O CORREDOR ECOLÓGICO Informativo do Projeto Microcorredores e da ONG Curicaca - JANEIRO de 2008 - Número 002 - Ano 1
Artesanato com palha de Butiá sofre entrave por falta de licenciamento ACERVO CURICACA
Sem norma que permita o manejo da planta, artesãos de Torres ficam sem permissão para produzir chapéus e bolsas, conhecimento que herdaram de suas famílias
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Itapeva e Tupancy Parques do Litoral Norte têm mais visitantes no veraneio, mas não estão preparados para isso
É verão nas Unidades de Conservação CLÁUDIO FACHEL/CURICACA
O Parque Estadual de Itapeva é uma Unidade de Conservação situada no município de Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. No verão, amantes da natureza de todo país visitam o local, e muitos deles se instalam com suas barracas e motor-homes no camping existente ali. Para lidar com este aumento da demanda, o Departamento Estadual de Florestas e Áreas Protegidas (DEFAP) faz malabarismos, valendose de servidores de outras Unidades de Conservação (UC) no reforço da fiscalização na área. Na última temporada de veraneio, a equipe contratada em caráter temporário se mostrou insuficiente para zelar pelos 1.000 hectares do Parque. Ciente disso, a administração buscou apoio em guardas que trabalham em outras Unidades, como o Horto Florestal Litoral Norte e os Parques Estaduais do Espigão Alto, de Rondinha e de Itapuã, o que ainda não garantiu a fiscalização de atividades não permitidas em Itapeva, que é uma UC de proteção integral. “Enquanto os funcionários concentravam-se em atender à demanda de campistas e visitantes, não tinham tempo para ter o total controle dos impactos sobre o Parque, como construções nas dunas próximas ao Riacho Doce, pesca nas pedras de Itapeva, degradação das dunas por bugues e jeeps e caça predatória por cachorros de moradores da região”, relata Alexandre Krob, da Curicaca. Com o término do contrato da equipe provisória, em abril deste ano, o Parque ficou sem uma chefia no local. Dois dos guardas emprestados foram mantidos. “Nós não temos muita gente nas outras Unidades para dar apoio, então fazemos um rodízio para não deixar Itapeva abandonada”, explica a bióloga Roberta Dalsotto, chefe da Divisão de Unidades de Conservação do DEFAP. Outro problema constatado no verão passado foi com a infra-estrutura do camping. Na primeira semana de fevereiro de 2007, 150 representantes dos usuários
protestaram pela imediata implantação do Parque e a melhoria da situação do local de acampamento. Frente a isso, as Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e de Turismo prometeram realizar um esforço para a efetivação do Plano de Manejo e para a adequação das condições do camping. No final de novembro passado, o DEFAP partiu para a manutenção da área de acampamento, após um levantamento que indicou quais itens precisavam de melhorias. “Avaliamos portas dos banheiros, sistema elétrico, enfim, itens de infra-estrutura”, afirma Roberta. Já o Plano de Manejo foi publicado em dezembro, o que possibilita que as autoridades passem a tomar decisões relacionadas aos objetivos de conservação da biodiversidade no Parque e também ao seu uso em ecoturismo. No quesito fiscalização das agressões ambientais dentro do Parque, porém, os torrenses e visitantes devem ver se repetir nesse verão as medidas aplicadas no ano passado, visto que a quantidade de guardaparques deverá ser a mesma. Dessa vez, contudo, serão servidores concursados, formando um quadro permanente, o que já se traduz em estabilidade. No último dia 30 de novembro, o biólogo e ex-fiscal ambiental da Prefeitura de Torres Fabiano Minassi Silva tomou posse como gestor do Parque, juntamente com um agente administrativo e quatro guarda-parques, selecionados após o concurso público realizado em 2007. Mas a realocação de guardas de outras Unidades ainda se fará necessária, pois o número de funcionários lotados no Parque não é adequado para períodos de movimento intenso. Parque ainda não está totalmente implantado Criado em 2002, o Parque de Itapeva precisa atender a uma série de requisitos para que o seu funcionamento seja considerado satisfatório. Uma melhor organização, que inclui desde a indenização
JOYCE WAINBERG/CURICACA
dos antigos proprietários até a instalação de lixeiras no local, é um importante aspecto do processo, como destaca Roberto de Oliveira Monteiro, da Tenda do Beto. Conhecedor da região e das pessoas que visitam Torres no verão, ele diz que um dos problemas é a falta de informações para orientar quem vai ao Parque. “Como ele não foi demarcado, o pessoal não sabe onde é, onde vai ser... e tem áreas com os proprietários ainda, porque eles não foram indenizados”, comenta. “Poderia ter um folder com dicas para os visitantes também”, sugere. A Prefeitura de Torres também reivindica melhoras na Unidade de Conservação, que, nas palavras do Prefeito João Alberto Machado, tem potencialidade. “A nossa expectativa é grande para que o Parque seja um bom ponto turístico”, afirma Machado, que considera que “o Plano de Manejo traz uma série de inovações, dentre elas o ecoturismo aliado à preservação”. A situação se repete no Parque Natural Municipal Tupancy, a meia hora de Itapeva. Um dos mais ricos patrimônios naturais de Arroio do Sal, a área de 21 hectares tem grande procura na alta temporada, mas não possui infra-estrutura nem fiscalização adequadas. “No verão entram umas 150 pessoas por dia”, estima Cláudio Silva de Souza, morador do município. Ele relata que todo esse movimento é controlado por apenas uma pessoa, que, em verdade, seria responsável somente pela área do Criadouro de Animais Silvestres que fica dentro do Tupancy. É o funcionário do Criadouro que vai exercer o papel de guarda do Parque durante o verão, conforme Marta Maria da Silva, que neste mês foi nomeada Diretora do Parque. Ela e uma estagiária recém contratada devem ficar no Tupancy diariamente neste verão, quando será inaugurado o Centro de Visitantes, previsto inicialmente para ficar pronto em agosto. “Vai ser meio precário, mas vai ter uma estrutura”, pondera.