O corredor Ecológico
Informativo Semestral do Projeto de Conservação da Biodiversidade no Assentamento Filhos de Sepé e das ações do Instituto Curicaca e seus parceiros Setembro de 2011 - Número 005 - Ano 5
Conservação da biodiversidade é foco de ações com comunidade rural de Viamão Projeto em parceria com o Incra incentiva moradores do Filhos de Sepé a preservar Refúgio Atuando em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Curicaca está desenvolvendo o Projeto de Conservação da Biodiversidade no Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, em Viamão. A Unidade de Conservação é Reserva Legal do maior assentamento do estado, o Filhos de Sepé. Ações estratégicas de integração com a comunidade estão ocorrendo desde 2010. Ao mesmo tempo, é realizado um trabalho conjunto com gestores e instituições de pesquisa para facilitar o controle e preservação da área, responsável por garantir diversos benefícios ecológicos.
Leia na página 3 Trabalhos incluem atividades de Educação Ambiental Dentro do projeto, as ações de sensibilização com os moradores do Assentamento Filhos de Sepé se dá pelo contato com as crianças, em sua maioria assentados. Alunos da Escola Nossa Senhora de Fátima estão ampliando seus laços com a natureza e aprendendo novos modos de lidar com ela. Os encontros incluem uma variedade de dinâmicas que unem conhecimento teórico e atividades lúdicas.
Veja mais nas páginas centrais Cervo do pantanal é avistado no Curicaca trabalha pela criação de Conselho Consultivo Banhado dos Pachecos no Refúgio, visando a efetivação da Unidade Espécie que corre risco de extinção no estado, o cervo do pantanal foi fotografado no Refúgio Banhado dos Pachecos em 2010. A ocorrência do animal é confirmada por moradores da região. Os relatos também partem das crianças que participam dos encontros de educação ambiental na Es-
cola Nossa Senhora de Fátima. Trata-se de uma motivação para os pesquisadores e para o Instituto Curicaca, que está desenvolvendo um programa para a conservação do animal, cuja sobrevivência depende da implantação do Refúgio.
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Atuante nos Conselhos de sete Unidades de Conservação, o Instituto Curicaca está articulando a criação do Conselho Consultivo do Refúgio Banhado dos Pachecos, em Viamão. Isto é essencial para garantir a efetividade da unidade criada em 2002,
mas ainda em fase inicial de implantação. Além de possibilitar a participação dos setores diretamente envolvidos, o conselho é um apoio fundamental ao trabalho do gestor. Um exemplo claro dessas possibilidades é o Conselho do Parque Estadual de
Itapeva, que está solicitando a participação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) em sua próxima reunião. A demanda ocorre porque pressões políticas e econômicas estão se sobrepondo aos interesses coletivos e difusos daquele Parque.
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editorial Por Alexandre Krob Coordenador Técnico do Curicaca
pequenos veículos alternativos. É só alguns jornais de bairro começarem a ter destaque pra surgir na grande mídia os encartes mensais de bairro. E nisso o leitor também tem a sua responsabilidade. Quem veio trazer mudanças foi a internet, que permite uma grande difusão de informações críticas através da autonomia da criação de blogs, sítios e redes sociais. Mesmo assim, isso ocorre com as suas limitações, pela dificuldade de acesso por boa parte da população, o excesso de informações e a poluição e a falta de segurança naquilo que se lê. De tudo isso, temos que destacar a importância da pluralidade dos meios de comunicação, com suas escalas de abrangência e públicos, da mesma forma como defendemos a riqueza biológica e a riqueza cultural. Por isso, estamos tão felizes em retomar as edições de “O Corredor Ecológico”, um pequeno jornal com conteúdo ambiental, social, cultural e econômico que permite acesso à população local daquilo que não interessa à grande mídia, vocês sabem o porquê! Mantê-lo é difícil, mas vale muito a pena.
Para as empresas privadas de cunho jornalístico, as medidas de um bom trabalho são a audiência, a quantidade de leitores, a abrangência e os resultados da comercialização do produto principal e seus subprodudos. Por isso, as informações e posturas dependem da aceitação pela opinião pública já existente e não formadoras de opinião pública como se costuma “marketear”. As notícias ambientais e sociais veiculadas nesses meios são escassas e seletivas. Elas precisam ter apelo de mídia e não conflitar com posições e processos que são de interesse das empresas jornalísticas, de seus anunciantes e dos acertos políticos que estão por trás dos bastidores. De vez em quando, isso fica mais visível nas lutas por uma imprensa livre, pela profissão de jornalista ou contra a censura. Estamos repletos de situações nas quais os grandes grupos de comunicação hegemônicos no mercado compraram ou ajudaram a falir os
notas Instituto Curicaca lança livro sobre microcorredores ecológicos O Instituto Curicaca lançou, na última edição da Feira do Livro de Porto Alegre, em 2010, a publicação “Microcorredores Ecológicos de Itapeva”. O livro conta a história recente dos microcorredores que ligam áreas de grande relevância ecológica na porção superior do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. É direcionado a técnicos, professores e líderes comunitários que atuam na região. Nele, é possível conhecer o método de definição dos espaços para a implantação dos microcorredores, além das estratégias utilizadas para a sua concretização e ações de conservação. A edição encontra-se disponível, na íntegra, para download no site da Curicaca: www.curicaca.org.br.
Projeto sobre corredores ecológicos é apresentado em Dom Pedro de Alcantra A Prefeitura Municipal de Dom Pedro de Alcântara, por meio do Departamento de Meio Ambiente, realizou nos dias 16 e 17 de junho a sua 2ª Jornada Ambiental. Na sede da Sociedade Esportiva Aymoré localizada na cidade, no dia 16, o Instituto Curicaca palestrou sobre as atividades da organização desenvolvidas no município desde 2003. “O público ficou particularmente interessado sobre o projeto na Lagoa do Morro do Forno”, enfatiza o coordenador técnico da instituição, Alexandre Krob. De 2009 a 2010, o Centro de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Instituto Curicaca desenvolveram um projeto na região da lagoa do Morro do Forno e do Jacaré, para implementação dos Microcorredores Ecológicos de Itapeva. Dom Pedro de Alcântara é cruzado por diversos desses corredores. “A população quer
expediente Editor: Alexandre Krob / Jornalista Responsável: Joyce Copstein Mtb 15053 Reportagem: Leila Garcia e Sarah Motter / Revisão de texto: Joyce Copstein Projeto gráfico (atualização): Lídice C. Wainberg / Diagramação: Leila Garcia e Joyce Copstein / Ilustrações: Patrícia Bohrer / Fotos: acervo do Instituto Curicaca, arquivo pessoal José Maurício Barbanti e Glayson Bencke Tiragem: 3.000 exemplares / Circulação dirigida: Viamão, Gravataí e Porto Alegre. O Corredor Ecológico tem distribuição gratuita. Instituto Curicaca Coordenador geral: Jan Mähler Jr. Coordenador técnico: Alexandre Krob Coordenadora de Educação Ambiental e Cultura: Patrícia Bohrer Sede Administrativa: R. Dona Eugênia, 1065/303 - CEP 90630-150 Porto Alegre - RS / Fone: (51) 33320489 • http://www.curicaca.org.br curicaca@curicaca.org.br
entender mais o que significam esses sistemas que, além da preservação da biodiversidade, podem gerar renda para a cidade”, acrescenta Krob. Também foi possível falar ao público sobre as atividades de educação ambiental desenvolvidas pelo Curicaca. Entre os anos de 2006 e 2009, o Instituto trabalhou nas duas escolas municipais da área rural de Dom Pedro de Alcântra. Além deste, a programa abrangeu outros quatro municípios: Torres, Arroio do Sal, Morrinhos do Sul e Mampituba, e foi desenvolvido em 20 estabelecimentos de ensino fundamental. As atividades tiveram que ser suspensas devido à falta de recursos financeiros. Os professores de ensino médio presentes na palestra ficaram interessados em formar uma parceria com a ONG para trabalhar estratégias conjuntas de preservação na Lagoa do Morro do Forno. E, também apontaram uma grande demanda na área de educação ambiental para o nível médio. Durante a palestra, estiveram presentes agricultores, professores, estudantes, gestores públicos e pessoas da comunidade em geral.
APOIO FINANCEIRO Esta edição do jornal O Corredor Ecológico tem apoio do Projeto de Conservação da Biodiversidade no Assentamento Filhos de Sepé - Viamão/RS Ministério do Desenvolvimento Agrário
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Curicaca e Incra formam parceria para a conservação da biodiversidade em Viamão
Técnicos de instituições públicas e pesquisadores visitam Refúgio dos Pachecos, em Viamão
Um projeto de conservação da biodiversidade no Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, em Viamão, está integrando o Instituto Curicaca e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra. A área é Reserva Legal do Assentamento Filhos de Sepé, o maior do estado, local que possui algumas particularidades. Primeiro, ele foi criado dentro de uma Área de Proteção Ambiental, a APA do Banhado Grande. Segundo, teve parte de sua área destinada à criação do Refúgio, em 2003.
“Mesmo com as limitações, o pessoal do Curicaca conseguiu iniciar o trabalho, e os resultados obtidos até agora foram os melhores possíveis” Marcelo Bastos (Incra) É, portanto, um dos únicos assentamentos vinculados a uma Unidade de Conservação, uma realidade estimulante para o Instituto Curicaca, que há quase quinze anos realiza programas com foco na conservação de ambientes, atuando junto às comunidades que vivem nas proximidades das áreas de proteção. “É uma experiência diferente e positiva, porque o MST tem mostrado preocupação ambiental, e a proximidade com a unidade de con-
servação é uma chance de exercitar isso”, expõe Alexandre Krob, coordenador técnico do Instituto Curicaca. As atividades, que começaram no início de 2010, estão voltadas à sensibilização das famílias para o apoio à implantação e manutenção da Unidade de Conservação, o planejamento de corredores ecológicos e a diminuição da poluição hídrica. O projeto segue vários eixos de ação, entre eles a motivação para a elaboração do plano de manejo e a análise da qualidade ambiental da água subterrânea (que pode estar contaminada por lixo) e a aproximação das famílias assentadas com o Refúgio. Desde 2007, a emissão de licenças ambientais para assentamentos só ocorre quando existem programas de educação ambiental para a área. Além disto, em 2008, foi implementado o Programa de Manejo de Recursos Naturais em Projetos de Assentamento, que destina verbas federais à recuperação e conservação ambiental. Para o engenheiro agrônomo Marcelo Almeida Bastos, do Incra, “o melhor formato para ações ambientais em assentamentos é o convênio com entidades, em função das questões pedagógicas relacionadas aos movimentos sociais”. Ele se demonstra otimista em relação à parceria com o Curicaca: “A colaboração de organizações com experiência sócioambiental permite que o Incra faça o acompanhamento técnico, sem intervir diretamente no processo. Uma intervenção direta pode causar problemas de receptividade por parte dos assentados”. Isso, segundo ele, se deve ao fato de o Incra
ter um duplo papel: o de promover o desenvolvimento agrícola simultaneamente à preservação ambiental. O Assentamento Filhos de Sepé ocupa uma área de 9.406 hectares no distrito de Águas Claras, em Viamão, junto à bacia hidrográfica do rio Gravataí. Desde 1998, 376 famílias vindas de 115 municípios gaúchos estão no local. As ações ocorrem através da educação ambiental com os alunos da Escola Nossa Senhora de Fátima, visando provocar reflexões sobre biodiversidade em toda a comunidade. Através de experimentações práticas e atividades lúdicas, os alunos conhecem temas como agricultura ecológica, riqueza biológica e unidades de conservação da natureza. “Infelizmente, entraves burocráticos paralisaram o convênio com o Curicaca no ano passado. Mas, mesmo com as limitações, o pessoal do Curicaca conseguiu iniciar o trabalho, e os resultados obtidos até agora foram os melhores possíveis”, comemora Bastos. A dedicação da equipe de educação ambiental tem refletido em respostas positivas dos estudantes, professores e famílias. “Os alunos fazem festa quando a turma da educação ambiental chega, e os pais costumam ligar para perguntar se vai haver atividades com o Curicaca”, comenta Dirceu Sides do Nascimento, morador do assentamento e Diretor da escola há cinco anos. Ele conta ainda que tem observado mudanças no comportamento das crianças, que “vêm demonstrando maior interesse e preocupação com o meio ambiente”. Além disso, Dirceu acredita que os resultados já estão aparecendo no assentamento: “Filhos Sepé faz parte de uma área de preservação, e por isso este trabalho é importante. Já há vários projetos, dentro do assemntamento, que buscam produzir sem usar agrotóxicos. Estamos caminhando rumo à agroecologia”, comenta. Desde 2004, os assentados seguem normas que limitam o uso de agrotóxicos no plantio e definem regras para o uso da água. Além da educação ambiental, estão ocorrendo reuniões entre os técnicos do Curicaca e os gestores das Unidades de Conservação para a implantação do Refúgio, o que permitirá maior controle e proteção da área. Também
já foram iniciadas as primeiras avaliações do depósito clandestino de lixo, no setor “A” do assentamento. A partir daí, será implantado um sistema de monitoramento da água subterrânea e elaborado um projeto de remediação da poluição causada pelo lixo no local. São ações urgentes, que envolvem todos os setores da sociedade. “Essas iniciativas e cuidados devem acontecer em qualquer lugar onde as pessoas vivem, mas especialmente nas proximidades de áreas protegidas, onde precisam ser incentivadas com muito empenho”, acrescenta Krob.
Reserva Legal Para ajudar na conservação da biodiversidade, utilizando-a de modo sustentável, quem vive ou produz na área rural deve manter um percentual de sua propriedade ou posse com vegetação natural. É a Reserva Legal (RL). Definida pelo Código Florestal, deve ocupar 20% da propriedade nos campos nativos e florestas do RS, sem ser sobre a Área de Preservação Permanente (APP), já que tem funções diferentes. Porém, na pequena propriedade, quando a soma das APPs e da RL ultrapassa 25%, a Reserva pode ficar dentro da APP, mas o uso sustentável fica proibido. O Departamento de Florestas e Áreas Protegidas é responsável pela aprovação da RL. Sua averbação é feita à margem da escritura, gratuitamente. Mas existem custos técnicos ligados à medição da área e à documentação. Há esforços para que o poder público apoie os pequenos agricultores na demarcação e para que a RL possa ser utilizada no pagamento por serviços ambientais aos seus proprietários, como captura de carbono, proteção e geração de água. Seria justo que os moradores urbanos judassem nesse processo, o que demanda um ajuste nas políticas públicas.
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Cervo do pantanal resiste no Rio Grande do Sul Exuberante, carismático, tímido e um pouco arisco. Assim é o cervo do pantanal, o Blastocerus dichotomus, maior cervídeo da América Latina. Infelizmente, é também uma vítima da degradação ambiental e da caça, ameaçada de extinção - no estado gaúcho, apenas alguns indivíduos sobrevivem. Se, por um lado, a inexistência de pesquisas sobre o animal, no nosso estado, dificulta sua proteção, por outro, registros recentes e a mobilização em torno do cervo e de seus ambientes trazem novas perspectivas para estes animais, adotados pelos ambientalistas como bandeira de conservação. O cervo do pantanal é natural de áreas de banhado e vive em meio à alta vegetação nas bordas das florestas, campos úmidos e áreas inundáveis. Originalmente, os cervos se distribuíam ao longo dos grandes rios da América do Sul e seus afluentes. Hoje, já extintos no Uruguai, correm o mesmo risco na Argentina, Peru, Paraguai e em alguns estados do Brasil, como Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul (RS). É apenas no Pantanal que as populações apresentam o número ideal de indivíduos para a manutenção da espécie. Ele também está nas listas de animais vulneráveis do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da União Internacional para Conservação da Natureza dos Recursos Naturais (IUCN). Também conhecido como “veado-galheiro”, é um mamífero de médio porte: com cerca de 1,20m, chega a pesar 150Kg. O pelo é castanho avermelhado, já as patas e o focinho são pretos. Os cervos se alimentam de gramíneas e vegetação rasteira, e, soltos na natureza, vivem cerca de 15 anos. Os machos têm galhadas exu-
Fêmea de cervo do pantanal fotografada, por Glayson Bencke, no Refúgio dos Pachecos
berantes e ramificadas, consideradas troféus por caçadores ilegais. A caça foi justamente um dos fatores que contribuíram para diminuição da população de cervos do pantanal no RS, seja para o consumo da carne ou para a obtenção do couro e do chifre. De acordo com o biólogo e doutorando em Ecologia Jan Mähler Jr., o declínio da espécie se deve a um conjunto de causas: “Não é possível apontar um fator como mais importante, mas teve relação com a transformação do ambiente natural em extensas lavouras ou campos para pecuária, além da caça criminosa”. Aliado a esses eventos está o ainda pequeno esforço científico em relação a esta espécie no RS. “Apesar de haver grande interesse sobre o cervo, e da sua única área de ocorrência conhecida ser próxima a Porto Alegre, os esforços destinados a estudar os cervos foram pontuais e isolados”, diz Mähler. Registros fotográficos, vestígios de pegadas e fezes, marcas de dormitórios e relatos da comunidade mostram que os cervos ainda estão presentes
nos banhados formadores do rio Gravataí, único local onde ocorrem no RS. Em 2010, duas fêmeas em um macho foram flagrados por armadilhas fotográficas. Em outro momento, um grupo em excursão pelo Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, em Viamão, viu um cervo. O responsável pelo registro, a única fotografia direta do animal nos últimos 30 anos, foi Glayson Bencke, ornitólogo da Fundação Zoobotânica do RS. “Estávamos observando um grupo de aves quando uma fêmea adulta de cervo se aproximou lentamente. Ela só nos percebeu quando já estava na nossa frente, a uns vinte metros de distância. Nos encarou, deu meia-volta e correu. Foi um momento de rara excitação, para lembrar pelo resto da vida”, conta. Hoje, sabe-se que a população da espécie é extremamente pequena e a área onde está sendo observada em Viamão é bastante restrita. “Infelizmente não se pode precisar quantos indivíduos ainda resistem. As estimativas não são confiáveis”, declara Mähler. Bencke complementa: “Todos os cervos que
restam no RS estão hoje confinados a uma área relativamente pequena e cercada por zonas urbanizadas ou agrícolas, com forte presença humana”. Um dos mais sérios problemas é a degradação dos banhados. “Esse ecossistema tem sido historicamente descaracterizado no RS, principalmente por atividades que poluem a água e alteram suas características”, destaca Simone Ximenes, bióloga do Instituto Curicaca. Não há como conservar o cervo sem preservar os locais onde ele ocorre, definidos por lei como áreas de preservação permanente. Os esforços trazem ainda outros benefícios, pois o cervo é uma espécie “guarda-chuva”: uma vez que ele precisa de áreas grandes para manter populações viáveis, nesses espaços acabam sendo conservadas inúmeras outros espécies de animais e plantas. Mais ainda, os banhados que constituem seu hábitat prestam serviços ambientais, como a regulação hídrica, a purificação da água, o acúmulo de carbono e a manutenção da biodiversidade. Além da degradação do ambiente e da caça, há outras ameaças, como o isolamento da população e doenças. Apesar de preocupante, a situação é desafiadora. “É intrigante que há 30 anos tenham sido estimados menos de dez indivíduos, e mesmo uma população tão pequena e isolada tenha se mantido até hoje”, diz Simone. Isto é visto como oportunidade de entender a espécie e investir na região. “A presença de populações protegidas é um dote natural, que pode ser utilizado no desenvolvimento turístico da região, na captação de recursos para os municípios e na melhoria de vida das comunidades do entorno. Basta saber tirar vantagem”, finaliza Bencke.
Programa une esforços para a conservação do cervo Para que o cervo não seja só mais um animal na lista de extinção, o Instituto Curicaca articulou uma parceria com órgãos públicos e de pesquisa para a manutenção do Programa de Conservação do Cervo do Pantanal no RS, o Procervo. Quantos animais ainda existem? Podem sobreviver nas atuais condições? São as respostas que os pesquisadores irão trazer à tona, para, então, realizar atividades concretas de proteção. Iniciado em 2010, quando o Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos se tornou prioridade para o Curicaca, o Procervo realizou oficinas e encontros técnicos, em 2011. As ações ocorrem nas
áreas úmidas da bacia do Rio Gravataí, englobando de forma indireta a APA do Banhado Grande e locais onde se registrou a ocorrência do cervo. Estão envolvidos no programa atores como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), a Fundação Zoobotânica, o Departamento de Florestas e Áreas Protegidas do Estado, o Instituto de Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e o Centro de Ecologia da UFRGS. O programa objetiva garantir estratégias múltiplas e permanentes para preservação do cervo e tem por base quatro eixos de ação: proteção da biodiversidade, desenvolvimento sustentável, edu-
cação ambiental e políticas públicas com o fortalecimento institucional. Proteger a biodiversidade significa pesquisar e cuidar do ambiente. É preciso fortalecer a responsabilidade ambiental e social das comunidades próximas, incluindo o apoio a economias familiares sustentáveis, como agricultura ecológica e ecoturismo. A sensibilização vem da educação ambiental com professores e alunos das escolas das redondezas. “A articulação de parcerias permite a capacitação dos gestores ambientais e o fortalecimento dos Conselhos e dá respaldo legal às ações do Programa”, conclui Alexandre Krob, coordenador geral da iniciativa.
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entrevista Já se vão mais de vinte anos desde que, por acaso, José Maurício Barbanti Duarte começou a trabalhar com cervos. Hoje, o veterinário, mestre e doutor coordena os principais grupos de estudos sobre cervídeos no Brasil. Ele descobriu espécies, desenvolveu metodologias e criou, em 1998, o Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos (NUPECCE) na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em Jaboticabal, onde é professor. Agora, também está colaborando com a pesquisa sobre o cervo no RS Por que você é uma referência no estudo de cervídeos no país? Minha história com cervídeos começou no mestrado, em 1989, quando iniciei o trabalho com genética. Segui essa linha no doutorado e identifiquei espécies novas, o que teve grande repercussão. Entrei em projetos grandes, como o acompanhamento do cervo do pantanal em Porto Primavera (SP), avaliando o impacto da hidrelétrica na população de cervos da região. Na ocasião, estudei a parte sanitária e genética e criei uma população de cervos em cativeiro para proteção. Isso levou a outros projetos na busca por espécies ameaçadas e desenvolvimento de metodologias para descrever a região geográfica de ocorrência desses animais. Hoje, coordeno o Núcleo de Pesquisa com Cervídeos, oferece subsídios científicos para a conservação e atua, praticamente, em todo o Brasil. Como está a situação do cervo na América Latina? A única população que tem alguma segurança, que é grande, se encontra no Pantanal, com cerca de vinte a trinta mil indivíduos. Todas as outras correm sérios riscos de extinção. No Brasil, a população de Guaporé (RO) sofre pela invasão dos búfalos; a do rio Araguaia está em declínio devido à caça; a que ocorre ao sul do rio Paraná está quase extinta por causa das hidrelétricas; e, finalmente, há a do RS, que é pequena e muito interessante, por estar isolada há muitos anos. Estima-se apenas uma dúzia de cervos no RS. O que significa isso? Cada população tem sua história evolutiva e estrutura genética, e essa identidade deve ser mantida. A manutenção da população do RS é fundamental. Aí existem combinações genéticas, talhadas por milhões de anos de evolução, que são extremamente importantes. É uma população isolada, praticamente na região metropolitana de Porto Alegre, onde há altos impactos, mas os
animais ainda estão lá. Não dá para achar que, já que temos cervo no Pantanal, dá para perder as outras populações na América do Sul e tudo bem. Não adianta depois querer tirá-los do Pantanal e levar para o Araguaia, para o RS e para a bacia do Paraná; estes isolados geográficos devem ser conservados isoladamente. Quais as principais as ameaças ao cervo no RS? A curto prazo, são duas. Uma é a caça ilegal, pois o cervo é um animal que fornece bastante carne. A outra é sanitária, devido ao contato com animais domésticos, ovinos, bovinos e caprinos, que compartilham doenças. Em São Paulo, a extinção praticamente ocorreu por causa da aftosa.
muito urgente. Até hoje, a conservação do cervo foi um processo passivo: o ambiente esteve ali e ele permaneceu. Como permaneceu, como ele está lá, se passa por problemas ou não e se vai permanecer ali para sempre, não se sabe. A pesquisa pode mostrar como atuar melhorando as condições para que o cervo resista. Se fizermos pequenas alterações de manejo da área, podemos ter o animal presente ali para sempre.
Em que pode ajudar a conservação dos banhados? Essa é uma espécie que ocupa o banhado e sua margem, e está aí até hoje por conta da conservação deste ambiente. Todos os estudos ecológicos demonstram que é seu ambiente preferencial. Se mantivermos os O espaço do Refúgio é suficiente banhados, teremos cervos do pantanal; se não conseguirmos conservar para a manutenção da espécie? Num espaço pequeno, não é pos- essas áreas, não vamos mais tê-lo. sível expandir a população, e, com o passar do tempo, a população redu- Como os pesquisadores conhecem zida vai perdendo a diversidade ge- o comportamento do cervo? nética. Para o cervo do pantanal, a O cervo está em locais de difícil densidade não pode ser maior que um acesso e é extremamente difícil de observar. Utilizamos animal em meio a cada cem hec“Se os moradores metodologias avançadas, como armatares, porque estiverem engajados dilhas fotográficas ele é territorialista e agressivo vão querer ajudar na e DNA fecal. Mas a base das pesquisas, ao defender seu hoje, é a rádioteleterritório. Se só conservação” metria, uma coleira temos o Refúgio dos Pachecos e o cervo não pode sair com GPS que mapeia todo o lugar dali, porque o resto é plantação, tere- onde o animal está. Temos uma ideia do que ele está fazendo, onde ele mos problemas a longo prazo. descansa, onde se alimenta. Isso tamAs plantações de arroz podem ser bém ajuda a controlar a caça, porque sabemos quando as pessoas matam o uma ameaça? Isso deve ser objeto de pesquisa, animal. Inclusive tivemos um caçador porque as plantações de arroz preso na região em que foi feita a reinpoderiam ser até um ambiente trodução do cervo, em São Paulo. propício para o cervo, apesar de não ser perfeito. Os cervos não comem Como a comunidade pode auxiliar arroz, mas podem se alimentar de na proteção do cervo? pequenas plantas que nasçam no meio Quem mais conhece a área e os dele. Mas o maior problema é o fluxo animais são os moradores locais, e de pessoas, que espantam os animais muitas vezes essas pessoas é que vão fiscalizar sua caça, feita em muie facilitam sua caça. tos lugares por pessoas de fora. Se Qual a importância de retomar as os moradores estiverem engajados, vão querer ajudar na conservação e pesquisas sobre o cervo no RS? A realização da pesquisa no RS é na pesquisa, fornecendo informações
sobre o animal. Se não estiverem empenhados, é difícil conseguir êxito na conservação da espécie. Quais as chances do cervo no RS? O RS tem muitos problemas para serem resolvidos. Essa população de cervos já é conhecida há bastante tempo, mas vem se mantendo sozinha, e apenas o básico, que é a preservação de uma área do banhado dos Pachecos, foi feito. Temos que começar um programa de maior inserção o mais cedo possível. Essa tentativa de agregar pesquisadores no RS e fazer um programa de conservação pode trazer resultados fantásticos até em curto prazo. Muitas vezes, subestimamos a capacidade de uma população se reestruturar, mas pela minha experiência, sei que, se forem dadas as condições mínimas para esses animais, a resposta deles será ótima. Tens uma mensagem de estímulo à conservação do cervo do pantanal no RS? O cervo do pantanal provavelmente ocupava grande parte do Brasil. Hoje, temos provas de que resiste numa área diminuta do território. Precisamos repensar todo o processo de colonização que fizemos nos estados, pois o legado que deixaremos para os nossos descendentes é de que conseguimos acabar com quase tudo. É o momento de vermos as coisas erradas e que ainda há tempo para salvarmos muito da biodiversidade. Como a sobrevivência desses animais pode nos inspirar? Eles são valentes, resistiram a tudo de negativo que se pode imaginar. Levam-nos a perguntar como isso foi possível. Estão pedindo que façamos algo para melhorar sua condição.
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edUCAÇÃO AMBIENTAL Alunos, professores e funcionários da Escola Nossa Senhora de Fátima, no distrito de Águas Claras, em Viamão, participam das atividades de educação ambiental promovidas pelo Instituto Curicaca como parte do Projeto de Conservação da Biodiversidade, em parceria com o Incra. São mais de 250 alunos, divididos em 11 turmas, entre o jardim e o nono ano que, desde o início de 2010, estão descobrindo novas formas de ver e lidar com a natureza. Os temas estão sendo trabalhados em três módulos diferentes, que ocorreram ao longo do ano passado e vão até o final desse ano. Nos módulos ocorrem diversos encontros entre os alunos e a equipe do Curicaca, que vai abordando assuntos como a horta ecológica, a biodiversidade de ambientes úmidos, as Unidades de Conservação e os corredores ecológicos, de acordo com as necessidades e expectativas de cada turma. Cada encontro representa um complemento dos conceitos vistos anteriormente e um acréscimo de conhecimento. Painéis interativos, jogos, passeios e reflexão fazem parte da pedagogia utilizada pela equipe de educação ambiental para incentivar a preservação. Confira algumas das atividades desenvolvidas: - Horta Ecológica Educativa: O modelo dos ecossistemas naturais ganha a forma de uma mandala. Diversas espécies de hortaliças companheiras, como alface, rabanete e cenoura, são plantadas e cultivadas pelos alunos em um mesmo canteiro. Ao mesmo tempo que acompanham o crescimento dos vegetais que serão servidos no lanche da escola, os alunos estudam as partes e estruturas das plantas e os organismos presentes neste ambiente, além das interações ecológicas na horta. As modificações são registradas no Diário da Horta, uma maneira de incentivar os alunos a manifestarem suas experiências. Nos turnos inversos, alguns alunos voluntários compõem o Clube da Horta, - Ação Educativa: Antes de iniciar as atividades de cada módulo, o Curicaca reúne os professores a fim de desenvolver práticas pedagógicas, sugerir atividades e colher impressões sobre os resultados alcançados. É um processo continuado de qualificação e de construção colaborativa do processo. - Visita ao Refúgio de Vida Selvagem Banhado dos Pachecos: Os alunos mais novos, do jardim ao quinto ano, visitaram o Refúgio no segundo semestre de 2010. O local fica próximo ao Assentamento Filhos de Sepé, onde mora a maioria dos estudantes. Entender o porquê da existência da área é o primeiro passo para preservá-la, e os alunos puderam descobrir sua importância através da diversão. - Visita à UFRGS, Exposição e Sessão de Cinema: Estudantes do sexto ao nono ano participaram de dinâmicas culturais, no primeiro e no segundo semestres de 2010. Visitaram o Museu da UFRGS, em Porto Alegre, durante a exposição “Desenvolvimento Sustentável, por quê? A Biodiversidade. A Energia”. Também foram ao Santander Cultural, em Porto Alegre, assistir ao filme “Antes que o mundo acabe”. O ator principal e a assistente de montagem do filme foram até a escola para um bate-papo com os alunos. As experiências resultaram em reflexões e produções criativas sobre as temáticas abordadas, que procuram despertar nos alunos o senso crítico. Como continuidade das atividades, este ano, os adolescentes estão participando de uma Oficina de Fotografia, que visa estimular a sensibilidade, a experimentação e a observação. No próximo semestre, as fotografias feitas pelos alunos serão expostas aos pais e à comunidade.
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Minicurso de Educação Ambiental apresentado a diretores de escolas rurais Depois dos resultados positivos do Minicurso de Educação Ambiental, realizado com os professores da Escola Nossa Senhora de Fátima, o Instituto Curicaca apresentou seu trabalho de formação de educadores ambientais a diretores de outras escolas rurais de Viamão. A atividade ocorreu em maio deste ano, a convite da Secretaria de Educação do município. O Curicaca já realizou o projeto em outras localidades do estado, mas em Viamão a experiência é novidade. O encontro permitiu detectar que existe uma demanda por cursos de aperfeiçoamento em educação ambiental, e os dirigentes se mostraram interessados em adotar a metodologia em suas escolas. Experiência de pedagogia também para futuros professores O Minicurso de Educação Ambiental foi ministrado na segunda metade do ano passado aos professores da
Professores participam de dinâmicas durante o minicurso de Educação Ambiental, em Viamão
Nossa Escola de Fátima, dentro do Projeto de Conservação da Biodiversidade, em parceria com o Incra. Foram sete encontros, de quatro horas cada, que proporcionaram a troca de conhecimentos, o desenvolvimento pessoal e coletivo e a formação de redes entre os professores, além de
fundamentação teórica e prática para a educação ambiental em sala de aula. Entre os mediadores estavam alunos matriculados na disciplina de Práticas de Ensino da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Para a coordenadora da disciplina, Russel da
é
Rosa, a experiência permitiu que eles adquirissem novas percepções sobre planejamento pedagógico. Ela ressalta que esta é uma vivência diferenciada para os graduandos, ao se tratar de um trabalho interinstitucional, que envolve interesses e valores da Universidade, do Instituto e da escola. Os futuros professores aprendem a lidar tanto com questões burocráticas quanto com dinâmicas educativas, numa mescla de negociação, diálogo e planejamento conjunto. Em suma, um desafio com resultados mais criativos. Outro fator destacado por Russel é a temática ambiental. Isso porque a parceria entre a Faced e o Curicaca levou os estagiários ao convívio com profissionais experientes no assunto, que geralmente fica em segundo plano. Na avaliação da professora, “a Educação Ambiental sempre tangencia os demais conteúdos e, neste caso, se tornou o tema central, vinculado ao resgate de saberes culturais”.
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espaço JOVEM Conversamos com alguns alunos do oitavo e nono anos da Escola nossa Senhora de Fátima, que têm participado das atividades de Educação Ambiental. As declarações positivas surpreendem e motivam. Amabile Lopes Barbosa, aluna do nono ano da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima, em Viamão, é uma menina nos seus 14 anos, de expressão simpática e delicada. Destaca-se não apenas por suas notas altas em português e matemática, mas principalmente pela seriedade que demonstra ao se expressar. Fala sem medo e com uma espontaneidade que espanta. Desde o ano passado, ela vem vivenciando as atividades de educação ambiental desenvolvidas pelo Instituto Curicaca em sua escola. Participou do plantio e colheita das hortaliças, foi a Porto Alegre e conheceu a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRGS, durante a exposição “Desenvolvimento Sustentável, por quê? A Biodiversidade. A Energia”. Também esteve no Santander Cultural, onde assistiu ao filme “Antes que o mundo acabe” e, atualmente, participa da Oficina de Fotografia realizada com as turmas a partir do sexto ano na escola. “As atividades que
o Curicaca faz são sempre interessantes e legais. A gente aprende sempre” Amabile Barbosa (nono ano) A adolescente conta que as novas experiências têm influenciado seu modo ser e agir. “A gente aprende de um jeito diferente do normal. O conhecimento da equipe do Curicaca é diferente do nosso, e isso sempre muda o nosso jeito de ver as coisas”. Amabile, que vive na zona rural, agora se dá conta de que atribuía algumas atitudes como responsabilidade apenas dos moradores da cidade, tais como a separação do lixo. “É uma daquelas coisas que a gente sempre fala, mas nunca faz. Antes, eu pensava que era uma coisa só da cidade, mas agora consi-
go estender o meu conhecimento para as minhas ações”. E não é só isso: ao receber as novas informações, a estudante aprendeu a perceber as particularidades do local onde vive, a interagir e a descobrir mais sobre ele. “A gente costuma ver muita planta. Com as atividades de educação ambiental, a gente começa a se preocupar mais com a natureza, dando mais atenção, outro significado, porque às vezes a gente vê tanto que nem se importa”. Onde ela vive não é difícil ver muitas árvores e ter uma horta no quintal. Mas uma horta em forma de espiral e cultivada na escola, essa foi novidade! Amabile e seus colegas aprenderam que existem plantas companheiras e que é possível usar verduras e legumes em pratos bem diferentes, como sanduíches coloridos e sopas, e assim, fugir da saladinha tradicional. “Eu entendi a utilidade da horta, provei receitas novas e percebi que é fácil de cuidar. Precisa de um pouco de atenção e esforço, mas vale a pena”, confirma Amabile. Ainda jovem para pensar em que profissão irá seguir, ela se sentiu estimulada pelo passeio à UFRGS. “Antes, os alunos não ligavam para faculdade, mas a visita despertou um interesse, uma vontade de estudar, de ter uma profissão”, confessa. Entre entusiasmada e indecisa, ela acha que vai seguir a área da psicologia ou da nutrição. Também fez outras descobertas quando conheceu o ator do filme “Antes que o mundo acabe”, Pedro Tergolina, que foi levado à escola pelo Curicaca para conversar com os alunos sobre a profissão. “Antes, eu nem parava pra ver se o ator que estava em “tal” filme era gaúcho, e agora penso mais na minha cultura”, salienta. Ela pensa que tudo que se vive é aprendizado, e que o conhecimento se constrói aos poucos, mas exige dedicação. “Cada dia é para aprender mais, e tudo tem seu tempo. Tem hora de brincar e hora de estudar”, afirma Amabile. É neste momento que ganham destaque as vivências com o Curicaca, quando ela aprende brincando e passa do pensamento à ação.
Clube da Horta em atividade A idéia do Clube da Horta surgiu no final de 2010 e foi implementada no início deste ano, para alunos da 6ª a 9ª séries da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima. Ele foi formado pelos adolescentes que têm interesse em cuidar da horta fora dos encontros de educação ambiental. Cerca de dez estudantes participam permanentemente do clube, que está aberto aos colegas. Eles cuidam das plantas, trabalham com a terra e monitoram as atividades dos alunos mais novos.
Integração, voluntariado e engajamento são os princípios que orientam o grupo. Os integrantes estão se organizando em turnos inversos aos das aulas para cuidar da horta e se reúnem para definir suas próximas atividades. Através do clube, eles também participam de vivências diferenciadas. No semestre passado, por exemplo, visitaram a Escola Estadual Técnica de Agricultura (EETA), onde tiveram contato com a educação profissionalizante voltada ao meio rural.
Não muito longe, ela tem outro exemplo desse modo de aprender, trocando experiências e dividindo conhecimentos. A garota fala com orgulho de quem herdou o dom de se comunicar e como expande os aprendizados para a sua vida. “Converso muito com meu pai, ele me estimula a falar. Conto para o pai sobre o que o pessoal do Curicaca fala do Refúgio dos Pachecos, que ele conhece, aí a gente troca muita idéia, ele me ensina e aprende um pouco e comigo acontece o mesmo”. A aluna pensa que as crianças precisam só de um “empurrãozinho” para entender e respeitar o meio ambiente e que isso não é difícil. Além disso, o envolvimento dos professores e dos pais também ajuda. Agora, participando da Oficina de Fotografia, tem desenvolvido ainda mais sua percepção: passou a prestar mais atenção nos detalhes, na realidade que a cerca e na sua cultura. Amabile diz que o Curicaca está no caminho certo, pois tenta entender o que os alunos precisam para aprender. “As atividades que o Curicaca faz são sempre interessantes e legais. A gente aprende sempre”, finaliza.
“É legal, porque a gente faz coisas diferentes, é uma aula diferente” Eliane Bueno e Carine Bertin (nono ano)
“Os encontros ajudam a aperfeiçoar nosso conhecimento sobre o que nos cerca” Cleiton Souza (oitavo ano)
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Curicaca está atuando em Unidades de Conservação
Localização da APA do Banhado Grande e do Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos
Banhados do Refúgio dos Pachecos observados na margem do açude de irrigação
Classificações As Unidades de Conservação, instituídas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), são definidas como “espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, com o objetivo de conservação definido”. Elas podem estar sob responsabilidade federal, estadual ou municipal. Existem dois grupos para classificação dessas áreas: as Unidades de Conservação de Uso Sustentável, da qual faz parte a Área de Proteção Ambiental (APA), e as Unidades de Proteção Integral, que engloba o Refúgio da Vida Silvestre. As duas têm formas de utilização e objetivos diferentes. As de Uso Sustentável podem ser criadas em terras públicas ou particulares e se destinam a promover o uso sustentável dos recursos naturais existentes, ou seja, aliar o desenvolvimento socioeconômico da região com a proteção dos ecossistemas. Já as de Proteção Integral são instauradas apenas em terras públicas, com exceção do Refúgio e do Monumento Natural, em que a presença humana deve ser limitada. Sua finalidade é a conservação da biodiversidade, sendo permitido o seu uso indireto, através da pesquisa, educação ambiental e ecoturismo.
Com um longo histórico de cas. Entre elas, a entrada descontrolaatuação em Unidades de Conservação da de animais domésticos, que afetam (UCs), o Instituto Curicaca voltou-se a fauna silvestre; a demanda pela água, recentemente para mais duas destas já que o recurso utilizado nas plantaUnidades na região metropolitana ções de arroz é o mesmo disponível de Porto Alegre, por meio de uma para regular as áreas úmidas do Reparceria com o Instituto Nacional fúgio; e a impossibilidade de trânsito de Colonização e Reforma Agrária das espécies em áreas ocupadas pela (Incra). Com 133 mil hectares, a Área população, pois ainda não existem de Proteção Ambiental (APA) do corredores ecológicos. Algumas esBanhado Grande ocupa os municípios pécies em extinção, como o cervo do de Glorinha, Gravataí, Santo Antônio pantanal, dependem exclusivamente da Patrulha e Viamão. Já o Refúgio da da existência dessas áreas. Rosa coVida Silvestre Banhado dos Pachecos memora a recente confirmação da fica dentro da APA e se restringe a ocorrência da espécie no local: “FelizViamão, numa área de 2.543 hectares. mente existem cervos na área. Alguns Embora dotados de característi- indivíduos ainda vêm lutando pela socas semelhantes e responsáveis pelo brevivência, tanto nas áreas de banhagerenciamento de serviços ecológi- dos do Refúgio, como em outras áreas cos, como a qualidade da água e do alagadas da APA do Banhado Grande”. ar, os dois espaços têm objetivos di- Unidades de Conservação de proferenciados. O da APA é promover a teção integral, como o Refúgio de preservação do conjunto de banhados Vida Silvestre, também têm como fiformadores do nalidade a realizario Gravataí, em A ação integrada com ção de pesquisas harmonia com o científicas, eduos gestores da APA e desenvolvimento cação ambiental socioeconômico a atenção resultante e visitação públida região. Por sua ca. No que toca à do desenvolvimento educação ambienvez, o Refúgio tem como finalidade a o Curicaca já de projetos no local, tal, proteção integral levou turmas da da biodiversidade Escola Nossa Setêm aumentando e dos ecossistemas nhora de Fátima a expectativa de associados aos bapara conhecer o nhados, além da efetivação da Unidade local. Mesmo reconservação das conhecendo que a nascentes que dão origem ao rio, de interação dos moradores das proxiacordo com o biólogo André Osó- midades com o Refúgio ajudaria na rio Rosa, coordenador do Refúgio. conservação da área, o biólogo lem É no Refúgio que têm ocorrido bra que estas atividades têm de ser os trabalhos mais intensos, até o planejadas e controladas para não momento. Isso significa participar do prejudicar o ambiente: “Geralmente processo de implantação da Unidade, as pessoas dão mais valor àquilo que da formação do Conselho Consultivo, conhecem, mas é preciso estar cienda realização do plano de manejo, te de quais são os principais objetivos do planejamento de corredores dessa categoria de UC, que é a proteecológicos e da aproximação com as ção dos ambientes naturais e respecticomunidades locais. Rosa reconhece vas comunidades da fauna e da flora”. a existência dessas pendências: Por isso, o acesso ao Refúgio é restrito “São carências que resultam em a pessoas envolvidas em atividades de dificuldades para alcançar os objetivos pesquisa, educação ou didática, atrada Unidade, principalmente pela falta vés de visitas agendadas. Rosa adianta de recursos”. Ainda de acordo com que, em breve, um projeto de eduo biólogo, a falta de zoneamento cação ambiental na área ira proporda área prejudica seu regramento cionar à população o contato com a ambiental, ou seja, a definição de natureza, com palestras e trilhas guiacomo cada espaço pode ser utilizado. das. Por fim, destaca que mesmo com Como o Refúgio está cercado por todas as carências, a ação integrada ocupações humanas como fazendas com os gestores da APA e a atenção particulares, o Assentamento Filhos resultante do desenvolvimento de de Sepé, condomínios e pequenas vi- projetos no local têm aumentando a las, algumas situações são problemáti- expectativa de efetivação da Unidade.
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Ciclo de debates estimula sustentabilidade Procurando despertar o interesse da sociedade civil para a necessidade de discutir os modelos de vida adotados atualmente, uma nova iniciativa do Instituto Curicaca vem reunindo especialistas e representantes públicos em debates abertos à participação popular. Os temas abordados dizem respeito às mudanças sociais em ambientes naturais e urbanos. É o “Ciclo Desenvolvimento Sustentável: articulação de saberes e práticas”, um espaço para compartilhar experiências complementares e propor estratégias de ação que possam contribuir para a melhoria das interações entre pessoas e meio ambiente e, também, da qualidade de vida.
A sustentabilidade pode ser questionada em diversos campos, como a ética, a economia, a educação e a cultura O Ciclo ocorre desde 2010, em parceria com o Museu e o Centro de Ecologia da UFRGS. De lá até aqui, foram quatro encontros. Neles, assuntos emergentes nas comunidades locais e nas populações regionais e global ganharam destaque na voz de especialistas, gestores públicos, lideranças sociais e na resposta do público. No primeiro debate, realizado no Museu da UFRGS, foi abordado o uso sustentável da biodiversidade. O segundo encontro ocorreu na Feira do Livro de 2010, e trouxe o tema territórios sustentáveis.
A terceira reunião foi no Memorial do Rio Grande do Sul e tratou do manejo de fauna silvestre fora das unidades de conservação. De volta ao Museu da UFRGS, a sustentabilidade nos bairros foi a temática do quarto encontro. Seguindo este modelo, o ciclo quer demonstrar, a partir da troca de experiências, que a sustentabilidade pode ser questionada em diversos campos, como a ética, a economia, a educação e a cultura, não se tratando apenas de um desafio da área ambiental. Por isso, os encontros se alternam em temas diversos, tratados muitas vezes por especialistas, mas que afetam toda a sociedade e deveriam ter seu envolvimento e crítica. Outro desafio é fortalecer e consolidar uma compreensão mais concreta de sustentabilidade a partir de exemplos práticos, sem o direcionamento mercadológico comum ao termo. Segundo Alexandre Krob, coordenador do Ciclo e facilitador dos encontros, “não se pode desistir de um conceito que ajudamos a construir só porque ele está sendo mal utilizado. Devemos complexá-lo e valorizá-lo. As premissas de sustentabilidade do ser ecologicamente equilibrado, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente diverso se aplicam tanto a um pequeno ambiente quanto ao planeta inteiro”. Ao questionar modelos que não seguem essas definições, ou são injustos a qualquer forma de vida, o Instituto Curicaca e seus parceiros, especialistas, órgãos públicos e sociedade civil se empenham para consolidar uma mudança de visão e de atitudes. “Essa mudança deve ter por base o respeito às necessidades individuais e coletivas nos diversos setores da sociedade”, finaliza Krob.
O terceiro ciclo, no Memorial do RS, discutiu a sustentabilidade para fauna silvestre ameaçada
Ciclo é parte da Trocas de Saberes Integração de conhecimentos e e populares dividem espaço com o experiências norteiam não apenas os conhecimento científíco. Este diálogo encontros do “Ciclo Desenvolvimen- permite alcançar um novo patamar do to Sustentável: articulação de saberes saber, criando condições simultâneas e práticas”, mas sua de conscientização e própria concepção. O diálogo entre valorização dos reSeguindo a dinâmisimbólicos e o conhecimento cursos ca de utilizar espaços culturais. Para Patrípopular e o comunitários para o cia Bohrer, coordecompartilhamento de científico permite nadora de Educação vivências, o Curicaca Ambiental e Cultura promove as “Trocas alcançar um novo do Curicaca, o Ciclo de Saberes”, braço patamar do saber representa uma volta do Programa Ação à academia e a aberCultural de Criação de Saberes e Fa- tura deste ambiente ao conhecimento zeres da Mata Atlântica, iniciado em popular: “É uma oportunidade para 2005, em municípios do Litoral Norte. a universidade ouvir a voz da comu Esta interação cultural vem sen- nidade, pois abrir esse espaço para o do realizada dentro dos projetos do diálogo significa atender plenamente Curicaca, em espaços como escolas, os objetivos de difusão do conhecisalões e praças, onde os saberes locais mento e popularização da ciência”.
Curicaca na Semana do Meio Ambiente
O Instituto Curicaca esteve presente na VII Semana do Meio Ambiente do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), promovida pelo Centro Acadêmico da Biologia. A bióloga e educadora ambiental do Curicaca, Julia Witt, representou a organização no dia 15 de junho, com a palestra “Ação Cultural de Criação Saberes e Fazeres da Mata Atlântica: a experiência de educação ambiental do Instituto Curicaca”. Cerca de 40 pessoas conheceram a metodologia desenvolvida pelo Curicaca. A organização do evento mostrou-se positivamente impactada e fala em articular atividades de educação ambiental para a graduação em Ciências Biológicas. O evento, realizado no CIDEC-Sul, Campus Carreiros da FURG, incluiu palestras, mesas redondas e mostras sobre temas ligados à biologia. O quarto encontro retornou ao Museu da UFRGS e abordou a sustentabilidades nos bairros
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Eficácia das Unidades de Conservação é garantida pela criação de Conselhos A existência de Conselhos Gestores nas Unidades de Conservação (UCs) é obrigatoriedade legal e representa a participação efetiva dos diferentes setores interessados na área. Embora tenham que, por vezes, solucionar situações conflitantes, os Conselhos têm como ferramenta principal o diálogo, que auxilia na tomada de decisões. Atualmente, o Instituto Curicaca participa de sete Conselhos de UCs e está batalhando para que o Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos tenha o seu. Isso porque ter um Conselho significa cobrar dos órgãos públicos uma atuação mais consistente e direta, como está ocorrendo no Parque Estadual de Itapeva, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Reunido em junho, no município de Torres, o Conselho Consultivo do Parque de Itapeva elaborou um documento, posteriormente entregue à Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), solicitando a presença da Secretária no próximo encontro do Conselho. Coordenador técnico do Curicaca, que representou o Instituto na reunião, Alexandre Krob explica que o Parque está sendo alvo de pressões políticas e privadas contrárias aos seus interesses coletivos e difusos. Por isso, seu Conselho Consultivo decidiu solicitar a imediata interven-
Com a criação de Conselhos, gestores passam a ter um aliado para a efetividade das UCs
ção da autoridade máxima responsável pela Unidade de Conservação. Já vem de uma longa caminhada o trabalho de setores afetados e envolvidos com o Parque, através do Conselho, pela implementação da UC, no sentido de construir uma base de consenso para a melhoria de sua gestão. Os membros do Conselho consideram de extrema importância a ação direta da Sema na realidade cotidiana do Parque. Krob acrescenta que o novo governo se comprometeu em intensificar a implantação das UCs do Rio Grande do Sul e inclusive definiu o Parque de Itapeva como um dos Parques da Copa 2014. “Pa-
rece que alguns setores locais não estão querendo incluir o turismo em Torres entre as atividades a serem oferecidas aos turistas estrangeiros, mas o estado do Rio Grande do Sul deverá reagir a altura”, afirma Krob. Krob ressalta que o exemplo pode servir de inspiração para Viamão. Lá, há grande expectativa por parte da comunidade local, prefeitura e organizações sociais de que em breve seja criado o Conselho Consultivo do Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos. Os benefícios para a implantação da unidade serão imensos, como está acontecendo no Parque Estaual de Itapeva.
ponto de vista
A Relação do Educador com a Educação Ambiental Por Fátima Raquel Lopes Pedagoga, atua como bibliotecária na Escola Nossa Senhora de Fátima, em Viamão Educação ambiental não é mais uma questão de sobrevivência dos meios naturais, mas de transformação da sociedade buscando princípios culturais, valores morais e embasamento científico que direcionem o homem para uma convivência harmoniosa com as demais espécies que habitam o planeta. Com certeza, o educador tem um papel fundamental na educação ambiental como agente transfor-
mador da sociedade; basta que cada um assuma o seu papel com consciência e responsabilidade. A palavra do educador na sala de aula tem um poder imenso; embora demore dias, meses e, em alguns casos, até anos para obter o resultado desejado. Cabe ao educador sensibilizar o aluno a buscar dentro de si valores que somados a sua aprendizagem fortaleçam sua formação como cidadãos críticos, capazes de analisar e lutar para modificar princípios que estão levando o planeta à destruição. Depois da família, a escola e o educador são os pilares da formação da sociedade e um dos grandes desafios é a formação da consciência ambiental através de ensinamentos práticos,
pedagógicos, mas principalmente baseado em exemplos reais dos profissionais da educação. Estes precisam, acima de tudo, ter consciência do problema onde estão inseridos, querer e acreditar que são capazes de mudar esta realidade buscando soluções junto à sociedade, às políticas públicas, etc. É importante estarmos também cientes que todas as pequenas atitudes individuais são tão importantes quanto os grandes projetos socioambientais.
notas Oficinas do Procervo Pesquisadores e membros de instituições públicas participaram da primeira oficina técnica do Procervo, em abril. Foram realizadas atividades de troca de experiências e apresentações de trabalhos já desenvolvidos, com foco na preservação de espécies e ecossistemas. A análise dos prós e contras das metodologias apresentadas serviu para o planejamento das práticas que serão adotadas para a conservação do cervo do pantanal e seu habitat, no Rio Grande do Sul. Estiveram presentes membros do Instituto Curicaca, articulador do encontro, e institutos de pesquisa ambiental, de universidades e de órgão públicos.
Palestra na UFRGS
Na Noite de Estudos da Conservação e Reabilitação da Fauna, promovido pela Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Curicaca teve oportunidade de divulgar os esforços que têm sido articulados em prol da preservação do cervo do pantanal, através do Procervo. A participação do Instituto aconteceu no dia 30 de junho, no VI módulo da atividade sobre cervídeos. O Programa foi apresentado pelo coordenador técnico do Curicaca, Alexandre Krob, e pela bióloga do Instituto Simone Ximene, que está trabalhando diretamente no programa.
De volta aos trabalhos
Depois das férias escolares, alunos da Escola Nossa Senhora de Fátima recomeçaram os trabalhos junto à equipe de Educação Ambiental do Curicaca. No início de agosto, foi finalizado o segundo módulo do projeto, que começou em 2010. Alunos do jardim ao 9° ano vistaram as nascentes do rio Gravataí, proximas ao Filhos de Sepé. As saídas estavam previstas para julho, mas o frio intenso impediu sua realização. Dando sequência às atividades, o terceiro e último módulo abordará as “Unidades de Conservação e corredores ecológicos”. Serão feitas ações educativas mensais com os professores da escola. Até o fim do ano, duas oficinas serão realizadas com os pais dos alunos.
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Viamão também pode ser beneficiada pelo Plano de Conservação dos Butiazais Um trabalho desenvolvido pelo Instituto Curicaca no litoral norte gaúcho poderá ser aplicado também em Viamão, na região metropolitana. O Plano de Conservação dos Butiazais foi apresentado a órgãos estaduais e pesquisadores na primeira quinzena de julho, durante reunião do Comitê Estadual da Biosfera da Mata Atlântica (CERBMA), em Porto
Estratégias traçadas para os butiazais do litoral norte também podem ser úteis para a conservação da biodiversidade em Viamão Alegre. O documento prevê 73 ações para a conservação do ecossistema, ameaçado de extinção, e a valorização da cultura associada. Agora, ele será enviado a gestores públicos que atuam com butiazais e ficará disponível no site do Curicaca. Essas mesmas estratégias podem se mostrar úteis para Viamão, que possui butiazeiros, tanto no Refúgio de Vida Sivestre Banhado dos Pachecos como nas propriedades rurais do entorno. Alexandre Krob, coordenador técnico do Instituto, avalia que é necessário realizar pesquisas sobre as espécies que existem ali e, então, será possível aplicar esforços semelhantes aos que estão sendo investidos no litoral norte. O Plano de Conservação dos Butiazais, que vem sendo elaborado desde 2003, foi detalhado aos representantes do Departamento Estadual de Florestas e Áreas Protegidas, da Emater e da Secretaria Estadual de Cultura e aos pesquisadores da UFRGS e da PUCRS presentes na reunião do CERBMA. O
diagnóstico mostrou uma diminuição de 78% dos remanescentes de butiazal no litoral norte gaúcho, entre os anos de 1974 e 2008, restando apenas 53 deles. “Os butiazais são erradamente considerados uma capoeira. Ninguém conhece seus remanescentes”, alerta Krob. A espécie em questão é o Butia catarinenses, restrita para a região, que hoje enfrenta ameaças como a fumicultura e a expansão urbana. Para minimizá-las, um dos itens do Plano sugere uma moratória ao corte do Butiá na região durante oito anos. A situação também é de prejuízo ao patrimônio cultural agregado a esse ecossistema. O artesanato com as folhas de butiá serve à complementação de renda de 27 famílias na região. Contudo, “a prática cultural vai sendo substituída pela questão da sobrevivência”, como aponta a coordenadora de Educação e Cultura da Curicaca, Patrícia Bohrer. Devido à falta de Plano de Conservação pode beneficiar butiazeiros na região metropolitana normas de manejo, as famílias vivem em um contexto de ilegalidade, o tiazais como zona núcleo ou de amortecimento da que prejudica a transmissão de saberes entre gera- Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Além disso, o ções. Para solucionar isto, está prevista a elabora- Curicaca e seus parceiros vão solicitar ao Ministério ção e publicação de uma normativa para o manejo do Meio Ambiente (MMA) e à Sema a inclusão do sustentável e a comercialização do artesanato com butiazeiro na lista de espécies ameaçadas de extinfolhas. O Curicaca pretende, ainda, avaliar junto ao ção da flora brasileira e do RS, como “criticamente Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacio- em perigo”. Também se pretende que o MMA abra nal a potencialidade de registro do artesanato com um edital para a cadeia produtiva do butiazeiro, palha de butiá como patrimônio cultural imaterial. atendendo ao Plano Nacional para Promoção das Entre as metas do Plano está a inclusão dos Bu- Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade.
Curicaca na web Quer mais notícias? Então acompanhe o andamento dos programas e projetos realizados pelo Curicaca e seus parceiros acessando o site
www.curicaca.org.br Lá você fica sabendo em primeira mão o que acontece no Instituto, participa das nossas enquetes e pode conhecer mais sobre a realidade da mata atlântica no Rio Grande do Sul.
Agenda Setembro * Reunião do Conselho da REBIO Mata Paludosa * Reunião do Conselho dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral * Reunião do Conselho do Parque Estadual de Itapeva Outubro * Curicaca na Feira de Ciências da UFRGS * Curicaca no Festival Brasileiro de Aves Migratórias Novembro * Curicaca na Feira do Livro * Ciclo de Desenvolvimento de Desenvolvimento Sustentável: Articulação de Saberes e Práticas * Reunião do Conselho do Parque Estadual de Itapeva * Exposição de fotografias no Refúgio Banhado dos Pachecos