11 minute read

Eliana Machado

Advertisement

ENTREVISTA

1- Seu nome, cidade e origem. Meu nome é Eliana Machado. Sou brasileira nascida em São Paulo, capital. Vivo no sul da França, em Nice. Sou poeta, escritora, tradutora, editora, pintora e professora. Sou professora de Espanhol e, quando não estou trabalhando, leio, reflito, escrevo e às vezes pinto.

2-Quais as causas que você defende? Em primeiro lugar, a nossa casa, o planeta Terra e, em segundo lugar, trabalho para que as pessoas se conscientizem de que os animais, os seres invisíveis aos nossos olhos também têm o direito de viver em liberdade, paz e harmonia na Terra. Há espaço para todos, bastando que respeitemos o espaço deles. E, por último, por meio do que escrevo, tento atrair a atenção das pessoas sobre nossas origens e sobre o fato de que não estamos sós neste universo.

3- Sua relação com o meio ambiente, com o homem? Metaforicamente, minha relação com o meio ambiente é como a do bebê em formação no ventre da mãe. É ele quem precisa da placenta; não o contrário. É ela que o nutre; sem ela o bebê não sobrevive. Enquanto estivermos na Terra, dependeremos dela. Minha relação com o ser humano é mais complexa. Passei muitos anos me perguntando por que certas pessoas agiam da maneira como agiam, sem interesse algum em evoluir, em mudar sua conduta, pessoas com um comportamento psíquico imutável. Então, entendi que há várias humanidades, algumas desempenhando unicamente o papel para o qual foram criadas e outras que, como eu, querem trabalhar na construção de um mundo melhor, pessoas com a mente aberta, em fusão com o meio ambiente e que fazem regularmente um trabalho de reflexão sobre seus atos, para se tornarem seres humanos melhores e viverem de maneira mais positiva, aportando sua contribuição para a elevação imaterial.

4-Ser ou não ser, ter ou ser? Penso que nesta vida só estamos; nada é definitivo, tudo é passageiro.

5-Fale da infância, da adolescência, da mu-lher esposa e mãe, da mulher artista, da sua ideologia e objetivos. Minha infância foi a de uma menina bastante solitária, que só pensava nos estudos. Comecei a trabalhar aos 13 anos de idade. Eu era a melhor aluna do colégio, por isso as vizinhas traziam seus filhos para que eu lhes desse aulas de recuperação em Matemática, Inglês, Português... A seriedade e o afinco com os quais eu encarava os estudos me fizeram ser chacota de certas alunas do colégio. Sofri intimidações na escola, o que hoje seria considerado bullying. Uma tal de Cristina tinha a mania de me puxar pelos cabelos na saída da escola. Um garoto me chamava de “formosura”, talvez por causa das espinhas que apareciam no meu rosto. O fato é que fiquei conhecida como tal. Lembro-me de uma tarde em que uma horda de colegiais me escoltou até minha casa, entre risos e palavras pouco amistosas. Tudo isso porque eu tirava notas altas e não me “misturava” com os bagunceiros da escola. Eu fui uma menina super-recatada.

6-Que caminhos percorreu, até chegar na mulher que é hoje? A denominação de “mulher” me incomoda de certa maneira porque me vejo apenas como um ser. Acho que devo ter vivido várias vidas e possivelmente por isso me identifico com o espírito, que não faz essa distinção.

7-Você sempre foi como é hoje? O que mudou? Felizmente não, mudei bastante e acho que isso faz parte do percurso de cada um. Aprendi com certa dificuldade a aceitar a ajuda de outras pessoas (sempre quis fazer tudo sozinha). Hoje adoro trabalhar em grupo, se for com as pessoas certas, é claro, todas vibrando na mesma frequência. Ainda tenho alguma dificuldade em aceitar presentes. Sinto-me incomodada e nunca sei como reagir. O que não mudou em mim foi meu amor pelos animais, e pelo planeta. Esse só cresceu.

8-Você é uma guerreira? Com certeza. E às vezes até me esqueço de que devo deixar espaço para o direito de chorar quando não me sinto bem, deixar o meu lado frágil aflorar.

9-A vida foi difícil ou sempre foi um mar de rosas? Minha vida nunca foi um mar de rosas, até porque não combinaria com a minha personalidade nem teria me ensinado tudo o que sei hoje. Tampouco posso dizer que foi difícil. Sou uma pessoa lúcida e franca; se tivesse nascido em outro país menos favorecido, em um país que não reconhece a igualdade de direitos entre o homem e a mulher, aí, sim, teria sido difícil. Assim também, se tivesse nascido com alguma forma de deficiência física, teria sido mais difícil. Penso que sempre devemos agradecer pelo que temos. Costumo dizer que somos felizes, porém ainda não sabemos disso. E o objetivo na vida é este, ter a consciência de que tudo poderia ser menos agradável e valorizar o que temos no instante presente.

10- Em que momento da sua vida a sua estrada bifurcou e como você fez a escolha e para onde ela te levou? Como você chegou até à Europa e o que a trouxe até? Quando eu tinha 15 anos, tinha planos de uma vez adulta ir para os Estados Unidos, cujo idioma adoro. Na época, meus tios estavam na Alemanha estudando medicina, e eu comecei a aprender alemão. Tinha esperança de poder ir estudar lá mais tarde, mas não foi possível. Nasci em uma família de classe média baixa e, quando fiz 18 anos, comecei a trabalhar com carteira registrada, das 8 h às 18 h e fazia faculdade à noite. Meu sonho de viver no exterior ficou guardado em uma parte do meu cérebro até que um dia, já à beira do divórcio, em junho de 1992, recebi uma bolsa de estudos de seis meses do Instituto de Cooperação Ibero-americano (ICI), de Madrid. Então, programei a vida assim: dia 15 de outubro, Dia dos Professores, às 21 horas, peço o divórcio. Sabia que teria 6 meses para reordenar a minha vida. E recomeçar do zero. E assim o fiz. Fui viver na casa de uma senhora que alugava quartos para estudantes. A janela do diminuto quarto não dava para o exterior e eu não tinha o direito de cozinhar. Emagreci bastante, mas aprendi muito naqueles seis meses. Conheci um francês: amor à primeira vista. Ele estava no fim de um relacionamento, então no momento oportuno vim para a França e recomeçamos as nossas vidas.

11- Você mudou como pessoa? Em que você mudou? O que a fez mudar? Os anos me fizeram mudar, as experiências vividas, a mudança de país, as leituras e descobertas que fiz.

12- Onde e como encontrou força ou coragem para tal mudança, para conquistar seus objetivos? Faria tudo outra vez? O imigrante é uma pessoa corajosa, senão não abandonaria o “conforto” do seu país. Claro é que às vezes não há outra solução, porque ele foge da guerra, da miséria, da perseguição. Quanto a mim, tudo o que eu queria era vivenciar outra cultura, não pensava nas consequências. Porque como disse em uma entrevista em Boston, não pensava naquilo que se perde quando se ganha.

13- Alguém em particular lhe deu a mão? Poucas mãos foram estendidas ao longo do caminho. Talvez por eu não tê-las visto, não sei. Sou, sim, agradecida ao meu marido, Bruno, que me ajudou e ajuda muito. Há duas pessoas mais a quem eu gostaria de agradecer particularmente. A primeira é Valérie Lermite, que confiou em mim e me chamou para trabalhar como tradutora português-francês em uma editora prestigiosa aqui na França. E a segunda pessoa, que foi peça-chave no meu processo de vitória contra a depressão, José Antonio Mazzotti, um amigo poeta, que me ensinou muito sobre poesia. Ambas as pessoas chegaram à minha vida no momento certeiro.

14-Qual é a importância de RECEBER apoio? Fundamental. O apoio funciona como um aminoácido essencial, do tipo triptofano, que potencializa a sua energia para fazer algo. Lembremos que vivemos todos conectados ao mesmo sistema, ainda que em estratos distintos. A energia que você dispensa ao estender a mão ativará o plano em que você vibra e melhorará o seu habitat pessoal.

15- O que mudaria na sua história? Como ainda não sabemos se podemos mudar o passado sem riscos para o futuro, não mudaria nada. Tudo o que posso fazer está por vir. E, sabendo isso, devo fazê-lo da melhor maneira que me for possível.

16- Por que você participa de movimentos culturais? Porque entendi que uma só andorinha não faz verão. Devemos participar de movimentos culturais e intercambiar com os pares. Tenho conhecido pessoas interessantes nos últimos anos e aprendido muito com elas. Espero ter podido aportar-lhes também algo de positivo.

17- Você é estudiosa de uma mulher guerreira. Qual a mulher na história que você se assemelha? Nunca havia parado para pensar nisso. Na minha história pessoal há muitos exemplos: minha mãe, algumas tias, grandes batalhadoras e desbravadoras.

18- O que deseja alcançar ainda? Seus projetos? Tenho poucos livros de ficção escritos e publicados. Nem comecei a dizer tudo ao que vim. Meu desejo é poder escrevê-los todos e atingir pelo menos 30% da população mundial. E, nesse meio tempo, ver a minha saga de ficção científica que começou com Brasil: aventura interior ser adaptada para o cinema. Fica aqui a chamada para os diretores de cinema.

. 19 - Por que as pessoas imigram? Tenho vários amigos e parentes no Brasil que buscam emigrar para fugir da falta de segurança, da criminalidade que cresce a cada dia e se torna cada vez mais violenta. Quando vivia no Brasil, meu pai foi esfaqueado na perna durante um assalto na empresa onde trabalhava; meu sogro foi roubado e sequestrado; minha prima, irmã e eu fomos alvo de bandidos quando estávamos em um mercadi-nho (quiseram levar minha irmã como refém); eu fui assaltada quando estava na porta da casa de um amigo conversando, puseram-me uma arma na cabeça e levaram meu carro; o irmão da minha amiga foi assassinado quando sacava dinheiro do caixa... Desde então, a insegurança só tem aumentado, tomando conta das ruas.

20- Como ajudar os Brasileiros no país em que você mora? Como fazem outras comunidades de estrangeiros, com informação. Tudo o que poderia facilitar sua inserção no país, como, por exemplo, onde se dirigir para tirar os documentos, como evitar certos obstáculos, como encontrar um trabalho, etc.

21- Você tem contato com a comunidade brasileira no país de morada? Tenho contato com pessoas que chegaram à França mais ou menos na mesma data que eu. Outros já voltaram para o Brasil.

22- Que tipo de arte você realiza? Cite suas obras.

Entre prosa e poesia, possuo 8 títulos, escritos em 4 idiomas e publicados em vários países: Brasil, Estados Unidos, Itália, França, México e Peru. Minha obra é bastante variada, porém o fil rouge é o respeito por toda forma de vida. Neste sentido, posso dizer que não tive o prazer de conhecer o célebre poeta Paul Withman, mas como ele procuro a união com a natureza, como ele, gosto de observá-la, observar os animais, principalmente os insetos. E é dela que recebo grande parte da minha inspiração quando escrevo poesia.

Quanto à prosa, tenho predileção pelas histórias fantásticas. O primeiro tomo da minha saga de ficção científica Brasil: aventura interior, põe em cena um encontro entre adolescentes e um extraterrestre. Este romance recebeu em 2017 o prêmio de melhor romance Talentos Helvéticos Brasileiros III (Suíça). Entre outros prêmios que recebi, destacam-se, em 2016, o Prêmio Excelência Literária da União Hispanomundial de Escritores (UHE) e em 2014, o prêmio de Melhor Autor Estrangeiro da União Internacional da Imprensa Francófona (UPF) de Mônaco.

Poesia: Blanco en el blanco (Brasil, Scortecci, 2010), Locus brasilis (Peru, Ed. Mesa Redonda, 2012, prólogo de Raúl Zurita), Succès Intimes (França, Les Éditions des Trois Rivages, 2014), Hommage

poétique à César Vallejo/Homenaje poético a César Vallejo (França, Les Éditions des Trois Rivages, 2015), À queima-roupa (Brasil, RG Editores, 2016), prólogo de Carlos Garrido Chalén.

Prosa: Siete cuentos brasileños/Seven Brazilian short tales, (USA, Ovejita de Papel, 2015; Sete contos brasileiros (Brasil, Scortecci, 2016); Brasil: aventura interior (Brasil, Scortecci, 2016, Peru, Ed. Mesa Redonda, 2017; Los Elegidos (Espanha, Terra Ignota, 2021). Dicionário: Dictionnaire français-espagnol de l’hôtellerie-restauration, (França, Les Éditions des Trois Rivages, 402 p., 2020.

MENSAGEM FINAL.

Eu gostaria de lhe agradecer pela entrevista. Falar da minha trajetória é como tomar uma hora em uma sessão de terapia ou de massagem: recorda porque somos o que somos e estamos onde estamos; cada escolha que você faz hoje determinará quem você será amanhã e como estará.

Alguns trabalhos literários on-line: Em Youtube : Contos fantásticos que põem em cena animais e extra-terrestres Áudio-conto em português: SOBROSSO https://www.youtube.com/watch?v=UbOg-ZcpNKU&t=96s Áudio-conto em português: NEPHILA MACULATA https:// www.youtube.com/watch?v=-6WmwCHZCKU Áudio-conto em português e com tema do folclore brasileiro: CURUPIRA https://www.youtube.com/watch?v=2PbUPN8KdYU Áudio-conto em francês: REX, LE POISSON SAURIEN https://www.youtube.com/watch?v=Blj-N8ionvA Áudio-conto em espanhol: PRISMA https://www.youtube. com/watch?v=MytDLJJ_IWc Em Youtube : Poema animado : CIRANDA, CIRANDINHA https://www.youtube.com/watch?v=RUKJEDQtPxY

Contacto com a autora : meugema@hotmail.com Facebook : Escritora Eliana Machado Página web: https://www.machadoeliana.com.br/home-1 Outras fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Eliana_Machado Hoje é dia de alegria A vida vai decolar Um Rei vamos coroar No carnaval da folia Queimemos a nostalgia. Dou-te a chave da cidade Prova da minha amizade Entre e sai quando queiras Escolhendo as brincadeiras Em total legalidade.

Sobrevoas o espaço Vendo a Terra pequenina Brilhante de purpurina Imaginas um compasso A seguir, outro pedaço Surge então a partitura Do círculo a quadratura Nasce uma obra poética Para alguns, algo hermética Para outros, sinecura.

Pouco importa quanto dure O reinado extrovertido Haverá muito ruído Para quem se aventure Para aquele que procure Esquecer-se da rotina Com orquestra e serpentina Tudo consta no menu Onde o melhor está cru Nesta festa libertina.

AUTOR: ELIANA MACHADO

This article is from: