Cemitério de Santo Amaro - Um Roteiro do Seu Patrimônio

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CEMIteRIO DE SANTO AMARO UM ROTEIRO DO SEU PATRIMÔNIO



ARRUANDO PELO CEMITÉRIO DE SANTO AMARO A cidade do Recife sofreu grandes transformações na sua paisagem quando da administração de Francisco do Rego Barros (1802-1870), que veio a ser barão, visconde e finalmente Conde da Boa Vista. Formado em matemática pela Universidade de Paris, com apenas 35 anos de idade, foi designado presidente da província de Pernambuco, ficando no cargo de 1837 a 1844, época em que o trouxe para o Recife o engenheiro francês Louis Léger Vauthier (1815 – 1901), responsável pela construção do Teatro de Santa Isabel (1850) e de importantes obras públicas, dentre as quais o traçado inicial do Cemitério

do Senhor Bom Jesus da Redenção, consagrado como Cemitério de Santo Amaro. Sobre as experiências de Vauthier no Recife, o escritor Clarival do Prado Valadares (in Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros. Rio, 1972), lembra o episódio, registrado pelo engenheiro francês em seu Diario, no qual um cadáver insepulto de um negro permaneceu por muito tempo às margens do Capibaribe, sem que despertasse a menor atenção da população passante, assim escreve: Não sei a quanto arrisco a aventura de uma ilação, mas a mim parece que o horror daquele quadro aos olhos do jovem politécnico de Paris fê-lo sugerir no estudo do [Cemitério] Santo Amaro do Recife... “que se plantassem árvores e arbustos pelas ruas do cemitério; árvores que purificassem a atmosfera” e quanto ao plano geral que tivesse a forma de... “um octógono regular cujo contorno seria de 3.640 pés ou menos uma décima parte do que o quadrado”. Disto resultou a surpreendente planta do [Cemitério] Santo Amaro,


de alamedas e aleias radiais, centradas pela praça da capela, formando “quadras” poligonais e triangulares cujas orlas são ocupadas pelo loteamento para jazigos nobres, ou pelos extensos mausoléus coletivos de irmandades, reservando-se as áreas centrais para as covas rasas. Trata-se, pois, de um cemitério planejado de tal modo que a paisagem é equanimemente distribuída, dela participando em condições de igualdade o túmulo rico e a cova-rasa. Dessa curiosa e talvez inédita configuração urbanística de cemitério, relacionando o senhor e o escravo, o amo e o servo, o rico e o pobre, assim como eles existiam na respectiva ordem social do modelo patriarcal do século passado, desnivelados e ao mesmo tempo coexistindo sob o mesmo teto, na mesma casa, e tantas vezes em coabitação. É desta mesma época a presença na equipe de obras públicas do Governo da Província do engenheiro José Mamede Alves Ferreira (1820-1865), Bacharel em Matemática pela Universidade de Coimbra, que além dos pré-

dios da Casa de Detenção e do Ginásio Pernambucano foi responsável pela execução do projeto do Cemitério Público do Senhor Bom Jesus da Redenção, criado em 1841, pela Lei Provincial nº 91, tendo sido inaugurado em 1º de março de 1851. Trata-se de uma área plana, originalmente ocupando um terreno de 351,35 m. de fundos por 320 m. de largo, tendo ao centro uma elegante capela em estilo gótico, em forma de cruz grega, para onde convergem todas às alamedas de túmulos dando, assim, um formato estelar ao conjunto. Bem conservado pela atual administração municipal, o Cemitério de Santo Amaro, chama a atenção do visitante para o seu portão de entrada, trazendo na sua base a data de MDCCCLI (1851), confeccionado em ferro fundido pela firma A.C. Staar & Cia. (Fundição Aurora), a mesma responsável pelos portões do Cemitério dos Ingleses e da Ordem Terceira do Carmo do Recife. Aleias de palmeiras imperiais marca a avenida principal, que une o seu monumental portão de ferro com


a porta da capela central, ladeada pelos primeiros túmulos do início da segunda metade do século XIX, que conduz o visitante até a capela em estilo gótico, octogonal, situada ao centro do campo santo. Nas diversas alamedas do Cemitério de Santo Amaro, sob a proteção da sombra das árvores, vamos encontrar singulares obras de arte de escultores renomados que estão a exibir o seu talento nos diversos túmulos alguns deles centenários. No ponto de confluência de suas ruas, encontramos uma singular capela gótica, a primeira do seu gênero em terras pernambucanas, projetada por José Mamede Alves Ferreira (1820-1865), mandada construir pela Câmara Municipal do Recife em 1853. “Trata-se de um monumento de puro estilo gótico de cruz grega, fechada por uma só abóbada, de uma belíssima e arrojada construção, e de grandeza proporcional ao fim a que é destinada, sem campanário e sem dependências”. O singular templo conserva no seu centro uma imagem do Cristo Crucificado, em ferro, produto de fun-

dição francesa, tendo na sua abóbada placas de mármore alusivas às diversas fases de sua construção, como as restaurações sofridas nos anos de 1899 e 1930: • A Câmara Municipal do Recife a mandou fazer em 1853...1855, segundo o plano do engenheiro civil José Mamede Alves Ferreira. • Reaberta e melhorada na administração do Exmo. Dr. Esmeraldino Olympio de Torres Bandeira, prefeito do Município do Recife. Em 16 de junho de 1899. • Restaurada na administração do Exmo. Sr. Dr. Francisco da Costa Maia, prefeito do Município, 1930. Para o escritor Rubem Franca (in, Monumentos do Recife - Recife, 1977): O Cemitério encerra muito da cultura de um povo. Santo Amaro, aliás, ainda aguarda quem lhe faça um estudo completo, um levantamento dos sepulcros de pernambucanos famosos e populares. Um estudo dos seus monumentos funerários, que são, alguns verdadeiras obras de arte.


TÚMULO DO BARÃO E DA BARONESA DE MECEJANA

Um dos mais belos túmulos do Cemitério de Santo Amaro pertencem ao Barão e a Baronesa de Mecejana: Antônio Cândido Antunes de Oliveira e Colomba Ponce de Leão. “O túmulo é todo feito em mármore de Carrara com grande influência dos romanos, por causa do sentimento católico. O formato de tocha invertida é símbolo da morte e da expectativa de que essa luz se reacenda”, explica o escultor e responsável pela última restauração do túmulo, Jobson Figueiredo, realizada em 1999. Sobre seu mausoléu, escreve o próprio Barão de Mecejana, em seu testamento, conservado no Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, ter sido o túmulo destinado, inicialmente, a sua filha e seu genro que faleceram de uma das epidemias que assolaram o Recife na segunda metade do século XIX. A posição do barão e baronesa, em genuflexo, demonstra a atitude do casal durante a doença que vitimou o casal. Como bem observou o escritor Clarival do Prado Valadares, in Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros (1972), vale reparar também o detalhe das esculturas em mármore do barão e da baronesa, que reproduzem até a textura de uma veste rendada.


TÚMULO DE JOSÉ MARIANO CARNEIRO DA CUNHA Localizado em frente ao mausoléu de Joaquim Nabuco, encontra-se o túmulo de José Mariano Carneiro da Cunha (18501912). Também um destacado líder do movimento abolicionista e de sua mulher Olegaria (Olegarinha) Gama Carneiro da Cunha (1860 - 1898). A obra do mausoléo apresenta um busto em bronze do abolicionista e estátua de uma mulher chorando, conservando as inscrições: À José Mariano / o Povo / Pernambucano. / Olegária Gama Carneiro da Cunha, 16-9-1860, 24-4-1898.


TÚMULO DE JOAQUIM NABUCO Um dos mais suntuosos túmulos é dedicado ao Patrono da Raça Negra, o abolicionista Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo (1849-1910). A obra é do escultor italiano Giovanni Nicolinim, e foi montada em Pernambuco por outro escultor, também italiano, Renato Baretta, em novembro de 1914. O conjunto escultórico retrata a Emancipação do Elemento Escravo, em 13 de maio de 1888, formado por um grupo de ex-cativos levando sobre suas cabeças o sarcófago simbólico do grande abolicionista. À frente do monumento, o busto de Joaquim Nabuco, em mármore, tendo ao seu lado uma figura de mulher (a história), que ornamenta de rosas o pedestal do busto, onde se lê: A Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo. Nasceu a 19 de agosto de 1849. Faleceu a 17 de janeiro de 1910.


MAUSOLÉU DO GOVERNADOR MANUEL BORBA

Outro dos mais imponentes mausoléu de Santo Amaro, o do governador Manuel Antônio Pereira Borba, mais conhecido como Manuel Borba, possui uma mulher com torre na cabeça, e em seus pés um grande leão de Pernambuco. No mausoléu, uma frase que ficou famosa: Pernambuco não se deixará humilhar. E a sua efígie, com a seguinte inscrição: Cidadãos: quando quiserdes advertir aos vossos governantes, incitar os vossos compatriotas e educar os vossos filhos, apontai-lhes o exemplo que foi Manuel Borba - probidade e caráter - lealdade - bravura cívica. MCMCCCII. [sic]”


TĂşmulo de Agamenom MagalhĂŁes Foto de Jan Ribeiro

Afresco de Murillo La Greca Foto de Leonardo Dantas


Esta publicação é uma realização do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco Texto e fotos: Leonardo Dantas Silva Fotos: Jan Ribeiro Designer: Adeildo Leite Organização e edição: Michelle de Assunção Endereço: Avenida Oliveira Lima, 813, Boa Vista - Recife - PE - CEP: 50050-390 • Tel.: 3423-7658 Confirara a versão eletrônica em: www.cultura.pe.gov.br/publicacoes

Cemitério de Santo Amaro Rua Marquês do Pombal, s/n • Santo Amaro, Recife - PE • Tel.: (81) 3355-6827


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