais. Maria não desampara a ninguém. Sejamos, portanto, caros congregados, sempre gratos para com essa boa Mãe do céu! Sejamos verdadeiros congregados, não somente de palavras, mas de ação e filhos dedicados da Mãe de Deus! Recorramos a Ela em todas as nossas dificuldades e aflições. Observação: Em cada mês durante o ano letivo, realizava-se uma hora acadêmica em honra de Nossa Senhora pelos congregados marianos do seminário. Os oradores eram sorteados e os cantos selecionados pelo maestro do seminário. O ano letivo iniciava em 3 de fevereiro, após a vestição (tomada de hábito) dos seminaristas que haviam concluído seus estudos no seminário menor e partiam para o seminário maior, antes, porém, passavam pelo noviciado por um ano. Havia um mês de férias na metade do ano, terminando o ano letivo em 23 de dezembro. Repartidos em 2 turmas, cada turma passava 15 dias na casa de férias na Pedrinha e 15 dias no próprio seminário. Ninguém podia passar as férias em sua casa paterna. Essa só reveria quando já ordenado padre, quando rezaria a sua primeira missa solene em sua terra natal. Isso ocorreria depois de quatroze ou quinze anos, após a entrada no seminário. Pronunciamento em comemoração ao Dia da Pátria Discurso que pronunciei em 7 de setembro de 1942 em frente da subintendência de Dois Irmãos, quando era obrigatório o comparecimento à comemoração do Dia da Pátria em plena Segunda Guerra Mundial. A esplanada da subintendência estava tomada por pessoas de todas as idades. Houve missa campal rezada pelo pároco Pe. Valentin Weschenfelder. Em seguida levou-se a efeito o ato cívico que constou em Hino Nacional, Hino da Independência, poesias a canções cívicas. Por último, fiz o meu discurso com a devida licença do subintendente, Capitão Carlos Theobaldo Sperb.
Senhor Theobaldo Sperb D.D. subintendente deste distrito! Estimados compatriotas! Quase todos os povos da terra proclamaram um dia a sua independência nacional, uns mais cedo, outros mais tarde. Outras nações, por guerras sangrentas e cruéis, tornaram a perdê-la novamente. Mas o dia surgirá em que novamente obterão a sua independência 265
nacional, pois o homem foi criado em estado livre. Entre todos os povos da Terra, o dia em que alcançaram a independência é comemorado com o maior brilho e pompa possível. É este, meus caros compatriotas, o motivo de nosso júbilo e alegria de nós também podermos, após inúmeras vezes, festejar novamente o dia tão faustoso da nossa independência nacional. O dia 7 de setembro, caros ouvintes, é a data mais heroica da nossa história. De súditos que éramos de Portugal tornamo-nos livres, independentes como qualquer outra nação do mundo. Cabe tão heróica ação ao tão ilustre quão bravo imperador D. Pedro I. Vendo o descontentamento do povo brasileiro, sentindo com ele e vindo novos decretos das cortes de Portugal intimando-o a que partisse logo para a Europa e instigado por José Bonifácio de Andrada, desembainhou a espada e bradou: “Independência ou Morte”. Este brado heroico foi imediatamente acolhido com júbilo pelos que o acompanhavam e por todo o povo brasileiro. Desde este dia 7 de setembro de 1822, nós trazemos outro laço de fitas: verdes e amarelas. Nesta data começou uma vida nova para nossa querida pátria. Desde então somos livres, independentes! Desde então, somos senhores absolutos da nossa pátria, o Brasil, onde tudo é grande, tudo é maravilha e tudo são encantos! Sim, o Brasil é um país privilegiado pelo Criador, é a nossa querida pátria. Pátria como outros não têm. Pátria invejada e cobiçada por outras nações. Sim, o Brasil, este gigante, é portentoso nos três reinos da natureza: no reino mineral, no reino vegetal e no reino animal. Parece que tantas montanhas se erguem na sua superfície, para dar lugar aos metais preciosos que regurgitam as entranhas desta terra abençoada, e profundos vales aqui se cavam, para deixar rolarem livremente estes majestosos rios, entre os quais se encontra o rei dos rios: o soberbo Amazonas. Se espraiamos a nossa vista pela extensão desta nossa bela pátria desenrola-se ante nossos olhos encantados um imenso tapete de admirável verdura, no qual o supremo Artista se esmerou em pintar com seu divino pincel as mais engraçadas, mimosas e lisonjeiras flores. E que diremos dos insetos, das aves e dos animais? Uns pelas suas cores admiráveis e elegantes formas, outros pela sua linda plumagem e voz canoura, todos, pela multidão e variedade, despertam a nossa curiosidade e a dos naturalistas. A nossa pátria é um país sem igual! É um país livre e independente! É uma terra de heróis! Nós, caros compatriotas, a exemplo de nossos heroicos antepassados, devemos ter um verdadeiro amor patriótico. E esse só temos se amamos a nossa pátria e se cumprimos os nossos deveres para com ela! Essas são as condições fundamentais e únicas do progresso e do engrandecimento da nossa querida pátria! Devemos ser fiéis a ela e defendê-la contra os inimigos, tanto internos como externos! Devemos derramar o nosso próprio sangue e dar a nossa vida por ela! O nosso patriotismo deve ser tão ardente, tão forte, tão firme que todos formem um só coração, tenham um só sentimento! 266
Ó pátria querida! Prontos estamos todos para dar o nosso sangue, sacrificar a nossa vida, tudo por ti! Nós te prometemos defender e engrandecer! E no fim deste discurso demos ainda um grande e forte “Viva” à pátria e ao chefe da Nação. Viva o Brasil a nossa querida pátria! Viva o chefe da Nação, o Sr. Dr. Getúlio Vargas! Observação: Fui muito aplaudido e cumprimentado por autoridades militares presentes. Ainda nos dias de hoje tem gente que me lembra daquela ocorrência cívica.
Pronunciamento no Ingresso ao Magistério Discurso pronunciado em 1º de março de 1943 ao ser incluído com mais sete colegas no quadro do magistério municipal em concurso realizado em 27 de fevereiro. Dos 60 candidatos inscritos no concurso, apenas oito conseguiram aprovação. Por eu ter obtido o primeiro lugar, fui escolhido orador da turma. Na elaboração do discurso tive a colaboração dos colegas. Nessa data, reuniu-se todo o magistério municipal no salão nobre da prefeitura em torno da diretoria do ensino do intendente Cel. Teodomiro Porto da Fonseca e do secretário Dr. Carlos de Souza Moraes! Prezadas Autoridades! Estimados colegas! Findo o exame para o ingresso no magistério municipal, reunimo-nos aqui para expressar os nossos sentimentos de gratidão que devemos ao Exmo. Sr. Dr. Carlos de Souza Moraes e a Exma Srª. Edy Guimarães Pinto, que tantos esforços têm prestado e vem prestando em prol do ensino primário deste Município. Agradecemos do íntimo do nosso coração! Agradecemos igualmente aos distintos membros da comissão examinadora, que nos julgou aptos para ingressar nas fileiras do professorado municipal. Aqui estamos! Prontos para seguir ao campo da luta. Cheios de coragem, unimo-nos a estes nossos colegas que há tempo vêm se esforçando na instrução da nossa criançada, incutindo-lhes um verdadeiro amor pátrio. Esperam-nos talvez grandes dificuldades, mas firmados no nosso dever e ideal, não devemos recuar diante delas, pois seria mostrar-se covarde, e melhor, seria não aceitar a carreira de professor. 267
Temos que desempenhar uma missão nobre, sublime e de grande responsabilidade. Missão nobre, porque além de ensinar os nossos pequenos patrícios e desenvolver-lhes as faculdades mentais, temos que formar-lhes o carácter e educá-los segundo o verdadeiro espírito de brasileiridade. Se assim não procedermos faltaremos ao nosso dever, e a nossa missão converter-se-á numa carreira fracassada. Por isso, caros colegas, prestemos à pátria o nosso juramento de fidelidade no compromisso do nosso dever - “Ó pátria querida, aqui estão os teus filhos que dentro em breve seguirão diferentes rumos para trabalhar na instrução da tua juventude. Nós te prometemos cumprir bem e fielmente as obrigações do nosso cargo, em cujo exercício jamais faltaremos às inspirações do patriotismo, da lealdade e da honra. Formaremos brasileiros dignos de ti, que conheçam e saibam cumprir os seus deveres, trabalhem pelo teu engrandecimento, e, possuidores de um patriotismo tão forte, tão ardente, tão intenso, que sempre estejam prontos a dar o seu sangue, a sua vida, tudo por ti, à pátria brasileira!” Disse!
Pronunciamentos das Horas Cívicas Lá pelos meados de 1947 quando tive que assumir a escola de Walachai até 1962, quando passei a partilhar o magistério com o prof. José Albano Wickert, para todas as eventualidades de caráter religioso como civil, quando tocava em fazer a recepção de autoridades, o uso da palavra ficou sob a minha responsabilidade, já que não havia aqui outras pessoas com o domínio da língua pátria. Entre os muitos discursos proferidos durante a Hora Cívica por ocasião da passagem do Dia da Pátria, transcrevo um trecho do discurso de 1950:
Prezados patrícios! Caros alunos! Salve 7 de setembro de 1950! Salve Dom Pedro I! Comemora-se hoje a passagem de mais uma data da independência de nossa pátria. Prestam-se hoje amplas homenagens à nossa querida Pátria em todos os quadrantes deste nosso imenso Brasil. A todas elas nos juntamos e do melhor modo possível também a homenageamos nesta auspiciosa data. Neste dia tornamo-nos independentes de Portugal. De 268
colônia que éramos, tornamo-nos uma nação livre, um povo por nós mesmos. Constituímos assim a nossa nacionalidade brasileira! Esta nasceu no momento em que o príncipe D. Pedro, às margens do rio Ipiranga, no dia 7 de setembro de 1822, soltou o imenso grito: “Independência ou morte”. Este brado heroico gerou uma vida nova e cheia de esperanças para o povo brasileiro. É neste dia que prestamos as maiores homenagens à nossa pátria que bem merece o nosso amor e a nossa gratidão! Quem nasce no Brasil é brasileiro. Tem, portanto, o dever sagrado de amor, defender e servir ao Brasil! Não só porque a lei o manda, mas sim por que Deus o quer e o ordena. Jamais encontrareis e vereis uma segunda pátria que seja tão rica e tão fértil como o Brasil! Não é bom brasileiro aquele que não cumpre os seus deveres! Não é patriota aquele que desrespeita e desobedece às autoridades! Tem mais patriotismo o colono que com as mãos ásperas e calejadas trabalha em sua humilde roça desde o amanhecer até ao anoitecer e cumpre os seus deveres, do que aquele que vive a dar “Vivas” ao Brasil, mas não trabalha por ele, nem cumpre os seus deveres para com a pátria. É de cumprimento do dever que dependem o progresso e o engrandecimento de nossa pátria, do Brasil! Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste! Criança! Não verás nenhum País como este! Observação: Além de ser o responsável por todos os pronunciamentos oficiais, em dias de eleição federal, estadual ou municipal desde 1947, 1ª eleição para governador do estado após a derrubada da ditadura Dr. Getúlio Vargas, até 1984, não escapei de nenhuma eleição sem participar de mesa eleitoral, ou como presidente ou como secretário. Lino Büttenbender, Oto Büttenbender, Nicolau Henrich, Emílo Wolf já haviam sido dispensados, mas eu continuava na lista parecendo ser insubstituível. Sentindo-me não mais em condições para tal, dirigi-me ao Sr. juiz eleitoral, explicando-lhe a minha situação. Compreensivo, prontamente dispensou-me já que em nossa comunidade nesta época, já havia pessoas em condições de desempenhar qualquer função em mesa eleitoral. Hoje, no ano de 1993, Walachai já possui um bom número de gente que domina bem a língua pátria, não dependendo de uma única pessoa.
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29. Biografias e Fotos de Professores de Walachai
Biografia do prof. Cornélio Wickert, primeiro professor de Walachai Foi dos primeiros moradores de Walachai. Morou onde atualmente reside o meu irmão Linus Wendling. Os moradores o escolheram para ser o professor da comunidade que ia se formando ao passo que aqui se estabeleciam os alemães. As aulas eram ministradas totalmente em alemão. Cornélio lecionou aqui durante seis anos, de 1866 até 1872. Passou então a lecionar no Travessão de Dois Irmãos durante 20 anos, onde veio a falecer em 3 de julho de 1907 com a idade de 83 anos. Esteve casado com Margarida Susana Adams.
Biografia do prof. Peter Wickert, sucessor de seu tio Cornélio Nasceu em Buch, no Hunsrück, na Alemanha, em 4 de julho de 1844 – filho de Peter Joseph Wickert e de Ana Maria Schwaab. Chegou ao Brasil em 1857 com 12 anos de idade em companhia de seus pais. Casou-se em 27 de novembro de 1866 com Maria Feiten. Deste casamento nasceram seis filhas e um filho. Foi professor paroquial de Walachai durante 45 anos – a partir de 1872 até 1917. Ao mesmo tempo presidia os cultos na escola oratória, sendo também o fabriqueiro da comunidade. Sua saúde esteve comprometida por causa da asma, que ficava mais complicada ao avançar em idade, vendo-se finalmente obrigado a renunciar ao magistério em 1917. Veio a falecer em 6 de setembro de 1921, na idade de 77 anos. Até a idade de 15 anos viveu com seus pais no Windhof – Santa Inês, no Pinhal Alto, até vir parar em Walachai, na casa de seu tio prof. Cornélio Wickert. Morou onde atualmente vive seu neto José Hoff. 271
Biografia do prof. João Büttenbender Sobrinho Foi o sucessor do prof. Peter Wickert, de quem outrora fora aluno. Nasceu em 26 de fevereiro de 1893 em Walachai, na casa de seus pais, Guilherme Büttenbender Filho e Margarida Filipina Mombach. Frequentou durante cinco anos a escola paroquial. Durante a conferência de professores em sua casa paterna, sob a presidência do benemérito professor Matheus Grimm de Dois Irmãos, sentiu-se inclinado ao magistério. Durante os anos de 1911 e 1912 estudou no colégio marista em Bom Princípio em preparação ao magistério. Antes disso já esteve estudando música junto ao prof. Matheus Grimm em Dois Irmãos. Lecionou em 1913 e 1914 em Santa Maria do Herval. Durante meio ano foi professor substituto no Morro dos Bugres, perfazendo o caminho para aquela escola a cavalo até o rio Cadeia e o restante a pé por um atalho. Em 1916 assumiu a escola na sua terra natal, lecionando em companhia do velho prof. Peter Wickert durante aquele ano. Com a construção da capela de Walachai, assumiu a organização do coral, que dirigiu durante 50 anos. Enquanto professor, ele era também o sacristão da capela. Por conselho médico, devido a sérios problemas de saúde, parou de lecionar em 1940 após 25 anos ininterruptos de magistério em sua terra natal. Entre seus alunos, seis tornaram-se padres, sete religiosas e um se tornou dentista. Durante mais de 20 anos dirigiu gratuitamente o coral. Foi sempre um grande entusiasta do canto e da música. Casou por duas vezes: em 22 de agosto de 1917 contraiu matrimônio com Catarina Hendges na capela de São Nicolau em Walachai. Essa sua esposa faleceu em abril de 1926. Contraiu segundas núpcias com a viúva Josefina Dapper Götz, natural de Brochier, em 1º de maio de 1929. Viúva Josefina tinha uma filha, a Alzira. Seus dois casamentos ficaram sem filhos. Ao lado do magistério, como também depois de parar de lecionar, sua ocupação predileta foi a agricultura. Ao chegar aos 80 anos de idade, com sérios problemas de reumatismo e devido à sua idade avançada, não pôde mais participar da missa na capela. Então, como ministro extraordinário da Comunhão e da Comunidade, recebia a Comunhão em casa. Com imenso recolhimento e piedade recebia a Eucaristia. Seu desejo era não morrer repentinamente e nem ter uma doença prolongada. Ambos esses desejos lhe foram concedidos, pois adormeceu aos 85 anos em 28 de janeiro de 1978, sem doença declarada, a não ser pelo fato de que durante os últimos anos sofreu de suas faculdades mentais, não reconhecendo mais os próprios familiares. Fato interessante foi estar lúcido ao receber a comunhão. Como bom professor paroquial, não poupou esforços na catequese de seus alunos, preparando-os cuidadosamente para a comunhão solene no término dos quatro anos escolares obrigatórios. Foi um sacristão zeloso e um dedicado regente de coral. 272
Biografia do prof. Oto Büttenbender Foi o sucessor do prof. João Büttenbender Sobrinho. Nasceu em Walachai em casa de seus pais Jacó Büttenbender e Ana Boufler, em 28 de fevereiro de 1912. Frequentou durante quatro anos a escola paroquial de Walachai, sob a regência de seu primo prof. João Büttenbender Sobrinho. Achando ter vocação para padre, ingressou no seminário central em São Leopoldo. Após um ano e meio desistiu de seus estudos para padre. Passou a ser empregado do Seminário, e juntamente com seus colegas empregados recebia aulas após o horário de trabalho dos professores jesuítas – irmãos. Trabalhou certo tempo numa fábrica de pentes em São Leopoldo. Quando foi construído o seminário menor de São José em Gravataí empregou-se ali, tornando-se o padeiro do seminário. Quando o prof. João Büttenbender Sobrinho parou de lecionar, foi indicado pelo mesmo como seu sucessor, aceito pela comunidade. Por certo tempo lecionou juntamente com prof. João para aprender didática e pedagogia. Lecionou durante 5 anos. Ao mesmo tempo foi o regente do coral e sacristão até o início do ano de 1948. Casou-se com Amália Steffen, sendo este casamento abençoado com cinco filhos e quatro filhas. Sua saúde esteve bastante comprometida por um tipo de reumatismo. Sofreu derrame cerebral, vindo a falecer em 17 de julho de 1984 com idade de 72 anos. Lamento não possuir os dados bigráficos quanto às professoras que lecionaram em Walachai num curto período depois do prof. Oto até a minha vinda para cá.
Autobiografia do prof. João Benno Wendling Eu nasci em 26 de junho de 1923 na casa de meu avô Nicolau Wendling em Walachai, sendo meus pais Nicolau Wendling Filho e Guilhermina Büttenbender. Frequentei a escola paroquial de Walachai durante um período de quatro anos, sendo que professor regente era o meu tio João Büttenbender Sobrinho. Durante a missão popular em novembro de 1935, pregada pelo padre redentorista Antão Jorge, este me incentivou para ir junto com ele à escola apostólica São Clemente, em Cachoeira do Sul, para estudar e tornar-me missionário redentorista. Em 1937 esta escola apostólica foi transferida para Pinheiro Marcado, município de Carazinho e foi elevada a seminário redentorista com a denominação de Seminário do Menino Jesus. Nesse seminário os juvenistas estudavam até o 4º ano ginasial, indo então completar os estudos no seminário menor redentorista Santo Afonso, em Aparecida do Norte, São Paulo. Fui enviado para este seminário em 1940 para continuar os estudos. Por conselho do padre orientador vocacional, voltei em março de 1942 para a casa de meus pais, porque a minha 273
vocação era a de apóstolo leigo. Ele dizia que eu deveria distribuir o meu saber nas colônias. Em fevereiro de 1943, inscrevi-me num concurso de professores municipais promovido em São Leopoldo pela prefeitura. Dos 60 candidatos inscritos, conseguiram aprovação apenas oito. Dois moços e seis moças, conquistando eu o primeiro lugar. Fui nomeado professor para a escola municipal de São José do Herval. Em 1944 fui transferido para a escola municipal Visconde de Pelotas no Jammerthal, na paróquia da Joaneta. Em 1945 fui sorteado para prestar serviço militar. Fui enviado ao 3º RCD (Terceiro Regimento de Cavalaria Divisionário), Regimento Osório, com quartel no Partenon em Porto Alegre. Fui encorporado em 17 de fevereiro de 1945 com o número 1534. Participando dos cursos de cabo e de sargento nos quais fiquei em primeiro lugar, cheguei a ser promovido a 3º sargento. Contudo, entendendo que o meu lugar era em sala de aula e não em quartel, pedi a minha baixa, após um ano de serviço militar. Esta me foi concedida em 19 de fevereiro de 1946. Durante o meu serviço militar, fora do expediente, fui incumbido pelo capitão do meu esquadrão para alfabetizar os recrutas analfabetos. Reintegrado no magistério municipal de São Leopoldo, fui nomeado professor para a Escola Municipal de Santa Inês (Windhof) no Pinhal Alto. Após as férias de inverno desse ano de 1946, fui transferido novamente para a escola Visconde de Pelotas no Jammerthal. Em março de 1947 fui transferido para a Escola Municipal Inácio Montanha, na minha terra natal. Nessa época existia grande descontentamento e muito desentendimento quanto ao funcionamento escolar em Walachai. Quando em 1962 foi construído um prédio escolar público, dotado com duas salas, veio dividir comigo os trabalhos escolares o novo professor José Albano Wickert – outrora meu aluno. Antes da vinda do prof. Albano, em meu auxílio, eu sozinho tinha de 50 a 60 alunos, distribuídos em quatro turmas. A partir de 2 de maio de 1978, a escola recebeu outro novo professor, também outrora meu aluno, prof. Nicolau Büttenbender. Nessa época funcionava a escola até a 5ª série inclusive. A primeira série era de 2 turmas. Então passei a lecionar tão somente na 1ª série. Em 29 de novembro de 1983, juntamente com o prof. Leopoldo Fritzen e a profª. Maria Herold, fui aposentado pelo INSS com 41 anos de magistério. Destes, 37 anos somente em Walachai. Durante estes 41 anos, fui sempre o responsável pela escola como diretor e também o alfabetizador. Durante nove anos lecionei em dois turnos. Além de professor e agricultor, exerci na comunidade o cargo de sacristão e catequista desde 1947 até 1992. Entre os anos de 1975 e 1992 fui ministro extraordinário da comunidade e o coordenador da liturgia durante as celebrações litúrgicas. Devido a problemas de saúde, como pressão arterial alta, deficiência auditiva e problemas do sistema nervoso, a conselho médico, solicitei dispensa dos meus ministérios ao pároco Pe. Luís Pedro Wagner, sendo atendido. Continuo como ministro em casos de necessidade e quando solicitado. Em 10 de janeiro de 1947 contraí matrimônio com Erna Schuh na capela do Sagrado Coração de Jesus em Jammerthal perante o pároco Cônego Miguel Roier. Nasceram-nos três 274
filhos e cinco filhas, destas faleceram duas em tenra idade. Neste ano de 1993 todos já estão casados e com filhos. De sorte que temos 14 netos e uma bisneta. Com a saúde comprometida, o meu passatempo predileto continua sendo a agricultura, embora atualmente não seja profissão lucrativa. Permanecerei nesse meu passatempo até quando Deus quiser.
Fotos dos professores de Walachai
Professor Peter Wickert, lecionou de 1872 a 1917.
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Professor João Büttenbender,lecionou de 1916 a 1940.
Professor Oto Büttenbender, lecionou de 1940 a 1945
Última foto do professor João Büttenbender Sobrinho em companhia de sua esposa Josefina tirada pouco antes de sua morte em 26.1.1978, com 85 anos.
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Professora Maria Vera Deimling Schneider. Lecionou em curso supletivo noturno em 1972 e 1973.
Prof. JosĂŠ Albano Wickert, lecionou por 31 anos em Walachai, de 1962 a 1993.
Prof. Nicolau BĂźttenbender atual professor (1992).
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A minha vida em fotos
Em janeiro de 1937, ao despedir-me das férias, em companhia de meus pais, irmão, avós e professor. Da esquerda para a direita, em pé: eu, papai, prof. tio João, mamãe e minha única irmã, Martha. Sentados: vovô Nicolau Wendling e vovó Catarina, vovó Margarida Filipina e vovô Guilherme Büttenbender Fº. Sentados no chão: meus irmãos Aloísio, Guilherme e Linus. Fotógrafo: Leopoldo Schneider
Seminarista no seminário de Sto. Afonso em Aparecida do Norte, 1941.
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Turma da 1ª Eucaristia em 4.10.1981. O primeiro da esquerda: eu como catequista de 1ª Eucaristia e como ministro extraordinário da Eucaristia e da Comunidade de S. Nicolau Pároco Pe. Bráulio Weber. Nos fundos, à direita: prof. e catequista da Crisma, José Albano Wickert.
Churrasco oferecido aos sargentos do 3º RCD. Regimento Osório com quartel no Partenon em Porto Alegre, pelos sargentos promovidos em 20.11.1945. O primeiro da esquerda sou eu, sargento 1534.
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Professor no Jammerthal em 1944.
Eu no exĂŠrcito: sargento em 15.12.1945 - o primeiro da direita para a esquerda.
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O meu casamento com Erna Schuh na capela do Sagrado Coração de Jesus na sexta-feira de 10.1.1947. Celebrante: Cônego Miguel Royer. Testemuhas: meu irmão Guilherme e Felipe Valério Schuh.
A nossa família em 1959. Última fileira, da esquerda para a direita: Jose Ignácio, Beatriz Margarida, Isabel Maria. Fileira da frente: Teresinha Emerenciana, a esposa Erna, Afonso, eu e Nicolau Adriano.
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Os filhos em 1991. Da esquerda para a direita: José Ignácio, Beatriz Margarida, Isabel Maria, Teresinha Emerenciana, Nicolau Adriano e Afonso, todos já casados e com família.
Professor na escola de 1º grau incompleto Rui Barbosa. Foto de 1971.
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30. Bodas de Ouro e de Diamante
Bodas de Ouro – 50 anos de casados – são do meu conhecimento os casais: Nicolau Wendling e Catarina Fetter Guilherme Büttenbender Filho e Margarida Filipina Mombach Nicolau Backes e Doroteia Wickert Jacob Büttenbender e Ana Boufleur Aloisio Dieter e Leopoldina Führ Nicolau Wendling Filho e Guilhermina Büttenbender Pedro Schimitz e Angelina Olbermann Nicolau Henrich e Alzira Gotz
Bodas de Diamante – 60 anos de casados – apenas os casais: Wilhelm Büttenbender e Margarida Dapper Lino Büttenbender e Ida Dieter
Observação: A foto ao lado representa as Bodas de Ouro de meus avós Nicolau Wendling e Catarina Feiten em 11.8.1934. Da esquerda para a direita: na fileira de trás os maridos com as esposas na fileira da frente, e sentados no meio, o par jubilar.
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Bodas de ouro de meus avós maternos: Guilherme Büttenbender Filho e Margarida Filipina Mombach em 9.7.1939, rodeados pelos filhos, genros, noras e netos e pároco José Maria Kroetz. Faltam nesta foto: Antônio Guilherme e Lino Grings e eu, então em colégio e sem direito de participação.
A família de meu avô paterno Nicolau Wendling lá pelo ano de 1905. Da esquerda para a direita: Margarida, Maria, Ana Maria, meu pai Nicolau, vovó Catarina, vovô Nicolau e João.
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A família de meu tio-avô Jacob Büttenbender e Ana Boufleur. Da direita para a esquerda, em pé: Afonso, Verônica, João (Johann), Olívia (Ir. Josina), Oto (professor). Sentados: Vicente, Ana Jacob e Guilhermina (Ir. Arnalda).
Bodas de Diamante de tio Lino Büttenbender e Ida Dieter em 2.5.1987. Celebrantes, da esquerda para a direita Mons. Guilherme Grings, Mons. Dadeus Grings, sobrinhos e o filho Pe. Hugo.
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31. Palavra Final
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estas alturas coloco um ponto final neste livro sobre a história de Walachai. Continuarei registrando em outros livros os acontecimentos ligados ao Walachai, em forma de crônica. O que registrei corresponde à verdade à medida da exatidão das informações recebidas nas entrevistas e apuradas nas pesquisas. Tal como a História do Povo Eleito de Deus tem altos e baixos, bem como na história de cada povo encontramos acontecimentos altamente positivos e outros negativos, a História de Walachai não poderia ser diferente. A história de um povo nos oferece experiências do bem e do mal, sendo os comportamentos positivos dignos de imitação e de maior aperfeiçoamento por nossa parte, tendo o cuidado de não repetir aquilo que é negativo. Sem sombra de dúvida Walachai contribuiu, na pessoa de nossos antepassados, para o progresso de nossa Pátria. Deu-nos exemplos de amor a nossa Pátria por meio de seu fundador, Mathias Mombach, quando da caça ao bandido Menino Diabo, preso por ele; pela atuação de Jacob Dapper na Guerra do Paraguai e no extermínio do bandido Malaquias e seu bando que viviam espalhando terror e insegurança na colônia alemã. Nossos antepassados, entregues a sua própria sorte, organizaram-se construindo escola, igreja, abrindo estradas, providenciando a comercialização de sua produção, formando uma comunidade unida, ordeira, honesta, trabalhadora e progressista. Este espírito foi transmitido a nós e continua vivo. Walachai encontra-se em franco progresso. As provas disso são a contrução de novas moradias, a construção de uma ampla e moderna fábrica de calçados, a construção de um amplo salão paroquial e outras melhorias mais. Se no passado seu forte foi a agricultura, o futuro promete ser a indústria, caso não aconteça uma reviravolta por parte do governo em relação à agricultura. Um povo trabalhador, disposto a enfrentar e a vencer as dificuldades, está trilhando o caminho do progresso. 289
Finalizando, não posso deixar de agradecer a todos quantos, de uma forma ou de outra, colaboraram comigo nesta árdua tarefa, iniciada casualmente em 1985 e que só consegui concluir, ainda não satisfatoriamente, agora no ano de 1993. Meu agradecimento especial ao Nicolau Henrich, quem muito me auxiliou; ao meu irmão Pe. Guilherme Wendling, melhor informado nas coisas do passado de Walachai porque viveu mais com mamãe do que eu; ao meu primo Pe. Hugo Büttenbender, que pesquisou nos livros do arquivo da Cúria Metropolitana e no arquivo do Instituto Histórico de Porto Alegre; ao pároco Pe. Luís Pedro Wagner, que me concedeu acesso ao arquivo da paróquia de São Miguel de Dois Irmãos; a José Hoff, que me cedeu passaportes dos primeiros imigrantes, fotografias e o Diário de Viagem de seu avô, Peter Wickert para o Brasil; ao meu irmão Linus Wendling; aos primos Cláudio Büttenbender, Guido Wendling e ao meu inesquecível companheiro de infância, primo Monsenhor Antônio Guilherme Grings, pelas fotos que me cederam. Ao sobrinho Pe. Paulo Wendling pela ajuda na constituição de minha árvore genealógica e de outras pessoas de sobrenome Wendling. Minha homenagem póstuma aos já agora falecidos colaboradores: Afonso Arnold, Afonso José Klein, João Schmitz Filho e Henrique Emílio Becker. Não fui eu, fomos nós que nos esforçamos para colocar algo do passado de nosso pago no papel, antes de que tudo esteja evaporado. Den Vätern zum Gedächtnis, uns zur Lehre! Em memória de nossos antepassados, a nós sirva de lição! Walachai, 1º de maio de 1993 João Benno Wendling
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Créditos das fotos, ilustrações e imagens Modelagens em 3D e Renderizações Miriam Spönlein - Alphaville Publicidade capítulos 1,2, 6,12,19,20,21,22,26.27,28 e 30. Fotografias João Ricardo capítulos 4,9,13,14,15,17,23,24,25,31 páginas 105,219 e 234 capa, contra capa e orelha final Criação ou tratamento de imagem Cristiane Löff Sumário, Capítulo 8 e 14 Páginas 21, 23, 50, 53, 55, 76, 78, 104, 105, 106, 110, 114, 116, 124, 184 e 185, 196, 223, 232, 238, 268, 269, 278, 281, 286, 287, 180 e 273. Abertura cap 06 – pag 70 Ilustração em modelagem de Miriam Spönlein com pintura de Guilherme Litran, ‘Carga de Cavalaria’, óleo sobre tela, 1893, acervo do Museu Júlio de Castilhos, Porto Alegre, Brasil. Abertura do cap 22 – pag 181 Ilustração a partir de material de acervo de Lucila Hoff Fotografias adicionais Imagens de Still do documentário Walachai Adriana Nascimento e Borba e Rejane Zilles Foto abertura cap.19 - pag 122 Foto pag. 106, 107, 115 e 120 Foto da contra capa Vista geral de Walachai – atualmente um distrito de Morro Reuter/RS. A localidade foi fundada em 1829, pelo imigrante Mathias Mombach.
IMPRESSÃO Formato Tipologia Papel Impressão: Gráfica CORAG Outubro de 2013
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João Benno Wendling, descendente de imigrantes alemães, nasceu em 26 de junho de 1923, em Walachai, pequeno lugarejo no interior do Rio Grande do Sul, e faleceu neste mesmo lugar em junho de 2009. Ali todos viviam da roça e falavam somente o idioma alemão. Aos doze anos, entretanto, Benno tomou outro rumo: viajou e entrou para um seminário, pelas mãos de missionários redentoristas que atuavam na região. Foi assim que tornou-se um educador e aprendeu cinco línguas. Depois de muitos anos de estudo, o professor recebeu dos padres a missão de voltar à sua terra natal para ensinar. Benno começou a dar aulas exatamente em 1943, época da Segunda Guerra Mundial, quando havia sido decretada a proibição do uso da língua alemã no Brasil. Foi grande o seu desafio de alfabetizar em português crianças que só falavam alemão, em uma época de tensões e perseguições. Depois de quarenta e dois anos de atuação em Walachai, sempre em dupla jornada, na escola e na roça, o professor-agricultor se aposentou. Foi quando passou a escrever este livro, ao longo de nove anos, consagrando a sua trajetória de mestre dentro de sua comunidade.
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“O livro do professor é um verdadeiro resgate da história e da cultura desta pequena comunidade chamada Walachai. Único registro histórico e antropológico sobre a localidade, a obra extrapola o registro factual, aportando um olhar singular sobre um pedaço do Brasil ainda pouco conhecido. Um dos nossos maiores desafios na adaptação, produção gráfica e coordenação editorial desta publicação foi preservar ao máximo a originalidade do seu manuscrito e acertar a medida para que as adaptações necessárias registrassem o encanto do original, escrito à mão.” Rejane Zilles
APOIO
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REALIZAÇÃO