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Grasiela Estanislaua Konescki Führ DESAFIOS E ENFRENTAMENTOS DE UMA VIDA QUE LIDA COM O CÂNCER

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Zezé Negrão

Zezé Negrão

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DESAFIOS E ENFRENTAMENTOS DE UMA VIDA QUE LIDA COM O CÂNCER:

Abordagem voltada para pacientes, familiares, profissionais de saúde e voluntários em ação.

Autora: Grasiela Estanislaua Konescki Führ Psicóloga (CRP 12/01372), escritora e poetisa.

Graduada em Psicologia, Mestre em Administração, Especialista em Neuropsicologia, Especialista em Gestão Hospitalar, Especialista em Gestão de Recursos Humanos, MBA em Coaching. Com experiência de atuação em contexto hospitalar oncológico do SUS em Psicologia Clínica, Psicologia Hospitalar e Psicologia Organizacional e do Trabalho.

Percebe-se, atualmente o crescente número de pessoas diagnosticadas com doença oncológica e em virtude desta realidade, faz-se necessária uma reflexão sobre o seu significado e representação social. A prevenção e o combate ao câncer requerem, além de extensos e aprofundados estudos científicos, a sensibilização das pessoas para a compreensão de fatores que podem colaborar no diagnóstico precoce.

Sabe-se que o câncer é uma doença assustadora e sua representação social é carregada de significados e repercussões psicoemocionais marcantes. Em vista disso, enfrentar os desafios da doença oncológica não é tarefa fácil nem para o paciente, nem para familiares ou profissionais que lidam na assistência. Sendo uma doença que causa temor, é relevante uma autopercepção sobre o que se pensa sobre o câncer e como a pessoa se sente ao lidar com este contexto, seja o próprio paciente, seja familiares, amigos, profissionais de saúde ou pessoas voluntárias que atuam neste contexto.

O câncer é uma doença crônica que ocasiona intensos transtornos, dor e sofrimento para o paciente

e sua família, tendo acometido grande número de indivíduos de diversas idades, sendo que por ser ativa, progressiva e alarmante, podendo causar a morte, gera sentimentos de medo, insegurança e não aceitação (SANTOS, LATTARO e ALMEIDA, 2011).

Em relação às emoções do paciente sobre o diagnóstico de doença oncológica, Paulo (2004) expõe que pacientes, quase sem exceções, apresentam-se em choque ao se defrontarem com o diagnóstico de câncer, sendo que existem pessoas que entram em pânico.

Ao receber o diagnóstico de doença oncológica, a pessoa se depara com uma série de incertezas, dúvidas, temores e precisa se preparar para uma mudança na rotina em função da nova realidade que se apresenta, incluindo uma série de exames e tratamentos como, por exemplo, cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, entre outros. Para lidar com tal situação, necessita de uma rede apoio de familiares e amigos. Porém, familiares próximos, principalmente os cuidadores, também são acometidos pelo impacto da doença em seu contexto biopsicossocial.

Demanda-se uma compreensão do impacto da doença no paciente e sua família, precisando-se levar em conta a situação emocional, socioeconômica e cultural, pois é nesta conjuntura que emerge a enfermidade e é nesta estrutura sociofamiliar que vão enfrentar a condição da doença (CARVALHO, 2008).

Defrontar-se com a doença oncológica é lidar com agentes estressores, sobrecarga emocional e sofrimento humano. O quadro clínico oncológico e todas as suas consequências pode influenciar as emoções, gerando ansiedade, tristeza, medos e até mesmo sintomas de estresse pós-traumático para o paciente. Podem ocorrer mudanças no estilo vida, nas rotinas pessoais diárias, na área profissional do paciente, nos aspectos sociais e econômicos. Dentre alguns aspectos psicossociais e dificuldades enfrentados pelo paciente oncológico, além de todo o contexto de doença e tratamentos, englobam-se também aspectos psicológicos e sociais do ser humano na sua relação consigo mesmo e com o mundo que o cerca. Os pacientes oncológicos precisam lidar com uma série de agentes estressores causadores de emoções, ansiedade, sentimentos de tristeza e angústia, medos, incertezas, revolta, entre outros. A doença oncológica pode acarretar, inclusive, consequências inclusive em questões de sociabilidade.

Carvalho (2008) aponta que pela dificuldade da doença em si e pelo estigma ainda presente, passar pelo processo de doença pode consistir em privação da sociabilidade rotineira segregação, interrupção do percurso normal de vida para os doentes e familiares.

Diante da realidade na conjuntura biopsicossocial do paciente, este pode se deparar com imensas dificuldades para enfrentar, tais como alterações na rotina diária em razão do tratamento, maior dependência de assistência de terceiros, modificação de hábitos, mudança da imagem corporal, afastamento social, entre outros (AMAR, RAPOPORT, FRANZI, BISORDI & LENON, 2002; COSTA NETO, ARAUJO & CURADO, 2000; NUCCI, 2003, CITADOS POR SANTANA, ZANIN E MANIGLIA, 2008).

Enfermos em fase avançada da doença procuram aliviar e controlar a dor e outros sintomas; desejam ter controle sobre a própria vida, não ter prolongado seu sofrimento, não ser fardo para familiares, aumentar laços com pessoas significativas e possuir dignidade no fim de ser viver; e, esperam não ser abandonados pelo seu médico (KOVÁCS, 2010). Pessoas que lidam diariamente com o contexto oncológico, como familiares, profissionais de saúde e até mesmo voluntários, precisam entender suas emoções e buscar uma autopercepção para lidar com as pressões relacionadas ao contexto. Alguns aspectos relevantes a serem destacados é como buscar recursos internos para lidar com o sofrimento do paciente em função da dor física, da angústia e das sequelas da doença. O autocuidado e o autoconhecimento se fazem necessários para evitar esgotamento físico e/ou mental, ou seja, exaustão. Assim, prevenir o estresse, a síndrome de Burnout e a fadiga por compaixão, através de uma busca pela qualidade de vida em suas várias dimensões, torna-se um fator fundamental para suportar os desafios deste tipo de cenário.

Em vista disso, considera-se necessária a reflexão sobre que sentimentos e emoções estão presentes nos cuidados durante a assistência ao paciente oncológico. Neste sentido, incluem-se profissionais

de saúde, família, outros cuidadores e acompanhantes e até mesmo pessoas que pertencem a grupo de voluntários. Isto porque a autorregulação das emoções para aliviar a carga psíquica e a tensão psicoemocional são necessárias para a prevenção e o manejo do estresse e de outras possíveis consequências psicoemocionais decorrentes do enfrentamento do câncer.. padrões de relacionamento, comunicação e resolução de dificuldades problemáticos; inexistência ou insuficiência de suporte formal e informal; outras crises na família concomitante com a doença; carência de recursos econômicos e sociais, assistência médica de pouca qualidade e problema na comunicação com equipe médica; doenças estigmatizantes e escassez de assistência.

O paciente oncológico necessita de uma organizada rede de apoio social e forte suporte emocional para enfrentar os desafios inerentes ao contexto em que se encontra, pois a ausência pode trazer consequências. Leeuw e cols. (2000) citados por Santana, Zanin e Maniglia (2008) constataram que o apoio emocional ineficiente, a escassez da rede social e o enfrentamento direcionado para evitar o problema são preditivos de sintomas depressivos durante o tratamento oncológico.

Vale ressaltar que para o manejo mais adequado de um contexto oncológico é importante que familiares se organizem, tirem suas dúvidas em relação ao diagnóstico, tratamento e prognóstico, busquem relações saudáveis numa estrutura familiar estável e sólida que propicie o suporte adequado ao paciente. Uma boa comunicação com a equipe de saúde favorece um melhor manejo da situação.

É fundamental identificar a realidade do paciente e de sua família, ou seja, a organização familiar, a qualidade das interações, os limites de entendimento da situação, a função da pessoa enferma na família, as repercussões nas atividades de trabalho dos potenciais cuidadores, as condições de habitação e de renda familiar (CARVALHO, 2008). Isto porque a doença pode abalar a estrutura biopsicossocial e econômica tanto do doente quanto de seus familiares.

Ao enfrentar a doença, existem aspectos facilitadores e outros dificultadores pela família. Franco (2008) menciona que entre os facilitadores estão uma estrutura familiar flexível que possibilite o reajustamento de papéis; uma boa comunicação entre a família e a equipe de saúde; o entendimento dos sintomas e das fases da doença; o envolvimento nas fases, a fim de conseguir um senso de controle, o apoio informal e formal à disposição.

Além disso, Franco (2008) explica que os fatores que complicam são o enfrentamento da doença são Ressalta-se a influência de alguns aspectos que são substanciais no enfrentamento da doença. Sobre isso, Carvalho (2008) coloca que não se pode desconsiderar os fatores sociais, econômicos e culturais existentes na questão do câncer, pois, muitas vezes, o estilo de vida individual e familiar não condizem com uma livre escolha do paciente e sua família.

Martins (1991) citado por Silva (2009) apresenta observações sobre aspectos na atividade do médico que pode ser extensiva a outras ocupações envolvidas com áreas de enfermagem, assistência psicológica, assistência social e reabilitação física, em que certos componentes podem se converter em fatores de risco para saúde mental do profissional, como contato íntimo e constante com a dor, com o sofrimento e com a perspectiva da morte; lidar com a intimidade da constituição física e das emoções; atender com pacientes difíceis; enfrentar as incertezas e as limitações do saber científico.

Cada profissional possui uma forma peculiar de lidar com situações de sofrimento e da perspectiva da morte e mesmo cada um tendo um jeito de enfrentar as exigências do cuidado a pacientes oncológicos, em alguma ocasião essa vivência assistencial pode causar impacto psicológico e emocional (SALIMENA, et. al, 2013).

Ao falar sobre o profissional de saúde em contato com o sofrimento nas suas diversas dimensões, Kovács (2010) aborda sobre os conflitos relacionados a como se posicionar diante da dor, sobre a elaboração de perdas de pacientes, sendo que é mais sofrido quando morrem aqueles com que estabeleceu vínculos mais forte e o convívio com dor, perda e morte acarreta ao profissional a vivência de sua fragilidade, vulnerabilidade, temores e incertezas.

É relevante acrescentar os argumentos de Paulo (2004) mencionando que tudo leva a acreditar que

onde existe uma relação sólida de amor e carinho, o sofrimento do paciente é menor e com suporte afetivo, a vitória sobre o sofrimento é mais sólida e tudo se torna mais descomplicado para o paciente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, C. da S. U. de. A necessária atenção à família do paciente oncológico. Revista Brasileira de Cancerologia. 2008, 54(1), p. 87-96. Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/site/arquivos/n_54/ v01/pdf/revisao_7_pag_97a102.pdf. Acesso em 23 nov. 2021. FRANCO, M. H. P. A família em Psico-oncologia. In: Carvalho, V. A. de; et al. Temas em Psico-oncologia. São Paulo: Summus, 2008, p. 358-361. KOVÁCS, M. J. Sofrimento da equipe de saúde no contexto hospitalar: cuidando do cuidador profissional. O Mundo da Saúde, São Paulo, 2010, 34(4), p. 420-429. Disponível em: http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/79/420.pdf. Acesso em: 23 nov. 2021. PAULO, M. C. Câncer: o lado invisível da doença. 2. ed. rev. Florianópolis: Insular, 2004. SALIMENA, A. M. de O.; TEIXEIRA, S. de R.; AMORIM, T. V.; PAIVA, A. do C. P. C.; MELO, M. C. S. C. de. Estratégias de enfrentamento usadas por enfermeiros ao cuidar de pacientes oncológicos. Rev. Enferm. UFMS, 2013, Jan/abr, 3(1), p. 08-16. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/6638. Acesso em: 23 nov. 2021

SANTANA, J. J. R. A. de; ZANIN, C. R.; MANIGLIA, J. V. Pacientes com câncer: enfrentamento, rede social e apoio social. Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, SP, Paideia, 2008, 18(40), p. 371-384. Disponível em: www.scielo.br/paideia, https://www.scielo. br/j/paideia/a/xpY5WpRPHYCBbWVPQyZYPVf/?lang=pt. Acesso em: 23 nov. 2021. SANTOS, D. B. A.; LATTARO, R. C.; ALMEIDA, D. A. Cuidados paliativos em enfermagem ao paciente oncológico terminal: revisão de literatura. Revista de Iniciação Científica da Libertas. São Sebastião do Paraíso, v. 1, n.1, p. 72-84, dez. 2011. Disponível em: http:// www.libertas.edu.br/revistas/index.php/riclibertas/article/view/14. Acesso em: 23 nov. 2021. SILVA, L. C. da. O sofrimento psicológico dos profissionais de saúde na atenção ao paciente de câncer. Psicol. Am. Lat., México, n. 16, jun. 2009. Disponível em: <http://pepsic. bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35 0X2009000100007&lng=pt&nrm=iso> . Acesso em: 23 nov. 2021.

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LENI ZILIOTO 20 ANOS DE LITERATURA

MULHERES HISTÓRICAS

MULHERES DESBRAVADORAS DE MATO GROSSO

Há mulheres históricas que marcaram na política, na educação, na ciência, na música, na literatura, no exército, nas tecnologias. Enfim, em todas as áreas. Temos a atuação da mulher na construção da história da sociedade humana comprovada pelas pesquisas realizadas nas últimas décadas sobre “mulheres históricas”. Dizemos “nas últimas décadas” porque, até então, não havia sido registrada na mesma proporção dos registros da atuação masculina. Ao mesmo tempo, avançamos, conquistamos espaços importantes e que estamos ampliando para nossas filhas, netas, bisnetas.

Na condição de escritora, eu optei por registrar histórias de mulheres que marcaram a história pelo seu dia a dia. Escrevi os livros O BRILHO DE ESTRELAS IMORTAIS, Volume 1 e Volume 2, entrevistando noventa e quatro mulheres desbravadores do norte de Mato Grosso, região considerada atual-

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