5 finais diferentes para A NOITE de José Saramago

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OUTRO FINAL PARA A PEÇA DE JOSÉ SARAMAGO? Imagina que o 25 de Abril falhou em 1974, tal como o 16 de Março. Vais criar um terceiro ato para a peça de José Saramago, A Noite, a partir dessa hipótese. Deves colocar em cena obrigatoriamente os seguintes personagens: Torres, Cláudia, Jerónimo, Valadares, Diretor e Administrador. Que teriam dito uns aos outros? Como teria evoluído a intriga desta peça?

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Ato III A noite do dia 25 de Abril caiu, todos voltaram ao jornal, onde está um silêncio que é unicamente perturbado pelos risos vindo do escritório do Diretor, que está a conversar com o Administrador.

ADMINISTRADOR: Hoje foi um dia produtivo, perturbado mas lucrativo. Vendemos muitos jornais. Pelo menos esta confusão toda terá sido útil!

DIRETOR (rindo): Pois é! Mesmo se assustei-me um pouco no início, agora que tudo já voltou ao normal percebo que era ridículo preocupar-se tanto. (mudando de tom) No entanto, esta mascarada mostrou-nos que não podemos confiar em todos, sobretudo os homens da tipografia, a nova estagiária Cláudia e, é claro, o Torres! Ele é um parasito. No início não nos incomoda tanto e, pouco a pouco, vai tornando-se mais enervante, multiplicando-se. Devemos tratar dele antes que a situação saia do controlo.

ADMINISTRADOR (sentando-se numa cadeira e pegando numa garrafa de vinho e em dois copos): Tens razão, mas antes disto temos que comemorar nossa vitória !

(ambos riem e bebem)

PINTO (na sala ao lado): Não aguento mais este silêncio. (Chamando o Rafael) Põe-me lá uma música!

RAFAEL (tentando ligar o transístor e sintonizar um canal): Não posso. Não funciona, não consigo achar nenhuma frequência. PINTO: Deixa lá isso então. Já ouviste a piada do…

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JERÓNIMO: (interrompendo-o) Cala-te ! Já não é hora para se dizer piadas. Não entendes ? Perdemos! Perdemos toda a chance de sermos livres algum dia. Iremos todos morrer sufocados, num país onde não se pode falar, escrever, escutar o que quisermos. Vamos morrer sufocados num país onde todos mentem. Vamos morrer sufocados por um Estado que não nos dá importância ! E as pessoas desta redação irão morrer em primeiro lugar…

CLÁUDIA: Eu é que não vou morrer ! Vou-me embora deste lugar. Estou grata por ter sido demitida. Vou poder ir num outro lugar, um lugar onde o ar é mais puro.

JERÓNIMO: Boa sorte para encontrares esse lugar. E quando isso acontecer, diz-mo para eu poder ver !

TORRES: Eu também vou então contigo.

ESMERALDA (para Torres): Não sejas tolo! Achas que se vais embora conseguirás achar um emprego melhor? TORRES: Melhor não sei… (Pausa) Mas pior com certeza não pode ser.

(Cláudia e Jerónimo sorriem.)

VALADARES (saindo brutalmente da sua reflexão): E para onde queres ir? Achas realmente que os outros jornais são diferentes? Que também não estão poluídos por hipocrisia? Eu admito que também não sei.

(Diretor e Administrador saem do escritório, continuando a sorrir e juntam todos os funcionários da redação e da tipografia)

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DIRETOR (vendo a Cláudia junto aos outros): A senhorita já pode sair que já não trabalha mais aqui. E Torres… se não quer o mesmo castigo é melhor ficar calado!

ADMINISTRADOR: Queremos dizer-vos que hoje tivemos uma prova de que nosso grande país mostrou mais uma vez que não se deixa impressionar pela violência. Somos um navio que nem uma tempestade pode derrubar! Isso dito, queríamos agradecer a vossa calma durante os eventos passados. Agora que tudo já voltou ao normal, podem voltar ao trabalho. No entanto, queremos conversar com o Torres e o Jerónimo em particular. (apontando para eles) Venham.

(saem e voltam para o escritório, seguidos pelo Diretor)

DIRETOR (gritando): Torres, o que foi aquilo ontem? Achas que podes sair para rua sem permissão alguma? Foi inaceitável e não vamos o permitir outra vez! Agora ou comportas-te ou vais-te embora imediatamente!

TORRES: Então eu vou. (dirigindo-se calmamente em direção à porta, que abra-se antes de Valadares entrar)

VALADARES: Admito que os acontecimentos de ontem deixaram-me confuso. Voume embora alguns dias para poder refletir e voltar com as ideias mais claras.

JERÓNIMO: Junto com o Torres, eu vou!

(Cláudia, Torres, Jerónimo e Valadares saem do jornal. Chegando na rua, Cláudia, Torres e Jerónimo vão para um lado e Valadares parte só para outro lado.)

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ATO III (Barulho da imprensa vai diminuindo, o Diretor pousa o seu telefone e cai da sua cadeira como se tivesse perdido tudo. Após alguns segundos recebe uma chamada) DIRETOR (voz fraca): Está lá, Máximo Redondo… Ah senhor general… (aumentando o tom da voz, falando com surpresa) Controlado? Sim!... Na rádio, não estou a ouvi-la… Um artigo? Mas é claro, seria um prazer. Ok. Deixe comigo (desliga).

(Diretor sai do escritório, o barulho da imprensa acaba, Jerónimo volta com uma cópia do jornal nas mãos se encontram, se olham todos, o Diretor com um olhar superior)

JERÓNIMO (sorridente): Trouxe-vos um exemplar do que foi impresso para que vejam.

(Diretor se aproxima e pega o jornal da mão do Jerónimo, finge lê-lo, o amassa e joga na caixa de lixo, o Administrador e o Valadares ficam impressionados e não sabem o que dizer; Torres e Cláudia riem-se)

TORRES (ironicamente): Amassou de verdade todas as tropas revolucionárias dentro desse papel.

CLÁUDIA: O seu esforço é inútil senhor diretor, não viste que há uma revolução e que o estado está agora a cair?

DIRETOR (para Valadares): Busca o transístor e liga-o aqui. (para Cláudia) Quem és tu para me falar nesse tom? Perdemos? Acham mesmo? Nessa vida não! Só se for em uma outra…

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(Valadares aumenta o som do transístor e tenta o sintonizar)

JERÓNIMO (para Cláudia): Deixa-o lá, ele está a delirar, amanhã já não é diretor, mas sim prisioneiro.

DIRETOR (para Valadares): Vê lá, nem consegues sintonizar um transístor! Não sei como chegastes a ser chefe da redação (pega o transístor e o sintoniza)

VOZ OFF DO TRANSÍSTOR: Esta noite, soldados de baixa patente tentaram derrubar o Estado, mas não conseguiram. Foram controlados e detidos alguns ainda estão em fuga. Se alguém conhecer alguma atividade revolucionária em curso, deve sinalizá-la no posto de polícia mais próximo…

JERÓNIMO, TORRES e CLÁUDIA: O quê?!

JERÓNIMO: Não é possível! Como? Como? Deve ser um erro, uma estratégia das tropas para que os colaboradores se denunciem. (corre para o transístor, muda de frequência mas a mesma mensagem repete-se). Não é possível…

ADMINISTRADOR (para Jerónimo): Olhe lá, (para o Diretor) disse que era outro 16 de março, só faltava essa agora o tal jornal impresso vai dar problemas a todos nós… Cuide disto tudo aqui, vou para a tipografia que ainda dá tempo de impedir que o jornal saia (sai).

(Jerónimo está perdido anda de um lado para o outro, Cláudia e Torres sentados no sofá, olhando para o chão parecem traumatizados. Jerónimo chuta a mesa derrubando o transístor e pisa nele para o quebrar, a voz para)

DIRETOR (ironicamente): Olha só Jerónimo, destruístes o regime com esse chute que destes na mesa… (olha para Valadares) ó pá, tu és mesmo ruim não sei

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como chegastes a este cargo, ainda bem que não ficas por cá já falei com o Fonseca para te substituir.

VALADARES (submisso): Desculpe tê-lo decepcionado, senhor Diretor, mas dadas as circunstâncias…

DIRETOR: Tá calado pá!

(Administrador volta correndo sussurra ao ouvido do Diretor e sai) DIRETOR (sorrindo): Todos calados e cheios de respeito agora… já é muito tarde, (para Cláudia) tu nunca mais conseguirás trabalho, morrerás de fome e sem dinheiro! (para Torres) Tu, sem trabalho, vais fugir para o formigueiro dos revolucionários e serás preso quando a polícia te encontrar. E tu (para Jerónimo), jovem insolente, sem respeito, vais perder teu cargo e fazer como Torres.

(O Administrador volta com a PIDE e aponta os três com o dedo, os oficiais avançam e levam a Cláudia sem qualquer esforço, o Torres e o Jerónimo lutam e não querem se deixar levar)

TORRES e JERÓNIMO: Não pensem que acabou, se essa tentativa de golpe falhou a próxima não falhará, ainda vamos ganhar! (cortinas fecham)

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ATO III Diretor (ao telefone): Sim. Claro que sim, senhor Coronel. Está bem, não há problema, não, não. Os militares agora talvez percebam quem manda. Ah! Mais prisões? Sim, tem razão é preciso manter tudo em ordem. Não se preocupe. Sim, uma edição especial, sim está bem. Sim, sim, claro. Está bem. Adeus, Senhor coronel, Adeus.

(O diretor está radiante e preocupado ao mesmo tempo)

Valadares (observando a expressão do Diretor): Há algum problema, senhor diretor? O que é que se passa? Torres (virado para o público): Acho que a notícia cheira mal…

Diretor: Bem, há uma boa notícia: a revolução falhou e o regime ainda está de pé. Mas há uma má notícia, o jornal já foi impresso e o que foi impresso não está a favor do regime… E o senhor Coronel disse que andavam a listar as pessoas para fazerem mais detenções…

Torres: Ah, mas isso já não é connosco não é Cláudia? (virando-se para ela, irónico) A verdade é que nós estamos desempregados, não é?

Cláudia (irónica também): Como estava certo ao dizer que o desemprego tinha vantagens, afinal, fomos postos na rua antes do jornal sair, por isso não temos NADA a ver com isso! Valadares: Sua…

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Diretor (interrompendo Valadares): Como assim desempregados? Quem é que os pôs na rua? Valadares: Eu… (tenta arranjar uma desculpa) só disse isso da boca para fora, nunca foi oficial o vosso despedimento! Administrador: Pensando bem, pelo menos são duas pessoas a menos para pagar…

Jerónimo: Voltando à revolução, o que sabem ao certo?

(Cláudia aproxima-se do transístor e tenta ouvir as notícias) Cláudia: Hum , não consigo ouvir o que o homem está para ali a dizer… Mas devem estar a falar outra vez da pátria; o mesmo de sempre… Valadares: Ai, Cláudia que o Torres a influenciou e que já está a falar com ele… Francamente, sabe que pode meter-se em sarilhos com aquilo que diz? Torres (irónico): Ai Senhor Abílio que não me volte a chatear com essas conversas…

Diretor: Voltando a falar do jornal, o que fazemos? O que foi publicado é muito grave. Queimámos uma ponte e agora arrependemo-nos.

Jerónimo: É verdade que um verdadeiro chefe nunca teria deixado um insignificante chefe da oficina (virando-se para Valadares) ou turno da noite, decidir que é que se publica ou não num jornal! Eu cá para mim apresento a minha demissão, colaborar com o regime já não é comigo, e a PIDE nunca acreditaram que quem vos obrigou a publicar esses artigos foi um insignificante chefe da Oficina… Vocês é que estão metidos em sarilhos, (ironia) meus amigos! Ou será que devo dizer primos, afinal somos uma família?

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Diretor: Pare Jerónimo, você não sabe o que está para aí a dizer… A verdade é que vou ter de concordar consigo, desta vez não há escapatória!

Administrador: O Valadares não tem nenhuma ideia? Temos de encontrar uma escapatória para esta situação!

Valadares (irónico e triste): Perguntem ao Fonseca que ele deve saber o que fazer. Torres (gozando): É que o Abílio é muito ciumento, não é? Olhe que é pecado… Não sei se deus nosso senhor o aceita no paraíso.

Jerónimo (gozando também): Aliás o paraíso ou o inferno é daqui a pouco já que a PIDE vai prender mais uns quantos.

Cláudia: E claro que os chefes de um jornal antirregime não podem ser excluídos dessas detenções!

(Cláudia, Torres e Jerónimo riem, Valadares o Administrador e Diretor estão desesperados e não se mexem. As luzes apagam-se e ouve-se…)

Voz off: A PIDE está aqui! Abram a porta!

ICDC

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ATO III (A máquina de imprimir continua a funcionar. Torres e Cláudia estão comemorando a vitória. Valadares, o Administrador e o Diretor estão perplexos, vencidos, inquietos. O transístor está ligado, ouve-se música. A música para.)

Voz do locutor: Informo-vos que a tentativa de golpe de Estado por alguns militares corrompidos falhou e o nosso amado Marcelo Caetano permanece presidente do Conselho. Repito: a tentativa…

Diretor (levantando-se surpreso): Eu sabia! Nunca duvidei da força do nosso regime! Valadares (perplexo): Talvez não seja verdade…

Torres (convencido): Com certeza que não é verdade! Eu vi, com os meus próprios olhos, militares marchando para a Assembleia da República!

Administrador: Estes militares são como crianças, são idiotas, não sabem o que fazem. Devem ter sido detidos pela PIDE.

(Jerónimo chega)

Jerónimo: Mandaram-me chamar?

Diretor: Sim, Jerónimo. Não imprima segunda edição do jornal. A revolução falhou. Devemos fazer uma nova versão onde afirmamos que sempre acreditamos na força da Estado!

Cláudia: Seus mentirosos! Não têm vergonha de escrever tantas mentiras num jornal?

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Valadares (levanta-se, como se tivesse acordado): Quase esqueci que tu e o Torres estão despedidos. Agora, por favor, saiam e deixem-nos trabalhar! Torres (irónico): Que pena… Eu gostava tanto de trabalhar neste grande jornal…

Valadares: Podes fazer graça se quiseres, mas não muda nada. Estás desempregado! Diretor: Deixem estes dois jovens brincar de Rapagnetta ou de Senhor Pereira1.

Fonseca: Temos muito que fazer, é melhor começarmos a trabalhar. Jerónimo! Vai lá parar essa máquina, não fique aqui sem fazer nada! Jerónimo (lívido, perplexo): Já vou…já vou…

Diretor: Fonseca, tu és um garoto muito forte e esperto. Acho que devias ocupar o lugar de Valadares. Ele mostrou seus limites hoje. Valadares: Sim, senhor diretor…

Administrador: Já vejo que tudo voltou ao normal. Estou muito contente. Agora, é hora de voltarmos a trabalhar.

(Todos voltam aos seus lugares. O Administrador desliga o transístor deixando um ambiente calmo mas opresso, quase triste.)

JD

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Cf. filme Afirma Pereira baseado na obra homónima de António Tabucchi.

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ATO III (A rotativa continua a andar, Cláudia aproxima-se do diretor, febril) CLÁUDIA – Podem despedir-me, que já não me importo. O que é que estou a dizer ? Há pouco também não me importava, esta Redação dá-me nojo, não pensava que o jornalismo pudesse ser assim tão falso! ADMINISTRADOR – Cale-se, sua parva! Quando não se tem juízo, o melhor é calar-se. VALADARES (parece muito cansado, já vencido) – Ora deixem-na... estamos perdidos, o que é que podemos fazer mais ? No entanto, não deixa de ser parva, mas o regime vai ser derrotado, e a PIDE... DIRETOR (interrompendo-o) – Já não o posso ouvir! Tenho respeito por si, mas apercebo-me que é realmente o elemento mais fraco da Redação! Se esta Redação não tem coesão, é precisamente porque não a sabe dirigir, e já não quero perder tempo consigo, falaremos mais tarde! TORRES (irónico) – Só agora é que o senhor diretor se apercebe da falta de coesão desta sua Redação?

(Ouve-se a voz do Jerónimo, a gritar) VOZ DO JERÓNIMO (excitado) – Parece-me que a máquina nunca andou assim tão devagar, quero os jornais prontos o mais cedo possível, mas ainda faltam muitos!

(De repente, ouve-se a chuva a bater no vidro das janelas)

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PINTO – Já podemos distribuir na rua os que saíram, posso ajudá-los! DIRETOR – Então, Pinto, não deveria estar em casa?

(Torres, Cláudia e Pinto vão para a rua, ignorando o Diretor, deixando o Jerónimo sozinho com o Diretor, o Valadares e o Administrador, a tratar da impressão dos jornais) ADMINISTRADOR (dirige-se para o Diretor e o Valadares) – Não se preocupem, que estes insetos, ao quererem aproximar-se da luz, vão queimar as asas... ou molhálas e ficar colados ao chão, até que alguém lhes ponha o pé em cima ! Olhem que não choveu assim desde há muito!

(O Diretor e o Valadares olham para a janela, visivelmente espantados por verem com que força a chuva bate no vidro) VALADARES (ouvindo o som do transístor) – Quem é que o ligou? Aquela máquina irrita-me! Como já lhe repeti tantas vezes, uma Redação quer-se com silêncio. JERÓNIMO (chegando da porta D) – O som incomoda-o? Tem algum problema com o facto de eu pôr música? Permite manter um ambiente favorável ao trabalho, incomoda-o? VALADARES – O silêncio é que é o mais apropriado. JERÓNIMO (revoltado) – O silêncio… o silêncio, sempre o silêncio!! Não está farto de viver em silêncio, oprimido pelo silêncio (acentua estas últimas palavras)… de nunca se poder exprimir, ou fazer o que lhe apetece, segundo o seu próprio julgamento?? A ditadura engana-vos, ‘tão completamente iludidos… (parece

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acalmar-se) não sei como é que cheguei a trabalhar neste jornal… um jornal que se julga íntegro, mas que tem como único objetivo influenciar a opinião pública e que está a favor do fascismo!! (estas últimas palavras são gritadas pelo Jerónimo)

(Valadares parece paralisado, o Diretor quase não reage, agarra o Administrador e o Valadares pelo braço e afasta-os do Jerónimo, como que querendo falar com eles em privado. Jerónimo volta para a tipografia, porque já não se ouve o som característico da rotativa) DIRETOR – Sinto-vos fracos, homens! O Jerónimo não é chefe nenhum, e também não tem poder nenhum, que seja aqui, na Redação, ou na vida em geral! Deve-se sempre estar do lado do governo, assim não se tem problemas. É precisamente o que fazemos, e, além disso, com um trabalho honesto! Não há nada no mundo mais honesto do que trabalhar para um jornal que apoia o seu governo, homens!

(O Administrador aprova as falas do Diretor, abanando a cabeça. O Valadares mantém o seu mutismo, parece completamente perdido. Ouve-se gritos lá fora) DIRETOR – O que é que se está a passar lá fora?! Que gritos são esses?? (dirigindose ao Valadares) Valadares, acorde! Se quer dormir, vai pra casa!

(Valadares levanta-se da sua cadeira. Ouve-se um ruído de motores em movimento. O Administrador dirige-se para a janela; quase declama para a Redação) ADMINISTRADOR – Os tanques!! Os tanques passaram na nossa rua, e não pararam! São tanques conduzidos por opositores ao regime, mas a PIDE já os derrotou! (eufórico) Venham ver, estão cercados pela PIDE, a PIDE é que está a dirigi-los!!

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(O Diretor aproxima-se calmamente da janela, sorrindo como se já soubesse o que ia acontecer) DIRETOR (satisfeito) – Boa...os negócios vão poder continuar…

(Surge Jerónimo da porta D) JERÓNIMO – Os jornais estão prontos, vou para a rua distribuí-los, e já!

(Corre em direção à saída, mas encontra-se em frente de Torres, Cláudia e Pinto, que vêm da rua) JERÓNIMO – Então? O que é que que estão a fazer aqui ? Os jornais já estão prontos! TORRES – Vamos recuperar as nossas coisas e depois deixamos este lugar maldito. Já não temos nada a fazer aqui. JERÓNIMO (perdido) – Mas… CLAÚDIA (não prolonga o suspenso) – O golpe de estado falhou. Falhou tudo.

(Jerónimo olha para Pinto, visivelmente admirado por o ver assim tão triste) PINTO (como que adivinhando a admiração do Jerónimo) – Esta situação não tem graça. O governo é que ficou vitorioso. Mais uma vez. DIRETOR – Têm cinco minutos para arrumar as suas coisas e sair.

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(O Diretor, o Administrador e Valadares vão saindo do palco conversando, visivelmente satisfeitos. Não se consegue ouvir o que estão a dizer. As outras personagens não se mexem.) TORRES – Sim, o governo ficou vitorioso, mais uma vez. Mas a próxima já não.

(Cai o pano)

MG

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Trabalhos apresentados por cinco alunos da turma do 10º ano da Secção Portuguesa do Liceu Internacional de St.-Germain-en-Laye (2017-18)

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