5 minute read

Hélia Alice dos Santo

Next Article
Zezé Negrão

Zezé Negrão

Advertisement

HÉLIA ALICE DOS SANTOS, desde muito

cedo, ainda menina, ajudava nas atividades domésticas, nos domingos à tarde, normalmente, com uma ou duas colegas, brincava de piquenique nos arredores da casa da família. Seu pai, que trabalhava como pescador de embarcação industrial, voltou pra casa para se tratar de um câncer. Tinham animais, entre eles, vacas leiteiras, sua mãe trabalhava como atendente de enfermagem, no entanto, precisou dar atenção a seu pai, que vivia muito mais no hospital do que em casa. Apesar de muito jovem, junto com seu irmão, que tinha apenas um ano e meio a mais, assumiram os cuidados dos dois irmãos mais novos (quatro e cinco anos de idade). Além disso, cuidavam dos animais, pegavam ração (capim) nos morros, tiravam o leite das vacas e o colocavam em litros de vidro e o destinavam para o armazém da comunidade. Paralelamente, assumiu os trabalhos de sua mãe e, com apenas doze anos

Clic no afiche para acessar o painel

de idade, já aplicava injeção intravenosa e muscular nas pessoas da comunidade. Após dois anos, teve uma estafa. Toda família passou a morar mais próximo do hospital onde seu pai mais ficava. Com 14 anos, passou a trabalhar como balconista numa loja de tecido e depois numa revendedora de peças de veículos. Nos finais de semana, saía de porta em porta para vender as roupas que sua mãe costurava. Quando completara 16 anos de idade, seu pai faleceu. Continuava a necessidade de trabalhar para colaborar no sustento familiar. Com 18 anos, casou-se, voltou a morar na sua terra natal, as condições de vida não permitiram que Hélia continuasse seus estudos. Ainda que somente com oitava série do ensino fundamental, conseguiu uma vaga para lecionar. Encantou-se com a profissão de professora, voltou a estudar... Seguiu do magistério até o mestrado. O que a levou ser professora do âmbito infantil ao superior. Com 20 anos, teve a primeira filha - JANAÍNA - depois de quatro anos, no término de outra gestação, sua filha sofre acidente, passou para o plano espiritual. A dor tomou conta do seu ser... Dois dias depois, nasceu seu segundo filho - JESSÉ - após um ano e meio, outro menino - THIAGO - ao passar de oito anos, mais uma menina - ESTER. Teve o privilégio de ser professora dos três filhos, sua relação com eles sempre foi baseada no amor, respeito e muita parceria.

A relação conjugal foi um pouco conturbada, seu esposo tinha a dependência do álcool, não admitia, muito menos aceitava tratamento. Para melhor lidar com a situação, ela mesma participava de terapias e movimentos que a fizessem mais feliz. Fazem quase 10 anos que seu esposo foi acometido por um AVC, está numa cadeira de rodas, também perdeu a fala. Continua dando suporte a ele.

Como educadora, sempre gostou da arte, dos detalhes que incrementassem os ambientes, assim se movimentava na sua casa, na escola, na comunidade... foi extremamente dedicada, o entusiasmo impulsionava o ecoar de seus projetos, ultrapassava os muros da escola e banhava a comunidade. O maior exemplo foi o projeto Pró-CREP (Criar, Reciclar, Educar e Preservar), quando na década de 90 foi trabalhar na Escola Reunida Prof. Olga Cerino (multisseriada, apenas ela de professora e uma merendeira), no bairro da Guarda do Embaú – Palhoça – SC. Na época, o referido bairro era abarrotado de lixo, pois a coleta dos resíduos, até mesmo a convencional, era deficiente. A escola, por sua vez, em condições precárias tanto na estrutura física quanto pedagógica. Encontrou nos resíduos a oportunidade de transformar essa realidade num novo cenário. Primeiro, a mobilização com as pessoas da comunidade escolar e local, logo iniciaram o processo de coleta dos resíduos que eram lançados em terrenos baldios e fundos de quintais. Passou a observar as embalagens e transformá-las em materiais didáticos e decorativos. Os recursos provenientes da comercialização dos resíduos também eram empregados em benfeitorias na escola. No ano de 1997, recebe diretamente do presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, o “Prêmio Incentivo à Educação Fundamental”. A partir

de então, foi designada a expandir o projeto para toda a região sul do município (13 bairros). Por estímulos externos, no ano 2000 foi candidata a vereadora, ficou como primeira suplente, assumiu a Câmara, sofreu retaliações... Um ano de paralisação do projeto. Inconformada com a situação, mobiliza outras pessoas. Reinicia as lutas... Diante de alguns desafios, tornaram o projeto em Associação

Pró-CREP, legalmente instituída, reconhecida como de Utilidade Pública Municipal e Estadual. Ao perceber que suas ações fora da política partidária teria mais sentido para a sociedade, publica uma carta aberta à população e se desliga da política. cuperação, ex- presidiários, imigrantes haitianos, mulheres chefes de famílias e desprovidas de oportunidades. Se trata de uma inclusão transformadora.

Destaque para a educação socioambiental, no Galpão, nas escolas e de casa em casa. Parcerias, voluntariados e intercâmbios com entidades públicas, privadas e acadêmicas. Possui cadastrados 21 profissionais voluntários, como: Engenheiros, pedagogas, nutricionista, chefe de cozinha, publicitário, jornalista, bióloga, terapeuta, dentre outros. Contam com veículos próprios para a coleta dos recicláveis e do óleo de fritura.

Continua voluntariamente atuante na Associação fomentando o fortalecimento de práticas educativas de preservação do meio ambiente e inclusão social.

Hélia tem sua essência voltada para semear o bem, conectar pessoas, cuidar dos espaços, tomada de atitudes e perseverança naquilo em que acredita. Tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável por meio do amor, da inclusão social e das trocas dos saberes.

A Pró-CREP propicia inserção produtiva e social através da coleta, triagem e enfardamento dos recicláveis. Com um novo olhar sobre os materiais coletados e triados, passou a recuperar, reciclar e a reaproveitar dando vida nova com arte e beleza, a roupas e resíduos cerâmicos e vidros que viraram mosaicos, por exemplo. O que dá origem ao brechó Consumo Consciente, Sebo, Loja do Cacareco (brinquedos e utilitários domésticos), coleta e transformação do óleo de cozinha em sabão. Recentemente, nova parceria com a UNISUL – Universidade do Sul de SC, com projeto de estufa hidropônica e compostagem. 54 pessoas que viviam em situação de vulnerabilidade social e econômica hoje possuem trabalho e renda na Pró-CREP. São 50 toneladas de resíduos/mês que deixam de ir para um aterro sanitário. O mais belo de tudo é a inclusão social de dependentes químicos em re-

This article is from: